1) O documento discute as promessas iniciais do socialismo e sua implementação na União Soviética e em outros países, incluindo conquistas sociais. 2) No entanto, o modelo econômico soviético mostrou-se insustentável, levando ao colapso da União Soviética em 1991. 3) Isso levou outros países socialistas da Europa Oriental também a desmoronar, embora a China tenha adotado reformas para evitar o mesmo destino.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
AS CAUSAS DO FRACASSO NA CONSTRUÇÃO DO SOCIALISMO E SEU FUTURO
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AS CAUSAS DO FRACASSO NA CONSTRUÇÃO DO SOCIALISMO E SEU
FUTURO
Fernando Alcoforado*
Este artigo tem por objetivo apresentar as promessas do socialismo, o seu processo de
construção em vários países do mundo, as causas de seu fracasso com as conclusões sobre
seu futuro.
1. As promessas do socialismo na história
O socialismo é uma doutrina política e econômica que surgiu entre o fim do século XVIII
e a primeira metade do século XIX tendo por objetivo a conquista da igualdade social. A
corrente socialista emergiu como uma forma de repensar o sistema capitalista em vigor
na época. O socialismo científico, conhecido como marxismo, foi criado no século XIX,
pautado em uma análise histórica e científica do capitalismo por Karl Marx e Friedrich
Engels. Segundo Marx e Engels, em todas as épocas históricas a sociedade foi marcada
pela luta de classes, sendo essa relação caracterizada pelo antagonismo entre uma classe
opressora e uma oprimida. No capitalismo, essas classes são representadas,
respectivamente, pelos donos dos meios de produção e por uma massa de assalariados
sem posses, que dispõe apenas de sua força de trabalho.
O marxismo considera o proletariado como a única classe social capaz de destruir essa
forma de exploração do homem pelo homem, por meio da destruição do capitalismo. Isso
seria alcançado quando o proletariado chegasse ao poder com a conquista do Estado
através de uma revolução social. Ao atingir o poder, os trabalhadores eliminariam as
desigualdades, abolindo as classes sociais e tornando a sociedade igualitária. Quando isso
acontecesse na plenitude estaria assinalada a passagem do socialismo para o comunismo
quando seria adotado o princípio “De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual,
segundo suas necessidades” popularizada por Marx e pelos anarquistas.
Além de propor a extinção das classes sociais, o marxismo defende a socialização dos
meios de produção, a abolição da propriedade privada, o controle do Estado sobre a
divisão igualitária da renda e a economia planificada. Para alcançar estes objetivos e
cumprir sua promessa histórica, o partido comunista adotaria a estratégia de duas etapas
para transformar o mundo: 1) tomar o poder do Estado para colocá-lo sob a ditadura do
proletariado; e, 2) transformar a sociedade visando a conquista da igualdade social. O
socialismo é um sistema baseado na propriedade pública e na administração estatal dos
meios de produção. A sua doutrina está associada à procura do bem comum, à igualdade
social e ao intervencionismo estatal. Em termos políticos, a sua intenção é de construir
uma sociedade sem classes através da revolução social. O socialismo postula a regulação
das atividades econômicas por parte do Estado com o propósito de acabar com a anarquia
da produção característica do sistema capitalista.
2. A construção do socialismo no mundo
A primeira experiência prática de construção do socialismo no mundo ocorreu em 1917
na Rússia, que pouco tempo depois se unificaria com outros países para formar a União
Soviética. O regime socialista foi estabelecido na Rússia em 1917, quando uma revolução
derrubou a monarquia czarista que vigorava no país. Após a queda da monarquia, o
Partido Bolchevique, liderado por Vladimir Lênin, instaurou o governo socialista, que
defendia ideais baseados nos princípios marxistas. O governo de Lênin enfrentou forte
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oposição de setores ligados ao antigo regime czarista, o que gerou uma longa guerra civil
no país. Após o fim do confronto, a Rússia estava devastada e, para reconstruí-la, o
governo decidiu abandonar momentaneamente alguns rígidos princípios socialistas. Com
a Nova Política Econômica (NEP), o país voltou a usar formas de produção capitalistas,
como a abertura de pequenas fábricas, diferenças salariais e investimento estrangeiro no
país.
