1) O documento discute a necessidade de substituir o capitalismo por um novo sistema socialista, democrático. 2) Analisa três propostas anteriores de construção do socialismo que fracassaram: a) revolução violenta de Marx/Engels; b) reforma parlamentar de Bernstein; c) conquista da hegemonia por Gramsci. 3) Defende uma nova proposta de socialismo democrático após a construção inicial de um Estado de bem-estar social.
COMO CONSTRUIR UMA NOVA SOCIEDADE PARA SUBSTITUIR O CAPITALISMO MORIBUNDO NO MUNDO
1. 1
COMO CONSTRUIR UMA NOVA SOCIEDADE PARA SUBSTITUIR O
CAPITALISMO MORIBUNDO NO MUNDO
Fernando Alcoforado*
Este artigo tem o propósito de apresentar uma proposta de construção de uma nova
sociedade para substituir o capitalismo moribundo no mundo que contribua para a
completa emancipação da humanidade do sofrimento secular a ela imposto desde o século
XII pelos detentores do capital. A construção de uma nova sociedade se torna uma
necessidade imperiosa, não apenas para eliminar os insolúveis e gigantescos problemas
políticos, econômicos, sociais e ambientais provocados pelo capitalismo, mas também,
diante da perspectiva deste sistema chegar ao fim em meados do século XXI quando a
taxa de lucro global e a taxa de crescimento do Produto Bruto Mundial alcançarão o valor
zero [1]. Esta situação mostra que o sistema capitalista mundial está operando de acordo
com o princípio da entropia ao apresentar a tendência universal de evoluir para uma
crescente desordem e autodestruição rumo ao seu fim o que impõe a necessidade de que
seja implantada em todo o mundo uma nova sociedade diametralmente oposta ao
capitalismo, isto é, o socialismo, que vem sendo defendido e perseguido desde o século
XVIII, porém diferente daquele construído na União Soviética e em outros países, ou
seja, o socialismo democrático.
Para apresentar a proposta de socialismo democrático, analisou-se as três propostas de
revolução socialista e de construção do socialismo que ocorreram ao longo da história da
humanidade descritas a seguir: 1) A construção do socialismo com o uso da violência
revolucionária baseada nas concepções de Marx e Engels; 2) A construção do socialismo
pacificamente pela via parlamentar baseada na concepção de Eduard Bernstein; e, 3) A
construção do socialismo com a conquista da hegemonia pela classe operária na sociedade
civil baseada na concepção de Antonio Gramsci. Como será demonstrado nas páginas a
seguir, a proposta de Marx e Engels de construção do socialismo fracassou porque não
cumpriu sua promessa histórica de transformar o mundo depois do sucesso retumbante
das revoluções socialistas na União Soviética e em outros países. A proposta de Eduard
Bernstein de construção do socialismo fracassou porque foi constatado ser impossível
realizar uma revolução socialista pacificamente pela via parlamentar haja vista que os
partidos burgueses sempre constituem maioria em todos os parlamentos do mundo que
impede que haja decisões que comprometam os interesses dos capitalistas. A proposta de
Antonio Gramsci de construção do socialismo fracassou devido à impossibilidade de as
classes subalternas se tornarem hegemônicas dentro da sociedade civil, sobretudo nas
condições atuais de globalização do capitalismo.
Diante do fracasso dessas três propostas de construção do socialismo, formulou-se a
proposta de construção do socialismo democrático do futuro que está detalhada nas
páginas a seguir. Para viabilizar o socialismo democrático do futuro, considerou-se que é
preciso realizar, inicialmente, a reforma do capitalismo com a construção do Estado de
Bem Estar Social como aquele construído nos países escandinavos que, sendo um híbrido
dos sistemas capitalista e socialista, prepararia o terreno para a edificação do socialismo
democrático no futuro, posteriormente, sem os entraves relacionados com as propostas de
Marx e Engels, de Bernstein e de Gramsci.
