SlideShare uma empresa Scribd logo
Eram quatro da tarde e desde o
almoço Sofia ensaiava, no seu
quarto, a peça que ia apresentar nas
festas da cidade, no dia do Santo
António.
O sol, lá fora, resplandecia de calor
atravessando a janela e aumentando
o tom amarelo no quarto. Sobre a
cama branca descansavam alguns
papéis escritos, outros amachucados. O fato cor-de-
rosa do bruncotárcio estava pendurado nos pés da
cama.
A tarde soalheira e quente não alterava o furor de
Sofia.
De cabeça erguida, com a máscara da cabeça do brun-
cotárcio enfiada, Sofia citava as ultimas linhas do
texto da peça.
- Quem vem lá? És tu?
O silêncio da resposta foi interrompido pelo soar dos
sinos da bicicleta dos gelados do senhor Anacleto.
Se o tilintar dos sinos do carrinho de gelados tinham inter-
rompido a sua representação. A voz da Vitória que acabava
de entrar no seu quarto a despertou-a para o momento.
Desenfiou a mascara e abrindo o mealheiro afirmou à
amiga:
- Vamos aos gelados!
A rapidez das palavras foi tão rápida como a acção
de Sofia. Vitória atordoada, viu-se a correr pelas
escadas seguindo Sofia e saíram as duas de casa
em direcção à bicicleta dos gelados do senhor
Anacleto.
- Olá Sofia! Boa tarde Vitória! Cumprimentou o
senhor Anacleto sorridente.
A rua estava quase vazia, afastavam-se da bici-
cleta algumas pessoas, grandes e pequenas, já com o
seu gelado na mão.
- Então que sabor vão querer hoje? Perguntou o
senhor Anacleto procurando fechar a caixa onde
estavam os gelados guardados.
-Eu quero aquele que cheira a arroz doce! -
respondeu avidamente Sofia.
-E tu Vitória? - perguntou o senhor Anacleto
enquanto entregava o gelado de limão com canela a
Sofia.
-Eu? – questionou Vitória ainda indecisa,
resolvendo-se numa pergunta – O de morango
com pedacinhos de chocolate ainda há?
O senhor Anacleto acenou afirmativamente e
entregou o pedido a Vitória. As meninas
regressaram a casa deleitando-se
com os respectivos gelados
.
A conversa estava animada e o calor
parecia que tinha aumentado.
Sofia respondia a Vitória com um ar de
entendida sobre o mundo que elas tinham
inventado para a peça. – Sabes Vitória o
bruncotárcio tem que falar com a mãe
terra. Vitória parecia discordar de tal
opinião. Sentadas sob a guarida do
grande carvalho do jardim procuravam
assim a brisa fresca que fresca que
mansamente suspirava naquele dia
quente.
De voz resolvida Vitória decide encerrar
a discussão lembrando. – Ok está bem!
Mas temos que ensaiar!
Sofia cala-se e fica lívida com a afirmação
da amiga. Procura na memória onde tinha
deixado a cabeça do bruncotárcio.
Não foram necessárias palavras da
Sofia para a Vitória entender. – Foi
quando compramos os gelados – afir-
maram as duas alarmadas, rompendo numa
corrida que terminou no espaço onde
haviam comprado os gelados.
- Foi aqui! – queixava-se Sofia, olhando para todos os lados na expectativa de ver um
rasto, um sinal da cabeça do seu bruncotárcio.
- E agora?! Como vamos fazer a peça? – Exclamou Vitória ainda aturdida com a recente
noticia. Sofia olhou para a amiga com ar preocupado, recriminando-se do seu esquecimento.
– Que tola que eu sou?! Porque trouxe para a rua a cabeça do bruncotárcio?
Vitória agarrou na mão da amiga e confrontou-a. - Calma Sofia! Estávamos entusiasmadas
com o gelado, acontece! – e continuou -hoje o dia tem sido quente e não passaram muitas
pessoas. Não deve ter ido longe.
-Achas? - perguntou Sofia timidamente.
Cheia de confiança Vitória disse -começamos pela direita, batemos à porta de todos os
vizinhos, se necessário - e continuou com firmeza na voz – só temos que
acreditar que a vamos encontrar! – afirmou Vitória olhando nos
olhos de Sofia. Sofia sentiu a convicção da
amiga e acenou confirmando a
confiança.•
E partiram, na sua demanda, acreditando com esperança, de achar a cabeça
perdida.
Procuram a cabeça junto aos arbustos dos arredores, entre os carros, junto
ao lixo, nada!
Bateram na porta do vizinho da frente, do lado, e novamente nada. Ninguém
