O documento discute como o monolinguismo social é frequentemente resultado de operações políticas de homogeneização linguística e não um fenômeno natural. Historicamente, o bilinguismo e plurilinguismo eram comuns, mas os estados-nação modernos promoveram a ideia de uma "língua nacional" única para cada povo. As identidades nacionais e línguas nacionais são construções políticas recentes, não entidades fixas desde a Idade Média.
Este documento discute a relação entre sociedade, ideologia e língua. Apresenta a origem da linguagem humana e discute como a língua é um produto ideológico que reflete as condições socioeconômicas e crenças de uma época. Também aborda a diversidade linguística e exemplos de planejamento linguístico em diferentes línguas e contextos.
(1) O documento discute a história e o campo de conhecimento da aquisição de segunda língua, destacando sua importância crescente no mundo globalizado. (2) Aborda as principais teorias e variáveis que afetam o processo de aquisição de segunda língua, como o contexto social e cultural. (3) Explica que o estudo sistemático da aquisição de segunda língua surgiu nas décadas de 1940-1950, impulsionado pelo interesse no ensino de línguas durante a Segunda Guerra Mundial.
O documento discute a necessidade de uma língua internacional neutra para facilitar a comunicação global. Afirma que as línguas naturais não são adequadas para esse papel devido a limitações políticas e culturais. Propõe que uma língua construída e neutra como o Esperanto seria mais adequada, pois pode ser aprendida por todos os povos sem favorecer nenhum em particular.
O documento discute os conceitos de cultura, multiculturalismo e interculturalismo no contexto do ensino de espanhol no Brasil. Primeiramente, define cultura como um conjunto de traços adquiridos por um grupo social, incluindo crenças, valores e modos de vida. Em seguida, discute que as culturas não são homogêneas e estão em constante mudança. Por fim, argumenta que uma abordagem intercultural no ensino de línguas estrangeiras é importante para desconstruir estereótipos culturais e promover a compreensão
O documento discute a influência de estrangeirismos na língua portuguesa como resultado da globalização, ideologia e comunicação. Ele explica que o português recebe novos vocábulos de outras línguas, principalmente do inglês, devido a relações políticas, culturais e comerciais com outros países. Alguns argumentam que isso ameaça a identidade cultural e idiomática do Brasil, enquanto outros veem isso como parte natural da evolução linguística.
O documento discute 8 mitos comuns sobre a língua portuguesa no Brasil. Apresenta argumentos para refutar cada um desses mitos, mostrando que a noção de uma única norma linguística correta é equivocada e que a variação faz parte da natureza das línguas.
Bagno, marcos a lingua, a midia e a ordem do discursoCeel Ufpe
O documento discute a reação negativa da mídia brasileira a um livro didático que reconhecia a existência de variantes linguísticas no português brasileiro e defendia que ambas as variantes são eficientes para comunicação. A mídia criticou o livro sem ler o conteúdo, mostrando ignorância sobre linguística. O trecho criticado explicava que a norma culta é usada pela elite por prestígio, enquanto a variante popular é falada pela maioria, mas ambas são válidas.
Este documento discute a relação entre sociedade, ideologia e língua. Apresenta a origem da linguagem humana e discute como a língua é um produto ideológico que reflete as condições socioeconômicas e crenças de uma época. Também aborda a diversidade linguística e exemplos de planejamento linguístico em diferentes línguas e contextos.
(1) O documento discute a história e o campo de conhecimento da aquisição de segunda língua, destacando sua importância crescente no mundo globalizado. (2) Aborda as principais teorias e variáveis que afetam o processo de aquisição de segunda língua, como o contexto social e cultural. (3) Explica que o estudo sistemático da aquisição de segunda língua surgiu nas décadas de 1940-1950, impulsionado pelo interesse no ensino de línguas durante a Segunda Guerra Mundial.
O documento discute a necessidade de uma língua internacional neutra para facilitar a comunicação global. Afirma que as línguas naturais não são adequadas para esse papel devido a limitações políticas e culturais. Propõe que uma língua construída e neutra como o Esperanto seria mais adequada, pois pode ser aprendida por todos os povos sem favorecer nenhum em particular.
O documento discute os conceitos de cultura, multiculturalismo e interculturalismo no contexto do ensino de espanhol no Brasil. Primeiramente, define cultura como um conjunto de traços adquiridos por um grupo social, incluindo crenças, valores e modos de vida. Em seguida, discute que as culturas não são homogêneas e estão em constante mudança. Por fim, argumenta que uma abordagem intercultural no ensino de línguas estrangeiras é importante para desconstruir estereótipos culturais e promover a compreensão
O documento discute a influência de estrangeirismos na língua portuguesa como resultado da globalização, ideologia e comunicação. Ele explica que o português recebe novos vocábulos de outras línguas, principalmente do inglês, devido a relações políticas, culturais e comerciais com outros países. Alguns argumentam que isso ameaça a identidade cultural e idiomática do Brasil, enquanto outros veem isso como parte natural da evolução linguística.
O documento discute 8 mitos comuns sobre a língua portuguesa no Brasil. Apresenta argumentos para refutar cada um desses mitos, mostrando que a noção de uma única norma linguística correta é equivocada e que a variação faz parte da natureza das línguas.
Bagno, marcos a lingua, a midia e a ordem do discursoCeel Ufpe
O documento discute a reação negativa da mídia brasileira a um livro didático que reconhecia a existência de variantes linguísticas no português brasileiro e defendia que ambas as variantes são eficientes para comunicação. A mídia criticou o livro sem ler o conteúdo, mostrando ignorância sobre linguística. O trecho criticado explicava que a norma culta é usada pela elite por prestígio, enquanto a variante popular é falada pela maioria, mas ambas são válidas.