A construção do socialismo com o uso da violência revolucionária baseada nas
concepções de Marx e Engels
A primeira proposta de construção do socialismo foi baseada nas concepções de Marx e
Engels [6]. O socialismo é uma doutrina política e econômica que surgiu entre o fim do
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século XVIII e a primeira metade do século XIX tendo por objetivo a conquista da
igualdade social. A corrente socialista emergiu como uma forma de repensar o sistema
capitalista em vigor na época. O socialismo científico, conhecido como marxismo, foi
criado no século XIX, pautado em uma análise histórica e científica do capitalismo por
Karl Marx e Friedrich Engels. Segundo Marx e Engels, em todas as épocas históricas a
sociedade foi marcada pela luta de classes, sendo essa relação caracterizada pelo
antagonismo entre uma classe opressora e uma oprimida. No capitalismo, essas classes
são representadas, respectivamente, pelos donos dos meios de produção, os capitalistas,
e por uma massa de assalariados sem posses, o proletariado, que dispõe apenas de sua
força de trabalho.
A primeira experiência prática de construção do socialismo no mundo ocorreu em 1917
na Rússia, que pouco tempo depois se unificaria com outros países para formar a União
Soviética. O regime socialista foi estabelecido na Rússia em 1917 com o uso da violência
revolucionária liderada por Vladimir Lênin [2, 10 e 11]. Com a criação da União
Soviética, a industrialização acelerada foi considerada fundamental para superar o atraso
do país que tinha estruturas econômicas pré-capitalistas. A industrialização acelerada
durante 70 anos tornou este país uma das maiores potências industriais do mundo com
um parque industrial com grande desenvolvimento tecnológico e grande diversidade
produtiva (siderurgia, metalurgia, química, combustíveis, armamentos, transporte,
espacial etc.).
Apesar do sucesso econômico alcançado, a União Soviética chegou ao fim em 1991. Os
países do leste europeu integrantes do sistema socialista liderado pela União Soviética,
também, sucumbiram. Para evitar o mesmo destino da União Soviética, a China
abandonou o modelo maoísta de sociedade socialista implantado com a revolução
socialista de 1949 e adotou um modelo econômico misto, capitalista e socialista,
denominado “socialismo de mercado” a partir de 1978 que contempla a presença do
capital estrangeiro, além de capitais estatais e privados locais. O socialismo se
transformou em capitalismo de estado na China. O socialismo fracassou ao longo de sua
história na promoção do progresso econômico e político, apesar dos avanços sociais
alcançados. Os partidos marxistas fracassaram no atendimento das demandas dos
trabalhadores ao levar a população em geral à desilusão com esses partidos que tiveram
sua oportunidade histórica de, adotando uma estratégia de duas etapas para transformar o
mundo (tomar o poder do Estado, depois transformá-lo), não tinham cumprido sua
promessa histórica [10].
O fracasso na construção do socialismo na União Soviética se deve, também, à adoção de
uma ditadura e do regime de terror que perdurou durante cerca de 70 anos que foi
justificada inicialmente pela necessidade de se defender da reação contrarrevolucionária
interna e de ataques externos durante e após a 1ª Guerra Mundial, posteriormente, para
defender o país da agressão da Alemanha nazista durante a 2ª Guerra Mundial e
reconstruir o país após esta guerra e, finalmente, para enfrentar as potências ocidentais e
os Estados Unidos durante a Guerra Fria [10]. A adoção de ditaduras nos países onde foi
implantado fez com que o socialismo deixasse de atender a demanda por liberdade que
todo ser humano aspira gozar. Este fato foi responsável por transformar a mobilização
popular em defesa do socialismo existente nos primeiros tempos do regime soviético em
desmobilização durante dezenas de anos que só foi retomada na guerra patriótica contra
o nazismo. Após a 2ª Guerra Mundial, ocorreu nova desmobilização que se acentuou nos
últimos dias do socialismo na União Soviética, quando os operários e o povo em geral
demonstravam não estarem felizes. A insatisfação dos operários foi tão grande que afetou
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a produtividade do trabalho e resultou em produtos de qualidade inferior. Isto criou um
clima de apatia, mau humor, indiferença e, até mesmo, de desespero. Tudo isto explica
porque o socialismo desapareceu na União Soviética e nos países do leste europeu sem
que o povo lutasse pela sua manutenção e, ao contrário, desejasse o seu fim.
