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CYAN MAGENTA AMARELO PRETO TAB 23
JORNAL DO BRASIL Domingo, 7 de setembro de 2008
Convênio firmado entre o
Jornal do Brasil e o Instituto
Ciência Hoje apresenta todo
domingo textos baseados em
artigos publicados na revista
Experimento com
ratos mostra que
remédio para
emagrecer
pode causar
depressão
Fabrício Pamplona
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA,
INSTITUTO MAX PLANCK DE PSIQUIATRIA
(MUNIQUE, ALEMANHA)
Praticamente todos os fármacos
provocam efeitos colaterais e isso
parece ocorrer com o mais novo
remédio para emagrecer, o rimo-
nabant. Conhecer a lógica por trás
dos efeitos colaterais desse com-
posto, que age sobre os mesmos
receptores cerebrais em que atua a
maconha,podeajudaraevitarcon-
seqüências mais sérias.
Os canabinóides são compostos
químicos mais conhecidos por sua
presença na maconha – nome po-
pular da planta Cannabis sativa.
Quandoalguémfumamaconha,es-
ses compostos ligam-se a receptores
moleculares(chamadosdeCB1)nos
neurônios,oquereduzatransmissão
de sinais entre as células cerebrais e
provoca vários efeitos, entre eles o
aumento do apetite. Esse efeito es-
timulou a busca de substâncias que
atuassemdeformacontrária,visando
combater a obesidade.
O recente lançamento no Brasil
do primeiro medicamento – o ri-
monabant, de nome comercial
Acomplia – capaz de bloquear os
receptoresCB1motivouumaaná-
lise dos estudos clínicos que em-
basaram sua aprovação em mais de
20 países. O objetivo foi tentar
traçar um paralelo entre os resul-
tados de estudos em animais e os
efeitos psicológicos/comporta-
mentaisrelatadosporpacientesque
usam a substância.
Não é correto dizer que o ri-
monabant provoca efeitos opostos
aos da maconha. Primeiro, porque
a maconha, além da principal subs-
tância psicoativa, tem cerca de ou-
tros 60 compostos com ação ca-
nabinóide e outras moléculas ca-
pazes de interferir em processos
orgânicos. Segundo, porque fár-
macos como o rimonabant blo-
queiamosreceptorescanabinóides,
impedindo a ação de substâncias
produzidaspelopróprioorganismo
para, quando necessário, interagir
com esses receptores.
A grande diferença entre os en-
docanabinóides (produzidos pelo
corpo) e a maconha é que os pri-
meiros agem apenas ’quando e on-
de’suapresençaéexigida,enquanto
a maconha age indiscriminada-
mente, no cérebro e em outros
órgãos e tecidos. Sabe-se hoje que
osistemaendocanabinóideestáen-
volvido em muitas funções do or-
ganismo, desde efeitos de inibição
da dor até o aumento do apetite.
Ansiedade
O rimonabant, além de reduzir
o apetite, exibe outra grande van-
tagem em relação aos outros me-
dicamentos usados para emagrecer,
pois parece inibir também o ar-
mazenamentodegorduranaregião
abdominal e contribuir para a pro-
dução do ’bom colesterol’.
No entanto, como qualquer
medicamento, o rimonabant não
está livre de produzir efeitos co-
laterais.Seosreceptoresemqueage
estão envolvidos em diversas fun-
ções fisiológicas, é de se imaginar
que o bloqueio crônico dos mes-
mos tenha resultados indesejáveis.
Entre os sintomas verificados estão
o aumento na ansiedade e na de-
pressão,muitasvezesacompanhado
de irritabilidade e insônia. Bastante
preocupante foi a expressão, por
algunsindivíduos,deidéiassuicidas,
embora isso tenha ocorrido com
parcela pequena dos que tomaram
o rimonabant cronicamente.
