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Vem aí o Zé das Moscas

Texto de António Torrado
Histórias Tradicionais Portuguesas contadas de novo

Publicado em: www.escolovar.org
Contam que um homem, meio amalucado, se queixava de sofrer de zumbidos,
muitos zumbidos à volta da cabeça, que o punham zonzo, aluado e ainda mais maluco
do que ele já era.
- São assim uns zumbidos bzz-bzz... bzz-bzz, que vêm e vão, passam e voltam,
desandam e tornam. Bzz--bzz... bzz-bzz... Não entendo isto - contava ele a quem tinha
tempo e paciência para ouvi-lo.
Havia os que se condoíam, havia os
que se irritavam. Havia os que lhe
fugiam, mal, ao longe, o enxergavam.
Verdade se diga que o homem não tinha
outra conversa.
Alguém lhe deu de conselho que
fosse ao médico. As salas de espera dos
consultórios
destes,

estão

cheias

disseram-lhe.

de

Uns

casos
ouvem

zumbidos, outros, campainhas. Também
há os que ouvem sinos. E os que ouvem
sirenes. E os que não ouvem nada. Os
médicos servem para isso mesmo, para
escutar

as

queixas,

classificar

as

doenças, ditar os tratamentos. Ele que se
despachasse e fosse à consulta, porque,
quase de certeza, o médico acharia remédio para o seu mal.
Ele foi.
- Senhor doutor, são assim uns zumbidos bzz-bzz... bzz-bzz, que vêm e vão,
passam e voltam, desandam e tornam. Bzz-bzz... bzz-bzz...
O médico mirou-o dos pés à cabeça e perguntou-lhe:
- O senhor costuma lavar a cabeça?
- Por dentro ou por fora?
- Por fora, já se vê - impacientou-se o médico. - Quem diz a cabeça, diz o cabelo. Porque o
que eu vejo é que o senhor tem uma quantidade de moscas à volta da cachola. Para o
seu caso, os meus estudos de nada servem.
- Então não tenho cura, senhor doutor?
O médico encolheu os ombros. Já tinha atendido imensos doentes, outros tantos o
esperavam. Sentia uma perna dormente de estar sentado há que tempos. Saturado até
mais não! Realmente o médico estava pelos cabelos e já com tão poucos...
À maneira de despedida, despachou assim o homem:
- Se as moscas o atormentam, grite-lhes e enxote-as. Passe bem.
O homem seguiu à risca o conselho. Quer de noite quer de dia, desesperava-se
a berrar:
- Zute, moscas, zute,
moscas! Vão fazer bzzbzz para outro monturo.
Os vizinhos foram fazer
queixa dele à polícia. Não
conseguiam

dormir

descansados.
O
mandou

comandante
chamá-lo

e

pregou-lhe um discurso,
que era uma reprimenda
de todo o tamanho.
- Mas a culpa toda é das moscas - lastimou-se o homem.
- Se tem querela com as moscas,
contrate um advogado e ponha uma acção
contras as supraditas no tribunal - ordenou
o comandante, um ferrabrás. - E ponto final
no assunto.
O pobre homem estava por tudo. Bateu
à porta de um advogado.
-

Senhor

doutor,

são

assim

uns

zumbidos bzz--bzz... bzz-bzz, que vêm e
vão, passam e voltam, desandam e tornam.
Bzz-bzz... bzz- bzz...
- E que tenho eu com isso? - intrigou-se
o advogado, que era novo no ofício, mas já pesporrento, como as maiores sumidades.
O homem contou donde viera,
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santos

de

capela

a

que

ajoelhara.
- Que ideia a sua, mais a do
policial que o persuadiu. Tantos
anos de estudo, tantas noites mal
dormidas, agarrado aos códigos,
para suportar patacoadas deste
jaez. Que enfado!
O

doutor

advogado

tinha

azedumes e falta de clientes. Condescendência, nenhuma.
- Se o seu mal são moscas e mosquitos, vá ao veterinário. A bem dizer, ele é que
percebe de animais. Ora, portanto, as moscas pertencem-lhe.

O homem, cada vez mais azamboado, foi ter com um doutor veterinário, que,
depois de lhe ouvir as lamúrias, o atendeu com maus modos:
-

Então

o

doutorzinho

passou-o para mim? Estava
com os azeites e sacudiu as
moscas

para

cima

do

parceiro, como se eu também
fosse da batota. Pois deixe
estar que eu já o despacho.
Vá ao juiz. Se tem agravos
contra insectos, desagrave-se,
diante do juiz.
Pobre

homem.

