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GENTES E LUGARES DA FREGUESIA DA ALDEIA DE PAIO PIRES
“Um olhar mais próximo do mundo que nos rodeia”
Na Aldeia de Paio Pires existem aspectos surpreendentes e desconhecidos pela maior parte da população que aqui reside.
Aspectos que estão tão próximos do quotidiano dos cidadãos e por isso, correm o risco de passar despercebidos do que são
na realidade.
Gentes e lugares que são como um repositório de memórias, que nos contam as vivências da freguesia, que fazem a
diferença e que nos permitem apreciar de outra forma o mundo de proximidade que nos rodeia.
Nascido e criado em Paio Pires, José
Filipe Costa Gomes considera-se um
Paipirense “bairrista” da aldeia de
Paio Pires. com 66 anos, pertenceu á
direcção da Sociedade Musical 5 de
Outubro e também à direcção do Paio
Pires Futebol Clube. Fez parte da
primeira comissão de trabalhadores
da Câmara Municipal do Seixal e da
primeira direcção dos serviços sociais
da Câmara. Pertenceu também à
primeira Assembleia de freguesia de
Aldeia de Paio Pires e foi eleito da
junta de freguesia de Paio Pires. Após
o 25 de abril, José Gomes viveu as
maiores mudanças que se deram na
aldeia ao longo dos tempos.
“Vivi o apanhar da fruta, o ir na
primeira camioneta da madrugada
com destino á ribeira em Lisboa para
ser dos primeiros a chegar, e auxiliar
na venda da fruta ida de véspera em
canastras”
Muito antes do 25 de Abril, tínhamos
u m a f r eg u esia q u e n em m il
habitantes tinha! No entanto, eram
muitas as tradições que se faziam...
desde bailes, iniciativas nas épocas
festivas, até existiam rivalidades
entre as freguesias e entre as
colectividades da própria freguesia,
para ver quem conseguia fazer o
melhor baile! Todas as pessoas que
aqui moravam estavam presentes
nestas festas, pois não tinham outro
sitio para ir nem sequer tinham meios
para se deslocarem para longe. Além
disso, tínhamos também uma banda
de música na Sociedade Musical 5 de
Outubro, e uma equipa de futebol no
Paio Pires Futebol Clube. Faziam-se
ainda teatros e até concursos de
marchas. Lembro-me que Paio Pires
tinha marchas muito bonitas, pois
era uma terra de tradições. As
marchas tinham arcos a imitar frutas
e a lembrar uma das maiores
actividades e fontes de sustento que
era a fruta. Chegámos a ganhar
alguns desse concursos.
O dia a dia das pessoas era a
trabalhar na fruta ou no vinho. Todos
os fazendeiros de Paio Pires tinham
um lagar. Os taberneiros disputavam
entre eles para conseguirem ter o
melhor vinho. Na apanha da fruta, os
f azen deir os con segu iam f azer
dinheiro para o ano todo, para eles e
para a família deles, e para pagar aos
trabalhadores!
Na altura, casei com a filha de um
fazendeiro. A partir daí comecei ir
apanhar a fruta, a ir na primeira
cam ionet a da m adrugada com
destino á ribeira em Lisboa, para
fazer a distribuição das canastras no
local mais visível aos compradores
para que fosse vendida o mais cedo
possível. Por vezes fazíamos o vinho
na nossa adega, tínhamos oliveiras e
levávamos também azeitonas para o
lagar de azeit e ex ist ent e no
Pinhalzinho, que hoje já não funciona
e que tenho fé de que um dia seja
recuperado para museu. Trocávamos
cerca de 100 quilos de azeitona por
dez litros de azeite!
Nas suas casas, cada família tinha
pelo menos um quintal onde criavam
o gado: porcos, galinhas, etc. Alguns
trabalhavam na Mundet, até que um
dia veio a Siderurgia Nacional. Foi a
grande mudança em Paio Pires! A
siderurgia trouxe emprego a muita
gente, mas não foi tanto como se
esperava. O que mais se notou com a
chegada da Siderurgia Nacional foi
m esm o o fim da agr icult ura.
