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De: Daniel P. Fontes
Em: 1997 e 1998
Tipo: Livro de Poemas
Nome: As Intrigas da Alma Humana



Os Trilhos do Abismo - 29/09/97

O caminho iluminado outrora pelo Sol
Enegrece-se ao contato com meus olhos
Para que minha visão seja de total embaraço
Diante de destino tão estranho
E as garras da vida se aprofundam em minha carne
E meus gemidos não podem ser ouvidos
Eu estou preso neste abismo
Que na verdade esta em mim mesmo
E como uma locomotiva desgovernada
Eu corro por seus trilhos, ensandecido
Para me chocar contra a crista rochosa logo abaixo
E abandonar a todos, naturalmente
E abandonar-me a mim mesmo
Em meus medos e credos comuns
E meus dedos a tatear o gelado estranho mundo
Onde até mesmo a dor é algo a se gostar
Por que pior é não ter o que sentir
E gosto mesmo é de desabafar sem ninguém me ouvir
Por que assim, e só assim
Poderei me livrar dos pecados me infectam
E buscar a grande bênção que almejo
E cortar-me não me ajudará agora
E nem daqui a anos
Por que sou de pedra, e mais , sou de ferro
Como os grilhões que sustentam estes trilhos
Trilhos pelos quais me dirijo agora



A Mescla Entre a Dor e o Amor - 29/09/97

Não me peças para compreender
Por que isso é dor
E não vou mais suporta-la
Não me importo se você chorar
Por que me basta a dúvida
Para deixar-te ir embora
E as lágrimas não são mais falsas
E o adeus também não é
E não me importa se é dor ou se é amor
Por que ambos são irmãos
A nos dizer suas palavras de praxe
E não é mais tão simples quanto ontem
Quando eu dizia que sangrava por dentro
Por que também era verdade
Como meu Eu a te querer
Mas não vou mais me prejudicar
Nem ao menos por um instante
Por que não mereces
Nem meu amor e nem minha dor
De mim não mereces mais nada
Somente meu repúdio e meu ódio



As Dunas da Misericórdia - 24/09/97

Bate em teu peito a forte lança do desejo
Perfura a tua carne sem te sangrar
Para que a misericórdia eterna pulse em seu coração
O arder das chamas da purificação
Irão te adornar a alma como jóias adornam o teu corpo
E te permitirão apreciar os confins do Universo
Durma. E descanse seus braços sob o macio de sua cama
Repouse sua cabeça em teus ideais mais profundos
E não temas mais as coisas que te assustam
Por que és a verdade que somente você conhece
E mesmo que tua voz se cale
Será possível ouvir-te por todos os cantos
Por que és a resposta para todos os rancores
Para todas as tristezas, para todo o mal
És o bálsamo cristalizado das eras eternas
E também é a delicadeza do azul do céu
Que a brilhar juntamente com o Sol
É o fixo e permanente final do dia
Como uma Fênix, perseverante
Como um bravo, poderoso
Como um humano, um fraco
Levanta-te, e abrigue-me em tua alma
Para que as dunas da misericórdia parem de se mover
Lentamente, eternamente
E seja a força que tantos desejam ter
O poder que todos aguardam ansiosos
A mesma dor que arde em nossos corações
Como estrelas na longínqua Plêiades
Algo insólito, distante e belo
Carregado de magia e beleza
Aguardando-nos em nossos sonhos


Medo - 29/09/97

...
As palavras me metem medo
...
As pessoas me dão medo
...
Eu sinto medo de mim mesmo
Por que não existe redenção sem sofrimento
...
E nunca imaginei-me em desgraças
Somente e tristezas e melancolias opacas
...
Só me perdoem por deixar-me lhes dizer
Que tenho muito medo de viver
...
Só me perdoem por ter tanto medo
...
Medo...



O Cintilar dos Pedaços da Minha Alma - 04/10/97

Os seres da agonia pousaram sobre minha ira
E meu peito em chamas se acalentou solitariamente
Eu me deito em meu chão imundo para chorar escondido
Diante dos demais que não mais me dão atenção
As lágrimas se secam por si só
Mas minha alma esta estilhaçada
E só vou cola-la amanhã de manhã
Por que agora eu quero sofrer só
Portanto me deixe em paz, aqui sozinho
A não ser que queiram me mostrar mais dor
Para que eu possa me deixar ir embora

E os pedaços da minha alma a brilharem em sua dor
A lembrar-lhes de suas próprias alegrias passadas
E seus sorrisos brancos contra meus olhos negros
E minhas trêmulas tentativas, esquivadas com gargalhadas
E agora virão vocês abraçar meu corpo vazio
Por que não mais estou ali naquela casca
Estava lá quando me deixaram só
Quando ansiava por carinho e companhia
E agora tudo o que tenho é dor
Por que vocês pisaram sobre meus fragmentos
Com sua própria indiferença disfarçada em esquecimento
Pois agora se dêem as mãos adornadas com alianças falsas
E sorriam para minha morte social
Por que fui esquecido por vocês, de quem tanto precisava
E ainda mais, de você, a quem tanto amava

Os pedaços se racharam em mais partes
E estas se trincaram até o pó
E é para este que retornará a minha alma estilhaçada
Para o recanto dos esquecidos e não amados
Para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de amar
Para o limbo dos desgraçados e famintos
De sentimentos puros e limpos como este
Não Preciso de Mais Ninguém - 05/10/97
                    I
Eu era como vós, sedento por afetos
Ansioso por carinhos e palavras de conforto
Mas não sou mais um corpo com alma
Cansado de sofrer pelos desejos insatisfeitos
E pela agonia da espera
Abdico-me da alegria, do amor e da amizade
E mesmo vendo que a vida não mais terá sentido
Eu continuo sem me questionar
Por que nunca houve algo que fizesse valer a pena
E agora continua a não haver
E me diga se é errado não ter mais esperanças
E te mostrarei as dores que ela me causou
As esperas e lagrimas, as negações e derrotas
Não, não mais lutarei pelo amor que tanto cacei
Por que desta guerra eu já sai derrotado
E só me basta agora esperar pela morte que em breve virá
E neste meio tempo simplesmente agüentar
E ir perdendo todos os meus escrúpulos e valores
Um por um
E quando eu chorar a noite por ter feito a escolha errada
Tentarei me lembrar de algo
Que é bem melhor do que chorar por uma mulher que me despreza

                      II

Se lhe choca o fato de que não mais preciso de gente
Não leia mais estas palavras aflitas e desesperadas
Por que não preciso nem mais de você, que as lê
Só me basta o fato de sofrer
Por que é a única coisa que possuo
E não me venha com pena ou com cuidados
Por que sou um bastardo desalmado
E dificilmente serei normal mais uma vez
Tudo por que nunca tive o que todos tem
E não chore ao pensar que a culpa pode ser tua
Por que é a verdade, e nada pode mudar isso
Eu só queria o toque em meu rosto
E uma mão para poder segurar durante uma caminhada
Mas não tive o prazer de ter alguém ao meu lado
E nem por perto quando precisava
Portanto vá-se juntamente com os outros
E me deixe aqui sozinho, por que sempre foi assim
E não existe nada que possa mudar essa situação
A não ser o calor das palavras sinceras
Que brotariam de um coração realmente apaixonado
E basta para mim ver-me lágrimas de sangue por minha face
Por que não mais sentirei pena de mim
Assim como ninguém sentiu
Tédio Monótono - 08/12/97

Tudo exatamente como antes
Olhos úmidos, mãos trêmulas
Soluços angustiantes e solidão a mil
Barcos ao horizonte, esparsos
E eu aqui parado, na praia de areias negras
Onde pássaros pousarão jamais
Triste fim és o meu
Passar o eterno a ter tédio
E a monotonia seria minha vida
A não ser pelas vivas golfadas de ar fresco
Que logo se viciam e se apodrecem
Sou o arauto da monotonia em movimento
As ondas do pecado a bater em rochas frias
E eu tão quente a conter-me no seco
Não quero me molhar e por isso secarei
E por insólitas inquietudes me atiro ao mar
Para quebrar a monótono tédio
Mas a água é fria por demais
E não me admirar eu afundar
Por que existem leis que não podemos violentar



Aurora de um ser humano - 22/12/97

Garrafas frias, garotas quentes
Noites negras sem luz alguma
Tormento puro em nossas vidas
Não ha saída desta agonia
Os carros andam amontoados
E os ocupantes gritam alucinados
É a cidade mais infiel que antes
As pessoas não se descontraem
Sem ser pecado ou desgraça
As mulheres são prostitutas
E os homens são viciados
Não ha saída, não ha desculpas
Não existem meios, e nem visões
Só existe dor, só existe medo
E só temos a nós mesmos
E ninguém mais para ajudar

Foi-se o dia, e veio a noite
Não temos mais no que sonhar
Por que todos os sonhos já foram sonhados
Por todos os lados, e por todos nós
E não existem desculpas
Só preconceitos
E não temos desejos
Só temos indiferença
E a dor é tão profunda
E o medo é tão vasto
As fronteiras são tão largas
E as rédeas são tão curtas
Que me pergunto aonde irei chegar
Se não aqui mesmo onde estou
Sem progresso e sem perdão
Sem pedidos e sem paixão

Não me diga em que acreditar
Por que acredito nestas palavras
E nada mais poderá apaga-las
Nem mesmo as mais belas preces
Por que são fortes como o aço
E são afiadas como espadas
Forjadas nas fornalhas do ódio
Esfriadas nas águas do medo
E afiadas nas pedras da descrença
E prontas a cortar tudo o que se oponha a elas
Por que estas palavras tem sede de sangue
E banha-las nesta seiva é seu dever



Lago onde os Anjos Pescavam Estrelas - 31/12/97

Atrás das montanhas negras
Próximo ao negrume do fim das eras
Na morada dos guardiões das trevas
É onde repousa o Lago da Galáxia
O Lago onde os Anjos Pescavam Estrelas
E onde nadavam coisas inacreditáveis
Eram poemas meticulosos
Eram criaturas alucinantes
E poderes inacreditáveis
Onde um homem provou o infinito
E na verdade não era nada
A não ser uma gota ao vazio
E como nenhum homem mais conseguiu
Ele olhou os anjos face a face
E foi pescado como uma estrela
E posto ao lado daquelas mais especiais

Era um mundo aonde planetas eram átomos
E onde o Universo era um corpo
E um humano nada era
Some somente matéria escura
E houve controvérsias sobre a lei do espaço tempo
Uma vez que o ciclo nunca se acabaria
E foi aí que os anjos compreenderam
Que acaram a lei do infinito
E que eles mesmos nada eram
Pescadores de estrelas em um lago negro
Eram matéria escura também
Em um átomo de outro alguém
E a loucura lhes dominou
E compreender é perigoso
Uma vez que por maior que seja
Nada és a não ser o nada que integra a tudo
E delirantes com o poder da sabedoria
Os anjos continuam sua pescaria
Em busca de algo que não mais importa
Por que também se tratava de nada


Os Lírios da Cidade - 31/12/97

Não sou como as ondas do mar a bater nas pedras
Sou como os Lírios da Cidade, fracos e debilitados
Não sou como o antigo jovem que conhecias
Sou o Jovem velho que conhece agora
Sem poder para crer-te em mim as dores da morte
E não quero assustar ao outros com meus pensamentos
Por que eu sou fogo dor e ódio
Por não ter o que todos tem
Eu sou medo choro e solidão
Como as vozes que não param de gritar
E pedir que eu diga que não sou mais o mesmo
Pois sou como os lírios que a tanto já falei
E dai-me a pena para ter o que dizer
Uma vez que não sou mais o líder das minhas razões
Uma lágrima dela iria me salvar a alma
Mas não és capaz de chorar por mim
Por que eu não mereço ser salvo
E talvez eu não o queira
Pois ser ruim é fácil e agrada muito




Os Tristes Mendigos - 05/01/98

Era tarde nas noites frias
Onde lágrimas escarlates escorriam sobre a pele
Senhores da pobreza luxuosa do espírito
Pisavam sobre a riqueza da pobreza material
Era motivo para tanta alienação
E nem eram os bastardos abandonados pelas mães
Eram os velhos que dormiam sem seu teto antigo
E eram eles os que no fim mais sofriam
Por que a morte era fria como a noite que passavam
E seus dedos nada mais sentiam
Somente dor e fome bruta, sem falar na hipocrisia
Eram todos sós em seus cantos sujos
Em suas tralhas e suas roupas imundas
E seu cheiro forte era claro como o dia
Mas as noites eram o seu único lar
Jamais roubar, jamais pedir, somente lutar
E batalhar junto aos outros um prato de comida
Somente o coma e o sono os satisfaziam
Sem ter o que dizer eles se calam por si sós
E caminham, lado a lado, rumo ao ontem
E uma ponte lhes será o abrigo da noite
E ao amanhecer perceberam que mais um se foi
E que agora contam todos menos o que a morte tomou
Não ha mais choro e nem lamentação
Somente olhares de preocupação
O corpo inerte, morto e duro é ali deixado
Sem enterro e sem velas, e sem uma oração
Abandonado como um trapo ou como um jornal
Depois de dias é enterrado como indigente
Mas era gente aquele corpo a apodrecer



O Vácuo Intelectual - 05/01/98

Era o povo um fraco oponente para a vulgaridade
A soberania da beleza foi tomada pela breguice
Hoje as pessoas assistem novelas
E não lêem mais bons livros
Vão até boates para se embebedar
E não são capazes de ir até o Teatro
O povo esta condenado ao limbo das eras
Ao esquecimento de por que estamos aqui
E do por que é que fazemos tantas coisas
Estamos parados na corrida da benfeitoria
Estamos engasgados em nossas próprias histórias
Somos vítimas da onda que nos importam
Somos bardos sem trovas para cantar
Somos ilhados sem perspectivas de melhoria
E o povo continua a se chafurdar mais a cada instante
A cada minuto se tornando mais e mais lixo
Ao ponto de atingir o vácuo intelectual
Onde nada se sabe e tudo se aceita
Músicas artificiais, interpretações sem emoção
Poesias sem sinceridade, amor sem paixão
É uma era negra para o bom gosto
Sem dúvida, um tempo de regressão
Onde homens são privados de pensar
E onde o povo não sabe mais opinar
Pois somos um povo esquecido em nossas satisfações momentâneas
E esquecemos que nossos futuros se enegrecem a cada passo dado
E que a cada metro a volta será mais dolorosa
E que chegará o dia que nossas mentes esquecerão do que são
E lá será o tão maldito vácuo que hoje apreciamos tanto
Cinco Dedos e Uma Palma - 05/01/98

Tenho minha mão
5 dedos e uma palma
A segurar o teu conjunto idem
A acariciar teu rosto
Teus dois olhos, um nariz e uma boca
E meus mesmos 5 dedos e uma palma
A trabalhar fortemente para te alegrar
E também a agilmente se balançar
Para pegar e agarrar o teu corpo
O teu conjunto inteiro:
Uma cabeça, dois braços, duas pernas e um tronco




Fogo - 05/01/98

Do Inferno o demo assopra maldades
E com o fogo que lhe queima eternamente
E com o fogo que lhe arde fortemente
Ele sopra dezenas de almas destruídas
E gargalha lava derretida
O fogo que queima o corpo
Os espinhos lhe cortam a carne
E ele ainda assim gargalha sangue terrestre
O fogo que queima até a água
A arder no inferno as chamas dos pecados
E na terra a arder os pecados da humanidade
Por que o fogo queima e pune pela eternidade
E não existem coisas que suportem seu calor
Por que o fogo a tudo destrói com voracidade
E é por isso que ele arde o inferno
Para destruir as almas impuras
E o medo é tamanho que o fogo aumenta sua labareda
E arde cada vez mais intenso
A ponto de derreter até mesmo nossos pensamentos
A luz e todas as demais coisas do Universo
O fogo desgraça a tudo o que vê a sua frente
Mata e queima até se matar por si só
Sua tarefa é exterminar a todo que possa
E ele pode exterminar tudo



O Poder do Pecado - 08/01/98

Os carros entravados nas ruas lotadas de pessoas
Mendigos pedindo dinheiro
Prostitutas oferecendo amor
E os pecados servem como pontos positivos
A ganância é vista com bons olhos
O individualismo como status
E o dinheiro como Deus
Por isso os pobres são pecadores e mundanos
Por que não tem acesso a este mesmo Deus
E continuando a caminhar
As ruas se escurecem ante o símbolo do pecado
Um grande banco esconde o Sol
E mesmo assim estamos presos no trânsito
Com os vidros fechados e o ar condicionado ligado
Rezando para não sermos assaltados
A fumaça não entra e o ar não circula
E estamos presos na selva que criamos
Com cheiradores de cola e coisas mais
Bolsas de água não retiram sua dor
Por que sente dor em seu espírito
Pelo poder do pecado que invade a todos
Onde quer que se vá
Fale-se lá com quem
Estamos concretizados com cimento
E erguidos com escoras
Somos prédios implodindo aos poucos
Somos o templo deste deus pagão
E a cidade continua aparentemente quadro a quadro
E nós continuamos parados no meio do nada
O vento corre rápido e o sol se põe em segundos
Homens de olham com ódio e é dia novamente
E estamos presos dentro do pecado
Ainda dentro dele



Os Gemidos da Vida - 26/01/98

Não se sinta mal ao ver-te chulo em teu reflexo
Por que é você a se ver de verdade
Não somos belos e tão pouco humildes
Somos malditos que se escoram dentro da dor
E os gemidos são tão fortes que não se pode ouvir
E as dores tão intensas que não são mais sentidas
Embriagados em nossas agonizantes vidas
Sonhamos com os sonhos de outras pessoas

Você não é capaz de sonhar
Não é capaz de criar o seu mundo
Não pode lutar pelos seus ideais
Por que não os tem
E não nos olhe como pagãos, uma vez que pagãos são vocês
Que não sabem acreditar no que é tão real
Estamos todos gemendo de frio ou de fome
Ou ainda, gememos por um pouco de amor
E também por conforto e paz

Julga-se o dono de tua vida
Se diz o eleito de teu próprio reino
Se intitula o líder de seu individualismo
Se proclama senhor do teu próprio destino
Pois não és nem a sombra do grande que quer
Não é centelha e nem fração do que pensas ser
Não é nada a não ser um feto abortado da vida
A gemer cada vez mais baixo até se calar




A Falha dos Seres Inferiores - 26/01/98

Somos falhos, todos falhos
Sem virtudes, sem afetos
Somos falhos
Como ratos rastejamos
E como Homens nos matamos
Somos falhos
Como a morte nos tememos
Como espelhos nos revemos
Somos falhos
Temos medo das maldades
Mas cometemos crueldades
Somos falhos
Todos impuros em seu sangue
Como a vida baixa lá dos mangues
Somos falhos
Fazemos guerras, e lutamos
Fazemos a paz, e sonhamos
Somos falhos
Temos ódio em nossas vidas
Temos medo em nossas alegrias
Somos falhos
Temos falhas, muitas estranhas
Somos maus até as entranhas
Somos falhos
Temos força, temos garra
E estamos presos a fracas amarras
Somos falhos
Estamos morrendo, chegando ao fim
Todos tem medo, tenho medo de mim
Somos falhos
Por que falhas são humanas
E não somos mais humanos
E esta é nossa maior falha
Não poder falhar



