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Segurança Diferente - Uma Nova Visão de Excelência em Segurança1
Ron Gantt
De acordo com a Agência de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos (2016), em 2015,
a taxa de acidentes ocupacionais fatais nos Estados Unidos foi de 3,4. Isso significa que
nada mudou em relação às taxas de lesões fatais dos anos anteriores, com a taxa média
nos Estados Unidos permanecendo em 3,4 desde 2008, de acordo com análise de dados
encontrados no website da Agência. Profissionais de segurança perceberam esta
estagnação de fatalidades nas estatísticas de incidentes (Dekker & Pitzer, 2016; Loud, 2016;
Manuele, 2013), cada um observando que o progresso em segurança, medida pelo número
de acidentes graves, parece ter estagnado. Em uma revisão de taxas de lesões fatais nos
Estados Unidos conduzidas pelo autor, embora a taxa de acidentes fatais tenha diminuído
35% de 1994 a 2015, nos últimos 10 anos (2006-2015) a taxa de acidentes fatais caiu apenas
15,8%.
Este platô das taxas de acidentes fatais sugere que o progresso na prevenção de acidentes
graves pode ter as características de uma assíntota, uma linha que se aproxima de uma
curva, mas nunca a toca. Como Dekker (2015) observa, “assíntotas apontam para
estratégias mortais” (28). As estratégias utilizadas para alcançar o progresso na prevenção
de acidentes graves está proporcionando retornos cada vez menores. Como resultado,
apelos para novas abordagens à gestão da segurança têm crescido (Dekker, 2015; Dekker
& Pitzer, 2016; Hollnagel, 2014; Hollnagel, Woods, & Leveson, 2006; Alto, 2016; Manuele,
2013).
Segurança Diferente surgiu a partir desses apelos, à medida que os pesquisadores de
segurança começaram a perceber que as abordagens tradicionais estavam se tornando
cada vez mais inadequadas para lidar com as complexas realidades dos processos de
trabalho de hoje (Dekker, 2015; Hollnagel, 2014; Hollnagel, Woods, & Leveson, 2006;
Hummerdal, 2017). Com base em décadas de pesquisa em ciências sociais e de segurança,
Segurança Diferente procura desenvolver uma abordagem mais proativa, produtiva e
inclusiva para a gestão de segurança. As abordagens tradicionais de segurança tendem a
se concentrar principalmente na prevenção de negativos (Hollnagel, 2014). Por outro lado,
Segurança Diferente busca identificar e aprender com as coisas que vão bem como um
meio não só de prevenir ou minimizar os negativos, mas também para alcançar resultados
mais bem-sucedidos. Este artigo fornece uma visão geral da abordagem proposta por
Segurança Diferente, seus princípios básicos de segurança e recomendações para a
implementação de um sistema de segurança com uma abordagem diferente dentro de uma
organização.
Segurança - O Foco nos Negativos
Abordagens típicas de gestão de segurança enfatizam a identificação e eliminação ou
redução de negativos. Esses negativos incluem acidentes, incidentes, riscos, perigos, “erro
humano” e “atos inseguros” (Hollnagel, 2014). Por exemplo, o Conselho de Profissionais
Certificados dos Estados Unidos (2017) afirma que:
“Os profissionais de segurança identificam os perigos e os avaliam quanto ao
potencial de causar lesões ou doenças às pessoas ou danos à propriedade e ao meio
ambiente. O profissional de segurança recomenda controles administrativos e de
engenharia que eliminam ou minimizam o risco e o perigo representado por
perigos.”
1
(N.T.) Tradução livre do original em inglês Safety Differently – A New View of Safety Excellence
2
O padrão de consenso voluntário do Instituto Americano de Normas Nacionais que define
o escopo de prática para um profissional de segurança oferece de forma semelhante:
“O escopo e as funções do cargo de profissional de segurança devem ser:
• Antecipar, identificar e avaliar condições e práticas perigosas.
• Desenvolver projetos, métodos, procedimentos e programas de controle de
perigos.
• Implementar, administrar e aconselhar outros sobre controles de perigos e
programas de controle de perigos.
• Medir, auditar e avaliar a eficácia dos controles de perigos e programas de
controle de perigos” (Sociedade Americana de Engenheiros de Segurança,
2012).
Embora a empresa possa utilizar os resultados desses processos de forma produtiva, o
escopo e a função do profissional de segurança, conforme definido por cada uma dessas
organizações, é orientado para a eliminação ou gerenciamento de negativos. A Associação
Americana de Engenheiros de Segurança (2017), ao definir o que os profissionais de
segurança e saúde no trabalho (SST) fazem, explica desta forma:
“[Profissionais de SST] oferecem aos empregadores aconselhamento, apoio e
análise aos seus empregadores para ajudá-los a estabelecer controles de risco e
processos de gestão que promovam a sustentabilidade prática dos negócios. Eles
trabalham para reduzir (e eliminar) fatalidades, lesões, doenças ocupacionais,
doenças e danos à propriedade.”
Esta definição situa a prática do profissional de segurança em direção ao objetivo de
promover “práticas de negócios sustentáveis”, mas identifica que os mecanismos que os
profissionais de segurança usam para atingir esse objetivo são por meio da redução,
controle e eliminação de negativos.
O objetivo de eliminar aspectos negativos, como fatalidades e lesões, é certamente algo
louvável que não é questionado neste artigo. No entanto, o foco intenso em negativos tem
consequências. A profissão de segurança é orientada para a identificação, compreensão e
gerenciamento de coisas que dão errado em detrimento da compreensão das coisas que
dão certo. Dekker (2006) observa que, atualmente, não há uma boa compreensão dos
processos normais de trabalho em organizações, que podem ser necessárias para permitir
a previsão de acidentes.
Hollnagel (2014) observa que interpretar mal os
processos normais de trabalho pode não ser
trivial. Como ilustração, Hollnagel (2014) criou
um gráfico (mostrado na Figura 1) de um
sistema com uma taxa de falha 10-4
ou uma
falha em 10.000. O foco tradicional de
compreensão e eliminação de negativos
significa que nos concentramos intensamente
em uma falha às custas de 9.999 vezes quando
as coisas correram bem. Isso significa que a
maior parte da vida organizacional não é
examinada pelas abordagens da segurança
tradicional. Figura 1 - Uma falha em 10.000
(Hollnagel, 2014)
Hollnagel (2014) argumenta que o foco nos negativos não só leva a um mal-entendido
sobre o que é necessário para tornar uma organização bem-sucedida, também leva a mal-
entendidos sobre as causas de fracasso. Por exemplo, a crença de que "erro humano" ou
3
"atos inseguros" são a principal causa de a maioria dos acidentes pode resultar desse foco
negativo (Besnard & Hollnagel, 2014). No entanto, os processos subjacentes que levam a
muitos dos erros e falhas na tomada de decisões estão presentes porque são adaptativos
(Hollnagel, 2009; Gigerenzer, 2008). Dito de outra forma, quando se trata para o
desempenho humano, os processos subjacentes são os mesmos para o sucesso e o fracasso
e um não consegue entender totalmente como os humanos falham sem entender como
eles têm sucesso (Woods et. al., 2010). Isso põe em questão a eficácia do atual foco
negativo de segurança gestão.