Em 1922, sob o governo de Josef Stalin, a Rússia se une a vários outros países europeus
e asiáticos para constituir oficialmente a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS). Durante seu governo, Stalin aboliu a NEP e estabeleceu os planos quinquenais,
onde as metas da economia soviética eram definidas em um prazo de cinco anos. Stalin
priorizou a expansão e o desenvolvimento da indústria, além de centralizar diversos
outros setores nas mãos do Estado. A Constituição russa de 1918, também conhecida
como Constituição soviética de 1918, foi adotada de 1918 a 1937 e mantida após este
período com pequenas alterações. A Constituição reconheceu a classe trabalhadora como
classe dominante do país, estabelecendo a ditadura do proletariado. A Constituição
também estabelecia que os trabalhadores eram aliados incondicionais dos camponeses
garantindo direitos iguais às duas classes sociais. Contudo, a Constituição, no seu artigo
65, negava os direitos ao voto e à participação no poder público a outras classes sociais,
como comerciantes ou qualquer um que empregasse alguém, assim como padres, rabinos,
pastores, alta burguesia e para aqueles que tivessem apoiado o Exército Branco durante
a guerra civil. Além da União Soviética, o socialismo foi implantado no leste europeu, na
China, na Coreia do Norte, em Cuba, no Vietnã, entre outros países após a 2ª Guerra
Mundial.
Com a criação da União Soviética, a industrialização acelerada foi considerada
fundamental para superar o atraso do país que tinha estruturas econômicas pré-
capitalistas. A industrialização acelerada durante 70 anos tornou este país uma das
maiores potências industriais do mundo com um parque industrial com grande
desenvolvimento tecnológico e grande diversidade produtiva (siderurgia, metalurgia,
química, combustíveis, armamentos, transporte, espacial etc.). Este processo acelerado de
industrialização buscava equiparar a União Soviética ao parque industrial dos Estados
Unidos, seu rival na Guerra Fria. Em relação à infraestrutura de transporte, a União
Soviética fez pesados investimentos em ferrovias, rodovias, hidrovias, portos, dutos (gás
e óleo) e modal aéreo. A necessidade de integração do imenso território e de
aproveitamento das abundantes riquezas espalhadas por todas as regiões são fatores que
contribuíram para grandes obras de transporte. No setor de energia, a União Soviética
também fez pesados investimentos com vistas a aproveitar as riquezas existentes no
território – hidrocarbonetos, carvão mineral, potencial hidrelétrico, minerais atômicos –
para tornar a superpotência soviética uma potência industrial sem dependência de
importação de energia e matérias-primas minerais e levá-la à condição de exportador
dessas fontes de energia e matérias-primas.
Apesar do sucesso econômico alcançado, a União Soviética chegou ao fim em 1991.
Muitos analistas consideram que uma das causas do fracasso da União Soviética na
construção do socialismo teria sido o esgotamento do modelo extensivo de crescimento
econômico adotado, que exigia a adoção de avanços tecnológicos para aumentar
substancialmente a produtividade da economia como um todo. Outra causa teria sido a
incapacidade estrutural do sistema econômico soviético e do modelo de industrialização
adotado de assegurar a transição para a sociedade da informação com o emprego dos
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fatores de produção com base na informação e no conhecimento. Outra razão do sistema
socialista ter sucumbido reside no fato dele desestimular a busca pela inovação em uma
época de mudanças tecnológicas fundamentais, a despeito do enorme volume de recursos
alocados pela União Soviética para o avanço da ciência e da pesquisa e desenvolvimento
(P&D) apesar de o país possuir o maior número de cientistas e engenheiros entre a
população economicamente ativa em relação a qualquer outro país importante do mundo.
Apesar do desestímulo à inovação, foram importantes os avanços dos soviéticos no setor
aeroespacial porque lançaram o primeiro satélite artificial e enviaram o primeiro
cachorro, o primeiro homem e a primeira mulher ao espaço. Também desenvolveram o
sistema de comunicação por satélite, criaram órgãos artificiais, o primeiro helicóptero, a
xerografia e também o famoso e célebre fuzil AK-47.
A necessidade de manter seu poder em escala planetária e, consequentemente, suas áreas
de influência e dominação e o equilíbrio militar e tecnológico (aeroespacial) com os
Estados Unidos após a 2ª Guerra Mundial contribuíram para a União Soviética enfrentar
uma forte crise que trouxe reflexos negativos tanto para a economia quanto para o
atendimento das demandas sociais. Além disso, ocorreu o esgotamento do modelo
político fechado, centralizado e excessivamente burocrático que levou a União Soviética
a uma também crise política, causando forte insatisfação popular e o ressurgimento e o
crescimento de movimentos nacionalistas que aceleraram o fim da potência soviética. A
crise econômica e a insuficiência do modelo político levaram a uma forte insatisfação
popular na União Soviética que levaram o governo do presidente Mikhail Gorbatchev
a buscar reformas política e econômica que tirassem o país da acelerada decadência.
Para fazer frente ao fracasso econômico e político, Gorbatchev propôs duas reformas
estruturais, uma política, a Glasnost, e outra econômica, a Perestroica.
A Glasnost propunha uma abertura política interna, permitindo a participação e
organização popular, a liberdade de imprensa, de credo e de manifestações culturais. Já
a Perestroica propunha ampla reestruturação e liberalização da economia, ou seja,
reformas na estrutura da econômica com vistas à adoção de medidas pró-economia de
mercado, isto é, a adoção do capitalismo. A intensidade da crise não deu tempo para
Gorbatchev colocar suas propostas efetivamente em prática e colher os resultados
vislumbrados. Em agosto de 1991, o golpe de Estado realizado pela ala conservadora do
Partido Comunista, contrária às reformas propostas por Gorbatchev, levou a um
contragolpe com forte participação popular e à efervescência de movimentos
nacionalistas em várias repúblicas do país, que passaram a declarar a independência em
relação ao governo central, soviético. Em dezembro de 1991, Gorbatchev renuncia, o
Parlamento se auto extingue e onze das quinze repúblicas formalizam a criação da CEI –
Comunidade dos Estados Independentes, mais tarde formada por doze países e com forte
hegemonia da Federação Russa – herdeira militar, econômica e política da União
Soviética.
Apesar do fracasso econômico do sistema socialista, foram alcançados êxitos de grande
relevância na esfera social. Algumas das conquistas sociais da Revolução na União
Soviética perduraram até os anos 1980, como o acesso à educação e à cultura, saúde e
lazer. As mães tinham direito a 18 meses de licença maternidade, recebendo
adicionalmente metade dos seus salários, e outros 18 meses com um quarto do salário,
caso decidissem ficar em casa mais tempo. A maioria das mulheres retornava ao trabalho
depois de 18 meses, pois o Estado fornece creches por um baixo preço. Mães que ficavam
em casa era raridade. A maioria dos adultos trabalhava e o desemprego era inexistente. A
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educação infantil era muito estruturada. Crianças educadas em casa eram uma raridade
ainda maior. A escola possibilitava que os pais e mães ambos trabalhassem no período
integral sem ter que se preocupar com os filhos.
As pessoas não tinham muito, mas tinham o suficiente para viver uma vida
respeitável. Havia desigualdades sociais também mas não eram tão acentuadas como no
capitalismo. A União Soviética tinha estrutura para ajudar as famílias e os filhos a fazerem
atividades extracurriculares depois do horário escolar. Cada agência estatal ou fábrica
tinha um centro cultural, onde apresentações e eventos políticos e sociais eram feitos,
assim como programas gratuitos para crianças. Alguns eram melhores que outros, mas
toda criança tinha acesso a eles. Era uma época estável, em que se sabia o que esperar do
dia seguinte. Quando a União Soviética deu início ao seu colapso nas décadas de 1970 e
1980, a vida como existia antes acabou e a estabilidade se foi.
Com a perda da estabilidade, vários benefícios do país socializado desapareceram
juntos. Cerca de um terço da população passou a viver abaixo do nível de pobreza. Os
pobres incluíam aposentados idosos, mulheres solteiras, muitos camponeses e grupos
profissionais mal remunerados como, por exemplo, professores e pessoal administrativo
menos qualificado. As condições de moradia nas grandes cidades eram terríveis. Os
camponeses soviéticos estavam infelizes porque suas condições de vida eram miseráveis.
O descaso do regime com o meio ambiente afetou a qualidade de vida da população,
sobretudo com o desastre ecológico provocado pela explosão na usina nuclear de
Chernobyl. O ar e a água se deterioraram com a poluição, florestas foram destruídas, o
solo envenenado e os recursos naturais se esgotaram porque tudo se subordinava à
maximização da produção agrícola e industrial gerando, em consequência, o
comprometimento da saúde da população. O declínio da qualidade de vida se
manifestava, também, no aumento do alcoolismo e do crime. Quando a União Soviética
colapsou, acabou e a estabilidade social.