Mas, esses efeitos colaterais do
rimonabant não deveriam ter sido
previamentedetectados?Sim,eeles
foram.Desdeseudescobrimento,o
rimonabant vem sendo testado em
animais e se sabe há bastante tempo
que esse fármaco de fato provoca
um quadro de sintomas semelhan-
tes à ansiedade e à depressão em
camundongos e ratos, principal-
mente em situações estressantes.
Testes em animais
A principal forma de avaliar a
ansiedadeemanimaissãotestesque
geram situações de conflito, nas
quaiselesprecisam’decidir’entrese
arriscar e explorar um ambiente
desconhecido ou ficar escondidos
no ambiente protegido e seguro. Já
a depressão é comumente avaliada
com testes que verificam a vontade
do animal de sobreviver a um de-
safio. Animais ansiosos e/ou de-
pressivostêmcomportamentomais
passivo, tendendo a procurar lu-
gares protegidos (ansiosos) e a não
lutar por sua sobrevivência (de-
pressivos). A administração do ri-
monabant provoca estados de an-
siedade e depressão nos animais
quando o teste envolve uma si-
tuação estressante.
É importante notar que baixos
níveisdeestressesãosaudáveisenos
deixam alertas para realizar tarefas
importantes e que exigem nossa
atenção. Níveis altos, porém, ge-
ram uma situação de grave abalo
psicológico. Aparentemente, o sis-
temaendocanabinóidesóéativado
seosníveisdeestresseforemmuito
altos ou contínuos, protegendo
assim o indivíduo contra seus
efeitos danosos.
Existem diversos fatores que
contribuem para que um bloquea-
dor de receptores canabinóides in-
duzaumdesequilíbrioemocionale
éprecisoavaliararelaçãocusto/be-
nefício dos tratamentos. O próprio
fabricantenãorecomendaousodo
rimonabant para "perder uns qui-
linhosparaoverão"oupara"aquela
festaespecial"e,apesar dos efeitos
adversos possíveis, certamente
esse medicamento deve ser vis-
to como opção terapêutica para
casos de obesidade patológica,
que traz perigosas conseqüên-
cias para a saúde.
Leia mais na revista Ciência Hoje,
edição de agosto
ENGENHARIA
Grão andino
é fonte para
produção de
biomateriais
Juliana Marques
CIÊNCIA HOJE/RJ
A nova matéria-prima para a
produção de biomateriais vem da
região dos Andes. As substâncias
presentes na quinoa, grão andino
mais nutritivo cultivado na Amé-
rica do Sul, podem ser usadas para
a confecção de embalagens de alta
qualidade e 100% biodegradáveis.
O principal aproveitamento seria
nas embalagens de alimentos.
O estudo que resultou na cons-
tatação de que a quinoa pode ser
usada para a produção de bioma-
teriais foi desenvolvido pela en-
genheira química peruana Patricia
Cecilia Araujo-Farro, durante seu
doutorado no curso de Engenharia
de Alimentos na Universidade Es-
tadual de Campinas (Unicamp).
Araujo-Farro selecionou sete
entreas250variedadesdequinoade
seupaís,osegundomaiorprodutor
dogrão,depoisdaBolívia.Dassete,
elegeu a quinoa real para desen-
volver filmes biodegradáveis.
De acordo com a pesquisadora,
o aproveitamento da quinoa na
produção dos biofilmes foi possível
graças à grande quantidade de ami-
do e de proteínas presentes no grão
da variedade real.
Alimento nutritivo
Aquinoaéplantadadesde8.000
a.C e era considerada sagrada pela
civilização inca. Até hoje é o ali-
mento mais consumido pelos ín-
dios e camponeses da região. Seu
cultivo, porém, não é importante
apenas para a economia, mas tam-
bém para os consumidores.
O grão de quinoa é conhecido
por apresentar todos os aminoá-
cidos essenciais necessários para a
alimentação humana, e seu valor
nutritivo é tão alto, que pode ser
comparado ao do leite materno.
