SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 77
Baixar para ler offline
FANOR
JORNALISMO
CARLOS EMANUEL BEZERRA ALVES
A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA
REVISTA VEJA
FORTALEZA
DEZEMBRO 2014
CARLOS EMANUEL BEZERRA ALVES
A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA
REVISTA VEJA
Monografia apresentada ao curso de jornalismo,
das Faculdades Nordeste como requisito para
obtenção do título de bacharel.
Orientador: Professor Rodrigo César Garcia
Rodrigues
FORTALEZA
DEZEMBRO 2014
CARLOS EMANUEL BEZERRA ALVES
A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA
REVISTA VEJA
Monografia apresentada ao curso de jornalismo,
das Faculdades Nordeste como requisito para
obtenção do título de bacharel, tendo sido
aprovado (a) pela banca examinadora compostas
pelos professores abaixo.
Aprovado ____/_____/______
________________________________________
RODRIGUES CÉSAR GARCIA RODRIGUES
MESTRE
________________________________________
ELISABETEH LINHARES CATUNDA
DOUTORA
________________________________________
MARCOS ANTONIO CORREA DA ESCOSSIA
MESTRE
RESUMO
O objeto de estudo deste trabalho é a revista Veja, que durante sua história, sempre
atuou como um ator político, com poder de influenciar a opinião pública nacional.
Nas edições que citam a Copa do Mundo, antes e durante a realização da
competição, demonstram sua posição anti-governo e anti-esquerda. O presente
trabalho analisou as capas de nove edições da Veja ligadas a Copa do Mundo de
futebol no Brasil em 2014. Foi usado para a analise das capas teorias da imagem e
do texto, para encontrar qual discurso está implícito, dentro da mensagem de cada
edição.
Palavras-chave: Veja. Anti-governo. Opinião pública. Copa do Mundo de futebol.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1- Veja Edição 2218........................................................................................42
Figura 2- Veja Edição 2250........................................................................................45
Figura 3- Veja Edição 2327........................................................................................48
Figura 4- Veja Edição 2354........................................................................................51
Figura 5- Veja Edição 2377........................................................................................54
Figura 6- Veja Edição 2378........................................................................................57
Figura 7- Veja Edição 2379........................................................................................60
Figura 8- Veja Edição 2381........................................................................................63
Figura 9- Veja Edição 2382........................................................................................66
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................08
1.1JUSTIFICATIVA................................................................................................10
1.2 PROBLEMATIZAÇÃO.......................................................................................11
1.3 OBJETIVOS.......................................................................................................12
1.3.1 Objetivo Geral..................................................................................................12
1.3.2 Objetivos Específicos....................................................................................12
2 A ESFERA PÚBLICA COMO ESPAÇO DE CONFLUÊNCIA DE
IDEIAS.......................................................................................................................13
2.1 OPINIÃO PÚBLICA..............................................................................................13
2.1.1 Evolução...........................................................................................................14
2.1.2 Opinião Pública e Mídia...............................................................................16
2.2 JORNALISMO POLÍTICO....................................................................................17
2.2.1 O campo da política........................................................................................17
2.2.2 Concentração da opinião................................................................................18
2.2.3 Blogosfera: Um espaço democrático?..........................................................20
2.2.4 Agenda Sentting..............................................................................................22
3 FUTEBOL E POLÍTICA..........................................................................................23
3.1 INÍCIO NO BRASIL..............................................................................................23
3.2 COPA DO MUNDO..............................................................................................25
3.3 COPA DAS CONFEDERAÇÕES E MANIFESTAÇÕES......................................27
4 A REVISTA VEJA UM ATOR POLÍTICO?.............................................................29
4.1 EDITORA ABRIL..................................................................................................29
4.2 HISTÓRIA DA VEJA............................................................................................31
4.3 VEJA X POLÍTICA................................................................................................33
5 METODOLOGIA.....................................................................................................38
5.1LEITURA DA IMAGEM..........................................................................................38
5.2 INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM.........................................................................39
5.3 SÍNTESE DO DISCURSO....................................................................................40
5.4 OBJETO...............................................................................................................40
6 ANALISE DE DADOS............................................................................................42
6.1 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2218......................................................43
6.2 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2250......................................................46
6.3 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2327......................................................49
6.4 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2354......................................................52
6.5 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2377......................................................55
6.6 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2378......................................................58
6.7 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2379......................................................61
6.8 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2381......................................................64
6.9 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2382......................................................67
7 RESULTADOS........................................................................................................68
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................69
BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................73
8
1 INTRODUÇÃO
A comunicação, como qualquer outro empreendimento, vive da lucratividade e
de produtos que sejam aceitos pela sociedade de consumo, como um todo, por isso,
com a modernização da imprensa e a rapidez na transformação da informação, veio
uma crescente profissionalização no jornalista que teve de se adaptar à fórmula já
conhecida do lead, da pirâmide invertida, onde as informações mais importantes
estão em primeiro lugar para chamar logo a atenção do leitor, afeito a tantas
imagens e perdido na velocidade da vida nas grandes metrópoles.
Nesse processo, o sensacionalismo ganhou espaço em quase todos os
veículos de comunicação do Brasil, como uma das principais maneiras de prender a
audiência. Grandes escândalos, manchetes bombásticas, para muitas vezes pouca
relevância da informação útil a quem ler um periódico, um jornal, ou uma revista.
Este trabalho analisou as capas da revista Veja durante três anos em que ela
fez a cobertura da Copa do Mundo e o seu direcionamento anti-governo federal.
Nas suas origens com o modelo similar da revista Time de fazer reportagens
e suas ligações com o modelo norte-americano, dizem um pouco do que a Veja
representa e qual sua função no cenário brasileiro da atualidade, onde apesar de se
ter uma escassa cobertura das notícias sobre a Copa na suas capas, elas se
posicionam contrárias a realização do Mundial e da forma como o governo federal
conduziu o processo da competição mais importante do futebol no mundo.
A mídia brasileira fez uma cobertura mais tímida do esporte em si. Houve
menos destaque ao que iria acontecer dentro de campo. Os olhares e a atenção
estavam voltados para o que poderia não acontecer fora dos gramados. Seria uma
má vontade da impressa local? Ou os gastos da Copa eram realmente exagerados e
os jornais estavam apenas fazendo seu papel de fiscalizar possíveis irregularidades
na construção dos estádios?
Durante o período (2002-2010) do governo Lula (PT), a revista semanal Veja
não cessou de usar noticiários políticos para atingir o governo. O caso mais
conhecido que atesta essa “perseguição” da publicação à gestão petista se dá na
atuação do editor da Veja Sucursal Brasília, Policarpo Jr, ao ceder aos apelos do
bicheiro Carlinhos Cachoeira (posteriormente investigado em CPI no Congresso
Nacional) para mostrar reportagens, com supostos pagamentos de propinas que
comprometessem gente ligada ao governo federal (NASSIF, 2013).
9
Nassif (2013) no site GGN, relatou com detalhes, a maneira como o editor da
revista trabalhava ao lado do contraventor para colocar em destaque escândalos
que o governo federal seria conivente.
“A ideia foi de Joel se apresentar a Marinho como representante de uma
multinacional, negociar uma propina e filmar o flagrante... teriam decidido contratar o
‘araponga’ Jairo Martins”. (NASSIF, 2013).
Jairo Martins ex-funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi o
elo de ligação de Cachoeira a Policarpo. Tinha o objetivo como o próprio Jairo
afirmava, providenciar material e treinamento para que laranjas grampeassem
Marinho e o conteúdo fosse publicado em órgão de circulação nacional. Sem
mesmo conhecer o conteúdo da gravação Policarpo Júnior aceitou a parceria e
levou à reportagem a capa de Veja.
Para que distorções iguais ao do caso Carlinhos Cachoeira não se repitam
com frequência na imprensa brasileira, o jornalista Franklin Martins, ex-ministro da
Secretaria de Comunicação Social do governo Lula trouxe um debate em torno da
Ley de Medios no Brasil, que foi a democratização da mídia, que na prática seria
colocar em vigor artigos da Constituição de 1988, que tratam entre outras coisas de
proibir a propriedade cruzada, que permite que um veículo de comunicação
propague suas noticias por toda uma rede de informações. (PRESTES, 2013).
A Ley de Médios foi tornada constitucional pela Suprema Corte da Argentina
em 29 de outubro de 2013 e por isso, os grupos monopolistas do setor de
comunicação, como ressalta em matéria de Altamiro Borges reproduzida na integra
no blog Vio Mundo, serão obrigados a vender parte dos seus ativos com o objetivo
expresso de “evitar a concentração da mídia”, na Argentina. (BORGES, 2013).
Foi um duro golpe ao Grupo Clarín, detentor de 237 licenças, 213 há mais do
que o permitido com a nova lei. No Brasil a regulação da mídia esbarra em setores
conservadores, que tem medo de perder sua influência sobre o público.
Com a modernização e introdução de novas ferramentas eletrônicas no
jornalismo, como o online, os grandes veículos de comunicação vêm promovendo
um enxugamento do seu quadro funcional, com demissões em massa, como ocorreu
durante o mês de novembro de 2014, com a Folha de São Paulo que demitiu 25
jornalistas entre eles Eliane Cantanhêde e Fernando Rodrigues1.
1 Portal do Jornalistas. Disponível em: <http://www.portaldosjornalistas.com.br/noticias-
conteudo.aspx?id=3103>. Acesso em :11 nov. 2014.
10
Com essas novas linguagens da internet, com mais velocidade nas
informações e consequentemente mais espaço para outras vozes se manifestarem,
o impresso, e nele incluso as revistas, passam por uma crise sem precedentes que
já leva a editora Abril, cogitar extinguir alguma das suas publicações.
Enquanto esse trabalho é escrito a imprensa brasileira vai cobrindo mais um
escândalo político: a Operação Lava Jato, que investiga supostos casos de propina
de grandes empreiteiras brasileiras a agentes públicos envolvidos na Petrobras. A
imprensa faz seu papel de demonstrar os erros dos políticos. A Veja está envolvida
na cobertura e a cada semana publica uma capa incriminando mais o PT. Enquanto
nos outros veículos de comunicação, como Folha de São Paulo e Estadão saem
mesmo que em espaço pequeno, denuncias das ‘delações premiadas’ citando
nomes do PSDB e que os desvios e propinas teriam começado no governo
Fernando Henrique Cardoso, porém a Veja não coloca em suas páginas nada sobre
o assunto quando ele liga nomes tucanos à corrupção.
1.1 JUSTIFICATIVA
A necessidade de se debater uma imprensa menos ligada a interesses
particulares e mais interessada em trabalhar para propiciar ao consumidor de
notícias, informações mais coerentes com os anseios sociais de cada cidadão foi o
motivo deste estudo. A população brasileira foi ganhando nos últimos anos certa
liberdade em buscar alternativas diferentes do que se está estabelecida na
atualidade, com uma imprensa mercadológica, mais voltada a cumprir o seu perfil de
empresa.
Depois de mais de duzentos anos de imprensa brasileira, com a chegada da
família real, já se passou o tempo da imprensa partidária apaixonada, para uma
imprensa mais informativa e analítica. Anos de ditaduras e censuras da Era Vargas
e da Ditadura Militar, de um jornalismo artístico e cultural, para os dias atuais, se vê
necessária uma orientação do que realmente é importante ao cidadão, mas que fuja
de abraçar um lado somente da história, porém se busque a multi-angularidade da
notícia.
Quando o eleitor/ leitor/ ouvinte quer ter uma clara noção do que se passa, a
informação chega várias vezes até ele de uma forma confusa e apenas de um modo
11
sensacionalista. Quando chega às eleições, por exemplo, existe uma cobrança do
eleitor para que ele vote com consciência, mas ao eleitor lhe resta a publicidade
eleitoral que vende para ele um mundo em alguns momentos diferente da realidade
que conhece.
É colocado na responsabilidade de todos os eleitores um peso maior que vem
da imprensa, da publicidade que mostra uma ilusão do real e encobre os defeitos.
Com uma visão deturpada, a população vai pela “onda” que a leva. Nos últimos anos
esse movimento se transformou um pouco com a internet, onde se vê mais
informações diversificadas.
A revista Veja apesar de ainda ter a maior circulação de exemplares de uma
revista semanal, perdeu seu poder de refletir com coerência a realidade para a
população brasileira em geral, devido muito à sua maneira partidária de ser. Há uma
clara tendência política nas suas páginas que são escritas para um público cada vez
menor e de menos influência na vida pública brasileira. Apesar de ainda da Veja ter
um público “diversificado”, porém conservador.
Uma publicação de cunho comportamental como a Veja, perde nos dias
atuais seu papel de relevância que teve em outros momentos com a mudança da
Ditadura Militar para democracia. A Veja fala para esse público de empresários,
classe média alta, ou gente em busca de autoconhecimento, auto-ajuda, vida
saudável.
Com o fim das revistas O Cruzeiro e Realidade, o Brasil deixou de ter um
veículo nacional a altura, apesar dos esforços de publicações, como Época, Isto é e
Carta Capital. Ficou-se limitado com a Veja, a um pensamento único daqueles que
ela protege e daqueles para ao qual ela fixa seus olhares cheios de “ódio-
jornalismo2” e que deixa claro para o leitor que a lê, de que lado ela está. Fica
inegável sua cobertura negativa a esquerda brasileira.
1.2 PROBLEMATIZAÇÃO
Dentro do cenário atual da cobertura jornalística de revista percebe-se a
necessidade de uma contribuição maior para que o Brasil possa ter um veículo à
altura dos desafios que representa ao ser a sétima economia do mundo. Há uma
2 CARTA CAMPINAS, Disponível em <http://cartacampinas.com.br/2014/11/pesquisadora-desvenda-o-
odiojornalismo-nos-textos-da-veja-e-de-arnaldo-jabor/> acesso em 12/11/2014.
12
barreira entre os anseios da sociedade brasileira, com novos atores surgindo em
meio às mudanças estruturais. Um exemplo é a ascensão social de pessoas que
entraram para formar uma nova classe média social na qual é importante existir um
veículo, capaz de informar e de entreter, como a Veja tentou fazer durante a sua
história e só conseguiu durante um período isolado, quando deixou de lado os
interesses políticos naturais e contribuiu para esclarecer o público ainda reduzido de
letrados. A classe C ainda está em busca de uma revista que fale a sua linguagem
e atenda seus interesses.
Quem ler a revista Veja se questiona se ela é capaz de sobreviver no cenário
atual, em que as suas informações em menos de uma hora de publicadas já são
rebatidas e contadas de outra forma. Existe uma busca de superar os desafios
apontados para as publicações semanais e qual peso ela pode ter se suas
informações são mais parecidas com um panfleto partidário do que uma visão com
mais enfoques de acordo com as necessidades que o cidadão comum precisa para
se sentir preenchido com informação de qualidade.
O seguinte trabalho analisou as capas da Veja e relaciona isso com a
formação da opinião pública. Mesmo que a mesma fale para seu público
segmentado, possa falar com clareza e sem dizer apenas o que esse público quer
ouvir, mas realmente se aproximar do que acontece e que possa ser um guia natural
da realidade que os cercam.
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo Geral
 Demonstrar atuação da revista Veja como ator político na sociedade brasileira
1.3.2 Objetivos Específicos
 Verificar o processo de formação da opinião pública
 Analisar o discurso presente nas capas da Veja em sua cobertura da Copa do
Mundo 2014
 Identificar nas imagens da Veja qual mensagem se encontra nas suas capas
13
2 A ESFERA PÚBLICA COMO ESPAÇO DE CONFLUÊNCIA IDEÍAS
2.1 OPINIÃO PÚBLICA
Marques (2008) descreve o conceito de esfera pública, como um espaço,
onde os membros da então burguesia em ascensão se reuniam para expressar
razões e juízos acerca de questões e problemas relativos à coletividade. A esfera
pública aparece como um espaço que a burguesia então no seu início durante o
crescimento do comércio, o surgimento das companhias e da sociedade por ações,
tem negado pelo Estado moderno administrado pela nobreza.
Essa burguesia passa a se utilizar da imprensa, dos salões de festas, clubes
de leituras para ter papel de influência na política. Ou seja, nesse espaço, a
burguesia estava ali com o objetivo claro de defender o seu ambiente econômico e
contra opor-se a dominação vigente até então, que se baseava na monarquia.
(HABERMAS, 1997 apud MARQUES, 2008).
Almeida (2012) argumenta que a esfera pública nasce, como esfera de
proprietários privados. Dela ficam fora as mulheres e os empregados, pois eram
vistos como pessoas sem autonomia para decidir em razão de um melhor
argumento. Essa mudança ocorre, com a entrada dos trabalhadores no cenário
político. Seria a nova luta de uma situação mais desfavorável contra o capital. A
batalha dos mais fracos contra os meios políticos, daqueles que são fortes no
mercado, seria a cobrança das promessas feitas pelo Estado Burguês de que todos
seriam iguais.
Teríamos, então, os atores políticos e seus eixos periféricos, onde no centro
estariam às instituições formais com capacidade de influir diretamente nas decisões
por meio de situações comunicativas que se empregam as deliberações formais, no
caso o parlamento como um desses componentes.
Outro núcleo ao redor do formal seria o de esferas autonomamente
organizadas, mas ligadas ao governo, como universidades por exemplo. E um
terceiro onde falta regulação, no caso associações orientadas para a formação de
opinião, como grupo de ativistas ambientais. A periferia, por possuir uma maior
sensibilidade para a percepção e identificação de problemas, mobilizaria a esfera
pública política que de outro lado, se encarregaria de decidir quais das alternativas
14
encaminhadas entre os cidadãos podem ser legitimadas e instituídas (HABERMAS,
1997 apud MARQUES, 2008).
A aplicação dessa situação, no entanto não se amplia, mas, se particulariza
em cada país, onde se viveu uma realidade própria com suas condições internas. Na
América Latina, por exemplo, no período posterior a segunda guerra mundial, os
países pertencentes a essa região, sofreram com ditaduras militares patrocinadas
pelos EUA, que impediu o espaço para uma opinião pública livre que pudesse
expressar seus pontos de vistas com naturalidade. Só houve uma mudança
significativa após 1985, quando no Brasil, em particular, houve a abertura política
com as Diretas Já e a participação da sociedade civil na reivindicação para ter o
direito de decidir quem eleger.
Ao analisar a opinião pública, Kant considerava que três fatores influenciaram
para a menoridade da pessoa, uma espécie de dependência da razão do ser
humano, seriam; os fatores subjetivos, a preguiça e a covardia. Seria cômodo ter
alguém que pensasse no nosso lugar. Seriam os tutores que pensariam pelos outros
por pertencerem à esfera cultural. O sujeito passa a agir de uma forma mecânica em
que não se gera liberdade para o indivíduo, mas sim um amor pela dominação
(CASSIRER, 1922 apud DURÃO, 2004).
De acordo com Arendt (2000), existiria a concepção de dois tipos de espaços,
o espaço público, aquele onde aconteceria a representação, um espaço para as
aparências e o espaço privado, da preeminência, da privação. (LONGHI, 2013)
2.1.1 Evolução
Na Grécia antiga, o espaço da família era considerado, como um espaço
privado, onde existiria a autoridade e um espaço da necessidade,
O que distinguia a esfera familiar era que nela os homens viviam juntos por
serem compelidos por suas necessidades e carência. A força compulsiva
era a própria vida, os penates, os deuses do lar, eram segundo Plutarco, ‘os
deuses que nos fazem viver e alimentar o nosso corpo’; e a vida, para sua
manutenção individual e sobrevivência como vida da espécie fosse à tarefa
da mulher no parto, eram sujeitas à mesma premência da vida. Portanto, a
comunidade natural do lar decorria da necessidade; era a necessidade que
reinava sobre todas as atividades exercidas no lar (ARENDT, p. 39, apud
LONGHI, p 46).
15
Na sociedade americana embrionária, com os colonizadores a frente da nova
“democracia” fora da Europa, surgem às noções de liberdade, com a formação
durante, o século XVII de colônias com instituições que garantiram o direito da livre
associação contra um estado despótico e propicio a tirania (TOCQUEVILLE, 1973,
apud CRUZ, 2007).
Para além dessa discussão abre-se um novo espaço público com a rede
mundial de computadores, a internet. Gomes (2001) descreve a nova forma de
debate público, onde “seriam superados os defeitos, vícios e inconvenientes de
formas decadentes de esfera pública editada e dominada pela cultura de massa”.
Nesse contexto, “qualquer que seja a forma como se realize a esfera pública, é fato
que se trata de ambientes, fóruns, e situações de discussão, onde se geram e
confrontam a opinião, inclusive a política, em debates consideravelmente abertos e
leais...” (GOMES, 2001, p 3).
Mais adiante em outro contexto, Gomes (2007), contradiz o que havia dito,
quando aborda a internet. Pois o fato de a internet ser um local de livres
pensamentos, a terra prometida da participação ou uma espécie de democracia
direta, na prática, a democracia direta via computadores, foi apenas uma tentativa
até aqui de poucos experimentos e ainda viveríamos pelo sistema de democracia
representativa e um espaço ocupado pela WEB comercial (GOMES, 2007).
Pipa Norris (2001), analisa o espaço da democracia digital, como um local