A Associação Brasileira de Linguística defende que as críticas ao livro didático foram precipitadas e baseadas em poucas linhas, sem analisar o livro com mais atenção. A linguística mostra que as línguas mudam naturalmente no tempo e variam em um mesmo tempo, sem que isso signifique melhores ou piores, e a escola deve ensinar a norma culta para garantir o acesso à cultura.
O documento discute as origens e evolução dos diferentes idiomas ao redor do mundo. Ele explora várias teorias como a Torre de Babel, influências de seres de outras dimensões, e isolamento geográfico de tribos para explicar a diversidade linguística. O documento também fornece estatísticas sobre o número de idiomas existentes e quais são os mais falados globalmente.
A instituição do português como a única língua de ensino-aprendizagem na Guin...REVISTANJINGAESEPE
Sadjo, B., & Machado, E. G. . (2021). Kolokason di purtuguis suma uniku lingua di sina ku aprendi na Guiné-Bissau: kaminhu di djunta guinensis ô di manti prujetu di kolon? A instituição do português como a única língua de ensino-aprendizagem na Guiné-Bissau: reforço da unidade nacional ou perpetuação da colonialidade?. NJINGA E SEPÉ: Revista Internacional De Culturas, Línguas Africanas E Brasileiras, 1(Especial), 201–224. Recuperado de https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape/article/view/858
“ELES COMEM CORNFLAKES, NÓS COMEMOS PÃO COM MANTEIGA”: ESPAÇOS PARA REFLEXÃO ...Pedro Lima
Este documento discute abordagens para ensinar cultura em aulas de língua estrangeira. As orientações oficiais enfatizam a importância de entender outras culturas para compreender melhor a própria, mas interpretações comuns tratam cultura de forma estereotipada ou focada em produtos culturais. Uma abordagem intercultural propõe explorar como diferentes culturas constroem significados e perspectivas no mundo.
Este documento discute a história e o status atual da língua portuguesa no mundo. (1) No passado, o português era uma língua de prestígio que se espalhou através do comércio e do império colonial português. (2) Hoje, é língua oficial de sete países, mas sua difusão está limitada. (3) É necessária uma política para promover o ensino e difusão do português no exterior, apoiando a tradução e produção de materiais em português.
O documento discute a identidade portuguesa e o papel de Portugal como um país intercultural na Europa. Aborda a história de Portugal como um país com vocação para o diálogo entre culturas e a experiência única de funcionar como um entreposto entre diferentes continentes. Também analisa a agenda cultural europeia e o conceito de interculturalidade, defendendo que Portugal pode servir como um modelo de país que promove a convivência pacífica entre culturas diferentes.
1) O Brasil possui grande diversidade linguística, com mais de 200 línguas faladas, incluindo línguas indígenas e de imigrantes.
2) Muitas dessas línguas minoritárias estão ameaçadas de extinção, especialmente as línguas indígenas devido aos processos colonizadores violentos.
3) É importante preservar a diversidade linguística do Brasil por razões cognitivas, culturais e de identidade coletiva.
Este documento analisa como os indígenas são representados na historiografia sul-rio-grandense através das lentes das matrizes históricas lusa e platina. A representação dos indígenas reflete mais as estruturas mentais eurocêntricas dos autores do que a realidade dos povos indígenas. Há uma tendência a ver os indígenas como inferiores e relegá-los, devido a um viés etnocêntrico nas análises históricas.
Este documento analisa como os indígenas são representados na historiografia sul-rio-grandense através das obras de dois autores principais: Carlos Teschauer e Moysés Velhinho. Ambos seguem uma visão etnocêntrica e evolucionista que vê os indígenas como inferiores e selvagens a serem civilizados. Isso resulta na quase completa omissão do papel dos indígenas como os primeiros povoadores da região.
O documento discute a noção de distância no trabalho do pesquisador social. Afirma que a distância não é apenas física, mas também psicológica e social, e que o pesquisador pode se sentir tão estranho em sua própria sociedade quanto em outra. Argumenta que as hierarquias sociais não significam conhecimento real das experiências de outros grupos, e que mesmo sociedades complexas têm espaço para questionar valores estabelecidos.
O texto discute a importância do aprendizado de línguas, mencionando congressos recentes sobre a língua francesa e esperanto. O autor reflete sobre como gostaria de aprender mais línguas, mas que o tempo é pouco, e que o domínio de apenas uma língua já é valioso. O esperanto continua sendo promovido como uma possível língua auxiliar internacional para facilitar a comunicação.
ALKMIM, Tânia Maria. Sociolinguística. Parte I. IN: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Ana Cristina. Introdução à linguística: domínios e fronteiras, v.1, 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2006. p.21-47.
Aspectos de história da língua portuguesa no enemma.no.el.ne.ves
O texto descreve como os portugueses procuravam ocupar e explorar os territórios descobertos no Brasil colonial, nos quais viviam os índios. Os missionários aprendiam as línguas indígenas para catequizá-los. Com o tempo, as línguas se influenciaram, resultando na formação de uma língua geral com duas variedades regionais.
Este documento discute o panorama linguístico brasileiro, com foco na coexistência de línguas minoritárias com o português. Apresenta uma breve revisão da situação das línguas indígenas e de imigrantes no Brasil ao longo do tempo, destacando a diversidade linguística no país apesar da língua portuguesa ser a única oficial.
I. O texto discute a questão da entrada de termos estrangeiros na língua portuguesa, defendendo que tal fenômeno é legítimo e inevitável dada a dinâmica natural das línguas, que se enriquecem com influências mútuas.
II. Radicalismos que pregam o banimento total de estrangeirismos revelam preconceito e ignoram a realidade dos contatos entre culturas e povos.
III. Embora a importação de palavras não signifique deficiência cultural, é preciso distinguir os empréstimos necess
I. O texto discute a questão da entrada de termos estrangeiros na língua portuguesa, defendendo que tal fenômeno é legítimo e inevitável dada a dinâmica natural das línguas, que se enriquecem com influências mútuas.