Alémdericaemproteínas–1kgde
quinoa equivale a 1kg de carne –, a
quinoa contém outros elementos
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boidratos e minerais.
– Mas o valor nutricional não
estásomentenogrão.Todaaplanta
pode ser aproveitada na alimen-
tação – afirma Araujo-Farro.
Segundo ela, a melhor quinoa é
obtida nas elevadas altitudes das
terras andinas, porém o grão pode
ser adaptado a diferentes tipos de
solo e clima. No Brasil, algumas
instituições como a Empresa Bra-
sileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) já cultivam a quinoa,
adaptando-aaterrasbaixaseregiões
semi-áridas,masasnovasvariedades
ainda apresentam problemas na
germinação e no florescimento.
JB99
Perigosos efeitos colaterais

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Ciência Hoje 07.09.2008 - Perigosos Efeitos Colaterais

  • 1. CYAN MAGENTA AMARELO PRETO TAB 23 JORNAL DO BRASIL Domingo, 7 de setembro de 2008 Convênio firmado entre o Jornal do Brasil e o Instituto Ciência Hoje apresenta todo domingo textos baseados em artigos publicados na revista Experimento com ratos mostra que remédio para emagrecer pode causar depressão Fabrício Pamplona UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, INSTITUTO MAX PLANCK DE PSIQUIATRIA (MUNIQUE, ALEMANHA) Praticamente todos os fármacos provocam efeitos colaterais e isso parece ocorrer com o mais novo remédio para emagrecer, o rimo- nabant. Conhecer a lógica por trás dos efeitos colaterais desse com- posto, que age sobre os mesmos receptores cerebrais em que atua a maconha,podeajudaraevitarcon- seqüências mais sérias. Os canabinóides são compostos químicos mais conhecidos por sua presença na maconha – nome po- pular da planta Cannabis sativa. Quandoalguémfumamaconha,es- ses compostos ligam-se a receptores moleculares(chamadosdeCB1)nos neurônios,oquereduzatransmissão de sinais entre as células cerebrais e provoca vários efeitos, entre eles o aumento do apetite. Esse efeito es- timulou a busca de substâncias que atuassemdeformacontrária,visando combater a obesidade. O recente lançamento no Brasil do primeiro medicamento – o ri- monabant, de nome comercial Acomplia – capaz de bloquear os receptoresCB1motivouumaaná- lise dos estudos clínicos que em- basaram sua aprovação em mais de 20 países. O objetivo foi tentar traçar um paralelo entre os resul- tados de estudos em animais e os efeitos psicológicos/comporta- mentaisrelatadosporpacientesque usam a substância. Não é correto dizer que o ri- monabant provoca efeitos opostos aos da maconha. Primeiro, porque a maconha, além da principal subs- tância psicoativa, tem cerca de ou- tros 60 compostos com ação ca- nabinóide e outras moléculas ca- pazes de interferir em processos orgânicos. Segundo, porque fár- macos como o rimonabant blo- queiamosreceptorescanabinóides, impedindo a ação de substâncias produzidaspelopróprioorganismo para, quando necessário, interagir com esses receptores. A grande diferença entre os en- docanabinóides (produzidos pelo corpo) e a maconha é que os pri- meiros agem apenas ’quando e on- de’suapresençaéexigida,enquanto a maconha age indiscriminada- mente, no cérebro e em outros órgãos e tecidos. Sabe-se hoje que osistemaendocanabinóideestáen- volvido em muitas funções do or- ganismo, desde efeitos de inibição da dor até o aumento do apetite. Ansiedade O rimonabant, além de reduzir o apetite, exibe outra grande van- tagem em relação aos outros me- dicamentos usados para emagrecer, pois parece inibir também o ar- mazenamentodegorduranaregião abdominal e contribuir para a pro- dução do ’bom colesterol’. No entanto, como qualquer medicamento, o rimonabant não está livre de produzir efeitos co- laterais.Seosreceptoresemqueage estão envolvidos em diversas fun- ções