Destruiu-a por completo! De ano
para ano morriam centenas de
árvores de fruto. Eu lembro-me que
antes da Siderurgia chegar ,era tudo
arvoredo! Uma canastra de fruta
cu st a v a 3 0 0 e scu d o s e u m
trabalhador ganhava 30 escudos por
d i a . D e p o i s d a ch e g a d a d a
Siderurgia, uma canastra de fruta
custava 30 escudos e um trabalhador
ganhava 300 escudos. Deu-se o
inverso da situação. A fruta, que era
um dos grandes pilares de sustento
p a r a o s p a i p i r e n s e s , t i n h a
desvalorizado de tal maneira que
quem tinha os terrenos acabou por
vendê-los. Foi o fim do comércio da
fruta, do vinho e do azeite!
Depois deu-se o 25 de Abril.
Liberdade para todos, tudo se
transformou. Houve uma grande
m ob ilização d as p essoas, as
tradições foram-se esquecendo e
deram origem ao que é hoje Paio
Pires: uma terra de Siderurgia,
p r o j ect o s f ab r i s, m o b i l i zação
humana e rodoviária e tudo mais que
se pode observar, assente numa terra
de raízes ainda marcadas nas faces
dos mais velhos, que aqui viveram as
tradições esquecidas.
6 7
A Aldeia de Paio Pires, situada na
margem esquerda da Ribeira de
Coina, pertenceu durante séculos ao
termo de Almada, sendo local de
implantação de diversas quintas. No
entanto, o povoamento local adquiriu
maior expressão no inicio da Idade
Moderna, pressupondo a organização
do culto religioso. As primeiras
referências à erm ida de Nossa
Senhora da Anunciada da Aldeia de
Paio Pires datam do século XVI,
sendo m encionada na visitação
efectuada pela Ordem Militar de
Santiago a Almada em 1564-1565,
considerada então, tal como as
dem ais erm idas exist ent es no
território hoje correspondente ao
concelho do Seixal, como ermida
anexa à Igreja de Santiago de
Almada.
Em 1758 era administrador desta
er m ida José Felix da Cunha,
provavelmente pela sua ligação ao
Morgado de Paio Pires.
A 4 de Julho de 1786, o Papa Pio VI
concedeu indulgências perpétuas aos
fiéis que visitassem a Ermida de
Nossa Senhora da Anunciada da
Aldeia de Paio Pires nos dias da
Anunciação de Nossa Senhora e do
Mártir São Sebastião, indulgências
que se aplicavam igualmente a todas
as outras festividades dedicadas à
Virgem.
Alguns anos mais tarde, este local de
culto dará origem a uma nova
paróquia. Data de 25 de Fevereiro de
1797 a primeira provisão assinada
por D. José I I , então Cardeal
Patriarca de Lisboa, a cuja Diocese
pertencia a jurisdição eclesiástica das
igrejas de Almada, instituindo a
paróquia de Nossa Senhora da
Anunciada da Aldeia de Paio Pires,
desanexada da paróquia de Nossa
Senhora da Consolação da Arrentela.
O processo resultou de um pedido
formulado pelos moradores da Aldeia
de Paio Pires que se queixavam dos
i n c ó m o d o s r e s u l t a n t e s d a
obrigatoriedade de se deslocarem
áigreja matriz, situada na Arrentela
devido à distancia que separava as
du as povoações e aos m au s
cam inhos então existentes e
pressupôs a realização de consultas
tanto ao pároco de Arrentela como ao
da paróquia de Santiago de Almada,
da qual se havia desanexado em data
a n t e r i o r a p r ó p r i a p a r ó q u i a
arrentelense. Esta provisão foi no
entanto embargada por iniciativa da
I r m a n d a d e d o S a n t í s s i m o
Sacramento e pelos moradores de
Arrentela, ficando sem efeito. Entre
as razões invocadas nos autos de
embargo, constam a curta distância
entre esta localidade e a Aldeia de
Paio Pires, o estado razoável dos
caminhos, a necessidade de obras na
m at r iz de Nossa Senhora da
Consolação e a incapacidade sentida
pelos moradores de Arrentela de
isoladamente conseguirem pagar a
côngrua que consistia em três potes
d e v i n h o e m m o s t o q u e
6 7
(cont.)