sequer sabia como era uma cabeça de um bruncotárcio.
O dia já estava a ficar com as cores do inicio da noite. As sombras que o
início da noite produz, despertavam medos nas duas meninas.
Mas mesmo assim, elas não se podiam deixar intimidar, ou não haveria peça
de teatro, e continuaram a sua busca.
A rua da casa de Sofia, terminava naquela casa, não podiam ir mais longe
.Os pais de Sofia e a mãe de Vitória, deviam de estar a dar pela ausência
delas. Mas tinham que tentar mais esta casa. Quando à porta tocaram, só o
barulho da campainha soara.
O olhar de esperança nas suas caras, esmorecia à medida que os minu-
tos passavam e nenhuma resposta tinham. Era uma casa de dois andares
com a porta de entrada centrada entre as janelas fechadas. No lado
direito do fim da rua da casa de Sofia, abria-se um arco que desaguava
num pátio de chão branco e uma casa, com portas e gelosias de madeira,
ladeadas por janelas emolduradas com flores. Ao centro um pequeno
jardim refrescava o espaço, coroado com uma árvore de ar imponente.
Rente ao chão diversos arbustos formavam um ramalhete, que encer-
rava o jardim, no pátio. Sofia e Vitória entraram a medo no espaço, as
sombras da noite aumentava num brusco corte de claridade emanado
pelos candeeiros de rua
Um arbusto no fundo do jardim estremecia, envolvido em sons estranhos. E qual
não foi o espanto quando um olho do broncutárcio, por entre as folhagem emergiu.
Os olhos das duas meninas arregalavam-se procurando a claridade, em busca de
uma explicação. Acoitadas no lado oposto do jardim, Vitória segredou a Sofia –
Ganhou vida!
- Estás doida! - Retorquiu Sofia – foi o pai João que o fez e ele não é o Gepeto!
Mas Vitória continuava a sua argumentação – Mas mexe…
Sofia explica - Se tivesse o corpo, concordava contigo, mas é só a cabeça – con-
cluiu elaborando um plano – vamos por trás e apanhamos o ladrão!
Vitória concordou com o plano de acção.
Executaram-no com cuidado para não serem vistas e a explicação para a aparente vida era um cão!
Furiosa, Vitória saltou do seu esconderijo em direcção ao bicho, afastando do focinho a cabeça do bruncotárcio e ralhando
com o cão, por ter feito tal acção.
O barulho da dissertação chamou a atenção de alguém. Uma das portas da casa do pátio abriu-se. Era a dona do cão.
-Box O que fizeste?
Box olhou para a dona, percebendo que tinha mexido onde não era chamado ,procurou desculpar-se encostando o seu dorso à
perna da dona.
A Dona percebeu a atitude do Box e pediu-lhe: - Vá, vai pedir desculpa às meninas.
Box calmamente aproximou-se de Sofia e Vitória e pedindo-lhes desculpas caninas, pregando uma lambidela na face de cada
um e termina tão caloroso arrependimento deitando-se em cima do pé de Vitória.
A dona do cão riu, e informou – Olha acho que ele gostou de ti.
Sofia olhou para a cabeça, rasgada do bruncotárcio preocupada - e agora?
Querido Diário:
Foi ontem o dia que fizemos o teatro. Pai Nuno e João estiveram lá desde o inicio até ao
fim. A vitória fez de mãe natureza e eu de Bruncotárcio. A mãe da Vitória também apareceu,
massó na parte da tarde. De manhã foi trabalhar.
Devido a eu ter perdido a cabeça do bruncotárcio, toda a vizinhança, quis saber o resultado
das nossas investigações daquele dia. Em resumo todos vieram ver a nossa peça de teatro.
Muitos perguntaram Um broncutárcio, o que é? Eu e a Vitória, passamos o dia a explicar
– é um animal que inventamos que destrói tudo que a natureza tem.
O box, o cão que encontrou a cabeça do bruncotárcio quando me esqueci dela, na rua, acabou
por participar na peça: foi o polícia. É que depois daquele dia ficamos amigos e como ele pas-
sava as tardes a ensaiar connosco, aqui em casa, a Vitória e eu achamos que ele devia par-
ticipar. E participou. Foi também por causa do Box que o broncutárcio passou a ter cabelo.
O pai João arranjou os estragos que o Box fez e colocou cabelo no boneco. Ficou bem , não
achas?
Aventuras de Sofia e Vitoria - Em busca da cabeça!