Os países do leste europeu integrantes do sistema socialista liderado pela União Soviética,
também, sucumbiram. Para evitar o mesmo destino da União Soviética, a China adotou
um modelo econômico misto denominado “socialismo de mercado” que contempla a
presença do capital estrangeiro, além de capitais estatais e privados locais. O socialismo
se transformou em capitalismo de estado na China. Em 1980, a China entrou em um
período de intenso crescimento econômico, o governo chinês ofereceu incentivos para
instalação de indústrias estrangeiras. As exportações chinesas saltaram de 3,6 bilhões de
dólares em 1978 para mais de 250 bilhões de dólares em 2004 cujo crescimento provocou
problemas comuns aos países capitalistas, como o aumento da desigualdade social, do
desemprego e da pobreza, além das disparidades regionais pois determinadas regiões da
China tornaram-se mais desenvolvidas e industrializadas do que outras.
A China se tornou a terra de novos bilionários e de pobreza extrema. Quase sete décadas
depois que o Partido Comunista Chinês subiu ao poder, 43 milhões de pessoas ainda
vivem com o equivalente a menos de US$ 0,93 por dia. Houve o registro de 1640 greves
ou protestos industriais em 2018, cerca de 400 a mais do que no ano anterior, e este
número tampouco é representativo de todas as greves acontecidas no país durante o
período. Se observamos a natureza desses protestos, a grande maioria dos casos está
vinculada de alguma forma aos problemas econômicos. Os protestos são provocados pela
incapacidade dos empregadores de pagar os salários a tempo, pelo fechamento das
fábricas e o colapso das empresas no setor de serviços, entre outros fatores.
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3. As causas do fracasso na construção do socialismo no mundo
Pelo exposto no capítulo 2, pode-se afirmar que o socialismo fracassou ao longo de sua
história na promoção do progresso econômico e político, apesar dos avanços sociais
alcançados. Wallerstein afirma em sua obra Utopística ou as Decisões Históricas do
Século Vinte e Um que os partidos marxistas fracassaram porque “o elemento principal
que levou ao afastamento popular desses partidos foi a desilusão, uma sensação de que
esses partidos tinham tido sua oportunidade histórica, que tinham obtido apoio com base
em uma estratégia de duas etapas para transformar o mundo (tomar o poder do Estado,
depois transformá-lo), e que não tinham cumprido sua promessa histórica”. Quanto ao
fracasso da União Soviética e dos países socialistas, Wallerstein destacou que “as três
maiores acusações contra o socialismo histórico são: 1) o uso arbitrário da autoridade do
Estado (e do partido) em que, nos piores casos, com o terror comandado pelo Estado; 2)
a extensão dos privilégios da Nomenclatura (grupo dominante na estrutura de poder da
União Soviética e outros países socialistas); e 3) extensa ineficiência econômica cujo
resultado foi uma contenção do aumento do valor social em vez de sua promoção”.
O fracasso na construção do socialismo se deve fundamentalmente ao fato de ter buscado
a conquista da igualdade sem alcançá-la e não ter proporcionado a felicidade para os seres
humanos que só poderá ser obtida ma medida em que o lema
"Liberdade, Igualdade, Fraternidade" como herança do Iluminismo ao final do século
XVII e invocado pela primeira vez durante a Revolução Francesa seja colocado em
prática. Este lema invocado durante a Revolução Francesa, que é universal porque traduz
os anseios de todos os seres humanos, tornou-se o grito de ativistas em prol da democracia
e da derrubada de governos opressores e tiranos de todo tipo, erroneamente associado
apenas às revoluções burguesas que ocorreram na história, não foi adotado nas revoluções
socialistas que ocorreram no mundo e sim apenas a busca da igualdade. Este foi um dos
principais fatores responsáveis pelo fracasso do socialismo no mundo. Não basta a busca
da igualdade para conquistar a felicidade do povo. Portanto, o socialismo fracassou no
mundo, também, porque não adotou o lema universal de “liberdade, igualdade e
fraternidade” visando a consecução da felicidade dos seres humanos, buscando apenas a
igualdade que não se realizou na prática em nenhum lugar nem mesmo com a implantação
de ditaduras e do regime de terror.