Segurança Diferente
Por outro lado, o modelo de Segurança Diferente de gestão de segurança é baseado na
ideia de que compreender e melhorar os processos normais de trabalho é fundamental
para melhorar o desempenho de segurança (Hummerdal, 2017). Em vez de ver a gestão da
segurança como um meio de melhorar o desempenho no trabalho, a Segurança Diferente
vê a melhoria do desempenho do trabalho como um meio de melhorar o desempenho de
segurança. Essa mudança de perspectiva orienta o profissional de segurança a interagir
com a organização de novas maneiras. No modelo de Segurança Diferente, o profissional
de segurança é um facilitador do trabalho, ao invés de um que restringe os processos de
trabalho.
Em particular, Segurança Diferente fornece uma perspectiva alternativa para outras
práticas nos sistemas de gestão de segurança em três áreas:
• Como segurança é definida
• O papel das pessoas
• O foco na organização
Como a Segurança é Definida
Embora existam inúmeras definições em normas legais e regulatórias, atualmente não há
acordo sobre a definição de “segurança” dentro da profissão de segurança. No entanto,
como discutido acima, o escopo da profissão de segurança é fortemente baseado na
redução de eventos negativos, como acidentes. Isso é consistente com a maneira comum
com que o desempenho de segurança é medido, o uso de estatísticas de lesões. A
mensagem implícita é que a segurança é definida pela ausência de negativos.
Em contraste, Segurança Diferente define segurança como uma capacidade de ter sucesso
em condições variáveis. Esta definição inerentemente vê a segurança não como um
objetivo em si mesma, mas como um objetivo habilitador dentro da organização. Na
verdade, nenhuma organização existe com o único objetivo de ser segura. Em vez disso, a
segurança permite que a organização cumpra sua missão fundamental. No entanto, a
obtenção de um resultado bem-sucedido por si só não é suficiente. Pesquisas sugerem que
as organizações podem aumentar as margens para alcançar o sucesso de uma forma que
torne o fracasso mais provável (Dekker, 2006; Woods, 2003; Patterson & Wears, 2016).
Portanto, o objetivo de um sistema de gestão de segurança deve ser o de ajudar a
organização a alcançar o sucesso à medida que as condições mudam. Isso é consistente
com a definição de resiliência organizacional (Hollnagel, Woods, & Leveson, 2006).
Uma das principais ameaças para o sucesso sustentável é quando os recursos são
insuficientes para atender às demandas (Hummderdal, 2017). Nessas situações, os
trabalhadores são obrigados a se adaptar para preencher a lacuna de demanda de recursos.
Essas adaptações são semelhantes às "ações práticas" descritas por Snook (2000).
Infelizmente, isso cria uma variabilidade significativa nos processos de trabalho como
disponibilidade de recursos, demandas de trabalho e as habilidades dos trabalhadores para
4
se adaptarem a tudo ao longo do tempo (Hollnagel, 2009). Na maioria das vezes, essa
variabilidade passa despercebida porque os trabalhadores ajustam seu desempenho de
uma forma que esconde a lacuna de demanda de recursos (Woods & Hollnagel, 2006).
Porém, às vezes esses ajustes de desempenho que os trabalhadores fazem podem falhar,
e um acidente pode resultar (Hollnagel, 2009).
Isso torna o trabalho normal uma área central de foco no modelo de Segurança Diferente.
Por estudar o trabalho normal e quais condições permitem ou restringem o trabalho
normal, profissionais de segurança pode ajudar os trabalhadores a superar as restrições e
expandir os recursos que lhes permitem ter sucesso (Hummderdal, 2017). Onde o trabalho
se torna difícil, você frequentemente encontrará adaptação, atalhos e "erro humano".
Aumentar a capacidade do trabalhador para lidar com essas situações não irá apenas
diminuir a probabilidade de riscos indesejados se infiltrarem no sistema, mas também
aumentará a capacidade de seus trabalhadores de serem bem-sucedidos. Isso
naturalmente terá um efeito líquido positivo sobre produção, alinhando os objetivos de
segurança com a organização (Hollnagel, 2014).
Pessoas são uma Solução para Habilitar
Como afirmado acima, o foco na eliminação de eventos negativos em segurança muitas
vezes leva a muitos mal-entendidos sobre o papel das pessoas em acidentes e segurança
(Besnard & Hollnagel, 2014). Como resultado, grande parte da prática de segurança tem se
orientado de uma forma que trata as pessoas como se elas fossem um problema ou perigo
que deve ser controlado (Dekker, 2015). A suposição parece ser a de que o sistema é
razoavelmente seguro como foi projetado, mas as ações erráticas das pessoas atrapalham
o projeto do sistema, desencadeando acidentes (Dekker, 2014b).
No entanto, como já observado, as organizações geralmente trabalham em um estado de
sistema degradado. Existem situações frequentes de recursos insuficientes para atender às
demandas. A capacidade humana de se adaptar preenche esta lacuna de maneira confiável.
Infelizmente, essas mesmas adaptações que funcionam normalmente às vezes falham em
formas específicas do contexto (Woods et. al., 2011). Quando isso acontece, chamamos de
"erro humano", mas essas mesmas adaptações também são responsáveis por manter o
sucesso da organização (Dekker, 2014b).
Por este motivo, o modelo de Segurança Diferente observa que as pessoas são uma solução
para permitir ou facilitar. A capacidade única dos trabalhadores de se adaptarem
criativamente às novas circunstâncias é uma força que as organizações precisam ter para
lidar com os problemas complexos que enfrentam (por exemplo, metas conflitantes,
escassez de recursos, competição). Trabalhadores em todos os níveis da organização estão
constantemente enfrentando as realidades desses problemas complexos, muitas vezes em
uma base diária. Portanto, eles estarão em uma posição única para identificar soluções
inovadoras, ou pelo menos para auxiliar na identificação de problemas cuja solução terá
sucesso. Como Hummerdal (2015) observa, “as organizações estão cheias de pessoas cuja
capacidade vai além das funções e responsabilidades que lhes atribuímos.”
Segurança é uma Responsabilidade Ética
Uma das tendências mais perturbadoras na gestão da segurança é a explosão da segurança
como uma burocracia (Dekker, 2014a). Muitas das práticas de segurança são dominadas
por requisitos regulamentares e padrões internacionais. Basta ler os folhetos das
conferências de segurança para ver isto. Os chefes das agências reguladoras são
frequentemente oradores principais e muitas sessões de dedicadas discutir como navegar
em requisitos regulamentares complicados. O que não é comumente visto nesses folhetos
são apresentações de pessoas que realmente fazem o trabalho (com a curiosa exceção
5
daqueles que se envolveram em acidentes). Por esta evidência anedótica, parece que os
profissionais de segurança estão muito mais interessados no que as agências reguladoras
acreditam ser "seguro" do que o que os trabalhadores acreditam ser "seguro".