onde as três dimensões centrais do padrão liberal representativo da democracia
funcionariam, “a competição pluralista, a participação eleitoral de cidadãos
politicamente iguais e liberdades civis e políticas” Porém o papel da internet seria
apenas “reforçar e nutrir as instituições do governo representativo e da sociedade
civil, que neste momento histórico estão precisando de reforço” (NORRIS, 2001, p.
102 apud GOMES 2007, p. 07)
A Primavera Árabe e as manifestações de julho no Brasil em 2013
movimentos que se não surgiram diretamente pela internet, tiveram por ela um
caminho de propagação, converteu-se no inverso do que ressalta Gomes (2007),
pois esses movimentos buscam rupturas com o sistema vigente e queriam a
democracia direta e uma forma de governo menos autoritário.
16
2.1.2 Opinião Pública e Mídia
Com o início da revolução burguesa, a imprensa tinha o papel de mediar e
estimular o uso que as pessoas privadas reunidas em público faziam de sua razão.
(HABERMAS 1997, apud MARQUES, 2008).
Com o passar do tempo como explica, os meios de comunicação passaram a
condicionar essa troca e colocar uma opinião não pública, com a imposição de
vontades particulares. Habermas (1997) fala da passagem de uma imprensa política
para uma imprensa comercial, que torna a opinião parte de determinados membros
do público e interesses privados. Habermas (1997) influenciado por Adorno e
Horkeimer culpa a imprensa como responsável pela perda da capacidade crítica do
público e pelo declínio da esfera pública. Nos meios de comunicação, é necessário
que haja um pouco de independência em relação ao poder econômico e político
para haver uma efetiva dinâmica entre os espaços políticos e civis. O veículo de
mass media como ressalta Marques (2008), selecionariam determinados pontos de
vista em detrimento a outros.
Olicshevis (2006) caracteriza a opinião pública como um espaço, ao qual,
através da visibilidade midiática, consegue tornar pública uma determinada opinião,
enquanto outros públicos pensariam diferentes sobre um mesmo fato. Ou seja, a
opinião pública passaria longe de ser um consenso, do plano coletivo, ou uma
confluência das mesmas ideias, ao contrário vence quem tem o poder de fazer sua
opinião chegar com mais força sobre os demais,
Em razão das influências dos grupos que formam a opinião dominante, o
seu caráter público significa, na verdade, a expressão desta dominância e
não a discussão descompromissada de temas com vistas a extrair a melhor
posição. Por tudo isso, a opinião pública funciona como uma expressão
estratégica e fundamentalmente voltada muito mais a encobrir – interesses
particularistas e privados - do que a revelar. Em outras palavras, a mídia
movimenta-se e nutre-se desse ambiente indefinido constituído pelo
interesse e pela opinião privados, mas que se manifestam como públicos.
(OLICSHEVIS, 2006, p. 95).
Seria como complementa Marques (2008), a inversão da lógica, com o
advento da propaganda de massa, em que a esfera pública, antes local de debates
de ideias e local para expor razões e expectativas ao crivo do julgamento público,
para um local de aclamação. Habermas (1997) e Bohman (1996), conclui que a
17
publicidade modifica e influi no posicionamento de cada pessoa, com a integração
do ponto de vista e construção de argumentos.
A imprensa surge na América do Norte durante a colonização, como um
mecanismo, capaz de prevenir alguns males, apesar de causar pouco bem a
sociedade. Seria a união da soberania popular e da liberdade de imprensa.
(TOCQUEVILLE, 1973, apud CRUZ, 2007).
A Imprensa e as associações são necessárias à democracia, pois os jornais
multiplicam o pensamento de muitos e tornam-se mais necessários quando
os homens tornam-se mais iguais e onde o individualismo precisa ser
combatido. A associação para ter poder na democracia, precisa ser
numerosa. O jornal só sobrevive se reproduzir uma doutrina ou sentimento
comuns a um grande número de pessoas; sempre representam uma
associação, cujos membros são os leitores; o jornal fala com cada leitor em
nome dos outros e os conduz tanto mais facilmente quanto mais fracos são
individualmente (TOCQUEVILLE, 1973, p. 291, apud CRUZ, 2007, p. 3)
2.2 JORNALISMO POLÍTICO
2.2.1 O campo da política
Alguns estudiosos de comunicação, como ressalta, Miguel (2012), acreditam
que a política, dominada pela lógica dos meios, se tornou um mero espetáculo entre
outros. Um exemplo seria a revista George publicação de “John John” Kennedy que
colocava em sua linha editorial a ideia de que parlamentares e governantes
deveriam ser encarados como cantores, apresentadores de auditório e outras
estrelas do entretenimento.
Miguel (2012) confirma essa visão com a constatação de que mídia hoje é um
fator central na vida cotidiana e que não se pode alimentar a ideia do romantismo na
política onde imperava o debate, mas que existe uma preocupação com à imagem
ou a contaminação de técnicas da publicidade comercial.
Para Martins (2011), no período de 1950, os jornais viviam um momento de
engajamento político e não tinham interesse algum na isenção na cobertura. Já ao
citar a eleição de Lula em 2002, segundo o autor, os jornais usariam um tom mais
neutro, com o mercado e a pesquisa de opinião inserida no contexto. Além da forma
de apuração de votos, que se em 1950, demorava mais de uma semana para ser
concluída, em 2002 pouco mais de seis horas depois já se conhecia o novo
presidente da República.
18
Ainda em 1950 no Brasil, o rádio e a imprensa escrita detinham o monopólio
da informação. De acordo com Abreu (2002), a TV chegaria pouco tempo depois
com Assis Chateaubriand, mas os jornais de grande circulação se concentravam no
Rio de Janeiro. Só com a modernização da indústria nacional na Era Vargas que
surgiram veículos de comunicação mais modernos, como Ultima Hora criado em
1951 e o Diário Carioca que inovou a usar a fórmula do lead com os
questionamentos no primeiro parágrafo.
Se por um lado em 1950, no período do governo Vargas o jornalismo ganhava
uma preocupação com a centralização de um país continental com multiplicidade de
identidades, o golpe militar de 1964 ampliou essa lógica com um pretexto
semelhante de construção do desenvolvimento e da modernização aliados a
segurança nacional, os meios de comunicação passaram a ser prioridades do
Regime Militar (RODRIGUES, 2011).
O jornalismo no Brasil cobre política sempre com uma intenção de atingir
certo objetivo. No atual momento a imprensa faz uma cobertura focando os pontos
negativos do PT e de seus aliados. Só observar a cobertura do caso conhecido
como Mensalão, que tomou o noticiário nacional por vários meses, enquanto o
Propinoduto Tucano, caso de propina para construir linhas de metro durante gestões
tucanas em São Paulo, não teve a mesma cobrança da mídia, para que o caso fosse
julgado exemplarmente, apesar dos montantes de desvio do PSDB serem mais de
vinte vezes maior do que o do PT.
2.2.2 Concentração da Opinião
Como ocorria em parte do mundo ressalta Rodrigues (2011), no Brasil a
concentração da mídia era quase que natural, principalmente com a radiodifusão e a
imprensa escrita usando o que Muniz Sodré observa no texto de Rodrigues “nove
clãs controlam mais de 90% de toda a comunicação brasileira. Trata-se de jornais,
revistas, rádios, redes de televisão com mais de 90% de circulação, audiência e
produção de informações...” (p 43). O Brasil tem um clima favorável à concentração
da mídia. Por se tratar de um ramo de negócio lucrativo, como uma empresa
qualquer, que por natureza do regime capitalista, o monopólio se torna uma forma
de sobrevivência. O perigo para Lima (2003) é a perda de autonomia devido à
entrada de multinacionais na área de comunicação regional e local. Na pesquisa de
19
Caparelli e Lima (2004), há uma comprovação clara da concentração dos meios de
comunicação em 80% em sete grupos maiores, no caso a família Marinho, A Igreja
Universal do Reino de Deus, A família Abravanel, Os Frias, A família Saad e Os
Mesquita.
Entre elas há de se destacar o grupo Abril, com características diferentes dos
demais, com conteúdos e proprietários estrangeiros. O grupo Abril tem parceria com
Time Warner, Walt Disney, News Corporation, Vivendi Universal, Viacom e
Berteslmann. Com todos esses grupos existe sociedade em algum campo da
comunicação. Exemplos a citar: a revista Estilo com a Time Warner; O Pato Donald
na década de 1950 com Walt Disney; Os Simpsons com News Corporation, entre
outros. Essa situação de controle da mídia por poucos grupos é conhecida como
Propriedade Cruzada, definida pelo autor, como “um sistema em que os mesmos
grupos controlam emissoras de televisão, jornais, revistas, portais da internet, etc”
(RODRIGUES, 2011, p.6).
O que seria para Rodrigues (2011) uma questão difícil para o exercício da
liberdade de expressão, pois os mesmos conteúdos exibidos em um veículo seriam
reproduzidos em todos os demais.
Isso possibilita ainda que opiniões, valores, símbolos e versões de fatos que
interessem aos grupos empresariais detentores sejam distribuídos de
maneira realista e uniforme por diversas vias, dando mais força à difusão de
tais ideias, aumentando seu alcance e sua penetração na sociedade, e,
limitando assim a inserção de opiniões diversas no contexto social.
(RODRIGUES, 2011, p. 8-9)
Com essa análise baseada em dados, e a experiência adquirida pelos meios
de comunicação, existe um claro cerceamento de espaço para que membros da
sociedade possam expressar livremente seu pensamento e possam ver naqueles
construtores da informação seus representantes. Pelo contrário do que acontece, os
cidadãos inseridos na sua realidade são bombardeados de fatos, notícias que às
vezes não é a realidade, pois os interesses ficam ao mero sabor dos donos dos
meios de comunicação, grandes famílias ligadas a grandes empresas e a grupos
econômicos poderosos.
Marshall (2003) constata que a mídia seria apenas o local onde se transporta
a ideologia do neoliberalismo. O jornalismo estaria curvado ao sistema, à pressão do
mercado. Como o autor ressalta ao citar Bourdieu (1997, p. 106), “O campo
20
jornalístico está permanentemente sujeito à prova de veredictos do mercado, através
da sanção direta, da clientela ou indireta, do índice da audiência”.
A indústria se tornaria uma indústria frágil segundo Santos (1998) na Folha de
São Paulo.
Em sua dimensão global, o mercado controla uma produção oligopolista de
noticias por meio de agências internacionais e nos apresenta o mundo atual
como uma fábula. Em suas dimensões nacionais e locais, o mercado,
agindo como mídia, segmenta a sociedade civil, influi sobre o fluxo e a
hierarquia do noticiário e aconselha a espetaculização televisiva de certos
temas, confundindo os espíritos em nome de uma estratégia de vendas
adotada pelos jornais como forma de sobrevivência. O Remédio, aqui, é um
veneno, num círculo vicioso que acaba por ser o seu principal pecado.
Estará a imprensa pecando em nome próprio ou em nome e em favor do
mercado? O resultado é o mesmo. (SANTOS, 1997, p. 55 apud MARSHALL
2003, p. 25)
Tudo isso leva uma queda de confiança na população em relação à imprensa,
como mostra pesquisa desenvolvida pelo PewResearch Center nos EUA, colocada
no livro, de 1985 quando 55% dos americanos julgavam a mídia objetiva, em 1997
56% já observavam o contrário disso, de que fatos transmitidos pela mídia seriam
inexatos. O “Jornal Sem Palavras” parafraseando Soares (1996), onde o jornal
priorizaria a imagem em detrimento da informação, no caso a preocupação com a
cor, com as letras garrafais e a foto hiperdimensionada. “o jornalismo cor-de-rosa
preparado para não desagradar a ninguém, seja leitor, usuário, consumidor, cliente,
dono, anunciante, etc” (KURTZ 1993, apud MARSHALL 2003, p.27).
2.2.3 Blogosfera: Um espaço democrático?
A produção da notícia de hoje foge ao modelo estabelecido das organizações
dominantes da mídia. A utilização das novas tecnologias permitiu o advento daquilo
que ficou conhecido como “blogueiros progressistas”. Seria a blogosfera política
alternativa, um espaço de reunião de jornalistas egressos da mídia tradicional, bem
como militantes políticos de esquerda,
Este movimento social faz uso de diferentes micro e macro estratégias de
subversão não só para que seja possível desafiar as organizações
dominantes vinculadas aos meios de comunicação tradicionais, mas
também modificar as regras dominantes e a ordem estabelecida pelo campo
da comunicação. Entretanto evidenciou-se que as estratégias de subversão,
ainda que sejam orientadas pelo um desejo de promover transformações
revolucionárias no campo por meio da defesa de práticas opostas às
praticas dominantes, ainda assim muitas vezes são obrigadas a incorporar
21
algumas práticas ou elementos que também estão presentes nestas últimas
(DARBILLY, 2014, p 8)
Haveria uma resistência digital, como observa Russel (2005), ao destacar as
praticas opositivas de vários grupos na web que atuam em rede. Os grupos antes
sem espaço, agora aproveitam para burlar o filtro por parte da mídia maistream3
(RUSSEL 2005, p. 514 apud DARBILLY 2014, p. 52).
Seria um momento dinâmico de participação das práticas políticas e culturais
coletivas, onde os usuários agiriam de forma mais colaborativa, através de weblogs,
rede wireless, editores de texto wiki e as redes sociais.
No Brasil a blogosfera teve uma atuação marcante nas eleições presidenciais
de 2010, ao mostrar um lado diferente do que a grande imprensa fazia ao abraçar a
candidatura de José Serra (PSDB). Os blogueiros estavam mais alinhados a
candidata governista de Dilma Rousseff (PT). Nesse momento surge o Centro de
Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, que tinha como presidente Altamiro
Borges. O grupo tinha como objetivo,
A luta para garantir a diversidade e a pluralidade de vozes da mídia e
reuniões os movimentos sociais, ativistas da comunicação, blogueiros,
twitteiros, a imprensa popular, comunitária e sindical, construindo uma
militância em prol do direito a comunicação (DARBILLY, 2014, p. 8)
O próprio Altamiro Borges ressalta que o surgimento do movimento veio em
contrapartida a mídia hegemônica, que estava numa defesa à coligação PSDB-DEM
e por isso era necessária uma voz diferenciada que mostrasse outro lado da história
não contada pelos maiores veículos de comunicação. E desmentir até histórias
inventadas, como uma ficha policial da candidata Dilma publicada na Folha de São
Paulo em 2010 e que depois foi provado ser falsa.
Outro movimento que surgiu em oposição à mídia tradicional foi o “Narrativas
Independentes” Jornalismo e Ação (Mídia Ninja), que faz parte do coletivo Fora do
Eixo (FdE). O coletivo teve início em 2005, com a participação de artistas e
produtores brasileiros. Na organização, princípios como o da economia solidária, da
divulgação, do intercâmbio e formação entre redes sociais, entre outros. A Mídia
Ninja é um dos projetos do coletivo e teve origem em julho de 2011, através do Pós -
TV que transmite eventos em tempo real, como a Marcha da Maconha, seu primeiro
3 Dicionário Linguee, disponível em: <http://www.linguee.com.br/ingles-
portugues/traducao/mainstream+media.html>, acesso em 13/11/2014
22
evento transmitido. É uma forma direta, ao vivo, sem interferência, no evento, mas
apenas registro (SANTOS, 2013).
Quase todos os participantes não têm formação jornalística e transmitem os
eventos por meio de celulares e outros dispositivos, tudo é transmitido por meio de
canais gratuitos como o Youtube e a divulgação feita pelo Facebook e Twitter
(SANTOS, 2013)
2.2.4 Agenda Setting
Hohlfeldt (1997) afirma que a influência dos meios de comunicação não surte
os efeitos desejados sobre a audiência em curto prazo, porém, depois de uma
sequência de fatos provocados pelos meios de comunicação. Ou também de uma
publicidade que paulatinamente surge sobre o público e vai ter seu resultado mais a
frente.
O caso das eleições presidenciais de 1994, quando o então candidato Luís
Inácio Lula da Silva (PT) liderava as pesquisas com mais de 50% dos votos sobre
Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ex-ministro da Fazenda do Governo Itamar
Franco, a imprensa passou a construir uma agenda positiva em torno de FHC.
Durante mais de cinco meses, os meios de comunicação associaram o nome de
Fernando Henrique ao Plano Real, moeda que estabilizou a economia brasileira,
assim em outubro daquele ano, o candidato superou o petista ainda no primeiro
turno.
Pela agenda Setting, os norte-americanos McCombs e Shaw, desenvolveram
as suas pesquisas durante a eleição de 1972, quando o presidente Richard Nixon,
consegue se reeleger com percentuais altamente significativos, mesmo existindo
uma cobertura da mídia, principalmente do jornal The Washington Post, no caso
Watergate de espionagem do partido republicano sobre o democrático, de forma
negativa à sua imagem.
“Os meios de comunicação, embora não sejam capazes de impor o que
pensa em um determinado tema, como desejava a teoria hipodérmica, são capazes
de, a médio e longo prazo, influenciar o que pensar e falar...” (HOHLFEDT, 1998, p.
44).
“Levando em conta que o agendamento se dá necessariamente no tempo,
verificou-se que se estabelece uma verdadeira correlação entre agenda da mídia e
23
do receptor, mas a agenda do receptor acaba influenciando a agenda da mídia”
(HOHLFEDT, 1998, p. 47).
Castells (2011) ao comentar sobre as revoluções conhecidas como Primavera
Árabe, onde em diversos países se reuniram milhares de pessoas nas ruas em
busca de várias demandas a partir das redes sociais e consequentemente a sua
influência na agenda da mídia tradicional, chamou esse movimento de
wikirevoluções (LOPES, 2013).
A agenda do público, através das redes sociais estaria invertendo, o
agendamento que passaria a ser executado pela mídia a partir do desenrolar dos
acontecimentos. A mídia no Mundo Árabe estava em grande parte nas mãos dos
governantes e as redes sociais foram servindo como fonte para a imprensa mundial.
A Web 2.0 era “uma segunda geração caracterizada por uma nova forma de usar a
internet, baseada em ambientes interativos, participativos e de construção coletiva
de conteúdo” (LOPES, 2013, p. 797).
A mídia estaria sendo pautada pelo que a sociedade debate através das
redes sociais e não mais apenas os jornalistas iriam relatar os fatos, e nem mesmo
os cidadãos se contentariam apenas com ler os relatos para ter sua opinião sobre
determinado assunto.
3 FUTEBOL E POLÍTICA
3.1 INÍCIO NO BRASIL
A origem do futebol no Brasil se deu por importação de um esporte
extremamente elitista praticado por brancos. Em 1894, o brasileiro Charles Müller,
filho de ingleses que estudava em Londres trouxe na sua bagagem um bola de
futebol e tratou de difundir o esporte entre os ingleses que moravam então em São
Paulo (CALDAS, 1994, p. 42). Seria uma forma de distração dos grã-finos; nas
escolas os alunos praticavam o esporte como recreação. Desses momentos de lazer
surgiram jogadores para integrar os então times de famílias tradicionais, como o
Clube Athlético Payssandu, o Germânia, etc.
Contrastando com esses times surge The Bangu Athletic Club, que mesmo
fundando por altos funcionários ingleses, estava localizado na periferia e como
destaca o próprio Caldas, “pela localização geográfica, tinha tendências proletárias”
(CALDAS, 1994, p. 42).
24
Assim como o time da Companhia Progresso Industrial não tinha elenco
suficiente de jogadores entre o quadro executivo, foram escolhidos alguns operários
entre os mais destacados trabalhadores e depois um número limitado de negros,
como destaca Mário Filho.
Mas a situação no futebol brasileiro, era semiprofissional e os jogadores
subempregados, até os anos 30, quando parte desses desportistas deixaria o Brasil
para jogarem na Europa e em alguns países da America do Sul. Era o período no
Brasil da chamada Era Vargas e o futebol já estava consolidado como esporte de
massas e tinha o seu primeiro mundial realizado pela Fifa no Uruguai, onde esse se
sagraria campeão.
Silva (2006), conta que o Brasil durante esse período passaria por uma série
de mudanças estruturais, na política, na economia, na cultura, com a música vinda
do morro: o samba e o futebol na sua fase áurea. Dessa forma, o governo de Getúlio
Vargas utilizava a propaganda da identidade nacional proporcionada pela seleção
brasileira, que já tinha jogadores negros e mulatos, como Leônidas da Silva e
Domingos da Guia. Mário Filho, diretor do Jornal dos Sports, juntamente com José
Batista Bastos Padilha, então presidente do Flamengo entre 1933 e 1937, criaram
campanhas para difundir o futebol entre os jovens. Como a que atingiu adolescentes
de até 15 anos, que tinham de achar entre os selos dos jornais, publicados
diariamente, a palavra “Flamengo” ou “Brasil”. (SILVA, 2006).
Enquanto em campo o futebol se popularizava, na política, em 1937, Vargas
cria o Estado Novo e com a mobilização de soldados fecha o Congresso. Com o
passar dos anos o esporte vai se profissionalizando no Brasil e principalmente na
Europa e ganha contornos de uma verdadeira identidade nacional, com o uso dos
governos como forma de alavancar a política e aproximar a população do esporte.
Como foi o caso de 1970, quando o país enfrentava um momento bárbaro com a
democracia sendo arbitrariamente ferida e a imprensa censurada, o futebol surge
como uma anestesia.
Nesse sentido, Viana (2010), destaca o caráter conservador do futebol por
reforçar essa identidade nacional:
O que faz a especificidade do futebol é que ele se desenvolve num espaço
nacional. Não apenas porque quase todos, no Brasil, estão concernidos
pelo futebol, Mas porque qualquer time pode, em tese, competir com
qualquer outro, porque os jogadores podem mudar de time, porque no
universo futebolístico, tudo se relaciona com tudo num clima geral de auto
25
transparência, apesar dos conchavos e manipulações dos cartolas. A
sociedade futebolística é política precisamente pelo fato de alcançar essa
dimensão nacional (DEBRUN,1983, p 89, apud VIANA, 2010, p. 10)
O futebol para o autor reforçaria a sociabilidade capitalista competitiva.
Existiria a transferência das derrotas na teia da sociedade para uma vitória aliviada
pelo futebol. Os amantes deste esporte estariam então nas classes desprivilegiadas
“onde o sucesso, a fama, a riqueza e o poder não foram atingidos e estão distantes
de se concretizar” (VIANA, 2010, p. 11).
Existe a falsa ilusão de sermos todos iguais ao participar do futebol, pois
como vivemos numa sociedade de classes somos desiguais, apesar de a lei ser
aplicada a todos, se é diferente nas origens. Mas no futebol brasileiro a
desigualdade começou quando ocorreram às mudanças que tiraram os direitos dos
campeões estaduais disputarem o Campeonato Brasileiro, como era. Hoje o futebol
é uma grande indústria, que movimenta milhões e tem como parceiros principais,
mídia televisiva, as empresas privadas, os investidores internacionais e os bancos
(GONÇALVES; CARVALHO, 2006).
As empresas buscam melhoria nas suas imagens institucionais investindo em
publicidade em alguns clubes de massa. Hoje o clube virou uma espécie de
empresa e tem que ter mais uma organização com um padrão de eficiência que visa
ter “competência gerencial, presença de profissionais devidamente credenciados,
sob risco de remoção de incentivos; ou seja, de não haver renovação de contrato, ou
permanência de parceria” (GONÇALVES; CARVALHO, 2006, p.10).
O futebol sempre esteve ligado a vida social brasileira e por isso muitos já se
utilizaram da popularidade que ele trás para buscar espaço na política brasileira,
podemos citar aqui um número grande de cartolas, de ex-jogadores em cargos
públicos como Romário senador, Bebeto deputado estadual, Eurico Miranda
deputado federal, Túlio Maravilha vereador, Gomes Farias deputado estadual e
narrador esportivo da rádio Verdes Mares.
3.2 COPA DO MUNDO
A modernização das transmissões esportivas e a profissionalização do futebol
tornaram o espetáculo da Copa do Mundo, como uma quase repetição de um
campeonato de time europeus, com o reforço de jogadores nativos de cada seleção.
Acostumados a ver essas equipes, o público teve mais facilidade em se identificar
26
com jogadores, como Cristiano Ronaldo, Messi, Ribery, Drogba, etc. O tema Copa
do Mundo, no entanto perde força no Brasil, com o mergulhar das pessoas na vida
cotidiana em suas tarefas de trabalho e até no costume de ver seus clubes, locais,
no caso Ceará, Fortaleza, Flamengo, São Paulo, etc. Mas é sempre assim, quando
a competição vai se aproximando as pessoas passam a focar mais o torneio,
