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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 30 DE SETEMBRO DE 2012 Internacional A23
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Rússia
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afirma o professor de Harvard
Graham Allison, autor do clássi-
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sência da decisão, sem tradu-
ção no Brasil), no qual esmiúça
os 13 dias em que o mundo vis-
lumbrou o abismo nuclear. O
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nara” mudou a Guerra Fria,
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seis em câmera lenta”.
● É possível fazer uma estimati-
va de quão perto chegamos de
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Digo que a Crise dos Mísseis
foi o momento mais perigoso
da história da humanidade – e
a maioria dos que estudaram o
período concordam comigo. À
época, Kennedy calculava que
o risco de uma guerra nuclear
era de entre 33% a 50%. Ne-
nhum estudo sobre a crise me
convenceu de que essa era
uma estimativa exagerada. Um
confronto nuclear não seria o
armagedon, pois não mataria
todos os seres humanos. Mas a
cifra de mortos seria de cente-
nas de milhares de pessoas – o
pior evento da história.
● E, ao final, o que impediu as
potências de chegar à guerra?
Primeiro, as sábias decisões de
ambos, Kennedy e Khruchev.
Segundo, uma grande sorte,
pois, apesar da boa conduta
dos dois líderes, havia uma sé-
rie de fatores fora do controle
deles que poderia ter levado à
guerra.
● O quê, por exemplo?
Na segunda semana da crise,
tanto Kennedy quanto Khru-
chev entenderam que pessoas
dentro de seus governos esta-
vam tomando decisões técni-
cas que poderiam levar a rea-
ções em cadeia e, no fim, à
guerra. Por exemplo, no sába-
do, dia 27 de outubro, Kennedy
foi informado de que um avião-
espião U2, que deveria fazer
um voo de reconhecimento fo-
ra da URSS, havia entrado no
território soviético e estava in-
do em direção a Moscou. E o
presidente falou a famosa fra-
se: “Sempre tem um filho da
p... que não fica sabendo das
coisas!”. Naquela noite, Khru-
chev enviou uma carta brilhan-
te a Kennedy em que constata-
va o absurdo de estarem as
duas superpotências no mais
alto nível de alerta e um avião
não identificado se aproximar
da capital de uma delas. Se Kru-
chev decidisse derrubá-lo...
● Como a experiência de outubro
de 1962 mudou a Guerra Fria?
Foi uma mudança paradigmáti-
ca para Kennedy e Khruchev a
experiência de olhar para o
abismo nuclear e realmente
sentir o temor desse holocaus-
to potencial, no qual o presi-
dente dos EUA e o secretário-
geral de Moscou seriam os
grandes atores. Lembre-se que
o confronto envolveria uma
escala de morte que nem Hi-
tler imaginara. Com a Crise
dos Mísseis, ambas as super-
potências disseram “nunca
mais isso”. A competição
entre ambas passou a ser
regulada pelo que Kennedy
chamava de “as precárias
regras do status quo”. De-
pois de 1962, foi colocado
um telefone direto de Wa-
shington a Moscou, permi-
tindo o diálogo entre os líde-
res. Em seguida, proibiram
testes nucleares. Ao final,
vieram os acordos para redu-
zir os arsenais atômicos.
● O sr. afirma que o programa
nuclear iraniano equivale a
uma “Crise dos Mísseis em
câmera lenta”. Como é isso?
Costuma-se dizer que, com
a questão do Irã, o presiden-
te dos EUA se aproxima de
uma encruzilhada: ou ataca-
rá as instalações de Teerã
para frear o programa ou
aceitará a existência de um
Irã nuclear. Eram exatamen-
te essas as opções que os
assessores da Casa Branca
deram a Kennedy em 1962.
O presidente, porém, rejei-
tou ambas – uma era pior do
que a outra. Atacar Cuba le-
varia à 3.ª Guerra Mundial e
aquiescer faria Khruchev ten-
tar algo ainda mais ousado,
provavelmente em Berlim, o
que também levaria a um
confronto. Nessas circuns-
tâncias, Kennedy começou a
buscar uma opção “menos
terrível” que aque-
las duas. Ao olhar
para a crise iraniana
hoje, devemos nos
questionar se não
há opções mais inte-
ligentes do que a
adotada atualmente
pelos EUA. / R.S.
Existe ainda um Khruchev con-
vencido de que enviar mísseis a
Cuba foi uma decisão acertada.
O ex-premiê soviético Nikita
morreu em 1971, porém, seu fi-
lhomaisvelho,Sergei,argumen-
taque,comamanobraqueapro-
ximou o mundo da guerra nu-
clear, seu pai conseguiu tudo o
quequeria:impedirumainvasão
deCuba e fazer com que os EUA
reconhecessem o status de su-
perpotência da URSS.