Isso leva a práticas onde os profissionais de segurança passam muito tempo tentando
garantir que os trabalhadores cumpram os padrões regulatórios (Dekker, 2015). Essas
práticas de segurança são orientadas para gerenciar a responsabilidade burocrática
atribuída às organizações e aos trabalhadores. Isso pode levar ao desenvolvimento da
‘heurística de conformidade’, em que a conformidade regulatória se torna um substituto
para gestão da segurança.
No modelo de Segurança Diferente, a organização é redirecionada para ver a segurança
como uma responsabilidade ética para com aqueles que fazem o trabalho arriscado da
organização. Este foco requer a organização a se tornar muito mais interessada nas
realidades do trabalho normal e na criação de um sistema de gestão de segurança que
facilite os trabalhadores ao invés de um que os retém. Com efeito, “Segurança é um serviço
que [a organização] presta aos seus funcionários” (Hummerdal, 2017). Esse o foco não
negligencia a conformidade regulatória, mas apenas visa criar equilíbrio. O a organização
deve estar pelo menos tão interessada nas preocupações de seus trabalhadores quanto
eles estão nas preocupações da agência reguladora.
Desafios à Segurança Diferente
Na experiência do autor discutindo Segurança Diferente com vários gerentes, segurança
profissionais e trabalhadores em muitas indústrias, muitos desafios comuns ao modelo
surgido. Algumas delas serão abordadas a seguir.
Segurança Diferente como Moda do Momento
Muitas organizações relatam ver muitos "modismos" ir e vir, prometendo incríveis
resultados do tipo "bala de prata" (por exemplo, segurança baseada em comportamento,
iniciativas de cultura de segurança). Segurança Diferente, muitas vezes é colocado nesta
categoria. No entanto, Segurança Diferente não é um processo individual ou ferramenta
que as organizações podem agregar aos seus programas organizacionais existentes. Em vez
disso, Segurança Diferente é mais um modelo mental ou uma forma de ver o mundo. Não
substitui o que organizações fazem (Hummerdal, 2017). Em vez disso, muda a lente pela
qual vemos a vida organizacional, processos de trabalho, as "causas" dos acidentes e as
fontes de criação de segurança dentro da organização. Ao mudar essa lente, naturalmente
muda o que a organização vê e faz. Novas práticas surgirão, mas as velhas práticas
continuarão. Eles serão apenas conduzidos com uma luz diferente.
Por exemplo, a organização ainda investigará acidentes e incidentes no modelo de
Segurança Diferente. No entanto, em vez de procurar quem são os culpados, as
investigações no modelo de Segurança Diferente focam na compreensão dos processos
normais de trabalho e como esses processos levaram a um evento não intencional e
indesejado neste caso específico.
A Segurança Diferente não é nova
Alguns apontaram que algumas das filosofias e / ou práticas na Segurança Diferente
modelo já existe há décadas. Em muitos aspectos, isso é correto. A segurança é diferente
com base em décadas de pesquisa e prática nas ciências sociais e de segurança,
incorporando elementos de pensamento sistêmico, teoria da complexidade, engenharia de
sistemas cognitivos, psicologia social, sociologia, ciência da gestão, engenharia de fatores
humanos, teoria das organizações alta confiabilidade e engenharia de resiliência. Em
6
muitos aspectos, destacar que a Segurança Diferente é baseada em décadas de pesquisa e
prática não é uma crítica, mas um ponto forte do modelo.
No entanto, muitas organizações têm usado o ponto de que a Segurança Diferente não é
nova para argumentar que eles já estão fazendo a segurança de maneira diferente e,
portanto, nada mais é necessário. Na experiência do autor, nem sempre é esse o caso. A
organização pode ter algumas peças no lugar que se assemelham a princípios de Segurança
Diferente, mas um exame mais atento muitas vezes produz um foco na prevenção de
aspectos negativos, em tratar as pessoas como um problema para controlar ou corrigir, e /
ou em orientar a organização no sentido de satisfazer as responsabilidades burocráticas às
custas de não permitir que os trabalhadores na linha de frente executem o trabalho com
sucesso.
A Segurança Diferente prejudica a responsabilidade
Uma das principais preocupações para muitas organizações ao ouvir sobre a abordagem de
Segurança Diferente é baseada na ideia geral de que as organizações precisam de
responsabilidade para funcionar de forma eficaz, e que a Segurança Diferente mina essa
responsabilidade. Normalmente, o que as organizações se referem quando falam de
responsabilidade neste contexto é sua capacidade de disciplinar os indivíduos em resposta
a erros ou violações. No entanto, Segurança Diferente não significa remover a capacidade
de disciplinar os funcionários. Em vez disso, a Segurança Diferente lembra à organização
que a meta não é uma conformidade mecânica, mas o desempenho aprimorado. Ao revisar
os processos normais de trabalho e procurando maneiras de permitir que os trabalhadores
tenham mais sucesso (em vez de apenas serem menos propensos ao fracasso), a
organização tem mais opções de intervenção. Com efeito, a Segurança Diferente oferece
de forma aos gerentes e profissionais de segurança mais "ferramentas na caixa de
ferramentas".
Além disso, as organizações devem lembrar que a responsabilidade é um objetivo entre
muitos objetivos dentro da organização e alguns desses objetivos competem entre si. Por
exemplo, quando a organização coloca uma ênfase intensa na responsabilidade, na forma
de disciplina, isso muitas vezes leva a uma redução na capacidade da organização de
aprender a medida que o relato de eventos diminui (Dekker, 2014b). O modelo de
Segurança Diferente permite que a organização equilibre os objetivos de responsabilidade
com aprendizagem e engajamento dos funcionários de forma mais eficaz.
Fazendo Segurança Diferente
Organizações que buscam fazer Segurança Diferente, devem começar uma discussão
interna sobre qual é a definição de segurança dentro da organização. Mesmo se a
organização tenha uma definição explícita de segurança, muitas vezes as práticas da
organização implicam uma definição diferente. Por exemplo, muitas organizações admitem
que a segurança não é definida pela ausência de acidentes, mas ainda mede o quão seguro
eles estão pelo número de acidentes que eles têm. Ou, uma organização pode valorizar a
criatividade e inovação de sua força de trabalho, mas ter um sistema de gestão de
segurança baseado no cumprimento rotineiro de regras e procedimentos. Tendo
discussões com funcionários em todos os níveis da organização sobre como eles definem a
segurança e como eles percebem o que a organização define por segurança pode render
alguns dados interessantes sobre os valores de a organização.
Uma vez que essas informações são coletadas, a organização deve procurar mudar ou
eliminar práticas que reforçam a crença de que segurança é definida como a ausência de
pontos negativos. Em seu lugar, a organização pode iniciar conversas sobre o que deseja
de um programa de segurança. Como um programa de segurança pode ser orientado para
7
permitir aspectos positivos, como inovação, criatividade e significado? Uma questão que
pode desencadear uma discussão interessante é perguntar aos funcionários em todos os
níveis como a organização gerenciaria a segurança se o regulador desaparecesse amanhã?