II. Radicalismos que pregam o banimento total de estrangeirismos revelam preconceito e ignoram a realidade dos contatos entre culturas e povos.
III. É papel dos especialistas analisar cada caso com equilíbrio, distinguindo empréstimos necessários de outros mer
1) O documento discute as tentativas ao longo da história de definir o "caráter nacional português", com contribuições de autores como Jorge Dias e críticas de Manuel Villaverde Cabral.
2) Apesar das dificuldades, a discussão sobre a identidade portuguesa continua nos dias de hoje através de música, internet e imprensa.
3) O autor defende que a noção de identidade nacional não deve ser vista de forma mecanicista, ignorando variáveis individuais e contextuais.
No diálogo platônico Crátilo, Sócrates defende que existe uma relação natural entre o som das palavras e o significado que expressam, apoiando a teoria do naturalismo lingüístico. Crátilo defende o ponto de vista oposto, o convencionalismo, segundo o qual a relação entre som e significado é arbitrária. Embora no final Sócrates relativize sua posição, a discussão revela como os antigos gregos viam a origem das palavras de forma diferente da perspectiva moderna, baseada no princípio da arbitr
O documento discute como a gramática normativa pode levar à discriminação linguística, seja de forma explícita ou implícita. A gramática normativa escrita serve para aumentar o controle do Estado sobre grupos menos controláveis e fornece parâmetros para estratificação social. Há dois níveis de discriminação linguística: explícita, com base na gramática normativa, e implícita, derivada da ideia de língua padrão.
Multiculturalidade, Transculturalidade e Interculturalidade.pptxMarília Vieira
O documento discute os conceitos de multiculturalidade, transculturalidade e interculturalidade. A interculturalidade é o conceito que melhor descreve o sujeito contemporâneo, referindo-se a processos de interação e negociação entre sistemas socioculturais diversos. O documento também aborda os desafios enfrentados por migrantes e sujeitos que vivem entre culturas.
Neste documento, Néstor Canclini analisa as relações entre modernidade sociocultural e modernização econômica na América Latina nos anos 90. Ele argumenta que a América Latina desenvolveu uma cultura híbrida que mistura tradição e modernidade e questiona estratégias para entrar e sair da modernidade em uma região onde tradições ainda existem e a modernização não foi completada. Canclini também apresenta três hipóteses sobre como as ciências sociais podem conceber a modernização latino-americana.
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1) O Brasil possui grande diversidade linguística, com mais de 200 línguas faladas, incluindo línguas indígenas e de imigrantes.
2) Muitas dessas línguas minoritárias estão ameaçadas de extinção, especialmente as línguas indígenas devido aos processos colonizadores violentos.
3) É importante preservar a diversidade linguística do Brasil por razões cognitivas, culturais e de identidade coletiva.
Este documento analisa como os indígenas são representados na historiografia sul-rio-grandense através das lentes das matrizes históricas lusa e platina. A representação dos indígenas reflete mais as estruturas mentais eurocêntricas dos autores do que a realidade dos povos indígenas. Há uma tendência a ver os indígenas como inferiores e relegá-los, devido a um viés etnocêntrico nas análises históricas.
Este documento analisa como os indígenas são representados na historiografia sul-rio-grandense através das obras de dois autores principais: Carlos Teschauer e Moysés Velhinho. Ambos seguem uma visão etnocêntrica e evolucionista que vê os indígenas como inferiores e selvagens a serem civilizados. Isso resulta na quase completa omissão do papel dos indígenas como os primeiros povoadores da região.
O documento discute a noção de distância no trabalho do pesquisador social. Afirma que a distância não é apenas física, mas também psicológica e social, e que o pesquisador pode se sentir tão estranho em sua própria sociedade quanto em outra. Argumenta que as hierarquias sociais não significam conhecimento real das experiências de outros grupos, e que mesmo sociedades complexas têm espaço para questionar valores estabelecidos.
O texto discute a importância do aprendizado de línguas, mencionando congressos recentes sobre a língua francesa e esperanto. O autor reflete sobre como gostaria de aprender mais línguas, mas que o tempo é pouco, e que o domínio de apenas uma língua já é valioso. O esperanto continua sendo promovido como uma possível língua auxiliar internacional para facilitar a comunicação.
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I. O texto discute a questão da entrada de termos estrangeiros na língua portuguesa, defendendo que tal fenômeno é legítimo e inevitável dada a dinâmica natural das línguas, que se enriquecem com influências mútuas.
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III. Embora a importação de palavras não signifique deficiência cultural, é preciso distinguir os empréstimos necess
I. O texto discute a questão da entrada de termos estrangeiros na língua portuguesa, defendendo que tal fenômeno é legítimo e inevitável dada a dinâmica natural das línguas, que se enriquecem com influências mútuas.
II. Radicalismos que pregam o banimento total de estrangeirismos revelam preconceito e ignoram a realidade dos contatos entre culturas e povos.
III. É papel dos especialistas analisar cada caso com equilíbrio, distinguindo empréstimos necessários de outros mer
1) O documento discute as tentativas ao longo da história de definir o "caráter nacional português", com contribuições de autores como Jorge Dias e críticas de Manuel Villaverde Cabral.
2) Apesar das dificuldades, a discussão sobre a identidade portuguesa continua nos dias de hoje através de música, internet e imprensa.
3) O autor defende que a noção de identidade nacional não deve ser vista de forma mecanicista, ignorando variáveis individuais e contextuais.
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Neste documento, Néstor Canclini analisa as relações entre modernidade sociocultural e modernização econômica na América Latina nos anos 90. Ele argumenta que a América Latina desenvolveu uma cultura híbrida que mistura tradição e modernidade e questiona estratégias para entrar e sair da modernidade em uma região onde tradições ainda existem e a modernização não foi completada. Canclini também apresenta três hipóteses sobre como as ciências sociais podem conceber a modernização latino-americana.