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

01.5. alison's diary [o diário da alison]
01.5. alison's diary [o diário da alison]01.5. alison's diary [o diário da alison]
01.5. alison's diary [o diário da alison]
Talles Lisboa
 
00. ali's pretty little lies [pequenas mentiras da ali]
00. ali's pretty little lies [pequenas mentiras da ali]00. ali's pretty little lies [pequenas mentiras da ali]
00. ali's pretty little lies [pequenas mentiras da ali]
Talles Lisboa
 
A Ira de Nasi - primeiro capítulo
A Ira de Nasi - primeiro capítuloA Ira de Nasi - primeiro capítulo
A Ira de Nasi - primeiro capítulo
Editora Belas-Letras
 
Livrinho 4ª J
Livrinho 4ª JLivrinho 4ª J
Livrinho 4ª J
EMEBJuca2
 
Livrinho 4ªF
Livrinho 4ªFLivrinho 4ªF
Livrinho 4ªF
EMEBJuca2
 
As duas irmãs inimigas
As duas irmãs inimigasAs duas irmãs inimigas
As duas irmãs inimigas
inovato
 
Uma aventura na terra dos direitos
Uma aventura na terra dos direitosUma aventura na terra dos direitos
Uma aventura na terra dos direitos
ermelinda mestre
 

Mais procurados (17)

Cap 12
Cap 12Cap 12
Cap 12
 
A culpa é toda do rato
A culpa é toda do ratoA culpa é toda do rato
A culpa é toda do rato
 
01.5. alison's diary [o diário da alison]
01.5. alison's diary [o diário da alison]01.5. alison's diary [o diário da alison]
01.5. alison's diary [o diário da alison]
 
Ae plv5 teste_avancado4
Ae plv5 teste_avancado4Ae plv5 teste_avancado4
Ae plv5 teste_avancado4
 
Livro Digital
Livro DigitalLivro Digital
Livro Digital
 
00. ali's pretty little lies [pequenas mentiras da ali]
00. ali's pretty little lies [pequenas mentiras da ali]00. ali's pretty little lies [pequenas mentiras da ali]
00. ali's pretty little lies [pequenas mentiras da ali]
 
A Ira de Nasi - primeiro capítulo
A Ira de Nasi - primeiro capítuloA Ira de Nasi - primeiro capítulo
A Ira de Nasi - primeiro capítulo
 
Contando Histórias
Contando HistóriasContando Histórias
Contando Histórias
 
Livrinho 4ª J
Livrinho 4ª JLivrinho 4ª J
Livrinho 4ª J
 
Contos assombracao
Contos assombracaoContos assombracao
Contos assombracao
 
15 pretty little liars tóxicas - (vol. 15) - sarah shepard
15 pretty little liars   tóxicas - (vol. 15) - sarah shepard15 pretty little liars   tóxicas - (vol. 15) - sarah shepard
15 pretty little liars tóxicas - (vol. 15) - sarah shepard
 
Livrinho 4ªF
Livrinho 4ªFLivrinho 4ªF
Livrinho 4ªF
 
Trabalhos 5ºk amor
Trabalhos 5ºk  amorTrabalhos 5ºk  amor
Trabalhos 5ºk amor
 
As duas irmãs inimigas
As duas irmãs inimigasAs duas irmãs inimigas
As duas irmãs inimigas
 
Capítulo 2 Encontre-me.
Capítulo 2   Encontre-me.Capítulo 2   Encontre-me.
Capítulo 2 Encontre-me.
 