IGREJA DE NOSSA SENHORA DA ANUNCIADA
DE ALDEIA DE PAIO PIRES
Av. José António Rodrigues, 1946
e-,
ftt3: Aldeia de
'f-/s,} PAIO PIRESZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
c a d a fa z e n d e iro e n tre g a v a a o p á ro c o
n e c e s s á ria a o s u s te n to d o p rio r, ta n to
m a is q u e o S e ix a l tin h a s id o ta m b é m
re c e n te m e n te d e s a n e x a d o , a le g a n d o
q u e o s c a m in h o s q u e e s ta b e le c ia m a
lig a ç ã o c o m a ig re ja d e N o s s a
S e n h o ra d a C o n s o la ç ã o s e
e fe c tu a v a m p e la p ra ia , fic a n d o
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c h e ia . A s s im , a d is p a rid a d e d o s
R e n d im e n to s o b tid o s e n tre o s
m o ra d o re s d e A rre n te la e o s d e
A ld e ia d e P a io P ire s , d o s q u a is
d e p e n d ia o a p u ra m e n to d a c ô n g ru a ,
p a re c e te r s id o a m o tiv a ç ã o
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2 1 fa z e n d e iro s n a A rre n te la c o n tra 6 1
e x is te n te s n a A ld e ia d e P a io P ire s .
D a d o o d e s e n c o n tro d e o p in iõ e s , a
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s e a c tu a lm e n te o s re s p e c tiv o s liv ro s
d e re g is to p a ro q u ia l d e A ld e ia d e P a io
P ire s d e p o s ita d o s n o A rq u iv o D is trita l
d e S e tú b a l. A d e m a rc a ç ã o d o s lim ite s
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e m M a rç o d e 1 8 0 3 , c o in c id in d o a in d a
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Excerto jf paio pires boletim2004nov

  • 1. GENTES E LUGARES DA FREGUESIA DA ALDEIA DE PAIO PIRES “Um olhar mais próximo do mundo que nos rodeia” Na Aldeia de Paio Pires existem aspectos surpreendentes e desconhecidos pela maior parte da população que aqui reside. Aspectos que estão tão próximos do quotidiano dos cidadãos e por isso, correm o risco de passar despercebidos do que são na realidade. Gentes e lugares que são como um repositório de memórias, que nos contam as vivências da freguesia, que fazem a diferença e que nos permitem apreciar de outra forma o mundo de proximidade que nos rodeia. Nascido e criado em Paio Pires, José Filipe Costa Gomes considera-se um Paipirense “bairrista” da aldeia de Paio Pires. com 66 anos, pertenceu á direcção da Sociedade Musical 5 de Outubro e também à direcção do Paio Pires Futebol Clube. Fez parte da primeira comissão de trabalhadores da Câmara Municipal do Seixal e da primeira direcção dos serviços sociais da Câmara. Pertenceu também à primeira Assembleia de freguesia de Aldeia de Paio Pires e foi eleito da junta de freguesia de Paio Pires. Após o 25 de abril, José Gomes viveu as maiores mudanças que se deram na aldeia ao longo dos tempos. “Vivi o apanhar da fruta, o ir na primeira camioneta da madrugada com destino á ribeira em Lisboa para ser dos primeiros a chegar, e auxiliar na venda da fruta ida de véspera em canastras” Muito antes do 25 de Abril, tínhamos u m a f r eg u esia q u e n em m il habitantes tinha! No entanto, eram muitas as tradições que se faziam... desde bailes, iniciativas nas épocas festivas, até existiam rivalidades entre as freguesias e entre as colectividades da própria freguesia, para ver quem conseguia fazer o melhor baile! Todas as pessoas que aqui moravam estavam presentes nestas festas, pois não tinham outro sitio para ir nem sequer tinham meios para se deslocarem para longe. Além disso, tínhamos também uma banda de música na Sociedade Musical 5 de Outubro, e uma equipa de futebol no Paio Pires Futebol Clube. Faziam-se ainda teatros e até concursos de marchas. Lembro-me que Paio Pires tinha marchas muito bonitas, pois era uma terra de tradições. As marchas tinham arcos a imitar