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Telepsiquismo Utilize seu poder extrassensorial para atrair prosperidade (Jos...fran0410
Joseph Murphy ensina como re-apropriar do pode da mente.
Cada ser humano é fruto dos pensamentos e sentimentos que cria, cultiva e coloca em pratica todos os dias.
Ótima leitura!
A invenção do monolinguismo e da língua nacional.pdf
1. Gragoatá Niterói, n. 32, p. 43-53, 1. sem. 2012
1ª PROVA - Káthia - 12/3/2013 - 6:17
A invenção do monolinguismo
e da língua nacional
Henrique Monteagudo (Instituto da Língua Galega, Universidade de Santiago de Compostela)
Resumo
O monolinguismo social, longe de ser um fenô-
meno espontâneo, frequentemente é o resultado de
uma série de operações glotopolíticas de homoge-
neização de populações falantes de várias línguas,
um resultado que é mantido artificialmente pelo
Estado. O artigo mostra como esses processos
históricos se vinculam à emergência dos Estados-
-nação e das Nações-estado que se forjaram na
Europa a partir do século XVIII, ao tempo que se
espalhava a ideologia da ‘língua nacional’.
Palavras-chave: Sociolinguística; Política lin-
guística; Nacionalismo; Bilinguismo.
2. 44 Niterói, n. 32, p. 43-53, 1. sem. 2012
Gragoatá Henrique Monteagudo
1ª PROVA - Káthia - 12/3/2013 - 6:17
No prólogo à sua conhecida obra Bilingualism, a sociolinguis-
taSuzanneRomaine(1995)fazumaobservaçãosobreaestranheza
quecausariaumamonografiaintituladaMonolingualism(cf.Ellis,
2008). Por que pareceria estranho um volume de estudos sobre o
monolinguismo e, em troca, a ninguém chama a atenção o título
Bilinguismo na capa do livro? Porque existe um modelo norma-
tivo, tacitamente aceito e profundamente interiorizado, segundo o
qualomonolinguismoéonatural,onormal,oesperável,enquanto
o bilinguismo (ou o plurilinguismo) é o especial, o excepcional,
o anômalo: a condição monolíngue não requer qualquer tipo de
explicação, ao contrário, a condição bilíngue exige uma justifica-
ção e justifica uma pesquisa, inclusivamente um diagnóstico, ao
menos em alguns casos.
O caráter reconhecidamente ‘normal’ do monolinguismo
dos indivíduos constitui o correlato subjetivo da conceituação
geralmente admitida como ‘normal’ do monolinguismo plu-
ri-individual – ou melhor, coletivo. Se o indivíduo é / deve ser
‘idealmente’ monolíngue, é porque a formação social básica a que
pertence também é / deve ser assim.
Ora, se o monolinguismo é o normal, resultam lógicas
perguntas do tipo como é que chega um indivíduo a ser bilíngue? E
não menos lógicas outras do tipo como é que chega uma coletividade
a ser bilíngue? O suposto de base é: todo o indivíduo e toda a
comunidade nascem monolíngues e só alguns/algumas se fazem
bilíngues. Daí também o desconcerto do indivíduo monolíngue
perante o bilíngue, que chega até o extremo de perguntar coisas
como: por que te empenhas em falar galego? Como se falar esta língua
fosse expressão de uma espécie de estranha mania, e não um fato
simplesmentenaturalparaaspessoasqueaaprendemosaotempo
que começamos a falar, e que a partir daí a utilizamos com uma
série de pessoas com que nos relacionamos de jeito mais ou menos
frequente (incluindo os nossos pais, irmãos, cônjuges e filhos).
Dada a minha condição pessoal de bilíngue, consequência
de me ter criado em ambientes em que circulavam correntemente
duas línguas em estreito contato (galego e castelhano), vou-me
situar, a efeitos de introduzir o assunto que nos ocupa, na pers-
pectiva justamente inversa à expressada no parágrafo anterior.
Assim, vou fazer estas duas perguntas: como é que se consegue
que os indivíduos se façam monolíngues? Evidentemente, criando
meios sociais monolíngues. Pois bem, como é que se consegue
criar ambientes sociais monolíngues?
Estas perguntas podem parecer escusadas, mas se o podem
parecer,istosedevesimplesmenteaqueestamosmergulhadosem
uma cultura linguística1
(num autêntico paradigma ou, seguindo
Foucault, epistemé) em que o monolinguismo foi construído e
instaurado como a situação normal. Na verdade, a pouco que per-
corramos a história da própria civilização ocidental e reparemos
no que acontece hoje mesmo ao longo do planeta, chegaremos à
1
Para a noção de
cultura, lingüística,
veja-se Schiffman
1996.
3. 45
Niterói, n. 32, p. 43-53, 1. sem. 2012
A invenção do monolinguismo e da língua nacional
1ª PROVA - Káthia - 12/3/2013 - 6:17
conclusão de que o bilinguismo e o plurilinguismo não são, de
maneira nenhuma, fenômenos extraordinários.