Comece a criar uma organização segura que se adapta às condições de trabalho, ao invés
de uma que faz o contrário. Enquanto você faz isso, práticas adicionais provavelmente
surgirão girando em torno de permitir a conclusão bem-sucedida de trabalho.
Focando no Trabalho Normal
Em vez de esperar que ocorra um acidente, comece o processo de compreensão e análise
trabalho normal. Desenvolva processos que permitam à organização aprender mais sobre
o que acontece diariamente. Isso pode ser tão simples quanto conduzir sessões diárias de
debriefing para os trabalhadores, semelhantes às revisões pós-ação, comumente usadas
em contextos militares. Observações na forma de também podem ser utilizados para esse
fim a gestão de caminhadas no local ou caminhadas no Gemba (Gesinger, 2016). No
entanto, os gerentes e profissionais de segurança que conduzem essas observações
precisam fazê-lo no espírito de curiosidade e aprendizado, ao invés de buscar desvios, atos
inseguros, etc. como interagir com os trabalhadores durante essas observações, incluindo
habilidades de questionamento apreciativo, pode ser útil para isso.
Abordagens mais focadas e com uso intensivo de recursos para compreender e analisar o
normal trabalho poderia ser o uso de sessões “Um dia na vida de”. Em um dia na vida da
sessão, gestores e / ou profissionais de segurança que realizam turnos de trabalho com os
trabalhadores (Gantt, 2015). Esse permite que os gerentes tenham a capacidade de ver o
mundo mais de perto, da maneira como os trabalhadores o veem. Para ver como coisas
que parecem aborrecimentos menores quando discutidas em uma sala de conferências
podem ser importantes obstáculos no ambiente de trabalho. Além disso, camaradagem
entre trabalhadores e gerentes / profissionais de segurança é construída por meio de
experiências compartilhadas, o que aumenta a confiança na organização (Gantt, 2015).
As equipes de aprendizagem (Conklin, 2016) são outra ferramenta que pode ser usada para
entender processos de trabalho. Em uma equipe de aprendizagem, os funcionários
trabalham com um facilitador para aprender sobre uma determinada operação e, em
seguida, colaborar para identificar oportunidades de melhoria. Envolvendo aqueles que a
fazem o trabalho nesse processo, os trabalhadores passam a entender melhor as suas
tarefas, assim como cria a oportunidade de identificar melhorias. Isso permite um senso de
propriedade nas soluções, o que tornará as melhorias mais eficazes em geral (Conklin,
2016).
De todas essas ferramentas, serão obtidos dados sobre como o trabalho é normalmente
executado. Os profissionais de segurança devem tratar todos os dados como sintomas,
entendendo que as pessoas adaptam seu comportamento para as condições em que se
encontram (Woods et. al., 2011). Ao focar nas condições que influenciam o
comportamento, os profissionais de segurança podem procurar fontes de variabilidade,
como as frustrações, dependências e sensibilidades inerentes ao processo de trabalho
(Hummderdal, 2017). Oportunidades para amortecer a variabilidade ou criar mais
capacidade para os trabalhadores responderem à variabilidade podem ser identificadas e
implementadas. Exemplos disso incluem:
• Se os processos de trabalho dependentem da disponibilidade de certas
ferramentas, como pode a organização garantir que essas ferramentas estejam
prontamente disponíveis em condições previsíveis? Que condições fariam com que
essas ferramentas se tornassem indisponíveis? Como pode uma organização criar
uma capacidade de responder a essas condições para que as ferramentas
necessárias esteja disponíveis?
8
• Se os trabalhadores têm que lidar com procedimentos frustrantes (por exemplo,
complicados, irrealistas, etc.) como esses procedimentos podem ser alterados para
torná-los mais viáveis? É possível que os trabalhadores desenvolvam seus próprios
procedimentos para uma tarefa que pode ser melhor?
• Se os processos de trabalho são sensíveis às pressões do tempo, como podemos
fornecer folga no sistema para permitir que os trabalhadores atinjam todos os
objetivos necessários? Como podemos criar uma resposta organizacional aos
estressores em vez de depender apenas de respostas individuais?
Além disso, boas práticas e inovações provavelmente serão identificadas na avaliação do
trabalho normal. Elas devem ser compartilhados por toda a organização.
Conclusão
O modelo de Segurança Diferente fornece uma alternativa para muitas abordagens
tradicionais de segurança, particularmente no que se refere ao foco na redução de
negativos como o papel central da profissão de segurança. Em vez disso, a Segurança
Diferente busca não apenas minimizar os negativos, mas também expandir positivos. Em
particular, Segurança Diferente define segurança como a presença de uma capacidade de
alcançar o sucesso em condições variadas. Como resultado desta mudança de perspectiva,
Segurança Diferente orienta-se a ver a segurança como uma responsabilidade ética da
organização para aqueles que fazem trabalho arriscado da organização. A organização se
concentra em permitir que os trabalhadores concluam as tarefas de trabalho com sucesso.
Ao fazer isso, ela vê as pessoas como uma solução para habilitar ou facilitar, ao invés de
apenas o problema para controlar. Conforme discutido neste artigo, isso não é uma "bala
de prata" ou um "modismo". Em vez disso, Segurança Diferente é uma nova maneira de
abordar a segurança organizacional que promete um alinhamento mais significativo entre
segurança, produtividade, qualidade e outros objetivos organizacionais.