principalmente a imprensa. No caso, a cobertura esportiva da Copa de 2002 no
Japão-Coréia, como exemplo, começa sempre da mesma maneira, onde todos
iniciam suas análises, profissionais de várias áreas dão sua contribuição no campo
da bola.
Aqui encontramos artigos de jornalistas, de um geógrafo que estuda a
difusão do futebol pela ótica de sua disciplina, uma psicanalista analisando
os problemas da transformação de meninos pobres que se transformam
celebridades, um filosofo que analisa a narrativa em torno da “família
Scolari”, como um discurso despótico, além de resenhas e apresentação de
livros que tratam o tema futebol. (HELAL; SOARES, 2002, p. 6)
Até na pressão da mídia por uma seleção melhor, ou por ou outro jogador fora
da lista sempre se repete, como foi o caso de 2002, quando o desejo de que
Romário fosse à Copa situação não atendida por Luís Felipe Scolari, e repetida em
2010 quando a opinião pública pedia Neymar e Ganso e Dunga não levou. E por
último, a mesma situação com Ronaldinho Gaúcho na Copa das Confederações de
2013, onde ele estava no auge como melhor da América do Sul e Felipão barrou sua
convocação.
Helal e Soares (2002) observam porque as vitórias de 1994 e 2002 e a
derrota de 1998 ficaram apenas no campo esportivo e não foi levado como uma
vitória ou derrota da nação, como acontecera em 1950 ou 1970.
Apesar dessa analise, os governantes do mundo inteiro disputam a chance de
ter uma competição esportiva como forma de alavancar a referida localidade para o
cenário mundial. Como destaca Seixas (2010), o evento esportivo traria para a
região um impacto ambiental, socioeconômico e o desenvolvimento da
sustentabilidade. Para que isso aconteça é necessário que se façam investimentos
em obras que levem uma infra-estrutura básica para aquele país ou cidade. Seria
aquilo que ficaria como o legado do evento:
“Os legados seriam, em outras palavras, a herança que fica depois de um
grande evento pontual, como a Copa do Mundo, os Jogos Olímpicos, Jogos Pan-
americanos, dentre outros” (SEIXAS, 2010, p. 4)
27
O Brasil, em 2007, foi escolhido para sediar a Copa do Mundo e com ela, a
preocupação de concretizar a tempo o que exigia a FIFA como organizadora da
competição.
Os investimentos iniciais para a Copa do Mundo divulgado pelo Ministério do
Esporte seriam de 15 bilhões em recursos do BNDES, financiamento da Caixa e
participação de governos federais, estaduais e municipais. Durante a Copa do
Mundo no Brasil os dados atualizados mostravam que a construção e reformas de
estádio custaram ao todo oito bilhões de reais. Enquanto as obras de mobilidade
urbana e melhorias em aeroportos 16 bilhões. Segundo o Instituto de Pesquisas
Econômicas (Fipe), durante a realização do evento foi incrementado na economia
cerca de 30 bilhões de reais. E a consultoria Ernest-Youg fez um levantamento que
entre 2010 e 2017 o ganho na economia será de 142 bilhões de reais devido à
realização do Mundial no Brasil. (NASCIMENTO, 2014).
Antes da Copa do Mundo no Brasil, no entanto, o clima negativo em relação à
realização do evento era grande devido principalmente ao “terror midiático” criado
pela imprensa. Em geral, poucos veículos mostraram esses dados positivos em suas
coberturas jornalísticas sobre o evento. Como o jornalismo globalizado vive,
sobretudo do sensacionalismo, as reportagens, sobre o evento não eram nada
animadora. Acreditava-se que tudo de ruim poderia acontecer e até recomendações
feitas por jornalistas estrangeiros para não vir à Copa do Mundo ganhou
repercussão na “grande mídia”.
3.3 COPA DAS CONFEDERAÇÕES E MANIFESTAÇÕES
A popularidade da presidente Dilma Roussef (PT) beirava 50%, mas com a
aproximação da Copa das Confederações e as reivindicações do Movimento Passe
Livre (MPL) por algumas cidades do Brasil, principalmente São Paulo, sua queda na
estima da população foi alta, oscilando menos 8 pontos em alguns dias (BRAGA, p,
52).
O movimento “Jornadas de Junho” relata Singer (2013), começou com a
classe média de São Paulo nos primeiros dias de junho e foi se intensificando com
uma reunião de mais de cinco mil pessoas na quinta, dia 13 de junho, momento
esse que a Policia Militar encabeçada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB)
endurece a truculência sobre os manifestantes. Foi à oportunidade para a opinião
28
pública ter sensibilidade para com o movimento e ai espalhar um barril de pólvora
pelo país (p. 29).
A maioria dos que estavam nas ruas eram jovens e jovens adultos (26 a 39
anos), com poucos adultos de meia idade e grande parte desses jovens eram de
escolaridade alta. (idem). Eram 43% de manifestantes diplomados contra 8% da
população em 2010 com nível superior.
A carestia na classe media levou a insatisfação política, devido principalmente
a alta no preço dos bens de serviços e a situação crítica no quesito mobilidade e
segurança,
O fato é que, a partir do momento em que importantes setores de classe
média foram para a rua, o que havia sido um movimento da nova esquerda
passou a ser um arco-íris, em que ficaram juntos desde a extrema-esquerda
ate a extrema direita. As manifestações a partir daí adquirem, um viés
oposicionista que não tinha antes tanto ao governo federal quanto aos
governos estaduais e municipais (SINGER, 2013, p. 34).
Na turma da insatisfação estavam também os trabalhadores, que reclamavam
dos gastos do dinheiro público para construir estádios luxuosos, ao mesmo tempo
em que se faltava atendimentos básicos em saúde, saneamento, transporte
aceitável e segurança. (SINGER, 2013).
Em Fortaleza muitas remoções foram previstas para que o Veículo Leves
sobre Trilhos (VLT) pudesse estar pronto para o Mundial, situação que não se
concretizou, pois a obra ainda esta em andamento, sem previsão de conclusão
durante a produção desta monografia.
Gonçalves (2013) observa que “para preparação para megaeventos
esportivos tem trazido a tona os custos sociais da ilegalidade urbanística e os
problemas relacionados à insegurança de posse das famílias em assentamentos
ilegais” (p. 21).
De acordo com o autor seriam obras de toda ordem sem uma avaliação
coerente da necessidade de certas ações. As famílias por não possuirem a escritura
do imóvel recebiam ações de despejo e propostas de reassentamento em outros
lugares distantes do atendimento de saúde, educação (GONCALVES, 2013).
29
4 A REVISTA VEJA: UM ATOR POLÍTICO
4.1 EDITORA ABRIL
Até os anos 50, a revista que tinha maior tiragem no setor de informação,
cultura ou entretenimento era O Cruzeiro, dos Diários Associados, ainda num
rudimentar sistema de indústria cultural brasileira. Um sistema já em decadência de
modelos até então ilustrados, a publicação estava nessa transição entre literatura e
reportagem e litografia/ xilogravura e a chegada da fotografia. (MIRA, 1997, p. 14-
23).
O Cruzeiro era uma publicação voltada para reportagens fotográficas, mas
ainda convivia em parte com muito do literário através das crônicas e a participação
de escritores, teatrólogos e cineastas. Com uma edição inicial em 1928 de 50 mil
exemplares a revista atingiu um recorde de 700 mil exemplares quando da morte de
Getúlio Vargas.
Mas com o passar dos anos e as mudanças econômicas, principalmente com
a indústria cultural que inserida no sistema capitalista sofre como todos os ramos do
negócio uma transformação significativa que leva a profissionalização da
comunicação e figuras ainda amadoras como Assis Chateaubriand ficam para trás,
A indústria cultural não escapa a este processo de transformação: os
capitães da indústria dos anos anteriores devem ceder lugar ao manager. O
espírito aventureiro-empreendedor de Chateaubriand caracteriza toda uma
época, mas ele é inadequado quando se aplica ao capitalismo mais
avançado. (ORTIZ, 1991, p. 134 apud MIRA, 1997, p. 32).
Quando chegou ao Brasil em 1949, Victor Civita, já tinha uma experiência na
indústria de embalagens dos EUA, como diretor, quando aprendeu um pouco de
artes gráficas e detinha um valor de 500 mil dólares, mais os direitos de reprodução
dos quadrinhos da Disney naquele período um sucesso de comercialização. Victor
viera ao Brasil por indicação de seu irmão, Cesar Civita que já desenvolvia o ramo
de edição na Argentina (MIRA, 1997).
No início dos anos 50, o ítalo-americano Victor Civita, começa a implantar o
seu império editorial chamado Abril. O Brasil contava com 50 milhões de habitantes
e 70% dessa população eram de analfabetos. (VILLALTA, 2002).
Para o empresário, o seu objetivo principal era fazer o país continental ler. Foi
assim que em 1950, surge a publicação o Pato Donald, com 82 mil exemplares. De
30
acordo com Villalta (2002), a Editora Abril, tinha 7 títulos entre 1950 e 1959; 27 entre
1960 e 1969 e 121 títulos entre 1970 e 1979. Durante os anos 50, a fotonovelas e o
Pato Donald que sustentam a editora.
Mira (1997) relata que as estórias que vinham de fora já não davam conta da
grande demanda interna pelos quadrinhos da Disney, entre eles, Mickey, Os Irmãos
Metralhas, Maga Patológica, entre outros. Assim a Abril, em 1964, forma um centro
próprio de criação. Dessa escola de arte surge o personagem Zé Carioca que é
reproduzido na editora Abril em 1961. O Brasil, como os outros países do pós-
guerra, passava a ser influenciados pela política da “boa vizinhança” americana, que
era uma das bandeiras do presidente Roosevelt. A Europa em crise passava a
perder força, principalmente as normas francesas copiadas até então pelo Brasil
foram substituídas pelas dos EUA, então economia hegemônica e culturalmente
mais desenvolvida (MIRA, 1997, p. 46).
“Mais do que a Europa do século XIX, a integração ao universo do consumo
atinge todas as classes. ‘Democracia’ e ‘mercado’ tornam-se sinônimos e o american
way of life encontra seus símbolos no mercado: Hollywood, Disneylândia, Coca-
Cola, etc”.
Uma dessas criações do pós-guerra é a fotonovela, que nasceu do cinema,
com cine romances resumos de filmes, com fotos das principais cenas e um texto
mais curto, Mira (1997). Era uma narrativa amorosa, que teve grande espaço na
América Latina. A editora Abril entraria nesse mercado em 1952, com a publicação
da revista Capricho, com 91 mil exemplares e que atinge seu auge em 1961 com
500 mil exemplares. Diferente de outras publicações que traziam as estórias em
capítulos, como Grande Hotel, a publicação vinha com o desfecho completo em
cada número, virando uma febre entre os leitores. As estórias traziam conselhos e
uma valorização da renuncia e com uma moral rígida da época. A partir dos anos 70
há um declínio das fotonovelas.
Com a expansão das rodovias, surge a revista Quatro Rodas. Nesse período,
o também ítalo-brasileiro Mino Carta esta a frente de alguns desses projetos. Na
década de 1960, como precursora da Veja, viria à publicação Realidade:
Um projeto sobre a direção de Roberto Civita, cuja intenção era de fazer
uma revista semanal de grandes reportagens, que debate com franqueza,
problemas de família, sexo, política, e sacode preconceitos e tabus.
Realidade reunia cerca de 30 pessoas, com média de idade abaixo dos 30
anos, o que garantia a revista em tom entusiástico. (VILLALTA, 2002, p. 3)
31
O Grupo Abril com o faturamento em 1995 de 1,5 bilhões de dólares tem hoje
três campos de atuação: Publicações, TV/ Vídeo e Novos Negócios. Só a editoria
Abril tem revistas e guias; Abril Jovem (publicações juvenis); Caras; operações
internacionais na Argentina e Portugal. O Grupo Abril vídeo desde 1983 com acervo
de fitas de vídeo e a MTV em atividade desde 1990. Além da Listel ligada à lista
telefônica e Brasil Online (UOL), criada em 1996 com serviços na internet (MIRA,
1997)
4.2 HISTÓRIA DA VEJA
Com a morte da revista Realidade devido à perseguição do Regime Militar, a
imprensa e devido a Abril ser detentora de um arquivo editorial farto, Dedoc, surge a
Veja ao estilo da revista Time, com o Projeto Falcão, onde 14 edições pilotos de n°
zero circularam durante certo período a partir de 1959. (VILLALTA, 2002).
A estreia da revista Veja seria, em 1968, com sua primeira edição, mostrando
de que lado a publicação se encontrava no cenário político, marcado por uma guerra
fria entre URSS (Comunista) e EUA (Capitalista). A capa trazia, “um fundo vermelho,
os símbolos do comunismo, a foice e o martelo, e a chamada o “Grande Duelo
Comunista”, abordando o tema sob a perspectiva da invasão da Tchecoslováquia,
que aconteceu em agosto do mesmo ano”. (VILLALTA, 2002, p. 7-8).
Com circulação semanal a revista estava com uma proposta de integração do
Brasil, um país com dimensão continental. O começo foi pouco mais de três meses
antes do AI-5, o mais duro ato institucional do regime militar contra a imprensa.
Provavelmente o formato da revista tenha vindo através de Roberto Civita,
filho de Victor Civita, que nasceu nos EUA. Roberto Civita foi estudar economia e
jornalismo na Universidade da Pensilvânia e se torna um editor. Sua tese seria sobre
uma editora da Filadélfia chamada Curtis, onde depois ele vai ser estagiário em um
grupo chamado time-life.
Depois de estudar a Curtis, Roberto Civita não poderia ter achado lugar
melhor para estagiar do que Time Inc., uma das maiores editoras de
revistas do mundo. Time Inc. fora fundada em Nova York, em 1922, por
Henry Luce e Briton Hadden dois jovens jornalistas que haviam se
conhecido em Yale e que não tinham nenhuma experiência em revistas.
Neste ano, os dois põem em prática um plano antigo, criando Time, a
revista semanal de informação, diferente de tudo o que havia até então
(MIRA, 1997, p. 116-117)
32
Para Carta, o público leitor ainda não estava acostumado a um tipo de
formato, com fotos pequenas, muito texto e com uma cobertura da vida nacional e
interpretativa. Com um surgimento bombástico de 700 mil exemplares no primeiro
número, a queda chegou até 19 mil exemplares entre 1968 e 1972. Mino tentou com
a criação de encarte de fascículos semanais com a história da conquista da lua para
alavancar a Veja, além de ter sido implantado, em 1973, um sistema de assinantes
que conseguiu 100 mil assinaturas.
Mesmo com esse sucesso estrondoso no início e a queda posterior que fez a
publicação cair de 63 páginas de anúncios vendidas na primeira edição, para
apenas um da Souza Cruz que ficou por 52 edições devido um contrato, O Pato
Donald, que dava um retorno significativo, foi quem segurou os prejuízos de Veja,
para que ela conseguisse manter sua circulação, “até que se descobrissem meios e
estratégias para corrigir o problema” (VILLALTA, 2002, p. 11).
O que foi um “erro de marketing empresarial”, no início como cita Elio
Gaspari, depois a correção veio, com um sistema de distribuição que atingia todos
os mais variados locais do Brasil.
A revista Veja, para Augusti (2005), procura contemplar o leitor em aspectos
da sua vida comportamental, como envelhecer melhor, dormir melhor, relaxar,
comer, etc. Com um discurso do “eu interior”, o sujeito se torna senhor do seu
próprio destino e a Veja, vêm como um “manual de auto-ajuda” para guiar o leitor.
O próprio indivíduo, na auto-ajuda, cria a fantasia e torna a si mesmo como
o objeto idealizado, porque acredita, um dia, poder encontrar o que tanto
deseja e, finalmente, ser um sujeito livre, realizado e feliz. Ele sente prazer
em admirar-se pela autoconfiança e “auto-estima” imediatamente adquirida
e fortalecida. Sente segurança e acredita que essa condição estará sempre
presente em sua vida. (CHAGAS, 2001, p.64 apud AUGUSTI, 2005, p. 21)
Antes disso, ainda a revista precisou passar por mudanças como a entrada de
Gaspari a convite de Mino Carta, para mudar a direção que tinha na redação, onde
profissionais se cristalizavam em suas funções, como no caso de editores que só
escreviam, enquanto assistentes e repórteres apuravam.
Essa mudança, de acordo com Augusti (2005), fez a publicação passar de
300 mil exemplares vendidos para 800 mil por semana. A publicação defendia que o
importante era a notícia que os leitores queriam, segundo pesquisas de opinião
realizadas pela própria Veja.
33
4.3 VEJA X POLÍTICA
Como qualquer veículo de comunicação que cobre política, a Veja busca
mostrar uma isenção ou uma mera imparcialidade que na verdade não existe.
Quando Lula assumiu o poder em 2003, a revista fazia uma espécie de cobertura
distanciada do seu sentimento de anti- governismo de esquerda. Na capa de 8 de
janeiro de 2003, com título “Lula de Mel”, a publicação mostra como seria daquele
momento em diante sua relação com o governo. Silva (2006) coloca o
posicionamento a partir dali, “A partir de agora começa a cobrança”. Até a edição de
20 de agosto de 2003 vem uma entrevista com o então presidente Luís Inácio Lula
da Silva, com a matéria fazendo elogios a política econômica do governo mantendo
o sistema igual ao do antecessor Fernando Henrique Cardoso.
Mas já em fevereiro de 2004, Veja coloca uma capa com denúncias do filho
do ex-governador Leonel Brizola sobre um suposto caso de corrupção no governo
Olívio Dutra (PT). Em 26 de fevereiro de 2005, mais uma capa anti-governista, com
críticas em 12 páginas ao que seria “o risco da involução”. Com a condenação da
revista às cotas sociais, a criação de um Conselho Federal de Jornalismo, a criação
da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual e a Lei Geral dos Meios de
Comunicação.
Durante todo o governo Lula, o ex-presidente passou a ser retratado de um
modo negativo, com “manchetes, fotografias, cores e símbolos que passaram a
mostrar uma realidade bem diferente, ou seja, de um governo em crise” (OLIVEIRA;
NAPOLEÂO, 2008, p. 83).
A Veja que retratou primeiro um presidente, como um herói a favor do povo,
durante o seu primeiro ano de governo e depois passou a usar a imagem do Lula,
com tons irônicos e de sarcasmo e com caráter de denúncia.
Um ex-editor da revista Veja, Carmo Chagas, destaca um pouco do que seria
a política editorial da publicação e como ela se posiciona para o seu pequeno
numero de eleitores cativos. Quem leria os editoriais seriam, “os empresários mais
sólidos; os políticos mais perspicazes, os economistas mais consistentes, os
intelectuais mais atentos, são eles que constituem a elite interessada na opinião que
aparece todo o dia na imprensa” (SILVA, 2005, p. 83).
Silva (2005) coloca que a revista usaria noções liberais permanentes para
ocultar sua ação partidária. Na edição da revista do dia 09 de janeiro de 1997, p. 07,
34
a seção Carta ao Leitor se posiciona favorável à emenda de reeleição em votação
no Congresso Nacional e até coloca sua sinalização de que o segundo mandato
seria melhor para a nação,
O que se está discutindo é a possibilidade de Fernando Henrique Cardoso
concorrer de novo ao mesmo cargo, submetendo-se ao voto do povo. Nas
pesquisas de opinião pública, a tese da reeleição é majoritária. Há no país
uma tendência a se considerar que os quatro anos, nas circunstâncias
atuais e com o atual ocupante do Planalto são tempo curto demais para
consolidar o clima de estabilidade que o país vem conquistando. Pensa isso
o cidadão comum que é ouvido pelos institutos. Acha o mesmo quem
analisar as perspectivas de maciços investimentos no país graças à
diminuição significativa das incertezas econômicas. (SILVA, 2005, p. 105).
A revista seleciona entre todas as cartas ao leitor, àquelas que favorecem
claramente uma visão positiva do Brasil naquele ano, véspera de eleição
presidencial e de desejo de continuidade o que justificaria então a emenda de
reeleição de Fernando Henrique Cardoso até hoje contestada por oposicionistas
como tendo sido um suposto esquema de mensalão para que os deputados
aprovassem a possibilidade do presidente ter o direito a ser reconduzido ao cargo
novamente caso tirasse maior numero de votos.
Assim, a revista mostraria que tudo caminhava bem no país com as pessoas
com mais dinheiro no bolso, indo mais à praia, devido a um suposto ajuste
econômico que a revista avaliaria como sendo decorrente de ações do governo
FHC. (SILVA, 2005).
Durante seus primeiros anos, a Veja cobriu alguns eventos que seriam de
movimentos contrários ao regime militar, como na capa de 09 de outubro de 1968,
quando cita a Incrível Batalha dos Estudantes, ou 16 de outubro de 1968, quando
coloca na capa, Todos Presos: Assim acabou o congresso da ex-UNE. Ou quando
numa das capas Procura-se Marighela em 20/11/1968 e a mais emblemática onde
aparece na capa o Congresso Nacional dentro de um vidro quebrado na edição de
04/12/1968.
Na edição de 18/04/1984 a foto de Ulisses Guimarães e a multidão nas ruas
atrás dele e o título Diretas Já: Um Brado Retumbante, um momento em que a
revista está mais aliada aos anseios daquela pós-ditadura e não se tinha ainda claro
o que seria a democracia e quais forças estariam à frente do comando do país. No
mesmo ano na edição de 05 de maio, a foto de Tancredo Neves com as mãos juntas
em um ato de reflexão e os dizeres: À Hora de Tancredo.
35
Alguns anos depois e já com a eleição presidencial garantida pelo voto direto
à revista vem com a capa de Collor de Melo, com a pergunta Collor Quem é o que
quer e por que está agitando a sucessão na edição de 17/05/1989. Pouco tempo
depois vem outra edição com Brizola e a cobertura de Lula (06/09/1989), mostrando
o candidato com o punho serrado e a bandeira do PT atrás.
Após a eleição de Collor e sua renúncia e depois de Itamar Franco assumir
interinamente a presidência da Republica do Brasil, a Veja que teve um papel
importante na denúncia contra Collor desde o início com as declarações de Pedro
Collor de Melo até os “Caras Pintadas”, vem no ano da eleição presidencial de 1994,
com a capa de 12 de janeiro de 1994 e a foto de FHC e o título E Agora Fernando?
Uma sugestão de quem poderia ser o novo presidente. Durante esse ano não houve
uma capa em que Lula aparecesse como possível solução para presidente,
enquanto em três capas FHC apareceu como o homem a solucionar problemas.
Durante todo o primeiro mandato de FHC nem uma citação ruim ao seu
governo pela Veja, mas apenas mostrando um lado que possivelmente as pessoas
nas ruas não observavam apesar da capa de 19/02/1997 com o título Onde Estão os
Empregos: Os novos polos de crescimento e as oportunidades que eles oferecem,
colocando o Brasil como um local de maravilhosas oportunidades, mas que
enfrentava uma crise na prática não citada pela Veja.
Já na edição de 22/05/2002 a revista Veja tem na capa a foto de Lula a olhar
para cima, onde tem dados da bolsa de valores e o título: Por que Lula Assusta o
Mercado. Dois meses depois na edição de 17/07/2002 a foto de Lula atrás e
embaixo de um lado Ciro Gomes e de outro José Serra e a pergunta Ciro ou Serra:
Quem vai ser o anti-Lula? E ainda na edição anterior a eleição em 25/09/2002 o
título O PT está preparado para presidência?
São anos sucessivos de cobertura da Veja pós-ditadura onde a mesma
seleciona um ponto de vista de cobertura e coloca seu enfoque mais ligado ao
PSDB e ao neoliberalismo tucano, ao mesmo tempo em que coloca o PT como um
partido no começo radical, depois corrupto e essa visão que tem da realidade tenta
sempre definir aquilo que quer para seu público, um debate hoje mais interno com
leitores cativos do que externo com a grande massa que surge nos últimos anos de
novas leituras.
A cobertura das eleições de 2010 entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra
(PSDB), demonstra bem como se posiciona a Veja como um partido de direita
36
moderna com funções de difundir a visão de mundo baseada no liberalismo
econômico do Instituto Millenium4 a qual faz parte com outros grupos de direita no
Brasil. Já na sua edição de 21 de abril de 2010, a capa da revista vêm com a
chamada: “Serra e o Brasil pós Lula”. A publicação ainda destaca na capa um trecho
da entrevista com Serra que ele diz “me preparei à vida inteira para ser presidente”.
Na edição posterior na seção Carta ao Leitor há nove elogios a entrevista de José
Serra e cinco criticando a candidata Dilma (GUILHERME, 2012, p. 6).
Durante os meses seguintes, aponta Guilherme (2012), a Veja mergulha de
cabeça na campanha de José Serra e passa a desqualificar tudo do governo de Lula
(PT), todo tipo de denúncia é mostrando como sendo petista e as ações positivas
sempre são do PSDB. Como na edição de 02 de junho, quando a matéria “José
Serra vai direto ao ponto” o candidato mostra como o presidente da Bolívia Evo
Morales estaria incentivando a produção de cocaína e venda para o Brasil.
Na edição de 27 de setembro de 2006, a capa da revista vem com a
caricatura onde o presidente Lula tem a faixa presidencial como venda para os seus
olhos destacando os aspectos negativos do então presidente da república em busca