Por sinal, na Roma antiga, as elites eram bilíngues, pois não
havia cidadão romano culto que não soubesse ler e falar em grego,
que, além disso, era a língua comum ou franca em toda a metade
oriental do Império (PALMER, 1984). Na Europa centro-ocidental
do medievo os clerici ou letrados eram necessariamente bilíngues,
pois a língua culta era o latim (WOLF, 1982). Na realidade, na
medida em que o latim continuou a ser a língua da alta cultura,
os eruditos europeus foram obrigadamente bilíngues até o século
XVIII2
. A mesma Península Ibérica, por acaso no século XIII, era
uma região plurilíngue, com várias línguas escritas, duas delas
de ampla circulação (latim, só escrita, e árabe, falada e escrita),
outra com cultivo exclusivamente literário, mas procedente de
fora da Península Ibérica (o occitano), outra mais com uso ritual (o
hebreu), os diversos romances em pleno processo de emergência
como línguas escritas (galego-português, asturleonês, castelhano,
aragonês e catalão) e ainda o basco, carente de cultivo escrito. Não
esqueçamos da previsão testamentária de Afonso X, segundo a
qual no seu túmulo devia figurar uma inscrição em quatro lín-
guas: árabe, latim, hebreu e romance (MORENO FERNÁNDEZ,
2005, p. 65-124).
Com certeza, nos exemplos anteriores podem distinguir-se
diversos tipos de bilinguismo, que respondem a situações bem
diferentes. De uma parte, existe um bilinguismo de elite, que
se consegue mediante o aprendizado formal de uma língua
de cultura auxiliar, e que tradicionalmente estava reservado a
grupos sociais privilegiados, como era o caso da aristocracia
romana, os clérigos medievais ou os letrados da idade moder-
na. De outra parte, existe um bilinguismo social, que se produz
mediante o contato espontâneo entre falantes de várias línguas,
e que tipicamente corresponde à situações de coexistência de
duas línguas espalhadas em um mesmo território e/ou duas
comunidades linguísticas formando parte de uma mesma enti-
dade política, como podia ser o caso das variedades faladas do
árabe e do romance no centro e, sobretudo, no sul da península
durante a Idade Média.
Num sentido em certa maneira análogo ao dito, o mo-
nolinguismo pode se estudar no plano individual e no plano
social. Uma sociedade, comunidade ou país monolíngue é
aquele em que só uma língua é conhecida e usada pela ge-
neralidade dos seus membros. Ora, o que queremos mostrar
aqui é que o monolinguismo social, longe de ser um fenômeno
espontâneo, pode ser (e frequentemente é) o resultado de uma
série de operações glotopolíticas, mais ou menos deliberadas,
de homogeneização de populações falantes de várias línguas,
um resultado que, aliás, é mantido artificialmente pelos estados
mediante políticas de exclusão de línguas outras que a ‘oficial-
2
Pense-se que a
obra científica mais
i mp o r t a nt e de
Newton, Principia
Mathematica, está
escrita em latim;
veja-se Blair 1996 e
Pantin 1995, mais
em geral Burke
2004: 43-60.
4. 46 Niterói, n. 32, p. 43-53, 1. sem. 2012
Gragoatá Henrique Monteagudo
1ª PROVA - Káthia - 12/3/2013 - 6:17
mente’ reconhecida. Por outras palavras, contra o que pareceria
indicar o sentido comum (a doxa, usando o termo de Bourdieu),
o monolinguismo não é (ou não sempre) o estado natural das
coisas, mas é o resultado de processos muito complexos, e em
boa parte específicos da nossa civilização na época contempo-
rânea. Mais concretamente, tem muito a ver com a criação dos
estados nação de formato europeu, que são uns artefatos de
invenção relativamente recente.
Língua e identidade nacional na Europa contemporânea
Em tempos recentes, na bibliografia antropológica e so-
ciológica o vocábulo ‘invenção’ aparece em sintagmas tais como
‘invenção da tradição’ (The Invention of Tradition; veja-se Hobs-
bawm & Ranger (eds.) 1984) ou ‘invenção duma nação’ (como
em La invención de España; veja-se Fox, 1997), associado a certas
construções culturais ou políticas, em referência a processos que
se consideram típicos da modernidade, desenvolvidos a partir do
século XVIII. Neste contexto, o termo ‘invenção’ aparece utiliza-
do polemicamente nas controvérsias sobre a gênese das nações,
dos nacionalismos e das correspondentes identidades nacionais
européias (ou euro-americanas) modernas, por parte dos estu-
diosos que defendem pontos de vista construtivistas, e criticam
as posições primordialistas ou essencialistas3
.
Como é sabido, segundo os relatos tradicionais, as identi-
dades nacionais têm uma origem remota e, em todo o caso, num
momento da história passada (tipicamente, a Idade Média) fica-
ram fixadas num molde definitivo, que praticamente não sofreu
alterações substanciais ao longo da história posterior. Segundo
este ponto de vista, a nação, cada nação, tem séculos de existên-
cia, possui uma essência imutável e descansa em fundamentos
permanentes e objetivos: território, raça, psicologia coletiva ou
Volksgeist, unidade e originalidade cultural... Um destes funda-
mentos acostuma ser, tipicamente, a língua.
O construtivismo, ao contrário, propugna que as nações e as
correspondentes identidades nacionais são artefatos de fabricação
recente, resultados de processos característicos da modernidade,
relacionados com a construção de estados nacionais e com os cor-
respondentes processos de unificação de mercados e culturas, e
particularmente,resultantesdaelaboraçãodeespecíficastradições
culturais, linguísticas e literárias mediante processos, tecnologias
e meios de comunicação de invenção recente, apoiados na ação
de aparelhos educativos estato-nacionais, difusores de línguas
escritas estandardizadas graças à imprensa. Dentro do constru-
tivismo convivem pontos de vista mais radicais com outros mais
moderados, que correspondem, grosso modo, com as distintas
acepções do termo invenção.
3
O nacionalismo
é tema privilegia-
do de pesquisa nas
ciências sociais
contemporâneas.
Entre a ampla bi-
bliografia relevan-
te, selecionamos
alguns títulos que
nos resultaram
mais reveladores.
Entre os estudos
antigos mas ainda
úteis podemos citar
Weil (1961 [1938]) e
Kohn (1984 [1944]).
