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uma atividade mais lúdica, mas que apresenta a mesma
importância de uma consulta ao dicionário, pode ser propos-
ta. Trata-se de recortar emjornaisourevistasas palavras que
ele tenha dificuldades para escrever. Essas palavras, selecio-
nadas pelo professor, podem ser coladas em seu caderno e/ou
em urn cartaz coletivo, por exemplo. Na reescrita do texto, o
aluno (ou a saía toda) poderá consultá-las, de modo a não
escrevê-las incorretamente. Nada impede que a mesma ati-
vidade possa ser feita com Vera. Com essas atividades, a
intervenção didática não corre orisco de cair na monotonia e
desmotivar os alunos.
82
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
(CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO. SP, BRASIL)
Dolz, Joaquim
Produção escrita e dificuldades de aprendizagem / Joaquim Dolz, Roxane
Gagnon, Fabrícto Decãndto ; adaptação Joaquim Dolz e Fabritio Decândio ;
tradução Fabffcio Decândio e Anna Rachel Machado. - Campinas, SP:
Mercado de Letras, aoiO.
Bibliografia.
ISBN 978-85-7591-132-7
1. Crianças - Dificuldade de aprendizagem 2.Crianças - Escrita 3.Jogos
educativos 4. Psicopedagogia l. Gagnon, Roxane. II. Decândio, Fabrfcio. 111.
Titulo.
10-04809 CDD-370.1523
editora mercado de letras
CAPÍTULO VII
OS TEXTOS ARGUMENTATIVOS
I. Anóííse da produção fexfual de Lucas; o género
caria oficia/ e seu con/exío de produção
O texto que utilizamos em nossa análise é urna carta
oficial de solicitação, justificada, escrita por Lucas, aluno do 3°
ano de uma escola pública de Londrina-PR, dirigida ao prefeito
da cidade. Nela, Lucas reivindica melhorias da situação de
crianças com deficiênciafísica.Note-se que consideramos que
uma carta endereçada a uma autoridade é uma carta oficial.
O texto pertence a um género argumentativo. Segundo
Chartrand (1995), a argumentação opera uma reestruturação
das três funções primárias do processo de comunicação: expri-
mir a si mesmo e interiorizaro outro, provocaruma impressão
sobreooutro e transformar seu pensamento;descrevero mundo
por meio do diálogocom o pensamento do outro.
Em relação ao lugar socialdogénero, uma carta escrita
para o prefeito da cidade é um género textual que circula na
esfera pública, por meio da qual um cidadão dirige-se à
autoridade máxima do município, como por exemplo, do
Poder Executivo, referindo-se a um determinado assunto e
argumentando em prol de um ou mais objetivos.
produção escrita e dificuldades de aprendizagem 83
v
Sobre o meio de veiculação da carta, podemos dizer
que os suportes utilizados para transmitiras cartas evoluí-
ram no decorrer do tempo, assim como as próprias cartas.
Tal evolução foi marcada, inicialmente, pelo uso do papel
manuscrito; depois, do datilografadoe, mais recentemen-
te, do papel impresso. Além do rnais, o e-mail também pode
ser considerado como um suporte, desde que sua forma
respeite a organização básica de uma carta, É importante
observarmos que, em relação à carta, o suporte é marcado
pelo género ao mesmo tempo em que o marca.
Tratando-se de uma correspondência oficial, o leitor
(destinatário: prefeito, reitor, diretor de banco etc,) espera,
um tratamento formal e respeitoso de seu interlocutor (de
quem escreveu a carta). Basicamente, esse tipo de carta
apresenta a seguinte planificação:
a) Data com o dia, mês, ano e lugar (cidade, por
exemplo).
b) Norne completo da pessoa a quem se dirige a carta
e o cargo por ela exercido.
c) A introdução pode ser feita poruma saudação inicial,
com os pronomes de tratamento (prezado Senhor;
Vossa Excelência(prefeitos, vereadores); Vossa Mag-
nificência (reitores de universidade etc.)*
d) A ideia principal vem exposta no primeiroparágra-
fo, ou seja, expõe-se o (os) motivo (s) pelo (s) qual
(is) se escreve a carta e também os argumentos
pertinentes. Sempre com educação, com palavras
claras e simples e sem repetição.
e) Se necessário, em um segundo parágrafo, podem
ser apresentadas as ideias ou informações secun-
dárias não expostasanteriormente.
f) O fecho é a parte que encerra a carta. Uma varie-
dade de expressões encontra-sedisponível, poden-
do uma delas ser escolhida de acordo com o estilo
I. Em outros contextos, em função da fornia e do conteúdo temático, o e-mail
passa a ser considerado como um género textual de direito.
editora mercado de letras
de cada escritor (atenciosamente; cordiais saudações;
com elevadaconsideração;rnuito(a)agradecido(a) etc.).
g) Assinatura e nome do enunciador (dequem escreve
a carta).
Após essas breves considerações sobre acorrespondên-
cia oficial, voltar-nos-emos para a produção de Lucas e, mais
precisamente, para o contexto em que a carta foiproduzida. O
texto nos foientregue tal como se apresenta na figura l, coma
informação de que se trata da produção de um alunode 3°ano
de uma escola pública de Londrina.Com esses dados, apenas
podemos inferir alguns aspectos das instruções do professor.
Primeiramente, esse tipode produçãoéuma atividade recorren-
te nessa série, pois a escrita de cartas (formais e informais),
bilhetes, assim como os debates orais favorecem a progressão
esperada em relação à argumentação. Porexemplo,geralmente,
no decorrer do Ensino Fundamental í, essa progressão leva os
alunos a desenvolver a capacidade de dar seu ponto de vista
sobre situações não corriqueiras, formular argumentos, hierar-
quizá-íos. Umasegunda inferência é a de que pode estar haven-
do na cidade, uma campanha para a integração social de
pessoas portadoras de alguma deficiência física, ou a de que
algum aluno esteja vivendo dificuldadespelo fato de apresentar
alguma deficiência.Em terceiro lugar, podemos inferir que a
professora estivesse trabalhando com um projeto temático (so-
bre carta ou sobre portadores de deficiência física) ou com uma
sequência didática sobre a produção de cartas.
2. A reconstrução do género a partir dos índices
textuais e da situação de comunicação
Ao observarmos o texto de Lucas, encontramos alguns
índices de que ele escreve uma carta ao prefeito, pedindo uma
melhoria das ruas para osportadores de deficiência física. Daí
considerarmos que a mais provável das consignas dada pelo
professor tenha sido a seguinte:
Escreva urna carta ao prefeito pedindo melhorias em
favor das crianças portadoras de deficiência física.
produção escrita e dificuldades de aprendizagem 85
FIGURA ó: CARTA DE LUCAS [3° ANO)
Sinhor prefeito
Nos queremu que Você merole as síluasõo de mininos e meninas esla com
defisiente físico nas Ruas ele enlra na igreja e tei escada eles não enlra não lei
nigei para por eles Io denlro e nei uma jile que eles e elas não coiese ela e ele
e lambem não cê coiesem ele e ela porque eles e elas e defisiente e eles não e
defisiente eles não podejoga Bola e nei andar de Bicicrete e nei di patis e também
não pode pasia nas Ruas dos colega nei estudar Fraque ele não da comia de
escrever e neí ler oque ele vai fozer na escola só Ilarcha e brimcar na escolo Dese
jeito eles não podipasardi ano
Obrigada porter Aterdero meu pidido Lucas
Lucas, assim como todos os outros alunos, encontra-se
em um contexto de formação escolar. A escola, na perspecti-
va vygotskyana, constitui o espaço fundamental para o de-
senvolvimento humano. Ainda nessa perspectiva, a
linguagem tem um papel crucial no processo do desenvolvi-
mento. Sendo assim, o ensíno-aprendizagem de uma língua
nos permite não só acompanhar o aluno em seu desenvolvi-
mento, mas também intervir nas situações de dificuldades
como mediadoras entre os conhecimentos já apropriados
pelos alunos e os conhecimentos potenciais. Ora, se o texto
(oral ou escrito) é uma materialização da linguagem, é por
meio dele que podemos detectar os problemas e as dificulda-
des, dos alunos em relação ao nível de conhecimento espera-
do em um determinado ano.