frutas e a lembrar uma das maiores actividades e fontes de sustento que era a fruta. Chegámos a ganhar alguns desse concursos. O dia a dia das pessoas era a trabalhar na fruta ou no vinho. Todos os fazendeiros de Paio Pires tinham um lagar. Os taberneiros disputavam entre eles para conseguirem ter o melhor vinho. Na apanha da fruta, os f azen deir os con segu iam f azer dinheiro para o ano todo, para eles e para a família deles, e para pagar aos trabalhadores! Na altura, casei com a filha de um fazendeiro. A partir daí comecei ir apanhar a fruta, a ir na primeira cam ionet a da m adrugada com destino á ribeira em Lisboa, para fazer a distribuição das canastras no local mais visível aos compradores para que fosse vendida o mais cedo possível. Por vezes fazíamos o vinho na nossa adega, tínhamos oliveiras e levávamos também azeitonas para o lagar de azeit e ex ist ent e no Pinhalzinho, que hoje já não funciona e que tenho fé de que um dia seja recuperado para museu. Trocávamos cerca de 100 quilos de azeitona por dez litros de azeite! Nas suas casas, cada família tinha pelo menos um quintal onde criavam o gado: porcos, galinhas, etc. Alguns trabalhavam na Mundet, até que um dia veio a Siderurgia Nacional. Foi a grande mudança em Paio Pires! A siderurgia trouxe emprego a muita gente, mas não foi tanto como se esperava. O que mais se notou com a chegada da Siderurgia Nacional foi m esm o o fim da agr icult ura. Destruiu-a por completo! De ano para ano morriam centenas de árvores de fruto. Eu lembro-me que antes da Siderurgia chegar ,era tudo arvoredo! Uma canastra de fruta cu st a v a 3 0 0 e scu d o s e u m trabalhador ganhava 30 escudos por d i a . D e p o i s d a ch e g a d a d a Siderurgia, uma canastra de fruta custava 30 escudos e um trabalhador ganhava 300 escudos. Deu-se o inverso da situação. A fruta, que era um dos grandes pilares de sustento p a r a o s p a i p i r e n s e s , t i n h a desvalorizado de tal maneira que quem tinha os terrenos acabou por vendê-los. Foi o fim do comércio da fruta, do vinho e do azeite! Depois deu-se o 25 de Abril. Liberdade para todos, tudo se transformou. Houve uma grande m ob ilização d as p essoas, as tradições foram-se esquecendo e deram origem ao que é hoje Paio Pires: uma terra de Siderurgia, p r o j ect o s f ab r i s, m o b i l i zação humana e rodoviária e tudo mais que se pode observar, assente numa terra de raízes ainda marcadas nas faces dos mais velhos, que aqui viveram as tradições esquecidas. 6 7
  • 2. A Aldeia de Paio Pires, situada na margem esquerda da Ribeira de Coina, pertenceu durante séculos ao termo de Almada, sendo local de implantação de diversas quintas. No entanto, o povoamento local adquiriu maior expressão no inicio da Idade Moderna, pressupondo a organização do culto religioso. As primeiras referências à erm ida de Nossa Senhora da Anunciada da Aldeia de Paio Pires datam do século XVI, sendo m encionada na visitação efectuada pela Ordem Militar de Santiago a Almada em 1564-1565, considerada então, tal como as dem ais erm idas exist ent es no território hoje correspondente ao concelho do Seixal, como ermida anexa à Igreja de Santiago de Almada. Em 1758 era administrador desta er m ida José Felix da Cunha, provavelmente pela sua ligação ao Morgado de Paio Pires. A 4 de Julho de 1786, o Papa Pio VI concedeu indulgências perpétuas aos fiéis que visitassem a Ermida de Nossa Senhora da Anunciada da Aldeia de Paio Pires nos dias da Anunciação de Nossa Senhora e do Mártir São Sebastião, indulgências que se aplicavam igualmente a todas as outras festividades dedicadas à Virgem. Alguns anos mais tarde, este local de culto dará origem a uma nova paróquia. Data de 25 de Fevereiro de 1797 a primeira provisão assinada por D. José I I , então