Referência obriga-
da entre os atuais
são Kedourie (1993
[1960]) e Smith (1976
[1971]). Especial-
mente úteis para
nós foram Gellner
(1988 [1983]), An-
derson (1991 [1983]),
Hobsbawn (1991
[1990]) e Thiesse
(1999). Damos entre
parênteses a data
da primeira edição
de cada obra. Uma
primeira aproxi-
mação nossa a esta
questão em Monte-
agudo (1999b).
5. 47
Niterói, n. 32, p. 43-53, 1. sem. 2012
A invenção do monolinguismo e da língua nacional
1ª PROVA - Káthia - 12/3/2013 - 6:17
Como é sabido, invenção procede do latim inventione, subs-
tantivo deverbal de invenire. Este verbo tem, já no latim, duas
acepções de base: a) produzir uma coisa nova, não previamente
existente; b) descobrir, tirar à luz algo que estava ignorado. Um
construtivista radical entende a ‘invenção da identidade nacional’
como um processo de produção de uma novidade sem muita base
real (ou inclusivamente com engano); e mesmo, em alguns casos,
a partir do nada. Um construtivista moderado a entende como
um processo de re-interpretação de elementos tradicionais pré-
existentes, elementos que ganham um novo sentido ao se articu-
larem uns com outros de um jeito novo, ou ao se incorporarem a
um contexto histórico e discursivo diferente. Quem escreve estas
linhas manifesta-se partidário da segunda linha de aproximação.
O que em todo o caso fica claro é que as identidades nacionais, as
nações, não são entidades decantadas na Idade Média, e menos
ainda entidades fixadas de uma vez e para sempre.
Em realidade, a invenção do monolinguismo é inseparável
da invenção do Estado-nação (e posteriormente, como veremos,
da nação-Estado). Para simplificarmos uma realidade histórica
notavelmente complexa, o estado-nação típico na Europa (ou, se
se prefere, o primeiro protótipo de estado-nação europeu) é o
construído segundo o modelo napoleônico. A sua aparição tem a
ver com a mudança de uma série de conceitos chave ao redor do
poder político e a sua legitimação: no Antigo Regime, o Monarca
era a personificação do estado, e recebia o poder diretamente de
Deus (ou, indiretamente, através do povo). O estado do antigo re-
gimeeraumestadopatrimonial,propriedadedadinastiareinante.
As fronteiras dos estados mudavam conforme as alianças,
matrimônios, conquistas ou compras dos seus monarcas, e em
muitos casos os domínios das monarquias mesmo eram terri-
torialmente descontínuos, e não só pela existência dos impérios
ultramarinos, mas também na mesma Europa. A lealdade dos
súditos a respeito dos monarcas e dos senhores era de tipo pes-
soal, tinha um fundamento religioso e comportava obrigas fiscais
e militares. Aliás, entre o monarca e os súditos se interpunham
frequentemente poderes intermédios, tais como os diversos sen-
horios nobiliários ou eclesiásticos. Nas ditas circunstâncias, nem
existiamascondiçõesnemanecessidadedeforjarumaconsciência
ouumaidentidadenacional,fundadanumacertahomogeneidade
de cultura, pela sua vez apoiada na unidade de língua.
O modelo napoleônico: um estado, uma nação, uma língua
As mudanças revolucionárias que trouxeram noções fabri-
cadas e difundidas ao longo dos séculos XVIII e XIX tais como
‘soberania nacional’, ‘governo do povo’, ‘igualdade dos cidadãos’
foram as que propiciaram a aparição de consciências nacionais.
Os revolucionários franceses se encontraram com a herança do
6. 48 Niterói, n. 32, p. 43-53, 1. sem. 2012
Gragoatá Henrique Monteagudo
1ª PROVA - Káthia - 12/3/2013 - 6:17
estado dinástico francês, cujas fronteiras (europeias) eram o resul-
tado mais ou menos fortuito de aquisições, conquistas e alianças
das sucessivas dinastias que detiveram historicamente o trono da
França. No interior dessas fronteiras se falavam várias línguas
(tais como o bretão, o francês, o occitano, o basco, o catalão, o
italiano, diversas variedades germânicas, desde o alemão da
Alsácia até o flamengo passando pelo lorenês), e o idioma francês
era falado somente na região parisina, com as suas variedades
distribuídas pelas outras regiões do norte (normando, picardo,
champanhês, etc). A maioria da população era analfabeta, falava
dialetos locais da respectiva língua, e só uma minúscula porcen-
tagem sabia ler e falar do francês cultivado. Aproximadamente
doisterçosdessapopulaçãofalavamvariedadesdelínguasoutras
que o francês.
Os revolucionários fundaram a ideia de nação nos princí-
pios de soberania popular e igualdade dos cidadãos, mas ao mes-
mo tempo decidiram que os franceses constituíam uma nação,
e para fazer realidade os ditos princípios, a nação devia ter uma
cultura homogênea exprimida numa língua comum. Da noção
de ‘estado francês’ (que correspondia ao velho estado dinástico,
multi-étnico e plurilíngue) passou-se à noção de ‘nação france-
sa’, e essa nação devia se exprimir na única língua nacional, a
língua francesa. Dessa maneira, empreendeu-se um processo de
‘etnicização do estado’: a identidade política adotava assim um
fundamento étnico (GRILLO, 1989, p. 22-42). Ficava cunhado o
‘modelo napoleónico’: um estado > uma nação > uma língua. Daí,
o objetivo programático do novo estado revolucionário francês
de ‘anéantir les patois’, isto é, aniquilar a diversidade linguística
para homogeneizar a nação francesa do ponto de vista linguís-
tico-cultural (DE CERTEAU; JULIA; REVEL, 1975; BALIBAR;
LAPORTE, 1976).