Pode-se afirmar que o fracasso na construção do socialismo se deve fundamentalmente
ao fato de ter buscado a conquista da igualdade social sem alcançá-la e não ter
proporcionado a liberdade e a felicidade para os seres humanos que só poderão ser obtidas
na medida em que o lema "Liberdade, Igualdade, Fraternidade", herança do Iluminismo
ao final do século XVII, invocado pela primeira vez durante a Revolução Francesa, seja
colocado em prática. Este lema, que é universal porque traduz os anseios de todos os seres
humanos, tornou-se o grito de ativistas em prol da democracia e da derrubada de governos
opressores e tiranos de todo tipo, erroneamente associado apenas às revoluções burguesas
que ocorreram na história, não foi adotado nas revoluções socialistas que ocorreram no
mundo e sim apenas a busca da igualdade social. Este foi um dos principais fatores
responsáveis pelo fracasso do socialismo no mundo. Não basta a busca da igualdade
social para o povo conquistar a felicidade.
A construção do socialismo pacificamente pela via parlamentar baseada na
concepção de Eduard Bernstein
A primeira tese revisionista da teoria marxista da revolução socialista foi a proposta de
construção do socialismo pacificamente pela via parlamentar baseada na concepção de
Eduard Bernstein [13]. Nos fins do século XIX, Eduard Bernstein, político e teórico
político alemão, refutou no interior da socialdemocracia alemã as teses preconizadas
pelos líderes do Partido Social Democrata ao propor a revisão crítica do pensamento de
Marx. Ele acreditava no potencial emancipador da democracia burguesa, afirmando que
seria possível a tomada do poder pelas classes sociais subalternas para construir o
socialismo por meios legais e pacíficos através da via parlamentar. Bernstein sustentava
a adoção de uma postura política conciliatória e a mitigação da luta de classes preconizada
por Marx. As teses de Bernstein representam o primeiro grande esforço teórico para
apresentar uma elaboração em defesa das reformas do capitalismo como caminho para o
socialismo e não através da violência revolucionária propostas por Karl Marx. Para
Bernstein, o caminho para o socialismo passava pela democracia e pela implementação
gradual de reformas do capitalismo. Bastaria ao partido operário triunfar nas eleições e
conquistar a maioria parlamentar.
O surgimento da corrente revisionista de Bernstein deu início à primeira grande crise do
marxismo, introduzindo uma nova tendência de oposição à concepção dialética da história
de Marx e Engels e de abandono de quaisquer pretensões revolucionárias. Diferentemente
de Marx, Bernstein admitia que o socialismo poderia ser alcançado através de meios
pacíficos com uma reforma legislativa em sociedades democráticas, sem a necessidade
de uma revolução. Bernstein admitiu que o socialismo substituiria o capitalismo mais
tarde ou mais cedo por motivos morais, por ser o sistema político mais justo e solidário.
Ele criticava a ideia da existência de apenas duas classes sociais, uma opressora e outra
oprimida considerada por Karl Marx, reivindicando a existência de várias classes
interligadas. Bernstein considerava que a luta pelo interesse nacional era superior à luta
de classes defendida pelo marxismo.
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Em alternativa às teses marxistas, Bernstein defendia a luta pela melhoria gradual e
constante das condições de vida dos trabalhadores oferecendo-lhes meios para ascender
à classe média, não admitia a necessidade de estatizações ou nacionalizações em massa
de empresas privadas e recusava a via da violência revolucionária para atingir o
socialismo como aconteceu com as revoluções socialistas no século XX como a russa,
chinesa e cubana. As teses defendidas por Eduard Bernstein eram, portanto, as de realizar
a revolução socialista pacificamente com a reforma do capitalismo pela via parlamentar
que não aconteceram em parte alguma do mundo. Está comprovado pelos fatos da história
que muito dificilmente poderá haver uma revolução socialista pela via parlamentar. As
cadeiras do Parlamento estão ocupadas pela imensa maioria da classe econômica
dominante. No máximo, o que se pode obter nesses parlamentos são algumas concessões
que, em essência, não comprometam os interesses dos capitalistas. Na democracia
parlamentar, não existe oposição ao “status quo”, pois os partidos políticos dominantes
estão de acordo sobre o essencial que é a conservação da atual sociedade capitalista. Não
existem partidos políticos susceptíveis de chegar ao poder que duvidem do dogma do
mercado. A forma representativa e parlamentar que usurpa o nome da democracia limita
o poder dos cidadãos pelo simples direito ao voto, ou seja, a nada.