A partir da articulação entre as ideias já expostas e as
sugestões de documentos oficiais (Brasil 1997; São Paulo 2009),
propomos a elaboração de uma lista de critérios como disposi-
tivo (conferir tabela 6) para analisar acarta de Lucas e identificar
os possíveis problemas de escrita em relação ao nível que se
espera dos alunos do 3° ano do Ensino Fundamental:
TABELA 6
edilora mercado de leiras
V
Expectativas para o 3a ano & Critérios de avaliação
Representação da situação de comunicação: a planificação textual,
o destinatário, a sua finalidade e outras características do género:
-Paginação da carta
-Data e lugar
- Destinatário
- Saudaçãoinicial
- Ideia principal
- Nome eassinatura doemissor
Texto coeso e coerente, em função do género pedido, da modali-
dade (escrita),dos objelivos e dos /e/fores:
Planificação;
-Apresentação doautor dacarta eseupapel social (quem fala em
nome de quem?
- Contextualização do pedido
-Argumentos quejustificam o pedido
- Organização dos argumentos (ordem) nocorpo dacarta
Textualização:
- Presença de organizadores logico-argumentaíivos (porque etc.)
e enumerativos (primeiramente, por fim etc.).
- Expressõesque implicam oenunciador (pessoalmente, penso
etc.) e o destinatário (prezado senhor prefeito, senhor).
- Expressõesque susteniam a argumentação doenunciador e
marcas modais para dar sua opinião
-Substituições lexicais (termos ou expressões pertinentes aos
assuntos traíados)
- Manutenção do tempo verbal
- Emprego da regência verbal
- Emprego da concordância nominal
- Indicação por meio de virgulas, dasjistas eenumerações notexto.
Dimensões transversais:
Consciência da escrita alfabética:
Consideração dovalor sonoro eda quantidade necessária deletras
(písias para observação):
a) casos em que cada grafema corresponde a um fonem e
vice-versa
b) dígrafos: casos que requerem mais de um grafema paranota o
mesmo fonema(uso do rr, qu, gu, nh, m/n antesde consoanteele.)
c) casos em que a categoria gramatical da palavra pode decidir a
sua forma ortográfica (Exemplos: canta(r), sonha(r): verbos no
infinitivo; compra(ss}e, ouvi(ss)e: imp. do subjuntivo; france(s)a,
holande(s)a: adjeiivos gentílicos terminados em lesai; rique(z)a,
pobre(z)a: substantivosterminados em /eza/ eíc.}.
Utilização de recursos do sistema de pontuação, ainda que com
falhas, para dividir o texto em frases:
Maiúscula inicial
Ponto final (exclamação, inierrogacão e reticências)
Reunião de frases em parágrafos
Apreciação
do professor
produção escrita e dificuldades de aprendizagem 87
c
o
n
l.
V
Escrifa com ortografia convenciona/, mesmo que apresente algu-
mas falhas:
- Estabilidade depalavras de ortografia regular
- Estabilidade deirregularidades mais frequentes na escriía
Domínio da separação de palavras
(escritas sem segmentação ("derepente") e com segmentação
indevida ("de pois") podem serrecorreníes ainda.
Acentuação de palavras:
Regras gerais relacionadas à tonicidade
Ouíras possíveis observações
Ac
o
n
t.
Essa tabela pode se constituir como- uma base de
orientação para a análise do texto de Lucas. A flecha de-
scendente, paralela ao quadro, sugere um caminhotransver-
sal a percorrer por meio do qual o professor "desconstrói" o
género, observando, primeiro, os aspectos mais gerais (ma-
cro) e, depois, os aspectos de nível mais profundo (micro), em
relação à situação de produção e de comunicação da carta
(aspectos linguísticos e extralinguísticos). No entanto, de
acordo com os PCNs {Brasil 1997, p. 79), "a análise daquilo
que foi ou não aprendido precisa ser realizada num contexto
em que se considere também o que foi de fato ensinado e a
maneira pela qual isso foi feito". Por isso, faltando-nosinfor-
mações mais precisas sobre o momento ern que-oprofessor
deu as instruções para a atividade e sobre como ela se
desenvolvem, seguiremos com as análises das dificuldades
de Lucas sempre com hipóteses sobre o que lhe foipedido e
sobre o que se esperava dele.
Em relação à adaptação à situação de comunicação,
notamos que Lucas tem bons conhecimentos, para seu nível
escolar, sobre as características convencionaisde uma carta
formal, oque se nota pelouso do vocativosenhorprefeito, pelo
agradecimento no fimda carta (obrigada porterAterder o meu
pidido) e pela assinatura no fim do texto. A implicação do
destinatáriose dá quandoLucas inicia a carta comovocativo;
depois, faz nova referência a ele (Nos queremu que Você] e,
por fim, agradece ao prefeito pela atenção. O papel social do
aluno (em nome de quem ele vai falar?) ora se apresenta em
88 editora mercado de letras
primeira pessoa do singular (... o meu pidido), ora em
primeira pessoa do plural (Nos queremu...), marcando o
posicionamento de um aluno-cidadão que faz um pedido
em nome de todos (dos alunos da classe ou de todos os
cidadãos), que intercede pelo bem de todas as pessoas
portadoras de alguma deficiência física. A textualização se
caracteriza, entre outros aspectos, por marcas que expres-
sam sua posição enunciativa (Nos queremu...) e as dificul-
dades dos meninos e meninas portadores de deficiência
física: não pode joga, não pode pasia, não da comta de
escrever..., não podi pasar di ano. Especial atenção deve
ser dada ao adjetivo obrigada, visto que se trata de uma
expressão muito frequente. De acordo com a norma, todo
adjetivo deve concordarcom o substantivo a que se refere;
assim, o uso do género masculino seria mais adequado.
Quanto à da planificação da carta, Lucas a organiza
em um só parágrafo, o que revela algumas dificuldades, tais
como: a ausência de sua apresentação do aluno, da contex-
tualização da correspondência e do pedido. Provavelmente, é
a primeira carta argumentativa, de caráter oficial, escrita por
Lucas. Todos os argumentos são de mesma natureza (como
mesmotópico), istoé,enumeramas situaçõesemque surgem
obstáculos para os portadoresde deficiência física. Antes de
fazer um breve comentário sobre a questão dos portadores de
deficiência física ou sobre o principal motivo que o leva a
escrever, Lucas expõe diretamente uma grande lista de argu-
mentos que apenas descrevem os problemas enfrentados por
um portador de deficiência física, sem nenhuma pausa, o que
compromete a planificação do texto. O problema da planifi-
cação relaciona-se também com a segmentação, o que será
abordado mais adiante. Para concluir esta parte da análise,
observamos que os argumentos são abundantes, ou seja, para
reivindicar uma melhoria em benefício dos portadores de
deficiência física, Lucas refere-se aos obstáculos enfrentados
por elas para poder entrar na igreja, fazer um esporte, andar
de bicicleta ou de patins, passear, estudar, escrever, ler e
passar de ano. No entanto, essa longa enumeração de argu-
produção escrita e dificuldades de aprendizagem 89
mentos refere-se a um só aspecto da situação e pode não ser
suficiente para convencer o prefeito a tomar uma decisão,
pois faltam argumentos rnais concretos como, por exemplo,
sugerir a instalação de rampas de acesso nos lugares públi-
cos, o nivelamento das calçadas ou ainda comentar sobre o
que mudaria em Londrina, em relação às outras cidades, se
o municípioadotasse uma políticaséria para a inclusão social
dos portadoresde deficiência física.