Cardeal Patriarca de Lisboa, a cuja Diocese pertencia a jurisdição eclesiástica das igrejas de Almada, instituindo a paróquia de Nossa Senhora da Anunciada da Aldeia de Paio Pires, desanexada da paróquia de Nossa Senhora da Consolação da Arrentela. O processo resultou de um pedido formulado pelos moradores da Aldeia de Paio Pires que se queixavam dos i n c ó m o d o s r e s u l t a n t e s d a obrigatoriedade de se deslocarem áigreja matriz, situada na Arrentela devido à distancia que separava as du as povoações e aos m au s cam inhos então existentes e pressupôs a realização de consultas tanto ao pároco de Arrentela como ao da paróquia de Santiago de Almada, da qual se havia desanexado em data a n t e r i o r a p r ó p r i a p a r ó q u i a arrentelense. Esta provisão foi no entanto embargada por iniciativa da I r m a n d a d e d o S a n t í s s i m o Sacramento e pelos moradores de Arrentela, ficando sem efeito. Entre as razões invocadas nos autos de embargo, constam a curta distância entre esta localidade e a Aldeia de Paio Pires, o estado razoável dos caminhos, a necessidade de obras na m at r iz de Nossa Senhora da Consolação e a incapacidade sentida pelos moradores de Arrentela de isoladamente conseguirem pagar a côngrua que consistia em três potes d e v i n h o e m m o s t o q u e 6 7 (cont.) IGREJA DE NOSSA SENHORA DA ANUNCIADA DE ALDEIA DE PAIO PIRES Av. José António Rodrigues, 1946
  • 3. e-, ftt3: Aldeia de 'f-/s,} PAIO PIRESZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA c a d a fa z e n d e iro e n tre g a v a a o p á ro c o n e c e s s á ria a o s u s te n to d o p rio r, ta n to m a is q u e o S e ix a l tin h a s id o ta m b é m re c e n te m e n te d e s a n e x a d o , a le g a n d o q u e o s c a m in h o s q u e e s ta b e le c ia m a lig a ç ã o c o m a ig re ja d e N o s s a S e n h o ra d a C o n s o la ç ã o s e e fe c tu a v a m p e la p ra ia , fic a n d o in tra n s itá v e is a q u a n d o d a m a ré c h e ia . A s s im , a d is p a rid a d e d o s R e n d im e n to s o b tid o s e n tre o s m o ra d o re s d e A rre n te la e o s d e A ld e ia d e P a io P ire s , d o s q u a is d e p e n d ia o a p u ra m e n to d a c ô n g ru a , p a re c e te r s id o a m o tiv a ç ã o fu n d a m e n ta l, q u e r p a ra o s q u e s o lic ita ra m a d e s a n e x a ç ã o d a p a ró q u ia q u e r p a ra o s a rre n te le n s e s q u e a is s o s e o p u n h a m , c o m o s e d e p re e n d e d o te s te m u n h o d o p á ro c o d e A rre n te la , F ra n c is c o J o s é d e A n d ra d e , q u e re fe re a e x is tê n c ia d e 2 1 fa z e n d e iro s n a A rre n te la c o n tra 6 1 e x is te n te s n a A ld e ia d e P a io P ire s . D a d o o d e s e n c o n tro d e o p in iõ e s , a p ro v is ã o e m itid a a 2 5 d e F e v e re iro d e 1 7 9 7 fo i e n tã o e m b a rg a d a , s e n d o d e s e m b a rg a d a a 2 2 d e S e te m b ro d e 1 8 0 2 e p u b lic a d a c o m a c e le b ra ç ã o d e m is s a n a ig re ja d e N o s s a S e n h o ra D a A n u n c ia d a d a A ld e ia d e P a io P ire s e m 2 6 d e S e te m b ro d e 1 8 0 2 , c o n s id e ra n d o -s e e n tã o in s titu íd a a n o v a p a ró q u ia . E m O u tu b ro d o m e s m o a n o , s ã o la v ra d o s o s p rim e iro a s s e n to s d e b a p tis m o , e n c o n tra n d o - s e a c tu a lm e n te o s re s p e c tiv o s liv ro s d e re g is to p a ro q u ia l d e A ld e ia d e P a io P ire s d e p o s ita d o s n o A rq u iv o D is trita l d e S e tú b a l. A d e m a rc a ç ã o d o s lim ite s d a n o v a p a ró q u ia te rá s id o e fe c tu a d a e m M a rç o d e 1 8 0 3 , c o in c id in d o a in d a h o je c o m o te rritó rio p a ro q u ia l. M o in h o d e Á g u a d a Q u in ta d a P a lm e ira , 1 9 5 8