A Derrota - 05/02/98

O cansaço em sua face emudecida
O corpo escasso em atitude decente
Os olhos estáticos a olhar para o nada
E a boca paralisada, imprecisa e calada
As mãos trêmulas, o sabor amargo
A escuridão dos dias e o fim do bem estar
Derrotado pelo próprio fracasso
Era esta a verdade escondida
O homem se afasta com medo das palavras
Se isola para agonizar em sua dor solitária
A Derrota
Difícil de se ter, amaldiçoado estado
Perdedor de seus delírios, de seus planos
Derrotado, abandonado, baixo , pequeno
O mundo se encolhe em seu estômago
Um calafrio lhe percorre a espinha
E acreditar no fato lhe demora algum tempo
Até constatar que aquilo pelo que lutou
Lhe levou a mais uma maldita derrota
O abalo é inevitável, a proeza é um martírio
Por que não foste capaz de realizar o que pretendias
Falhou, não conseguiu, não serviu
É um súbito destino o de se perder para si mesmo
Por que só podemos culpar a nós mesmos
O destino estava certo
Sua perícia estava errada
E a incerteza da vitória lhe causa pavor



As Vozes do Amanhecer - 09/02/98

O sono estremece tuas forças
Escancarar os olhos é martírio sofrido
Caminhar é dolorido, falar é uma tortura
Seu interior queria sono
Uma cama macia, um corpo a que se abraçar
Um cabelo com que brincar
Um lábio para tocar com o teu
Uma mão para segurar
Na escuridão aconchegante do descanso
Teu corpo trucidado se arrasta ao banheiro
Tua barba é cortada, seus dentes são escovados
Seu rosto é molhado e teu corpo é lavado
Forra-se de comida leve e bebe teu líquido negro quente
Entra em teu monstro de poluição
Arranca a milhão para o lugar impuro
Telefona, fala, escuta, desliga
Chora, sorri, faz, lhe fazem
Se vai, para casa, desmantelar-se uma vez mais
Voltar para o nicho esquecido o dia inteiro
Lembrança silenciada pelas vozes da manhã
Não existem morais e nem mesmo éticas
Só existe o sono e a vontade de não se despertar do sonho
O sonho
Néctar da alma, fada das felicidades, a esperança dos mortos
O doce da primavera esquecida de nossa juventude
Somos frutas velhas e murchas, azedas, sem sementes



Restos - 11/02/98

Sois vós os mestres que governam
Somos nós os malditos a se estrepar
Fadados ao frio ardente do anoitecer
Ao eterno desgosto, à agonia gritante

Me pergunto se lembras de mim
Questiono se seria capaz de recordar
Foram dias inteiros, meses completos
Que para você foram apenas restos

Tomei-te em minha alma ao fim do entardecer
E a instalei em meu coração
Você não o aceitou naquela noite
Por que achava que era resto

Assim como minhas mãos para lhe segurar
E meu corpo para se apoiar
Você achava que eu não passava de resto
Sendo que o resto era você

Dei-me a ti em meu passado
Dou-te o resto de minhas lembranças neste presente
Pois no futuro não pretendo me recordar
De nada que me faça chorar

Por que de restos todos estamos fartos
Mas só existem restos e nada inteiro
Portanto não temos o que escolher
Só temos que aceitar

O resto de nós vai embora sem perceber
Que verdadeiramente não existe porem
Nem mesmo meio termo
Só temos a nós mesmos, e mesmo assim, somos resto



Significados - 11/02/98

Sou um garoto a brincar em meio ao nada
Só tenho minhas mãos a cavoucar a terra úmida
As unhas estão sujas, e não quero lavar-las
Agora temos um buraco
O buraco foi feito com minhas mãos
O buraco é meu por que eu o fiz
Carros se desviarão, água ficará presa
Pessoas virão tampa-lo e outros dirão que é natural
Mas é meu buraco
E no mesmo caso construo uma arma
A arma é minha, pois eu a construí
Balas cuspirão de seu cano
E seus mecanismos estarão muito bem lubrificados
Ela um dia matará alguma coisa
E só então cumprirá sua missão
Mas sou apenas uma criança
Não tenho molas e tão pouco pólvora
Então eu me levanto e vou embora
Caminho até minha casa
Seio onde está a minha procurada
A pego e a aprecio
Era bela e perfeita, seu peso era grande
Cabo de marfim, tambor roliço
O estrondo, um trovão da morte
Ela cumpre sua missão
Pois a escuridão que vejo é total
E meu sangue, espalhado pela cama de meus pais
Se coagula e se endurece
A bala se crava na parede
E minha vida se esvai com meu próprio medo



O Desejo - 12/02/98

Quero sentir a dor de que tanto falam
Da agonia e da desgraça que praguejam
Quero chorar de alegria e sofrer com uma perda
Quero abraçar um corpo morto de alguém que me amava
Quero sucumbir diante do inevitável
E de tudo contra o que gostaria de lutar
Quero abandonar uma oportunidade
Quero me ferir diante de você
Gostaria de correr para minha morte
E de ver lágrimas escaparem-me da face
Quero destruir alguma coisa que eu construí
Queria brigar com alguém que prezo
E ignorar alguém que me deseje
Quero dizer adeus a alguém
Quero viajar para outra cidade
Gostaria realmente de voar para o espaço
E nunca mais voltar
Queria saber como se sente outra pessoa
Queria me olhar no espelho sem ter que me olhar
Seria interessante ter uma arma para disparar
Ou ainda um alvo a que acertar
Meu desejo é banir-me de tudo o que preso
Por que não preso nada
Gostaria de perder coisas que não tenho
Por que se as perdesse eu conseqüentemente as teria tido
Queria sofrer
Por que se sofrer significa que um dia tive prazer
Quero abandonar alguém
Para que eu saiba que já tive quem a mim amasse
E meu desejo é rasgar meu corpo em pedaços
E minha vida e átomos
Para que eu possa saber que nunca os tive realmente
Não são meus, pois a matéria é de Deus
E se fossemos a matéria
Em sete anos seriamos outro alguém



Das Estrelas de Orion - 12/02/98

Diamantes cravados na extensa cortina da noite
Estrelas belas brilham na escuridão cósmica
Distantes como o amor que almejo
Vindas das Estrelas de Orion
Luzes eternas, de movimentação estranha
A esperança de que enfim exista algo a que esperar
O brilho continua forte
E ao amanhecer elas permanecerão por lá
Até que a noite as revele novamente
Como meus desejos e minhas dores
As nuvens podem esconder-lhe o brilho
Mas eternas são as luzes
Bombas nucleares a queimar seu combustível
Cercadas de vácuo, despejando radiação
Como despejamos sangue em nosso chão
Línguas de fogo quântico lambem o frio espacial
Como a tua lambe minha boca fria e especial
Reações pulsantes de contração e expansão
Como meu corpo em teu interior



Nos Dias em que Desejava Minha Morte - 16/02/98

Era uma época bárbara em que pessoas se digladiavam
As pessoas eram meus sentimentos
E havia sangue espalhado pelo solo
Lágrimas sobre meu rosto
Era entardecer eterno, sem previsão de amanhã
Crepúsculo incessante, desespero e depressão
Não havia a quem recorrer, não haviam conhecidos
Tudo o que tinha era minha batalha interna
Não havia meios de se fugir, tive que me confrontar
E naquele instante desejei minha morte
Apareceu alguém com olhos brilhantes e rosto angelical
Mas ela se foi sem me dar a chance que deixei escapar
Me aprofundei em meu interior, mergulhei em minha alma
E novamente me quis ver morto
Era doentio acalentar-me em esperanças tolas
Sabia bem que o Sol não nasceria para mim
Mas a tarde caiu e enfim veio a noite
As estrelas lá do alto me olhavam furiosas
E temi pelo que me desejassem
Veio então um aglomerado de nuvens e as escondeu de mim
Estava sozinho naquele mesmo solo ensangüentado
O frio penetrava em meus ossos
E eu pensava que meu sofrimento acabaria
Mas outros anjos costumam aparecer para me abastecer
Mais uma vez
Com a tola esperança de que o Sol nascerá ao leste de minha vida
Tolos são os anjos que a mim se dirigem
Pois não tenho mais uma alma a ser salva
Tudo o que tenho é minha tristeza e solidão
E a morte, desejo insano de um jovem abandonado
Costuma me visitar em sonhos de tempos em tempos
E acordar em dias de chuva forte são comuns agora
Portanto estamos juntos nesta cruzada para o fim de tudo
Uma vez que sabemos que o que deseja é o mesmo que eu
Tudo o que deseja é não ser mais nada a não ser você mesmo
Tudo o que anseia é a morte




As Batidas de Teu Coração - 16/02/98

Segue-se a rotina de bater a tudo o que sente
Ao ver-te em sua plenitude, ao amar alguém plenamente
Mas você nunca se recordará da batida que a mim pertence
Aquela em ocorreu ao você me ver
Aquela que parou ao me abandonar
Bate uma vez para bater a segunda e a terceira
Ritmado o compasso do desprezo a meus sentimentos
A quinta, a sexta e a sétima. A quarta a mim pertence
Aquela que sentiu tão forte anteriormente
Fora estranho para você, disso eu sei tão bem ...
Mas o fato, afinal, era que sentira o que lhe disse
Se sou um maníaco , que diga isso a todos
Sou um maníaco que é dono de uma batida de teu coração
E não penses que é divertido para mim, ingrata
Pois queria ser dono de todas as batidas de teu coração
E de todo o corpo que ele alimenta com seus pulsos de sangue



O Doce Gosto da Desgraça - 30/12/97

Frágil é a vida de um ser triste
Frágil é sua esperança fosca
Frágil é sua alma fria e seca
E é frágil seu coração pequeno

As vezes se quer sumir do mundo
Deixar de existir, simplesmente evaporar-se
Vislumbrar-se com algo já é meio difícil
E com algo esquisito é pior ainda

Não quero mais a dor, não quero mais lembrar
Que eu sou o fracasso que tanto temia outrora
Gostaria que estas palavras fossem falsas
Mas a falsidade é minha verdade a muito tempo

Os ossos não se quebram, os músculos não se contraem
E assim mesmo eu me sinto ferido e cansado
Sofrido com todas as feridas e lesões possíveis
Eu sou um fraco abandonado por mim mesmo

Traidor de princípios, aliado de meu inimigo
Eu sou a porta para a desgraça e o fim da ressurreição
Eu sou o faminto devorador de almas
Por que nunca senti o doce gosto da
O doce gosto da



Apreensão - 07/01/98

Tenho medo de renunciar meu caminho por ti
Mas não vejo motivos para crer que o farei
Por que você não vê
Por que você não ouve
Por que você não fala
Nada do que eu queria escutar

E não me tenha ódio por ser assim tão meu
Que culpa tenho se nasci sem saber me exprimir
E quem é você para me dizer o que fazer
Uma vez que sofre como eu sofri a dor de um amor
Somente para recordar as lágrimas daqueles dias

E que medo é esse de que tanto falo
Se não o que todos temos , o de acabar sem começar
O de morrer sem poder curtir
O de sorrir ao ver-se morrer
E o de sentar ao esperar o que nunca vai chegar

É como o sonho das noite frias
Onde casas são mais do que moradas
E quando damas se tornam mundanas
É onde vive o temor e apreensão
Onde estamos sozinhos sentados no chão
Na palma da sua mão
Depositarei minhas riquezas
Em seu coração
Deixarei somente tristezas
Tão famintas quanto cães do inferno

Eu sou só, estou comigo aqui
E sozinho caminho adiante em instantes
Sem alguém para dizer algo que valha a pena
Sou um só que deseja juntar-se em si
E sonhar com multidões de pessoas




Mudo de Minhas Percepções - 25/06/97

As mãos trêmulas tateiam o escuro em busca do objeto perdido
Sombras brincam pela escuridão
Que as tornam invisíveis
E sem achar o que estava a procurar
O homem só se deita no chão
E sobre a escuridão desatina um choro de criança
Que se estende até sua alma desencantada
Onde estão todos agora que tento necessito de apoio?
Onde estão os meus amigos?
Onde estão os meus companheiros?
Não ha mais ninguém para me ouvir, e nem para me alegrar
Só existe escuridão e solidão, vorazes, famintas
E elas me encontraram, e me saboreiam delicadamente
Mas nem por isso eu posso me esquecer que perdi pessoas
Por pura indestreza de minha parte
Foram-se os que eu tanto gostava
Os grandes, os pequenos, os homens, as mulheres
Não sobrou nenhum para me consolar de minha desgraça
Por que minha desgraça foi perder a todos por ignorância
E lamentar só me fará piorar as coisas
Eu queria tanto um amigo de verdade
Que não o reconheci quando apareceu diante de mim
E frustrado, cometi o erro fatal de me atormentar e de machucar aos outros
E agora, sozinho e rindo, eu aceito a solidão como amiga
Mas esta logo me abandona também, assim como a própria vida



Os Dias - 07/01/98

Os dias vão-se logo como horas
De forma brusca e bela se encerram
Com angústia e medo o Sol se põe
Para as estrelar revelar em sua noite

Não são distúrbios vagos as estrelas
São pontos de esperança em um mundo escuro
E cada um de nada adianta
Sem outro para perfazer seu brilho

Os dias passam-se tão úmbrios
Os dias correm para se expirar
E cada um é um como nós somos nós
E não ha disparidades, somente contrastes

Os dias vem, os dias vão
Mas sempre ficarão suas recordações
Dias claros e alegres
Dias nublados e sorumbáticos

Dias quentes, dias frios
Dias monótonos, dias estressantes
Aurora da noite, crepúsculo das eras
Os dias estão fadados a sempre se acabarem

Assim como a vidas das pessoas
Ou como a dor ante ao ópio
O fim é certo para tudo
Até mesmo ao próprio tempo




Ensaio contra a Violência - 07/01/98

Bastam as pedras e basta o culpado
Pedras voando e sangue escoando
Sangue culpado ou sangue inocente
Somente o que vale
É o castigo que inventaram

Foi-se o pau-de-arara
E foi-se os demais
Veio a cadeira elétrica
E a câmara de gás

Corpos culpados
Almas queridas
Sujeitos bastardos
Crianças perdidas

Ninguém tem o poder
Mas as vidas se vão
Ninguém devia sofrer
Afinal somos ou não irmãos?

Pistolas e facas
Canivetes e espadas
Clavas e pedras
Morte na certa

Ossos quebrados
Sentimentos partidos
Réus julgados
Corações famintos

São os sonhos mortos e desfeitos
Contra nossas esperanças
Na verdade só temos este defeito
Somos apenas crianças

Liberte sua culpa de seus pecados
E se prenda à felicidade latente
Não podem nos julgar culpados
Os que isso fazem são dementes

Esqueça a violência em qualquer canto
E diga basta ao passado e olá ao futuro
Se cubra da vergonha com um manto
Sejamos o que somos, apenas seres humanos

Feridas e mortes, corpos e criptas
Coisas profanas, coisas malditas
Palavras vulgares, versos de esperança
Não haverá escapatória de toda a matança




Escravo das Conquistas - 05/01/98

Quem dera ser o dono de mim mesmo
Quem me dera poder ser dono de alguém
Eu seria o dono de você
E você seria a dona de minha vida

Quem dera ser só mais um ser
Simples a viver e a cantarolar
Motivos de alegria e de descontração
Quem dera ser como você

Amiga e companheira e minha paixão
Queria ser como os homens não são
Queria tanto ir ai e enfim te abraçar
Mas não posso, por que este não sou eu

Quem dera ser como as folhas no outono
Tão triste e sozinhas no sacrifício ao futuro
Quem dera ser um outro eu que não eu
Quem me dera ser como os meu donos

Queria ser como o ar que corre sem alguém o ver
Queria ser como o dia que ninguém consegue escurecer
E ser como o tempo que domina a tudo e nunca acaba
E como os dias infindáveis que passei a sonhar

E as conquistas que tanto lutei para ter
Queria ser como a íris das novas leis
A trancos mais súbitos e ao dia incerto da morte
Ao fim enlouquecido na loucura inebriante
Da galopante vida triste e morta de mim




Eu e você - 29/12/97

Eu sonhei, eu cresci, eu sou eu
Não tenho nada para lhe dizer
Só que eu sou eu
E nada vai mudar
Nada vai ameaçar
Somente eu posso ser eu
E mais ninguém, somente eu
Ninguém mais, assim como você só pode ser você
E ninguém mais, ninguém mais
Eu sou eu, e ninguém mais
Somente eu em mim mesmo
E somos todos nós mesmos
E somos todos os mesmos até morrer
E ninguém mais, por mais que tentemos
Nunca deixaremos de ser nós mesmos
A não ser que você não seja eu
Eu serei você se você for eu
E ninguém mais poderá saber
Que eu fui você e que você foi eu
Ninguém mais poderá fazer tal loucura
De ser si mesmo e ao mesmo tempo ser outro eu
Somente eu sendo eu
E somente eu posso ser eu mesmo
Uma vez que só existe um eu
E você, o que vai ser
Será você ou será eu?
Não me diga, eu não posso saber
Se você for eu ou se eu sou você
Por favor, seja você
Mas e se você for eu, terei que ser você
Mas eu quero ser eu mesmo uma vez só
E não mais você, por que tem que ser eu
Eu sou eu, e você é você
Não tente mudar a lei dos eus
Não pergunte o que quer ser
Se pergunte o que você é
Não pergunte quem se pode ser
Se pergunte se pode ser você
Não se mude de pessoa por favor
Por que eu quero ser eu e te encontrar sendo você
Não se perca nesta fuga insana
Só tente ser você
Não tente ser outro alguém
Tente ser você
Um pouco apenas, só por um instante
Seja apenas você



Letargia - 13/06/97

Letargia angustiante é esta que sufoca meus pensamentos
Que drena minha emoção ao ponto de me deixar completamente nu
Entre centelhas de ódio e dor infinitas
O trauma é tanto que tenho medo agora de deixar o pequeno casulo que é minha vida
Para adentrar no espaço aberto que existe fora dela
Um mundo de agonias púrpuras em que a desordem governa com mão de ferro
Onde tudo é confuso como as palavras que lhe declamo agora
Não, lágrimas não são bem vindas
Nem tanto desespero cético em relação aos outros penitenciados
Neste mundo grosso e escasso de palmas para coisas tão grandiosas
Como o simples fato de viver e ser
Trucidado por idéias que não posso explicar ao certo
Tento desabafar em prosa toda a minha fúria
Em relação a todos os que em mim botaram fé
Minha mente, embriagada pelas mãos ágeis da sabedoria
Me nega fogo quando mais necessito dela , agora
Em que quero entender ao certo o que estou falando
Não tenho idéia de como ou por que estou falando tanto
Mas compreendo minha dor contida em um único corpo humano
O meu, que é pequeno para tantas confusões e erros seguidos
Jamais, jamais será como era antes minha vida incerta em ser eu mesmo
Nunca mais serei como em minha antiga infância
Onde eu podia sair de meu corpo para brincar
E só por isso já ser eu mesmo, só que ao mesmo tempo outro eu
Sim. Aos poucos vai ficando claro
Uma alma esperta me deu o dom de descrever tal conflito interior
Que se passa dentro de cada um de nós
Uma luta titânica entre monstros seculares que antes eram escravos
E agora são mestres
Sim, sentado ao pé de uma cerejeira eu posso vislumbrar uma folha fina e delicada, ela caí
aos poucos
Para enfim tocar o chão e apodrecer até nada mais restar
Somos todos folhas mortas no chão
Somos frutos invioláveis
Produtos de um poderio incompreensível de frases aleatórias que nos criaram
Carro, árvore, bola, jamanta ...
Nada faz sentido, sendo que nós mesmos somos o sentido de tudo
Não somos o que deveríamos ser
Somos apenas projetos inacabados de pessoas sérias que podiam
Um dia, voltar a ser nós mesmos
Mas talvez elas já tenham voltado a ser nós mesmos e nós não temos como saber
Por que elas são a gente, mas não somos nós
Nós somos apenas o que somos e pronto
Nada mais, nada menos. Só isso
Somos almas feridas em busca de algo que ainda não sabemos ao certo
Somos escravos de nossas almas, somos escravos de nós mesmos
Escravos, por que estamos todos presos dentro de nós mesmos
Dentro de nossos egos inflados pela sociedade
A mesma sociedade que deturpou nosso direito de sermos nós mesmos
É, é isso. Somos o fino fio condutor de nossas próprias fraquezas
Somos o vazio e eterno Universo em expansão e morte simultâneas
Não somos nada além da nossa imaginação
Somos um jovem e belo cadáver que não faz outra coisa desde que nasceu
Além de morrer, pouco a pouco, dia a dia
Confusos dentro de nossas próprias idéias metafóricas de vida e morte
Dentro de um limitado ponto de vista totalitário, gabando-nos de sermos o que somos
Assassinos. Matamos todos os dias, e a todas as horas
Matamos o que ha de mais precioso em uma pessoa
Suas idéias, suas fantasias
Matamos a nós mesmos quando nos privamos de pensar em nossos próprios sonhos
Assim como a pessoa que sonha estar sonhando
Somos todos estes vulcões em erupção visível que queima a tudo o que esta por perto
Somos todos insanos em nossos pensamentos mais secretos e íntimos
Não passamos de criaturas desajeitadas
Envolvidas em uma grande besteira que julgamos ser a mais importante das missões
Chore. Chore. Chore por que enfim você compreendeu
Que no fundo não passa de uma pessoa
Que você pode fazer coisas, que tudo pelo que lutar vale a pena
Crie asas, e voe para longe, terna criatura terrestre que chamamos de ser humano
Vá embora para longe e crie sua vida de acordo com as tábuas sagradas
Que você adotou como leis
E de noite, sonhe mais uma vez com a loucura
Imersa em sanidade que se esconde em sua mente
Mas que ora ou outra vai se libertar e lhe fazer
Ser aquilo que você nunca deixou de ser



Vela à Brisa Morna - 08/12/97

Ha uma vela na escuridão em que estamos
Ela brilha forte e balança com o vento morno de podridão
E me lembro que tudo o que eu podia querer eu já tenho, é você
Não importa se me ferem até os ossos, contanto que você esteja bem
E contanto que me ame também
E que seja minha amiga quando eu precise
Por que eu tenho tanto para falar e são poucos os que me querem ouvir
Não se pergunte se é o certo, por que não é o que eu quero ver que importa
Mas sim o meu prazer em tocar você
E te degustar, assim como você fará comigo
Portanto esqueça o que supõe ser correto
Pois agora não ha mais sentido em saber
Não quero te mentir, mas quero te possuir
E ser seu mais uma vez, e outra também
E ser feliz, enfim. E torcer para que dure tanto quanto pode
Por que não quero ter que me matar no fim
Não por você, e nem por ninguém, muito menos por mim
Só quero saber e sentir, o teu perfume amargo
Um jardim de pétalas escarlates e folhas amarelas
Não esqueça de mim, nem por um instante
Você leu meus olhos e ouviu meu coração
Como pode ter me dito não?
Não que importe, mais é que dói tanto que eu quis saber
E tentar me lembrar, do que senti tão forte em mim
Quando te vi, e quando senti bater perfeitamente
Em meu peito machucado a dor do amor!
Não que seja deveras importante, mas é que o amor é algo realmente perigoso
Não quero sentir se não puder saciar
E é tão difícil... que não posso arriscar
E é assim que vou te implorar para que me toque também
E me sinta em teu corpo como sonho em te ter



A Sombra de Meu Eu - 03/06/97

Eu não temo mais as sombras
Pois também sou um ser de escuridão
Não me preocupo mais com a morte
Pois sei que na verdade eu já morri
E não me pergunto mais qual é o meu objetivo
Pois sei que ele não existe
E deve ser besteira querer descobrir por que eu cheguei até aqui
Tudo do que me lembro e faço força para recordar
É de minha maldita dor em meu peito
Eu sou a própria dor que me dilacera interiormente
Eu sou o verme que me drena a vida aos poucos
Eu sou minha própria morte
Eu sou o mal que me domina
Na verdade, sou todos os meus problemas
Condensados em mim mesmo
E como me livrar de mim mesmo?
Eu não poderia me matar mais do que já me matei
E choro ao pensar em me despedir de todos e fugir
Mas o que custa? Minha vida medíocre, agonizante
Eu sou um dos poucos que compreendem que não existe desgraça
Não existe mal
Existe, sim, um eu poderoso em nosso próprio encalço
Uma versão completamente idêntica a nós
Que cria o mundo a nossa volta
Você não é real para mim, assim como eu não sou real para você
E por que? Por que estamos imersos em nossas própria realidades
Nossos reinos sombrios, onde nossa outra versão
Nós mesmos, dominamos como monarcas sádicos
Nada é real, acredite
O mundo e as pessoas com quem você conversa ou abraça
São sonhos em nossas noites intermináveis nos reinos das trevas
E temos tido pesadelos muito ruins ultimamente
Faça um favor, acabe com o mundo
Basta acordar e parar de sonhar
Volte para o reino das trevas
E lembre-se dos pequenos momentos de prazer que teve em seu sono
E assim como agora, seu maior prazer será o imaginar



A Integridade da Alma - 06/04/97

Ó, integro ser vibrante
Grandioso homem, soberbo
Deixe cair uma lágrima mais
Para que sua alma seja humana
Belo como és, assim
Não se importe em demonstrar fraqueza
Pois no fundo da alma
Todo homem é um fraco
E dos fracos é o céu
Sofrendo para não mostrar
Que é somente uma pessoa
O homem, imaturamente
Se contamina de forma triste
Para tornar-se algo compacto
Não mais homem
Não mais humano
E sim algo vil e frio
Um deus do mal
Criador da morte e do caos
Senhor da natureza, controlador
Escritor do destino
E que tragédia estas a escrever
Se não a sua própria




Versos podres de arrogantes - 18/06/97

Tristes canoas rasgam o mar
E pessoas brincam na solidão
E seus olhos vão se fechar
E nada elas imaginarão

Só a tristeza me magoa
Só os delírios me viciam
Nenhuma palavra é boa
E as pessoas não me animam

Seria o fim da maldade
Ou o início da destruição
Estou cansado de piedade
Agora só me resta a diversão

E a letargia outrora angustiante
Me lembra como era ser tão elegante
E ser sem cor eu sou agora
Bem aqui, neste instante

Não me resta muita energia
E nem me lembro mais o que dizia
Queria lembrar que fui um ladrão
Mas foi você quem roubou meu coração




Esperanças Tolas- 08/12/97

Seria bom poder amar
Seria divertido estar feliz
Juntos, nós dois
Usando nosso amor como abrigo
Contra a fria chuva que esta caindo
Mas não tenho chances sem você
Por que não és capaz de me amar
E eu sei disso por que estou com dor
Devia ser mais belo o nascer do sol
Mas agora está tão feio
Por que não tem você ao meu lado
É só uma estrela a implodir-se
Com você seria o Sol!
Mas estou só
E não existe ninguém que possa me ajudar
A não ser o seu amor
Que de manhã me acordaria com sorrisos meigos
E beijos tão bons quanto a vida deveria ser
Mas acordo sozinho e com muito frio
E meu tempo vai se acabando
Por que estou sem você
Portanto estou perdendo meu tempo
Tentando viver em paz
Enquanto eu sei que é de você que preciso
Mas você não esta aqui
E por isso eu digo que estou perdendo meu tempo
Por que não tenho com o que mata-lo
Já que só penso em você
E o mais belo de tudo é que não sei quem és
E mesmo assim te amo muito
Por que o que perco em minha vida a cada segundo
Ganho em alegria a te imaginar em meu coração
Mas esta tão frio agora que meu sangue se esvai
Que não consigo mais pensar
Só em você
Por que, se for morrer
Quero morrer ao teu lado
E tua imagem é a que quero levar pela eternidade
Por que nada mais me importa
A não ser a sua própria importância para mim
Que é toda
Não me importo em sentir dor ao teu lado
Não me importo em sentir frio e fome
Contanto que possa te ver por um segundo
E te tocar com minhas mãos
E dizer que nada mais me importa
Nem mesmo a morte que me embala em seu colo
A não ser a tua vida incógnita
A qual amo tanto e queria tanto conhecer
Mas não posso
Por que me é tarde, me é tarde
Só me deixe ama-la, por favor
É o que imploro
Antes que eu morra sem ninguém
Deixe-me te ter
Antes que eu morra
E que o mundo acabe
De-me esta chance
De morrer olhando para você




O Significado da Solidão - 21/01/98

A solidão é morte em vida, é infortúnio em sua glória
É a ambigüidade pura da vida por si só
Por que a vida também é somente uma
Assim como nós somos somente um
E basta uma ponta de esperança para as lágrimas caírem
E somente uma dor intensa lhe fará ver que não vale a pena
Por que no final alguém sempre se magoa
E já nos basta padecer a tanto tempo

Embora achar outra pessoa seja algo singular
A expectativa do encontro é sempre dolorida
E quase sempre constatamos: estávamos errados
E quase sempre choramos: estávamos enganados
E existem dores que nem o tempo pode acalentar
E a solidão só os intensifica cada vez mais
Forte como a própria união, é o fim certo a todos
Por que é maldição e não bênção

Ser sozinho é triste por que sozinhos não somos ninguém
E na união do amor entre homem e mulher
Existe uma força incrível que é o oposto de tudo o que conhecemos
O amor faz a possibilidade da solidão valer a pena
Se tiver um só minuto de amor intenso
Se dê por satisfeito, pois já sabes o que é viver
Se seu sonho se tornou real, dê-se por feliz
Pois não existe nada mais importante que não estar só
Somente uma coisa:
Não estar só e estar acompanhado de quem se gosta

Não existem rejeições fortes demais
Não existem tardes vazias ao extremo
O que temos é a nós mesmos
E nada mais
E tudo o que sonhamos pode ruir sobre nossos pés
Pode demorar um dia ou uma vida
Mais cedo ou mais tarde acontece
E mesmo que você se sinta só e rejeitado
Não se preocupe:
Mais vale se lamentar por coisas feitas
Do que por sonhos não realizados




A História de Sérgio Sergipe - 16/02/98

Foram 12 dias de agonia a viagem de lá até aqui
12 paradas rápidas em postos de beira de estrada
A comida pouco e ruim era a única que possuía
Sérgio Sergipe chegou de seu terror para viver o nosso aqui
Da rodoviária ele via os prédios que seriam seus senhores
Empregos não haviam e a volta era impossível
As noites eram frias e os bancos eram duros
E foi então que percebeu que o chão era muito mais
Toda esmola era em pinga e toda pinga era um alívio
Por que não mais pensava em desgraças
Só em vultos que seus olhos viam a passar
Logo soube roubar e se via marginal matando para sobreviver
Matava velho e criança e mulher e playboyzinhos que lhe diziam não
Logo todos o temiam e até as autoridades dele fugiam
Era o dono da cidade o Sergipano Sérgio
Seu nome era o terror e sua mão era a morte
Mas seu fim foi planejado e ele foi baleado
Logo a cidade se arrependeu
Por que a ordem que havia posto
E que aparentava ser um caos acabou por desmoronar
Os bandidos atacavam sem escrúpulos
E Sérgio lutava contra uma bala na cabeça
Logo a polícia dizia que Sérgio iria sobreviver
E a cidade uma vez salva estava aliviada
Em saber que Sérgio Sergipe estava indo mal
Sua vida se salvou mais sua consciência se perdeu
Sem inteligência e sem atividade
O Sergipano cabra macho uma vez mais a rua foi
E lá era só um baleado, somente um pobre coitado
A mendigar uma vez mais para poder beber
E seu terror, esquecido ao passado
Renegado ao terror de ser baleado
Era baba que escorria farta por sua boca assassina

                     II

Morreram mais de 21 ao tentar lhe impedir
Mas Sérgio se enfureceu ao saber que de fome morreram
No sertão que abandonara
Suas filhas, vitimas da desgraça que renegara
E a desgraça rolaria solta uma vez mais
Pelo ódio da desgraça Sérgio enfim despertou
E mesmo com um tiro na cabeça o diabo iria se rebelar
Voltaria para o sertão e salvaria o resto de sua população
Mas para tanto seria necessário
Alguma arma para poder ir lutar
Lhe deram então um trabalho
E ele labutou
E logo enviou o dinheiro que havia ganho para a família miserável
E as filhas mortas foram enterradas
E as outras sobreviveram mais um tempo
Mas a grana era pouco e o sol castigava
E não havia mais o que fazer
Só lhe restava voltar a matar para poder sobreviver
E dinheiro podre, manchado de sangue
Foi enviado a família lá no seu sertão
E a grana farta foi salvando suas crias
E então a ele elas vieram
Lá do terror da sertania
Para o terror da cidadania
Filhas de índio, donas do sertão
Crianças pobres e filhas ricas
Eram vadias, eram vadias
Filhas de um ladrão
Que mesmo baleado e abobalhado
Conseguiu uma vez mais ser o dono da cidade
E quem lhe odiava, morria com uma bala
Por que foi na bala que quase lhe mataram
E mesmo assim ele não parou
Se recobrou
E roubou da sertania a sua alegria
Sua família
E Sérgio Sergipano, vivo e malandro
Agora era rico e poderoso
Só que não podia se revelar
Caso ocorresse sua família iria pagar

III

Pois não foi que o Sergipe virou uma belezura
A chuva veio farta e o verde se espalhou
E seu casebre no sertão se transformou em ruínas
E sua casa era grande, sua fortuna era suja
Suas filhas engordaram, e sua esposa o traiu
Ambos morreram na faca
Pois Sérgio os flagrou
E então suas filhas pariram os seus netos
E Sérgio teve então a desgraça de um cão
Que matou um de seus netos
E enviuvou uma das filhas
Era um demônio e sua vida era estranha
Era só um peão, agora era um chefão
Morreram todos em emboscada suja
Feita por Tiaõ
Tião gostou de ver as filhas de seu inimigo a sofrerem e chorarem
E Sérgio, muito do esperto estava em sua casa humilde no sertão
Era um homem louco com uma bala na cabeça
Que chorava por ter feito
Da desgraça sua vida
E da vida uma desgraça
Outra bala entra em seu crânio
O sangue escorre grosso e a vida o abandona
Tudo o que quer é nada ver
E que vê é somente a si mesmo




Substitua - 17/02/98

Toda   a   agonia se troca por alívio
Toda   a   raiva, por amor
Toda   a   solidão por companhia
Toda   a   miséria por riqueza

Inverta a fraqueza por tua força
E mude da tristeza para a alegria
Troque o isolamento por carinho
E a violência pela paz

Substitua a desgraça pela glória
E o medo pela coragem
Abandone o choro e acolha o sorriso
Transforme a dor e ganhe prazer




A Doença - 17/02/98

As estradas paradas como fotos antigas
As ruas amontoadas de pessoas a andar pelas esquinas
Os prédios apagados com pessoas a sonhar
E logo abaixo existem outras, querendo apenas matar

E eu aqui doente sem nada poder fazer
Com soro a minhas veias, e sem nada poder comer
Preso à cama e em constante impossibilidade
A deriva em pensamentos sobre minha cidade

E a doença me come, me acaba
Como uma peste, uma magia macabra
Tenho fome mas não posso comer
Tenho frio mas não posso me esquentar
E fico triste por saber
Que nada mais posso realizar

Tenho frio e não me cobrem
Tenho medo e não me acolhem
Queria caminhar mas estou entrevado
Tenho medo por que sei que já sou do passado

Sinto dores e não me dão alívio
Tenho alucinações e não me permitem suplício
Queria apenas uma mão para segurar
E nada tenho, só minha doença
E o que desejam é me matar
Pelo menos esta é minha crença




Saideira - 17/02/98

Não lhes basta me ver aqui sozinho
Vocês ainda tem que me humilhar
Dizer ao outros que não passo de um bastardo
E é aí então que corro ao meu refúgio

O cheiro ébrio invade minha mente
E os lábios se secam a procura de bebida
Do balcão me vem uma branquinha
Que escorre ardente por minha garganta

Uma após a outra elas vão descendo
E só então vou-me esquecendo de quem eu era
Das constantes fugas do serviço
Das gargalhadas dos amigos a me ver cair ao chão

Uma garrafa se vai fácil
Mandam outra e eu já esqueci meu nome
Não quero voltar para aquele lugar bonito
Por que lá me acusarão: bastardo

Por ser sozinho a bebida me alivia como companhia
Me aquece no inverno, me apazigua de meu ódio
Me eleva ao céu enegrecido
Da noite que não mais terá fim
Já não consigo ficar de pé
E logo um cão me lamberá a boca
Pois na sarjeta irei amanhecer
E uma vez mais me chamarão: bastardo

A dor me voltará e a vergonha será sua aliada
As palavras uma vez mais irão ferir
E outra vez uma boa pinga me acalmará
Uma vez que ela é bastarda como eu




O Passado Foi Tão Bom - 17/02/98

Era um dia como os outros
Só que chovia por demais
E eu te via uma vez mais
Ia ver o teu amor
Beijava-o como a mim um dia fez
E eu chorava escondido ao ver tal cena
E as lágrimas se escondiam nas gotas que caiam
Então ninguém percebeu até eu gemer
Um casal que passava perguntara se estava tudo bem
E eu não tive forças de dizer que não
Eles se foram embora para seu carro
Pois seu filho os aguardava para ir embora
E ela estava ali parada a beijar o dito outro
E eu aqui parado a olhar a felicidade alheia
Já me foi o tempo farto de alegrias nesta vida
Só me basta deseja voltar no tempo uma vez mais
E tê-la em meus braços como era antigamente
Mas me foi tirada a força pela força do destino
E me ampararam muito mal
Já que não consegui esquecer o gosto dela
E de como eram quentes as suas mãos em dias frios
Que passávamos juntos sem nada dizer
Somente a se olhar e a se abraçar
Eram dias belos em que a chuva era bela
E naquele tempo, eu digo agora, me apaixonei
Por que nada mais queria além daquilo
E nada me fazia mais sentido sem tê-la ao meu lado
E ela se foi como a chuva que se vai ao ver o Sol
E eu fiquei só, eu fiquei só
E me dói dar as costas a aquela cena tão triste
Por que era a mim que abandonava naquele beijo dado
E era meu corpo que caminhava em sentido oposto
Pois meu coração fico ali
Quebrado e molhado pela chuva forte e fria
Que molhava a tudo inclusive a mim mesmo
E ali ficou meu amor eterno
E ali ficou a dor de um passado que foi tão bom
Mas que se foi com o tempo
Sem Retorno - 19/02/98

Sou só mais um em meio à multidão
Um ponto pobre e esquecido em meio a todos
Em breve as portas se fecharão
E sem saídas enfim estarei
Em breve estarei dormindo uma vez mais
E meus sonhos serão telas negras sem sentido
Não sonharei com as lendas que tanto ouvi
Por que não tenho mais tempo para elas
Envolto em flanelas quentes eu estou
E o frio arde forte afora de minha morada
Não me preocupo com o que possa ocorrer lá fora
Por que a fora não pertenço
Cri que antes dos tempos obscuros
Minha alma tivesse saídas dos problemas que me afligem
Mas os problemas são apenas jogos
E os jogos apenas passatempos
Assim como passou meu tempo de retornar
Por que esta em tempo de me conciliar
Não com alguém, mas comigo mesmo
Embora saiba que a muito esteja perdido
O caminho que trilhei até aqui
E não ha mais volta do estado em que me encontro
Por que estou mais perto de meu fim
Do que de meu começo
E, cansado, olho a frente e vejo meu final
Na linha de chegada existem emoções que não queria
A solidão, a tristeza e o ódio
E ao lado delas, uma sepultura profunda
Aonde depositarão meu corpo morto
Olho para trás uma vez mais
E o começo esta tão distante que não posso vê-lo
Foi um caminho longo, tortuoso e penoso
Que não quero mais rever
Me basta o pouco que me falta ver
Para enfim repousar
Só tenho que me arrepender
E disso já me notei




Um Momento na Serra - 19/02/98

Quero olhar o por do Sol daqui
Por que és belo mais do que de lá
Daqui eu posso ver o mar se esquentar
Ao contato dele com seu manto quente
Era tarde e o meu carro estava ao lado
A estrada vazia era algo vago
As árvores e os pássaros ao meu lado
Me faziam crer que era enfim a paz
Mas lá não estava você

Era tudo tão perfeito em ti que não quis me recordar
Era tudo tão bonito que não quis me perguntar
Aonde estavas tu naquela hora
E onde estavas eu quando foi-te embora

O silêncio respondia com sua palidez
E nem mesmo as garrafas a beber me fizeram esquecer
Quem era a tua dona, seu bastardo
Era aquela que se foi embora para o outro lado

Eu quis te visitar, mas me era tão doido
Ver teu corpo sepultado e enterrado aos meus pés
E era triste pensar que o que mais queria
Era poder lhe beijar uma vez mais

Tomo entre as mãos minha vida e uma bala
Não me resta mais nada a não ser caminhar
Era tudo tão belo que não tinha medo
Mas que medo eu poderia ter

Uma vez que eu sabia que você me esperava
Logo ao lado de meu corpo morto
E tua mão tocou a minha e me fez continuar
E foi assim que estou aqui

Os demais me encontraram na estrada
E a serra se tornou uma vez mais uma notícia
Do triste fim de um homem por seu amor que era morto
E sua arma houvera disparado uma vez




Um Poema Hardcore - 19/02/98

Era noite na selva amedrontada
As pessoas caminhavam sem sentido pelas ruas amarguradas
E um amor era tudo o que lhes importava
Mas era a uma arma que tinham em seu lugar
E as vezes, em troca do calor de uma garota
Recebiam o calor de uma bala
E ao invés da dor de um amor perdido
O que tinham era a dor de um ferimento mortal
E os gritos de sua mulher ecoaram por entre os becos
E os seus gemidos de dor se calaram diante de sua morte
Seu corpo se enrijeceria lentamente
E ao amanhecer ele estaria duro
Em alguns instantes estaria inchado e podre
E logo os vermes da terra o corroeriam pouco a pouco
E seus ossos se pulverizariam durante os séculos
E você enfim deixaria de existir




Batalha Interna - 19/02/98

Segura a minha mão enquanto vamos
Era medo o que sentia antes de te conhecer
Agora és apenas um sonho antigo
Em uma galeria longe, muito longe daqui
Era estranho e amedrontador aqueles dias
Em que tinha medo de andar pelas ruas
Mas foi então, e somente então
Que me deixei segurar-te a mão
E foi naquele instante secular
Que vislumbrei o teu incógnito rosto
E tuas mãos se revelaram tão macias
E teu rosto, uma verdadeira poesia
E desde então eu sou o que conheces
Um homem pleno e ao mesmo tempo frágil
Frágil por que de ti dependo
Para poder sobreviver assim tão bem
E não me entenda mal quando digo
Que és meu mais forte vício
Por isso digo que segure minhas mãos tão fortemente
Por que não quero escapar de tuas garras
Minha fera mais singela, que és tu
Não me deixe escapar de meu amor por ti
Por que não posso mais sonhar
E não posso mais caminhar em frente
Não sem você, não sem você




A Noite após o Dia - 19/02/98

Os fogos claros explodem em dias negros
Como a esperança de um amanhã sangrento
Todos se perguntam, se vale viver
Só que a vida é um passo dado ao entardecer
E a morte é o anoitecer eterno da bondade de nossas almas
E somos obrigados a passar por tantas coisas
Que não queríamos passar
Temos que fazer algumas coisas chatas
Como acordar tão cedo, e estudar
Ou tomar mais um remédio em um corpo frágil
Temos que correr para poder acabar
Tudo aquilo que tivemos que começar
Somos obrigados a nada fazer
Enquanto assim o fizermos
Temos que fazer o que não queremos fazer
Temos que dizer que não ha nada o que fazer
Embora seja tão curta nossa vida
Fazer o certo é tão difícil
E nossas almas estão traídas
E nada somos além de crianças perdidas
Em um mundo tão vazio de nós mesmos
Temos que fazer tudo o que não quisermos
E o que desejo fazer
É contar que não me agrado
Com a vida que levo nestes dias
Com a miséria das nações
Com a busca das grandes instituições
Atrás de coisas chatas que não queriam buscar
Temos que fazer. Temos que obedecer
Temos que cumprir e temos que viver
Tudo o que temos que fazer é ser felizes
Por que da noite passada já me fartei
E quero o dia tão claro quanto possa
Não quero mais olhar para as estrelas tão longínquas
E quero poder te olhar nos olhos sem chorar
Quero poder, sem medo, lhe abraçar
E quero ser feliz, e quero viver bem
Eu quero abandonar este lugar
Mas não me dizem não
Mas não dizem sim
Tudo o que me dizem é que talvez
E neste talvez me deram a esperança
Tola que não quero levar
Para a noite que esta a voltar



Adormecidos à Vida - 02/03/98

Vede a minha mão a abrir o meu caixão
A sede, forte, avassaladora
Quero sangue escorrendo por minha garganta a dentro
Quero a morte nos olhos de minha vítima
Meu corpo morto de alimenta do sangue vivo
E minha sanidade se mantém por mais um dia
Logo o Sol que a tanto já não vejo
Impedirá minha caçada e que eu fique saciado
Mas as estrelas ainda brilham
E a Besta em minha alma se aquieta
Já bastava ser um monstro
Mas o desejo de ser humano uma vez mais
Tal como os pobres e miseráveis
Não
O sangue me fala mais alto
O desejo pela morte era forte
E uma cria seria bem vinda agora
Porém meu senhor me impede de tê-la
E agora sou sozinho pela eternidade
Um vampiro se perdendo para si mesmo
Veio o dia e meu sarcófago me acolhe
A noite seria uma vez mais tentadora
Já que nada mais importa
A não ser o sangue quente que tens em tuas veias
E a vida que lhe move para acalmar a morte que me domina
Creia em mim quando digo que não existo
Por que se souberes, morrerás
Será alimento eterno de seres monstruosos
Servirá de alegria a criaturas sombrias
Pois o sangue que corre por teu corpo
Encerrará a sanidade que tanto busco
Eu me tornarei um insano




Temor - 02/03/98

A verdade é que tememos a nós mesmos
Temos medo de nos libertar
Por que sabemos o que somos
Mas ninguém pode sobrepujar as emoções
E o instinto é quem nos controla
Ele se disfarça de emoções
Temos medo, fome, sede
Temos desejo insano, paixão, amor
E por mais que lutemos contra este animal interno
Nada pode segura-lo por muito tempo
Por que somos este animal
E nossa humanidade é apenas um disfarce
Algo para não assustar aos demais
Algo para não assustar a nós mesmos




Destino - 02/03/98

Era tão escuro que não podia me ver
Era difícil encontrar outro alguém
Tudo por que minha visão estava nula
Por que estava, na verdade, cego de tristeza

E ao tocar alguém eu chorei
Por que era surdo também
E só o que podia fazer era sentir
E foi então que senti a tua mão
Estava cego a tempos e tu me voltaste com a visão
E que bela tarde era ao constatar
Que era a ti que sempre estava a procurar

Mas era errado pensar que enxergaria outra vez
Por que dado ao fato de que você se foi
Uma vez mais a solidão me escureceu a visão




Palavras de Sangue - 05/03/98

Meus olhos negros sobre tua pele branca
Tua língua quente em minha boca fria
Sou mais um na noite
Assim como os corvos em velórios
Mal presságio aos que perto estão
De ti bebi a vida
O desejo não claro de noites a sós
Os dias sozinho e escondido
Tudo por que de noite eu sou forte
Por que é quando você é minha
Bebo de ti o que quero
Desde sangue até o amor
Amor que não podes mais me dar
Bebo da vida que te ilumina
Dos sorrisos tão macios
E dos olhos tão brilhantes
E de tudo o que puder me dar razão
Possui-te a própria morte
Aguardo a ti com dor em meu peito
Por que seis que morrerá ao me abraçar
Por que eu não vou agüentar
A vontade que tenho de te ter para mim
Uma vez que seja, dentro de mim




Mergulhando Em Teu Olhar - 09/03/98

A bruma escura se dissipa diante de teu olhar
O sol esta brilhando agora juntamente com seu sorriso
Seus olhos são reflexos, tua alma é o teu retrato externo
Não existe mais temor, pois estas aqui

Caminha entre todos, celebrando a própria vida
Pois você mesma é celebração, você é vitória
Delicada e forte inspiração, você é a própria festa
Que todos desejam comemorar

Não existem presentes, e não existem palavras
Pois você é a vida, você é o despertar
És teu próprio presente, é tua benção
Pois os que a olham se tornam mais felizes

Falar-lhe é suplício, pois palavras não bastam
Sintoma de vícios de um povo simples
Pois tudo o que basta é o que todos fazem
Basta admira-la sendo você mesma

Quatro estrofes, já daria uma canção
Mas me faltam acordes para lhe fazer justiça
Seria certo o que todos acham errado
Mas a tempos o que é errado é certo

Por isso clamam o teu nome na tentativa de se salvarem
Lembram-se de um rosto, e de um olhar
Mergulham nele para se lavarem de seus pecados
E estão salvos, pois se lembram de como é a vida
Lembram-se de como você é

"escrito em uma segunda-feira ensolarada"




Triste Amalgama de Variações Constantes - 11/03/98

Impulso rápido dilacera meus medos
Meu corpo corre e sua durante a caçada
Interpreto para obter aquilo que quero
Sou o príncipe daquilo que te consome
Sou o desejo insano, sou a loucura
Incerto e indomável, dentro de cada um
Sou a tristeza possante que tanto te faz mal
Era antigamente um ser mais belo
Sou agora um monstro incerto de minha própria motivação
Sou um amalgama de emoções constantes
Uma letargia matinal
Um incesto noturno
Um filicídio tardio
Eu sou a dor
Sou o odor e a pureza
E dentro de mim estão os desejos
Pois eu possuo cada um
Eu sou cada um




Cortes Profundos em Minhas Artérias - 11/03/98

O brilho é encantador
Lembra-te algo, como diamantes ou mesmo ouro
Mas sabemos: trata-se de aço
Afiada lâmina pronta a cortar
Sedenta, absolutamente em desejo
Farta é a dor, mas não paro
Profundo é o caminho, mas ainda rasgo
Abundante, gotas e mais gotas caem ao chão
Logo temos uma poça
Não paro com uma parte
Parto para as demais, tão voluptuosas
A aorta não é a única, afinal
A femoral também é grande
Mas lâminas não bastaram
Tinha que haver algo mais
E lembrar-me de suas palavras de negação
Do medo, da solidão
E de tudo o que me cortou
De tudo o que me matou
O que mais doeu
O que mais profundamente me feriu
Foram tais lembranças




Dores Emocionais - 11/03/98

Certamente todos assim foram
Ou se não ainda serão
Por que ninguém esta livre da dor
Ninguém pode suportar o horror
Dores, alucinações e descontrole
Júbilos de atrasos que não foram marcados
Excreção do que não é processado
Alívio daquilo que não incomoda
Medo. Insuportável medo
Tensão, adrenalina, suspense
Era a hora de crer que ocorreria em breve
E ocorreu que tive dor
Por que temia o inevitável
Temia a você, a seus olhos
E deve ter doído um tanto em você também
Já que a dor é como o prazer
Pois é a vida que se manifesta em si
Triste, amarga, acinzentada
Era o medo que tinha
Perder tudo aquilo que tinha
Temer perder a minha vida
Mas o que perdi enfim
Não foram as palavras, e nem os olhares
Perdi você por estar sentindo dor
Dor emanada de mim mesmo
Dor que me causo
Auto flagelamento emocional
Sem Destino - 11/03/98

Abro a porta de minha casa
Olho para a rua deserta na madrugada
Caminho até meu serviço
Cansado inicio meu trabalho
Sucessões de acertos e erros simples
Intrincados relacionamentos superficiais
Intrigas e suspenses, tramóias e tocaias
Meia hora e meia, estou sozinho
Ando até um restaurante e como algo rápido
Volto logo, não ha o que fazer além de me abastecer
Trabalho mais, e minhas mãos já doem
Estou pronto para partir
Os demais organizam caçadas a noite
E a damas se preparam para acompanha-los
Eu devo voltar a minha toca escura
Pois nada ha para mim aqui fora
Basta-me ouvir desaforos dias inteiros
Tudo o que quero é voltar a minha toca
Assustado, sou arrastado por alguns à dita arena
Pessoas se empurram e se embebedam
Insulto a minha dignidade
Todos sabem o que todos querem ali
Para que a mentira então?
Para que?
Mais algum tempo se passou
As garrafas estavam vazias
Minha visão estava turva e eu pensava:
Por que não paro de gargalhar?
Visto como alguém normal, posso me despreocupar
Ficaria em paz mais um ano
Em minha toca quente




Sozinho ao teu Lado - 12/03/98

Posso lhe ver claramente
Isso já me provoca amor ardente
Mas estamos juntos apenas superficialmente
Isso se comprova totalmente ineficiente
Ao teu lado caminho
Ao teu lado durmo
Mas juntos em nossos pensamentos
Não estamos a muito tempo
Todos os dias começam cedo
E mesmo assim não suporto ficar longe nem por um minuto
E eu não posso viver se não estiver ao teu lado
Mesmo que seja para estar só
Quero a tua companhia
Mesmo que seja para ficar só
Eu lhe chamo e você não compreende
Eu estou enlouquecendo
Por que não lhe encontrar realmente
Estou aqui parado diante de você
Mas não é a mim que lhe interessa
Minutos inteiros gastos pela noite sem mim
Mesmo eu estando ao teu lado o tempo todo
Dias e anos, tempo gasto a toa
Eu estou aqui, olhe para mim
Por que estou cansado desta solidão
Aprisionado ao teu lado como pena
Sem poder lhe falar ou conversar
E sem poder lhe dizer o quanto amo
Condenado a viver ao teu lado




Suave Amargura - 01/07/98

A porta esconde-me o mundo
Abro-a. Escondo-me do mundo então
Tenho as formas que lhe agrada
Mas antes eu não tivesse que sair de casa
Pois não é minha alma que podes ver
É o que quero aparentar que vislumbras
Meus modos e maneiras, gestos e atitudes
Sou um balão cheio de vácuo
Tenho a forma que desejam-me
Flutuo entre os tolos, que sabem que sou vazio
Já não me importo mais
Podem esvaziar-me do nada
Pois ternura é quente e doce
Suave amargura dilata meu desejo
Engrandece meu sintoma
Sussurra minha morte
Prolonga minha tortura
Anseia meu amor
Finaliza meu temor
Abraça-me em teu desespero, ínfimo ser triste
Guarda-me em tua alma, banha-me eu teu medo
Ponha-me em você para que possas se acalmar
Limpa o teu corpo do suor amargo e seco
Duro é viver sem aguardar um amanhã
Banha-te na secura da luz do amalgama eterna
Sofra como sofro os dias pardos e nostálgicos
De dias de um passado a tanto abandonado
E lembra-te que foi assim
Um nobre ser que clama solitário em seu poder
O destino que traçaste com lápis desapontado e com papéis amassados
Os quais perdeste no caminho torto e perigoso
E jamais pode se lembrar qual era a rota
De sua vida que a tanto perdeu sentido




Monte das Lamentações - 13/07/98

Lampejos, vultos, cores amargas
Trituração de convulsões ecléticas
Relâmpagos a esbravejar ao céu profundo
E o vento a lamber-te o corpo debilitado
Choras em busca de um torpor inimaginável
Castiga-te em vontade insana de incesto
E lamenta-se das obras que levantaste
Murmúrios tímidos ecoam de tua boca
E da minha emanam desejos
Teus olhos imploram-me calor
E labaredas desgovernadas lhe aquecem a vontade
Implora nua em tua santidade
O frio que lhe matava
Mas agora não morrerás
Pois da vontade se forjou o meu amor
E deste fogo ardido surgirá a lamentação
Pois de desejo se alimenta o fogo que emano
E não mais do amor jocoso que outrora declamava
Simples afago, que me deste em noite incerta
E agora cá estou a lamentar sua piedade
Pois de sofrimento férreo se aguça minha mente
E tanto sofri, e tanto lamentei
Que sem forças para correr
Me aprofundo neste monte etéreo em minha alma
Cavando-me mais para o fundo e cobrindo-me da vergonha
Pois insanos são meus pensamentos
E insano é meu amor




Despertar da Noite Rubra - 17/07/98

Espantado, melancólico assobia a morte fria
O vento sopra e ecoa pelos lastros siderais
E da noite ecoa o grito que não sabes de quem é
E é quando acorda insano que percebes
É tua boca a gritar socorro
E banhado em sagre quente lacrimeja por perdão
E os corpos ao seu lado lhe recordarão
Atrocidades e maldades ao cheiro podre do fracasso
A morte é vencedora e a vida só compete
Pois a dor te distrai e o prazer lhe devora
Sem teus olhos não enxerga o que mais deseja ver
Pois a gosma escorre farta e a terra é escura
Das tuas tripas vem a vida e da cabeça vem a morte
Terror das noites rubras é o teu despertar
Pois é da noite que mais gostas e é lá que vai matar
Tristes assombram as ruas desertas das calçadas inusitadas
E da boca ainda arfa o grito que te bradas
Jubilo etéreo insano da loucura do desejo
Calamidade das estreitas e frias ruas da cidade
Gargalhando e engasgando com fábulas esquizofrênicas
E da vontade nasce a garra e a garra só existe para trucidar
Trucidando as pessoas pela noite que amou-te
E ainda podes ouvir teu próprio grito
Longínquo o brado da selvageria
Da morte que emanas de teus próprios poros




Vida Vazia - 16/11/98

Vazio eterno, inerte vácuo
Dantesca dor embrionária assassina
Víbora venenosa, gloriosa derrocada
Baila em minhas dores como a morte em minha vida
E as ruas enevoadas iluminam-se com o Sol
Minha alma desperta sórdida e lamenta o amanhecer
Decrépita

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As Intrigas da Alma Humana

  • 1. De: Daniel P. Fontes Em: 1997 e 1998 Tipo: Livro de Poemas Nome: As Intrigas da Alma Humana Os Trilhos do Abismo - 29/09/97 O caminho iluminado outrora pelo Sol Enegrece-se ao contato com meus olhos Para que minha visão seja de total embaraço Diante de destino tão estranho E as garras da vida se aprofundam em minha carne E meus gemidos não podem ser ouvidos Eu estou preso neste abismo Que na verdade esta em mim mesmo E como uma locomotiva desgovernada Eu corro por seus trilhos, ensandecido Para me chocar contra a crista rochosa logo abaixo E abandonar a todos, naturalmente E abandonar-me a mim mesmo Em meus medos e credos comuns E meus dedos a tatear o gelado estranho mundo Onde até mesmo a dor é algo a se gostar Por que pior é não ter o que sentir E gosto mesmo é de desabafar sem ninguém me ouvir Por que assim, e só assim Poderei me livrar dos pecados me infectam E buscar a grande bênção que almejo E cortar-me não me ajudará agora E nem daqui a anos Por que sou de pedra, e mais , sou de ferro Como os grilhões que sustentam estes trilhos Trilhos pelos quais me dirijo agora A Mescla Entre a Dor e o Amor - 29/09/97 Não me peças para compreender Por que isso é dor E não vou mais suporta-la Não me importo se você chorar Por que me basta a dúvida Para deixar-te ir embora E as lágrimas não são mais falsas E o adeus também não é E não me importa se é dor ou se é amor Por que ambos são irmãos A nos dizer suas palavras de praxe E não é mais tão simples quanto ontem Quando eu dizia que sangrava por dentro
  • 2. Por que também era verdade Como meu Eu a te querer Mas não vou mais me prejudicar Nem ao menos por um instante Por que não mereces Nem meu amor e nem minha dor De mim não mereces mais nada Somente meu repúdio e meu ódio As Dunas da Misericórdia - 24/09/97 Bate em teu peito a forte lança do desejo Perfura a tua carne sem te sangrar Para que a misericórdia eterna pulse em seu coração O arder das chamas da purificação Irão te adornar a alma como jóias adornam o teu corpo E te permitirão apreciar os confins do Universo Durma. E descanse seus braços sob o macio de sua cama Repouse sua cabeça em teus ideais mais profundos E não temas mais as coisas que te assustam Por que és a verdade que somente você conhece E mesmo que tua voz se cale Será possível ouvir-te por todos os cantos Por que és a resposta para todos os rancores Para todas as tristezas, para todo o mal És o bálsamo cristalizado das eras eternas E também é a delicadeza do azul do céu Que a brilhar juntamente com o Sol É o fixo e permanente final do dia Como uma Fênix, perseverante Como um bravo, poderoso Como um humano, um fraco Levanta-te, e abrigue-me em tua alma Para que as dunas da misericórdia parem de se mover Lentamente, eternamente E seja a força que tantos desejam ter O poder que todos aguardam ansiosos A mesma dor que arde em nossos corações Como estrelas na longínqua Plêiades Algo insólito, distante e belo Carregado de magia e beleza Aguardando-nos em nossos sonhos Medo - 29/09/97 ... As palavras me metem medo ... As pessoas me dão medo ...
  • 3. Eu sinto medo de mim mesmo Por que não existe redenção sem sofrimento ... E nunca imaginei-me em desgraças Somente e tristezas e melancolias opacas ... Só me perdoem por deixar-me lhes dizer Que tenho muito medo de viver ... Só me perdoem por ter tanto medo ... Medo... O Cintilar dos Pedaços da Minha Alma - 04/10/97 Os seres da agonia pousaram sobre minha ira E meu peito em chamas se acalentou solitariamente Eu me deito em meu chão imundo para chorar escondido Diante dos demais que não mais me dão atenção As lágrimas se secam por si só Mas minha alma esta estilhaçada E só vou cola-la amanhã de manhã Por que agora eu quero sofrer só Portanto me deixe em paz, aqui sozinho A não ser que queiram me mostrar mais dor Para que eu possa me deixar ir embora E os pedaços da minha alma a brilharem em sua dor A lembrar-lhes de suas próprias alegrias passadas E seus sorrisos brancos contra meus olhos negros E minhas trêmulas tentativas, esquivadas com gargalhadas E agora virão vocês abraçar meu corpo vazio Por que não mais estou ali naquela casca Estava lá quando me deixaram só Quando ansiava por carinho e companhia E agora tudo o que tenho é dor Por que vocês pisaram sobre meus fragmentos Com sua própria indiferença disfarçada em esquecimento Pois agora se dêem as mãos adornadas com alianças falsas E sorriam para minha morte social Por que fui esquecido por vocês, de quem tanto precisava E ainda mais, de você, a quem tanto amava Os pedaços se racharam em mais partes E estas se trincaram até o pó E é para este que retornará a minha alma estilhaçada Para o recanto dos esquecidos e não amados Para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de amar Para o limbo dos desgraçados e famintos De sentimentos puros e limpos como este
  • 4. Não Preciso de Mais Ninguém - 05/10/97 I Eu era como vós, sedento por afetos Ansioso por carinhos e palavras de conforto Mas não sou mais um corpo com alma Cansado de sofrer pelos desejos insatisfeitos E pela agonia da espera Abdico-me da alegria, do amor e da amizade E mesmo vendo que a vida não mais terá sentido Eu continuo sem me questionar Por que nunca houve algo que fizesse valer a pena E agora continua a não haver E me diga se é errado não ter mais esperanças E te mostrarei as dores que ela me causou As esperas e lagrimas, as negações e derrotas Não, não mais lutarei pelo amor que tanto cacei Por que desta guerra eu já sai derrotado E só me basta agora esperar pela morte que em breve virá E neste meio tempo simplesmente agüentar E ir perdendo todos os meus escrúpulos e valores Um por um E quando eu chorar a noite por ter feito a escolha errada Tentarei me lembrar de algo Que é bem melhor do que chorar por uma mulher que me despreza II Se lhe choca o fato de que não mais preciso de gente Não leia mais estas palavras aflitas e desesperadas Por que não preciso nem mais de você, que as lê Só me basta o fato de sofrer Por que é a única coisa que possuo E não me venha com pena ou com cuidados Por que sou um bastardo desalmado E dificilmente serei normal mais uma vez Tudo por que nunca tive o que todos tem E não chore ao pensar que a culpa pode ser tua Por que é a verdade, e nada pode mudar isso Eu só queria o toque em meu rosto E uma mão para poder segurar durante uma caminhada Mas não tive o prazer de ter alguém ao meu lado E nem por perto quando precisava Portanto vá-se juntamente com os outros E me deixe aqui sozinho, por que sempre foi assim E não existe nada que possa mudar essa situação A não ser o calor das palavras sinceras Que brotariam de um coração realmente apaixonado E basta para mim ver-me lágrimas de sangue por minha face Por que não mais sentirei pena de mim Assim como ninguém sentiu
  • 5. Tédio Monótono - 08/12/97 Tudo exatamente como antes Olhos úmidos, mãos trêmulas Soluços angustiantes e solidão a mil Barcos ao horizonte, esparsos E eu aqui parado, na praia de areias negras Onde pássaros pousarão jamais Triste fim és o meu Passar o eterno a ter tédio E a monotonia seria minha vida A não ser pelas vivas golfadas de ar fresco Que logo se viciam e se apodrecem Sou o arauto da monotonia em movimento As ondas do pecado a bater em rochas frias E eu tão quente a conter-me no seco Não quero me molhar e por isso secarei E por insólitas inquietudes me atiro ao mar Para quebrar a monótono tédio Mas a água é fria por demais E não me admirar eu afundar Por que existem leis que não podemos violentar Aurora de um ser humano - 22/12/97 Garrafas frias, garotas quentes Noites negras sem luz alguma Tormento puro em nossas vidas Não ha saída desta agonia Os carros andam amontoados E os ocupantes gritam alucinados É a cidade mais infiel que antes As pessoas não se descontraem Sem ser pecado ou desgraça As mulheres são prostitutas E os homens são viciados Não ha saída, não ha desculpas Não existem meios, e nem visões Só existe dor, só existe medo E só temos a nós mesmos E ninguém mais para ajudar Foi-se o dia, e veio a noite Não temos mais no que sonhar Por que todos os sonhos já foram sonhados Por todos os lados, e por todos nós E não existem desculpas Só preconceitos E não temos desejos
  • 6. Só temos indiferença E a dor é tão profunda E o medo é tão vasto As fronteiras são tão largas E as rédeas são tão curtas Que me pergunto aonde irei chegar Se não aqui mesmo onde estou Sem progresso e sem perdão Sem pedidos e sem paixão Não me diga em que acreditar Por que acredito nestas palavras E nada mais poderá apaga-las Nem mesmo as mais belas preces Por que são fortes como o aço E são afiadas como espadas Forjadas nas fornalhas do ódio Esfriadas nas águas do medo E afiadas nas pedras da descrença E prontas a cortar tudo o que se oponha a elas Por que estas palavras tem sede de sangue E banha-las nesta seiva é seu dever Lago onde os Anjos Pescavam Estrelas - 31/12/97 Atrás das montanhas negras Próximo ao negrume do fim das eras Na morada dos guardiões das trevas É onde repousa o Lago da Galáxia O Lago onde os Anjos Pescavam Estrelas E onde nadavam coisas inacreditáveis Eram poemas meticulosos Eram criaturas alucinantes E poderes inacreditáveis Onde um homem provou o infinito E na verdade não era nada A não ser uma gota ao vazio E como nenhum homem mais conseguiu Ele olhou os anjos face a face E foi pescado como uma estrela E posto ao lado daquelas mais especiais Era um mundo aonde planetas eram átomos E onde o Universo era um corpo E um humano nada era Some somente matéria escura E houve controvérsias sobre a lei do espaço tempo Uma vez que o ciclo nunca se acabaria E foi aí que os anjos compreenderam Que acaram a lei do infinito E que eles mesmos nada eram
  • 7. Pescadores de estrelas em um lago negro Eram matéria escura também Em um átomo de outro alguém E a loucura lhes dominou E compreender é perigoso Uma vez que por maior que seja Nada és a não ser o nada que integra a tudo E delirantes com o poder da sabedoria Os anjos continuam sua pescaria Em busca de algo que não mais importa Por que também se tratava de nada Os Lírios da Cidade - 31/12/97 Não sou como as ondas do mar a bater nas pedras Sou como os Lírios da Cidade, fracos e debilitados Não sou como o antigo jovem que conhecias Sou o Jovem velho que conhece agora Sem poder para crer-te em mim as dores da morte E não quero assustar ao outros com meus pensamentos Por que eu sou fogo dor e ódio Por não ter o que todos tem Eu sou medo choro e solidão Como as vozes que não param de gritar E pedir que eu diga que não sou mais o mesmo Pois sou como os lírios que a tanto já falei E dai-me a pena para ter o que dizer Uma vez que não sou mais o líder das minhas razões Uma lágrima dela iria me salvar a alma Mas não és capaz de chorar por mim Por que eu não mereço ser salvo E talvez eu não o queira Pois ser ruim é fácil e agrada muito Os Tristes Mendigos - 05/01/98 Era tarde nas noites frias Onde lágrimas escarlates escorriam sobre a pele Senhores da pobreza luxuosa do espírito Pisavam sobre a riqueza da pobreza material Era motivo para tanta alienação E nem eram os bastardos abandonados pelas mães Eram os velhos que dormiam sem seu teto antigo E eram eles os que no fim mais sofriam Por que a morte era fria como a noite que passavam E seus dedos nada mais sentiam Somente dor e fome bruta, sem falar na hipocrisia Eram todos sós em seus cantos sujos Em suas tralhas e suas roupas imundas
  • 8. E seu cheiro forte era claro como o dia Mas as noites eram o seu único lar Jamais roubar, jamais pedir, somente lutar E batalhar junto aos outros um prato de comida Somente o coma e o sono os satisfaziam Sem ter o que dizer eles se calam por si sós E caminham, lado a lado, rumo ao ontem E uma ponte lhes será o abrigo da noite E ao amanhecer perceberam que mais um se foi E que agora contam todos menos o que a morte tomou Não ha mais choro e nem lamentação Somente olhares de preocupação O corpo inerte, morto e duro é ali deixado Sem enterro e sem velas, e sem uma oração Abandonado como um trapo ou como um jornal Depois de dias é enterrado como indigente Mas era gente aquele corpo a apodrecer O Vácuo Intelectual - 05/01/98 Era o povo um fraco oponente para a vulgaridade A soberania da beleza foi tomada pela breguice Hoje as pessoas assistem novelas E não lêem mais bons livros Vão até boates para se embebedar E não são capazes de ir até o Teatro O povo esta condenado ao limbo das eras Ao esquecimento de por que estamos aqui E do por que é que fazemos tantas coisas Estamos parados na corrida da benfeitoria Estamos engasgados em nossas próprias histórias Somos vítimas da onda que nos importam Somos bardos sem trovas para cantar Somos ilhados sem perspectivas de melhoria E o povo continua a se chafurdar mais a cada instante A cada minuto se tornando mais e mais lixo Ao ponto de atingir o vácuo intelectual Onde nada se sabe e tudo se aceita Músicas artificiais, interpretações sem emoção Poesias sem sinceridade, amor sem paixão É uma era negra para o bom gosto Sem dúvida, um tempo de regressão Onde homens são privados de pensar E onde o povo não sabe mais opinar Pois somos um povo esquecido em nossas satisfações momentâneas E esquecemos que nossos futuros se enegrecem a cada passo dado E que a cada metro a volta será mais dolorosa E que chegará o dia que nossas mentes esquecerão do que são E lá será o tão maldito vácuo que hoje apreciamos tanto
  • 9. Cinco Dedos e Uma Palma - 05/01/98 Tenho minha mão 5 dedos e uma palma A segurar o teu conjunto idem A acariciar teu rosto Teus dois olhos, um nariz e uma boca E meus mesmos 5 dedos e uma palma A trabalhar fortemente para te alegrar E também a agilmente se balançar Para pegar e agarrar o teu corpo O teu conjunto inteiro: Uma cabeça, dois braços, duas pernas e um tronco Fogo - 05/01/98 Do Inferno o demo assopra maldades E com o fogo que lhe queima eternamente E com o fogo que lhe arde fortemente Ele sopra dezenas de almas destruídas E gargalha lava derretida O fogo que queima o corpo Os espinhos lhe cortam a carne E ele ainda assim gargalha sangue terrestre O fogo que queima até a água A arder no inferno as chamas dos pecados E na terra a arder os pecados da humanidade Por que o fogo queima e pune pela eternidade E não existem coisas que suportem seu calor Por que o fogo a tudo destrói com voracidade E é por isso que ele arde o inferno Para destruir as almas impuras E o medo é tamanho que o fogo aumenta sua labareda E arde cada vez mais intenso A ponto de derreter até mesmo nossos pensamentos A luz e todas as demais coisas do Universo O fogo desgraça a tudo o que vê a sua frente Mata e queima até se matar por si só Sua tarefa é exterminar a todo que possa E ele pode exterminar tudo O Poder do Pecado - 08/01/98 Os carros entravados nas ruas lotadas de pessoas Mendigos pedindo dinheiro Prostitutas oferecendo amor E os pecados servem como pontos positivos A ganância é vista com bons olhos
  • 10. O individualismo como status E o dinheiro como Deus Por isso os pobres são pecadores e mundanos Por que não tem acesso a este mesmo Deus E continuando a caminhar As ruas se escurecem ante o símbolo do pecado Um grande banco esconde o Sol E mesmo assim estamos presos no trânsito Com os vidros fechados e o ar condicionado ligado Rezando para não sermos assaltados A fumaça não entra e o ar não circula E estamos presos na selva que criamos Com cheiradores de cola e coisas mais Bolsas de água não retiram sua dor Por que sente dor em seu espírito Pelo poder do pecado que invade a todos Onde quer que se vá Fale-se lá com quem Estamos concretizados com cimento E erguidos com escoras Somos prédios implodindo aos poucos Somos o templo deste deus pagão E a cidade continua aparentemente quadro a quadro E nós continuamos parados no meio do nada O vento corre rápido e o sol se põe em segundos Homens de olham com ódio e é dia novamente E estamos presos dentro do pecado Ainda dentro dele Os Gemidos da Vida - 26/01/98 Não se sinta mal ao ver-te chulo em teu reflexo Por que é você a se ver de verdade Não somos belos e tão pouco humildes Somos malditos que se escoram dentro da dor E os gemidos são tão fortes que não se pode ouvir E as dores tão intensas que não são mais sentidas Embriagados em nossas agonizantes vidas Sonhamos com os sonhos de outras pessoas Você não é capaz de sonhar Não é capaz de criar o seu mundo Não pode lutar pelos seus ideais Por que não os tem E não nos olhe como pagãos, uma vez que pagãos são vocês Que não sabem acreditar no que é tão real Estamos todos gemendo de frio ou de fome Ou ainda, gememos por um pouco de amor E também por conforto e paz Julga-se o dono de tua vida
  • 11. Se diz o eleito de teu próprio reino Se intitula o líder de seu individualismo Se proclama senhor do teu próprio destino Pois não és nem a sombra do grande que quer Não é centelha e nem fração do que pensas ser Não é nada a não ser um feto abortado da vida A gemer cada vez mais baixo até se calar A Falha dos Seres Inferiores - 26/01/98 Somos falhos, todos falhos Sem virtudes, sem afetos Somos falhos Como ratos rastejamos E como Homens nos matamos Somos falhos Como a morte nos tememos Como espelhos nos revemos Somos falhos Temos medo das maldades Mas cometemos crueldades Somos falhos Todos impuros em seu sangue Como a vida baixa lá dos mangues Somos falhos Fazemos guerras, e lutamos Fazemos a paz, e sonhamos Somos falhos Temos ódio em nossas vidas Temos medo em nossas alegrias Somos falhos Temos falhas, muitas estranhas Somos maus até as entranhas Somos falhos Temos força, temos garra E estamos presos a fracas amarras Somos falhos Estamos morrendo, chegando ao fim Todos tem medo, tenho medo de mim Somos falhos Por que falhas são humanas E não somos mais humanos E esta é nossa maior falha Não poder falhar A Derrota - 05/02/98 O cansaço em sua face emudecida
  • 12. O corpo escasso em atitude decente Os olhos estáticos a olhar para o nada E a boca paralisada, imprecisa e calada As mãos trêmulas, o sabor amargo A escuridão dos dias e o fim do bem estar Derrotado pelo próprio fracasso Era esta a verdade escondida O homem se afasta com medo das palavras Se isola para agonizar em sua dor solitária A Derrota Difícil de se ter, amaldiçoado estado Perdedor de seus delírios, de seus planos Derrotado, abandonado, baixo , pequeno O mundo se encolhe em seu estômago Um calafrio lhe percorre a espinha E acreditar no fato lhe demora algum tempo Até constatar que aquilo pelo que lutou Lhe levou a mais uma maldita derrota O abalo é inevitável, a proeza é um martírio Por que não foste capaz de realizar o que pretendias Falhou, não conseguiu, não serviu É um súbito destino o de se perder para si mesmo Por que só podemos culpar a nós mesmos O destino estava certo Sua perícia estava errada E a incerteza da vitória lhe causa pavor As Vozes do Amanhecer - 09/02/98 O sono estremece tuas forças Escancarar os olhos é martírio sofrido Caminhar é dolorido, falar é uma tortura Seu interior queria sono Uma cama macia, um corpo a que se abraçar Um cabelo com que brincar Um lábio para tocar com o teu Uma mão para segurar Na escuridão aconchegante do descanso Teu corpo trucidado se arrasta ao banheiro Tua barba é cortada, seus dentes são escovados Seu rosto é molhado e teu corpo é lavado Forra-se de comida leve e bebe teu líquido negro quente Entra em teu monstro de poluição Arranca a milhão para o lugar impuro Telefona, fala, escuta, desliga Chora, sorri, faz, lhe fazem Se vai, para casa, desmantelar-se uma vez mais Voltar para o nicho esquecido o dia inteiro Lembrança silenciada pelas vozes da manhã Não existem morais e nem mesmo éticas Só existe o sono e a vontade de não se despertar do sonho
  • 13. O sonho Néctar da alma, fada das felicidades, a esperança dos mortos O doce da primavera esquecida de nossa juventude Somos frutas velhas e murchas, azedas, sem sementes Restos - 11/02/98 Sois vós os mestres que governam Somos nós os malditos a se estrepar Fadados ao frio ardente do anoitecer Ao eterno desgosto, à agonia gritante Me pergunto se lembras de mim Questiono se seria capaz de recordar Foram dias inteiros, meses completos Que para você foram apenas restos Tomei-te em minha alma ao fim do entardecer E a instalei em meu coração Você não o aceitou naquela noite Por que achava que era resto Assim como minhas mãos para lhe segurar E meu corpo para se apoiar Você achava que eu não passava de resto Sendo que o resto era você Dei-me a ti em meu passado Dou-te o resto de minhas lembranças neste presente Pois no futuro não pretendo me recordar De nada que me faça chorar Por que de restos todos estamos fartos Mas só existem restos e nada inteiro Portanto não temos o que escolher Só temos que aceitar O resto de nós vai embora sem perceber Que verdadeiramente não existe porem Nem mesmo meio termo Só temos a nós mesmos, e mesmo assim, somos resto Significados - 11/02/98 Sou um garoto a brincar em meio ao nada Só tenho minhas mãos a cavoucar a terra úmida As unhas estão sujas, e não quero lavar-las Agora temos um buraco O buraco foi feito com minhas mãos
  • 14. O buraco é meu por que eu o fiz Carros se desviarão, água ficará presa Pessoas virão tampa-lo e outros dirão que é natural Mas é meu buraco E no mesmo caso construo uma arma A arma é minha, pois eu a construí Balas cuspirão de seu cano E seus mecanismos estarão muito bem lubrificados Ela um dia matará alguma coisa E só então cumprirá sua missão Mas sou apenas uma criança Não tenho molas e tão pouco pólvora Então eu me levanto e vou embora Caminho até minha casa Seio onde está a minha procurada A pego e a aprecio Era bela e perfeita, seu peso era grande Cabo de marfim, tambor roliço O estrondo, um trovão da morte Ela cumpre sua missão Pois a escuridão que vejo é total E meu sangue, espalhado pela cama de meus pais Se coagula e se endurece A bala se crava na parede E minha vida se esvai com meu próprio medo O Desejo - 12/02/98 Quero sentir a dor de que tanto falam Da agonia e da desgraça que praguejam Quero chorar de alegria e sofrer com uma perda Quero abraçar um corpo morto de alguém que me amava Quero sucumbir diante do inevitável E de tudo contra o que gostaria de lutar Quero abandonar uma oportunidade Quero me ferir diante de você Gostaria de correr para minha morte E de ver lágrimas escaparem-me da face Quero destruir alguma coisa que eu construí Queria brigar com alguém que prezo E ignorar alguém que me deseje Quero dizer adeus a alguém Quero viajar para outra cidade Gostaria realmente de voar para o espaço E nunca mais voltar Queria saber como se sente outra pessoa Queria me olhar no espelho sem ter que me olhar Seria interessante ter uma arma para disparar Ou ainda um alvo a que acertar Meu desejo é banir-me de tudo o que preso Por que não preso nada
  • 15. Gostaria de perder coisas que não tenho Por que se as perdesse eu conseqüentemente as teria tido Queria sofrer Por que se sofrer significa que um dia tive prazer Quero abandonar alguém Para que eu saiba que já tive quem a mim amasse E meu desejo é rasgar meu corpo em pedaços E minha vida e átomos Para que eu possa saber que nunca os tive realmente Não são meus, pois a matéria é de Deus E se fossemos a matéria Em sete anos seriamos outro alguém Das Estrelas de Orion - 12/02/98 Diamantes cravados na extensa cortina da noite Estrelas belas brilham na escuridão cósmica Distantes como o amor que almejo Vindas das Estrelas de Orion Luzes eternas, de movimentação estranha A esperança de que enfim exista algo a que esperar O brilho continua forte E ao amanhecer elas permanecerão por lá Até que a noite as revele novamente Como meus desejos e minhas dores As nuvens podem esconder-lhe o brilho Mas eternas são as luzes Bombas nucleares a queimar seu combustível Cercadas de vácuo, despejando radiação Como despejamos sangue em nosso chão Línguas de fogo quântico lambem o frio espacial Como a tua lambe minha boca fria e especial Reações pulsantes de contração e expansão Como meu corpo em teu interior Nos Dias em que Desejava Minha Morte - 16/02/98 Era uma época bárbara em que pessoas se digladiavam As pessoas eram meus sentimentos E havia sangue espalhado pelo solo Lágrimas sobre meu rosto Era entardecer eterno, sem previsão de amanhã Crepúsculo incessante, desespero e depressão Não havia a quem recorrer, não haviam conhecidos Tudo o que tinha era minha batalha interna Não havia meios de se fugir, tive que me confrontar E naquele instante desejei minha morte Apareceu alguém com olhos brilhantes e rosto angelical Mas ela se foi sem me dar a chance que deixei escapar