9
Referências
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Artigo novas visões

  • 1. 1 Segurança Diferente - Uma Nova Visão de Excelência em Segurança1 Ron Gantt De acordo com a Agência de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos (2016), em 2015, a taxa de acidentes ocupacionais fatais nos Estados Unidos foi de 3,4. Isso significa que nada mudou em relação às taxas de lesões fatais dos anos anteriores, com a taxa média nos Estados Unidos permanecendo em 3,4 desde 2008, de acordo com análise de dados encontrados no website da Agência. Profissionais de segurança perceberam esta estagnação de fatalidades nas estatísticas de incidentes (Dekker & Pitzer, 2016; Loud, 2016; Manuele, 2013), cada um observando que o progresso em segurança, medida pelo número de acidentes graves, parece ter estagnado. Em uma revisão de taxas de lesões fatais nos Estados Unidos conduzidas pelo autor, embora a taxa de acidentes fatais tenha diminuído 35% de 1994 a 2015, nos últimos 10 anos (2006-2015) a taxa de acidentes fatais caiu apenas 15,8%. Este platô das taxas de acidentes fatais sugere que o progresso na prevenção de acidentes graves pode ter as características de uma assíntota, uma linha que se aproxima de uma curva, mas nunca a toca. Como Dekker (2015) observa, “assíntotas apontam para estratégias mortais” (28). As estratégias utilizadas para alcançar o progresso na prevenção de acidentes graves está proporcionando retornos cada vez menores. Como resultado, apelos para novas abordagens à gestão da segurança têm crescido (Dekker, 2015; Dekker & Pitzer, 2016; Hollnagel, 2014; Hollnagel, Woods, & Leveson, 2006; Alto, 2016; Manuele, 2013). Segurança Diferente surgiu a partir desses apelos, à medida que os pesquisadores de segurança começaram a perceber que as abordagens tradicionais estavam se tornando cada vez mais inadequadas para lidar com as complexas realidades dos processos de trabalho de hoje (Dekker, 2015; Hollnagel, 2014; Hollnagel, Woods, & Leveson, 2006; Hummerdal, 2017). Com base em décadas de pesquisa em ciências sociais e de segurança, Segurança Diferente procura desenvolver uma abordagem mais proativa, produtiva e inclusiva para a gestão de segurança. As abordagens tradicionais de segurança tendem a se concentrar principalmente na prevenção de negativos (Hollnagel, 2014). Por outro lado, Segurança Diferente busca identificar e aprender com as coisas que vão bem como um meio não só de prevenir ou minimizar os negativos, mas também para alcançar resultados mais bem-sucedidos. Este artigo fornece uma visão geral da abordagem proposta por Segurança Diferente, seus princípios básicos de segurança e recomendações para a implementação de um sistema de segurança com uma abordagem diferente dentro de uma organização. Segurança - O Foco nos Negativos Abordagens típicas de gestão de segurança enfatizam a identificação e eliminação ou redução de negativos. Esses negativos incluem acidentes, incidentes, riscos, perigos, “erro humano” e “atos inseguros” (Hollnagel, 2014). Por exemplo, o Conselho de Profissionais Certificados dos Estados Unidos (2017) afirma que: “Os profissionais de segurança identificam os perigos e os avaliam quanto ao potencial de causar lesões ou doenças às pessoas ou danos à propriedade e ao meio ambiente. O profissional de segurança recomenda controles administrativos e de engenharia que eliminam ou minimizam o risco e o perigo representado por perigos.” 1 (N.T.) Tradução livre do original em inglês Safety Differently – A New View of Safety Excellence
  • 2. 2 O padrão de consenso voluntário do Instituto Americano de Normas Nacionais que define o escopo de prática para um profissional de segurança oferece de forma semelhante: “O escopo e as funções do cargo de profissional de segurança devem ser: • Antecipar, identificar e avaliar condições e práticas perigosas. • Desenvolver projetos, métodos, procedimentos e programas de controle de perigos. • Implementar, administrar e aconselhar outros sobre controles de perigos e programas de controle de perigos. • Medir, auditar e avaliar a eficácia dos controles de perigos e programas de controle de perigos” (Sociedade Americana de Engenheiros de Segurança, 2012). Embora a empresa possa utilizar os resultados desses processos de forma produtiva, o escopo e a função do profissional de segurança, conforme definido por cada uma dessas organizações, é orientado para a eliminação ou gerenciamento de negativos. A Associação Americana de Engenheiros de Segurança (2017), ao definir o que os profissionais de segurança e saúde no trabalho (SST) fazem, explica desta forma: “[Profissionais de SST] oferecem aos empregadores aconselhamento, apoio e análise aos seus empregadores para ajudá-los a estabelecer controles de risco e processos de gestão que promovam a sustentabilidade prática dos negócios. Eles trabalham para reduzir (e eliminar) fatalidades, lesões, doenças ocupacionais, doenças e danos à propriedade.” Esta definição situa a prática do profissional de segurança em direção ao objetivo de promover “práticas de negócios sustentáveis”, mas identifica que os mecanismos que os profissionais de segurança usam para atingir esse objetivo são por meio da redução, controle e eliminação de negativos. O objetivo de eliminar aspectos negativos, como fatalidades e lesões, é certamente algo louvável que não é questionado neste artigo. No entanto, o foco intenso em negativos tem consequências. A profissão de segurança é orientada para a identificação, compreensão e gerenciamento de coisas que dão errado em detrimento da compreensão das coisas que dão certo. Dekker (2006) observa que, atualmente, não há uma boa compreensão dos processos normais de trabalho em organizações, que podem ser necessárias para permitir a previsão de acidentes. Hollnagel (2014) observa que interpretar mal os processos normais de trabalho pode não ser trivial. Como ilustração, Hollnagel (2014) criou um gráfico (mostrado na Figura 1) de um sistema com uma taxa de falha 10-4 ou uma falha em 10.000. O foco tradicional de compreensão e eliminação de negativos significa que nos concentramos intensamente em uma falha às custas de 9.999 vezes quando as coisas correram bem. Isso significa que a maior parte da vida organizacional não é examinada pelas abordagens da segurança tradicional. Figura 1 - Uma falha em 10.000 (Hollnagel, 2014) Hollnagel (2014) argumenta que o foco nos negativos não só leva a um mal-entendido sobre o que é necessário para tornar uma organização bem-sucedida, também leva a mal- entendidos sobre as causas de fracasso. Por exemplo, a crença de que "erro humano" ou
  • 3. 3 "atos inseguros" são a principal causa de a maioria dos acidentes pode resultar desse foco negativo (Besnard & Hollnagel, 2014). No entanto, os processos subjacentes que levam a muitos dos erros e falhas na tomada de decisões estão presentes porque são adaptativos (Hollnagel, 2009; Gigerenzer, 2008). Dito de outra forma, quando se trata para o desempenho humano, os processos subjacentes são os mesmos para o sucesso e o fracasso e um não consegue entender totalmente como os humanos falham sem entender como eles têm sucesso (Woods et. al., 2010). Isso põe em questão a eficácia do atual foco negativo de segurança gestão. Segurança Diferente Por outro lado, o modelo de Segurança Diferente de gestão de segurança é baseado na ideia de que compreender e melhorar os processos normais de trabalho é fundamental para melhorar o desempenho de segurança (Hummerdal, 2017). Em vez de ver a gestão da segurança como um meio de melhorar o desempenho no trabalho, a Segurança Diferente vê a melhoria do desempenho do trabalho como um meio de melhorar o desempenho de segurança. Essa mudança de perspectiva orienta o profissional de segurança a interagir com a organização de novas maneiras. No modelo de Segurança Diferente, o profissional de segurança é um facilitador do trabalho, ao invés de um que restringe os processos de trabalho. Em particular, Segurança Diferente fornece uma perspectiva alternativa para outras práticas nos sistemas de gestão de segurança em três áreas: • Como segurança é definida • O papel das pessoas • O foco na organização Como a Segurança é Definida Embora existam inúmeras definições em normas legais e regulatórias, atualmente não há acordo sobre a definição de “segurança” dentro da profissão de segurança. No entanto, como