1) A humanidade deve refletir sobre os caminhos para a paz e solidariedade entre as pessoas em vez de conflitos crescentes.
2) A violência tem aumentado ao longo da história e continua causando mortes em conflitos e na vida cotidiana.
3) É possível evoluir para uma era sem violência se a humanidade usar os recursos disponíveis para o entendimento mútuo em vez da agressão.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Mundo Melhor
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EM DEFESA DE UM MUNDO MELHOR
Fernando Alcoforado*
Em toda a passagem de ano, deveríamos fazer uma profunda reflexão sobre a
trajetória da Humanidade ao longo da história no sentido de buscar os melhores
caminhos que nos conduzam à paz e à solidariedade entre todos os homens e mulheres
em nosso planeta. Todos nós deveríamos incorporar em nossas mentes de que estamos
vivendo momentos históricos decisivos para a Humanidade em que poderosíssimas
forças econômicas, sociais e ambientais podem nos conduzir a um quadro catastrófico
de conflitos entre os seres humanos e de revolta da Natureza contra aqueles que a
agridem, isto é, os seres humanos.
Na história da Humanidade, os conflitos entre os seres humanos têm sido uma
constante. A violência tem crescido ao longo do tempo. O fim da Guerra Fria, por
exemplo, não contribuiu para a resolução pacífica dos conflitos entre as nações e povos
que continuam a provocar milhões de mortos e de mutilados por todo o mundo e a
impedir que muitas pessoas vivam em condições mínimas de dignidade. Mesmo em
situações aparentemente pacíficas, a violência é, sob muitas formas, uma realidade
quotidiana que destrói vidas e condena à sobrevivência em condições iníquas uma
multidão de seres humanos.
Não será o desemprego, o analfabetismo, a insegurança, as desigualdades crescentes,
a exploração do homem pelo homem e os futuros ameaçados manifestações de violência
com as quais constantemente nos confrontamos? Não confundamos não violência com
passividade, covardia ou desistência de lutar pela justiça. Afirmação de si, agressividade
e conflito têm sido marcas do comportamento humano ao longo da sua história. A
guerra não pode continuar sendo uma constante na história da Humanidade.
A Humanidade dispõe hoje de recursos materiais e espirituais que lhe permitem
prescindir da violência como forma de garantir a sobrevivência e é possível, a partir de
um processo lento e difícil, inaugurar uma nova era civilizacional de humanização, de
enriquecimento pessoal e comunitário, através do confronto e da compreensão do outro,
do diferente. Hoje, é possível pensar a evolução da humanidade fora dos quadros da
violência.
Existe um provérbio que virou senso comum de que “se queres a paz prepara a
guerra” o que é falso porque incentiva a proliferação da guerra com a corrida
armamentista. “Assim como é preciso aprender a matar para praticar a violência, assim
se deve estar preparado para morrer para praticar a não violência”, dizia Gandhi. Ora,
ter este princípio como horizonte de vida pressupõe um profundo e persistente trabalho
interior porque a não violência não recusa o conflito, mas procura transformá-lo em
fonte de crescimento e de amadurecimento da consciência e da solidariedade humana,
consciente dos limites e precariedade desse mesmo processo.
Não satisfeito com os conflitos entre os seres humanos ao longo da história, a
Humanidade passou a praticar a violência contra a Natureza, colocando em risco a sua
própria existência diante da catástrofe ambiental que se antevê em nosso planeta. Os
governantes pouco fazem para preservar o berço que sustenta a Humanidade, isto é, o
planeta Terra. Desenvolveu-se uma cultura de colocar os interesses da Humanidade
acima da Natureza, porque a sobrevivência é-lhes mais forte do que a preservação da
Terra.
Esquecem que a Terra é berço e é estrada, condição sine qua non para a
sobrevivência da Humanidade. É preciso desenvolver a conscientização social como
forma mais eficaz de levar o Ser Humano a saber de si e do Todo numa correlação
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fraternal de conhecimentos que não deixa a Terra em segundo ou terceiro planos, e sim,
em plano de igualdade.
No “último discurso” de Charles Chaplin pronunciado no filme O Grande Ditador,
ele vive uma brilhante sátira a Adolf Hitler. O climax clássico deste filme é o célebre
discurso final, um libelo ao triunfo da razão sobre o militarismo. Ele afirmou, entre
outras coisas, em um contexto diferente do atual, porém válido hoje na atualidade, que
todos nós desejamos ajudar-nos uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos
viver para a felicidade do próximo - não para o seu infortúnio. Por que havemos de
odiar ou desprezar-nos uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A Terra, que
é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A
cobiça envenenou a alma do homem ... levantou no mundo as muralhas do ódio ... e
tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época
da velocidade, mas sentimo-nos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz
abundância, tem-nos deixado em penúria. Os nossos conhecimentos fizeram-nos
céticos, a nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos
bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de
inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas duas virtudes, a vida será de
violência e tudo será perdido.
A próxima natureza dessas coisas é um apelo eloquente à bondade do homem, um
apelo à fraternidade universal, à união de todos nós. Aos que me podem ouvir eu digo:
"Não desespereis!" A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da
cobiça em agonia ... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano.
Lutemos agora para libertar o mundo, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência.
Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam
à ventura de todos nós. Ainda com muita esperança de que a Humanidade se
reconciliará consigo mesma e com a Natureza, apresentamos nosso desejo de que todos
os nossos queridos amigos e queridas amigas façam uma profunda reflexão sobre os
gigantescos problemas que nos afligem e se engajem na luta por um mundo melhor do
que os homens e as mulheres construiram até hoje.
*Fernando Alcoforado, 79, detentor da Medalha do Mérito do Sistema CONFEA/CREA, membro da
Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento
Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento
estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é
autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova
(Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São
Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado.
Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX
e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of
the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável-
Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do
Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social
(Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas,
Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo
Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017) e Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Bahiana de
Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria).