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A classificação do
conhecimento: seres,
saberes,currículos, bibliotecas
e enciclopédias
Burke, Peter. Uma história social do conhecimento.
Anjos , Liane. Sistemas de classificação.
CBD-0274 – Linguagens documentárias I
Profa. Cibele Araújo Camargo Marques dos Santos
Classificação
• “As categorias do pensamento humano nunca são fixadas de
forma definitiva; elas se fazem, desfazem e refazem
incessantemente; mudam com o lugar e o tempo”
(Durkein)
• Classificação – elemento de elaboração do conhecimento
• Sistemas de classificação do conhecimento – lugar / cultura,
tempo / quadros de referência (pontos de vista, história)
• Categorização e classificação
• Categorias (filosofia e lógica)
• Classes (princípio de hierarquia)
• Antropologia do conhecimento – sistemas de abordagem
• Contextos sociais 2
Classificação
• A classificação do outro – cultural
• Categorias concretas dos povos primitivos
• Sistemas ocidentais de categorias (período moderno)
• Termos ( ex: magia, filosofia)
• mudam de significado à medida que muda o sistema intelectual
• Arbitrariedade manifesta em qualquer sistema
• Sistemas de classificação
• Taxonomias do conhecimento – Classificações dos saberes
• Taxonomias – história natural dos animais e botânica –
Classificações dos seres
• Gesner
• Aldrovandi
• Lineu
3
Princípios das Classificações
Filosóficas dos Saberes
4
Divisão das ciências na
classificação dos saberes
5
Divisão das ciências na
classificação dos saberes
6
Variedades de conhecimento
• Categorias diferentes que mudaram com o tempo
• Conhecimento teórico X prático
• Conhecimento dos filósofos X empíricos
• Ciência (sciencia) X arte (ars) – contexto prático
• Arte sem ciência ou prática sem teoria
• Conhecimento público e privado
• Informação restrita
• segredos de Estado
• segredos da natureza (filosofia oculta)
• segredos alquímicos
• segredos técnicos (artesões, ofícios).
• Mistérios e métiers 7
Conhecimento
• Reforma Protestante
• conhecimento religioso compartilhado com os leigos
• Reforma das Leis na Itália e Inglaterra
• terminologia da leis no vernáculo
• Royal Society of Londres
• tornou público o conhecimento, publica um dos primeiros periódicos
científicos
• Ideal do conhecimento público na Idade Moderna com a imprensa
• Conhecimento legítimo e conhecimento proibido
• Alto e baixo conhecimento (scientia superior et inferior)
• Tolosani (1540)
• hierarquia na organização intelectual do conhecimento
• Conhecimento liberal (clássicos) e conhecimento útil (comércio,
processos de produção)
• Artes mecânicas
• confecção, construção, navegação, agricultura, caça, cura, teatro.
8
Conhecimento
• Conhecimento especializado X conhecimento geral / universal
• Saber tudo ou saber alguma coisa sobre tudo
• Fragmentação do conhecimento
• pansóficos X monotemáticos (uno intuitu)
• Conhecimento dos livros (concreto) X conhecimento das
coisas (abstrato)
• Estudar as coisas e não as palavras,
• parolagem do filósofos escolásticos, jargão das escolas
• Conhecimento quantitativo X conhecimento qualitativo
• (sec. XVII, informações estatísticas do Estado)
9
Conhecimento acadêmico e seus campos
• Envolvimento em diferentes campos (terrain)
• estudiosos defendendo território intelectual dos vizinhos
disciplinares.
• Imperativo territorial do mundo intelectual
• Geografia histórica dos primórdios da academia moderna e
seus vários “domínios”
• Metáfora-chave do século XVI e Idade Média
• árvore com galhos
• árvore do conhecimento
10
Arbor scientiae (Lulio)
11
Árvore do conhecimento
12
Árvore de lógica – Árvore de Porfírio
13
Árvore de lógica – Árvore de Porfírio
14
Organização do conhecimento
15
• Organograma do governo francês
• árvore do patrimônio e repartições francesas (Charles de Figon)
Organização do conhecimento
• Árvore
• Dominante X subordinado
• Naturalização do convencional (cultura como natureza)
• negando os grupos sociais responsáveis, sustentando reprodução
cultural e resistindo a inovação
• “Sistema” para organização do conhecimento (século XVII)
• aplicado a disciplinas específicas e ao conhecimento com um
todo
• “arqueologia” (Alsted – Foucault)
• análise dos princípios subjacentes ao sistema de disciplinas
16
Sistema
• Conjunto metódico de princípios interdependentes, sobre os
quais se estabelece uma doutrina, uma crença ou uma teoria.