discutido acima, o escopo da profissão de segurança é fortemente baseado na redução de eventos negativos, como acidentes. Isso é consistente com a maneira comum com que o desempenho de segurança é medido, o uso de estatísticas de lesões. A mensagem implícita é que a segurança é definida pela ausência de negativos. Em contraste, Segurança Diferente define segurança como uma capacidade de ter sucesso em condições variáveis. Esta definição inerentemente vê a segurança não como um objetivo em si mesma, mas como um objetivo habilitador dentro da organização. Na verdade, nenhuma organização existe com o único objetivo de ser segura. Em vez disso, a segurança permite que a organização cumpra sua missão fundamental. No entanto, a obtenção de um resultado bem-sucedido por si só não é suficiente. Pesquisas sugerem que as organizações podem aumentar as margens para alcançar o sucesso de uma forma que torne o fracasso mais provável (Dekker, 2006; Woods, 2003; Patterson & Wears, 2016). Portanto, o objetivo de um sistema de gestão de segurança deve ser o de ajudar a organização a alcançar o sucesso à medida que as condições mudam. Isso é consistente com a definição de resiliência organizacional (Hollnagel, Woods, & Leveson, 2006). Uma das principais ameaças para o sucesso sustentável é quando os recursos são insuficientes para atender às demandas (Hummderdal, 2017). Nessas situações, os trabalhadores são obrigados a se adaptar para preencher a lacuna de demanda de recursos. Essas adaptações são semelhantes às "ações práticas" descritas por Snook (2000). Infelizmente, isso cria uma variabilidade significativa nos processos de trabalho como disponibilidade de recursos, demandas de trabalho e as habilidades dos trabalhadores para
  • 4. 4 se adaptarem a tudo ao longo do tempo (Hollnagel, 2009). Na maioria das vezes, essa variabilidade passa despercebida porque os trabalhadores ajustam seu desempenho de uma forma que esconde a lacuna de demanda de recursos (Woods & Hollnagel, 2006). Porém, às vezes esses ajustes de desempenho que os trabalhadores fazem podem falhar, e um acidente pode resultar (Hollnagel, 2009). Isso torna o trabalho normal uma área central de foco no modelo de Segurança Diferente. Por estudar o trabalho normal e quais condições permitem ou restringem o trabalho normal, profissionais de segurança pode ajudar os trabalhadores a superar as restrições e expandir os recursos que lhes permitem ter sucesso (Hummderdal, 2017). Onde o trabalho se torna difícil, você frequentemente encontrará adaptação, atalhos e "erro humano". Aumentar a capacidade do trabalhador para lidar com essas situações não irá apenas diminuir a probabilidade de riscos indesejados se infiltrarem no sistema, mas também aumentará a capacidade de seus trabalhadores de serem bem-sucedidos. Isso naturalmente terá um efeito líquido positivo sobre produção, alinhando os objetivos de segurança com a organização (Hollnagel, 2014). Pessoas são uma Solução para Habilitar Como afirmado acima, o foco na eliminação de eventos negativos em segurança muitas vezes leva a muitos mal-entendidos sobre o papel das pessoas em acidentes e segurança (Besnard & Hollnagel, 2014). Como resultado, grande parte da prática de segurança tem se orientado de uma forma que trata as pessoas como se elas fossem um problema ou perigo que deve ser controlado (Dekker, 2015). A suposição parece ser a de que o sistema é razoavelmente seguro como foi projetado, mas as ações erráticas das pessoas atrapalham o projeto do sistema, desencadeando acidentes (Dekker, 2014b). No entanto, como já observado, as organizações geralmente trabalham em um estado de sistema degradado. Existem situações frequentes de recursos insuficientes para atender às demandas. A capacidade humana de se adaptar preenche esta lacuna de maneira confiável. Infelizmente, essas mesmas adaptações que funcionam normalmente às vezes falham em formas específicas do contexto (Woods et. al., 2011). Quando isso acontece, chamamos de "erro humano", mas essas mesmas adaptações também são responsáveis por manter o sucesso da organização (Dekker, 2014b). Por este motivo, o modelo de Segurança Diferente observa que as pessoas são uma solução para permitir ou facilitar. A capacidade única dos trabalhadores de se adaptarem criativamente às novas circunstâncias é uma força que as organizações precisam ter para lidar com os problemas complexos que enfrentam (por exemplo, metas conflitantes, escassez de recursos, competição). Trabalhadores em todos os níveis da organização estão constantemente enfrentando as realidades desses problemas complexos, muitas vezes em uma base diária. Portanto, eles estarão em uma posição única para identificar soluções inovadoras, ou pelo menos para auxiliar na identificação de problemas cuja solução terá sucesso. Como Hummerdal (2015) observa, “as organizações estão cheias de pessoas cuja capacidade vai além das funções e responsabilidades que lhes atribuímos.” Segurança é uma Responsabilidade Ética Uma das tendências mais perturbadoras na gestão da segurança é a explosão da segurança como uma burocracia (Dekker, 2014a). Muitas das práticas de segurança são dominadas por requisitos regulamentares e padrões internacionais. Basta ler os folhetos das conferências de segurança para ver isto. Os chefes das agências reguladoras são frequentemente oradores principais e muitas sessões de dedicadas discutir como navegar em requisitos regulamentares complicados. O que não é comumente visto nesses folhetos são apresentações de pessoas que realmente fazem o trabalho (com a curiosa exceção
  • 5. 5 daqueles que se envolveram em acidentes). Por esta evidência anedótica, parece que os profissionais de segurança estão muito mais interessados no que as agências reguladoras acreditam ser "seguro" do que o que os trabalhadores acreditam ser "seguro". Isso leva a práticas onde os profissionais de segurança passam muito tempo tentando garantir que os trabalhadores cumpram os padrões regulatórios (Dekker, 2015). Essas práticas de segurança são orientadas para gerenciar a responsabilidade burocrática atribuída às organizações e aos trabalhadores. Isso pode levar ao desenvolvimento da ‘heurística de conformidade’, em que a conformidade regulatória se torna um substituto para gestão da segurança. No modelo de Segurança Diferente, a organização é redirecionada para ver a segurança como uma responsabilidade ética para com aqueles que fazem o trabalho arriscado da organização. Este foco requer a organização a se tornar muito mais interessada nas realidades do trabalho normal e na criação de um sistema de gestão de segurança que facilite os trabalhadores ao invés de um que os retém. Com efeito, “Segurança é um serviço que [a organização] presta aos seus funcionários” (Hummerdal, 2017). Esse o foco não negligencia a conformidade regulatória, mas apenas visa criar equilíbrio. O a organização deve estar pelo menos tão interessada nas preocupações de seus trabalhadores quanto eles estão nas preocupações da agência reguladora. Desafios à Segurança Diferente Na experiência do autor discutindo Segurança Diferente com vários gerentes, segurança profissionais e trabalhadores em muitas indústrias, muitos desafios comuns ao modelo surgido. Algumas delas serão abordadas a seguir. Segurança Diferente como Moda do Momento Muitas organizações relatam ver muitos "modismos" ir e vir, prometendo incríveis resultados do tipo "bala de prata" (por exemplo, segurança baseada em comportamento, iniciativas de cultura de segurança). Segurança Diferente, muitas vezes é colocado nesta categoria. No entanto, Segurança Diferente não é um processo individual ou ferramenta que as organizações podem agregar aos seus programas organizacionais existentes. Em vez disso, Segurança Diferente é mais um modelo mental ou uma forma de ver o mundo. Não substitui o que organizações fazem (Hummerdal, 2017). Em vez disso, muda a lente pela qual vemos a vida organizacional, processos de trabalho, as "causas" dos acidentes e as fontes de criação de segurança dentro da organização. Ao mudar essa lente, naturalmente muda o que a organização vê e faz. Novas práticas surgirão, mas as velhas práticas continuarão. Eles serão apenas conduzidos com uma luz diferente. Por exemplo, a organização ainda investigará acidentes e incidentes no modelo de Segurança Diferente. No entanto, em vez de procurar quem são os culpados, as investigações no modelo de Segurança Diferente focam na compreensão dos processos normais de trabalho e como esses processos levaram a um evento não intencional e indesejado neste caso específico. A Segurança Diferente não é nova Alguns apontaram que algumas das filosofias e / ou práticas na Segurança Diferente modelo já existe há décadas. Em muitos aspectos, isso é correto. A segurança é diferente com base em décadas de pesquisa e prática nas ciências sociais e de segurança, incorporando elementos de pensamento sistêmico, teoria da complexidade, engenharia de sistemas cognitivos, psicologia social, sociologia, ciência da gestão, engenharia de fatores humanos, teoria das organizações alta confiabilidade e engenharia de resiliência. Em