A construção do socialismo com a conquista da hegemonia pela classe operária na
sociedade civil baseada na concepção de Antonio Gramsci
A segunda tese revisionista da teoria marxista da revolução social foi a proposta de
conquista da hegemonia pela classe operária na sociedade civil para a construção do
socialismo baseada na concepção de Antonio Gramsci [9]. Gramsci, filósofo italiano,
considerava que o poder das classes dominantes sobre o proletariado e as demais classes
subalternas no capitalismo não reside apenas no controle dos aparelhos repressivos
do Estado. Este poder é garantido principalmente pela hegemonia cultural que as classes
dominantes exercem sobre as classes subalternas, através do sistema educacional, das
instituições religiosas e dos meios de comunicação. Usando deste controle, as classes
dominantes "educam", isto é, “domam” as classes subalternas para que estas vivam
submissas a seus interesses como algo natural e conveniente, inibindo assim sua ação
revolucionária. É assim que se forma um "bloco hegemônico" que incorpora todas as
classes sociais em torno de um projeto de sociedade que atende os interesses dos
detentores do capital. O poder hegemônico do capital combina a coerção com o uso dos
instrumentos de repressão e o consenso com o exercício da hegemonia cultural.
A supremacia de um classe social dominante se manifesta por dois modos: primeiro, pela
coerção ou repressão e, segundo, pela direção intelectual e moral, segundo Gramsci. Uma
classe social domina os grupos oponentes ao submetê-los com a repressão, além de dirigir
os grupos aliados. Gramsci afirma que uma classe social pode e deve ser dirigente antes
de conquistar o poder governamental. Esta, aliás, é uma das condições principais para a
própria conquista do poder. Posteriormente, quando exerce o poder, torna-se dominante,
mas deve continuar sendo dirigente também. Para Gramsci, a hegemonia é o exercício
das funções de direção intelectual e moral unida àquela do domínio do poder político. O
problema para Gramsci está em compreender como o proletariado ou em geral uma classe
social dominada, subalterna, pode se tornar classe dirigente e exercer o poder político, ou
seja, converter-se em uma classe hegemônica. A hegemonia é exercida unindo-se um
bloco social criando uma aliança política de um conglomerado de classes sociais
diferentes.
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Um bom exemplo da tese esposada por Antonio Gramsci é o da ascensão da
burguesia que, graças à expansão de suas atividades econômicas comerciais e
bancárias, durante a Idade Média no regime feudal, foi se tornando classe dirigente
antes de conquistar o poder com as revoluções burguesas realizadas na França e na
Inglaterra [2]. A burguesia se consolidou como classe dirigente ao apoiar a
centralização do Estado na figura de um rei absolutista. Os Estados Nação
absolutistas surgiram na Europa por meio de uma aliança entre burguesia e os reis
que contribuíram para o avanço da revolução comercial no mundo. A partir de
então os tributos passaram a ser pagos diretamente ao Estado, e não aos senhores
feudais, que proporcionaram um ambiente favorável para o desenvolvimento do
comércio e beneficiaram a ascensão ao poder da burguesia comercial e bancária na
Europa. Embora fosse a classe social economicamente dominante e responsável
pelo sustento do Estado (uma vez que nobreza e clero não pagavam tributos), a
burguesia não exercia o poder hegemônico que só aconteceu posteriormente com
as revoluções burguesas realizadas na Inglaterra entre 1640 e 1688 e na França em
1789.