De

Herodes para Pilatos, de tanto
aturar doutores com a mosca e maus fígados, estava por metade do que fora. E os
zumbidos sempre a atormentá-lo.
- Senhor doutor presidente do tribunal, as moscas não me deixam em paz. São
assim uns zumbidos bzz-bzz... bzz-bzz, que vêm e vão, passam e voltam, desandam e
tornam. Bzz-bzz... bzz-bzz... Não entendo isto.
O juiz riu-se. Tinha acabado de
almoçar, por sinal com o doutor
advogado, o comandante de polícia
e

o

médico.

Rico

almoço.

O

veterinário escusara-se ao convívio,
porque

andava

de

candeias

às

avessas com o advogado, embora
ocaso ainda se componha. Mais dia
menos dia, vão encontrar-se os cinco
à roda da mesma mesa.
Mas a nossa história é outra. Estamos a desviar--nos. Onde é que nós íamos?
No juiz, pois claro. Dizia ele, muito prazenteiro:
- Fique o meu amigo sabendo que cada mosca tem a sua lei. Não há código que as vença.
Só posso aconselhá-lo a que, assim que vir uma a jeito, lhe dê uma paulada das rijas.
-

E

o

senhor

doutor

presidente do tribunal não me
manda prender por eu andar a
matar moscas? -perguntou o
homem, muito a medo.
O juiz largou uma grande
risada.

Que

história

mais

divertida aquela, para contar,
depois, no café, ao advogado, ao
comandante de polícia e ao
médico...
- Mandar prendê-lo por caçar moscas? Que ideia! - disse o juiz, assoando-se e enxugando as
lágrimas do riso. - Passo-lhe já aqui uma licença, lavrada em papel selado, que o
autoriza a matar todas as moscas do país, onde quer que as veja...Garanto-lhe que
ninguém mais o incomodará.
E o juiz redigiu, assinou e entregou o documento.
Nisto, poisa uma mosca na careca do doutor das leis. O homem, assim que a viu,
não esteve com meias-medidas. Pega num pau e zás, que se faz tarde!
Parece que quem ficou a ouvir zumbidos à volta da cabeça foi o tal doutor juiz. O
nosso homem curou-se.

E a história acaba aqui.

