Analise do poema "O relógio" de Vinicius de Moraes, MARTINS, N.S. Introdução à Estilística: a expressividade na língua portuguesa. São Paulo: T.A. Queirós/EDUSP, 2003. Capítulo 2, p. 26-70.
2. Disciplina: Estudos Estilísticos e Semânticos
Professora: Ana Elvira Luciano Gebara
Bibliografia: MARTINS, N.S. Introdução à Estilística: a expressividade na língua
portuguesa. São Paulo: T.A. Queirós/EDUSP, 2003. Capítulo 2, p. 26-70.
Complementações:http://www.recantodasletras.com.br/artigos/3076218
Letras
Nome:Dhemison Santos Montenegro
RGM:84412-85ºA
Nome:Camila Garcia Martins
RGM:84657-16º A
3. Poema(Para Analise)
O Relógio
(Vinícius de Moraes)
Passa, tempo, tic-tac
Tic-tac, passa, hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora
Passa, tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Dia e noite
Noite e dia
ONOMATOPEIA
O poeta usa a Onomatopeia “tic-tac” para dar ritmo e efeito sonoro ao
poema. Essa repetição ao longo do texto acaba fazendo da sonoridade uma
grande brincadeira. O “tic-tac” reproduz o mais próximo possível o som do relógio.
O que difere uma Onomatopeia da Aliteração é que essa sugere um som e a
Onomatopeia imita.
Passa, tempo, tic-tac
Tic-tac, passa, hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora...
4. Quanto à escolha lexical, podemos observar que o autor procurou usar
palavras que ao longo do texto vão se relacionando ao próprio título do poema, O
Relógio. Por exemplo: tempo, hora, atrasa, dia, noite.
Passa, tempo, tic-tac
Tic-tac, passa, hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora
Passa, tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora
Que já estou
Muito cansado
Já perdi
Toda a alegria
De fazer
Meu tic-tac
Dia e noite
Noite e dia...
Essa escolha quase sempre é feita propositalmente. Observamos ainda
um forte sentido de oposição quanto ao emprego das palavras. Começamos pela
própria Onomatopeia “tic-tac”. Os fonemas /i/ e /a/ se opõem uma vez que o /i/ é
fechado e o /a/ é aberto. Outras palavras contrastantes são: "Chega logo tic-tac"
"Tic-tac, e vai-te embora" "Bem depressa" "Não demora" "Dia e noite" "Noite e
dia". Esse contraste é próprio do tempo que está sempre em movimento. A
estrutura do poema nos leva a pensar que o tempo vai chegando ao fim, pois as
métricas dos versos vão diminuindo. Começa com versos heptassílabos e acaba
com versos trissílabos e tetrassílabos, pentassílabos ou uma redondilha menor,
porém, o autor finaliza o poema usando as reticências para dar um tom de algo
inacabável, cabível ao tempo que não para.
A EXPRESSIVIDADE DAS VOGAIS
O [a] traduz sons fortes, nítidos e reforça a impressão auditiva das consoantes,
sentido na onomatopeia “tac”. A sonoridade do [a] presta-se à transferência para
ideia da claridade, da correria do dia-a-dia.
O [ê] é mais neutro não oferecendo expressividade marcante.
O [i] presente na onomatopeia ajusta seu valor ao significado, que é o som feito
pelo relógio.
EXPRESSIVIDADE DAS CONSOANTES
5. A consoante bilabial sonora [m] nas palavras “tempo e bem” reproduz um
som nasal dando-nos uma ideia de pressa, rapidez.
A consoante linguodental surda [t] encontrada na onomatopeia “tic-tac” é
base para a construção do som reproduzido pelo relógio, pois na onomatopeia
elas recebem uma ênfase iniciando as palavras.
ALITERAÇÃO E ASSONÂNCIA
Encontrada na onomatopeia “tic-tac”, a consoante [t], usada sabiamente
pelo autor ajuda a valorizar musicalmente o poema, consiste em um mesmo som
consonantal, e, também se integra as silaba tônica de cada onomatopeia. O [i] e o
[a] enfatizando a ideia do som do relógio.
HOMEOTELEUTO E RIMA
Passa, tempo, tic-tac
Tic-tac, passa, hora
Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora
Passa, tempo
Bem depressa
Não atrasa
Não demora...
Encontrados no [ra] final das palavras “hora, embora e demora” o efeito
estilístico que oferece é realçar a correlação entre as palavras que se dá. Como
nesse caso ela contribui para a harmonia imitativa.
SINAIS DE PONTUAÇÃO E ENTOAÇÃO
O autor, para marcar o compasso do poema, usa as vírgulas.
Serve, neste caso, para marcar as pausas no texto, o que nos faz lembrar o
ponteiro dos segundos deslocando-se.
6. Vinicius de Moraes
Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes nasceu no Rio de Janeiro em 19 de
outubro de 1913. Formou-se em Direito, mas abandonou a profissão tornando-se
censor cinematográfico. Diplomata, Vinicius morou em vários países. De volta ao
Brasil, em 1964, dedicou-se à música. Faleceu no Rio de Janeiro em 9 de julho de
1980, deixando um vasto legado artístico-literário.