A crise da hegemonia acontece, segundo Gramsci, quando, ainda que mantendo o próprio
domínio político, as classes sociais politicamente dominantes não conseguem resolver os
problemas de toda a coletividade, não conseguem impor a toda a sociedade sua concepção
do mundo e não conseguem mais ser dirigente de todas as classes sociais. Criam-se,
assim, as condições para a eclosão de uma revolução social e a ascensão das classes
subalternas ao poder. Gramsci afirma que as classes sociais subalternas só se tornarão
dirigentes se conseguirem apresentar soluções concretas aos problemas deixados sem
solução pelas classes dominantes expandindo sua própria cosmovisão a outros estratos
sociais, criando um novo bloco social, que pode se tornar hegemônico. A teoria da
hegemonia de Gramsci está ligada à sua concepção do Estado capitalista, que, segundo
ele, exerce o poder tanto mediante a força quanto o consentimento. Gramsci divide-o
entre a sociedade política, que é a arena das instituições políticas e de controle
constitucional legal, e a sociedade civil, que se vê comumente como uma esfera privada
ou não-estatal, e que inclui a economia. A primeira é o âmbito da força e a segunda o do
consentimento.
Gramsci argumenta que o partido revolucionário é a força que permitirá que a classe
operária desenvolva uma hegemonia alternativa dentro da sociedade civil. Para Gramsci,
a natureza complexa da sociedade civil moderna implica que a única tática capaz de minar
a hegemonia da burguesia e chegar-se ao socialismo é a adoção da “guerra de posições”
(análoga à guerra de trincheiras). A “guerra de movimento” com o ataque frontal ao
czarismo levado a cabo pelos bolcheviques na Rússia em 1917 foi uma estratégia
apropriada ao estágio de desenvolvimento atrasado da sociedade civil russa. Gramsci
entendia que uma "guerra de posições" era adequada ao Ocidente, enquanto que a "guerra
de movimentos" ("revolução ativa") seria aplicável ao Oriente onde prevalecia sociedades
menos avançadas. Gramsci estabelece uma distinção fundamental entre Oriente e
Ocidente. No Oriente, o Estado era tudo, a sociedade civil era primitiva e gelatinosa; no
Ocidente, havia o Estado e uma robusta estrutura da sociedade civil. Por sua vez, Gramsci
considera que uma revolução passiva (ou "revolução sem revolução") acontece quando
uma classe social chega ao poder sem romper o tecido social, mas sim adaptando-se a ele
e modificando-o gradualmente. A revolução inglesa de 1640 pode ser enquadrada como
revolução passiva na ascensão ao poder da burguesia na Inglaterra, bem como a revolução
escandinava de 1930 que significou a reforma do capitalismo com a implantação do
Estado de Bem Estar Social na Suécia após a ascensão ao poder da corrente social
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democrata. Entretanto, não há nenhum exemplo de revolução socialista “passiva”
registrado ao longo da história.
Gramsci entendia que, no Ocidente, para ter êxito, os partidos de esquerda deveriam
adotar como estratégia a chamada "guerra de posições" distinguindo-a da "guerra de
movimento". Na visão de Gramsci, no Ocidente, o Estado é "sociedade política +
sociedade civil", é "coerção + consentimento", onde a formação social é solidamente
articulada pela ideologia. Um partido de esquerda, em tais condições, precisa disputar
a hegemonia na sociedade. A construção do socialismo preconizada por Antonio Gramsci
não foi realizada em nenhuma parte do mundo até o momento atual devido à imensa
dificuldade de as classes subalternas se tornarem hegemônicas dentro da sociedade civil
desbancando a hegemonia das classes dominantes, sobretudo nas condições atuais de
globalização do capitalismo. Muito dificilmente se reproduziria nas condições atuais o
que aconteceu com a ascensão da burguesia ao poder na Idade Média. Nenhuma classe
social subalterna como a classe operária teria condições de se impor economicamente no
capitalismo globalizado atual para assumir a condição de classe dirigente antes de
conquistar o poder hegemônico na sociedade contemporânea.