14 pretty little liars mortais - (vol. 14) - sarah shepard
14 pretty little liars   mortais - (vol. 14) - sarah shepard14 pretty little liars   mortais - (vol. 14) - sarah shepard
14 pretty little liars mortais - (vol. 14) - sarah shepard
 
Uma aventura na terra dos direitos
Uma aventura na terra dos direitosUma aventura na terra dos direitos
Uma aventura na terra dos direitos
 

Semelhante a Aventuras de Sofia e Vitoria - Em busca da cabeça!

Conto sophia noite.natal_total
Conto sophia noite.natal_totalConto sophia noite.natal_total
Conto sophia noite.natal_total
Maria Ferreira
 
Conto sophia noite.natal_total
Conto sophia noite.natal_totalConto sophia noite.natal_total
Conto sophia noite.natal_total
maria54cunha
 
A noite de Natal-SophiaMelloBrynerAndress
A noite de Natal-SophiaMelloBrynerAndressA noite de Natal-SophiaMelloBrynerAndress
A noite de Natal-SophiaMelloBrynerAndress
bloggerfph
 
Conto sophia noite.natal_total
Conto sophia noite.natal_totalConto sophia noite.natal_total
Conto sophia noite.natal_total
maria54cunha
 
Rosa Branca e Rosa Vermelha
Rosa Branca e Rosa VermelhaRosa Branca e Rosa Vermelha
Rosa Branca e Rosa Vermelha
Isabel Martins
 
Rosa Branca e Rosa Vermelha
Rosa Branca e Rosa VermelhaRosa Branca e Rosa Vermelha
Rosa Branca e Rosa Vermelha
Isabel Martins
 
O_Picapau_Amarelo_-_Monteiro_Lobato.pdf
O_Picapau_Amarelo_-_Monteiro_Lobato.pdfO_Picapau_Amarelo_-_Monteiro_Lobato.pdf
O_Picapau_Amarelo_-_Monteiro_Lobato.pdf
João JB
 

Semelhante a Aventuras de Sofia e Vitoria - Em busca da cabeça! (20)

Vanessa Biffon - Ensaio Piá 2014
Vanessa Biffon - Ensaio Piá 2014Vanessa Biffon - Ensaio Piá 2014
Vanessa Biffon - Ensaio Piá 2014
 
Conto sophia noite.natal_total
Conto sophia noite.natal_totalConto sophia noite.natal_total
Conto sophia noite.natal_total
 
Conto sophia noite.natal_total
Conto sophia noite.natal_totalConto sophia noite.natal_total
Conto sophia noite.natal_total
 
A noite de Natal-SophiaMelloBrynerAndress
A noite de Natal-SophiaMelloBrynerAndressA noite de Natal-SophiaMelloBrynerAndress
A noite de Natal-SophiaMelloBrynerAndress
 
Conto sophia noite.natal_total
Conto sophia noite.natal_totalConto sophia noite.natal_total
Conto sophia noite.natal_total
 
A menina dos fósforos 1
A menina dos fósforos 1A menina dos fósforos 1
A menina dos fósforos 1
 
Familia batista
Familia batistaFamilia batista
Familia batista
 
Texto livre
Texto livreTexto livre
Texto livre
 
Rosa Branca e Rosa Vermelha
Rosa Branca e Rosa VermelhaRosa Branca e Rosa Vermelha
Rosa Branca e Rosa Vermelha
 
Rosa Branca e Rosa Vermelha
Rosa Branca e Rosa VermelhaRosa Branca e Rosa Vermelha
Rosa Branca e Rosa Vermelha
 
Apresentação marcelina 2
Apresentação marcelina 2Apresentação marcelina 2
Apresentação marcelina 2
 