Quanto à segmentação dotexto,se seguimos a pers-
pectiva proposta anteriormente, ou seja, observar o texto
do nível macro-textual para o micro-textual, notamos a
ausência total de pontuação no fim do parágrafo, no fim
das /rases (ponto final) e também a ausência de vírgulas
para indicar a enumeração dos argumentos. Em vez de
utilizar a pontuação, Lucas recorreaos organizadores tex-
tuais, com a repetição da conjunção e e, menos frequente-
mente, deporque e.praque. Ele também utiliza oadvérbio
também (duas ocorrências) e a locução adverbial Desse
jeito para interligar sua argumentação. A recorrência aos
mesmos organizadores textuais é uma característica dos
alunos dessa idade. Em contrapartida, Lucas mostra um
uso correto da organização sintática das frases, pois, mes-
mo com os problemas de segmentação e de planificação,o
sujeito e o predicado, o verbo e o objeto estão sempre
dispostos um após o outro. Sem dúvida,a sintaxe é simples
e a repetição das estruturas é próxima da ordem do oral.
Já em relação à ortografia, é importanteobservar que
Lucas ainda demonstra não dominaro uso da letra maiúscu-
la. Ela é usada no iníciodos parágrafos e no início das frases,
após o ponto final, por exemplo;porém, é possível levantar a
hipótese de que ele tende a usar a maiúscula em outro
sentido, isto é, para enfatizar algumas palavras.
A propósitodas escolhas lexicais,já notamos que Lu-
cas recorresempre ao registroda línguaoral, ou seja, ainda
escreve como fala. Outrahipótese que emerge do caráteroral
do texto de Lucas se refere à segmentação. Geralmente, as
crianças falam muito rápidopara chamare mantera atenção
90 editora mercado de letras
do interlocutor.Assim, com a ausência de pausas, a pontua-
ção não tem nenhum sentido, quando o registro da língua
escrita reflete o registro da língua falada. Portanto, mais urn
ponto a ser trabalhado com Lucas: a segmentação do texto
na escrita, não somente para marcar as partes do texto, mas
para facilitar a compreensão do leitor,separando as frases no
nível micro e evitando uma apresentação compactada, ou
seja, sem sinais de pontuação.
Ainda duas outras considerações sobre a ortografia
e a acentuação são pertinentes. Lucas já parece ser cons-
ciente da escrita alfabética, faltando-lhe apenas alguns
ajustes. As palavras rnais regulares da língua começam a
ser escritas de forma relativamente estável, como você,
meninas, com, ruas, igrejas, para, também, eles, elas, es-
cola, ano etc.No entanto, a grafia do organizador textual
porque, muito frequente no dia-a-dia, apresenta-se ainda
instável: é grafado corretamente na primeira vez em que
aparece, mas, na segunda aparece bem diferentemente e
ainda com a inicial maiúscula (Fraque).
Dificuldades com a segmentação das palavras são
ainda esperadas nessa fase, porém, isso não significa que o
professor não deva estar atento. Ao contrário, é a partir da
observação dessas dificuldades dos alunos que ele pode
planejar atividades que concorram para um menor índice de
frequência desse problema. No caso de Lucas, observamos
a ausência de segmentação em obrigada por£er...;leroQue...
por exemplo. Por fim, em relação à acentuação de palavras,
ainda existem lacunas a serem preenchidas referentes às
regras gerais de tonicidade. Lucas ainda não acentua o
pronome nós e o verbo está (3a p.s.). Em contrapartida, boa
parte das palavras mais recorrentes é acentuada correta-
mente (você, físico, não, também).
3. Asprincipais dificuldades de Lucas
Não temos a pretensão de julgar a produção do aluno
a partir de erros e acertos, mas sim, pretendemos analisar,
produção escrita e dificuldades de aprendizagem 91
l
observar as dificuldades de escrita encontradas emseu texto,
inserido em um contexto de ensino-aprendizagem. A partir
do que se é espera de um aluno de 3°ano (conferir tabela 1),
podemos enumerar os três principais problemas da escrita de
Lucas:
• a segmentação do texto e a marcação da planifica-
ção pelos organizadorestextuais;
• a hierarquização de argumentos demesmanatureza;
• a grafia incorreta de palavrasmais recorrentes, como
a do organizador textualporque(Fraque), por exemplo.
A "desconstrução" do género, representada pela fle-
cha descendente, complementada, se possível, por uma
conversa com Lucas (diálogoexploratóriopara compreen-
der as intenções do aluno) pode permitir a reconstrução da
situação de comunicação (representada pela flecha ascen-
dente). As hipóteses levantadas sobre as dificuldades de
escrita na "desconstrução" serão confirmadas, ou não, na
reconstrução conjunta da ação de linguagemcom o media-
dor (oprofessorou um outro aluno da sala). Desse ponto de
vista, o tratamento didático da produção textual dos alunos
requer os dois processos. Adupla direção dodesenvolvimento
desses dois processos é indispensável para a análise da produ-
çãotextualemtodas assuas dimensões,comoum todoaserviço
da interação entre os indivíduos. Dessa análise emergem as
dificuldades de escrita que, por sua vez,servemcomoponto de
partida e com pistas de trabalho para o professor.
4. Aspísfas de trabalho priorifórias
As atividades que podem ser propostas para alunos
que apresentem dificuldades quanto ao "circuitoargumenta-
tivo", como as de Lucas,serão apresentadas,a seguir, em três
blocos:
92 ediíora mercado de letras
1) revisão, agrupamento de argumentos e desenvolvi-
mento de novos argumentos;
2) segmentação dos argumentos, construindo-se fra-
ses pontuadas adequadamente e organizadas em
parágrafos;
3) trabalhocom a ortografia de palavras mais frequen-
tes a partir da zona próxima! de desenvolvimento
(2PD), criando-se dúvidas ortográficas.
• Bloco 1:revisão, agrupamento de argumentos e de-
senvolvimento de novos argumentos
A partir da releitura da parte argumentativa da carta,
um diálogo exploratório (ou debate) pode ser feito com o
aluno para permitir a emergência de novos argumentos
(processo de desconstrução e reconstrução da situação de
comunicação), pois todos os argumentos utilizados ern seu
texto referem-se apenas à situação e aos obstáculos enfren-
tados pelas crianças e meninas portadoras de deficiência
física (entrar na igreja, passear, estudar etc.).