• Conjunto de elementos distintos, com características e funções
específicas, organizadas de forma natural ou por meios
artificiais.
• Corpo de normas ou regras, inter-relacionadas numa
concatenação lógica e, pelo menos, verossímil, aplicadas a uma
determinada área.
• Disposição de um conjunto de elementos, organizada de forma a
viabilizar mais facilmente seu estudo e compreensão.
• Inter-relação de unidades, partes etc., responsáveis pelo
funcionamento de uma estrutura organizada.
• Qualquer processo de classificação que obedeça a critérios
específicos.
17
Classificação do conhecimento
acadêmico
• tripé intelectual – currículo, bibliotecas, enciclopédias,
• Currículo
• micropolítica das universidades
• necessidades pedagógicas
• Bibliotecas
• organização sujeita a limitações financeiras e arquitetônicas
• Enciclopédias
• produtos vendidos no mercado e sujeitas a pressões
• A sobreposição dos 3 sistemas
• categorias fundamentais da população universitária
• (grupo social, equipamento intelectual)
18
Disciplina e ensino
• Currículo
• metáfora do atletismo clássico
• Curso
• pista que os estudantes corriam
• ordem ou sistema de disciplinas
• Disciplina
• disciplinae – discere “aprender”
• ênfase ao autocontrole, mosteiros, militar, movimento disciplinador
(século XVI)
• Disciplinas científicas (fins do século XVIII e início do XIX)
• institucionalização na forma de departamentos acadêmicos
• Universidade medieval
• faculdades
• (capacidade, ramo do conhecimento, grupo corporativo)
• Importância das fronteiras entre os temas no principio da academia
moderna (a possibilidade do generalismo)
19
A organização dos currículos
• Currículo das universidades européias (1450)
• Uniformidade
• transferência entre instituições (peregrinatio academia)
• Bacharelado em Artes
• sete artes liberais
• trivium (linguagens – gramática, lógica e retórica - comunicação)
• quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música)
• três filosofias
• ética, metafísica, filosofia natural
• Três faculdades superiores
• Teologia (rainha das ciências), Direito (civil e canônico) e
Medicina. 20
As sete artes liberais
21
A ordem das bibliotecas
• Aparência “natural” do sistema tradicional de disciplinas
reforçada na segunda perna do tripé
• disposição dos livros nas bibliotecas
• A ordem dos livros (ordo librorium) – Conrad Gesner
• reproduzia a ordem do currículo da universidade
• Este princípio sustenta o sistema de classificação (material,
físico e espacial)
• Bibliotecas – estudo da “arqueologia do conhecimento”
(Foucault).
• Vestígios físicos de antigos sistemas de classificação.
• Catálogos das bibliotecas públicas e privadas e a organização
das bibliografias seguiam as mesma ordem. 22
• Catálogo da Biblioteca Bodleiana (1605) separa
os livros em artes, teologia, direito e medicina
• índice geral de autores
• índices especiais de comentadores de Aristóteles e da
Bíblia
• origem nas bibliografias
23
Bodleian
24
Bodleian
25
Bodleian
26
Bodleian
• Catálogo da Bodleian
(1620)
27
Bibliografias
• A primeira bibliografia impressa (1545) – Gesner (naturalista e
bibliógrafo)
• (classificar tanto livros como animais)
• 10 mil livros de 3 mil autores
• 2. volume (1548) Pandectas
• classificado por temas 21 seções:
• trivium, poesia, quatrivium, astrologia, adivinhação e magia,
geografia, história, artes mecânicas, filosofia natural, metafisica,
filosofia moral, filosofia econômica, política, direito, medicina,
teologia.