fisiológicas, é de se imaginar que o bloqueio crônico dos mes- mos tenha resultados indesejáveis. Entre os sintomas verificados estão o aumento na ansiedade e na de- pressão,muitasvezesacompanhado de irritabilidade e insônia. Bastante preocupante foi a expressão, por algunsindivíduos,deidéiassuicidas, embora isso tenha ocorrido com parcela pequena dos que tomaram o rimonabant cronicamente. Mas, esses efeitos colaterais do rimonabant não deveriam ter sido previamentedetectados?Sim,eeles foram.Desdeseudescobrimento,o rimonabant vem sendo testado em animais e se sabe há bastante tempo que esse fármaco de fato provoca um quadro de sintomas semelhan- tes à ansiedade e à depressão em camundongos e ratos, principal- mente em situações estressantes. Testes em animais A principal forma de avaliar a ansiedadeemanimaissãotestesque geram situações de conflito, nas quaiselesprecisam’decidir’entrese arriscar e explorar um ambiente desconhecido ou ficar escondidos no ambiente protegido e seguro. Já a depressão é comumente avaliada com testes que verificam a vontade do animal de sobreviver a um de- safio. Animais ansiosos e/ou de- pressivostêmcomportamentomais passivo, tendendo a procurar lu- gares protegidos (ansiosos) e a não lutar por sua sobrevivência (de- pressivos). A administração do ri- monabant provoca estados de an- siedade e depressão nos animais quando o teste envolve uma si- tuação estressante. É importante notar que baixos níveisdeestressesãosaudáveisenos deixam alertas para realizar tarefas importantes e que exigem nossa atenção. Níveis altos, porém, ge- ram uma situação de grave abalo psicológico. Aparentemente, o sis- temaendocanabinóidesóéativado seosníveisdeestresseforemmuito altos ou contínuos, protegendo assim o indivíduo contra seus efeitos danosos. Existem diversos fatores que contribuem para que um bloquea- dor de receptores canabinóides in- duzaumdesequilíbrioemocionale éprecisoavaliararelaçãocusto/be- nefício dos tratamentos. O próprio fabricantenãorecomendaousodo rimonabant para "perder uns qui- linhosparaoverão"oupara"aquela festaespecial"e,apesar dos efeitos adversos possíveis, certamente esse medicamento deve ser vis- to como opção terapêutica para casos de obesidade patológica, que traz perigosas conseqüên- cias para a saúde. Leia mais na revista Ciência Hoje, edição de agosto ENGENHARIA Grão andino é fonte para produção de biomateriais Juliana Marques CIÊNCIA HOJE/RJ A nova matéria-prima para a produção de biomateriais vem da região dos Andes. As substâncias presentes na quinoa, grão andino mais nutritivo cultivado na Amé- rica do Sul, podem ser usadas para a confecção de embalagens de alta qualidade e 100% biodegradáveis. O principal aproveitamento seria nas embalagens de alimentos. O estudo que resultou na cons- tatação de que a quinoa pode ser usada para a produção de bioma- teriais foi desenvolvido pela en- genheira química peruana Patricia Cecilia Araujo-Farro, durante seu doutorado no curso de Engenharia de Alimentos na Universidade Es- tadual de Campinas (Unicamp). Araujo-Farro selecionou sete entreas250variedadesdequinoade seupaís,osegundomaiorprodutor dogrão,depoisdaBolívia.Dassete, elegeu a quinoa real para desen- volver filmes biodegradáveis. De acordo com a pesquisadora, o aproveitamento da quinoa na produção dos biofilmes foi possível graças à grande quantidade de ami- do e de proteínas presentes no grão da variedade real. Alimento nutritivo Aquinoaéplantadadesde8.000 a.C e era considerada sagrada pela civilização inca. Até hoje é o ali- mento mais consumido pelos ín- dios e camponeses da região. Seu cultivo, porém, não é importante apenas para a economia, mas tam- bém para os consumidores. 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