O documento discute o impacto do reajuste salarial nos custos de produção do café no Brasil. O reajuste aumentou os custos de produção do café arábica em média 2,72% e do café conilon em 3,47%. O maior aumento nos custos do café arábica ocorreu em Manhumirim/MG (4,11%) e do café conilon em Jaguaré/ES (3,52%). Os municípios com processo produtivo mecanizado tiveram menor impacto do reajuste salarial nos custos.
Boletim Ativos do Café CNA - Edição Nº 16 / Maio de 2014
1. maior variação influenciada pelos sa-
lários foi observada em Manhumirim/
MG (4,11%), gerando um COE de
R$424,36 por saca. O menor impac-
to causado pelos salários ocorreu em
Luís Eduardo Magalhães/BA (1,09%),
seguido por Monte Carmelo/MG
(1,98%). Nestes municípios o processo
produtivo é totalmente mecanizado.
Nos municípios que possuem processo
produtivo manual, o reajuste salarial
causou um aumento médio 2,00%
maior no COE, quando comparados
aos municípios com produção meca-
nizada.
No café Conilon, os salá-
rios foram responsáveis pelo
aumento de 3,47% no COE em feve-
reiro/14. A maior variação ocorreu em
Jaguaré/ES (3,52%), onde o COE subiu
6,14% influenciado também pelo au-
mento nos custos com insumos agríco-
las e com mecanização. Em compara-
ção às demais regiões produtoras desta
espécie, em Itabela-BA o COE sofreu
menor impacto do reajuste nos salários
(3,08%), porém, a variação foi prepon-
derante para o aumento de 3,92% que
elevou os custos para R$168,63 por
saca.
Ano 8 - Edição 16
Maio 2014
REAJUSTE SALARIAL IMPACTA
CUSTOS DA CAFEICULTURA E COE
SOBE 3,91% NO INÍCIO DE 2014
Os custos de produção da cafeicultura
brasileira apresentaram um aumento
médio de 3,91% em fevereiro/14. O
reajuste salarial, que traz mudanças
econômico-financeiras importantes na
cadeia produtiva do café, elevou os
custos de produção das duas espécies
produzidas no país. O Custo Opera-
cional Efetivo (COE) da espécie Coffea
arabica (café Arábica) subiu 3,42%, e
o da Coffea canephora (café Conilon)
subiu 5,66%.
O aumento médio no COE do café
Arábica relacionado diretamente ao
reajuste nos salários foi de 2,72%. A
Elaboração: CIM/UFLA
2. TENDÊNCIAS DE MERCADO SÃO
REVERTIDAS E PREÇO DO CAFÉ ARÁBICA
SOBE 81,29% ENTRE NOVEMBRO/13 E
MARÇO/14
Após um período de queda nos preços
e falta de perspectivas para a reversão
de tendência no curto prazo, as condi-
ções meteorológicas evidenciadas nos
últimos meses do ano 2013 e primeiro
trimestre de 2014, nos principais cin-
turões produtores de café Arábica no
Brasil, contribuíram para mudanças de
cenário.
Nos municípios que compõem o pro-
grama Campo Futuro, os preços mé-
dios de venda apresentaram cresci-
mentos médios mensais de 5,31%
e 16,29%, para o Conilon e Arábica
respectivamente, entre dezembro/13 e
março/14.
Em novembro/13 a saca de 60kg do
café Arábica era comercializada por
R$218,48. Em março/14 ela foi co-
mercializada por R$396,09 em média,
caracterizando uma alta de 81,29%.
Ressalta-se que estes valores repre-
sentam as médias mensais do café em
cada município considerando as clas-
sificações física (classificação por tipo)
e sensorial (classificação quanto à be-
bida). Durante os painéis de levanta-
mento de dados, foram estimados os
percentuais dos diferentes tipos e be-
bidas produzidos em uma propriedade
típica de cada região.
Já o aumento nos preços do café Coni-
lon entre outubro/13 e março/14 foi de
24,41%, quando a saca foi comerciali-
zada por R$241,73. Este valor corres-
ponde à média dos diferentes tipos de
café produzidos nos municípios anali-
sados. Neste cenário, com considerável
diferencial de preços entre as espécies,
salienta-se que fatores fundamentalis-
tas, como quantidades produzidas de
cada espécie e taxa de câmbio, podem
induzir mudanças de estratégia na ca-
deia produtiva, principalmente no se-
tor industrial. Para tanto, os produtores
devem ficar atentos às informações
sobre a colheita da safra 2013/2014 e
o comportamento da demanda sobre
cada espécie, buscando adequar da
melhor maneira as suas estratégias de
comercialização.
Preço médio de venda (Reais por saca de 60kg)
Elaboração: CIM/UFLA
3. APESAR DA ALTA NOS PREÇOS, COT
SUPERA A RECEITA DA CAFEICULTURA DE
CONILON EM CACOAL/RO
O Custo Operacional Total (COT) em
Cacoal/RO tem superado a receita
gerada com a produção de café Co-
nilon. Entre janeiro/14 e março/14 a
Produção de Nivelamento (PN), que
neste caso representa a produção mí-
nima para cobrir o COT, ficou acima
da produtividade atual. Neste período
houve uma alta de 4,76% no preço
de venda no município, porém o au-
mento de 4,54% no COT não permi-
tiu que a Margem Líquida (ML = Preço
– COT) ficasse positiva em março/14
(-R$13,75/saca).