• Bibliotheca Universalis (1545-1549)
• Historiae Animalium (1551) 28
A estrutura das enciclopédias
• Encyclopaedia – grego – circulo de aprendizado – currículo
educacional
• Livros organizados da mesma maneira que o sistema educacional
• Destinados a estudantes universitários, curso para autodidatas
• Enciclopédias medievais
• conhecimento universal
• compiladas por professores universitários
• As enciclopédias e suas categorias
• expressões ou incorporações de uma visão sobre o conhecimento,
visão de mundo (Idade Média e período moderno)
• Enciclopédia do século XVI organizadas tematicamente
• categorias principais
• as 10 disciplinas da universidade medieval (3+4+3) 29
Níveis de organização
• Organização intelectual
no macronível
(disciplinas)
• Organização no
micronível
• Organon (“instrumento”)
• Categorias Aristóteles
• sistema de 10 categorias
gerais (substância,
quantidade, qualidade,
relação, lugar, tempo,
posição, condição, ação e
paixão)
30
• Rudolf Agricola (século XV) – Tratado de Lógica com 24
tópicos
31
• Philipp Melanchton
• Manual de Teologia
• (1521)
• Organizado por
lugares “loci”
• cabeça “capita”
• tópicos (gerais)
• cabeçalhos
(específicos)
32
A reorganização do sistema
• Pernas de tripé se apoiavam mutuamente
• reprodução cultural
• Fazendo com que as categorias parecessem naturais e as
alternativas, não naturais ou absurdas.
• Salutati (séc. XV) e Kant (séc. XVIII)
• conflito entre as disciplinas superiores (Teologia, Direito e Medicina)
que mantiveram a precedência no início da Idade Moderna
• Mudanças do sistema de conhecimento acadêmico e reformulação
das instituições
• Reprodução X mudança
• Esquemas para reformular a classificação do conhecimento
(filósofos Bacon, Descartes, Locke e Leibnz)
• Ramus
• Atacou as classificações usadas principalmente Aristóteles e Cícero
(classificação das ciências)
• retraçou a fronteira entre lógica e retórica 33
Classificação das Ciências
• Savigny – cadeia de
18 disciplinas
(3+4+3), poesia,
óptica, geografia,
cosmografia, física,
metafísica, ética,
cronologia + 75 ovais
ligados por fios
• subdivisões das 18 –
forma mais flexível de
mostrar ligações
interdisciplinares. 34
Classificação das Ciências
35
Classificação das Ciências
36
Classificação das Ciências
37
• Alsted
• combinar Aristóteles,
Ramus, Lúlio.
• A grande arte do
conhecimento de
Kircher
• Francis Bacon
• solução audaciosa
• Novum organon
38
Classificação de Bacon
39
• Currículos, bibliotecas e enciclopédias (séc. XVII e XVIII)
adotaram esta classificação
Reestruturação do currículo
• Tendência para a diferenciação
• especialização
• Novas disciplinas autônomas
• fragmentação
• desmembramento da Física, na Astronomia, Óptica, Química
• territorialidade
• Reestruturações diferentes em diferentes universidades
• Mudança gradual
• equilíbrio entre trivium e quadrivium , mudanças lentas em favor do
último (Roma e Bolonha).
• Sistema dos studia humanitatis (alternativo ao 3+4)
• Gramática, Retórica, Poesia, História e Ética.
• Ascenção da História (ligações com Direito e Política, Diplomacia –
séc. XVII e séc. XVIII) 40
Currículo
• Geografia (Cosmografia) e Astronomia
• preeminência da universidade no início do período moderno, nos colégios,
escolas de navegadores numa época de descobrimentos (sec. XVI e XVII)
• Filosofia natural
• Física, História natural, Botânica, Química (respeitabilidade a conhecimentos
alternativos) 1513 – 1702
• Museu de História Natural de Nova York - 1869
• Novas carreiras acadêmicas como cirurgia e medicamentos (química –
farmacologia)
• conhecimentos alternativos - sec. XVII
• aprendizes destas artes
• Medicina e política
• Médico do Estado, Anatomia Política no século XVII (formação das disciplinas
de Medicina Social)
• Filosofia prática
• política e economia
• formação dos estados centralizados
• scientia política sec. XVII – economia política – sec. XVIII.