  • 6. 6 muitos aspectos, destacar que a Segurança Diferente é baseada em décadas de pesquisa e prática não é uma crítica, mas um ponto forte do modelo. No entanto, muitas organizações têm usado o ponto de que a Segurança Diferente não é nova para argumentar que eles já estão fazendo a segurança de maneira diferente e, portanto, nada mais é necessário. Na experiência do autor, nem sempre é esse o caso. A organização pode ter algumas peças no lugar que se assemelham a princípios de Segurança Diferente, mas um exame mais atento muitas vezes produz um foco na prevenção de aspectos negativos, em tratar as pessoas como um problema para controlar ou corrigir, e / ou em orientar a organização no sentido de satisfazer as responsabilidades burocráticas às custas de não permitir que os trabalhadores na linha de frente executem o trabalho com sucesso. A Segurança Diferente prejudica a responsabilidade Uma das principais preocupações para muitas organizações ao ouvir sobre a abordagem de Segurança Diferente é baseada na ideia geral de que as organizações precisam de responsabilidade para funcionar de forma eficaz, e que a Segurança Diferente mina essa responsabilidade. Normalmente, o que as organizações se referem quando falam de responsabilidade neste contexto é sua capacidade de disciplinar os indivíduos em resposta a erros ou violações. No entanto, Segurança Diferente não significa remover a capacidade de disciplinar os funcionários. Em vez disso, a Segurança Diferente lembra à organização que a meta não é uma conformidade mecânica, mas o desempenho aprimorado. Ao revisar os processos normais de trabalho e procurando maneiras de permitir que os trabalhadores tenham mais sucesso (em vez de apenas serem menos propensos ao fracasso), a organização tem mais opções de intervenção. Com efeito, a Segurança Diferente oferece de forma aos gerentes e profissionais de segurança mais "ferramentas na caixa de ferramentas". Além disso, as organizações devem lembrar que a responsabilidade é um objetivo entre muitos objetivos dentro da organização e alguns desses objetivos competem entre si. Por exemplo, quando a organização coloca uma ênfase intensa na responsabilidade, na forma de disciplina, isso muitas vezes leva a uma redução na capacidade da organização de aprender a medida que o relato de eventos diminui (Dekker, 2014b). O modelo de Segurança Diferente permite que a organização equilibre os objetivos de responsabilidade com aprendizagem e engajamento dos funcionários de forma mais eficaz. Fazendo Segurança Diferente Organizações que buscam fazer Segurança Diferente, devem começar uma discussão interna sobre qual é a definição de segurança dentro da organização. Mesmo se a organização tenha uma definição explícita de segurança, muitas vezes as práticas da organização implicam uma definição diferente. Por exemplo, muitas organizações admitem que a segurança não é definida pela ausência de acidentes, mas ainda mede o quão seguro eles estão pelo número de acidentes que eles têm. Ou, uma organização pode valorizar a criatividade e inovação de sua força de trabalho, mas ter um sistema de gestão de segurança baseado no cumprimento rotineiro de regras e procedimentos. Tendo discussões com funcionários em todos os níveis da organização sobre como eles definem a segurança e como eles percebem o que a organização define por segurança pode render alguns dados interessantes sobre os valores de a organização. Uma vez que essas informações são coletadas, a organização deve procurar mudar ou eliminar práticas que reforçam a crença de que segurança é definida como a ausência de pontos negativos. Em seu lugar, a organização pode iniciar conversas sobre o que deseja de um programa de segurança. Como um programa de segurança pode ser orientado para
  • 7. 7 permitir aspectos positivos, como inovação, criatividade e significado? Uma questão que pode desencadear uma discussão interessante é perguntar aos funcionários em todos os níveis como a organização gerenciaria a segurança se o regulador desaparecesse amanhã? Comece a criar uma organização segura que se adapta às condições de trabalho, ao invés de uma que faz o contrário. Enquanto você faz isso, práticas adicionais provavelmente surgirão girando em torno de permitir a conclusão bem-sucedida de trabalho. Focando no Trabalho Normal Em vez de esperar que ocorra um acidente, comece o processo de compreensão e análise trabalho normal. Desenvolva processos que permitam à organização aprender mais sobre o que acontece diariamente. Isso pode ser tão simples quanto conduzir sessões diárias de debriefing para os trabalhadores, semelhantes às revisões pós-ação, comumente usadas em contextos militares. Observações na forma de também podem ser utilizados para esse fim a gestão de caminhadas no local ou caminhadas no Gemba (Gesinger, 2016). No entanto, os gerentes e profissionais de segurança que conduzem essas observações precisam fazê-lo no espírito de curiosidade e aprendizado, ao invés de buscar desvios, atos inseguros, etc. como interagir com os trabalhadores durante essas observações, incluindo habilidades de questionamento apreciativo, pode ser útil para isso. Abordagens mais focadas e com uso intensivo de recursos para compreender e analisar o normal trabalho poderia ser o uso de sessões “Um dia na vida de”. Em um dia na vida da sessão, gestores e / ou profissionais de segurança que realizam turnos de trabalho com os trabalhadores (Gantt, 2015). Esse permite que os gerentes tenham a capacidade de ver o mundo mais de perto, da maneira como os trabalhadores o veem. Para ver como coisas que parecem aborrecimentos menores quando discutidas em uma sala de conferências podem ser importantes obstáculos no ambiente de trabalho. Além disso, camaradagem entre trabalhadores e gerentes / profissionais de segurança é construída por meio de experiências compartilhadas, o que aumenta a confiança na organização (Gantt, 2015). As equipes de aprendizagem (Conklin, 2016) são outra ferramenta que pode ser usada para entender processos de trabalho. Em uma equipe de aprendizagem, os funcionários trabalham com um facilitador para aprender sobre uma determinada operação e, em seguida, colaborar para identificar oportunidades de melhoria. Envolvendo aqueles que a fazem o trabalho nesse processo, os trabalhadores passam a entender melhor as suas tarefas, assim como cria a oportunidade de identificar melhorias. Isso permite um senso de propriedade nas soluções, o que tornará as melhorias mais eficazes em geral (Conklin, 2016). De todas essas ferramentas, serão obtidos dados sobre como o trabalho é normalmente executado. Os profissionais de segurança devem tratar todos os dados como sintomas, entendendo que as pessoas adaptam seu comportamento para as condições em que se encontram (Woods et. al., 2011). Ao focar nas condições que influenciam o comportamento, os profissionais de segurança podem procurar fontes de variabilidade, como as frustrações, dependências e sensibilidades inerentes ao processo de trabalho (Hummderdal, 2017). Oportunidades para amortecer a variabilidade ou criar mais capacidade para os trabalhadores responderem à variabilidade podem ser identificadas e implementadas. Exemplos disso incluem: • Se os processos de trabalho dependentem da disponibilidade de certas ferramentas, como pode a organização garantir que essas ferramentas estejam prontamente disponíveis em condições previsíveis? Que condições fariam com que essas ferramentas se tornassem indisponíveis? Como pode uma organização criar uma capacidade de responder a essas condições para que as ferramentas necessárias esteja disponíveis?