da reeleição. De acordo com Cattelan (2014), a figura que mostra o presidente bem
cuidado com a barba bem feita, seria um presidente de fachada e envolvido em
corrupção e a cabeçorra destacada na revista mostra o preconceito por ser
nordestino. As orelhas grandes seriam o símbolo da obscuridade e de tendências
satânicas. O que apontaria a desonestidade e a ignorância é a faixa nos olhos do
presidente, que o coloca como alguém incapaz de ver o que acontece ao seu redor.
(CATTELAN, 2014).
Em 1970 enquanto o Brasil vivia um dos anos mais duros da ditadura militar,
“a propaganda política divulgava ideias de identidade e participação nacional, pelo
estimulo a popularidade do presidente e promoção dos efeitos do regime”
(CHAGAS, 2009, p. 1).
A Veja neste período também vem reforçar essa ideia de nacionalidade e
estimulo ao regime. Para a publicação essa exaltação se devia principalmente pelo
Brasil ser uma potência mundial nesse esporte chamado futebol e por isso a euforia
das pessoas nas ruas cantando músicas relacionadas à seleção canarinha.
4 IMIL Disponível < http://www.imil.org.br/> acesso em 29 de setembro de 2014
37
O futebol seria além de festa, guerra com o objetivo de exterminar o inimigo,
como destaca bem a revista Veja ao dar espaço para as falas do presidente Emílio
Garrastazu Médici. O então presidente era destacado como mais um entre os 90
milhões de brasileiros torcendo pela seleção. Que oferece um almoço ao grupo da
seleção brasileira de futebol e com “o radinho de pilha na mão fumando, o
presidente assistiu ao jogo contra a Áustria, no Maracanã” (CHAGAS, 2009, p. 7).
38
5 METODOLOGIA
5.1 LEITURA DA IMAGEM
Esta monografia tem o objetivo de analisar o discurso construído por texto e
imagem das capas de nove edições da Veja relacionadas à Copa do Mundo. Na
análise da imagem, Joly (1996) define a categoria imagem como ícone que mantém
“relação de analogia quantitativa entre o significante e o referente” (JOLY,1996 , p.
37)
Para contextualizar mais sobre o que seria a imagem na prática,
“compreendemos que indica algo que, embora nem sempre remeta ao visível, toma
alguns traços emprestados do visual e, de qualquer modo, depende da produção de
um sujeito, imaginária ou concreta...” (JOLY, 1996, p. 13).
Há outras definições de imagem, como “qualquer fenômeno visual que integre
a representação de objetos com os quais mantenha relação de semelhança”
(CASASUS 1979, p. 39, apud BLASQUE, 2012, p. 3).
A imagem, com o advento da semiótica da imagem se voltou para os estudos
das mensagens visuais, ou seja, a mesma virou sinônimo de representação visual,
porém ela vai mais além, pois nos mostra que é heterogênea de uma forma que
reúne dentro de si, categorias de signos e formatos variados, como cores,
composição interna, textura, etc., além de conter um signo linguístico, que diz algo a
quem ver essa imagem (JOLY,1996).
O desejo de ler além da imagem leva ao leitor a praticar o raciocínio em
busca de entender a imagem, como algo além daquela figura ou fotografia. O estudo
de signos peircianos se usa da fórmula matemática entre o significado e o
significante com a ajuda do interpretante para se chegar a um sentido. Os signos
que uma figura não apresenta, vem por meio do ícone, o índice e o símbolo. O ícone
se subdividindo em imagens, diagramas e metáforas. O uso de Peirce de analogia e
comparação é a maneira de se chegar a um entendimento (SOUZA, 2011).
A semiótica seria como “a ciência que estuda os signos, os quais são sinais
que representam algo, podendo ser objetos perceptíveis ou apenas imagináveis”
(SILVEIRA, 2005, p. 4).
39
Ou seja, este trabalho, quer estudar a imagem, de acordo com o que Peirce
(1938-51) define dos signos, como o que nos apresenta algo por meio de alguma
representação.
O autor destaca Santaella (1993, p.13), para definir, o que seria a semiótica
como
A ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis,
ou seja, que tem por objetivo, o exame dos modos de constituição de todo e
qualquer fenômeno de produção de significação e de sentido ou,
simplesmente, [...] é ciência dos signos.
5.2 INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM
O olhar para imagem não se prende apenas no que se vê, pois a omissão de
certos elementos dentro de um formato pode mostrar que algo está oculto aos olhos
humanos e que a descoberta do que se busca está além do olhar.
Na capa da Veja, o interessante é a análise da arbitrariedade, a imitação, ou a
referencialidade. O contexto está apontando para um objeto específico e que define
sua função a partir do olhar da sua audiência.
Barthes e seus discípulos imaginavam que a leitura da imagem usaria a
mesma forma da leitura do signo linguístico, que foi criticada por Vilches (1991) ao
expor que existe um projeto de leitura de imagem enquanto texto que estão divididos
em várias categorias linguísticas. (SOUZA, 2011).
O texto visual, em seu todo, é tido como um conjunto de estruturas
produtivas, cujo modelo pressupõe: expressão visual; elementos de
expressão (figuras geométricas e ângulos de câmera); níveis sintagmáticos
(figuras iconográficas, tipologia da montagem, relação campo/contra-campo,
etc); blocos sintagmáticos com função textual (montagem; tipos de
enquadre; narrativa/cronologia temporal; diferentes pontos de vista); níveis
intertextuais; tópico; gênero e tipologia de gêneros. Ou seja, pela
perspectiva de Vilches a leitura da imagem se dará pela apreensão da
coerência que perpassa todos os elementos de textualidade descritos
acima. O que
chamamos a atenção nessa perspectiva é, por um lado, a apreensão e o
reconhecimento por parte do leitor dos elementos que constituem o texto
visual (SOUZA, 2011, p. 4-5).
40
5.3 SÍNTESE DO DISCURSO
Na análise do discurso Gregolin (2007) coloca a síntese apresentada por
Foucault (1969) em que as práticas discursivas interferem na ação do sujeito na
história. Para isso é apresentado uma teoria do discurso, onde um quadro é
colocado resumindo num campo:
O discurso é uma prática que provem da formação dos saberes e que se
articula com outras praticas não discursivas; os dizeres e fazeres insere-se
em formações discursivas, cujos elementos são regidos por determinadas
regras de formação; o discurso é um jogo estratégico e polêmico, por meio
do qual se constituem os saberes de um momento histórico; o discurso é o
espaço em que saber e poder se articulam (quem fala, fala de algum lugar,
baseado em um direito reconhecido institucionalmente); a produção do
discurso é controlada, selecionada, organizada e distribuída por
procedimentos que visam a determinar aquilo que pode ser dito em certo
momento histórico (Foucault, 1969 apud GREGOLIN, 2007, p. 14-15).
Mas a análise do discurso, de forma estruturalista, onde sujeito é mero
observador dos acontecimentos, perde força a partir de 1969, com a Análise do
Discurso (AD) de linha francesa, que coloca o sujeito no centro do novo cenário. O
marco inicial vem com a publicação de Análise Automática do Discurso (AAD) de
Michel Pêcheux, com a revista Langages. De acordo com o autor, o sujeito perdido é
encontrado descentrado e ferido pelo narcisismo, com livre pensar e outra parte
deste sujeito são encontrados no materialismo histórico (FERREIRA, 2003).
Ferreira (2003) ressalta, que a AD, não trabalha com uma língua presa na
discussão linguística, mas sim com uma língua da ordem material. A língua de
Sausurre língua/fala, agora é transformada por Pêcheux em língua/ discurso.
A finalidade é que o leitor da imagem possa entender o que ela quer falar. O
que tem por trás de certas mensagens icônicas contidas no design das capas da
Veja.
5.4 OBJETO
São nove capas, desde 2011 até o fim da Copa do Mundo 2014. A escolha se
deve ao fato de que elas falam sobre a Copa do Mundo de Futebol no Brasil e
porque essas nove edições relatam fatos políticos que mostram sua visão em
41
relação como o governo federal organiza a competição e de como a publicação
enxerga esse mesmo governo de esquerda.
42
6 ANALISE DE DADOS
Figura 1- Edição: 2218
Fonte: Veja
43
6.1 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2218
Imagem
O capacete de operário verde e amarelo faz referencia ao símbolo da Copa
do Mundo no Brasil, que é o troféu. Com o acréscimo da mão do construtor com a
luva amarela, como existe no símbolo original. As cores acabam por remeter ao
nacionalismo brasileiro, cores que faz a mente de quem ver a capa pensar no
sentimento comum de união.
Texto
O número “2038” ao lado significa o que tem no conteúdo da publicação em
destaque, que acredita que o Mundial no Brasil não se realizará, pois os estádios
não ficariam prontos a tempo. Ai vem à ideia de que não dará certo a Copa do
Mundo, e então a mesma imagem aparece fragmentada na cabeça do leitor, que vê
diante de sim o obstáculo.
Dentro desta edição, o destaque é a matéria que aparece na capa: “Por
critérios matemáticos os estádios da Copa não ficaram pronto a tempo” e embaixo
da imagem do estádio Maracanã ainda em reforma os dizeres: “no ritmo atual o
Maracanã seria reaberto com 24 anos de atraso”
Composição
As cores e os símbolos que representam o país que sediará a Copa entram
em conflito com os dizeres contidos na capa, e passam uma visão de que é
impossível atingir as metas da organização do Mundial.
Mensagem
O papel da imprensa é cobrar para que os malfeitos sejam concertados e
olhando para esse lado a matéria estaria de acordo com essa visão, mas a capa
desconstrói essa noção, pois ela já insinua sem nenhuma base concreta o porquê
da a entender que é definitivo essa visão. Aqui falta a multiangularidade, pois falta
44
ouvir o lado governamental e colocar o mesmo peso do que poderia ou não
acontecer se a obra ficasse pronta.
Classificação
Nessa edição há uma visão negativa do Governo Federal. De acordo com a
cobertura feita pela Veja ficou evidenciado a busca da publicação em colocar em
dúvida a capacidade do governo de realizar a Copa do Mundo, segundo critérios
próprios da reportagem, sem fundamento.
45
Figura 2 - Edição: 2250
Fonte: Veja
46
6.2ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2250
Imagem
Ao redor, caricaturas das principais figuras mundiais como se estivessem
olhando para o Brasil. Seria o país, de acordo com as imagens uma espécie de
novidade, como também de desejo para os outros países do mundo.
Texto
No centro o dizer: “O Brasil aos Olhos do Mundo” a pesquisa feita pela CNT
em 18 países a pedido da Veja. Em baixo do título, questões que a pesquisa buscou
saber sobre o que pensam os estrangeiros em relação ao Brasil: “Pelé e Carnaval?
Obvio!” “As surpresa começam nas respostas sobre quem é dono da Amazônia ou
nossa capacidade de fazer a Copa do Mundo”.
Composição
O discurso atrelado à imagem da à percepção clara de que os entrevistados
teriam se posicionado contra Amazônia, ou que os países não seriam capazes de
realizar grandes eventos mundiais, porém as respostas foram outras. Essa surpresa
quer dizer que a publicação fica perplexa, sobre o porquê de lá fora se acreditar e
aqui não. A resposta é clara, lá a imprensa retrata o Brasil de uma forma bem mais
positiva e aqui o olhar da imprensa é mais para os problemas e menos para a
solução.
Mensagem
A pesquisa CNT/ Sensus em parceria com treze empresas de pesquisa
constatou que o Brasil é para essas nações, rico, influente e com uma economia
relevante com viés de alta. Mas a opinião da revista começa a interferi no que a
pesquisa diz, quando começa a dizer que a política externa do Brasil não seria boa e
que seriamos apenas conhecidos como país do futebol e carnaval, contradizendo a
pesquisa que vê justamente o contrário, que 94% da população mundial ver o Brasil
47
como uma economia forte e que 74% dos estrangeiros estavam otimistas com a
realização do Mundial no Brasil.
Classificação
Nessa edição há a visão negativa do Governo Federal. Mesmo com dados
favoráveis ao Brasil de acordo com a pesquisa, a publicação diminuiu as conquistas
nacionais e potencializou as falhas
48
Figura 3- Edição: 2327
Fonte: Veja
49
6.3ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2327
Imagem
A imagem de uma jovem de costas com a bandeira do Brasil servindo como
uma capa remete ao imaginário, uma heroína que busca representar a todo o povo
que foi às ruas. A imagem da caminhada da jovem para o fogo representa à nação,
que caminha para o caos, a destruição. Acima dela, as labaredas de fogo que
iluminam a cena sobre as barricadas.
Texto
Abaixo os dizeres: “Os sete dias que mudaram o Brasil”. A referência a
manifestação “Jornadas de Junho” que sacudiram o país contra os gastos
excessivos da Copa do Mundo. A publicação faz uma afirmação contundente de que
essas manifestações foram um divisor de águas na história do Brasil.
Composição
Nessa edição imagem e texto se conectam para passar uma
mensagem de mudança, de transformação contra a realidade que estava imposta
até aquele momento no Brasil.
Mensagem
Ao entrar no conteúdo exposto na capa, você observa que o discurso da Veja
fica todo, como se o movimento fosse anti-PT. Era segundo a edição, um
emparedamento das esquerdas. Mas na verdade existiam vários grupos misturados
de esquerda, extrema direita, entre outros. E tudo começou por questões de valores
de reajuste de passagens em várias regiões do Brasil e que coincidia com um
evento como a Copa das Confederações, cujo trazia os olhos do mundo para o país.
O estopim para tudo começar foi à truculência da Policia Militar de São Paulo,
comandada por Geraldo Alckmin (PSDB), que excedeu na força contra os
manifestantes.
50
Se exigia nesse movimento a melhoria da qualidade de vida das pessoas que
já ascenderam de classe social e que hoje dividiam um espaço com uma classe
social que se sentia sufocada por mais carros nas ruas, falta de serviços com
excelência no setor público e até particular. Seria a busca de melhor infraestrutura,
pois o Brasil se desenvolveu nos governos do PT, mas ainda faltou criar a condição
pra que a população viva com mais qualidade.
Classificação
Nessa edição há a visão negativa do Governo Federal. A cobertura da Veja
coloca, as “Jornadas de Junho”, como um movimento anti-governo federal. É
reduzido as bandeiras daqueles que estavam, nas ruas, como apenas uma busca de
uma oposição ao PT e a presidente Dilma.
51
Figura 4- Edição: 2354
Fonte: Veja
52
6.4ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2354
Imagem
Uma criança chamada Deyvid com a camisa da seleção brasileira de pés
descalços e com um sorriso no rosto em meio ao pano de fundo da sua realidade
em um campo de terra batida, em alguma várzea do Brasil. Em contraste ao seu
lado, a imagem de Neymar, ídolo do Barcelona e principal esperança para Copa do
Mundo no Brasil. O corte nas duas figuras, unidas apenas pela junção das traves do
Maracanã e do campinho de terra, para dar intensidade clara ao que se quer mostrar
as diferenças, o que está errado e que o país é muito diferente do que se tenta
pregar.
Texto
A intenção da capa é provocar em quem ver a revista, uma indignação de
observar um país tão desigual de oportunidades, onde o título reforça a imagem:
“Uma Copa dois países” e o subtítulo realça a sensação de desconforto com a
aproximação do Mundial: “Os desafios para o Brasil em 2014, fora e dentro de
campo”. Dentro do texto a constatação de que somos o país do futebol, mas pereba
na infraestrutura, perna de pau na educação e consistente na desigualdade e um
matador na corrupção. E o foco da edição prevê o mundial que não será legal fora
de campo. E que o resultado fora de campo contaria mais do que dentro de campo.
Composição
A imagem de Neymar e do Deyvid com imagens diferentes, com o texto Uma
Copa, Dois Países, dá um resultado final, que impacta quem ver, pois quer passar
um visão de divisão de duas realidades.
Mensagem
O Brasil é injusto, porque um garoto como Neymar chegou ao estrelato,
enquanto outro garoto Deyvid está em uma realidade que pode ser que lhe leve para
53
outros caminhos. Como também a mensagem dar a entender que o Deyvid também
pode chegar à mesma situação de fama de Neymar, que um dia foi igual a esse
garoto.
Classificação
Nessa edição há a visão negativa do Governo Federal. A Veja procura
separar os dois países de Neymar e de Deyvid, mas esquece que o jogador do
Barcelona, também já foi um menino que jogou em campos de terras batidas. A Veja
não procura identificar os problemas da miséria de jovens garotos que jogam na
periferia do Brasil, mas sim apenas sugerir que há oportunidades desiguais. NA
verdade o capitalismo gera desigualdade, não só no futebol, mas em toda
sociedade.
54
Figura 5- Edição: 2377
Fonte: Veja
55
6.5ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2377
Imagem
A capa é apenas duas letras A e Z, dentro delas, a fotos do que marcou o
país de 1950 a 2014. Atrás o fundo branco com a intenção clara de mostrar
serenidade na edição.
Texto
O título “O Brasil moderno que nasceu entre duas copas”. O desejo da revista
de mostrar um país em desenvolvimento às vésperas da Copa do Mundo. O
interesse de falar para o seu público habitual de grandes empresários que
necessitam de reafirmação de que os laços do Mundial podem trazer dividendos
importantes e que também aquelas pessoas que compraram ingressos poderiam se
sentir segura na sua opção de compra.
Composição
A imagem, contrastada com o título ressalta que as mudanças que ocorreram
no Brasil, não se limitam aos 12 anos do governo atual de Lula e Dilma, mas que a
modernização é fruto de mais de 64 anos de transformações em várias áreas desde
cultura, economia, saúde, entre outras.
Mensagem
Na mesma edição, um guia da Copa do Mundo, com todos os detalhes das
sedes e das seleções e dos grupos da Copa. Desse momento em diante os olhos da
imprensa esportiva mundial passariam a olhar o Brasil e até a Veja critica do
governo e da competição pensa como toda empresa: lucro e por isso o encarte
especial com tudo aquilo que o fã de esporte deseja saber. O mais improvável
acontece para quem reconhece na revista um domínio do anti-governismo, de
derrepente sair do lado que critica para ser o lado que afaga o ego dos torcedores.
56
O fenômeno acontece com toda a imprensa nacional, que num passe de
mágicas esquece os problemas e mergulha num misticismo, onde tudo passou a dar
certo e a cordialidade dos nativos é o que mais importa entre todos os possíveis
defeitos antes vistos como algo insuperável.
Classificação
Nessa edição há uma visão neutra em relação ao Governo Federal. Apesar
de não ser contrária ao governo diretamente, a Veja por destacar que os progressos
não são produtos de apenas 12 anos procura, diminuir as transformações dos
governos de Lula e Dilma. Mesmo a publicação sendo coerente em fazer uma
retrospectiva do que aconteceu entre 1950 e 2014 no Brasil, ela jamais enfatiza que
foi o governo federal atual que possibilitou a vinda da competição depois de 64 anos.
57
Figura 6- Edição: 2378
Fonte: Veja
58
6.6 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2378
Imagem
A primeira figura mostra os jogadores perfilados para cantar o hino, unidos
depois à capela pelo público na Arena Itaquera. Na segunda imagem Neymar
comemora o gol com os braços abertos e na terceira imagem o rosto de Dilma tensa
com as vaias vindo do setor Vip do estádio.
Texto
Logo em cima do nome Veja: “Os três destaques da abertura da Copa
mostram que para os brasileiros, pátria não é governo e a paixão pelo futebol não
combina com política”. A Veja tenta acertar em cheio o imaginário do brasileiro que
ama o futebol e que está estarrecido com escândalos de corrupção denunciados
pela mídia e que tem como alvo o governo federal. Seriam como que imagens de
situações distintas que representariam momentos diferentes da vida do brasileiro.
Composição
A separação da capa em três momentos de imagens e títulos demonstra que
ainda a publicação estava ainda politizando a cobertura da Copa do Mundo de
Futebol.
Mensagem
Não há como separar no Brasil futebol e política. Mesmo na ditadura militar
quando existia o movimento “Brasil, Ame ou deixe-o” em que o governo que
torturava tentava fazer um marketing com a seleção de 1970 tricampeã, estava
ligada ao esporte. Sabe-se que João Saldanha comunista confesso, e treinador do
Brasil nas eliminatórias em 1969 saiu da seleção, não por sua simpatia ideológica,
mas por contrariar o presidente, que queria que Dadá Maravilha fosse a Copa e o
treinador não aceitava intromissão em sua convocação.
59
A Copa do Mundo trazida por Lula enquanto presidente foi um marco histórico
para o mundo esportivo nacional.
A Veja não respeitou a presidente como uma autoridade maior da república
brasileira, mas a colocou num patamar de pessoa qualquer que representava o
perigo vermelho a combater, sem piedade e por isso todas as armas necessárias
para descolar Dilma, da favorita até então seleção brasileira.
Classificação
Nessa edição há uma visão negativa em relação ao Governo Federal. A capa
desta edição está mais que emblemática ao mostrar o teor político, por trás das
imagens. Quem ver é capturado por uma sensação contrária a presidente Dilma. A
população é levada a olhar a seleção brasileira como um patrimônio descolado da
política, que foi ao mesmo tempo a responsável por trazer a competição para o
Brasil.
60
Figura 7- Edição: 2379
Fonte: Veja
61
6.7ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2379
Imagem
A foto da mulher de verde amarelo, no meio da torcida brasileira e com um
sorriso no rosto diz como estava a Copa e qual o clima dos brasileiros em relação ao
Mundial. As imagens mostram como mudou o clima dos principais veículos nacionais
contrários a realização do Mundial. Mas os alertas dos títulos demonstram que
mesmo assim a visão da publicação continua com seu viés anti-governo.
Texto
O título diz: Só alegria até agora e o subtítulo ressalta: Um festival de gols nos
gramados, menos pessimismo nas pesquisas, visitantes em festa e o melhor é
aproveitar, pois o legado duradouro esqueça.
No canto direito da revista, uma pequena denuncia: Testamos o programa de
computador que fura a fila da do site da Fifa. Funciona. Mas Justo?
Composição
O tom de alegria da Copa do Mundo, demonstrado pela imagem dos
torcedores sorrindo dentro dos estádios com um texto positivo, demonstra que a
publicação abraçou o Mundial e que o clima do momento era favorável para uma
cobertura mais otimista.
Mensagem
Sem poder contestar números positivos, na hospitalidade, bom público, gols,
tranquilidade nos aeroportos, a edição em alguns momentos foca mais na cobertura
esportiva. E joga a responsabilidade da Copa do Caos, para os veículos
estrangeiros como o jornal inglês Times, que falava em caos três meses antes do
Mundial. Ou canal americano Fox que destaca o sucesso apesar dos obstáculos.
Se fora previsto grandes manifestações que balançariam as estruturas da
nação e a envergonharia perante a opinião pública, a adesão foi diminuta com 26 mil
62
pessoas em 195 manifestações, média de 247 por ato, bem menor que o milhão nas
Jornadas de Julho de 2013.
A Copa que tomou conta das discussões diárias, dos noticiários era sobre
quem fazia mais gols, a festa nas cidades, a chegada de grande número de turistas
e o possível título do Brasil dentro de campo. Mas a Veja é uma revista anti-
governista e não pode ficar tranquila enquanto não fizer uma reportagem negativa,
mas até aquele momento tudo estava dentro dos planos e apenas ela insinuava que
o legado da Copa seria só durante o torneio e depois tudo voltaria a realidade e que
o brasileiro estaria de volta as suas reclamações cotidianas.
Classificação
Nessa edição há uma visão neutra em relação ao Governo Federal. Há uma
visão positiva em relação à Copa do Mundo e um alerta sobre o que ainda pode
acontecer de ruim.
63
Figura 8- Edição: 2381
Fonte: Veja
 A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA
 A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA
 A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA
 A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA
 A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA
 A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA
 A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA
 A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA
 A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA
 A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA
 A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA
 A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA
 A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA
 A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA

Mais conteúdo relacionado

Destaque (9)

Proyecto
ProyectoProyecto
Proyecto
 
Carta de Recomendação SCML
Carta de Recomendação SCMLCarta de Recomendação SCML
Carta de Recomendação SCML
 
Proyecto de biologia
Proyecto de biologiaProyecto de biologia
Proyecto de biologia
 
Tesis kola real
Tesis kola realTesis kola real
Tesis kola real
 
Planeamiento estrategico 1
Planeamiento estrategico 1Planeamiento estrategico 1
Planeamiento estrategico 1
 
Arquivo modelo para tcc 2013
Arquivo modelo para tcc 2013Arquivo modelo para tcc 2013
Arquivo modelo para tcc 2013
 
Figuras de linguagem: 25 propagandas. Exercício 2.
Figuras de linguagem: 25 propagandas. Exercício 2.Figuras de linguagem: 25 propagandas. Exercício 2.
Figuras de linguagem: 25 propagandas. Exercício 2.
 
Figuras de linguagem em propagandas
Figuras de linguagem em propagandasFiguras de linguagem em propagandas
Figuras de linguagem em propagandas
 
Mift
MiftMift
Mift
 

Semelhante a A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA

PRÉ-CAMPANHA MUNICIPAL 2012 NO TWITTER - Não revisado
PRÉ-CAMPANHA MUNICIPAL 2012 NO TWITTER - Não revisadoPRÉ-CAMPANHA MUNICIPAL 2012 NO TWITTER - Não revisado
PRÉ-CAMPANHA MUNICIPAL 2012 NO TWITTER - Não revisadoLeonardo Araujo
 
20150119_Dissertação Felipe_v.final
20150119_Dissertação Felipe_v.final20150119_Dissertação Felipe_v.final
20150119_Dissertação Felipe_v.finalFelipe Mortara
 
Jornadas de junho.br.com: Mídia, Jornalismo e Redes Sociais 2014
Jornadas de junho.br.com: Mídia, Jornalismo e Redes Sociais 2014Jornadas de junho.br.com: Mídia, Jornalismo e Redes Sociais 2014
Jornadas de junho.br.com: Mídia, Jornalismo e Redes Sociais 2014claudiocpaiva
 
Curso Basicode Jornalismo Manipulativo
Curso Basicode Jornalismo ManipulativoCurso Basicode Jornalismo Manipulativo
Curso Basicode Jornalismo Manipulativoguest051a8d5
 
Twitter e Jornalismo Impresso: Do Papel ao Pixel
Twitter e Jornalismo Impresso: Do Papel ao PixelTwitter e Jornalismo Impresso: Do Papel ao Pixel
Twitter e Jornalismo Impresso: Do Papel ao PixelRodrigo dos Santos
 
Livro Agenda 21 Caminhos e Desvios escrito por Geraldo Aguiar
Livro Agenda 21 Caminhos e Desvios escrito por Geraldo AguiarLivro Agenda 21 Caminhos e Desvios escrito por Geraldo Aguiar
Livro Agenda 21 Caminhos e Desvios escrito por Geraldo AguiarGeraldo Aguiar
 
Análise jornalismo popular
Análise jornalismo popularAnálise jornalismo popular
Análise jornalismo popularcapurro1982
 
Aula 7 (27/2/2009): Jornais X Internet
Aula 7 (27/2/2009): Jornais X InternetAula 7 (27/2/2009): Jornais X Internet
Aula 7 (27/2/2009): Jornais X InternetArtur Araujo
 
Jornalismo de 140 caracteres no Twitter
Jornalismo de 140 caracteres no TwitterJornalismo de 140 caracteres no Twitter
Jornalismo de 140 caracteres no TwitterAline Vonsovicz
 
Análise: Plano Real e o início da estabilidade financeira
Análise: Plano Real e o início da estabilidade financeiraAnálise: Plano Real e o início da estabilidade financeira
Análise: Plano Real e o início da estabilidade financeiraMiti Inteligência
 
Futebol na Olimpíada Rio 2016: história e comunicabilidade no Jornal Nacional...
Futebol na Olimpíada Rio 2016: história e comunicabilidade no Jornal Nacional...Futebol na Olimpíada Rio 2016: história e comunicabilidade no Jornal Nacional...
Futebol na Olimpíada Rio 2016: história e comunicabilidade no Jornal Nacional...Universidade Federal do Rio Grande do Norte
 
Caderno padagógico de português 2° bimestre
Caderno padagógico de português   2° bimestreCaderno padagógico de português   2° bimestre
Caderno padagógico de português 2° bimestreanakarolinarocha
 
ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS
ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAISENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS
ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAISnbmariana
 
Porque é que as notícias são como são?
Porque é que as notícias são como são?Porque é que as notícias são como são?
Porque é que as notícias são como são?dinis manuel alves
 