41
A reestruturação das bibliotecas
• Reclassificação
• resultado das mudanças na organização das universidades e da
multiplicação de livros com a invenção da imprensa
• Explosão da informação
• vasta quantidade de livros “granditas librorum”
• “desordem dos livros” que precisava ser posta sob controle
• Gesner – ordo librorum
• Os livros eram objetos materiais que tinham que ser
colocados em algum lugar – diferente do conhecimento
• Bibliografia política (1633) – Gabriel Naudé
• bibliografias como obras de referência importantes “bibliotecas
sem parede”
• Catálogos eram menos resistentes à novidade que os
currículos
42
Ordem dos livros
• Bibliotheca Universalis
• Bibliografia geral
Gesner (1548)
• assuntos como política,
filosofia econômica,
geografia, magia e artes
mecânicas
• arranjo se tornou base
para as bibliotecas
• Biblioteca Imperial de
Viena
43
Ordem dos livros
• Francisco de Aráoz – tratado sobre como organizar uma
biblioteca (De bene disponenda bibliotheca, 1631)
• 15 categorias
• 5 categorias religiosas: teologia, estudos bíblicos, história
eclesiástica, poesia religiosa e obras dos padres da igreja
• 10 seculares: dicionários, livros de lugares-comum (organizados
por tópicos), retórica, história secular, poesia secular,
matemática, filosofia natural, filosofia moral, política e direito
• Biblioteca da Universidade de Leiden (1610)
• 7 categorias – catálogo em 1674 acrescentou livros orientais.
44
Ordem dos livros
• Gabriel Naudé –
Orientação para
montar uma biblioteca
(1627)- Advis pour
dresser une
bibliotheque
• Sétimo capítulo é sobre
classificação
45
Pragmatismo
• Soluções pragmáticas
• conjunto de disciplinas
• Filósofos-bibliotecários ou bibliotecários-filosófos
• John Dewey, filósofo pragmático e Mevil Dewey – criador do
Sistema Decimal de Classificação
46
Alfabetação das enciclopédias
• Mudança veio da invenção da imprensa
• tornou as bibliotecas disponíveis com maior rapidez e amplitude
• Mais necessárias que nunca com o crescimento do
conhecimento impresso
• Compiladores estavam audaciosos na categorização de
assuntos
• A classificação de Bacon teve influência inclusive nas
propostas de Naudé, Zara e Chambers.
• No início do século XVII, as enciclopédias passam a ter a
alfabetação como arranjo principal.
47
O avanço do conhecimento
• Inversão na
importância relativa
• o conhecimento liberal e
o conhecimento útil
• No século XVIII, o
conhecimento útil
torna-se respeitável
• Ênfase às ciências
aplicadas
• Mapas do
conhecimento
• Disciplinaridade X
Interdisciplinaridade 48

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  • 1. A classificação do conhecimento: seres, saberes,currículos, bibliotecas e enciclopédias Burke, Peter. Uma história social do conhecimento. Anjos , Liane. Sistemas de classificação. CBD-0274 – Linguagens documentárias I Profa. Cibele Araújo Camargo Marques dos Santos
  • 2. Classificação • “As categorias do pensamento humano nunca são fixadas de forma definitiva; elas se fazem, desfazem e refazem incessantemente; mudam com o lugar e o tempo” (Durkein) • Classificação – elemento de elaboração do conhecimento • Sistemas de classificação do conhecimento – lugar / cultura, tempo / quadros de referência (pontos de vista, história) • Categorização e classificação • Categorias (filosofia e lógica) • Classes (princípio de hierarquia) • Antropologia do conhecimento – sistemas de abordagem • Contextos sociais 2
  • 3. Classificação • A classificação do outro – cultural • Categorias concretas dos povos primitivos • Sistemas ocidentais de categorias (período moderno) • Termos ( ex: magia, filosofia) • mudam de significado à medida que muda o sistema intelectual • Arbitrariedade manifesta em qualquer sistema • Sistemas de classificação • Taxonomias do conhecimento – Classificações dos saberes • Taxonomias – história natural dos animais e botânica – Classificações dos seres • Gesner • Aldrovandi • Lineu 3
  • 5. Divisão das ciências na classificação dos saberes 5
  • 6. Divisão das ciências na classificação dos saberes 6
