2. 1) Autor:
• a) A tradição é hesitante sobre a origem paulina da carta:
• 1) Oriente:
• a) a maioria atribuiu Hb a Paulo;
• b) Orígenes de Alexandria (+ 258) admitia que Paulo fora o autor de
Hb, mas não o redator.
• 2) Ocidente:
• a) as opiniões são mais divergentes;
• b) Até o séc. IV houve quem duvidasse da autoria e
até da canonicidade de Hb (não queriam que ela fosse lida em
público), por causa das heresias dos Montanistas e dos Novacianos,
os quais se valiam de Hb 6,4-8 para afirmar que havia pecados
irremissíveis (= sem perdão).
• c) Após o séc. IV, essas correntes perderam força.
Então passaram a aceitar a canonicidade e autoria paulina.
3. 1) Autor:
• b) A partir do início do séc. XX foi retomada a questão
da autoria de Hb. Apoiaram-se, pois, no exame interno
do texto:
• 1) Em Hb 2,3 o autor distingue:
• a) o Senhor, que começou a pregar a Boa-nova;
• b) os Apóstolos, que a ouviram;
• c) e nós, uma segunda geração de discípulos.
• d) Paulo nunca se incluiria entre os discípulos,
como se inclui o autor de Hb. Ele fazia questão de
afirmar que recebera diretamente de Cristo (cf. Gl
1,1s.12.16s).
4. 1) Autor:
• 2) Em Hb falta a introdução que é habitual nas cartas paulinas.
Começa sem o nome do remetente e sem as costumeiras
saudações. (Ex.: início de 1Cor e o início de Hb).
• 3) Hb apresenta 168 palavras que não aparecem no NT, e
outras 124 que faltam nas cartas paulinas.
• 4) O estilo de Hb mostra um bom domínio do vocabulário
grego, e é bem trabalhado. Supera o das cartas paulinas.
• 5) O modo de citar a Bíblia é diferente:
• a) São Paulo: usa as fórmulas “está escrito”, “como
está escrito”, “diz a Escritura”, “Moisés diz”, etc.
• b) Hb: Deus diz diretamente (cf. 1,5.6.7.13; 4,3; 7,21;
8,5.8; 10,30.37.38; 11,18; 12,15; 13,5.6) ou o Espírito Santo diz (cf.
3,7; 9,8; 10,15).
• 6) O AT é interpretado como tipo ou imagem do NT.
• 7) O conteúdo doutrinário de Hb é, sem dúvida, em essência,
o das cartas paulinas.
5. 1) Autor:
• 8) Diferenças entre Paulo e Hb:
• a) Cristo:
• 1) Para Paulo: é a cabeça de um
grande corpo (cf. Cl e Ef).
• 2) Para Hb: é o Guia que dirige os fiéis
(2,10; 12,2) ou o precursor que os precedeu
atravessando o véu do tabernáculo celeste (cf. 6,19).
• b) Lei de Moisés:
• 1) Paulo: tinha função de mostrar aos
judeus a sua insuficiência e miséria morais (cf. Rm 4,15;
7,7-13; Gl 3,19).
• 2) Hb: é mais positivo e otimista do
que Paulo; enfatiza a Lei como prenúncio da
dispensação da graça cristã (cf. Hb 8,13; 10,1).
6. 1) Autor:
• 9) Semelhanças entre Paulo e Hb:
• a) Eminente dignidade de Cristo, Filho eterno
de Deus (cf. Rm 1,3 e Hb 4,14);
• b) Cristo, imagem da substância do Pai e
mediador na obra da criação (cf. Cl 1,15-17 e Hb 1,3s);
• c) a teologia da cruz, ato de obediência (cf. Fl
2,8 e Hb 5,7);
• d) Cristo oferece um sacrifício de expiação
(cf. Rm 3,25 e Hb 10,12);
• e) após a Paixão, Cristo é elevado à direita de
Deus (cf. Rm 8,34 e Hb 10,12).
7. 1) Autor:
• c) Questão: afinal, quem escreveu Hb?
• 1) a carta supõe um escritor de origem judaica e de formação
helenista, que escreve de modo original, embora influenciado por
Paulo.
• 2) Devia ser grande conhecedor da tradução grega ou
Alexandrina das Escrituras (= dos LXX ou Septuaginta), a qual cita
ao pé da letra;
• 3) Devia conhecer o ritual do Antigo Testamento, com suas
solenidades, das quais sempre faz alusões;
• 4) O autor gozava de certa autoridade nas comunidades
judeu-cristãs, para censurá-los como ele faz (cf. 5,11-14; 6,7s.9-12;
3,12s; 4,1; 13,22).
• 5) Tais requisitos parece satisfazer Apolo, judeu nascido e
educado em Alexandria (At 18,24-28), o qual gozava de autoridade,
pois quiseram contrapô-lo a Paulo e Barnabé em Corinto (cf. 1Cor
1,13; 3,4-6; 4,6).
• 6) Há quem admita Barnabé, que era hebreu levita, amigo e
colaborador de Paulo (cf. At 4,36; 13,2).
8. 2) Destinatários:
• a) Conforme o título, a carta se dirige a judeus
convertidos ao Cristianismo. Razão: o uso freqüente das
Escrituras como fonte principal de argumentação.