  • 8. 8 • Se os trabalhadores têm que lidar com procedimentos frustrantes (por exemplo, complicados, irrealistas, etc.) como esses procedimentos podem ser alterados para torná-los mais viáveis? É possível que os trabalhadores desenvolvam seus próprios procedimentos para uma tarefa que pode ser melhor? • Se os processos de trabalho são sensíveis às pressões do tempo, como podemos fornecer folga no sistema para permitir que os trabalhadores atinjam todos os objetivos necessários? Como podemos criar uma resposta organizacional aos estressores em vez de depender apenas de respostas individuais? Além disso, boas práticas e inovações provavelmente serão identificadas na avaliação do trabalho normal. Elas devem ser compartilhados por toda a organização. Conclusão O modelo de Segurança Diferente fornece uma alternativa para muitas abordagens tradicionais de segurança, particularmente no que se refere ao foco na redução de negativos como o papel central da profissão de segurança. Em vez disso, a Segurança Diferente busca não apenas minimizar os negativos, mas também expandir positivos. Em particular, Segurança Diferente define segurança como a presença de uma capacidade de alcançar o sucesso em condições variadas. Como resultado desta mudança de perspectiva, Segurança Diferente orienta-se a ver a segurança como uma responsabilidade ética da organização para aqueles que fazem trabalho arriscado da organização. A organização se concentra em permitir que os trabalhadores concluam as tarefas de trabalho com sucesso. Ao fazer isso, ela vê as pessoas como uma solução para habilitar ou facilitar, ao invés de apenas o problema para controlar. Conforme discutido neste artigo, isso não é uma "bala de prata" ou um "modismo". Em vez disso, Segurança Diferente é uma nova maneira de abordar a segurança organizacional que promete um alinhamento mais significativo entre segurança, produtividade, qualidade e outros objetivos organizacionais.
  • 9. 9 Referências American Society of Safety Engineers (2012). ANSI/ASSE Z590.2-2003 (R2012): Criteria for establishing the scope & functions of the professional safety position. Des Plaines, IL: ASSE. American Society of Safety Engineers (2017). Becoming an OSH professional: Careers in safety. Retrieved from http://www.asse.org/about/careers/#undefined. Board of Certified Safety Professionals (2017). About BCSP. Retrieved from http://www.bcsp.org/About. Besnard, D. & Hollnagel, E. (2014). I want to believe: Some myths about the management of industrial safety. Cognition, Technology, & Work. 16(1), 13-23. doi: 10.1007/s10111-012-0237-4. Conklin, T. (2016). Pre-Accident Investigation: Better Questions – An Applied Approach to Operational Learning. Boca Raton, FL: CRC Press. Dekker, S. (2006). Resilience Engineering: Chronicling the emergence of a confused consensus. In Hollnagel, E., Woods, D.D., & Leveson, N. (Eds.), Resilience Engineering: Concepts and Precepts (77-92). Boca Raton, FL: CRC Press. Dekker, S. (2014a). The bureaucratization of safety. Safety Science. 70, 348-357. doi: 10.1016 / j.ssci.2014.07.015 Dekker, S. (2014b). The Field Guide to Understanding ‘Human Error’ (3rd Ed.). Boca Raton, FL: CRC Press. Dekker, S. (2015). Safety Differently: Human Factors for a New Era (2nd Ed.). Boca Raton, FL: CRC Press. Dekker, S. & Pitzer, C. (2016). Examining the asymptote in safety progress: A literature review. Journal of Occupational Safety and Ergonomics. 22(1), 57-65. doi: 10/1080/10803548.2015.1112103. Gantt, P. & Gantt, R. (2014). Safety – Not good enough. The Advisor. 14(1), 4-7. Gantt, R. (2015, February 10). A Day In the Life Of. Retrieved from http://www.safetydifferently.com/a-day- in-the-life-of/. Gigerenzer, G. (2008). Gut Feelings: The Intelligence of the Unconscious. London, UK: Penguin Books. Gesinger, S. (2016). Experiental learning: Using Gemba walks to connect with employees. Professional Safety. 61(2), 33-37. Hollnagel, E. (2009). The ETTO Principle - Efficiency-Thoroughness Trade-Off: Why things that go right sometimes go wrong. Boca Raton, FL: CRC Press. Hollnagel, E. (2014). Safety-I and Safety-II: The Past and Future of Safety Management. Boca Raton, FL: CRC Press. Hollnagel, E., Woods, D. D., & Leveson, N. (2006). Resilience Engineering: Concepts and Precepts. Boca Raton, FL: CRC Press. Hummerdal, D. (2015, September 22). People are the solution. Retrieved from http://www.safetydifferently.com/people-are-the-solution/. Hummerdal, D. (2017, January 17). Understanding and managing Safety Differently. Retrieved from http://www.artofwork.solutions/blog/2017/1/17/5emivj92zctlo2c2fcseqyf0y9f4lp. Loud, J. (2016). Major risk: Moving from symptoms to systems thinking. Professional Safety. 61(10), 50-56. Manuele, F. A. (2013). Preventing serious injuries and fatalities: Time for a sociotechnical model for an operational risk management system. Professional Safety. 58(5), 51-60. Patterson, M. D. & Wears, R. L. (2015). Resilience and precarious success. Reliability Engineering & System Safety, 141, 45-53. doi: 10.1016/j.ress.2015.03.014. Snook, S. (2000). Friendly Fire: The Accidental Shootdown of U.S. Black Hawks over Northern Iraq. Princeton, NJ: Princeton University Press. United States Bureau of Labor Statistics (2016, December 16). Census of Fatal Occupational Injuries Summary, 2015. Retrieved from https://www.bls.gov/news.release/cfoi.nr0.htm. Woods, D. D. (2003). Creating foresight: How resilience engineering can transform NASA’s approach to risky decision making. Work. 4(2), 137-144. Woods, D. D., Dekker, S., Cook, R. Johannesen, L., & Sarter, N. (2010). Behind Human Error (2nd Ed.). Boca Raton, FL: CRC Press. Woods, D. D. & Hollnagel, E. (2006). Joint Cognitive Systems: Patterns in Cognitive Systems Engineering. Boca Raton, FL: CRC Press.