O fracasso na construção do socialismo na União Soviética se deve, também, à adoção de
uma ditadura e do regime de terror que perdurou durante cerca de 70 anos que foi
justificada inicialmente pela necessidade de se defender da reação contrarrevolucionária
interna e de ataques externos durante e após a 1ª Guerra Mundial, posteriormente, para
defender o país da agressão da Alemanha nazista durante a 2ª Guerra Mundial e
reconstruir o país após esta guerra e, finalmente, para enfrentar as potências ocidentais e
os Estados Unidos durante a Guerra Fria. Estas foram as razões pelas quais não houve na
Rússia com Stalin no poder uma reação termidoriana, que é um termo utilizado para
designar a queda do regime do terror jacobino durante a Revolução Francesa, liderado
por Maximilien Robespierre, e a ascensão de um governo conservador alinhado aos
girondinos na França.
A adoção de ditaduras onde foi implantado fez com que o socialismo deixasse de atender
a demanda por liberdade que todo ser humano aspira gozar. Este fato foi responsável para
que a mobilização existente nos primeiros tempos do regime soviético se transformasse
em desmobilização durante dezenas de anos que só foi retomada na guerra patriótica
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contra o nazismo. Após a 2ª Guerra Mundial, ocorreu nova desmobilização que se
acentuou nos últimos dias do socialismo na União Soviética, quando os operários e o
povo em geral demonstravam não estar felizes. A insatisfação dos operários afetava a
produtividade do trabalho e resultava em produtos de qualidade inferior. Isto criou um
clima de apatia, mau humor, indiferença e, até mesmo, de desespero. Tudo isto explica
porque o socialismo desapareceu na União Soviética sem que o povo lutasse pela sua
permanência.
4. O futuro do socialismo
A desintegração da União Soviética e dos países socialistas do leste europeu demonstra de
forma inequívoca que nenhum modelo de sociedade se perpetua sem que haja o consenso
entre o Estado e a Sociedade Civil como preconizou o filósofo italiano Antonio Gramsci que
afirmou nunca ser possível o domínio bruto de uma classe sobre as demais, a não ser nas
ditaduras abertas e terroristas como as de Stalin, por exemplo. Para Gramsci uma classe
social deve ser, ao mesmo tempo, dominante e dirigente para articular em torno de si um
bloco de alianças e obter o consenso das classes e camadas dirigidas construindo uma
hegemonia ético-política. Isto não aconteceu nos países onde foi implantado o socialismo
no mundo.
Ao estudar os mecanismos de construção desta hegemonia, Gramsci chegou a um
conceito fundamental na sua teoria política, a saber, o conceito de "Estado ampliado" que
deixa de ser um puro instrumento de força a serviço da classe dominante, como o definiam
versões mecanicistas do próprio marxismo, mas, exatamente, força revestida de consenso,
coerção acompanhada de hegemonia. O Estado ampliado, assim, cabe na fórmula:
sociedade política + sociedade civil. E, nas sociedades de tipo ocidental, a hegemonia,
que se decide nas inúmeras instâncias e mediações da "sociedade civil", não pode ser
ignorada pelas classes sociais que aspiram dirigir o conjunto da sociedade.
O sentido de progresso civilizatório, implicado na estratégia gramsciana, reside no fato
de que, prospectivamente, todo o movimento deve acontecer no sentido de uma
"reabsorção do Estado político pela sociedade civil", com o predomínio crescente de
elementos de autogoverno e (auto)consciência. A contraprova disso é que em sua obra
Cadernos do Cárcere é formulada de modo pioneiro uma crítica ao stalinismo, em que,
para Gramsci, havia traços preocupantes de hipertrofia do Estado (estatolatria),
caracterizando-se assim uma situação de ditadura sem hegemonia, que não poderia
subsistir por muito tempo. Isto significa dizer que o socialismo só se imporá no futuro se
for radicalmente democrático ao contrário da experiência da União Soviética e de todos
os países que copiaram seu modelo de sociedade. Este seria o caminho que permitiria
evitar o que ocorreu em todos os países que implantaram o socialismo com a conquista
do poder com o uso da violência, a institucionalização de ditaduras e a disseminação do
terror revolucionário. Está demonstrado que este caminho é inviável para construir uma
sociedade baseada no lema "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" porque, além de não
conquistar a igualdade social, compromete a conquista da liberdade e da fraternidade
entre os seres humanos.