“Hoje não há mais Kennedy
nemNikita,masFidelaindaestá
por aí. Não é verdade?”, afirma
em inglês carregado de sotaque
russo, para depois cair na garga-
lhada.
Khruchev, o filho, conversou
portelefonecomoEstadodaci-
dade de Providence, nos EUA,
onde vive desde a dissolução do
blocosocialista.NaURSS,traba-
lhou como engenheiro de com-
putação e chefiou pesquisas pa-
ra desenvolvimento de sistemas
demísseis.Hoje,aos76anos,ele
é analista na área de segurança
internacional na Universidade
Brown.
“Depois da invasão da Baía
dos Porcos (em abril de 1961),
Fidel anunciou sua entrada no
bloco socialista. Cada superpo-
tênciadaGuerraFriatinhaaobri-
gação de proteger seus aliados.
Sobessalógica,Cubarepresenta-
va para a URSS o que Berlim era
para os EUA: um território pe-
queno, talvez sem importância
estratégica,masquesenãofosse
defendido representaria uma
derrotamoralepsicológicaàsu-
perpotência”,afirmaSergei.Co-
locar mísseis em Cuba, comple-
ta,foiumaformadeseupaimos-
trar que “estava falando sério”.
Alémdegarantirqueosameri-
canosnãotentariamnovamente
invadir a ilha para derrubar Fi-
del, Moscou também conquis-
tou, em outubro de 1962, o res-
peitodeWashingtonporseusta-
tus de superpotência global. “A
URSS passou a ser vista pelos
EUA como ‘igual’. Os america-
nos não querem reconhecer o
status de ninguém, nem da
URSS, nem da Rússia, nem do
Brasil.Portanto,sevocêquerser
levadoasério,vocêtemdedesa-
fiar o poder.”
OfilhodeNikitagostadefalar
sobrea relação que seu pai tinha
com Kennedy e do respeito mú-
tuo entre os homens mais pode-
rosos dos anos 60. O presidente
americano, bon vivant e galan-
teador,eosecretário-geralsocia-
lista,veteranodabatalhadeSta-
lingradoeconhecidopelassapa-
tadas na tribuna da ONU, ti-
nhamvisõesdemundoevalores
opostos, explica. Mas descobri-
ramquecompartilhavamumob-
jetivo maior: preservar a paz
mundial.
“Meu pai viu que Kennedy era
um interlocutor sério, com
quemerapossívelchegaraacor-
dos. Negociar com amigos não é
uma negociação real, mas uma
festa. O importante é negociar
comosinimigos”,afirmaSergei.
Éessaamaiorliçãoqueoprimo-
gênito de Khruchev tira da crise
de1962.MasosEUA,critica,não
aprenderam nada.
“É preciso entender melhor
seu inimigo, sem ficar impondo
sanções a todos, mas conduzin-
donegociaçõesdealtonívelcom
elesparaentendercomosatisfa-
zer aos dois lados sem iniciar
mais um confronto.O presiden-
te George W. Bush lançou duas
guerras e os EUA perderam am-
bas.Agoraestãofalandoemguer-
ranaSíria, noIrã, emtodolugar.
Não aprenderam nada.” / R.S.
Hoje nos EUA, filho de Khruchev
defende decisão de enviar mísseis
ENTREVISTA
‘Foi o momento mais
perigoso da história’
DIVULGAÇÃO
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  • 1. %HermesFileInfo:A-23:20120930: O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 30 DE SETEMBRO DE 2012 Internacional A23 SS-7SADDLER (R-16) Rússia 1961 11 mil km SS-5SKEAN (R-14) A caminho de Cuba 1962 3.700 km SS-4SANDAL (R-12) Cuba 1959 2 mil km SS-6 SAPWOOD (R-7) Rússia 1957 8 mil km ATLAS EUA 1959 10.200 km TITAN I EUA 1959 10.200 km THOR Inglaterra 1957 3.700 km JUPITER Itália e Turquia 1954 2.700 km MINUTEMAN I EUA 1962 13 mil km 35metros PROPORÇÃO DOS MÍSSEIS EM RELAÇÃO AO HOMEM FOGUETE OGIVA NOME DO MÍSSIL LOCALIZAÇÃO DESENVOLVIDO EM ALCANCE ● Havana Isla de la Juventud MRBM–MÍSSEISBALÍSTICOSDEMÉDIOALCANCE URSS queria espalhar arsenal por toda ilha À sombra do holocausto nuclear, EUA e URSS desenvolveram vetores de alta tecnologia A estrutura do míssil: Mísseis na ilha de Fidel Foguetes da Guerra Fria IRBM– MÍSSEISBALÍSTICOSDEALCANCEINTERMEDIÁRIO Fidel exigia a devolução da base de Guantánamo a Cuba. Kennedy rejeitou 32a42MÍSSEIS JÁESTAVAM EMCUBA BASEDESAQUALA GRANDE(MRBM) SISTEMAS DE DEFESA AÉREA BASEDE GUANAJAY (IRBM) BASEDESAN CRISTOBAL(MRBM) BASEDEREMEDIOS(IRBM) INFOGRÁFICO:FABIOSALES/AE BASEDESANTA CLARA(IRBM) ÁREA EM DESTAQUE C U B A ● Guantánamo ● Santiago de Cuba Arsenal americano Arsenal soviético ● Dia 23 EUA discutem propor uma moeda de troca: retirar mísseis da Turquia ● Dia 24 Khruchev diz que bloqueio naval é ‘ato de guerra’. EUA impõem cerco ● Dia 25 ONU se reúne para discutir crise. EUA em alerta máximo pré-guerra ● Dias 26 e 27 Khruchev envia 2 cartas contraditórias aos EUA. Fidel pede à URSS guerra ● Dia 27 Kennedy concorda em retirar mísseis americanos da Itália e da Turquia ● Dia 28 Rádio Moscou anuncia que Khruchev mandou retirar mísseis de Cuba Decisões “sábias” do america- no John F. Kennedy e do sovié- tico Nikita Khruchev, somadas a muita sorte. Foi essa a combi- nação que salvou o mundo da hecatombe nuclear há 50 anos, afirma o professor de Harvard Graham Allison, autor do clássi- co The Essence of Decision (A es- sência da decisão, sem tradu- ção no Brasil), no qual esmiúça os 13 dias em que o mundo vis- lumbrou o abismo nuclear. O risco de um confronto “cujas proporções nem Hitler imagi- nara” mudou a Guerra Fria, disse Allison ao Estado. E as lições de 1962 não caducaram: o programa nuclear iraniano, defende, é uma “Crise dos Mís- seis em câmera lenta”. ● É possível fazer uma estimati- va de quão perto chegamos de uma guerra nuclear em 1962? Digo que a Crise dos Mísseis foi o momento mais perigoso da história da humanidade – e a maioria dos que estudaram o período concordam comigo. À época, Kennedy calculava que o risco de uma guerra nuclear era de entre 33% a 50%. Ne- nhum estudo sobre a crise me convenceu de que essa era uma estimativa exagerada. Um confronto nuclear não seria o armagedon, pois não mataria todos os seres humanos. Mas a cifra de mortos seria de cente- nas de milhares de pessoas – o pior evento da história. ● E, ao final, o que impediu as potências de chegar à guerra? Primeiro, as sábias decisões de ambos, Kennedy e Khruchev. Segundo, uma grande sorte, pois, apesar da boa conduta dos dois líderes, havia uma sé- rie de fatores fora do controle deles que poderia ter levado à guerra. ● O quê, por exemplo? Na segunda semana da crise, tanto Kennedy quanto Khru- chev entenderam que pessoas dentro de seus governos esta- vam tomando decisões técni- cas que poderiam levar a rea- ções em cadeia e, no fim, à guerra. Por exemplo, no sába- do, dia 27 de outubro, Kennedy foi informado de que um avião- espião U2, que deveria fazer um voo de reconhecimento fo- ra da URSS, havia entrado no território soviético e estava in- do em direção a Moscou. E o presidente falou a famosa fra- se: “Sempre tem um filho da p... que não fica sabendo das coisas!”. Naquela noite, Khru- chev enviou uma carta brilhan- te a Kennedy em que constata- va o absurdo de estarem as duas superpotências no mais alto nível de alerta e um avião não identificado se aproximar da capital de uma delas. Se Kru- chev decidisse derrubá-lo... ● Como a experiência de outubro de 1962 mudou a Guerra Fria? Foi uma mudança paradigmáti- ca para Kennedy e Khruchev a experiência de olhar para o abismo nuclear e realmente sentir o temor desse holocaus- to potencial, no qual o presi- dente dos EUA e o secretário- geral de Moscou seriam os grandes atores. Lembre-se que o confronto envolveria uma escala de morte que nem Hi- tler imaginara. Com a Crise dos Mísseis, ambas as super- potências disseram “nunca mais isso”. A competição entre ambas passou a ser regulada pelo que Kennedy chamava de “as precárias regras do status quo”. De- pois de 1962, foi colocado um telefone direto de Wa- shington a Moscou, permi- tindo o diálogo entre os líde- res. Em seguida, proibiram testes nucleares. Ao final, vieram os acordos para redu- zir os arsenais atômicos. ● O sr. afirma que o programa nuclear iraniano equivale a uma “Crise dos Mísseis em câmera lenta”. Como é isso? Costuma-se dizer que, com a questão do Irã, o presiden- te dos EUA se aproxima de uma encruzilhada: ou ataca- rá as instalações de Teerã para frear o programa ou aceitará a existência de um Irã nuclear. Eram exatamen- te essas as opções que os assessores da Casa Branca deram a Kennedy em 1962. O presidente, porém, rejei- tou ambas – uma era pior do que a outra. Atacar Cuba le- varia à 3.