Em média o COT subiu 4,65% nas
principais regiões produtoras de Co-
nilon do país, enquanto os preços
de venda subiram 10,71%. Entre
janeiro/14 e março/14 o aumento no
COT em Jaguaré/ES foi de 5,10%. Já
em Itabela/BA houve uma redução de
0,54% nestes custos, favorecendo a
PN e consequentemente a ML.
Ao contrário de Cacoal/RO, em Itabe-
la/BA e Jaguaré/ES a receita com o café
cobriu o COT entre janeiro/14 e mar-
ço/14, gerando ML positiva. No muni-
cípio baiano, a ML que em janeiro/14
foi positiva em R$25,90/saca chegou
a R$54,45/saca em março/14. Neste
município foi observada a menor PN
do período, em fevereiro/14, quando
77% da produção foi suficiente para
cobrir os custos. Já no município ca-
pixaba a ML foi positiva em R$24,15/
saca em janeiro/14 e R$39,16/saca em
março/14.
O gráfico representa a PN da cafeicul-
tura de Conilon entre janeiro/14 e mar-
ço/14. Valores maiores que 1 indicam
que a produtividade atual não é sufi-
ciente para cobrir o COT e valores me-
nores que 1 que os custos são cobertos.
Exemplo: 1) PN=1,15 – indica que a
produtividade deveria ser 15% superior
que a atual para que os custos fossem
cobertos; 2) PN=0,77 – indica que 77%
da produtividade atual cobre o COT e
que 23% correspondem à margem de
lucro. É importante lembrar que o pre-
ço do café tem grande influencia neste
indicador, pois com custos constantes e
preços maiores, a PN diminui..
3
Produção de Nivelamento sobre o COT (Base 1)
Elaboração: CIM/UFLA
Elaboração: CIM/UFLA
4. CAFEICULTORES DEVEM FICAR
ATENTOS À MAIOR DEMANDA POR
GRÃOS CERTIFICADOS
De acordo com o Bureau de Inteli-
gência Competitiva do Café (www.
icafebr.com) do Centro de Inteligência
em Mercados (CIM/UFLA), a deman-
da por cafés certificados continuará
crescendo nos próximos anos. O rela-
tório Brasil Food Trends 2020 indica o
consumo de alimentos produzidos de
forma sustentável como uma das cinco
principais tendências que irão influen-
ciar a indústria de alimentos nessa dé-
cada. A indústria do café está atenta
ao novo nicho de mercado, e investe
para oferecer produtos certificados aos
seus consumidores.
Os analistas do Bureau citam três em-
presas como exemplo: Starbucks, Nes-
presso e Mondelez. A Starbucks pos-
sui um programa denominado Coffee
and Farmer Equity (C.A.F.E.) em que
uma empresa independente é respon-
sável por certificar os cafeicultores do
programa. São mais de 200 critérios
avaliados nesta certificação. De acor-
do com a Starbucks, 90% do café
utilizado pela companhia em 2012
foi proveniente do C.A.F.E.. Incluindo
grãos Fair Trade e orgânicos, o valor
chega a 93%. Já a Nespresso trabalha
em parceria com a Rainforest Allian-
ce, uma das maiores certificações de
café do mundo. A parceria é chama-
da Nespresso AAA e tem por objetivo
permitir que todo o café utilizado pela
Nespresso tenha origem sustentável.
Em 2012 o percentual atingiu o valor
de 68%. A Mondelez também inves-
te na obtenção de cafés certificados.
A empresa estabeleceu o objetivo de,
até 2015, usar apenas grãos certifica-
dos em todas as suas marcas comercia-
lizadas no mercado Europeu. A compa-
nhia também irá investir na melhoria da
qualidade de vida de até um milhão de
cafeicultores ao redor do mundo até o
ano 2020, em uma iniciativa denomi-
nada “Coffee Made Happy”.
De acordo com o Bureau, essa grande
demanda por cafés certificados é mui-
to relevante para os cafeicultores. A
tendência é que cada vez mais empre-
sas adotem o compromisso de vender
apenas café 100% certificado, o que
poderá criar barreiras para os cafei-
cultores que não se adequarem às no-
vas exigências. Trata-se de um grande
desafio, principalmente para os pe-
quenos cafeicultores. Esses podem se
articular em associações ou cooperati-
vas, e buscar inicialmente o Fair Trade.
Dados da Fair Trade USA mostram a
evolução das importações de café cer-
tificado Fair Trade nos Estados Unidos
da América (EUA) entre 1999 e 2012.
Embora o volume total ainda seja uma
fração do que o país importa anual-
mente, é notável o crescimento apre-
sentado. Houve uma grande evolução
dos valores praticamente simbólicos
no final da década de 1990 para mais
de um milhão de sacas em 2012.
Como os EUA são o segundo maior
mercado para o café verde Brasileiro,
existe aí uma oportunidade interes-
sante para os produtores nacionais.
ATIVOS DO CAFÉ é um boletim elaborado pela
Superintendência Técnica da CNA e Centro
de Inteligência em Mercados (CIM) - da
Universidade Federal de Lavras (UFLA).
Reprodução permitida desde que citada a fonte.
SGAN - Quadra 601 - Módulo K
70.830-903 Brasília - DF
Fone (61) 2109-1458 Fax (61) 2109-1490
E-mail: cna.sut@cna.org.br
Site: www.canaldoprodutor.com.br
Importações Fair Trade pelos EUA
Elaboração: CIM/UFLA