  • 16. Me aprofundei em meu interior, mergulhei em minha alma E novamente me quis ver morto Era doentio acalentar-me em esperanças tolas Sabia bem que o Sol não nasceria para mim Mas a tarde caiu e enfim veio a noite As estrelas lá do alto me olhavam furiosas E temi pelo que me desejassem Veio então um aglomerado de nuvens e as escondeu de mim Estava sozinho naquele mesmo solo ensangüentado O frio penetrava em meus ossos E eu pensava que meu sofrimento acabaria Mas outros anjos costumam aparecer para me abastecer Mais uma vez Com a tola esperança de que o Sol nascerá ao leste de minha vida Tolos são os anjos que a mim se dirigem Pois não tenho mais uma alma a ser salva Tudo o que tenho é minha tristeza e solidão E a morte, desejo insano de um jovem abandonado Costuma me visitar em sonhos de tempos em tempos E acordar em dias de chuva forte são comuns agora Portanto estamos juntos nesta cruzada para o fim de tudo Uma vez que sabemos que o que deseja é o mesmo que eu Tudo o que deseja é não ser mais nada a não ser você mesmo Tudo o que anseia é a morte As Batidas de Teu Coração - 16/02/98 Segue-se a rotina de bater a tudo o que sente Ao ver-te em sua plenitude, ao amar alguém plenamente Mas você nunca se recordará da batida que a mim pertence Aquela em ocorreu ao você me ver Aquela que parou ao me abandonar Bate uma vez para bater a segunda e a terceira Ritmado o compasso do desprezo a meus sentimentos A quinta, a sexta e a sétima. A quarta a mim pertence Aquela que sentiu tão forte anteriormente Fora estranho para você, disso eu sei tão bem ... Mas o fato, afinal, era que sentira o que lhe disse Se sou um maníaco , que diga isso a todos Sou um maníaco que é dono de uma batida de teu coração E não penses que é divertido para mim, ingrata Pois queria ser dono de todas as batidas de teu coração E de todo o corpo que ele alimenta com seus pulsos de sangue O Doce Gosto da Desgraça - 30/12/97 Frágil é a vida de um ser triste Frágil é sua esperança fosca
  • 17. Frágil é sua alma fria e seca E é frágil seu coração pequeno As vezes se quer sumir do mundo Deixar de existir, simplesmente evaporar-se Vislumbrar-se com algo já é meio difícil E com algo esquisito é pior ainda Não quero mais a dor, não quero mais lembrar Que eu sou o fracasso que tanto temia outrora Gostaria que estas palavras fossem falsas Mas a falsidade é minha verdade a muito tempo Os ossos não se quebram, os músculos não se contraem E assim mesmo eu me sinto ferido e cansado Sofrido com todas as feridas e lesões possíveis Eu sou um fraco abandonado por mim mesmo Traidor de princípios, aliado de meu inimigo Eu sou a porta para a desgraça e o fim da ressurreição Eu sou o faminto devorador de almas Por que nunca senti o doce gosto da O doce gosto da Apreensão - 07/01/98 Tenho medo de renunciar meu caminho por ti Mas não vejo motivos para crer que o farei Por que você não vê Por que você não ouve Por que você não fala Nada do que eu queria escutar E não me tenha ódio por ser assim tão meu Que culpa tenho se nasci sem saber me exprimir E quem é você para me dizer o que fazer Uma vez que sofre como eu sofri a dor de um amor Somente para recordar as lágrimas daqueles dias E que medo é esse de que tanto falo Se não o que todos temos , o de acabar sem começar O de morrer sem poder curtir O de sorrir ao ver-se morrer E o de sentar ao esperar o que nunca vai chegar É como o sonho das noite frias Onde casas são mais do que moradas E quando damas se tornam mundanas É onde vive o temor e apreensão Onde estamos sozinhos sentados no chão
  • 18. Na palma da sua mão Depositarei minhas riquezas Em seu coração Deixarei somente tristezas Tão famintas quanto cães do inferno Eu sou só, estou comigo aqui E sozinho caminho adiante em instantes Sem alguém para dizer algo que valha a pena Sou um só que deseja juntar-se em si E sonhar com multidões de pessoas Mudo de Minhas Percepções - 25/06/97 As mãos trêmulas tateiam o escuro em busca do objeto perdido Sombras brincam pela escuridão Que as tornam invisíveis E sem achar o que estava a procurar O homem só se deita no chão E sobre a escuridão desatina um choro de criança Que se estende até sua alma desencantada Onde estão todos agora que tento necessito de apoio? Onde estão os meus amigos? Onde estão os meus companheiros? Não ha mais ninguém para me ouvir, e nem para me alegrar Só existe escuridão e solidão, vorazes, famintas E elas me encontraram, e me saboreiam delicadamente Mas nem por isso eu posso me esquecer que perdi pessoas Por pura indestreza de minha parte Foram-se os que eu tanto gostava Os grandes, os pequenos, os homens, as mulheres Não sobrou nenhum para me consolar de minha desgraça Por que minha desgraça foi perder a todos por ignorância E lamentar só me fará piorar as coisas Eu queria tanto um amigo de verdade Que não o reconheci quando apareceu diante de mim E frustrado, cometi o erro fatal de me atormentar e de machucar aos outros E agora, sozinho e rindo, eu aceito a solidão como amiga Mas esta logo me abandona também, assim como a própria vida Os Dias - 07/01/98 Os dias vão-se logo como horas De forma brusca e bela se encerram Com angústia e medo o Sol se põe Para as estrelar revelar em sua noite Não são distúrbios vagos as estrelas
  • 19. São pontos de esperança em um mundo escuro E cada um de nada adianta Sem outro para perfazer seu brilho Os dias passam-se tão úmbrios Os dias correm para se expirar E cada um é um como nós somos nós E não ha disparidades, somente contrastes Os dias vem, os dias vão Mas sempre ficarão suas recordações Dias claros e alegres Dias nublados e sorumbáticos Dias quentes, dias frios Dias monótonos, dias estressantes Aurora da noite, crepúsculo das eras Os dias estão fadados a sempre se acabarem Assim como a vidas das pessoas Ou como a dor ante ao ópio O fim é certo para tudo Até mesmo ao próprio tempo Ensaio contra a Violência - 07/01/98 Bastam as pedras e basta o culpado Pedras voando e sangue escoando Sangue culpado ou sangue inocente Somente o que vale É o castigo que inventaram Foi-se o pau-de-arara E foi-se os demais Veio a cadeira elétrica E a câmara de gás Corpos culpados Almas queridas Sujeitos bastardos Crianças perdidas Ninguém tem o poder Mas as vidas se vão Ninguém devia sofrer Afinal somos ou não irmãos? Pistolas e facas Canivetes e espadas Clavas e pedras
  • 20. Morte na certa Ossos quebrados Sentimentos partidos Réus julgados Corações famintos São os sonhos mortos e desfeitos Contra nossas esperanças Na verdade só temos este defeito Somos apenas crianças Liberte sua culpa de seus pecados E se prenda à felicidade latente Não podem nos julgar culpados Os que isso fazem são dementes Esqueça a violência em qualquer canto E diga basta ao passado e olá ao futuro Se cubra da vergonha com um manto Sejamos o que somos, apenas seres humanos Feridas e mortes, corpos e criptas Coisas profanas, coisas malditas Palavras vulgares, versos de esperança Não haverá escapatória de toda a matança Escravo das Conquistas - 05/01/98 Quem dera ser o dono de mim mesmo Quem me dera poder ser dono de alguém Eu seria o dono de você E você seria a dona de minha vida Quem dera ser só mais um ser Simples a viver e a cantarolar Motivos de alegria e de descontração Quem dera ser como você Amiga e companheira e minha paixão Queria ser como os homens não são Queria tanto ir ai e enfim te abraçar Mas não posso, por que este não sou eu Quem dera ser como as folhas no outono Tão triste e sozinhas no sacrifício ao futuro Quem dera ser um outro eu que não eu Quem me dera ser como os meu donos Queria ser como o ar que corre sem alguém o ver
  • 21. Queria ser como o dia que ninguém consegue escurecer E ser como o tempo que domina a tudo e nunca acaba E como os dias infindáveis que passei a sonhar E as conquistas que tanto lutei para ter Queria ser como a íris das novas leis A trancos mais súbitos e ao dia incerto da morte Ao fim enlouquecido na loucura inebriante Da galopante vida triste e morta de mim Eu e você - 29/12/97 Eu sonhei, eu cresci, eu sou eu Não tenho nada para lhe dizer Só que eu sou eu E nada vai mudar Nada vai ameaçar Somente eu posso ser eu E mais ninguém, somente eu Ninguém mais, assim como você só pode ser você E ninguém mais, ninguém mais Eu sou eu, e ninguém mais Somente eu em mim mesmo E somos todos nós mesmos E somos todos os mesmos até morrer E ninguém mais, por mais que tentemos Nunca deixaremos de ser nós mesmos A não ser que você não seja eu Eu serei você se você for eu E ninguém mais poderá saber Que eu fui você e que você foi eu Ninguém mais poderá fazer tal loucura De ser si mesmo e ao mesmo tempo ser outro eu Somente eu sendo eu E somente eu posso ser eu mesmo Uma vez que só existe um eu E você, o que vai ser Será você ou será eu? Não me diga, eu não posso saber Se você for eu ou se eu sou você Por favor, seja você Mas e se você for eu, terei que ser você Mas eu quero ser eu mesmo uma vez só E não mais você, por que tem que ser eu Eu sou eu, e você é você Não tente mudar a lei dos eus Não pergunte o que quer ser Se pergunte o que você é Não pergunte quem se pode ser Se pergunte se pode ser você
  • 22. Não se mude de pessoa por favor Por que eu quero ser eu e te encontrar sendo você Não se perca nesta fuga insana Só tente ser você Não tente ser outro alguém Tente ser você Um pouco apenas, só por um instante Seja apenas você Letargia - 13/06/97 Letargia angustiante é esta que sufoca meus pensamentos Que drena minha emoção ao ponto de me deixar completamente nu Entre centelhas de ódio e dor infinitas O trauma é tanto que tenho medo agora de deixar o pequeno casulo que é minha vida Para adentrar no espaço aberto que existe fora dela Um mundo de agonias púrpuras em que a desordem governa com mão de ferro Onde tudo é confuso como as palavras que lhe declamo agora Não, lágrimas não são bem vindas Nem tanto desespero cético em relação aos outros penitenciados Neste mundo grosso e escasso de palmas para coisas tão grandiosas Como o simples fato de viver e ser Trucidado por idéias que não posso explicar ao certo Tento desabafar em prosa toda a minha fúria Em relação a todos os que em mim botaram fé Minha mente, embriagada pelas mãos ágeis da sabedoria Me nega fogo quando mais necessito dela , agora Em que quero entender ao certo o que estou falando Não tenho idéia de como ou por que estou falando tanto Mas compreendo minha dor contida em um único corpo humano O meu, que é pequeno para tantas confusões e erros seguidos Jamais, jamais será como era antes minha vida incerta em ser eu mesmo Nunca mais serei como em minha antiga infância Onde eu podia sair de meu corpo para brincar E só por isso já ser eu mesmo, só que ao mesmo tempo outro eu Sim. Aos poucos vai ficando claro Uma alma esperta me deu o dom de descrever tal conflito interior Que se passa dentro de cada um de nós Uma luta titânica entre monstros seculares que antes eram escravos E agora são mestres Sim, sentado ao pé de uma cerejeira eu posso vislumbrar uma folha fina e delicada, ela caí aos poucos Para enfim tocar o chão e apodrecer até nada mais restar Somos todos folhas mortas no chão Somos frutos invioláveis Produtos de um poderio incompreensível de frases aleatórias que nos criaram Carro, árvore, bola, jamanta ... Nada faz sentido, sendo que nós mesmos somos o sentido de tudo Não somos o que deveríamos ser Somos apenas projetos inacabados de pessoas sérias que podiam Um dia, voltar a ser nós mesmos
  • 23. Mas talvez elas já tenham voltado a ser nós mesmos e nós não temos como saber Por que elas são a gente, mas não somos nós Nós somos apenas o que somos e pronto Nada mais, nada menos. Só isso Somos almas feridas em busca de algo que ainda não sabemos ao certo Somos escravos de nossas almas, somos escravos de nós mesmos Escravos, por que estamos todos presos dentro de nós mesmos Dentro de nossos egos inflados pela sociedade A mesma sociedade que deturpou nosso direito de sermos nós mesmos É, é isso. Somos o fino fio condutor de nossas próprias fraquezas Somos o vazio e eterno Universo em expansão e morte simultâneas Não somos nada além da nossa imaginação Somos um jovem e belo cadáver que não faz outra coisa desde que nasceu Além de morrer, pouco a pouco, dia a dia Confusos dentro de nossas próprias idéias metafóricas de vida e morte Dentro de um limitado ponto de vista totalitário, gabando-nos de sermos o que somos Assassinos. Matamos todos os dias, e a todas as horas Matamos o que ha de mais precioso em uma pessoa Suas idéias, suas fantasias Matamos a nós mesmos quando nos privamos de pensar em nossos próprios sonhos Assim como a pessoa que sonha estar sonhando Somos todos estes vulcões em erupção visível que queima a tudo o que esta por perto Somos todos insanos em nossos pensamentos mais secretos e íntimos Não passamos de criaturas desajeitadas Envolvidas em uma grande besteira que julgamos ser a mais importante das missões Chore. Chore. Chore por que enfim você compreendeu Que no fundo não passa de uma pessoa Que você pode fazer coisas, que tudo pelo que lutar vale a pena Crie asas, e voe para longe, terna criatura terrestre que chamamos de ser humano Vá embora para longe e crie sua vida de acordo com as tábuas sagradas Que você adotou como leis E de noite, sonhe mais uma vez com a loucura Imersa em sanidade que se esconde em sua mente Mas que ora ou outra vai se libertar e lhe fazer Ser aquilo que você nunca deixou de ser Vela à Brisa Morna - 08/12/97 Ha uma vela na escuridão em que estamos Ela brilha forte e balança com o vento morno de podridão E me lembro que tudo o que eu podia querer eu já tenho, é você Não importa se me ferem até os ossos, contanto que você esteja bem E contanto que me ame também E que seja minha amiga quando eu precise Por que eu tenho tanto para falar e são poucos os que me querem ouvir Não se pergunte se é o certo, por que não é o que eu quero ver que importa Mas sim o meu prazer em tocar você E te degustar, assim como você fará comigo Portanto esqueça o que supõe ser correto Pois agora não ha mais sentido em saber Não quero te mentir, mas quero te possuir
  • 24. E ser seu mais uma vez, e outra também E ser feliz, enfim. E torcer para que dure tanto quanto pode Por que não quero ter que me matar no fim Não por você, e nem por ninguém, muito menos por mim Só quero saber e sentir, o teu perfume amargo Um jardim de pétalas escarlates e folhas amarelas Não esqueça de mim, nem por um instante Você leu meus olhos e ouviu meu coração Como pode ter me dito não? Não que importe, mais é que dói tanto que eu quis saber E tentar me lembrar, do que senti tão forte em mim Quando te vi, e quando senti bater perfeitamente Em meu peito machucado a dor do amor! Não que seja deveras importante, mas é que o amor é algo realmente perigoso Não quero sentir se não puder saciar E é tão difícil... que não posso arriscar E é assim que vou te implorar para que me toque também E me sinta em teu corpo como sonho em te ter A Sombra de Meu Eu - 03/06/97 Eu não temo mais as sombras Pois também sou um ser de escuridão Não me preocupo mais com a morte Pois sei que na verdade eu já morri E não me pergunto mais qual é o meu objetivo Pois sei que ele não existe E deve ser besteira querer descobrir por que eu cheguei até aqui Tudo do que me lembro e faço força para recordar É de minha maldita dor em meu peito Eu sou a própria dor que me dilacera interiormente Eu sou o verme que me drena a vida aos poucos Eu sou minha própria morte Eu sou o mal que me domina Na verdade, sou todos os meus problemas Condensados em mim mesmo E como me livrar de mim mesmo? Eu não poderia me matar mais do que já me matei E choro ao pensar em me despedir de todos e fugir Mas o que custa? Minha vida medíocre, agonizante Eu sou um dos poucos que compreendem que não existe desgraça Não existe mal Existe, sim, um eu poderoso em nosso próprio encalço Uma versão completamente idêntica a nós Que cria o mundo a nossa volta Você não é real para mim, assim como eu não sou real para você E por que? Por que estamos imersos em nossas própria realidades Nossos reinos sombrios, onde nossa outra versão Nós mesmos, dominamos como monarcas sádicos Nada é real, acredite O mundo e as pessoas com quem você conversa ou abraça
  • 25. São sonhos em nossas noites intermináveis nos reinos das trevas E temos tido pesadelos muito ruins ultimamente Faça um favor, acabe com o mundo Basta acordar e parar de sonhar Volte para o reino das trevas E lembre-se dos pequenos momentos de prazer que teve em seu sono E assim como agora, seu maior prazer será o imaginar A Integridade da Alma - 06/04/97 Ó, integro ser vibrante Grandioso homem, soberbo Deixe cair uma lágrima mais Para que sua alma seja humana Belo como és, assim Não se importe em demonstrar fraqueza Pois no fundo da alma Todo homem é um fraco E dos fracos é o céu Sofrendo para não mostrar Que é somente uma pessoa O homem, imaturamente Se contamina de forma triste Para tornar-se algo compacto Não mais homem Não mais humano E sim algo vil e frio Um deus do mal Criador da morte e do caos Senhor da natureza, controlador Escritor do destino E que tragédia estas a escrever Se não a sua própria Versos podres de arrogantes - 18/06/97 Tristes canoas rasgam o mar E pessoas brincam na solidão E seus olhos vão se fechar E nada elas imaginarão Só a tristeza me magoa Só os delírios me viciam Nenhuma palavra é boa E as pessoas não me animam Seria o fim da maldade Ou o início da destruição
  • 26. Estou cansado de piedade Agora só me resta a diversão E a letargia outrora angustiante Me lembra como era ser tão elegante E ser sem cor eu sou agora Bem aqui, neste instante Não me resta muita energia E nem me lembro mais o que dizia Queria lembrar que fui um ladrão Mas foi você quem roubou meu coração Esperanças Tolas- 08/12/97 Seria bom poder amar Seria divertido estar feliz Juntos, nós dois Usando nosso amor como abrigo Contra a fria chuva que esta caindo Mas não tenho chances sem você Por que não és capaz de me amar E eu sei disso por que estou com dor Devia ser mais belo o nascer do sol Mas agora está tão feio Por que não tem você ao meu lado É só uma estrela a implodir-se Com você seria o Sol! Mas estou só E não existe ninguém que possa me ajudar A não ser o seu amor Que de manhã me acordaria com sorrisos meigos E beijos tão bons quanto a vida deveria ser Mas acordo sozinho e com muito frio E meu tempo vai se acabando Por que estou sem você Portanto estou perdendo meu tempo Tentando viver em paz Enquanto eu sei que é de você que preciso Mas você não esta aqui E por isso eu digo que estou perdendo meu tempo Por que não tenho com o que mata-lo Já que só penso em você E o mais belo de tudo é que não sei quem és E mesmo assim te amo muito Por que o que perco em minha vida a cada segundo Ganho em alegria a te imaginar em meu coração Mas esta tão frio agora que meu sangue se esvai Que não consigo mais pensar Só em você
  • 27. Por que, se for morrer Quero morrer ao teu lado E tua imagem é a que quero levar pela eternidade Por que nada mais me importa A não ser a sua própria importância para mim Que é toda Não me importo em sentir dor ao teu lado Não me importo em sentir frio e fome Contanto que possa te ver por um segundo E te tocar com minhas mãos E dizer que nada mais me importa Nem mesmo a morte que me embala em seu colo A não ser a tua vida incógnita A qual amo tanto e queria tanto conhecer Mas não posso Por que me é tarde, me é tarde Só me deixe ama-la, por favor É o que imploro Antes que eu morra sem ninguém Deixe-me te ter Antes que eu morra E que o mundo acabe De-me esta chance De morrer olhando para você O Significado da Solidão - 21/01/98 A solidão é morte em vida, é infortúnio em sua glória É a ambigüidade pura da vida por si só Por que a vida também é somente uma Assim como nós somos somente um E basta uma ponta de esperança para as lágrimas caírem E somente uma dor intensa lhe fará ver que não vale a pena Por que no final alguém sempre se magoa E já nos basta padecer a tanto tempo Embora achar outra pessoa seja algo singular A expectativa do encontro é sempre dolorida E quase sempre constatamos: estávamos errados E quase sempre choramos: estávamos enganados E existem dores que nem o tempo pode acalentar E a solidão só os intensifica cada vez mais Forte como a própria união, é o fim certo a todos Por que é maldição e não bênção Ser sozinho é triste por que sozinhos não somos ninguém E na união do amor entre homem e mulher Existe uma força incrível que é o oposto de tudo o que conhecemos O amor faz a possibilidade da solidão valer a pena Se tiver um só minuto de amor intenso
  • 28. Se dê por satisfeito, pois já sabes o que é viver Se seu sonho se tornou real, dê-se por feliz Pois não existe nada mais importante que não estar só Somente uma coisa: Não estar só e estar acompanhado de quem se gosta Não existem rejeições fortes demais Não existem tardes vazias ao extremo O que temos é a nós mesmos E nada mais E tudo o que sonhamos pode ruir sobre nossos pés Pode demorar um dia ou uma vida Mais cedo ou mais tarde acontece E mesmo que você se sinta só e rejeitado Não se preocupe: Mais vale se lamentar por coisas feitas Do que por sonhos não realizados A História de Sérgio Sergipe - 16/02/98 Foram 12 dias de agonia a viagem de lá até aqui 12 paradas rápidas em postos de beira de estrada A comida pouco e ruim era a única que possuía Sérgio Sergipe chegou de seu terror para viver o nosso aqui Da rodoviária ele via os prédios que seriam seus senhores Empregos não haviam e a volta era impossível As noites eram frias e os bancos eram duros E foi então que percebeu que o chão era muito mais Toda esmola era em pinga e toda pinga era um alívio Por que não mais pensava em desgraças Só em vultos que seus olhos viam a passar Logo soube roubar e se via marginal matando para sobreviver Matava velho e criança e mulher e playboyzinhos que lhe diziam não Logo todos o temiam e até as autoridades dele fugiam Era o dono da cidade o Sergipano Sérgio Seu nome era o terror e sua mão era a morte Mas seu fim foi planejado e ele foi baleado Logo a cidade se arrependeu Por que a ordem que havia posto E que aparentava ser um caos acabou por desmoronar Os bandidos atacavam sem escrúpulos E Sérgio lutava contra uma bala na cabeça Logo a polícia dizia que Sérgio iria sobreviver E a cidade uma vez salva estava aliviada Em saber que Sérgio Sergipe estava indo mal Sua vida se salvou mais sua consciência se perdeu Sem inteligência e sem atividade O Sergipano cabra macho uma vez mais a rua foi E lá era só um baleado, somente um pobre coitado A mendigar uma vez mais para poder beber
