Este documento é uma carta aos leitores descrevendo os livros como portas para mundos mágicos, ferramentas para aprender e crescer, e refúgios que protegem e confortam. A autora descreve como na infância usou livros para construir seu próprio mundo e refúgio, e como cresceu amando ler e escrever livros.
2. ☺☺
Caras Leitoras e Caros Leitores,
Embora quase todos os livros tenham o mesmo aspeto — uma capa, uma
lombada e páginas —, cada um deles é sempre uma porta aberta para mundos e
galáxias que se situam bem para lá da sua textura e forma…
Mais do que simples papel e tinta, os livros estão cheios de palavras mágicas,
com poderes fascinantes e ilimitados…
Alguns livros são caixas de ferramentas que usamos para reparar coisas, desde as
mais simples (a nossa casa) às mais misteriosas (o nosso coração), ou para fazer bolos
ou navios…
Há livros que têm asas.
Outros são como cavalos que nos levam consigo num galope desenfreado...
Uns livros são festas para as quais somos convidados, festas com muitos amigos
até mesmo para quem se sente sozinho…
Noutros, encontramos pessoas extraordinárias e seres desconhecidos, oriundos
de vários países e culturas.
Há livros que são quebra-cabeças, labirintos, florestas, desertos longínquos…
Outros, são viagens que nos levam a todo o lado e a parte alguma: quando
acabamos de os ler, sentimos sempre que algo mudou dentro de nós…
Alguns livros são lanternas, que nos ajudam a iluminar tudo o que quisermos e
ir até onde desejamos…
3.
Quando eu era criança, os livros foram os tijolos com que construí um mundo só
meu, um mundo sem princípio nem fim…
Empilhei livros em meu redor para me proteger, recolhi-me por detrás das suas
muralhas, e abriguei-me numa torre, onde escapei a muitos momentos menos felizes.
Aí vivi durante muitos anos, sempre apaixonada pelos livros e refugiando-me
neles… E foi com eles que aprendi o que significa ser humano.
Os livros foram o meu refúgio, ou foi graças a eles que construí muitos refúgios.
Quais tijolos e objetos mágicos, eles foram sempre altas paredes protetoras
edificadas em meu redor.
Os livros podem ser portas, navios e fortalezas para quem os ama.
Hoje sei que cresci para escrever livros: foi o que sempre quis fazer desde criança.
Sinto agora que cada um deles é um presente, um belo presente que qualquer
escritor pode oferecer e que eu mesma ofereci inúmeras vezes…
E que recebi outras tantas… desde os meus seis anos.
Rebecca Solnit
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