A construção do socialismo democrático do futuro
O fracasso das propostas acima descritas de revoluções socialistas e de construção do
socialismo enfatiza a necessidade de busca de nova estratégia que contribuam para a
construção do socialismo do futuro diante da perspectiva de fim do sistema capitalista
mundial em meados do século XXI [1]. O socialismo do futuro deveria ser radicalmente
democrático tendo como objetivo criar um ambiente de liberdade, igualdade e
fraternidade entre os seres humanos para a conquista de sua felicidade resgatando os
ideais do Iluminismo. Para edificar a sociedade socialista em substituição ao capitalismo,
é preciso que haja uma transição que pode ser a reforma do capitalismo com a construção
do Estado de Bem Estar Social como o construído nos países escandinavos que, sendo
um híbrido entre o que existe de mais positivo nos sistemas capitalista e socialista,
prepararia o terreno para a edificação do socialismo democrático no futuro sem os
entraves que inviabilizaram as propostas de Marx e Engels, de Bernstein e de Gramsci.
Uma nova estratégia de construção de uma nova sociedade de transição, que poderá
conduzir ao socialismo do futuro, deveria considerar a realização de mudanças políticas,
econômicas e sociais como as ocorridas na Escandinávia desde 1930 até o presente
momento que significou o abandono do modelo clássico de desenvolvimento capitalista
como praticado em todos os países do mundo na época com a adoção de um modelo de
sociedade que incorporou os aspectos positivos do capitalismo e do socialismo se
constituindo em um sistema híbrido. Diferentemente das grandes revoluções sociais como
a americana de 1776 [2 e 3], a francesa de 1789 [8], a russa de 1917 [7], a chinesa de
1949 [4 e 12] e a cubana de 1959 [5], que se realizaram com o uso da violência, a
revolução escandinava [2] foi realizada pacificamente, isto é, sem derramamento de
sangue.
A Revolução Escandinava [2] teve seu início na Suécia na década de 1930 e depois foi
adotado, também, nos demais países escandinavos (Dinamarca, Noruega, Finlândia e
Islândia) após a 2ª Guerra Mundial com base na socialdemocracia que é uma ideologia
política que apoia intervenções econômicas e sociais do Estado para promover justiça
social em um sistema capitalista e uma política de Bem-Estar Social no interesse geral da
população com intervenções para promover uma distribuição de renda mais igualitária e
um compromisso para com a democracia representativa. É o desdobramento da ideologia
7. 7
política surgida no fim do século XIX por partidários do marxismo, como Eduard
Bernstein, que acreditavam que a transição para uma sociedade socialista deveria ocorrer
sem uma revolução violenta, mas sim por meio de uma gradual reforma social e
econômica do sistema capitalista a fim de torná-lo mais igualitário.
A Escandinávia é o berço do modelo de sociedade mais igualitário que o capitalismo já
conheceu. Sua origem remonta à Suécia dos anos 1930 quando ocorreu a hegemonia
social democrata no governo do país nórdico, dando início a uma série de reformas sociais
e econômicas que inaugurou um novo tipo de capitalismo, em oposição ao liberalismo
das décadas anteriores que levou à grande depressão econômica de 1929. Nascia o
chamado modelo social democrata escandinavo, que rapidamente ultrapassaria as
fronteiras suecas para se tornar influente no norte europeu, mas também uma referência
importante na formulação de políticas econômicas heterodoxas (progressistas) em todo o
planeta. O sucesso deste modelo se deveu à combinação de um amplo Estado de Bem-
Estar com rígidos mecanismos de regulação das forças de mercado, capaz de colocar a
economia em uma trajetória dinâmica, ao mesmo tempo em que alcançava os melhores
indicadores de bem-estar social entre os países capitalistas.
Para o sucesso da implantação do modelo social democrata escandinavo foi decisiva a
iniciativa de economistas suecos, tendo à frente Gunnar Myrdal, que em meados do século
XX forneceriam o fundamento teórico para uma política econômica alternativa à
dominante na época. A Escola de Estocolmo, como seria batizada esta ramificação do
pensamento econômico heterodoxo, denunciou as mazelas do liberalismo capitalista e
demonstrou a primazia da demanda das famílias para se retomar ciclos de bonança
econômica, em contraposição aos estímulos inócuos de oferta que caracterizavam (e
caracterizam ainda) a visão liberal conservadora. Hoje, os escandinavos mais uma vez
alertam o mundo que liberar as forças de mercado equivale a abrir uma verdadeira "caixa
de Pandora" catastrófica.