Odiscursorevolucionáriosobreaidentidadeestato-nacional
francesa repousava em uma operação ideológica de disfarce da
realidade, utilizando para tanto uma linguagem aparentemente
descritiva, que na verdade, é normativa e performativa. Na su-
perfície, esse discurso afirmava que os franceses já eram uma
nação porque possuíam uma cultura e uma língua comuns, mas
o que na verdade afirmava é que os franceses deviam possuir uma
línguaeumaculturacomunsparachegaremaconstituirumanação;
portanto, ainda não eram uma nação. O discurso sobre a nação, a
língua e o estado pode ser interpretado como uma instância de
interpelação4
: as várias populações que habitavam nos territórios
do velho estado dinástico são chamadas a se constituir em nação
francesa, e para tanto, a abandonar as suas línguas seculares e
adotarem o idioma francês.
De outra parte, a realidade do plurilinguismo é escamo-
teada, ocultada, negada, mas o é precisamente para que não seja
visível o projeto da sua destruição. Destarte, também fica excluída
4
Interpelação (“inter-
pellation”) é uma
noção introduzida
por Louis Althus-
ser (1970) como
um meca n ismo
ideológico defini-
do do seguinte jeito:
“l’idéologie «agit»
ou « fonctionne »
de telle sorte qu’elle
«recrute» des su-
jets parmi les in-
dividus (elle les
recrute tous), ou
«trans-forme» les
individus en sujets
(elle les transforme
tous) par cette opé-
ration très précise
que nous appelons
l’interpellation” (49),
levando em conta
que, segundo o
mesmo autor, «la
catégorie de sujet
est constitutive de
toute idéologie,
m a i s en même
temps et aussitôt
nous ajoutons que
la catégorie de su-
jet n’est constitutive
de toute idéologie,
qu’en tant que toute
idéologie a pour fonc-
tion (qui la définit)
de «constituer» des
individus concrets en
sujets» (ibídem, 46,
salientado no ori-
ginal). Nas ciências
sociais, o uso da
noção de ‘interpe-
lação’ se espalhou
consideravelmente
para se referir de
modo geral ao pro-
cesso pelo qual o
sujeito se reconhece
a si mesmo em uma
identidade dada.
7. 49
Niterói, n. 32, p. 43-53, 1. sem. 2012
A invenção do monolinguismo e da língua nacional
1ª PROVA - Káthia - 12/3/2013 - 6:17
à partida a hipótese da convivência pluralista: a necessidade de
impor a língua comum se vincula necessariamente à destruição
das outras línguas, sem dar sequer a oportunidade de contem-
plar a possibilidade de fazer compatível a diversidade linguística
dos diferentes povos com a difusão de uma língua comum de
intercomunicação. Nascia assim a ideologia da monoglossia, e o
modelo do estado-nação monolíngue, ao tempo que se iniciava
a construção discursiva da nova noção de ‘língua nacional’. A
diversidade línguística se tornava uma realidade anômala e dis-
funcional, tanto na ideologia quanto na prática. O estado ficava
programaticamente vinculado ao programa de homogeneização
linguística e cultural, correlativo ao de criação e difusão da língua
e a cultura nacionais e a manutenção da correspondente intelec-
tosfera ideológica e cultural que acompanha, legitimando-os,
esses processos.
Os meios de que se valeu o estado nacional de novo
cunho para conseguir a uniformização linguístico-cultural e
a difusão das ideologias que a legitimavam, isto é, os meios
de moldeamento das consciências e dos hábitos linguísticos,
foram basicamente dois: de uma parte, os aparelhos do estado e
a burocracia ao seu serviço (o uso administrativo da língua), da
outra, e muito especialmente, o aparelho educativo sob controle
do Estado (quando não diretamente estatal e centralizado), que
ao longo dos séculos XIX e XX foi estendendo a sua cobertura
da população infantil e juvenil e ampliando o período de per-
manência obrigatória.
Mas a construção do estado nacional respondeu também
ao interesse de determinados grupos sociais (a grande burguesia
industrial, comercial e financeira; a burocracia, o exército e outros
corpos estatais; certos setores da intelectualidade), que contri-
buíram decisivamente neste programa de ‘nacionalização’. Assim,
não se pode esquecer a relevância dos meios de comunicação e
em geral de todas as instituições do que Habermas denominou
a ‘publicidade burguesa’: meetings, clubes políticos e esportivos,
comemorações e festividades públicas, cassinos, tertúlias, etc.
(HABERMAS, 1994). Todos estes meios contribuíram em maior
ou menor medida à criação e difusão da cultura monoglóssica e
à divulgação da ‘língua nacional’.
O correlato na consciência individual da identidade mo-
noglóssica do estado-nação monolíngue e a constituição de um
novo sujeito é o cidadão monolíngue, interpelado para manter
uma forte e unívoca lealdade àquela identidade coletiva. Um
cidadão instruído e construído, tanto nas suas competências
linguístico-comunicativas, quanto nas suas representações men-
tais e atitudes, em grande parte através do sistema educativo.
De determinar os seus hábitos linguísticos se encarregaria mais
bem o meio social.
8. 50 Niterói, n. 32, p. 43-53, 1. sem. 2012
Gragoatá Henrique Monteagudo
1ª PROVA - Káthia - 12/3/2013 - 6:17
O contra-modelo herderiano:
uma língua, uma nação, um estado
O modelo napoleônico foi aplicado para transformar vel-
hos estados proto-nacionais da Europa ocidental em modernos
estados-nação: primeiro a França, depois, ao menos tentativa-
mente, a Espanha; Portugal e a Holanda, com as suas especi-
ficidades (entre outras cousas, não eram países multi-étnicos);
a Grã Bretanha seguiu um caminho próprio, mas, afinal não
substancialmente distinto. Mas não demorou em se gerar um
contra-modelo, que aqui vamos denominar herderiano, pois a
sua inspiração foi atribuída ao filósofo alemão Johann G. Her-
der (1744-1803) (cf. Monteagudo, 1999a). Este modelo surgiu e
se espalhou na Europa central e oriental, e provocou de uma
parte os movimentos de unificação de Itália e Alemanha, e
de outra a desmembração de Impérios como o Haubsburgo
(austríaco) e o Otomano, e a independência de países como a
Noruega (arrancada antes da Dinamarca e finalmente da Suécia)
ou Finlândia (que escachou primeiro da Suécia e finalmente da
Rússia). Esses processos históricos foram impulsionados por
movimentos nacionalistas que também estabeleceram uma
relação entre a língua, a identidade nacional e o estado, mas
em termos precisamente contrários ao ‘modelo napoleônico’
(BAGGIONI, 1997, p. 201-87).