O_Picapau_Amarelo_-_Monteiro_Lobato.pdf
O_Picapau_Amarelo_-_Monteiro_Lobato.pdfO_Picapau_Amarelo_-_Monteiro_Lobato.pdf
O_Picapau_Amarelo_-_Monteiro_Lobato.pdf
 
O_Picapau_Amarelo_-_Monteiro_Lobato.pdf
O_Picapau_Amarelo_-_Monteiro_Lobato.pdfO_Picapau_Amarelo_-_Monteiro_Lobato.pdf
O_Picapau_Amarelo_-_Monteiro_Lobato.pdf
 
Esau e jaco
Esau e jacoEsau e jaco
Esau e jaco
 
Uma aventura no_palacio_da_pena_ucxy
Uma aventura no_palacio_da_pena_ucxyUma aventura no_palacio_da_pena_ucxy
Uma aventura no_palacio_da_pena_ucxy
 
Lendas e causos
Lendas e causosLendas e causos
Lendas e causos
 
Mario de Andrade e Vestida de Preto
Mario de Andrade e Vestida de PretoMario de Andrade e Vestida de Preto
Mario de Andrade e Vestida de Preto
 
Gralha
GralhaGralha
Gralha
 
Conto da Gralha
Conto da GralhaConto da Gralha
Conto da Gralha
 
Livro digital folclore professora suse mendes
Livro digital folclore professora suse mendesLivro digital folclore professora suse mendes
Livro digital folclore professora suse mendes
 

Mais de byDoradesign

Mais de byDoradesign (9)

Medidor emocional
Medidor emocional Medidor emocional
Medidor emocional
 
Pinta&Usa fascículo fado
Pinta&Usa fascículo fado  Pinta&Usa fascículo fado
Pinta&Usa fascículo fado
 
Pinta&Usa no tema do amor
Pinta&Usa no tema do amorPinta&Usa no tema do amor
Pinta&Usa no tema do amor
 
Pinta&Usa fasciculo - Golfinho
Pinta&Usa   fasciculo - GolfinhoPinta&Usa   fasciculo - Golfinho
Pinta&Usa fasciculo - Golfinho
 
Pinta&Usa Fascículo - Fashionista
Pinta&Usa Fascículo - FashionistaPinta&Usa Fascículo - Fashionista
Pinta&Usa Fascículo - Fashionista
 
Pinta&Usa fascículo -hippie
Pinta&Usa   fascículo -hippiePinta&Usa   fascículo -hippie
Pinta&Usa fascículo -hippie
 
Escolhe as tuas cores sob o tema Aventureira da colecção pinta&usa
Escolhe as tuas cores sob o tema Aventureira da colecção pinta&usaEscolhe as tuas cores sob o tema Aventureira da colecção pinta&usa
Escolhe as tuas cores sob o tema Aventureira da colecção pinta&usa
 
No dia que Sofia e Vitória embrulham presentes
No dia que Sofia e Vitória embrulham presentesNo dia que Sofia e Vitória embrulham presentes
No dia que Sofia e Vitória embrulham presentes
 
Um baloiço especial - As Aventuras da Sofia e Vitória
Um baloiço especial - As Aventuras da Sofia e VitóriaUm baloiço especial - As Aventuras da Sofia e Vitória
Um baloiço especial - As Aventuras da Sofia e Vitória
 

Aventuras de Sofia e Vitoria - Em busca da cabeça!