ª Guerra Mundial e aquiescer faria Khruchev ten- tar algo ainda mais ousado, provavelmente em Berlim, o que também levaria a um confronto. Nessas circuns- tâncias, Kennedy começou a buscar uma opção “menos terrível” que aque- las duas. Ao olhar para a crise iraniana hoje, devemos nos questionar se não há opções mais inte- ligentes do que a adotada atualmente pelos EUA. / R.S. Existe ainda um Khruchev con- vencido de que enviar mísseis a Cuba foi uma decisão acertada. O ex-premiê soviético Nikita morreu em 1971, porém, seu fi- lhomaisvelho,Sergei,argumen- taque,comamanobraqueapro- ximou o mundo da guerra nu- clear, seu pai conseguiu tudo o quequeria:impedirumainvasão deCuba e fazer com que os EUA reconhecessem o status de su- perpotência da URSS. “Hoje não há mais Kennedy nemNikita,masFidelaindaestá por aí. Não é verdade?”, afirma em inglês carregado de sotaque russo, para depois cair na garga- lhada. Khruchev, o filho, conversou portelefonecomoEstadodaci- dade de Providence, nos EUA, onde vive desde a dissolução do blocosocialista.NaURSS,traba- lhou como engenheiro de com- putação e chefiou pesquisas pa- ra desenvolvimento de sistemas demísseis.Hoje,aos76anos,ele é analista na área de segurança internacional na Universidade Brown. “Depois da invasão da Baía dos Porcos (em abril de 1961), Fidel anunciou sua entrada no bloco socialista. Cada superpo- tênciadaGuerraFriatinhaaobri- gação de proteger seus aliados. Sobessalógica,Cubarepresenta- va para a URSS o que Berlim era para os EUA: um território pe- queno, talvez sem importância estratégica,masquesenãofosse defendido representaria uma derrotamoralepsicológicaàsu- perpotência”,afirmaSergei.Co- locar mísseis em Cuba, comple- ta,foiumaformadeseupaimos- trar que “estava falando sério”. Alémdegarantirqueosameri- canosnãotentariamnovamente invadir a ilha para derrubar Fi- del, Moscou também conquis- tou, em outubro de 1962, o res- peitodeWashingtonporseusta- tus de superpotência global. “A URSS passou a ser vista pelos EUA como ‘igual’. Os america- nos não querem reconhecer o status de ninguém, nem da URSS, nem da Rússia, nem do Brasil.Portanto,sevocêquerser levadoasério,vocêtemdedesa- fiar o poder.” OfilhodeNikitagostadefalar sobrea relação que seu pai tinha com Kennedy e do respeito mú- tuo entre os homens mais pode- rosos dos anos 60. O presidente americano, bon vivant e galan- teador,eosecretário-geralsocia- lista,veteranodabatalhadeSta- lingradoeconhecidopelassapa- tadas na tribuna da ONU, ti- nhamvisõesdemundoevalores opostos, explica. Mas descobri- ramquecompartilhavamumob- jetivo maior: preservar a paz mundial. “Meu pai viu que Kennedy era um interlocutor sério, com quemerapossívelchegaraacor- dos. Negociar com amigos não é uma negociação real, mas uma festa. O importante é negociar comosinimigos”,afirmaSergei. Éessaamaiorliçãoqueoprimo- gênito de Khruchev tira da crise de1962.MasosEUA,critica,não aprenderam nada. “É preciso entender melhor seu inimigo, sem ficar impondo sanções a todos, mas conduzin- donegociaçõesdealtonívelcom elesparaentendercomosatisfa- zer aos dois lados sem iniciar mais um confronto.O presiden- te George W. Bush lançou duas guerras e os EUA perderam am- bas.Agoraestãofalandoemguer- ranaSíria, noIrã, emtodolugar. Não aprenderam nada.” / R.S. Hoje nos EUA, filho de Khruchev defende decisão de enviar mísseis ENTREVISTA ‘Foi o momento mais perigoso da história’ DIVULGAÇÃO Graham Allison, cientista político e professor de Harvard Filho. Vida em Providence Primogênito do ex-líder soviético diz que seu pai conseguiu o que queria: proteger Cuba e obter o respeito dos EUA