Assim, uma primeira atividade pode ser realizada
para melhor organizar esses argumentos, de modo a se
evitar a repetição e se ampliar os temas de argumenta-
ção. Para isso, novos argumentos referentes a outros
aspectos poderiam ser acrescidos à carta para torná-la
mais convincente. No entanto, uma atividade que pode
levar o aluno a tomar consciência desse processo de
enriquecimento dos argumentos não é simples. Desse
modo, em vez de abordar diretamente os argumentos de
Lucas, um caminho secundário, que permita a reflexão
sobre a natureza dos diversos tipos de argumentos, pode
ser útil para o melhoramento do texto em uma etapa
posterior. Tal atividade pode ter como eixo norteador o
seguinte princípio: o professor lança um terna e o aluno
apresenta o máximo de argumentos possíveis, como no
exemplo da página seguinte.
produção escrita e dificuldades de aprendizagem 93
Depois de os alunos escreverem os argumentos, eles
poderão escolher três deles que lhes pareçam importantes
para uma nova carta mais bem estruturada.
Argumentos dos alunos
(em tópicos ou pequenas frases):
Vantagens para a cidade se os obstáculos
para os portadores de deficiência tísica
fossem eliminados
Soluções encontradas e implantadas
em outras cidades
Integração das crianças portadoras
de deficiência física
Os direitos das crianças
Eleições para prefeito
• Bloco 2: segmentação dos argumentos*em frases e
parágrafos e com pontuação adequada
Até agora trabalhamos coma variação de argumen-
tos, ou seja, propusemos urna atividade que pode ampliar
os temas para a argumentação. Resta-nos propor uma
atividade que permita dispor esses argumentos no texto,
ou seja, trabalhar com a segmentação textual, como por
exemplo, a própria articulação dos argumentos apresenta-
dos na atividade anterior.
Desse modo, podemos propor uma lista de organiza-
dores lógico-argumentativos, os mais simples, e também
os sinais gráficos mais recorrentes de pontuação. Primei-
ramente, os alunos serão orientadosa criarem uma ou mais
frases a partir dos argumentos do exercício anterior, intro-
duzindoum oumais conectivos emcada quadro. Éimportan-
te também orientá-los para perceberem queavíigula é uma
ótima aliada para enumerar os argumentos de mesma natu-
reza, que uma frase inicia-se sempre com uma letra maiús-
cula e termina com um ponto final. Feito isso, os alunos
poderão numerar os quadros de acordo com o grau de impor-
tância que atribuem a cada urn (Porque esse primeiro?Por
que esse no meio? Por que esse no fim? etc.):
Primeiramente
De uma parte
Em segundo lugar
De outra parte
Finalmente
Por fim
ABCBEEF
GH t J Kí_ra inicial
UVuXYZ»
Vírgula
Ponto final
Argumentos desenvolvidos pelos alunos
(i)
(2)
(3)
O mesmo princípio dessa atividade pode ser trans-
posto para a reescrita da carta, ou seja, o professor pode
orientar os alunos para reagrupar seus argumentos (que já
estavam na carta), de acordo com um tema ou com a
ediíora mercado de letras produção escrita e dificuldades de aprendizagem 95
natureza dos argumentos (lazer:jogarbola, andar de patins...;
escola: estudar, ler, escrever... etc.), comoemprego dos orga-
nizadores textuais e pontuação adequada. Em seguida, po-
dem eliminar os que se repetem e, acrescentar os novos
argumentos criados durante a atividade do bloco 1. Assim,
os quadros que apresentam ideias mais ou menos próximas,
podem ser juntados em um só parágrafo, ou, se não, cada
quadrinho poderá constituir um parágrafo, dependendo da
situação. Portanto, esperamos que oprofessor possa ajudar o
aluno a reconstruir naturalmenteseu texto, em vez de avaliá-
lo como certo ou errado, curto ou longo etc.
• Bloco 3: ortografia
O terceiro e últimobloco de atividades que podem ser
propostas relaciona-se à tomada de consciência, porpartedo
aluno, da correta grafia das palavras mais frequentes na
língua. Essa atividade requer um poucomais de trabalho do
professor, rnas pode trazerresultados muito positivos para a
aprendizagem dos alunos. A ideia resume-se ao fato de o
professor fazer uma seleção de mais ou menos dez palavras
que representam uma dificuldade no próprio texto do aluno.
Cada urn deles receberá seu texto comas palavras sublinha-
das pelo professor e comuma ficha comas mesmas palavras
(I). Ao lado, haverá um espaço em branco para que eles
possam escrever uma questão ou uma pista de reflexão (ten-
tar descobrir o que há de estranho na palavra,questionando-
se, inicialmente, se se trata de um verbo, um substantivo, um
adjetivo etc.) (II). Porfim, após ter passadopelas duas primei-
ras etapas, no espaço que ainda resta na ficha, o professor
criará uma nova coluna em branco (colando a carinha sorri-
dente na ficha de cada um)para a rescrita correta da palavra.
Consultas ao dicionário, a livros, revistas, aos colegas e ao
professor são de grande importância para essa atividade.
Vejamos uma sugestão que pode ser aplicada para se
trabalhar o texto de Lucas:
96 editora mercado de letras
Fraque
Querému
Mininos
Tei
Jiíe
Coiese
Bldcrete
Patis
Pasia
Comta
Llarcha
Brimcar
Podi
Pasar
Di
Obrigada
Aterder
Pidido
Ressaltamos que não é necessário entregar uma
ficha grande como essa que apresentamos, pois colocamos
o maior número de palavras possível a título de ilustração.
Preparando as fichas de todos os alunos, o professor poderá
conhecer a realidade de toda a classe, observando quais
são as palavras que apresentam mais dificuldades para os
alunos. A elaboração conjunta de um cartaz com essas
palavras também pode ser bastanteprodutiva.
Por fim, com nossa proposta, esperamos, de forma
natural, demonstrarque as dificuldades de escrita podem ser
superadas de um modo diferente em que a tomada de cons-
produção escrita e dificuldades de aprendizagem 97
ciência sobre os "desvios" que os alunos apresentam em
relação a uma determinada convenção do género ou da
ortografia é muito mais importante do que avaliaro texto
a partir de critérios tradicionais eultrapassados como certo
x errado. Nessa perspectiva, o papel do professor é o de
mediar a aprendizagem, e não o de ser um transmissordo
conhecimento. É ele quem vai gerar o funcionamentodos
dois processos indispensáveis para o tratamento didático
do texto ("desconstrução do género" e "reconstrução da
situação de comunicação")e promover a conscientização
dos alunos de que a linguagem é urna rica ferramenta para
a comunicação, para a interação do dia-a-dia, e que com
ela podemos "ir sempre mais longe", ou seja, conseguir
melhorias para os portadoresde deficiência física, comprar
um sorvete, escrever um bilhete etc. Assim, o ensino-
aprendizagem que prepara o aluno para as situações reais
da vida, lhes dará prazer, pois os alunos poderão ver con-
cretamente onde e comoos temidosconteúdos gramaticais
ou a escrita correta das palavras, por exemplo, serão úteis
para conseguirem alguma coisa nas diferentes interações
de que participam em seu meio social.
ediíora mercado de letras
À GUISA DECONCLUSÃO
Finalizando, queremos insistir sobre o caráter intro-
dutório e limitado deste livro. Estamos convencidos que o
professor precisa de elementos para avaliar as produções
escritas dos alunos. Ateoria dos géneros textuais na escola
(Schneuwly e Dolz, 2004) mós traz elementos para melho-
rar essa avaliação. Concretamente, esforçamo-nos em ca-
racterizar os textos produzidos pelos alunos segundo essa
teoria, e, sobretudo, em proporum método para identificar
suas capacidades e suas dificuldades na escrita, de modo
a adaptar melhor o trabalho do professor na aula. As ativi-
dades escolares e as pistas de trabalho apresentadas sobre
os géneros narrativos e argumentativos poderão servir de
exemplo para os professores.