  • 1.
  • 2. Eram quatro da tarde e desde o almoço Sofia ensaiava, no seu quarto, a peça que ia apresentar nas festas da cidade, no dia do Santo António. O sol, lá fora, resplandecia de calor atravessando a janela e aumentando o tom amarelo no quarto. Sobre a cama branca descansavam alguns papéis escritos, outros amachucados. O fato cor-de- rosa do bruncotárcio estava pendurado nos pés da cama.
  • 3. A tarde soalheira e quente não alterava o furor de Sofia. De cabeça erguida, com a máscara da cabeça do brun- cotárcio enfiada, Sofia citava as ultimas linhas do texto da peça. - Quem vem lá? És tu? O silêncio da resposta foi interrompido pelo soar dos sinos da bicicleta dos gelados do senhor Anacleto.
  • 4. Se o tilintar dos sinos do carrinho de gelados tinham inter- rompido a sua representação. A voz da Vitória que acabava de entrar no seu quarto a despertou-a para o momento. Desenfiou a mascara e abrindo o mealheiro afirmou à amiga: - Vamos aos gelados!
  • 5. A rapidez das palavras foi tão rápida como a acção de Sofia. Vitória atordoada, viu-se a correr pelas escadas seguindo Sofia e saíram as duas de casa em direcção à bicicleta dos gelados do senhor Anacleto.
  • 6. - Olá Sofia! Boa tarde Vitória! Cumprimentou o senhor Anacleto sorridente. A rua estava quase vazia, afastavam-se da bici- cleta algumas pessoas, grandes e pequenas, já com o seu gelado na mão. - Então que sabor vão querer hoje? Perguntou o senhor Anacleto procurando fechar a caixa onde estavam os gelados guardados. -Eu quero aquele que cheira a arroz doce! - respondeu avidamente Sofia. -E tu Vitória? - perguntou o senhor Anacleto enquanto entregava o gelado de limão com canela a Sofia. -Eu? – questionou Vitória ainda indecisa, resolvendo-se numa pergunta – O de morango com pedacinhos de chocolate ainda há? O senhor Anacleto acenou afirmativamente e entregou o pedido a Vitória. As meninas regressaram a casa deleitando-se com os respectivos gelados .
  • 7. A conversa estava animada e o calor parecia que tinha aumentado. Sofia respondia a Vitória com um ar de entendida sobre o mundo que elas tinham inventado para a peça. – Sabes Vitória o bruncotárcio tem que falar com a mãe terra. Vitória parecia discordar de tal opinião. Sentadas sob a guarida do grande carvalho do jardim procuravam assim a brisa fresca que fresca que mansamente suspirava naquele dia quente. De voz resolvida Vitória decide encerrar a discussão lembrando. – Ok está bem! Mas temos que ensaiar! Sofia cala-se e fica lívida com a afirmação da amiga. Procura na memória onde tinha deixado a cabeça do bruncotárcio. Não foram necessárias palavras da Sofia para a Vitória entender. – Foi quando compramos os gelados – afir- maram as duas alarmadas, rompendo numa corrida que terminou no espaço onde haviam comprado os gelados.
  • 8. - Foi aqui! – queixava-se Sofia, olhando para todos os lados na expectativa de ver um rasto, um sinal da cabeça do seu bruncotárcio. - E agora?! Como vamos fazer a peça? – Exclamou Vitória ainda aturdida com a recente noticia. Sofia olhou para a amiga com ar preocupado, recriminando-se do seu esquecimento. – Que tola que eu sou?! Porque trouxe para a rua a cabeça do bruncotárcio? Vitória agarrou na mão da amiga e confrontou-a. - Calma Sofia! Estávamos entusiasmadas com o gelado, acontece! – e continuou -hoje o dia tem sido quente e não passaram muitas pessoas. Não deve ter ido longe. -Achas? - perguntou Sofia timidamente. Cheia de confiança Vitória disse -começamos pela direita, batemos à porta de todos os vizinhos, se necessário - e continuou com firmeza na voz – só temos que acreditar que a vamos encontrar! – afirmou Vitória olhando nos olhos de Sofia. Sofia sentiu a convicção da amiga e acenou confirmando a confiança.•