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  • 1. Vem aí o Zé das Moscas Texto de António Torrado Histórias Tradicionais Portuguesas contadas de novo Publicado em: www.escolovar.org
  • 2. Contam que um homem, meio amalucado, se queixava de sofrer de zumbidos, muitos zumbidos à volta da cabeça, que o punham zonzo, aluado e ainda mais maluco do que ele já era. - São assim uns zumbidos bzz-bzz... bzz-bzz, que vêm e vão, passam e voltam, desandam e tornam. Bzz--bzz... bzz-bzz... Não entendo isto - contava ele a quem tinha tempo e paciência para ouvi-lo. Havia os que se condoíam, havia os que se irritavam. Havia os que lhe fugiam, mal, ao longe, o enxergavam. Verdade se diga que o homem não tinha outra conversa. Alguém lhe deu de conselho que fosse ao médico. As salas de espera dos consultórios destes, estão cheias disseram-lhe. de Uns casos ouvem zumbidos, outros, campainhas. Também há os que ouvem sinos. E os que ouvem sirenes. E os que não ouvem nada. Os médicos servem para isso mesmo, para escutar as queixas, classificar as doenças, ditar os tratamentos. Ele que se despachasse e fosse à consulta, porque, quase de certeza, o médico acharia remédio para o seu mal. Ele foi. - Senhor doutor, são assim uns zumbidos bzz-bzz... bzz-bzz, que vêm e vão, passam e voltam, desandam e tornam. Bzz-bzz... bzz-bzz... O médico mirou-o dos pés à cabeça e perguntou-lhe: - O senhor costuma lavar a cabeça? - Por dentro ou por fora? - Por fora, já se vê - impacientou-se o médico. - Quem diz a cabeça, diz o cabelo. Porque o que eu vejo é que o senhor tem uma quantidade de moscas à volta da cachola. Para o seu caso, os meus estudos de nada servem. - Então não tenho cura, senhor doutor?
  • 3. O médico encolheu os ombros. Já tinha atendido imensos doentes, outros tantos o esperavam. Sentia uma perna dormente de estar sentado há que tempos. Saturado até mais não! Realmente o médico estava pelos cabelos e já com tão poucos... À maneira de despedida, despachou assim o homem: - Se as moscas o atormentam, grite-lhes e enxote-as. Passe bem. O homem seguiu à risca o conselho. Quer de noite quer de dia, desesperava-se a berrar: - Zute, moscas, zute, moscas! Vão fazer bzzbzz para outro monturo. Os vizinhos foram fazer queixa dele à polícia. Não conseguiam dormir descansados. O mandou comandante chamá-lo e pregou-lhe um discurso, que era uma reprimenda de todo o tamanho. - Mas a culpa toda é das moscas - lastimou-se o homem. - Se tem querela com as moscas, contrate um advogado e ponha uma acção contras as supraditas no tribunal - ordenou o comandante, um ferrabrás. - E ponto final no assunto. O pobre homem estava por tudo. Bateu à porta de um advogado. - Senhor doutor, são assim uns zumbidos bzz--bzz... bzz-bzz, que vêm e vão, passam e voltam, desandam e tornam. Bzz-bzz... bzz- bzz... - E que tenho eu com isso? - intrigou-se o advogado, que era novo no ofício, mas já pesporrento, como as maiores sumidades.
  • 4. O homem contou donde viera, os santos de capela a que ajoelhara. - Que ideia a sua, mais a do policial que o persuadiu. Tantos anos de estudo, tantas noites mal dormidas, agarrado aos códigos, para suportar patacoadas deste jaez. Que enfado! O doutor advogado tinha azedumes e falta de clientes. Condescendência, nenhuma. - Se o seu mal são moscas e mosquitos, vá ao veterinário. A bem dizer, ele é que percebe de animais. Ora, portanto, as moscas pertencem-lhe. O homem, cada vez mais azamboado, foi ter com um doutor veterinário, que, depois de lhe ouvir as lamúrias, o atendeu com maus modos: - Então o doutorzinho passou-o para mim? Estava com os azeites e sacudiu as moscas para cima do parceiro, como se eu também fosse da batota. Pois deixe estar que eu já o despacho. Vá ao juiz. Se tem agravos contra insectos, desagrave-se, diante do juiz. Pobre homem. De Herodes para Pilatos, de tanto aturar doutores com a mosca e maus fígados, estava por metade do que fora. E os zumbidos sempre a atormentá-lo. - Senhor doutor presidente do tribunal, as moscas não me deixam em paz. São assim uns zumbidos bzz-bzz... bzz-bzz, que vêm e vão, passam e voltam, desandam e tornam. Bzz-bzz... bzz-bzz... Não entendo isto.
  • 5. O juiz riu-se. Tinha acabado de almoçar, por sinal com o doutor advogado, o comandante de polícia e o médico. Rico almoço. O veterinário escusara-se ao convívio, porque andava de candeias às avessas com o advogado, embora ocaso ainda se componha. Mais dia menos dia, vão encontrar-se os cinco à roda da mesma mesa. Mas a nossa história é outra. Estamos a desviar--nos. Onde é que nós íamos? No juiz, pois claro. Dizia ele, muito prazenteiro: - Fique o meu amigo sabendo que cada mosca tem a sua lei. Não há código que as vença. Só posso aconselhá-lo a que, assim que vir uma a jeito, lhe dê uma paulada das rijas. - E o senhor doutor presidente do tribunal não me manda prender por eu andar a matar moscas? -perguntou o homem, muito a medo. O juiz largou uma grande risada. Que história mais divertida aquela, para contar, depois, no café, ao advogado, ao comandante de polícia e ao médico... - Mandar prendê-lo por caçar moscas? Que ideia! - disse o juiz, assoando-se e enxugando as lágrimas do riso. - Passo-lhe já aqui uma licença, lavrada em papel selado, que o autoriza a matar todas as moscas do país, onde quer que as veja...Garanto-lhe que ninguém mais o incomodará. E o juiz redigiu, assinou e entregou o documento. Nisto, poisa uma mosca na careca do doutor das leis. O homem, assim que a viu, não esteve com meias-medidas. Pega num pau e zás, que se faz tarde!
  • 6. Parece que quem ficou a ouvir zumbidos à volta da cabeça foi o tal doutor juiz. O nosso homem curou-se. E a história acaba aqui.