  • 7. Variedades de conhecimento • Categorias diferentes que mudaram com o tempo • Conhecimento teórico X prático • Conhecimento dos filósofos X empíricos • Ciência (sciencia) X arte (ars) – contexto prático • Arte sem ciência ou prática sem teoria • Conhecimento público e privado • Informação restrita • segredos de Estado • segredos da natureza (filosofia oculta) • segredos alquímicos • segredos técnicos (artesões, ofícios). • Mistérios e métiers 7
  • 8. Conhecimento • Reforma Protestante • conhecimento religioso compartilhado com os leigos • Reforma das Leis na Itália e Inglaterra • terminologia da leis no vernáculo • Royal Society of Londres • tornou público o conhecimento, publica um dos primeiros periódicos científicos • Ideal do conhecimento público na Idade Moderna com a imprensa • Conhecimento legítimo e conhecimento proibido • Alto e baixo conhecimento (scientia superior et inferior) • Tolosani (1540) • hierarquia na organização intelectual do conhecimento • Conhecimento liberal (clássicos) e conhecimento útil (comércio, processos de produção) • Artes mecânicas • confecção, construção, navegação, agricultura, caça, cura, teatro. 8
  • 9. Conhecimento • Conhecimento especializado X conhecimento geral / universal • Saber tudo ou saber alguma coisa sobre tudo • Fragmentação do conhecimento • pansóficos X monotemáticos (uno intuitu) • Conhecimento dos livros (concreto) X conhecimento das coisas (abstrato) • Estudar as coisas e não as palavras, • parolagem do filósofos escolásticos, jargão das escolas • Conhecimento quantitativo X conhecimento qualitativo • (sec. XVII, informações estatísticas do Estado) 9
  • 10. Conhecimento acadêmico e seus campos • Envolvimento em diferentes campos (terrain) • estudiosos defendendo território intelectual dos vizinhos disciplinares. • Imperativo territorial do mundo intelectual • Geografia histórica dos primórdios da academia moderna e seus vários “domínios” • Metáfora-chave do século XVI e Idade Média • árvore com galhos • árvore do conhecimento 10
  • 13. Árvore de lógica – Árvore de Porfírio 13
  • 14. Árvore de lógica – Árvore de Porfírio 14
  • 15. Organização do conhecimento 15 • Organograma do governo francês • árvore do patrimônio e repartições francesas (Charles de Figon)
  • 16. Organização do conhecimento • Árvore • Dominante X subordinado • Naturalização do convencional (cultura como natureza) • negando os grupos sociais responsáveis, sustentando reprodução cultural e resistindo a inovação • “Sistema” para organização do conhecimento (século XVII) • aplicado a disciplinas específicas e ao conhecimento com um todo • “arqueologia” (Alsted – Foucault) • análise dos princípios subjacentes ao sistema de disciplinas 16
  • 17. Sistema • Conjunto metódico de princípios interdependentes, sobre os quais se estabelece uma doutrina, uma crença ou uma teoria. • Conjunto de elementos distintos, com características e funções específicas, organizadas de forma natural ou por meios artificiais. • Corpo de normas ou regras, inter-relacionadas numa concatenação lógica e, pelo menos, verossímil, aplicadas a uma determinada área. • Disposição de um conjunto de elementos, organizada de forma a viabilizar mais facilmente seu estudo e compreensão. • Inter-relação de unidades, partes etc., responsáveis pelo funcionamento de uma estrutura organizada. • Qualquer processo de classificação que obedeça a critérios específicos. 17
  • 18. Classificação do conhecimento acadêmico • tripé intelectual – currículo, bibliotecas, enciclopédias, • Currículo • micropolítica das universidades • necessidades pedagógicas • Bibliotecas • organização sujeita a limitações financeiras e arquitetônicas • Enciclopédias • produtos vendidos no mercado e sujeitas a pressões • A sobreposição dos 3 sistemas • categorias fundamentais da população universitária • (grupo social, equipamento intelectual) 18
  • 19. Disciplina e ensino • Currículo • metáfora do atletismo clássico • Curso • pista que os estudantes corriam • ordem ou sistema de disciplinas • Disciplina • disciplinae – discere “aprender” • ênfase ao autocontrole, mosteiros, militar, movimento disciplinador (século XVI) • Disciplinas científicas (fins do século XVIII e início do XIX) • institucionalização na forma de departamentos acadêmicos • Universidade medieval • faculdades • (capacidade, ramo do conhecimento, grupo corporativo) • Importância das fronteiras entre os temas no principio da academia moderna (a possibilidade do generalismo) 19