Os nacionalismos ‘irredentistas’ não se apoiavam num
estado pré-existente, mas aspiravam a criá-lo, por tanto, partiam
de uma situação radicalmente distinta aos nacionalismos esta-
talistas. Quer dizer, fundavam-se na existência de comunidades
étnicas englobadas em estados multiétnicos (e/ou fragmentadas
politicamente), comunidades muitas vezes carentes de tradições
estatais próprias e caracterizadas pela posse de uma língua
própria, a qual, frequentemente carecia de tradição cultivada
(mesmo, em muitos casos, era totalmente ágrafa), ainda que em
alguns casos pudessem ser invocados precedentes históricos
mais ou menos remotos de posse de um estado próprio ou de
cultivo literário do idioma vernáculo. Esquematicamente, o ra-
ciocínio dos nacionalistas irredentistas corria em sentido inverso
aos estatalistas: somos uma comunidade diferenciada porque
possuímos uma língua própria e distinta, e por isso mesmo
constituímos uma nação, e como tal temos direito a um estado
independente. Se bem que em ocasiões, o que se reivindicava
não era um estado independente, mas um estado federado em
pé de igualdade com outras comunidades étnico-linguísticas.
Se no caso do nacionalismo estatalista falamos antes de
um processo de ‘etnicização da política’, agora podemos falar
da ‘politização da etnicidade’. Na Europa dos séculos XIX e XX,
o nacionalismo irredentista propiciou amplos movimentos de
unificação nacional (Itália e Alemanha), que pela sua vez se rea-
9. 51
Niterói, n. 32, p. 43-53, 1. sem. 2012
A invenção do monolinguismo e da língua nacional
1ª PROVA - Káthia - 12/3/2013 - 6:17
lizaram a custa da desaparição de unidades políticas anteriores
e da desmembração de partes de territórios doutros países; mas
com muita mais frequência deu azo à fragmentação de Impérios
e ao nascimento de novos estados: desde a Grécia e a Polônia
até a Estônia ou a Croácia. Uma solução intermédia, que podia
consistir na federação igualitária das distintas comunidades
etno-linguísticas, foi tentada em ocasiões e nem sempre com
sucesso durável (a Suíça e em certa maneira a Bélgica podem
servir de exemplos).
A invenção do monolinguismo e da língua nacional
Mas o que nos importa salientar é que, fosse pela via do
modelo napoleônico, fosse pela via contrária do modelo herde-
riano (este em princípio mais aberto ao pluralismo), em toda a
Europa acabou por se estabelecer uma associação estreita entre
língua, identidade nacional e estado; e por via da regra essa
associação era unívoca e excludente, quer dizer: o monolinguis-
mo das nações e o uninacionalismo dos estados é a norma; em
correspondência, fomentou-se a monolingualização das popu-
lações e dos indivíduos. Nas nações monolíngues se formaram
cidadãos monolíngues. A convivência de várias línguas dentro
de uma sociedade passou a ser uma raridade, uma anomalia,
e com ela também os indivíduos bilíngues (exceto, claro está,
o aprendizado de segundas línguas auxiliares, para o estudo,
o comércio, etc.).
Portanto, a emergência dos estados nacionais, fossem do
tipo napoleônico (estado > nação) fossem do tipo herderiano
(nação > estado) teve um duplo efeito (sócio)linguístico: de
uma parte, a política dos estados nacionais se orientou à uni-
formização linguística das populações mediante a imposição
da língua nacional, de outra parte, a própria língua nacional
foi sujeita a uma série de profundas intervenções tendentes à
estandardização, tanto mais intensas quanto menos tradição
de elaboração e cultivo tivesse às suas costas (por caso, as lín-
guas ágrafas tiveram de ser dotadas de um alfabeto e normas
ortográficas, etc.). Estes dois processos foram impulsionados
por e acompanhados de grandes transformações na consciên-
cia linguística das respectivas comunidades idiomáticas, e
em particular pela criação e difusão de ideologias e discursos
legitimadores da uniformização linguística, da hegemonia da
língua nacional, e da estandardização (com a correspondente
preeminência da variedade padrão dessa língua). Foi assim que
se inventou o monolinguismo.
10. 52 Niterói, n. 32, p. 43-53, 1. sem. 2012
Gragoatá Henrique Monteagudo
1ª PROVA - Káthia - 12/3/2013 - 6:17
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Abstract
Societal monolingualism, far from being a
spontaneous phenomenon, is usually the ou-
tcome of glotopolitical interventions aimed at
the uniformization of previously multilingual
populations. This outcome is achieved and arti-
ficially sustained by deliberate institutional and
governmental policies. This contribution explains
how these historical processes are connected to the
emergence of Nation-States and States-Nation
established in Europe form the 18th century on.
At the same time, the ideology of the ‘national
language’ was elaborated and diseminated, so
the cultural, socio-political and practical condi-
tions for the creation of monoligual spaces were
achieved.
Keywords: Sociolinguistics; Language Plan-
ning; Nationalism; Bilingualism
11. 53
Niterói, n. 32, p. 43-53, 1. sem. 2012
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