• b) Mais precisamente: os destinatários eram sacerdotes
judeus que haviam abraçado a fé cristã, julgando estar
aderindo ao Messias.
• c) Ora, esses primeiros cristãos sofreram muitas
perseguições. Amedrontados muitos fugiram de
Jerusalém para as regiões da Judéia e da Samaria. Com
o tempo, sua fé foi esfriando, pois o Senhor Jesus não
retornava conforme prometera. Em 64, por mandato do
Imperador Nero, foi empreendida a primeira perseguição
romana contra os cristãos. Diante deste cenário, o
Templo de Jerusalém se mantinha de pé. Tais sacerdotes
judeus feitos cristãos, então, sentiram-se tentados de
retornar ao judaísmo para servir no Templo.
9. 2) Destinatários:
• d) Supondo tais circunstâncias, Hb é, pois, uma palavra de
exortação (cf. Hb 13,22). Sua intenção é reavivar a fé das pessoas
(cf. Hb 11). Para tanto, o autor faz constantes comparações entre a
antiga e nova Lei, mostrando que a antiga era apenas uma imagem
da nova concretizada em Jesus Cristo. Não teria, portanto, sentido
voltar aos preceitos judaicos, pois estes envelheceram e cumpriram
sua missão (cf. Hb 8,13).
• e) Se considerarmos a situação dos destinatários, então podemos
datar Hb entre os anos 64 e 66. Afinal, 64 é o ano da perseguição
decretada por Nero, e 66 é o ano que começa a guerra dos judeus
contra os romanos, a qual acabaria com a destruição do Templo de
Jerusalém, em 70.
• f) Ora, só enquanto o culto era celebrado normalmente em
Jerusalém, podiam os judeu-cristãos sentir a tentação de aderir
novamente a ele. Portanto, admitimos a redação de Hb entre 64 e
66.
• g) Quanto ao local da redação continua incerto. Terá sido a Itália,
conforme Hb 13,24, que alude aos “irmãos da Itália”? Não se sabe
ao certo.
10. 3) Mensagem:
• a) A carta aos Hb passa por uma linha central: o confronto entre a antiga e
a nova Aliança.
• b) Antiga e nova Aliança:
• 1) O autor quer mostrar a superioridade da dispensação cristã da
graça, comparada com a dispensação judaica. Daí as antíteses:
• a) o Filho é superior aos anjos (Hb 1,5-14);
• b) o Filho é superior a Moisés (Hb 3,1-6);
• c) o sacerdócio de Cristo é mais agradável a Deus e mais útil
aos homens do que o sacerdócio levítico (Hb 7,1-28);
• d) o sacrifício de Cristo é muito mais nobre do que os
sacrifícios da antiga Aliança, pois Jesus se ofereceu ao Pai, em vez de
oferecer vítimas irracionais (Hb 9,1-27).
• e) a geração do deserto,que não entrou no repouso da terra
prometida, prefigurava o novo povo chamado por Deus ao verdadeiro
repouso ou à vida eterna (Hb 3,7-4,13).
• f) o Sinai é a montanha na qual o Senhor deu a Moisés a Lei
antiga em meio ao fogo ardente, tempestade e temor. Ao contrário, Sion (=
Sião) é o monte em que Jesus se entregou aos discípulos na última ceia em
sinal do maior amor possível (Hb 12,18-29).
11. 3) Mensagem:
• b) A figura de Cristo:
• 1) A Cristologia de Hb já é bem definida. Cristo aparece como Deus e homem:
• a) Como Deus:
• 1) Cristo preexistia à Encarnação, como Deus que era (cf.
Hb 13,8).
• 2) Em Hb 1,10-12 é aplicado a Cristo o Sl 101(102), 26-
28, que louva a Javé e opõe a imutabilidade de Deus à caducidade da criatura.
• 3) Também merece a adoração dos anjos (1,6);
• 4) É como o resplendor que procede da glória do Pai.
• 5) É como a imagem que reproduz fielmente a substância
do Pai (1,3).
• b) Cristo é verdadeiro homem:
• 1) Embora fosse Filho de Deus, convinha que o Salvador
fosse em tudo e por tudo semelhante àqueles que haviam de ser salvos (2,10-15);
• 2) No episódio do horto das Oliveiras vemos que o Pai fez
de Jesus, através de Sua Paixão e morte, o Senhor da vida e da morte (cf. Hb 5,7-
10).
• 3) E, embora fosse Filho, Jesus aprendeu a obediência
pelo sofrimento. Há, portanto, uma correlação entre sofrer e amar, a qual pode ser
expressa conforme o trocadilho grego “páthos-máthos”, ou seja, “sofrimento é
escola”.
12. 4) Estrutura de Hb:
1,1-4,13
a palavra vétero-testamentária da promessa
sobre a sublimidade de Jesus Cristo
4,14-10,18
cumprimento e perfeição do sacerdócio
e do sacrifício de Jesus Cristo,
sumo sacerdote e mediador da nova aliança
10,19-13,17
a fidelidade na fé e a aceitação da dor
do povo de Deus no Novo Testamento
e o objeto da promessa