Monografia - Comunicação como política de mercado: o caso do site da VALE
Monografia - Comunicação como política de mercado: o caso do site da VALEMonografia - Comunicação como política de mercado: o caso do site da VALE
Monografia - Comunicação como política de mercado: o caso do site da VALEezvieira
 
PEC João Vitor Korc
PEC  João Vitor KorcPEC  João Vitor Korc
PEC João Vitor KorcFran Buzzi
 
Traços da representação feminina na mídia estudo de caso
Traços da representação feminina na mídia estudo de casoTraços da representação feminina na mídia estudo de caso
Traços da representação feminina na mídia estudo de casoCassia Barbosa
 
Jornalismo opinativo no rádio brasileiro
Jornalismo opinativo no rádio brasileiroJornalismo opinativo no rádio brasileiro
Jornalismo opinativo no rádio brasileiroefraimcaetano
 

Semelhante a A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA (20)

PRÉ-CAMPANHA MUNICIPAL 2012 NO TWITTER - Não revisado
PRÉ-CAMPANHA MUNICIPAL 2012 NO TWITTER - Não revisadoPRÉ-CAMPANHA MUNICIPAL 2012 NO TWITTER - Não revisado
PRÉ-CAMPANHA MUNICIPAL 2012 NO TWITTER - Não revisado
 
Com os olhos no futuro
Com os olhos no futuroCom os olhos no futuro
Com os olhos no futuro
 
20150119_Dissertação Felipe_v.final
20150119_Dissertação Felipe_v.final20150119_Dissertação Felipe_v.final
20150119_Dissertação Felipe_v.final
 
Jornadas de junho.br.com: Mídia, Jornalismo e Redes Sociais 2014
Jornadas de junho.br.com: Mídia, Jornalismo e Redes Sociais 2014Jornadas de junho.br.com: Mídia, Jornalismo e Redes Sociais 2014
Jornadas de junho.br.com: Mídia, Jornalismo e Redes Sociais 2014
 
Curso Basicode Jornalismo Manipulativo
Curso Basicode Jornalismo ManipulativoCurso Basicode Jornalismo Manipulativo
Curso Basicode Jornalismo Manipulativo
 
Twitter e Jornalismo Impresso: Do Papel ao Pixel
Twitter e Jornalismo Impresso: Do Papel ao PixelTwitter e Jornalismo Impresso: Do Papel ao Pixel
Twitter e Jornalismo Impresso: Do Papel ao Pixel
 
Livro Agenda 21 Caminhos e Desvios escrito por Geraldo Aguiar
Livro Agenda 21 Caminhos e Desvios escrito por Geraldo AguiarLivro Agenda 21 Caminhos e Desvios escrito por Geraldo Aguiar
Livro Agenda 21 Caminhos e Desvios escrito por Geraldo Aguiar
 
Análise jornalismo popular
Análise jornalismo popularAnálise jornalismo popular
Análise jornalismo popular
 
Aula 7 (27/2/2009): Jornais X Internet
Aula 7 (27/2/2009): Jornais X InternetAula 7 (27/2/2009): Jornais X Internet
Aula 7 (27/2/2009): Jornais X Internet
 
Jornalismo de 140 caracteres no Twitter
Jornalismo de 140 caracteres no TwitterJornalismo de 140 caracteres no Twitter
Jornalismo de 140 caracteres no Twitter
 
Análise: Plano Real e o início da estabilidade financeira
Análise: Plano Real e o início da estabilidade financeiraAnálise: Plano Real e o início da estabilidade financeira
Análise: Plano Real e o início da estabilidade financeira
 
Futebol na Olimpíada Rio 2016: história e comunicabilidade no Jornal Nacional...
Futebol na Olimpíada Rio 2016: história e comunicabilidade no Jornal Nacional...Futebol na Olimpíada Rio 2016: história e comunicabilidade no Jornal Nacional...
Futebol na Olimpíada Rio 2016: história e comunicabilidade no Jornal Nacional...
 
O destino do jornal
O destino do jornalO destino do jornal
O destino do jornal
 
Caderno padagógico de português 2° bimestre
Caderno padagógico de português   2° bimestreCaderno padagógico de português   2° bimestre
Caderno padagógico de português 2° bimestre
 
ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS
ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAISENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS
ENGAJAMENTO CÍVICO E JORNALISMO COLABORATIVO NAS REDES SOCIAIS
 
Porque é que as notícias são como são?
Porque é que as notícias são como são?Porque é que as notícias são como são?
Porque é que as notícias são como são?
 
Monografia - Comunicação como política de mercado: o caso do site da VALE
Monografia - Comunicação como política de mercado: o caso do site da VALEMonografia - Comunicação como política de mercado: o caso do site da VALE
Monografia - Comunicação como política de mercado: o caso do site da VALE
 
PEC João Vitor Korc
PEC  João Vitor KorcPEC  João Vitor Korc
PEC João Vitor Korc
 
Traços da representação feminina na mídia estudo de caso
Traços da representação feminina na mídia estudo de casoTraços da representação feminina na mídia estudo de caso
Traços da representação feminina na mídia estudo de caso
 
Jornalismo opinativo no rádio brasileiro
Jornalismo opinativo no rádio brasileiroJornalismo opinativo no rádio brasileiro
Jornalismo opinativo no rádio brasileiro
 

Último

PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSOLeloIurk1
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfLeloIurk1
 
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesFabianeMartins35
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.Mary Alvarenga
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfTutor de matemática Ícaro
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaHELENO FAVACHO
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAHELENO FAVACHO
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéisines09cachapa
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...azulassessoria9
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteVanessaCavalcante37
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfHELENO FAVACHO
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfmaurocesarpaesalmeid
 
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTeoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTailsonSantos1
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 

Último (20)

PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
 
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIXAula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIAPROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
 
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdfplanejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
planejamento_estrategico_-_gestao_2021-2024_16015654.pdf
 
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTeoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 