Gostaríamos de ter desenvolvido análises de outros
géneros textuais, pois as pistas didáticas aqui propostas são
apenas um esboço e mereceriam uma apresentação mais
detalhada. Nesse sentido, outros trabalhos e publicações
deverão completar essa nossa abordagem.
Acreditamos que as análises de outros géneros tex-
tuais (artigos enciclopédicos, explicações científicas,receitas
culinárias, textos de instruções etc.) produzidos por alunos
brasileiros são importantespara adaptar as sequências didá-
produção escrita e dificuldades de aprendizagem 99

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Dolz

  • 1. uma atividade mais lúdica, mas que apresenta a mesma importância de uma consulta ao dicionário, pode ser propos- ta. Trata-se de recortar emjornaisourevistasas palavras que ele tenha dificuldades para escrever. Essas palavras, selecio- nadas pelo professor, podem ser coladas em seu caderno e/ou em urn cartaz coletivo, por exemplo. Na reescrita do texto, o aluno (ou a saía toda) poderá consultá-las, de modo a não escrevê-las incorretamente. Nada impede que a mesma ati- vidade possa ser feita com Vera. Com essas atividades, a intervenção didática não corre orisco de cair na monotonia e desmotivar os alunos. 82 DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) (CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO. SP, BRASIL) Dolz, Joaquim Produção escrita e dificuldades de aprendizagem / Joaquim Dolz, Roxane Gagnon, Fabrícto Decãndto ; adaptação Joaquim Dolz e Fabritio Decândio ; tradução Fabffcio Decândio e Anna Rachel Machado. - Campinas, SP: Mercado de Letras, aoiO. Bibliografia. ISBN 978-85-7591-132-7 1. Crianças - Dificuldade de aprendizagem 2.Crianças - Escrita 3.Jogos educativos 4. Psicopedagogia l. Gagnon, Roxane. II. Decândio, Fabrfcio. 111. Titulo. 10-04809 CDD-370.1523 editora mercado de letras CAPÍTULO VII OS TEXTOS ARGUMENTATIVOS I. Anóííse da produção fexfual de Lucas; o género caria oficia/ e seu con/exío de produção O texto que utilizamos em nossa análise é urna carta oficial de solicitação, justificada, escrita por Lucas, aluno do 3° ano de uma escola pública de Londrina-PR, dirigida ao prefeito da cidade. Nela, Lucas reivindica melhorias da situação de crianças com deficiênciafísica.Note-se que consideramos que uma carta endereçada a uma autoridade é uma carta oficial. O texto pertence a um género argumentativo. Segundo Chartrand (1995), a argumentação opera uma reestruturação das três funções primárias do processo de comunicação: expri- mir a si mesmo e interiorizaro outro, provocaruma impressão sobreooutro e transformar seu pensamento;descrevero mundo por meio do diálogocom o pensamento do outro. Em relação ao lugar socialdogénero, uma carta escrita para o prefeito da cidade é um género textual que circula na esfera pública, por meio da qual um cidadão dirige-se à autoridade máxima do município, como por exemplo, do Poder Executivo, referindo-se a um determinado assunto e argumentando em prol de um ou mais objetivos. produção escrita e dificuldades de aprendizagem 83
  • 2. v Sobre o meio de veiculação da carta, podemos dizer que os suportes utilizados para transmitiras cartas evoluí- ram no decorrer do tempo, assim como as próprias cartas. Tal evolução foi marcada, inicialmente, pelo uso do papel manuscrito; depois, do datilografadoe, mais recentemen- te, do papel impresso. Além do rnais, o e-mail também pode ser considerado como um suporte, desde que sua forma respeite a organização básica de uma carta, É importante observarmos que, em relação à carta, o suporte é marcado pelo género ao mesmo tempo em que o marca. Tratando-se de uma correspondência oficial, o leitor (destinatário: prefeito, reitor, diretor de banco etc,) espera, um tratamento formal e respeitoso de seu interlocutor (de quem escreveu a carta). Basicamente, esse tipo de carta apresenta a seguinte planificação: a) Data com o dia, mês, ano e lugar (cidade, por exemplo). b) Norne completo da pessoa a quem se dirige a carta e o cargo por ela exercido. c) A introdução pode ser feita poruma saudação inicial, com os pronomes de tratamento (prezado Senhor; Vossa Excelência(prefeitos, vereadores); Vossa Mag- nificência (reitores de universidade etc.)* d) A ideia principal vem exposta no primeiroparágra- fo, ou seja, expõe-se o (os) motivo (s) pelo (s) qual (is) se escreve a carta e também os argumentos pertinentes. Sempre com educação, com palavras claras e simples e sem repetição. e) Se necessário, em um segundo parágrafo, podem ser apresentadas as ideias ou informações secun- dárias não expostasanteriormente. f) O fecho é a parte que encerra a carta. Uma varie- dade de expressões encontra-sedisponível, poden- do uma delas ser escolhida de acordo com o estilo I. Em outros contextos, em função da fornia e do conteúdo temático, o e-mail passa a ser considerado como um género textual de direito. editora mercado de letras de cada escritor (atenciosamente; cordiais saudações; com elevadaconsideração;rnuito(a)agradecido(a) etc.). g) Assinatura e nome do enunciador (dequem escreve a carta). Após essas breves considerações sobre acorrespondên- cia oficial, voltar-nos-emos para a produção de Lucas e, mais precisamente, para o contexto em que a carta foiproduzida. O texto nos foientregue tal como se apresenta na figura l, coma informação de que se trata da produção de um alunode 3°ano de uma escola pública de Londrina.Com esses dados, apenas podemos inferir alguns aspectos das instruções do professor. Primeiramente, esse tipode produçãoéuma atividade recorren- te nessa série, pois a escrita de cartas (formais e informais), bilhetes, assim como os debates orais favorecem a progressão esperada em relação à argumentação. Porexemplo,geralmente, no decorrer do Ensino Fundamental í, essa progressão leva os alunos a desenvolver a capacidade de dar seu ponto de vista sobre situações não corriqueiras, formular argumentos, hierar- quizá-íos. Umasegunda inferência é a de que pode estar haven- do na cidade, uma campanha para a integração social de pessoas portadoras de alguma deficiência física, ou a de que algum aluno esteja vivendo dificuldadespelo fato de apresentar alguma deficiência.Em terceiro lugar, podemos inferir que a professora estivesse trabalhando com um projeto temático (so- bre carta ou sobre portadores de deficiência física) ou com uma sequência didática sobre a produção de cartas. 2. A reconstrução do género a partir dos índices textuais e da situação de comunicação Ao observarmos o texto de Lucas, encontramos alguns índices de que ele escreve uma carta ao prefeito, pedindo uma melhoria das ruas para osportadores de deficiência física. Daí considerarmos que a mais provável das consignas dada pelo professor tenha sido a seguinte: Escreva urna carta ao prefeito pedindo melhorias em favor das crianças portadoras de deficiência física. produção escrita e dificuldades de aprendizagem 85