  • 9. E partiram, na sua demanda, acreditando com esperança, de achar a cabeça perdida. Procuram a cabeça junto aos arbustos dos arredores, entre os carros, junto ao lixo, nada! Bateram na porta do vizinho da frente, do lado, e novamente nada. Ninguém sequer sabia como era uma cabeça de um bruncotárcio. O dia já estava a ficar com as cores do inicio da noite. As sombras que o início da noite produz, despertavam medos nas duas meninas. Mas mesmo assim, elas não se podiam deixar intimidar, ou não haveria peça de teatro, e continuaram a sua busca. A rua da casa de Sofia, terminava naquela casa, não podiam ir mais longe .Os pais de Sofia e a mãe de Vitória, deviam de estar a dar pela ausência delas. Mas tinham que tentar mais esta casa. Quando à porta tocaram, só o barulho da campainha soara.
  • 10. O olhar de esperança nas suas caras, esmorecia à medida que os minu- tos passavam e nenhuma resposta tinham. Era uma casa de dois andares com a porta de entrada centrada entre as janelas fechadas. No lado direito do fim da rua da casa de Sofia, abria-se um arco que desaguava num pátio de chão branco e uma casa, com portas e gelosias de madeira, ladeadas por janelas emolduradas com flores. Ao centro um pequeno jardim refrescava o espaço, coroado com uma árvore de ar imponente. Rente ao chão diversos arbustos formavam um ramalhete, que encer- rava o jardim, no pátio. Sofia e Vitória entraram a medo no espaço, as sombras da noite aumentava num brusco corte de claridade emanado pelos candeeiros de rua
  • 11. Um arbusto no fundo do jardim estremecia, envolvido em sons estranhos. E qual não foi o espanto quando um olho do broncutárcio, por entre as folhagem emergiu. Os olhos das duas meninas arregalavam-se procurando a claridade, em busca de uma explicação. Acoitadas no lado oposto do jardim, Vitória segredou a Sofia – Ganhou vida! - Estás doida! - Retorquiu Sofia – foi o pai João que o fez e ele não é o Gepeto! Mas Vitória continuava a sua argumentação – Mas mexe… Sofia explica - Se tivesse o corpo, concordava contigo, mas é só a cabeça – con- cluiu elaborando um plano – vamos por trás e apanhamos o ladrão! Vitória concordou com o plano de acção.
  • 12. Executaram-no com cuidado para não serem vistas e a explicação para a aparente vida era um cão! Furiosa, Vitória saltou do seu esconderijo em direcção ao bicho, afastando do focinho a cabeça do bruncotárcio e ralhando com o cão, por ter feito tal acção. O barulho da dissertação chamou a atenção de alguém. Uma das portas da casa do pátio abriu-se. Era a dona do cão. -Box O que fizeste? Box olhou para a dona, percebendo que tinha mexido onde não era chamado ,procurou desculpar-se encostando o seu dorso à perna da dona. A Dona percebeu a atitude do Box e pediu-lhe: - Vá, vai pedir desculpa às meninas. Box calmamente aproximou-se de Sofia e Vitória e pedindo-lhes desculpas caninas, pregando uma lambidela na face de cada um e termina tão caloroso arrependimento deitando-se em cima do pé de Vitória. A dona do cão riu, e informou – Olha acho que ele gostou de ti. Sofia olhou para a cabeça, rasgada do bruncotárcio preocupada - e agora?
  • 13. Querido Diário: Foi ontem o dia que fizemos o teatro. Pai Nuno e João estiveram lá desde o inicio até ao fim. A vitória fez de mãe natureza e eu de Bruncotárcio. A mãe da Vitória também apareceu, massó na parte da tarde. De manhã foi trabalhar. Devido a eu ter perdido a cabeça do bruncotárcio, toda a vizinhança, quis saber o resultado das nossas investigações daquele dia. Em resumo todos vieram ver a nossa peça de teatro. Muitos perguntaram Um broncutárcio, o que é? Eu e a Vitória, passamos o dia a explicar – é um animal que inventamos que destrói tudo que a natureza tem. O box, o cão que encontrou a cabeça do bruncotárcio quando me esqueci dela, na rua, acabou por participar na peça: foi o polícia. É que depois daquele dia ficamos amigos e como ele pas- sava as tardes a ensaiar connosco, aqui em casa, a Vitória e eu achamos que ele devia par- ticipar. E participou. Foi também por causa do Box que o broncutárcio passou a ter cabelo. O pai João arranjou os estragos que o Box fez e colocou cabelo no boneco. Ficou bem , não achas?