A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA

  • 1. FANOR JORNALISMO CARLOS EMANUEL BEZERRA ALVES A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA FORTALEZA DEZEMBRO 2014
  • 2. CARLOS EMANUEL BEZERRA ALVES A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA Monografia apresentada ao curso de jornalismo, das Faculdades Nordeste como requisito para obtenção do título de bacharel. Orientador: Professor Rodrigo César Garcia Rodrigues FORTALEZA DEZEMBRO 2014
  • 3. CARLOS EMANUEL BEZERRA ALVES A COBERTURA DA COPA DO MUNDO: UMA ANÁLISE DAS CAPAS DA REVISTA VEJA Monografia apresentada ao curso de jornalismo, das Faculdades Nordeste como requisito para obtenção do título de bacharel, tendo sido aprovado (a) pela banca examinadora compostas pelos professores abaixo. Aprovado ____/_____/______ ________________________________________ RODRIGUES CÉSAR GARCIA RODRIGUES MESTRE ________________________________________ ELISABETEH LINHARES CATUNDA DOUTORA ________________________________________ MARCOS ANTONIO CORREA DA ESCOSSIA MESTRE
  • 4. RESUMO O objeto de estudo deste trabalho é a revista Veja, que durante sua história, sempre atuou como um ator político, com poder de influenciar a opinião pública nacional. Nas edições que citam a Copa do Mundo, antes e durante a realização da competição, demonstram sua posição anti-governo e anti-esquerda. O presente trabalho analisou as capas de nove edições da Veja ligadas a Copa do Mundo de futebol no Brasil em 2014. Foi usado para a analise das capas teorias da imagem e do texto, para encontrar qual discurso está implícito, dentro da mensagem de cada edição. Palavras-chave: Veja. Anti-governo. Opinião pública. Copa do Mundo de futebol.
  • 5. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1- Veja Edição 2218........................................................................................42 Figura 2- Veja Edição 2250........................................................................................45 Figura 3- Veja Edição 2327........................................................................................48 Figura 4- Veja Edição 2354........................................................................................51 Figura 5- Veja Edição 2377........................................................................................54 Figura 6- Veja Edição 2378........................................................................................57 Figura 7- Veja Edição 2379........................................................................................60 Figura 8- Veja Edição 2381........................................................................................63 Figura 9- Veja Edição 2382........................................................................................66
  • 6. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................08 1.1JUSTIFICATIVA................................................................................................10 1.2 PROBLEMATIZAÇÃO.......................................................................................11 1.3 OBJETIVOS.......................................................................................................12 1.3.1 Objetivo Geral..................................................................................................12 1.3.2 Objetivos Específicos....................................................................................12 2 A ESFERA PÚBLICA COMO ESPAÇO DE CONFLUÊNCIA DE IDEIAS.......................................................................................................................13 2.1 OPINIÃO PÚBLICA..............................................................................................13 2.1.1 Evolução...........................................................................................................14 2.1.2 Opinião Pública e Mídia...............................................................................16 2.2 JORNALISMO POLÍTICO....................................................................................17 2.2.1 O campo da política........................................................................................17 2.2.2 Concentração da opinião................................................................................18 2.2.3 Blogosfera: Um espaço democrático?..........................................................20 2.2.4 Agenda Sentting..............................................................................................22 3 FUTEBOL E POLÍTICA..........................................................................................23 3.1 INÍCIO NO BRASIL..............................................................................................23 3.2 COPA DO MUNDO..............................................................................................25 3.3 COPA DAS CONFEDERAÇÕES E MANIFESTAÇÕES......................................27 4 A REVISTA VEJA UM ATOR POLÍTICO?.............................................................29 4.1 EDITORA ABRIL..................................................................................................29 4.2 HISTÓRIA DA VEJA............................................................................................31 4.3 VEJA X POLÍTICA................................................................................................33 5 METODOLOGIA.....................................................................................................38 5.1LEITURA DA IMAGEM..........................................................................................38 5.2 INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM.........................................................................39 5.3 SÍNTESE DO DISCURSO....................................................................................40 5.4 OBJETO...............................................................................................................40 6 ANALISE DE DADOS............................................................................................42 6.1 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2218......................................................43 6.2 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2250......................................................46
  • 7. 6.3 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2327......................................................49 6.4 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2354......................................................52 6.5 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2377......................................................55 6.6 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2378......................................................58 6.7 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2379......................................................61 6.8 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2381......................................................64 6.9 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2382......................................................67 7 RESULTADOS........................................................................................................68 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................69 BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................73
  • 8. 8 1 INTRODUÇÃO A comunicação, como qualquer outro empreendimento, vive da lucratividade e de produtos que sejam aceitos pela sociedade de consumo, como um todo, por isso, com a modernização da imprensa e a rapidez na transformação da informação, veio uma crescente profissionalização no jornalista que teve de se adaptar à fórmula já conhecida do lead, da pirâmide invertida, onde as informações mais importantes estão em primeiro lugar para chamar logo a atenção do leitor, afeito a tantas imagens e perdido na velocidade da vida nas grandes metrópoles. Nesse processo, o sensacionalismo ganhou espaço em quase todos os veículos de comunicação do Brasil, como uma das principais maneiras de prender a audiência. Grandes escândalos, manchetes bombásticas, para muitas vezes pouca relevância da informação útil a quem ler um periódico, um jornal, ou uma revista. Este trabalho analisou as capas da revista Veja durante três anos em que ela fez a cobertura da Copa do Mundo e o seu direcionamento anti-governo federal. Nas suas origens com o modelo similar da revista Time de fazer reportagens e suas ligações com o modelo norte-americano, dizem um pouco do que a Veja representa e qual sua função no cenário brasileiro da atualidade, onde apesar de se ter uma escassa cobertura das notícias sobre a Copa na suas capas, elas se posicionam contrárias a realização do Mundial e da forma como o governo federal conduziu o processo da competição mais importante do futebol no mundo. A mídia brasileira fez uma cobertura mais tímida do esporte em si. Houve menos destaque ao que iria acontecer dentro de campo. Os olhares e a atenção estavam voltados para o que poderia não acontecer fora dos gramados. Seria uma má vontade da impressa local? Ou os gastos da Copa eram realmente exagerados e os jornais estavam apenas fazendo seu papel de fiscalizar possíveis irregularidades na construção dos estádios? Durante o período (2002-2010) do governo Lula (PT), a revista semanal Veja não cessou de usar noticiários políticos para atingir o governo. O caso mais conhecido que atesta essa “perseguição” da publicação à gestão petista se dá na atuação do editor da Veja Sucursal Brasília, Policarpo Jr, ao ceder aos apelos do bicheiro Carlinhos Cachoeira (posteriormente investigado em CPI no Congresso Nacional) para mostrar reportagens, com supostos pagamentos de propinas que comprometessem gente ligada ao governo federal (NASSIF, 2013).
  • 9. 9 Nassif (2013) no site GGN, relatou com detalhes, a maneira como o editor da revista trabalhava ao lado do contraventor para colocar em destaque escândalos que o governo federal seria conivente. “A ideia foi de Joel se apresentar a Marinho como representante de uma multinacional, negociar uma propina e filmar o flagrante... teriam decidido contratar o ‘araponga’ Jairo Martins”. (NASSIF, 2013). Jairo Martins ex-funcionário da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi o elo de ligação de Cachoeira a Policarpo. Tinha o objetivo como o próprio Jairo afirmava, providenciar material e treinamento para que laranjas grampeassem Marinho e o conteúdo fosse publicado em órgão de circulação nacional. Sem mesmo conhecer o conteúdo da gravação Policarpo Júnior aceitou a parceria e levou à reportagem a capa de Veja. Para que distorções iguais ao do caso Carlinhos Cachoeira não se repitam com frequência na imprensa brasileira, o jornalista Franklin Martins, ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social do governo Lula trouxe um debate em torno da Ley de Medios no Brasil, que foi a democratização da mídia, que na prática seria colocar em vigor artigos da Constituição de 1988, que tratam entre outras coisas de proibir a propriedade cruzada, que permite que um veículo de comunicação propague suas noticias por toda uma rede de informações. (PRESTES, 2013). A Ley de Médios foi tornada constitucional pela Suprema Corte da Argentina em 29 de outubro de 2013 e por isso, os grupos monopolistas do setor de comunicação, como ressalta em matéria de Altamiro Borges reproduzida na integra no blog Vio Mundo, serão obrigados a vender parte dos seus ativos com o objetivo expresso de “evitar a concentração da mídia”, na Argentina. (BORGES, 2013). Foi um duro golpe ao Grupo Clarín, detentor de 237 licenças, 213 há mais do que o permitido com a nova lei. No Brasil a regulação da mídia esbarra em setores conservadores, que tem medo de perder sua influência sobre o público. Com a modernização e introdução de novas ferramentas eletrônicas no jornalismo, como o online, os grandes veículos de comunicação vêm promovendo um enxugamento do seu quadro funcional, com demissões em massa, como ocorreu durante o mês de novembro de 2014, com a Folha de São Paulo que demitiu 25 jornalistas entre eles Eliane Cantanhêde e Fernando Rodrigues1. 1 Portal do Jornalistas. Disponível em: <http://www.portaldosjornalistas.com.br/noticias- conteudo.aspx?id=3103>. Acesso em :11 nov. 2014.
  • 10. 10 Com essas novas linguagens da internet, com mais velocidade nas informações e consequentemente mais espaço para outras vozes se manifestarem, o impresso, e nele incluso as revistas, passam por uma crise sem precedentes que já leva a editora Abril, cogitar extinguir alguma das suas publicações. Enquanto esse trabalho é escrito a imprensa brasileira vai cobrindo mais um escândalo político: a Operação Lava Jato, que investiga supostos casos de propina de grandes empreiteiras brasileiras a agentes públicos envolvidos na Petrobras. A imprensa faz seu papel de demonstrar os erros dos políticos. A Veja está envolvida na cobertura e a cada semana publica uma capa incriminando mais o PT. Enquanto nos outros veículos de comunicação, como Folha de São Paulo e Estadão saem mesmo que em espaço pequeno, denuncias das ‘delações premiadas’ citando nomes do PSDB e que os desvios e propinas teriam começado no governo Fernando Henrique Cardoso, porém a Veja não coloca em suas páginas nada sobre o assunto quando ele liga nomes tucanos à corrupção. 1.1 JUSTIFICATIVA A necessidade de se debater uma imprensa menos ligada a interesses particulares e mais interessada em trabalhar para propiciar ao consumidor de notícias, informações mais coerentes com os anseios sociais de cada cidadão foi o motivo deste estudo. A população brasileira foi ganhando nos últimos anos certa liberdade em buscar alternativas diferentes do que se está estabelecida na atualidade, com uma imprensa mercadológica, mais voltada a cumprir o seu perfil de empresa. Depois de mais de duzentos anos de imprensa brasileira, com a chegada da família real, já se passou o tempo da imprensa partidária apaixonada, para uma imprensa mais informativa e analítica. Anos de ditaduras e censuras da Era Vargas e da Ditadura Militar, de um jornalismo artístico e cultural, para os dias atuais, se vê necessária uma orientação do que realmente é importante ao cidadão, mas que fuja de abraçar um lado somente da história, porém se busque a multi-angularidade da notícia. Quando o eleitor/ leitor/ ouvinte quer ter uma clara noção do que se passa, a informação chega várias vezes até ele de uma forma confusa e apenas de um modo
  • 11. 11 sensacionalista. Quando chega às eleições, por exemplo, existe uma cobrança do eleitor para que ele vote com consciência, mas ao eleitor lhe resta a publicidade eleitoral que vende para ele um mundo em alguns momentos diferente da realidade que conhece. É colocado na responsabilidade de todos os eleitores um peso maior que vem da imprensa, da publicidade que mostra uma ilusão do real e encobre os defeitos. Com uma visão deturpada, a população vai pela “onda” que a leva. Nos últimos anos esse movimento se transformou um pouco com a internet, onde se vê mais informações diversificadas. A revista Veja apesar de ainda ter a maior circulação de exemplares de uma revista semanal, perdeu seu poder de refletir com coerência a realidade para a população brasileira em geral, devido muito à sua maneira partidária de ser. Há uma clara tendência política nas suas páginas que são escritas para um público cada vez menor e de menos influência na vida pública brasileira. Apesar de ainda da Veja ter um público “diversificado”, porém conservador. Uma publicação de cunho comportamental como a Veja, perde nos dias atuais seu papel de relevância que teve em outros momentos com a mudança da Ditadura Militar para democracia. A Veja fala para esse público de empresários, classe média alta, ou gente em busca de autoconhecimento, auto-ajuda, vida saudável. Com o fim das revistas O Cruzeiro e Realidade, o Brasil deixou de ter um veículo nacional a altura, apesar dos esforços de publicações, como Época, Isto é e Carta Capital. Ficou-se limitado com a Veja, a um pensamento único daqueles que ela protege e daqueles para ao qual ela fixa seus olhares cheios de “ódio- jornalismo2” e que deixa claro para o leitor que a lê, de que lado ela está. Fica inegável sua cobertura negativa a esquerda brasileira. 1.2 PROBLEMATIZAÇÃO Dentro do cenário atual da cobertura jornalística de revista percebe-se a necessidade de uma contribuição maior para que o Brasil possa ter um veículo à altura dos desafios que representa ao ser a sétima economia do mundo. Há uma 2 CARTA CAMPINAS, Disponível em <http://cartacampinas.com.br/2014/11/pesquisadora-desvenda-o- odiojornalismo-nos-textos-da-veja-e-de-arnaldo-jabor/> acesso em 12/11/2014.
  • 12. 12 barreira entre os anseios da sociedade brasileira, com novos atores surgindo em meio às mudanças estruturais. Um exemplo é a ascensão social de pessoas que entraram para formar uma nova classe média social na qual é importante existir um veículo, capaz de informar e de entreter, como a Veja tentou fazer durante a sua história e só conseguiu durante um período isolado, quando deixou de lado os interesses políticos naturais e contribuiu para esclarecer o público ainda reduzido de letrados. A classe C ainda está em busca de uma revista que fale a sua linguagem e atenda seus interesses. Quem ler a revista Veja se questiona se ela é capaz de sobreviver no cenário atual, em que as suas informações em menos de uma hora de publicadas já são rebatidas e contadas de outra forma. Existe uma busca de superar os desafios apontados para as publicações semanais e qual peso ela pode ter se suas informações são mais parecidas com um panfleto partidário do que uma visão com mais enfoques de acordo com as necessidades que o cidadão comum precisa para se sentir preenchido com informação de qualidade. O seguinte trabalho analisou as capas da Veja e relaciona isso com a formação da opinião pública. Mesmo que a mesma fale para seu público segmentado, possa falar com clareza e sem dizer apenas o que esse público quer ouvir, mas realmente se aproximar do que acontece e que possa ser um guia natural da realidade que os cercam. 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo Geral  Demonstrar atuação da revista Veja como ator político na sociedade brasileira 1.3.2 Objetivos Específicos  Verificar o processo de formação da opinião pública  Analisar o discurso presente nas capas da Veja em sua cobertura da Copa do Mundo 2014  Identificar nas imagens da Veja qual mensagem se encontra nas suas capas
  • 13. 13 2 A ESFERA PÚBLICA COMO ESPAÇO DE CONFLUÊNCIA IDEÍAS 2.1 OPINIÃO PÚBLICA Marques (2008) descreve o conceito de esfera pública, como um espaço, onde os membros da então burguesia em ascensão se reuniam para expressar razões e juízos acerca de questões e problemas relativos à coletividade. A esfera pública aparece como um espaço que a burguesia então no seu início durante o crescimento do comércio, o surgimento das companhias e da sociedade por ações, tem negado pelo Estado moderno administrado pela nobreza. Essa burguesia passa a se utilizar da imprensa, dos salões de festas, clubes de leituras para ter papel de influência na política. Ou seja, nesse espaço, a burguesia estava ali com o objetivo claro de defender o seu ambiente econômico e contra opor-se a dominação vigente até então, que se baseava na monarquia. (HABERMAS, 1997 apud MARQUES, 2008). Almeida (2012) argumenta que a esfera pública nasce, como esfera de proprietários privados. Dela ficam fora as mulheres e os empregados, pois eram vistos como pessoas sem autonomia para decidir em razão de um melhor argumento. Essa mudança ocorre, com a entrada dos trabalhadores no cenário político. Seria a nova luta de uma situação mais desfavorável contra o capital. A batalha dos mais fracos contra os meios políticos, daqueles que são fortes no mercado, seria a cobrança das promessas feitas pelo Estado Burguês de que todos seriam iguais. Teríamos, então, os atores políticos e seus eixos periféricos, onde no centro estariam às instituições formais com capacidade de influir diretamente nas decisões por meio de situações comunicativas que se empregam as deliberações formais, no caso o parlamento como um desses componentes. Outro núcleo ao redor do formal seria o de esferas autonomamente organizadas, mas ligadas ao governo, como universidades por exemplo. E um terceiro onde falta regulação, no caso associações orientadas para a formação de opinião, como grupo de ativistas ambientais. A periferia, por possuir uma maior sensibilidade para a percepção e identificação de problemas, mobilizaria a esfera pública política que de outro lado, se encarregaria de decidir quais das alternativas
  • 14. 14 encaminhadas entre os cidadãos podem ser legitimadas e instituídas (HABERMAS, 1997 apud MARQUES, 2008). A aplicação dessa situação, no entanto não se amplia, mas, se particulariza em cada país, onde se viveu uma realidade própria com suas condições internas. Na América Latina, por exemplo, no período posterior a segunda guerra mundial, os países pertencentes a essa região, sofreram com ditaduras militares patrocinadas pelos EUA, que impediu o espaço para uma opinião pública livre que pudesse expressar seus pontos de vistas com naturalidade. Só houve uma mudança significativa após 1985, quando no Brasil, em particular, houve a abertura política com as Diretas Já e a participação da sociedade civil na reivindicação para ter o direito de decidir quem eleger. Ao analisar a opinião pública, Kant considerava que três fatores influenciaram para a menoridade da pessoa, uma espécie de dependência da razão do ser humano, seriam; os fatores subjetivos, a preguiça e a covardia. Seria cômodo ter alguém que pensasse no nosso lugar. Seriam os tutores que pensariam pelos outros por pertencerem à esfera cultural. O sujeito passa a agir de uma forma mecânica em que não se gera liberdade para o indivíduo, mas sim um amor pela dominação (CASSIRER, 1922 apud DURÃO, 2004). De acordo com Arendt (2000), existiria a concepção de dois tipos de espaços, o espaço público, aquele onde aconteceria a representação, um espaço para as aparências e o espaço privado, da preeminência, da privação. (LONGHI, 2013) 2.1.1 Evolução Na Grécia antiga, o espaço da família era considerado, como um espaço privado, onde existiria a autoridade e um espaço da necessidade, O que distinguia a esfera familiar era que nela os homens viviam juntos por serem compelidos por suas necessidades e carência. A força compulsiva era a própria vida, os penates, os deuses do lar, eram segundo Plutarco, ‘os deuses que nos fazem viver e alimentar o nosso corpo’; e a vida, para sua manutenção individual e sobrevivência como vida da espécie fosse à tarefa da mulher no parto, eram sujeitas à mesma premência da vida. Portanto, a comunidade natural do lar decorria da necessidade; era a necessidade que reinava sobre todas as atividades exercidas no lar (ARENDT, p. 39, apud LONGHI, p 46).
  • 15. 15 Na sociedade americana embrionária, com os colonizadores a frente da nova “democracia” fora da Europa, surgem às noções de liberdade, com a formação durante, o século XVII de colônias com instituições que garantiram o direito da livre associação contra um estado despótico e propicio a tirania (TOCQUEVILLE, 1973, apud CRUZ, 2007). Para além dessa discussão abre-se um novo espaço público com a rede mundial de computadores, a internet. Gomes (2001) descreve a nova forma de debate público, onde “seriam superados os defeitos, vícios e inconvenientes de formas decadentes de esfera pública editada e dominada pela cultura de massa”. Nesse contexto, “qualquer que seja a forma como se realize a esfera pública, é fato que se trata de ambientes, fóruns, e situações de discussão, onde se geram e confrontam a opinião, inclusive a política, em debates consideravelmente abertos e leais...” (GOMES, 2001, p 3). Mais adiante em outro contexto, Gomes (2007), contradiz o que havia dito, quando aborda a internet. Pois o fato de a internet ser um local de livres pensamentos, a terra prometida da participação ou uma espécie de democracia direta, na prática, a democracia direta via computadores, foi apenas uma tentativa até aqui de poucos experimentos e ainda viveríamos pelo sistema de democracia representativa e um espaço ocupado pela WEB comercial (GOMES, 2007). Pipa Norris (2001), analisa o espaço da democracia digital, como um local onde as três dimensões centrais do padrão liberal representativo da democracia funcionariam, “a competição pluralista, a participação eleitoral de cidadãos politicamente iguais e liberdades civis e políticas” Porém o papel da internet seria apenas “reforçar e nutrir as instituições do governo representativo e da sociedade civil, que neste momento histórico estão precisando de reforço” (NORRIS, 2001, p. 102 apud GOMES 2007, p. 07) A Primavera Árabe e as manifestações de julho no Brasil em 2013 movimentos que se não surgiram diretamente pela internet, tiveram por ela um caminho de propagação, converteu-se no inverso do que ressalta Gomes (2007), pois esses movimentos buscam rupturas com o sistema vigente e queriam a democracia direta e uma forma de governo menos autoritário.
  • 16. 16 2.1.2 Opinião Pública e Mídia Com o início da revolução burguesa, a imprensa tinha o papel de mediar e estimular o uso que as pessoas privadas reunidas em público faziam de sua razão. (HABERMAS 1997, apud MARQUES, 2008). Com o passar do tempo como explica, os meios de comunicação passaram a condicionar essa troca e colocar uma opinião não pública, com a imposição de vontades particulares. Habermas (1997) fala da passagem de uma imprensa política para uma imprensa comercial, que torna a opinião parte de determinados membros do público e interesses privados. Habermas (1997) influenciado por Adorno e Horkeimer culpa a imprensa como responsável pela perda da capacidade crítica do público e pelo declínio da esfera pública. Nos meios de comunicação, é necessário que haja um pouco de independência em relação ao poder econômico e político para haver uma efetiva dinâmica entre os espaços políticos e civis. O veículo de mass media como ressalta Marques (2008), selecionariam determinados pontos de vista em detrimento a outros. Olicshevis (2006) caracteriza a opinião pública como um espaço, ao qual, através da visibilidade midiática, consegue tornar pública uma determinada opinião, enquanto outros públicos pensariam diferentes sobre um mesmo fato. Ou seja, a opinião pública passaria longe de ser um consenso, do plano coletivo, ou uma confluência das mesmas ideias, ao contrário vence quem tem o poder de fazer sua opinião chegar com mais força sobre os demais, Em razão das influências dos grupos que formam a opinião dominante, o seu caráter público significa, na verdade, a expressão desta dominância e não a discussão descompromissada de temas com vistas a extrair a melhor posição. Por tudo isso, a opinião pública funciona como uma expressão estratégica e fundamentalmente voltada muito mais a encobrir – interesses particularistas e privados - do que a revelar. Em outras palavras, a mídia movimenta-se e nutre-se desse ambiente indefinido constituído pelo interesse e pela opinião privados, mas que se manifestam como públicos. (OLICSHEVIS, 2006, p. 95). Seria como complementa Marques (2008), a inversão da lógica, com o advento da propaganda de massa, em que a esfera pública, antes local de debates de ideias e local para expor razões e expectativas ao crivo do julgamento público, para um local de aclamação. Habermas (1997) e Bohman (1996), conclui que a
  • 17. 17 publicidade modifica e influi no posicionamento de cada pessoa, com a integração do ponto de vista e construção de argumentos. A imprensa surge na América do Norte durante a colonização, como um mecanismo, capaz de prevenir alguns males, apesar de causar pouco bem a sociedade. Seria a união da soberania popular e da liberdade de imprensa. (TOCQUEVILLE, 1973, apud CRUZ, 2007). A Imprensa e as associações são necessárias à democracia, pois os jornais multiplicam o pensamento de muitos e tornam-se mais necessários quando os homens tornam-se mais iguais e onde o individualismo precisa ser combatido. A associação para ter poder na democracia, precisa ser numerosa. O jornal só sobrevive se reproduzir uma doutrina ou sentimento comuns a um grande número de pessoas; sempre representam uma associação, cujos membros são os leitores; o jornal fala com cada leitor em nome dos outros e os conduz tanto mais facilmente quanto mais fracos são individualmente (TOCQUEVILLE, 1973, p. 291, apud CRUZ, 2007, p. 3) 2.2 JORNALISMO POLÍTICO 2.2.1 O campo da política Alguns estudiosos de comunicação, como ressalta, Miguel (2012), acreditam que a política, dominada pela lógica dos meios, se tornou um mero espetáculo entre outros. Um exemplo seria a revista George publicação de “John John” Kennedy que colocava em sua linha editorial a ideia de que parlamentares e governantes deveriam ser encarados como cantores, apresentadores de auditório e outras estrelas do entretenimento. Miguel (2012) confirma essa visão com a constatação de que mídia hoje é um fator central na vida cotidiana e que não se pode alimentar a ideia do romantismo na política onde imperava o debate, mas que existe uma preocupação com à imagem ou a contaminação de técnicas da publicidade comercial. Para Martins (2011), no período de 1950, os jornais viviam um momento de engajamento político e não tinham interesse algum na isenção na cobertura. Já ao citar a eleição de Lula em 2002, segundo o autor, os jornais usariam um tom mais neutro, com o mercado e a pesquisa de opinião inserida no contexto. Além da forma de apuração de votos, que se em 1950, demorava mais de uma semana para ser concluída, em 2002 pouco mais de seis horas depois já se conhecia o novo presidente da República.