  • 3. FIGURA ó: CARTA DE LUCAS [3° ANO) Sinhor prefeito Nos queremu que Você merole as síluasõo de mininos e meninas esla com defisiente físico nas Ruas ele enlra na igreja e tei escada eles não enlra não lei nigei para por eles Io denlro e nei uma jile que eles e elas não coiese ela e ele e lambem não cê coiesem ele e ela porque eles e elas e defisiente e eles não e defisiente eles não podejoga Bola e nei andar de Bicicrete e nei di patis e também não pode pasia nas Ruas dos colega nei estudar Fraque ele não da comia de escrever e neí ler oque ele vai fozer na escola só Ilarcha e brimcar na escolo Dese jeito eles não podipasardi ano Obrigada porter Aterdero meu pidido Lucas Lucas, assim como todos os outros alunos, encontra-se em um contexto de formação escolar. A escola, na perspecti- va vygotskyana, constitui o espaço fundamental para o de- senvolvimento humano. Ainda nessa perspectiva, a linguagem tem um papel crucial no processo do desenvolvi- mento. Sendo assim, o ensíno-aprendizagem de uma língua nos permite não só acompanhar o aluno em seu desenvolvi- mento, mas também intervir nas situações de dificuldades como mediadoras entre os conhecimentos já apropriados pelos alunos e os conhecimentos potenciais. Ora, se o texto (oral ou escrito) é uma materialização da linguagem, é por meio dele que podemos detectar os problemas e as dificulda- des, dos alunos em relação ao nível de conhecimento espera- do em um determinado ano. A partir da articulação entre as ideias já expostas e as sugestões de documentos oficiais (Brasil 1997; São Paulo 2009), propomos a elaboração de uma lista de critérios como disposi- tivo (conferir tabela 6) para analisar acarta de Lucas e identificar os possíveis problemas de escrita em relação ao nível que se espera dos alunos do 3° ano do Ensino Fundamental: TABELA 6 edilora mercado de leiras V Expectativas para o 3a ano & Critérios de avaliação Representação da situação de comunicação: a planificação textual, o destinatário, a sua finalidade e outras características do género: -Paginação da carta -Data e lugar - Destinatário - Saudaçãoinicial - Ideia principal - Nome eassinatura doemissor Texto coeso e coerente, em função do género pedido, da modali- dade (escrita),dos objelivos e dos /e/fores: Planificação; -Apresentação doautor dacarta eseupapel social (quem fala em nome de quem? - Contextualização do pedido -Argumentos quejustificam o pedido - Organização dos argumentos (ordem) nocorpo dacarta Textualização: - Presença de organizadores logico-argumentaíivos (porque etc.) e enumerativos (primeiramente, por fim etc.). - Expressõesque implicam oenunciador (pessoalmente, penso etc.) e o destinatário (prezado senhor prefeito, senhor). - Expressõesque susteniam a argumentação doenunciador e marcas modais para dar sua opinião -Substituições lexicais (termos ou expressões pertinentes aos assuntos traíados) - Manutenção do tempo verbal - Emprego da regência verbal - Emprego da concordância nominal - Indicação por meio de virgulas, dasjistas eenumerações notexto. Dimensões transversais: Consciência da escrita alfabética: Consideração dovalor sonoro eda quantidade necessária deletras (písias para observação): a) casos em que cada grafema corresponde a um fonem e vice-versa b) dígrafos: casos que requerem mais de um grafema paranota o mesmo fonema(uso do rr, qu, gu, nh, m/n antesde consoanteele.) c) casos em que a categoria gramatical da palavra pode decidir a sua forma ortográfica (Exemplos: canta(r), sonha(r): verbos no infinitivo; compra(ss}e, ouvi(ss)e: imp. do subjuntivo; france(s)a, holande(s)a: adjeiivos gentílicos terminados em lesai; rique(z)a, pobre(z)a: substantivosterminados em /eza/ eíc.}. Utilização de recursos do sistema de pontuação, ainda que com falhas, para dividir o texto em frases: Maiúscula inicial Ponto final (exclamação, inierrogacão e reticências) Reunião de frases em parágrafos Apreciação do professor produção escrita e dificuldades de aprendizagem 87
  • 4. c o n l. V Escrifa com ortografia convenciona/, mesmo que apresente algu- mas falhas: - Estabilidade depalavras de ortografia regular - Estabilidade deirregularidades mais frequentes na escriía Domínio da separação de palavras (escritas sem segmentação ("derepente") e com segmentação indevida ("de pois") podem serrecorreníes ainda. Acentuação de palavras: Regras gerais relacionadas à tonicidade Ouíras possíveis observações Ac o n t. Essa tabela pode se constituir como- uma base de orientação para a análise do texto de Lucas. A flecha de- scendente, paralela ao quadro, sugere um caminhotransver- sal a percorrer por meio do qual o professor "desconstrói" o género, observando, primeiro, os aspectos mais gerais (ma- cro) e, depois, os aspectos de nível mais profundo (micro), em relação à situação de produção e de comunicação da carta (aspectos linguísticos e extralinguísticos). No entanto, de acordo com os PCNs {Brasil 1997, p. 79), "a análise daquilo que foi ou não aprendido precisa ser realizada num contexto em que se considere também o que foi de fato ensinado e a maneira pela qual isso foi feito". Por isso, faltando-nosinfor- mações mais precisas sobre o momento ern que-oprofessor deu as instruções para a atividade e sobre como ela se desenvolvem, seguiremos com as análises das dificuldades de Lucas sempre com hipóteses sobre o que lhe foipedido e sobre o que se esperava dele. Em relação à adaptação à situação de comunicação, notamos que Lucas tem bons conhecimentos, para seu nível escolar, sobre as características convencionaisde uma carta formal, oque se nota pelouso do vocativosenhorprefeito, pelo agradecimento no fimda carta (obrigada porterAterder o meu pidido) e pela assinatura no fim do texto. A implicação do destinatáriose dá quandoLucas inicia a carta comovocativo; depois, faz nova referência a ele (Nos queremu que Você] e, por fim, agradece ao prefeito pela atenção. O papel social do aluno (em nome de quem ele vai falar?) ora se apresenta em 88 editora mercado de letras primeira pessoa do singular (... o meu pidido), ora em primeira pessoa do plural (Nos queremu...), marcando o posicionamento de um aluno-cidadão que faz um pedido em nome de todos (dos alunos da classe ou de todos os cidadãos), que intercede pelo bem de todas as pessoas portadoras de alguma deficiência física. A textualização se caracteriza, entre outros aspectos, por marcas que expres- sam sua posição enunciativa (Nos queremu...) e as dificul- dades dos meninos e meninas portadores de deficiência física: não pode joga, não pode pasia, não da comta de escrever..., não podi pasar di ano. Especial atenção deve ser dada ao adjetivo obrigada, visto que se trata de uma expressão muito frequente. De acordo com a norma, todo adjetivo deve concordarcom o substantivo a que se refere; assim, o uso do género masculino seria mais adequado. Quanto à da planificação da carta, Lucas a organiza em um só parágrafo, o que revela algumas dificuldades, tais como: a ausência de sua apresentação do aluno, da contex- tualização da correspondência e do pedido. Provavelmente, é a primeira carta argumentativa, de caráter oficial, escrita por Lucas. Todos os argumentos são de mesma natureza (como mesmotópico), istoé,enumeramas situaçõesemque surgem obstáculos para os portadoresde deficiência física. Antes de fazer um breve comentário sobre a questão dos portadores de deficiência física ou sobre o principal motivo que o leva a escrever, Lucas expõe diretamente uma grande lista de argu- mentos que apenas descrevem os problemas enfrentados por um portador de deficiência física, sem nenhuma pausa, o que compromete a planificação do texto. O problema da planifi- cação relaciona-se também com a segmentação, o que será abordado mais adiante. Para concluir esta parte da análise, observamos que os argumentos são abundantes, ou seja, para reivindicar uma melhoria em benefício dos portadores de deficiência física, Lucas refere-se aos obstáculos enfrentados por elas para poder entrar na igreja, fazer um esporte, andar de bicicleta ou de patins, passear, estudar, escrever, ler e passar de ano. No entanto, essa longa enumeração de argu- produção escrita e dificuldades de aprendizagem 89