  • 29. E seu terror, esquecido ao passado Renegado ao terror de ser baleado Era baba que escorria farta por sua boca assassina II Morreram mais de 21 ao tentar lhe impedir Mas Sérgio se enfureceu ao saber que de fome morreram No sertão que abandonara Suas filhas, vitimas da desgraça que renegara E a desgraça rolaria solta uma vez mais Pelo ódio da desgraça Sérgio enfim despertou E mesmo com um tiro na cabeça o diabo iria se rebelar Voltaria para o sertão e salvaria o resto de sua população Mas para tanto seria necessário Alguma arma para poder ir lutar Lhe deram então um trabalho E ele labutou E logo enviou o dinheiro que havia ganho para a família miserável E as filhas mortas foram enterradas E as outras sobreviveram mais um tempo Mas a grana era pouco e o sol castigava E não havia mais o que fazer Só lhe restava voltar a matar para poder sobreviver E dinheiro podre, manchado de sangue Foi enviado a família lá no seu sertão E a grana farta foi salvando suas crias E então a ele elas vieram Lá do terror da sertania Para o terror da cidadania Filhas de índio, donas do sertão Crianças pobres e filhas ricas Eram vadias, eram vadias Filhas de um ladrão Que mesmo baleado e abobalhado Conseguiu uma vez mais ser o dono da cidade E quem lhe odiava, morria com uma bala Por que foi na bala que quase lhe mataram E mesmo assim ele não parou Se recobrou E roubou da sertania a sua alegria Sua família E Sérgio Sergipano, vivo e malandro Agora era rico e poderoso Só que não podia se revelar Caso ocorresse sua família iria pagar III Pois não foi que o Sergipe virou uma belezura A chuva veio farta e o verde se espalhou E seu casebre no sertão se transformou em ruínas E sua casa era grande, sua fortuna era suja
  • 30. Suas filhas engordaram, e sua esposa o traiu Ambos morreram na faca Pois Sérgio os flagrou E então suas filhas pariram os seus netos E Sérgio teve então a desgraça de um cão Que matou um de seus netos E enviuvou uma das filhas Era um demônio e sua vida era estranha Era só um peão, agora era um chefão Morreram todos em emboscada suja Feita por Tiaõ Tião gostou de ver as filhas de seu inimigo a sofrerem e chorarem E Sérgio, muito do esperto estava em sua casa humilde no sertão Era um homem louco com uma bala na cabeça Que chorava por ter feito Da desgraça sua vida E da vida uma desgraça Outra bala entra em seu crânio O sangue escorre grosso e a vida o abandona Tudo o que quer é nada ver E que vê é somente a si mesmo Substitua - 17/02/98 Toda a agonia se troca por alívio Toda a raiva, por amor Toda a solidão por companhia Toda a miséria por riqueza Inverta a fraqueza por tua força E mude da tristeza para a alegria Troque o isolamento por carinho E a violência pela paz Substitua a desgraça pela glória E o medo pela coragem Abandone o choro e acolha o sorriso Transforme a dor e ganhe prazer A Doença - 17/02/98 As estradas paradas como fotos antigas As ruas amontoadas de pessoas a andar pelas esquinas Os prédios apagados com pessoas a sonhar E logo abaixo existem outras, querendo apenas matar E eu aqui doente sem nada poder fazer
  • 31. Com soro a minhas veias, e sem nada poder comer Preso à cama e em constante impossibilidade A deriva em pensamentos sobre minha cidade E a doença me come, me acaba Como uma peste, uma magia macabra Tenho fome mas não posso comer Tenho frio mas não posso me esquentar E fico triste por saber Que nada mais posso realizar Tenho frio e não me cobrem Tenho medo e não me acolhem Queria caminhar mas estou entrevado Tenho medo por que sei que já sou do passado Sinto dores e não me dão alívio Tenho alucinações e não me permitem suplício Queria apenas uma mão para segurar E nada tenho, só minha doença E o que desejam é me matar Pelo menos esta é minha crença Saideira - 17/02/98 Não lhes basta me ver aqui sozinho Vocês ainda tem que me humilhar Dizer ao outros que não passo de um bastardo E é aí então que corro ao meu refúgio O cheiro ébrio invade minha mente E os lábios se secam a procura de bebida Do balcão me vem uma branquinha Que escorre ardente por minha garganta Uma após a outra elas vão descendo E só então vou-me esquecendo de quem eu era Das constantes fugas do serviço Das gargalhadas dos amigos a me ver cair ao chão Uma garrafa se vai fácil Mandam outra e eu já esqueci meu nome Não quero voltar para aquele lugar bonito Por que lá me acusarão: bastardo Por ser sozinho a bebida me alivia como companhia Me aquece no inverno, me apazigua de meu ódio Me eleva ao céu enegrecido Da noite que não mais terá fim
  • 32. Já não consigo ficar de pé E logo um cão me lamberá a boca Pois na sarjeta irei amanhecer E uma vez mais me chamarão: bastardo A dor me voltará e a vergonha será sua aliada As palavras uma vez mais irão ferir E outra vez uma boa pinga me acalmará Uma vez que ela é bastarda como eu O Passado Foi Tão Bom - 17/02/98 Era um dia como os outros Só que chovia por demais E eu te via uma vez mais Ia ver o teu amor Beijava-o como a mim um dia fez E eu chorava escondido ao ver tal cena E as lágrimas se escondiam nas gotas que caiam Então ninguém percebeu até eu gemer Um casal que passava perguntara se estava tudo bem E eu não tive forças de dizer que não Eles se foram embora para seu carro Pois seu filho os aguardava para ir embora E ela estava ali parada a beijar o dito outro E eu aqui parado a olhar a felicidade alheia Já me foi o tempo farto de alegrias nesta vida Só me basta deseja voltar no tempo uma vez mais E tê-la em meus braços como era antigamente Mas me foi tirada a força pela força do destino E me ampararam muito mal Já que não consegui esquecer o gosto dela E de como eram quentes as suas mãos em dias frios Que passávamos juntos sem nada dizer Somente a se olhar e a se abraçar Eram dias belos em que a chuva era bela E naquele tempo, eu digo agora, me apaixonei Por que nada mais queria além daquilo E nada me fazia mais sentido sem tê-la ao meu lado E ela se foi como a chuva que se vai ao ver o Sol E eu fiquei só, eu fiquei só E me dói dar as costas a aquela cena tão triste Por que era a mim que abandonava naquele beijo dado E era meu corpo que caminhava em sentido oposto Pois meu coração fico ali Quebrado e molhado pela chuva forte e fria Que molhava a tudo inclusive a mim mesmo E ali ficou meu amor eterno E ali ficou a dor de um passado que foi tão bom Mas que se foi com o tempo
  • 33. Sem Retorno - 19/02/98 Sou só mais um em meio à multidão Um ponto pobre e esquecido em meio a todos Em breve as portas se fecharão E sem saídas enfim estarei Em breve estarei dormindo uma vez mais E meus sonhos serão telas negras sem sentido Não sonharei com as lendas que tanto ouvi Por que não tenho mais tempo para elas Envolto em flanelas quentes eu estou E o frio arde forte afora de minha morada Não me preocupo com o que possa ocorrer lá fora Por que a fora não pertenço Cri que antes dos tempos obscuros Minha alma tivesse saídas dos problemas que me afligem Mas os problemas são apenas jogos E os jogos apenas passatempos Assim como passou meu tempo de retornar Por que esta em tempo de me conciliar Não com alguém, mas comigo mesmo Embora saiba que a muito esteja perdido O caminho que trilhei até aqui E não ha mais volta do estado em que me encontro Por que estou mais perto de meu fim Do que de meu começo E, cansado, olho a frente e vejo meu final Na linha de chegada existem emoções que não queria A solidão, a tristeza e o ódio E ao lado delas, uma sepultura profunda Aonde depositarão meu corpo morto Olho para trás uma vez mais E o começo esta tão distante que não posso vê-lo Foi um caminho longo, tortuoso e penoso Que não quero mais rever Me basta o pouco que me falta ver Para enfim repousar Só tenho que me arrepender E disso já me notei Um Momento na Serra - 19/02/98 Quero olhar o por do Sol daqui Por que és belo mais do que de lá Daqui eu posso ver o mar se esquentar Ao contato dele com seu manto quente
  • 34. Era tarde e o meu carro estava ao lado A estrada vazia era algo vago As árvores e os pássaros ao meu lado Me faziam crer que era enfim a paz Mas lá não estava você Era tudo tão perfeito em ti que não quis me recordar Era tudo tão bonito que não quis me perguntar Aonde estavas tu naquela hora E onde estavas eu quando foi-te embora O silêncio respondia com sua palidez E nem mesmo as garrafas a beber me fizeram esquecer Quem era a tua dona, seu bastardo Era aquela que se foi embora para o outro lado Eu quis te visitar, mas me era tão doido Ver teu corpo sepultado e enterrado aos meus pés E era triste pensar que o que mais queria Era poder lhe beijar uma vez mais Tomo entre as mãos minha vida e uma bala Não me resta mais nada a não ser caminhar Era tudo tão belo que não tinha medo Mas que medo eu poderia ter Uma vez que eu sabia que você me esperava Logo ao lado de meu corpo morto E tua mão tocou a minha e me fez continuar E foi assim que estou aqui Os demais me encontraram na estrada E a serra se tornou uma vez mais uma notícia Do triste fim de um homem por seu amor que era morto E sua arma houvera disparado uma vez Um Poema Hardcore - 19/02/98 Era noite na selva amedrontada As pessoas caminhavam sem sentido pelas ruas amarguradas E um amor era tudo o que lhes importava Mas era a uma arma que tinham em seu lugar E as vezes, em troca do calor de uma garota Recebiam o calor de uma bala E ao invés da dor de um amor perdido O que tinham era a dor de um ferimento mortal E os gritos de sua mulher ecoaram por entre os becos E os seus gemidos de dor se calaram diante de sua morte Seu corpo se enrijeceria lentamente
  • 35. E ao amanhecer ele estaria duro Em alguns instantes estaria inchado e podre E logo os vermes da terra o corroeriam pouco a pouco E seus ossos se pulverizariam durante os séculos E você enfim deixaria de existir Batalha Interna - 19/02/98 Segura a minha mão enquanto vamos Era medo o que sentia antes de te conhecer Agora és apenas um sonho antigo Em uma galeria longe, muito longe daqui Era estranho e amedrontador aqueles dias Em que tinha medo de andar pelas ruas Mas foi então, e somente então Que me deixei segurar-te a mão E foi naquele instante secular Que vislumbrei o teu incógnito rosto E tuas mãos se revelaram tão macias E teu rosto, uma verdadeira poesia E desde então eu sou o que conheces Um homem pleno e ao mesmo tempo frágil Frágil por que de ti dependo Para poder sobreviver assim tão bem E não me entenda mal quando digo Que és meu mais forte vício Por isso digo que segure minhas mãos tão fortemente Por que não quero escapar de tuas garras Minha fera mais singela, que és tu Não me deixe escapar de meu amor por ti Por que não posso mais sonhar E não posso mais caminhar em frente Não sem você, não sem você A Noite após o Dia - 19/02/98 Os fogos claros explodem em dias negros Como a esperança de um amanhã sangrento Todos se perguntam, se vale viver Só que a vida é um passo dado ao entardecer E a morte é o anoitecer eterno da bondade de nossas almas E somos obrigados a passar por tantas coisas Que não queríamos passar Temos que fazer algumas coisas chatas Como acordar tão cedo, e estudar Ou tomar mais um remédio em um corpo frágil Temos que correr para poder acabar
  • 36. Tudo aquilo que tivemos que começar Somos obrigados a nada fazer Enquanto assim o fizermos Temos que fazer o que não queremos fazer Temos que dizer que não ha nada o que fazer Embora seja tão curta nossa vida Fazer o certo é tão difícil E nossas almas estão traídas E nada somos além de crianças perdidas Em um mundo tão vazio de nós mesmos Temos que fazer tudo o que não quisermos E o que desejo fazer É contar que não me agrado Com a vida que levo nestes dias Com a miséria das nações Com a busca das grandes instituições Atrás de coisas chatas que não queriam buscar Temos que fazer. Temos que obedecer Temos que cumprir e temos que viver Tudo o que temos que fazer é ser felizes Por que da noite passada já me fartei E quero o dia tão claro quanto possa Não quero mais olhar para as estrelas tão longínquas E quero poder te olhar nos olhos sem chorar Quero poder, sem medo, lhe abraçar E quero ser feliz, e quero viver bem Eu quero abandonar este lugar Mas não me dizem não Mas não dizem sim Tudo o que me dizem é que talvez E neste talvez me deram a esperança Tola que não quero levar Para a noite que esta a voltar Adormecidos à Vida - 02/03/98 Vede a minha mão a abrir o meu caixão A sede, forte, avassaladora Quero sangue escorrendo por minha garganta a dentro Quero a morte nos olhos de minha vítima Meu corpo morto de alimenta do sangue vivo E minha sanidade se mantém por mais um dia Logo o Sol que a tanto já não vejo Impedirá minha caçada e que eu fique saciado Mas as estrelas ainda brilham E a Besta em minha alma se aquieta Já bastava ser um monstro Mas o desejo de ser humano uma vez mais Tal como os pobres e miseráveis Não O sangue me fala mais alto
  • 37. O desejo pela morte era forte E uma cria seria bem vinda agora Porém meu senhor me impede de tê-la E agora sou sozinho pela eternidade Um vampiro se perdendo para si mesmo Veio o dia e meu sarcófago me acolhe A noite seria uma vez mais tentadora Já que nada mais importa A não ser o sangue quente que tens em tuas veias E a vida que lhe move para acalmar a morte que me domina Creia em mim quando digo que não existo Por que se souberes, morrerás Será alimento eterno de seres monstruosos Servirá de alegria a criaturas sombrias Pois o sangue que corre por teu corpo Encerrará a sanidade que tanto busco Eu me tornarei um insano Temor - 02/03/98 A verdade é que tememos a nós mesmos Temos medo de nos libertar Por que sabemos o que somos Mas ninguém pode sobrepujar as emoções E o instinto é quem nos controla Ele se disfarça de emoções Temos medo, fome, sede Temos desejo insano, paixão, amor E por mais que lutemos contra este animal interno Nada pode segura-lo por muito tempo Por que somos este animal E nossa humanidade é apenas um disfarce Algo para não assustar aos demais Algo para não assustar a nós mesmos Destino - 02/03/98 Era tão escuro que não podia me ver Era difícil encontrar outro alguém Tudo por que minha visão estava nula Por que estava, na verdade, cego de tristeza E ao tocar alguém eu chorei Por que era surdo também E só o que podia fazer era sentir E foi então que senti a tua mão
  • 38. Estava cego a tempos e tu me voltaste com a visão E que bela tarde era ao constatar Que era a ti que sempre estava a procurar Mas era errado pensar que enxergaria outra vez Por que dado ao fato de que você se foi Uma vez mais a solidão me escureceu a visão Palavras de Sangue - 05/03/98 Meus olhos negros sobre tua pele branca Tua língua quente em minha boca fria Sou mais um na noite Assim como os corvos em velórios Mal presságio aos que perto estão De ti bebi a vida O desejo não claro de noites a sós Os dias sozinho e escondido Tudo por que de noite eu sou forte Por que é quando você é minha Bebo de ti o que quero Desde sangue até o amor Amor que não podes mais me dar Bebo da vida que te ilumina Dos sorrisos tão macios E dos olhos tão brilhantes E de tudo o que puder me dar razão Possui-te a própria morte Aguardo a ti com dor em meu peito Por que seis que morrerá ao me abraçar Por que eu não vou agüentar A vontade que tenho de te ter para mim Uma vez que seja, dentro de mim Mergulhando Em Teu Olhar - 09/03/98 A bruma escura se dissipa diante de teu olhar O sol esta brilhando agora juntamente com seu sorriso Seus olhos são reflexos, tua alma é o teu retrato externo Não existe mais temor, pois estas aqui Caminha entre todos, celebrando a própria vida Pois você mesma é celebração, você é vitória Delicada e forte inspiração, você é a própria festa Que todos desejam comemorar Não existem presentes, e não existem palavras
  • 39. Pois você é a vida, você é o despertar És teu próprio presente, é tua benção Pois os que a olham se tornam mais felizes Falar-lhe é suplício, pois palavras não bastam Sintoma de vícios de um povo simples Pois tudo o que basta é o que todos fazem Basta admira-la sendo você mesma Quatro estrofes, já daria uma canção Mas me faltam acordes para lhe fazer justiça Seria certo o que todos acham errado Mas a tempos o que é errado é certo Por isso clamam o teu nome na tentativa de se salvarem Lembram-se de um rosto, e de um olhar Mergulham nele para se lavarem de seus pecados E estão salvos, pois se lembram de como é a vida Lembram-se de como você é "escrito em uma segunda-feira ensolarada" Triste Amalgama de Variações Constantes - 11/03/98 Impulso rápido dilacera meus medos Meu corpo corre e sua durante a caçada Interpreto para obter aquilo que quero Sou o príncipe daquilo que te consome Sou o desejo insano, sou a loucura Incerto e indomável, dentro de cada um Sou a tristeza possante que tanto te faz mal Era antigamente um ser mais belo Sou agora um monstro incerto de minha própria motivação Sou um amalgama de emoções constantes Uma letargia matinal Um incesto noturno Um filicídio tardio Eu sou a dor Sou o odor e a pureza E dentro de mim estão os desejos Pois eu possuo cada um Eu sou cada um Cortes Profundos em Minhas Artérias - 11/03/98 O brilho é encantador Lembra-te algo, como diamantes ou mesmo ouro
  • 40. Mas sabemos: trata-se de aço Afiada lâmina pronta a cortar Sedenta, absolutamente em desejo Farta é a dor, mas não paro Profundo é o caminho, mas ainda rasgo Abundante, gotas e mais gotas caem ao chão Logo temos uma poça Não paro com uma parte Parto para as demais, tão voluptuosas A aorta não é a única, afinal A femoral também é grande Mas lâminas não bastaram Tinha que haver algo mais E lembrar-me de suas palavras de negação Do medo, da solidão E de tudo o que me cortou De tudo o que me matou O que mais doeu O que mais profundamente me feriu Foram tais lembranças Dores Emocionais - 11/03/98 Certamente todos assim foram Ou se não ainda serão Por que ninguém esta livre da dor Ninguém pode suportar o horror Dores, alucinações e descontrole Júbilos de atrasos que não foram marcados Excreção do que não é processado Alívio daquilo que não incomoda Medo. Insuportável medo Tensão, adrenalina, suspense Era a hora de crer que ocorreria em breve E ocorreu que tive dor Por que temia o inevitável Temia a você, a seus olhos E deve ter doído um tanto em você também Já que a dor é como o prazer Pois é a vida que se manifesta em si Triste, amarga, acinzentada Era o medo que tinha Perder tudo aquilo que tinha Temer perder a minha vida Mas o que perdi enfim Não foram as palavras, e nem os olhares Perdi você por estar sentindo dor Dor emanada de mim mesmo Dor que me causo Auto flagelamento emocional
  • 41. Sem Destino - 11/03/98 Abro a porta de minha casa Olho para a rua deserta na madrugada Caminho até meu serviço Cansado inicio meu trabalho Sucessões de acertos e erros simples Intrincados relacionamentos superficiais Intrigas e suspenses, tramóias e tocaias Meia hora e meia, estou sozinho Ando até um restaurante e como algo rápido Volto logo, não ha o que fazer além de me abastecer Trabalho mais, e minhas mãos já doem Estou pronto para partir Os demais organizam caçadas a noite E a damas se preparam para acompanha-los Eu devo voltar a minha toca escura Pois nada ha para mim aqui fora Basta-me ouvir desaforos dias inteiros Tudo o que quero é voltar a minha toca Assustado, sou arrastado por alguns à dita arena Pessoas se empurram e se embebedam Insulto a minha dignidade Todos sabem o que todos querem ali Para que a mentira então? Para que? Mais algum tempo se passou As garrafas estavam vazias Minha visão estava turva e eu pensava: Por que não paro de gargalhar? Visto como alguém normal, posso me despreocupar Ficaria em paz mais um ano Em minha toca quente Sozinho ao teu Lado - 12/03/98 Posso lhe ver claramente Isso já me provoca amor ardente Mas estamos juntos apenas superficialmente Isso se comprova totalmente ineficiente Ao teu lado caminho Ao teu lado durmo Mas juntos em nossos pensamentos Não estamos a muito tempo Todos os dias começam cedo
  • 42. E mesmo assim não suporto ficar longe nem por um minuto E eu não posso viver se não estiver ao teu lado Mesmo que seja para estar só Quero a tua companhia Mesmo que seja para ficar só Eu lhe chamo e você não compreende Eu estou enlouquecendo Por que não lhe encontrar realmente Estou aqui parado diante de você Mas não é a mim que lhe interessa Minutos inteiros gastos pela noite sem mim Mesmo eu estando ao teu lado o tempo todo Dias e anos, tempo gasto a toa Eu estou aqui, olhe para mim Por que estou cansado desta solidão Aprisionado ao teu lado como pena Sem poder lhe falar ou conversar E sem poder lhe dizer o quanto amo Condenado a viver ao teu lado Suave Amargura - 01/07/98 A porta esconde-me o mundo Abro-a. Escondo-me do mundo então Tenho as formas que lhe agrada Mas antes eu não tivesse que sair de casa Pois não é minha alma que podes ver É o que quero aparentar que vislumbras Meus modos e maneiras, gestos e atitudes Sou um balão cheio de vácuo Tenho a forma que desejam-me Flutuo entre os tolos, que sabem que sou vazio Já não me importo mais Podem esvaziar-me do nada Pois ternura é quente e doce Suave amargura dilata meu desejo Engrandece meu sintoma Sussurra minha morte Prolonga minha tortura Anseia meu amor Finaliza meu temor Abraça-me em teu desespero, ínfimo ser triste Guarda-me em tua alma, banha-me eu teu medo Ponha-me em você para que possas se acalmar Limpa o teu corpo do suor amargo e seco Duro é viver sem aguardar um amanhã Banha-te na secura da luz do amalgama eterna Sofra como sofro os dias pardos e nostálgicos De dias de um passado a tanto abandonado E lembra-te que foi assim
  • 43. Um nobre ser que clama solitário em seu poder O destino que traçaste com lápis desapontado e com papéis amassados Os quais perdeste no caminho torto e perigoso E jamais pode se lembrar qual era a rota De sua vida que a tanto perdeu sentido Monte das Lamentações - 13/07/98 Lampejos, vultos, cores amargas Trituração de convulsões ecléticas Relâmpagos a esbravejar ao céu profundo E o vento a lamber-te o corpo debilitado Choras em busca de um torpor inimaginável Castiga-te em vontade insana de incesto E lamenta-se das obras que levantaste Murmúrios tímidos ecoam de tua boca E da minha emanam desejos Teus olhos imploram-me calor E labaredas desgovernadas lhe aquecem a vontade Implora nua em tua santidade O frio que lhe matava Mas agora não morrerás Pois da vontade se forjou o meu amor E deste fogo ardido surgirá a lamentação Pois de desejo se alimenta o fogo que emano E não mais do amor jocoso que outrora declamava Simples afago, que me deste em noite incerta E agora cá estou a lamentar sua piedade Pois de sofrimento férreo se aguça minha mente E tanto sofri, e tanto lamentei Que sem forças para correr Me aprofundo neste monte etéreo em minha alma Cavando-me mais para o fundo e cobrindo-me da vergonha Pois insanos são meus pensamentos E insano é meu amor Despertar da Noite Rubra - 17/07/98 Espantado, melancólico assobia a morte fria O vento sopra e ecoa pelos lastros siderais E da noite ecoa o grito que não sabes de quem é E é quando acorda insano que percebes É tua boca a gritar socorro E banhado em sagre quente lacrimeja por perdão E os corpos ao seu lado lhe recordarão Atrocidades e maldades ao cheiro podre do fracasso A morte é vencedora e a vida só compete
  • 44. Pois a dor te distrai e o prazer lhe devora Sem teus olhos não enxerga o que mais deseja ver Pois a gosma escorre farta e a terra é escura Das tuas tripas vem a vida e da cabeça vem a morte Terror das noites rubras é o teu despertar Pois é da noite que mais gostas e é lá que vai matar Tristes assombram as ruas desertas das calçadas inusitadas E da boca ainda arfa o grito que te bradas Jubilo etéreo insano da loucura do desejo Calamidade das estreitas e frias ruas da cidade Gargalhando e engasgando com fábulas esquizofrênicas E da vontade nasce a garra e a garra só existe para trucidar Trucidando as pessoas pela noite que amou-te E ainda podes ouvir teu próprio grito Longínquo o brado da selvageria Da morte que emanas de teus próprios poros Vida Vazia - 16/11/98 Vazio eterno, inerte vácuo Dantesca dor embrionária assassina Víbora venenosa, gloriosa derrocada Baila em minhas dores como a morte em minha vida E as ruas enevoadas iluminam-se com o Sol Minha alma desperta sórdida e lamenta o amanhecer Decrépita