  • 20. A organização dos currículos • Currículo das universidades européias (1450) • Uniformidade • transferência entre instituições (peregrinatio academia) • Bacharelado em Artes • sete artes liberais • trivium (linguagens – gramática, lógica e retórica - comunicação) • quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música) • três filosofias • ética, metafísica, filosofia natural • Três faculdades superiores • Teologia (rainha das ciências), Direito (civil e canônico) e Medicina. 20
  • 21. As sete artes liberais 21
  • 22. A ordem das bibliotecas • Aparência “natural” do sistema tradicional de disciplinas reforçada na segunda perna do tripé • disposição dos livros nas bibliotecas • A ordem dos livros (ordo librorium) – Conrad Gesner • reproduzia a ordem do currículo da universidade • Este princípio sustenta o sistema de classificação (material, físico e espacial) • Bibliotecas – estudo da “arqueologia do conhecimento” (Foucault). • Vestígios físicos de antigos sistemas de classificação. • Catálogos das bibliotecas públicas e privadas e a organização das bibliografias seguiam as mesma ordem. 22
  • 23. • Catálogo da Biblioteca Bodleiana (1605) separa os livros em artes, teologia, direito e medicina • índice geral de autores • índices especiais de comentadores de Aristóteles e da Bíblia • origem nas bibliografias 23
  • 27. Bodleian • Catálogo da Bodleian (1620) 27
  • 28. Bibliografias • A primeira bibliografia impressa (1545) – Gesner (naturalista e bibliógrafo) • (classificar tanto livros como animais) • 10 mil livros de 3 mil autores • 2. volume (1548) Pandectas • classificado por temas 21 seções: • trivium, poesia, quatrivium, astrologia, adivinhação e magia, geografia, história, artes mecânicas, filosofia natural, metafisica, filosofia moral, filosofia econômica, política, direito, medicina, teologia. • Bibliotheca Universalis (1545-1549) • Historiae Animalium (1551) 28
  • 29. A estrutura das enciclopédias • Encyclopaedia – grego – circulo de aprendizado – currículo educacional • Livros organizados da mesma maneira que o sistema educacional • Destinados a estudantes universitários, curso para autodidatas • Enciclopédias medievais • conhecimento universal • compiladas por professores universitários • As enciclopédias e suas categorias • expressões ou incorporações de uma visão sobre o conhecimento, visão de mundo (Idade Média e período moderno) • Enciclopédia do século XVI organizadas tematicamente • categorias principais • as 10 disciplinas da universidade medieval (3+4+3) 29
  • 30. Níveis de organização • Organização intelectual no macronível (disciplinas) • Organização no micronível • Organon (“instrumento”) • Categorias Aristóteles • sistema de 10 categorias gerais (substância, quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, posição, condição, ação e paixão) 30
  • 31. • Rudolf Agricola (século XV) – Tratado de Lógica com 24 tópicos 31
  • 32. • Philipp Melanchton • Manual de Teologia • (1521) • Organizado por lugares “loci” • cabeça “capita” • tópicos (gerais) • cabeçalhos (específicos) 32
  • 33. A reorganização do sistema • Pernas de tripé se apoiavam mutuamente • reprodução cultural • Fazendo com que as categorias parecessem naturais e as alternativas, não naturais ou absurdas. • Salutati (séc. XV) e Kant (séc. XVIII) • conflito entre as disciplinas superiores (Teologia, Direito e Medicina) que mantiveram a precedência no início da Idade Moderna • Mudanças do sistema de conhecimento acadêmico e reformulação das instituições • Reprodução X mudança • Esquemas para reformular a classificação do conhecimento (filósofos Bacon, Descartes, Locke e Leibnz) • Ramus • Atacou as classificações usadas principalmente Aristóteles e Cícero (classificação das ciências) • retraçou a fronteira entre lógica e retórica 33
  • 34. Classificação das Ciências • Savigny – cadeia de 18 disciplinas (3+4+3), poesia, óptica, geografia, cosmografia, física, metafísica, ética, cronologia + 75 ovais ligados por fios • subdivisões das 18 – forma mais flexível de mostrar ligações interdisciplinares. 34