  • 5. mentos refere-se a um só aspecto da situação e pode não ser suficiente para convencer o prefeito a tomar uma decisão, pois faltam argumentos rnais concretos como, por exemplo, sugerir a instalação de rampas de acesso nos lugares públi- cos, o nivelamento das calçadas ou ainda comentar sobre o que mudaria em Londrina, em relação às outras cidades, se o municípioadotasse uma políticaséria para a inclusão social dos portadoresde deficiência física. Quanto à segmentação dotexto,se seguimos a pers- pectiva proposta anteriormente, ou seja, observar o texto do nível macro-textual para o micro-textual, notamos a ausência total de pontuação no fim do parágrafo, no fim das /rases (ponto final) e também a ausência de vírgulas para indicar a enumeração dos argumentos. Em vez de utilizar a pontuação, Lucas recorreaos organizadores tex- tuais, com a repetição da conjunção e e, menos frequente- mente, deporque e.praque. Ele também utiliza oadvérbio também (duas ocorrências) e a locução adverbial Desse jeito para interligar sua argumentação. A recorrência aos mesmos organizadores textuais é uma característica dos alunos dessa idade. Em contrapartida, Lucas mostra um uso correto da organização sintática das frases, pois, mes- mo com os problemas de segmentação e de planificação,o sujeito e o predicado, o verbo e o objeto estão sempre dispostos um após o outro. Sem dúvida,a sintaxe é simples e a repetição das estruturas é próxima da ordem do oral. Já em relação à ortografia, é importanteobservar que Lucas ainda demonstra não dominaro uso da letra maiúscu- la. Ela é usada no iníciodos parágrafos e no início das frases, após o ponto final, por exemplo;porém, é possível levantar a hipótese de que ele tende a usar a maiúscula em outro sentido, isto é, para enfatizar algumas palavras. A propósitodas escolhas lexicais,já notamos que Lu- cas recorresempre ao registroda línguaoral, ou seja, ainda escreve como fala. Outrahipótese que emerge do caráteroral do texto de Lucas se refere à segmentação. Geralmente, as crianças falam muito rápidopara chamare mantera atenção 90 editora mercado de letras do interlocutor.Assim, com a ausência de pausas, a pontua- ção não tem nenhum sentido, quando o registro da língua escrita reflete o registro da língua falada. Portanto, mais urn ponto a ser trabalhado com Lucas: a segmentação do texto na escrita, não somente para marcar as partes do texto, mas para facilitar a compreensão do leitor,separando as frases no nível micro e evitando uma apresentação compactada, ou seja, sem sinais de pontuação. Ainda duas outras considerações sobre a ortografia e a acentuação são pertinentes. Lucas já parece ser cons- ciente da escrita alfabética, faltando-lhe apenas alguns ajustes. As palavras rnais regulares da língua começam a ser escritas de forma relativamente estável, como você, meninas, com, ruas, igrejas, para, também, eles, elas, es- cola, ano etc.No entanto, a grafia do organizador textual porque, muito frequente no dia-a-dia, apresenta-se ainda instável: é grafado corretamente na primeira vez em que aparece, mas, na segunda aparece bem diferentemente e ainda com a inicial maiúscula (Fraque). Dificuldades com a segmentação das palavras são ainda esperadas nessa fase, porém, isso não significa que o professor não deva estar atento. Ao contrário, é a partir da observação dessas dificuldades dos alunos que ele pode planejar atividades que concorram para um menor índice de frequência desse problema. No caso de Lucas, observamos a ausência de segmentação em obrigada por£er...;leroQue... por exemplo. Por fim, em relação à acentuação de palavras, ainda existem lacunas a serem preenchidas referentes às regras gerais de tonicidade. Lucas ainda não acentua o pronome nós e o verbo está (3a p.s.). Em contrapartida, boa parte das palavras mais recorrentes é acentuada correta- mente (você, físico, não, também). 3. Asprincipais dificuldades de Lucas Não temos a pretensão de julgar a produção do aluno a partir de erros e acertos, mas sim, pretendemos analisar, produção escrita e dificuldades de aprendizagem 91
  • 6. l observar as dificuldades de escrita encontradas emseu texto, inserido em um contexto de ensino-aprendizagem. A partir do que se é espera de um aluno de 3°ano (conferir tabela 1), podemos enumerar os três principais problemas da escrita de Lucas: • a segmentação do texto e a marcação da planifica- ção pelos organizadorestextuais; • a hierarquização de argumentos demesmanatureza; • a grafia incorreta de palavrasmais recorrentes, como a do organizador textualporque(Fraque), por exemplo. A "desconstrução" do género, representada pela fle- cha descendente, complementada, se possível, por uma conversa com Lucas (diálogoexploratóriopara compreen- der as intenções do aluno) pode permitir a reconstrução da situação de comunicação (representada pela flecha ascen- dente). As hipóteses levantadas sobre as dificuldades de escrita na "desconstrução" serão confirmadas, ou não, na reconstrução conjunta da ação de linguagemcom o media- dor (oprofessorou um outro aluno da sala). Desse ponto de vista, o tratamento didático da produção textual dos alunos requer os dois processos. Adupla direção dodesenvolvimento desses dois processos é indispensável para a análise da produ- çãotextualemtodas assuas dimensões,comoum todoaserviço da interação entre os indivíduos. Dessa análise emergem as dificuldades de escrita que, por sua vez,servemcomoponto de partida e com pistas de trabalho para o professor. 4. Aspísfas de trabalho priorifórias As atividades que podem ser propostas para alunos que apresentem dificuldades quanto ao "circuitoargumenta- tivo", como as de Lucas,serão apresentadas,a seguir, em três blocos: 92 ediíora mercado de letras 1) revisão, agrupamento de argumentos e desenvolvi- mento de novos argumentos; 2) segmentação dos argumentos, construindo-se fra- ses pontuadas adequadamente e organizadas em parágrafos; 3) trabalhocom a ortografia de palavras mais frequen- tes a partir da zona próxima! de desenvolvimento (2PD), criando-se dúvidas ortográficas. • Bloco 1:revisão, agrupamento de argumentos e de- senvolvimento de novos argumentos A partir da releitura da parte argumentativa da carta, um diálogo exploratório (ou debate) pode ser feito com o aluno para permitir a emergência de novos argumentos (processo de desconstrução e reconstrução da situação de comunicação), pois todos os argumentos utilizados ern seu texto referem-se apenas à situação e aos obstáculos enfren- tados pelas crianças e meninas portadoras de deficiência física (entrar na igreja, passear, estudar etc.). Assim, uma primeira atividade pode ser realizada para melhor organizar esses argumentos, de modo a se evitar a repetição e se ampliar os temas de argumenta- ção. Para isso, novos argumentos referentes a outros aspectos poderiam ser acrescidos à carta para torná-la mais convincente. No entanto, uma atividade que pode levar o aluno a tomar consciência desse processo de enriquecimento dos argumentos não é simples. Desse modo, em vez de abordar diretamente os argumentos de Lucas, um caminho secundário, que permita a reflexão sobre a natureza dos diversos tipos de argumentos, pode ser útil para o melhoramento do texto em uma etapa posterior. Tal atividade pode ter como eixo norteador o seguinte princípio: o professor lança um terna e o aluno apresenta o máximo de argumentos possíveis, como no exemplo da página seguinte. produção escrita e dificuldades de aprendizagem 93