O Estado de Bem-Estar Social consiste em um modo de organização econômica, política
e social na qual o Estado atua como organizador da economia e agente de promoção
social. O Estado age no intuito de assegurar os interesses dos capitalistas detentores dos
meios de produção e garantir a proteção e serviços públicos ao povo. Em outras palavras
procura conciliar o interesse dos “de cima” com os “de baixo” na pirâmide social. O
modelo nórdico ou escandinavo de social democracia poderia ser melhor descrito como
uma espécie de meio-termo entre capitalismo e socialismo [2 e 14]. Não é nem totalmente
capitalista nem totalmente socialista, sendo a tentativa de fundir os elementos mais
desejáveis de ambos em um sistema "híbrido". Em 2013, a revista The Economist
declarou que os países nórdicos são provavelmente os mais bem governados do mundo.
O relatório World Happiness Report 2020 da ONU mostra que as nações mais felizes do
mundo estão concentradas no Norte da Europa, com a Noruega no topo da lista. Os
nórdicos possuem a mais alta classificação no PIB real per capita, a maior expectativa de
vida saudável, a maior liberdade de fazer escolhas na vida e a maior generosidade.
A social democracia visa reformar o capitalismo democraticamente através de regulação
estatal e da criação de programas que diminuem ou eliminem as injustiças sociais
inerentes ao capitalismo. Esta abordagem difere significativamente do socialismo
tradicional, que tem como objetivo substituir o sistema capitalista inteiramente por um
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novo sistema econômico caracterizado pela propriedade coletiva dos meios de produção
sob a ditadura do proletariado após a conquista do poder através da violência
revolucionária. Esta abordagem difere, também, do pensamento de Eduard Bernstein que
preconiza a construção do socialismo com a reforma do capitalismo pela via parlamentar
e do pensamento de Antonio Gramsci que preconiza a construção do socialismo com a
conquista da hegemonia na sociedade civil antes da conquista do poder pela classe
operária. Através do Estado do Bem Estar Social, que é uma teoria assistencialista, a
social democracia deve garantir aos seus cidadãos condições mínimas de saúde,
educação, justiça, moradia, renda e seguridade social. Muitos países adotaram em escalas
diferentes e em momentos históricos diferentes políticas segundo esta teoria, tais como
os países escandinavos (Dinamarca, Noruega, Suécia e Finlândia), França, Inglaterra e
Alemanha, entre outros. Em grande medida, o Estado de Bem Estar Social foi muito bem
sucedido em vários países, especialmente, nos países escandinavos.
O modelo escandinavo de desenvolvimento político, econômico e social deveria servir de
referencial como modelo de sociedade a ser perseguido por todos os povos do mundo
como transição para o socialismo democrático do futuro porque os países escandinavos
são considerados os mais bem governados do planeta, os que apresentam o maior
progresso político, econômico e social e têm os povos mais felizes do mundo. O
socialismo democrático a ser implantado no futuro deve representar um passo à frente em
relação ao Estado de Bem Estar Social resultante da reforma do capitalismo com a social
democracia posta em prática na Escandinávia e deve ocorrer quando, em cada país, a
sociedade alcançar elevado nível de desenvolvimento político, econômico e social e o
lema "Liberdade, Igualdade, Fraternidade", herança do Iluminismo, poderá se tornar
realidade no mundo.
REFERÊNCIAS
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Editora CRV, 2019.
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que mudaram o mundo. Curitiba: Editora CRV, 2016.
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Encyclopedia. New York: Garland Publishing Inc. ,1993.
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Edipro, 2017.
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13. STEGER, Manfred B. The Quest for Evolutionary Socialism: Eduard Bernstein and
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14. WIKIPEDIA. Modelo nórdico. Disponível no website
<http://pt.m.wikipedia.org/wiki/Modelo_n%C3%B3rdico>, 2014.
* Fernando Alcoforado, 81, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema
CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor
nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC-
O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil
(Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003),
Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI
ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary
Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr.
Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável-
Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio
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CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no
Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que
Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba,
2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-
autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019) e A humanidade
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