A tese da ditadura do proletariado formulada por Marx, Lênin e outros ideólogos para
construir o socialismo seria contraditório em um Estado governado pela Sociedade Civil
na base do consenso entre as classes sociais. Se, mesmo em sociedades capitalistas
avançadas, o proletariado não avançou o suficiente para se tornar classe dominante e
dirigente, haveria menos chance de atingir esta situação em sociedades capitalistas
7. 7
atrasadas, como foi o caso da União Soviética. O socialismo do futuro deve resultar de
um bloco de alianças com base no consenso entre as classes sociais visando a construção
de uma sociedade que busca o progresso econômico, social e ambiental baseado na
cooperação entre todos os seres humanos e não apenas pela vontade do proletariado. O
socialismo do futuro deve considerar o Estado ser governado em cada país pela Sociedade
Civil na base do consenso entre as classes sociais todas elas movidas pelo interesse
coletivo e não pelo interesse individual ou de uma classe dominante. A experiência da
social democracia escandinava, por exemplo, aponta nesta direção.
Ao analisar o modelo da social democracia implantado no mundo, constata-se que foi na
Escandinávia (Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia e Islândia) onde ocorreu o mais
bem sucedido entre todos eles. A Escandinávia é o berço do modelo de sociedade mais
equilibrado e igualitário que a humanidade já conheceu. Sua origem remonta à Suécia dos
anos 1930, quando se concretizava a hegemonia social democrata no governo do país
nórdico, dando início a uma série de reformas políticas, sociais e econômicas que
inaugurou um novo modelo de sociedade em oposição ao capitalismo liberal das décadas
anteriores cujo ato final foi a crise de 1929. Foi decisiva a iniciativa de economistas
suecos, tendo à frente Gunnar Myrdal que forneceriam o fundamento teórico para uma
política econômica alternativa social democrata. A Escola de Estocolmo, como seria
batizada esta ramificação do pensamento econômico heterodoxo, denunciou as mazelas
do capitalismo liberal e demonstrou a primazia da demanda das famílias para se retomar
ciclos de bonança econômica, em contraposição aos estímulos inócuos de oferta que
caracterizavam (e caracterizam ainda) a visão conservadora do capitalismo liberal.
Foi assim que nasceu o chamado modelo escandinavo, que rapidamente ultrapassaria as
fronteiras suecas para se tornar influente no norte europeu, mas também uma referência
importante na formulação de políticas econômicas heterodoxas (progressistas) em todo o
planeta. O sucesso deste modelo se deveu à combinação de um amplo Estado de Bem-
Estar Social com rígidos mecanismos de regulação das forças de mercado com base no
Keynesianismo, capaz de colocar a economia em uma trajetória dinâmica, ao mesmo
tempo em que alcançava os melhores indicadores de bem-estar social entre países do
mundo. O modelo nórdico ou escandinavo de social democracia poderia ser melhor
descrito como uma espécie de meio-termo entre capitalismo e socialismo. Não é nem
totalmente capitalista nem totalmente socialista, sendo a tentativa de fundir os elementos
mais desejáveis de ambos em um sistema "híbrido". Portanto, antes de construir o
socialismo do futuro, é necessário passar pelo estágio de socialdemocracia nos moldes
escandinavos.
REFERÊNCIAS
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mudaram o mundo. Curitiba: Editora CRV, 2016).
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LAQUER, Walter. O fim de um sonho. São Paulo: Editora Best Seller, 1994.
LEITE, Pedro. Escandinávia: modelo de desenvolvimento, democracia e bem-estar.
Disponível no website
<https://www.academia.edu/40098789/ESCANDIN%C3%81VIA_MODELO_DE_DE
SENVOLVIMENTO_DEMOCRACIA_E_BEM-ESTAR>.
8. 8
WALLERSTEIN, Immanuel. Utopística ou as Decisões Históricas do Século Vinte e Um.
Petrópolis: Editora Vozes, 1998.
WIKIPEDIA. Modelo nórdico. Disponível no website
<http://pt.m.wikipedia.org/wiki/Modelo_n%C3%B3rdico>, 2017.
* Fernando Alcoforado, 80, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema
CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor
nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC-
O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil
(Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003),
Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI
ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary
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Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável-
Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio
Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora
CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no
Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que
Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba,
2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-
autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).