  • 38. • Alsted • combinar Aristóteles, Ramus, Lúlio. • A grande arte do conhecimento de Kircher • Francis Bacon • solução audaciosa • Novum organon 38
  • 39. Classificação de Bacon 39 • Currículos, bibliotecas e enciclopédias (séc. XVII e XVIII) adotaram esta classificação
  • 40. Reestruturação do currículo • Tendência para a diferenciação • especialização • Novas disciplinas autônomas • fragmentação • desmembramento da Física, na Astronomia, Óptica, Química • territorialidade • Reestruturações diferentes em diferentes universidades • Mudança gradual • equilíbrio entre trivium e quadrivium , mudanças lentas em favor do último (Roma e Bolonha). • Sistema dos studia humanitatis (alternativo ao 3+4) • Gramática, Retórica, Poesia, História e Ética. • Ascenção da História (ligações com Direito e Política, Diplomacia – séc. XVII e séc. XVIII) 40
  • 41. Currículo • Geografia (Cosmografia) e Astronomia • preeminência da universidade no início do período moderno, nos colégios, escolas de navegadores numa época de descobrimentos (sec. XVI e XVII) • Filosofia natural • Física, História natural, Botânica, Química (respeitabilidade a conhecimentos alternativos) 1513 – 1702 • Museu de História Natural de Nova York - 1869 • Novas carreiras acadêmicas como cirurgia e medicamentos (química – farmacologia) • conhecimentos alternativos - sec. XVII • aprendizes destas artes • Medicina e política • Médico do Estado, Anatomia Política no século XVII (formação das disciplinas de Medicina Social) • Filosofia prática • política e economia • formação dos estados centralizados • scientia política sec. XVII – economia política – sec. XVIII. 41
  • 42. A reestruturação das bibliotecas • Reclassificação • resultado das mudanças na organização das universidades e da multiplicação de livros com a invenção da imprensa • Explosão da informação • vasta quantidade de livros “granditas librorum” • “desordem dos livros” que precisava ser posta sob controle • Gesner – ordo librorum • Os livros eram objetos materiais que tinham que ser colocados em algum lugar – diferente do conhecimento • Bibliografia política (1633) – Gabriel Naudé • bibliografias como obras de referência importantes “bibliotecas sem parede” • Catálogos eram menos resistentes à novidade que os currículos 42
  • 43. Ordem dos livros • Bibliotheca Universalis • Bibliografia geral Gesner (1548) • assuntos como política, filosofia econômica, geografia, magia e artes mecânicas • arranjo se tornou base para as bibliotecas • Biblioteca Imperial de Viena 43
  • 44. Ordem dos livros • Francisco de Aráoz – tratado sobre como organizar uma biblioteca (De bene disponenda bibliotheca, 1631) • 15 categorias • 5 categorias religiosas: teologia, estudos bíblicos, história eclesiástica, poesia religiosa e obras dos padres da igreja • 10 seculares: dicionários, livros de lugares-comum (organizados por tópicos), retórica, história secular, poesia secular, matemática, filosofia natural, filosofia moral, política e direito • Biblioteca da Universidade de Leiden (1610) • 7 categorias – catálogo em 1674 acrescentou livros orientais. 44
  • 45. Ordem dos livros • Gabriel Naudé – Orientação para montar uma biblioteca (1627)- Advis pour dresser une bibliotheque • Sétimo capítulo é sobre classificação 45
  • 46. Pragmatismo • Soluções pragmáticas • conjunto de disciplinas • Filósofos-bibliotecários ou bibliotecários-filosófos • John Dewey, filósofo pragmático e Mevil Dewey – criador do Sistema Decimal de Classificação 46
  • 47. Alfabetação das enciclopédias • Mudança veio da invenção da imprensa • tornou as bibliotecas disponíveis com maior rapidez e amplitude • Mais necessárias que nunca com o crescimento do conhecimento impresso • Compiladores estavam audaciosos na categorização de assuntos • A classificação de Bacon teve influência inclusive nas propostas de Naudé, Zara e Chambers. • No início do século XVII, as enciclopédias passam a ter a alfabetação como arranjo principal. 47
  • 48. O avanço do conhecimento • Inversão na importância relativa • o conhecimento liberal e o conhecimento útil • No século XVIII, o conhecimento útil torna-se respeitável • Ênfase às ciências aplicadas • Mapas do conhecimento • Disciplinaridade X Interdisciplinaridade 48