  • 7. Depois de os alunos escreverem os argumentos, eles poderão escolher três deles que lhes pareçam importantes para uma nova carta mais bem estruturada. Argumentos dos alunos (em tópicos ou pequenas frases): Vantagens para a cidade se os obstáculos para os portadores de deficiência tísica fossem eliminados Soluções encontradas e implantadas em outras cidades Integração das crianças portadoras de deficiência física Os direitos das crianças Eleições para prefeito • Bloco 2: segmentação dos argumentos*em frases e parágrafos e com pontuação adequada Até agora trabalhamos coma variação de argumen- tos, ou seja, propusemos urna atividade que pode ampliar os temas para a argumentação. Resta-nos propor uma atividade que permita dispor esses argumentos no texto, ou seja, trabalhar com a segmentação textual, como por exemplo, a própria articulação dos argumentos apresenta- dos na atividade anterior. Desse modo, podemos propor uma lista de organiza- dores lógico-argumentativos, os mais simples, e também os sinais gráficos mais recorrentes de pontuação. Primei- ramente, os alunos serão orientadosa criarem uma ou mais frases a partir dos argumentos do exercício anterior, intro- duzindoum oumais conectivos emcada quadro. Éimportan- te também orientá-los para perceberem queavíigula é uma ótima aliada para enumerar os argumentos de mesma natu- reza, que uma frase inicia-se sempre com uma letra maiús- cula e termina com um ponto final. Feito isso, os alunos poderão numerar os quadros de acordo com o grau de impor- tância que atribuem a cada urn (Porque esse primeiro?Por que esse no meio? Por que esse no fim? etc.): Primeiramente De uma parte Em segundo lugar De outra parte Finalmente Por fim ABCBEEF GH t J Kí_ra inicial UVuXYZ» Vírgula Ponto final Argumentos desenvolvidos pelos alunos (i) (2) (3) O mesmo princípio dessa atividade pode ser trans- posto para a reescrita da carta, ou seja, o professor pode orientar os alunos para reagrupar seus argumentos (que já estavam na carta), de acordo com um tema ou com a ediíora mercado de letras produção escrita e dificuldades de aprendizagem 95
  • 8. natureza dos argumentos (lazer:jogarbola, andar de patins...; escola: estudar, ler, escrever... etc.), comoemprego dos orga- nizadores textuais e pontuação adequada. Em seguida, po- dem eliminar os que se repetem e, acrescentar os novos argumentos criados durante a atividade do bloco 1. Assim, os quadros que apresentam ideias mais ou menos próximas, podem ser juntados em um só parágrafo, ou, se não, cada quadrinho poderá constituir um parágrafo, dependendo da situação. Portanto, esperamos que oprofessor possa ajudar o aluno a reconstruir naturalmenteseu texto, em vez de avaliá- lo como certo ou errado, curto ou longo etc. • Bloco 3: ortografia O terceiro e últimobloco de atividades que podem ser propostas relaciona-se à tomada de consciência, porpartedo aluno, da correta grafia das palavras mais frequentes na língua. Essa atividade requer um poucomais de trabalho do professor, rnas pode trazerresultados muito positivos para a aprendizagem dos alunos. A ideia resume-se ao fato de o professor fazer uma seleção de mais ou menos dez palavras que representam uma dificuldade no próprio texto do aluno. Cada urn deles receberá seu texto comas palavras sublinha- das pelo professor e comuma ficha comas mesmas palavras (I). Ao lado, haverá um espaço em branco para que eles possam escrever uma questão ou uma pista de reflexão (ten- tar descobrir o que há de estranho na palavra,questionando- se, inicialmente, se se trata de um verbo, um substantivo, um adjetivo etc.) (II). Porfim, após ter passadopelas duas primei- ras etapas, no espaço que ainda resta na ficha, o professor criará uma nova coluna em branco (colando a carinha sorri- dente na ficha de cada um)para a rescrita correta da palavra. Consultas ao dicionário, a livros, revistas, aos colegas e ao professor são de grande importância para essa atividade. Vejamos uma sugestão que pode ser aplicada para se trabalhar o texto de Lucas: 96 editora mercado de letras Fraque Querému Mininos Tei Jiíe Coiese Bldcrete Patis Pasia Comta Llarcha Brimcar Podi Pasar Di Obrigada Aterder Pidido Ressaltamos que não é necessário entregar uma ficha grande como essa que apresentamos, pois colocamos o maior número de palavras possível a título de ilustração. Preparando as fichas de todos os alunos, o professor poderá conhecer a realidade de toda a classe, observando quais são as palavras que apresentam mais dificuldades para os alunos. A elaboração conjunta de um cartaz com essas palavras também pode ser bastanteprodutiva. Por fim, com nossa proposta, esperamos, de forma natural, demonstrarque as dificuldades de escrita podem ser superadas de um modo diferente em que a tomada de cons- produção escrita e dificuldades de aprendizagem 97
  • 9. ciência sobre os "desvios" que os alunos apresentam em relação a uma determinada convenção do género ou da ortografia é muito mais importante do que avaliaro texto a partir de critérios tradicionais eultrapassados como certo x errado. Nessa perspectiva, o papel do professor é o de mediar a aprendizagem, e não o de ser um transmissordo conhecimento. É ele quem vai gerar o funcionamentodos dois processos indispensáveis para o tratamento didático do texto ("desconstrução do género" e "reconstrução da situação de comunicação")e promover a conscientização dos alunos de que a linguagem é urna rica ferramenta para a comunicação, para a interação do dia-a-dia, e que com ela podemos "ir sempre mais longe", ou seja, conseguir melhorias para os portadoresde deficiência física, comprar um sorvete, escrever um bilhete etc. Assim, o ensino- aprendizagem que prepara o aluno para as situações reais da vida, lhes dará prazer, pois os alunos poderão ver con- cretamente onde e comoos temidosconteúdos gramaticais ou a escrita correta das palavras, por exemplo, serão úteis para conseguirem alguma coisa nas diferentes interações de que participam em seu meio social. ediíora mercado de letras À GUISA DECONCLUSÃO Finalizando, queremos insistir sobre o caráter intro- dutório e limitado deste livro. Estamos convencidos que o professor precisa de elementos para avaliar as produções escritas dos alunos. Ateoria dos géneros textuais na escola (Schneuwly e Dolz, 2004) mós traz elementos para melho- rar essa avaliação. Concretamente, esforçamo-nos em ca- racterizar os textos produzidos pelos alunos segundo essa teoria, e, sobretudo, em proporum método para identificar suas capacidades e suas dificuldades na escrita, de modo a adaptar melhor o trabalho do professor na aula. As ativi- dades escolares e as pistas de trabalho apresentadas sobre os géneros narrativos e argumentativos poderão servir de exemplo para os professores. Gostaríamos de ter desenvolvido análises de outros géneros textuais, pois as pistas didáticas aqui propostas são apenas um esboço e mereceriam uma apresentação mais detalhada. Nesse sentido, outros trabalhos e publicações deverão completar essa nossa abordagem. Acreditamos que as análises de outros géneros tex- tuais (artigos enciclopédicos, explicações científicas,receitas culinárias, textos de instruções etc.) produzidos por alunos brasileiros são importantespara adaptar as sequências didá- produção escrita e dificuldades de aprendizagem 99