  • 18. 18 Ainda em 1950 no Brasil, o rádio e a imprensa escrita detinham o monopólio da informação. De acordo com Abreu (2002), a TV chegaria pouco tempo depois com Assis Chateaubriand, mas os jornais de grande circulação se concentravam no Rio de Janeiro. Só com a modernização da indústria nacional na Era Vargas que surgiram veículos de comunicação mais modernos, como Ultima Hora criado em 1951 e o Diário Carioca que inovou a usar a fórmula do lead com os questionamentos no primeiro parágrafo. Se por um lado em 1950, no período do governo Vargas o jornalismo ganhava uma preocupação com a centralização de um país continental com multiplicidade de identidades, o golpe militar de 1964 ampliou essa lógica com um pretexto semelhante de construção do desenvolvimento e da modernização aliados a segurança nacional, os meios de comunicação passaram a ser prioridades do Regime Militar (RODRIGUES, 2011). O jornalismo no Brasil cobre política sempre com uma intenção de atingir certo objetivo. No atual momento a imprensa faz uma cobertura focando os pontos negativos do PT e de seus aliados. Só observar a cobertura do caso conhecido como Mensalão, que tomou o noticiário nacional por vários meses, enquanto o Propinoduto Tucano, caso de propina para construir linhas de metro durante gestões tucanas em São Paulo, não teve a mesma cobrança da mídia, para que o caso fosse julgado exemplarmente, apesar dos montantes de desvio do PSDB serem mais de vinte vezes maior do que o do PT. 2.2.2 Concentração da Opinião Como ocorria em parte do mundo ressalta Rodrigues (2011), no Brasil a concentração da mídia era quase que natural, principalmente com a radiodifusão e a imprensa escrita usando o que Muniz Sodré observa no texto de Rodrigues “nove clãs controlam mais de 90% de toda a comunicação brasileira. Trata-se de jornais, revistas, rádios, redes de televisão com mais de 90% de circulação, audiência e produção de informações...” (p 43). O Brasil tem um clima favorável à concentração da mídia. Por se tratar de um ramo de negócio lucrativo, como uma empresa qualquer, que por natureza do regime capitalista, o monopólio se torna uma forma de sobrevivência. O perigo para Lima (2003) é a perda de autonomia devido à entrada de multinacionais na área de comunicação regional e local. Na pesquisa de
  • 19. 19 Caparelli e Lima (2004), há uma comprovação clara da concentração dos meios de comunicação em 80% em sete grupos maiores, no caso a família Marinho, A Igreja Universal do Reino de Deus, A família Abravanel, Os Frias, A família Saad e Os Mesquita. Entre elas há de se destacar o grupo Abril, com características diferentes dos demais, com conteúdos e proprietários estrangeiros. O grupo Abril tem parceria com Time Warner, Walt Disney, News Corporation, Vivendi Universal, Viacom e Berteslmann. Com todos esses grupos existe sociedade em algum campo da comunicação. Exemplos a citar: a revista Estilo com a Time Warner; O Pato Donald na década de 1950 com Walt Disney; Os Simpsons com News Corporation, entre outros. Essa situação de controle da mídia por poucos grupos é conhecida como Propriedade Cruzada, definida pelo autor, como “um sistema em que os mesmos grupos controlam emissoras de televisão, jornais, revistas, portais da internet, etc” (RODRIGUES, 2011, p.6). O que seria para Rodrigues (2011) uma questão difícil para o exercício da liberdade de expressão, pois os mesmos conteúdos exibidos em um veículo seriam reproduzidos em todos os demais. Isso possibilita ainda que opiniões, valores, símbolos e versões de fatos que interessem aos grupos empresariais detentores sejam distribuídos de maneira realista e uniforme por diversas vias, dando mais força à difusão de tais ideias, aumentando seu alcance e sua penetração na sociedade, e, limitando assim a inserção de opiniões diversas no contexto social. (RODRIGUES, 2011, p. 8-9) Com essa análise baseada em dados, e a experiência adquirida pelos meios de comunicação, existe um claro cerceamento de espaço para que membros da sociedade possam expressar livremente seu pensamento e possam ver naqueles construtores da informação seus representantes. Pelo contrário do que acontece, os cidadãos inseridos na sua realidade são bombardeados de fatos, notícias que às vezes não é a realidade, pois os interesses ficam ao mero sabor dos donos dos meios de comunicação, grandes famílias ligadas a grandes empresas e a grupos econômicos poderosos. Marshall (2003) constata que a mídia seria apenas o local onde se transporta a ideologia do neoliberalismo. O jornalismo estaria curvado ao sistema, à pressão do mercado. Como o autor ressalta ao citar Bourdieu (1997, p. 106), “O campo
  • 20. 20 jornalístico está permanentemente sujeito à prova de veredictos do mercado, através da sanção direta, da clientela ou indireta, do índice da audiência”. A indústria se tornaria uma indústria frágil segundo Santos (1998) na Folha de São Paulo. Em sua dimensão global, o mercado controla uma produção oligopolista de noticias por meio de agências internacionais e nos apresenta o mundo atual como uma fábula. Em suas dimensões nacionais e locais, o mercado, agindo como mídia, segmenta a sociedade civil, influi sobre o fluxo e a hierarquia do noticiário e aconselha a espetaculização televisiva de certos temas, confundindo os espíritos em nome de uma estratégia de vendas adotada pelos jornais como forma de sobrevivência. O Remédio, aqui, é um veneno, num círculo vicioso que acaba por ser o seu principal pecado. Estará a imprensa pecando em nome próprio ou em nome e em favor do mercado? O resultado é o mesmo. (SANTOS, 1997, p. 55 apud MARSHALL 2003, p. 25) Tudo isso leva uma queda de confiança na população em relação à imprensa, como mostra pesquisa desenvolvida pelo PewResearch Center nos EUA, colocada no livro, de 1985 quando 55% dos americanos julgavam a mídia objetiva, em 1997 56% já observavam o contrário disso, de que fatos transmitidos pela mídia seriam inexatos. O “Jornal Sem Palavras” parafraseando Soares (1996), onde o jornal priorizaria a imagem em detrimento da informação, no caso a preocupação com a cor, com as letras garrafais e a foto hiperdimensionada. “o jornalismo cor-de-rosa preparado para não desagradar a ninguém, seja leitor, usuário, consumidor, cliente, dono, anunciante, etc” (KURTZ 1993, apud MARSHALL 2003, p.27). 2.2.3 Blogosfera: Um espaço democrático? A produção da notícia de hoje foge ao modelo estabelecido das organizações dominantes da mídia. A utilização das novas tecnologias permitiu o advento daquilo que ficou conhecido como “blogueiros progressistas”. Seria a blogosfera política alternativa, um espaço de reunião de jornalistas egressos da mídia tradicional, bem como militantes políticos de esquerda, Este movimento social faz uso de diferentes micro e macro estratégias de subversão não só para que seja possível desafiar as organizações dominantes vinculadas aos meios de comunicação tradicionais, mas também modificar as regras dominantes e a ordem estabelecida pelo campo da comunicação. Entretanto evidenciou-se que as estratégias de subversão, ainda que sejam orientadas pelo um desejo de promover transformações revolucionárias no campo por meio da defesa de práticas opostas às praticas dominantes, ainda assim muitas vezes são obrigadas a incorporar
  • 21. 21 algumas práticas ou elementos que também estão presentes nestas últimas (DARBILLY, 2014, p 8) Haveria uma resistência digital, como observa Russel (2005), ao destacar as praticas opositivas de vários grupos na web que atuam em rede. Os grupos antes sem espaço, agora aproveitam para burlar o filtro por parte da mídia maistream3 (RUSSEL 2005, p. 514 apud DARBILLY 2014, p. 52). Seria um momento dinâmico de participação das práticas políticas e culturais coletivas, onde os usuários agiriam de forma mais colaborativa, através de weblogs, rede wireless, editores de texto wiki e as redes sociais. No Brasil a blogosfera teve uma atuação marcante nas eleições presidenciais de 2010, ao mostrar um lado diferente do que a grande imprensa fazia ao abraçar a candidatura de José Serra (PSDB). Os blogueiros estavam mais alinhados a candidata governista de Dilma Rousseff (PT). Nesse momento surge o Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, que tinha como presidente Altamiro Borges. O grupo tinha como objetivo, A luta para garantir a diversidade e a pluralidade de vozes da mídia e reuniões os movimentos sociais, ativistas da comunicação, blogueiros, twitteiros, a imprensa popular, comunitária e sindical, construindo uma militância em prol do direito a comunicação (DARBILLY, 2014, p. 8) O próprio Altamiro Borges ressalta que o surgimento do movimento veio em contrapartida a mídia hegemônica, que estava numa defesa à coligação PSDB-DEM e por isso era necessária uma voz diferenciada que mostrasse outro lado da história não contada pelos maiores veículos de comunicação. E desmentir até histórias inventadas, como uma ficha policial da candidata Dilma publicada na Folha de São Paulo em 2010 e que depois foi provado ser falsa. Outro movimento que surgiu em oposição à mídia tradicional foi o “Narrativas Independentes” Jornalismo e Ação (Mídia Ninja), que faz parte do coletivo Fora do Eixo (FdE). O coletivo teve início em 2005, com a participação de artistas e produtores brasileiros. Na organização, princípios como o da economia solidária, da divulgação, do intercâmbio e formação entre redes sociais, entre outros. A Mídia Ninja é um dos projetos do coletivo e teve origem em julho de 2011, através do Pós - TV que transmite eventos em tempo real, como a Marcha da Maconha, seu primeiro 3 Dicionário Linguee, disponível em: <http://www.linguee.com.br/ingles- portugues/traducao/mainstream+media.html>, acesso em 13/11/2014
  • 22. 22 evento transmitido. É uma forma direta, ao vivo, sem interferência, no evento, mas apenas registro (SANTOS, 2013). Quase todos os participantes não têm formação jornalística e transmitem os eventos por meio de celulares e outros dispositivos, tudo é transmitido por meio de canais gratuitos como o Youtube e a divulgação feita pelo Facebook e Twitter (SANTOS, 2013) 2.2.4 Agenda Setting Hohlfeldt (1997) afirma que a influência dos meios de comunicação não surte os efeitos desejados sobre a audiência em curto prazo, porém, depois de uma sequência de fatos provocados pelos meios de comunicação. Ou também de uma publicidade que paulatinamente surge sobre o público e vai ter seu resultado mais a frente. O caso das eleições presidenciais de 1994, quando o então candidato Luís Inácio Lula da Silva (PT) liderava as pesquisas com mais de 50% dos votos sobre Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ex-ministro da Fazenda do Governo Itamar Franco, a imprensa passou a construir uma agenda positiva em torno de FHC. Durante mais de cinco meses, os meios de comunicação associaram o nome de Fernando Henrique ao Plano Real, moeda que estabilizou a economia brasileira, assim em outubro daquele ano, o candidato superou o petista ainda no primeiro turno. Pela agenda Setting, os norte-americanos McCombs e Shaw, desenvolveram as suas pesquisas durante a eleição de 1972, quando o presidente Richard Nixon, consegue se reeleger com percentuais altamente significativos, mesmo existindo uma cobertura da mídia, principalmente do jornal The Washington Post, no caso Watergate de espionagem do partido republicano sobre o democrático, de forma negativa à sua imagem. “Os meios de comunicação, embora não sejam capazes de impor o que pensa em um determinado tema, como desejava a teoria hipodérmica, são capazes de, a médio e longo prazo, influenciar o que pensar e falar...” (HOHLFEDT, 1998, p. 44). “Levando em conta que o agendamento se dá necessariamente no tempo, verificou-se que se estabelece uma verdadeira correlação entre agenda da mídia e
  • 23. 23 do receptor, mas a agenda do receptor acaba influenciando a agenda da mídia” (HOHLFEDT, 1998, p. 47). Castells (2011) ao comentar sobre as revoluções conhecidas como Primavera Árabe, onde em diversos países se reuniram milhares de pessoas nas ruas em busca de várias demandas a partir das redes sociais e consequentemente a sua influência na agenda da mídia tradicional, chamou esse movimento de wikirevoluções (LOPES, 2013). A agenda do público, através das redes sociais estaria invertendo, o agendamento que passaria a ser executado pela mídia a partir do desenrolar dos acontecimentos. A mídia no Mundo Árabe estava em grande parte nas mãos dos governantes e as redes sociais foram servindo como fonte para a imprensa mundial. A Web 2.0 era “uma segunda geração caracterizada por uma nova forma de usar a internet, baseada em ambientes interativos, participativos e de construção coletiva de conteúdo” (LOPES, 2013, p. 797). A mídia estaria sendo pautada pelo que a sociedade debate através das redes sociais e não mais apenas os jornalistas iriam relatar os fatos, e nem mesmo os cidadãos se contentariam apenas com ler os relatos para ter sua opinião sobre determinado assunto. 3 FUTEBOL E POLÍTICA 3.1 INÍCIO NO BRASIL A origem do futebol no Brasil se deu por importação de um esporte extremamente elitista praticado por brancos. Em 1894, o brasileiro Charles Müller, filho de ingleses que estudava em Londres trouxe na sua bagagem um bola de futebol e tratou de difundir o esporte entre os ingleses que moravam então em São Paulo (CALDAS, 1994, p. 42). Seria uma forma de distração dos grã-finos; nas escolas os alunos praticavam o esporte como recreação. Desses momentos de lazer surgiram jogadores para integrar os então times de famílias tradicionais, como o Clube Athlético Payssandu, o Germânia, etc. Contrastando com esses times surge The Bangu Athletic Club, que mesmo fundando por altos funcionários ingleses, estava localizado na periferia e como destaca o próprio Caldas, “pela localização geográfica, tinha tendências proletárias” (CALDAS, 1994, p. 42).
  • 24. 24 Assim como o time da Companhia Progresso Industrial não tinha elenco suficiente de jogadores entre o quadro executivo, foram escolhidos alguns operários entre os mais destacados trabalhadores e depois um número limitado de negros, como destaca Mário Filho. Mas a situação no futebol brasileiro, era semiprofissional e os jogadores subempregados, até os anos 30, quando parte desses desportistas deixaria o Brasil para jogarem na Europa e em alguns países da America do Sul. Era o período no Brasil da chamada Era Vargas e o futebol já estava consolidado como esporte de massas e tinha o seu primeiro mundial realizado pela Fifa no Uruguai, onde esse se sagraria campeão. Silva (2006), conta que o Brasil durante esse período passaria por uma série de mudanças estruturais, na política, na economia, na cultura, com a música vinda do morro: o samba e o futebol na sua fase áurea. Dessa forma, o governo de Getúlio Vargas utilizava a propaganda da identidade nacional proporcionada pela seleção brasileira, que já tinha jogadores negros e mulatos, como Leônidas da Silva e Domingos da Guia. Mário Filho, diretor do Jornal dos Sports, juntamente com José Batista Bastos Padilha, então presidente do Flamengo entre 1933 e 1937, criaram campanhas para difundir o futebol entre os jovens. Como a que atingiu adolescentes de até 15 anos, que tinham de achar entre os selos dos jornais, publicados diariamente, a palavra “Flamengo” ou “Brasil”. (SILVA, 2006). Enquanto em campo o futebol se popularizava, na política, em 1937, Vargas cria o Estado Novo e com a mobilização de soldados fecha o Congresso. Com o passar dos anos o esporte vai se profissionalizando no Brasil e principalmente na Europa e ganha contornos de uma verdadeira identidade nacional, com o uso dos governos como forma de alavancar a política e aproximar a população do esporte. Como foi o caso de 1970, quando o país enfrentava um momento bárbaro com a democracia sendo arbitrariamente ferida e a imprensa censurada, o futebol surge como uma anestesia. Nesse sentido, Viana (2010), destaca o caráter conservador do futebol por reforçar essa identidade nacional: O que faz a especificidade do futebol é que ele se desenvolve num espaço nacional. Não apenas porque quase todos, no Brasil, estão concernidos pelo futebol, Mas porque qualquer time pode, em tese, competir com qualquer outro, porque os jogadores podem mudar de time, porque no universo futebolístico, tudo se relaciona com tudo num clima geral de auto
  • 25. 25 transparência, apesar dos conchavos e manipulações dos cartolas. A sociedade futebolística é política precisamente pelo fato de alcançar essa dimensão nacional (DEBRUN,1983, p 89, apud VIANA, 2010, p. 10) O futebol para o autor reforçaria a sociabilidade capitalista competitiva. Existiria a transferência das derrotas na teia da sociedade para uma vitória aliviada pelo futebol. Os amantes deste esporte estariam então nas classes desprivilegiadas “onde o sucesso, a fama, a riqueza e o poder não foram atingidos e estão distantes de se concretizar” (VIANA, 2010, p. 11). Existe a falsa ilusão de sermos todos iguais ao participar do futebol, pois como vivemos numa sociedade de classes somos desiguais, apesar de a lei ser aplicada a todos, se é diferente nas origens. Mas no futebol brasileiro a desigualdade começou quando ocorreram às mudanças que tiraram os direitos dos campeões estaduais disputarem o Campeonato Brasileiro, como era. Hoje o futebol é uma grande indústria, que movimenta milhões e tem como parceiros principais, mídia televisiva, as empresas privadas, os investidores internacionais e os bancos (GONÇALVES; CARVALHO, 2006). As empresas buscam melhoria nas suas imagens institucionais investindo em publicidade em alguns clubes de massa. Hoje o clube virou uma espécie de empresa e tem que ter mais uma organização com um padrão de eficiência que visa ter “competência gerencial, presença de profissionais devidamente credenciados, sob risco de remoção de incentivos; ou seja, de não haver renovação de contrato, ou permanência de parceria” (GONÇALVES; CARVALHO, 2006, p.10). O futebol sempre esteve ligado a vida social brasileira e por isso muitos já se utilizaram da popularidade que ele trás para buscar espaço na política brasileira, podemos citar aqui um número grande de cartolas, de ex-jogadores em cargos públicos como Romário senador, Bebeto deputado estadual, Eurico Miranda deputado federal, Túlio Maravilha vereador, Gomes Farias deputado estadual e narrador esportivo da rádio Verdes Mares. 3.2 COPA DO MUNDO A modernização das transmissões esportivas e a profissionalização do futebol tornaram o espetáculo da Copa do Mundo, como uma quase repetição de um campeonato de time europeus, com o reforço de jogadores nativos de cada seleção. Acostumados a ver essas equipes, o público teve mais facilidade em se identificar
  • 26. 26 com jogadores, como Cristiano Ronaldo, Messi, Ribery, Drogba, etc. O tema Copa do Mundo, no entanto perde força no Brasil, com o mergulhar das pessoas na vida cotidiana em suas tarefas de trabalho e até no costume de ver seus clubes, locais, no caso Ceará, Fortaleza, Flamengo, São Paulo, etc. Mas é sempre assim, quando a competição vai se aproximando as pessoas passam a focar mais o torneio, principalmente a imprensa. No caso, a cobertura esportiva da Copa de 2002 no Japão-Coréia, como exemplo, começa sempre da mesma maneira, onde todos iniciam suas análises, profissionais de várias áreas dão sua contribuição no campo da bola. Aqui encontramos artigos de jornalistas, de um geógrafo que estuda a difusão do futebol pela ótica de sua disciplina, uma psicanalista analisando os problemas da transformação de meninos pobres que se transformam celebridades, um filosofo que analisa a narrativa em torno da “família Scolari”, como um discurso despótico, além de resenhas e apresentação de livros que tratam o tema futebol. (HELAL; SOARES, 2002, p. 6) Até na pressão da mídia por uma seleção melhor, ou por ou outro jogador fora da lista sempre se repete, como foi o caso de 2002, quando o desejo de que Romário fosse à Copa situação não atendida por Luís Felipe Scolari, e repetida em 2010 quando a opinião pública pedia Neymar e Ganso e Dunga não levou. E por último, a mesma situação com Ronaldinho Gaúcho na Copa das Confederações de 2013, onde ele estava no auge como melhor da América do Sul e Felipão barrou sua convocação. Helal e Soares (2002) observam porque as vitórias de 1994 e 2002 e a derrota de 1998 ficaram apenas no campo esportivo e não foi levado como uma vitória ou derrota da nação, como acontecera em 1950 ou 1970. Apesar dessa analise, os governantes do mundo inteiro disputam a chance de ter uma competição esportiva como forma de alavancar a referida localidade para o cenário mundial. Como destaca Seixas (2010), o evento esportivo traria para a região um impacto ambiental, socioeconômico e o desenvolvimento da sustentabilidade. Para que isso aconteça é necessário que se façam investimentos em obras que levem uma infra-estrutura básica para aquele país ou cidade. Seria aquilo que ficaria como o legado do evento: “Os legados seriam, em outras palavras, a herança que fica depois de um grande evento pontual, como a Copa do Mundo, os Jogos Olímpicos, Jogos Pan- americanos, dentre outros” (SEIXAS, 2010, p. 4)
  • 27. 27 O Brasil, em 2007, foi escolhido para sediar a Copa do Mundo e com ela, a preocupação de concretizar a tempo o que exigia a FIFA como organizadora da competição. Os investimentos iniciais para a Copa do Mundo divulgado pelo Ministério do Esporte seriam de 15 bilhões em recursos do BNDES, financiamento da Caixa e participação de governos federais, estaduais e municipais. Durante a Copa do Mundo no Brasil os dados atualizados mostravam que a construção e reformas de estádio custaram ao todo oito bilhões de reais. Enquanto as obras de mobilidade urbana e melhorias em aeroportos 16 bilhões. Segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), durante a realização do evento foi incrementado na economia cerca de 30 bilhões de reais. E a consultoria Ernest-Youg fez um levantamento que entre 2010 e 2017 o ganho na economia será de 142 bilhões de reais devido à realização do Mundial no Brasil. (NASCIMENTO, 2014). Antes da Copa do Mundo no Brasil, no entanto, o clima negativo em relação à realização do evento era grande devido principalmente ao “terror midiático” criado pela imprensa. Em geral, poucos veículos mostraram esses dados positivos em suas coberturas jornalísticas sobre o evento. Como o jornalismo globalizado vive, sobretudo do sensacionalismo, as reportagens, sobre o evento não eram nada animadora. Acreditava-se que tudo de ruim poderia acontecer e até recomendações feitas por jornalistas estrangeiros para não vir à Copa do Mundo ganhou repercussão na “grande mídia”. 3.3 COPA DAS CONFEDERAÇÕES E MANIFESTAÇÕES A popularidade da presidente Dilma Roussef (PT) beirava 50%, mas com a aproximação da Copa das Confederações e as reivindicações do Movimento Passe Livre (MPL) por algumas cidades do Brasil, principalmente São Paulo, sua queda na estima da população foi alta, oscilando menos 8 pontos em alguns dias (BRAGA, p, 52). O movimento “Jornadas de Junho” relata Singer (2013), começou com a classe média de São Paulo nos primeiros dias de junho e foi se intensificando com uma reunião de mais de cinco mil pessoas na quinta, dia 13 de junho, momento esse que a Policia Militar encabeçada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) endurece a truculência sobre os manifestantes. Foi à oportunidade para a opinião
  • 28. 28 pública ter sensibilidade para com o movimento e ai espalhar um barril de pólvora pelo país (p. 29). A maioria dos que estavam nas ruas eram jovens e jovens adultos (26 a 39 anos), com poucos adultos de meia idade e grande parte desses jovens eram de escolaridade alta. (idem). Eram 43% de manifestantes diplomados contra 8% da população em 2010 com nível superior. A carestia na classe media levou a insatisfação política, devido principalmente a alta no preço dos bens de serviços e a situação crítica no quesito mobilidade e segurança, O fato é que, a partir do momento em que importantes setores de classe média foram para a rua, o que havia sido um movimento da nova esquerda passou a ser um arco-íris, em que ficaram juntos desde a extrema-esquerda ate a extrema direita. As manifestações a partir daí adquirem, um viés oposicionista que não tinha antes tanto ao governo federal quanto aos governos estaduais e municipais (SINGER, 2013, p. 34). Na turma da insatisfação estavam também os trabalhadores, que reclamavam dos gastos do dinheiro público para construir estádios luxuosos, ao mesmo tempo em que se faltava atendimentos básicos em saúde, saneamento, transporte aceitável e segurança. (SINGER, 2013). Em Fortaleza muitas remoções foram previstas para que o Veículo Leves sobre Trilhos (VLT) pudesse estar pronto para o Mundial, situação que não se concretizou, pois a obra ainda esta em andamento, sem previsão de conclusão durante a produção desta monografia. Gonçalves (2013) observa que “para preparação para megaeventos esportivos tem trazido a tona os custos sociais da ilegalidade urbanística e os problemas relacionados à insegurança de posse das famílias em assentamentos ilegais” (p. 21). De acordo com o autor seriam obras de toda ordem sem uma avaliação coerente da necessidade de certas ações. As famílias por não possuirem a escritura do imóvel recebiam ações de despejo e propostas de reassentamento em outros lugares distantes do atendimento de saúde, educação (GONCALVES, 2013).
  • 29. 29 4 A REVISTA VEJA: UM ATOR POLÍTICO 4.1 EDITORA ABRIL Até os anos 50, a revista que tinha maior tiragem no setor de informação, cultura ou entretenimento era O Cruzeiro, dos Diários Associados, ainda num rudimentar sistema de indústria cultural brasileira. Um sistema já em decadência de modelos até então ilustrados, a publicação estava nessa transição entre literatura e reportagem e litografia/ xilogravura e a chegada da fotografia. (MIRA, 1997, p. 14- 23). O Cruzeiro era uma publicação voltada para reportagens fotográficas, mas ainda convivia em parte com muito do literário através das crônicas e a participação de escritores, teatrólogos e cineastas. Com uma edição inicial em 1928 de 50 mil exemplares a revista atingiu um recorde de 700 mil exemplares quando da morte de Getúlio Vargas. Mas com o passar dos anos e as mudanças econômicas, principalmente com a indústria cultural que inserida no sistema capitalista sofre como todos os ramos do negócio uma transformação significativa que leva a profissionalização da comunicação e figuras ainda amadoras como Assis Chateaubriand ficam para trás, A indústria cultural não escapa a este processo de transformação: os capitães da indústria dos anos anteriores devem ceder lugar ao manager. O espírito aventureiro-empreendedor de Chateaubriand caracteriza toda uma época, mas ele é inadequado quando se aplica ao capitalismo mais avançado. (ORTIZ, 1991, p. 134 apud MIRA, 1997, p. 32). Quando chegou ao Brasil em 1949, Victor Civita, já tinha uma experiência na indústria de embalagens dos EUA, como diretor, quando aprendeu um pouco de artes gráficas e detinha um valor de 500 mil dólares, mais os direitos de reprodução dos quadrinhos da Disney naquele período um sucesso de comercialização. Victor viera ao Brasil por indicação de seu irmão, Cesar Civita que já desenvolvia o ramo de edição na Argentina (MIRA, 1997). No início dos anos 50, o ítalo-americano Victor Civita, começa a implantar o seu império editorial chamado Abril. O Brasil contava com 50 milhões de habitantes e 70% dessa população eram de analfabetos. (VILLALTA, 2002). Para o empresário, o seu objetivo principal era fazer o país continental ler. Foi assim que em 1950, surge a publicação o Pato Donald, com 82 mil exemplares. De
  • 30. 30 acordo com Villalta (2002), a Editora Abril, tinha 7 títulos entre 1950 e 1959; 27 entre 1960 e 1969 e 121 títulos entre 1970 e 1979. Durante os anos 50, a fotonovelas e o Pato Donald que sustentam a editora. Mira (1997) relata que as estórias que vinham de fora já não davam conta da grande demanda interna pelos quadrinhos da Disney, entre eles, Mickey, Os Irmãos Metralhas, Maga Patológica, entre outros. Assim a Abril, em 1964, forma um centro próprio de criação. Dessa escola de arte surge o personagem Zé Carioca que é reproduzido na editora Abril em 1961. O Brasil, como os outros países do pós- guerra, passava a ser influenciados pela política da “boa vizinhança” americana, que era uma das bandeiras do presidente Roosevelt. A Europa em crise passava a perder força, principalmente as normas francesas copiadas até então pelo Brasil foram substituídas pelas dos EUA, então economia hegemônica e culturalmente mais desenvolvida (MIRA, 1997, p. 46). “Mais do que a Europa do século XIX, a integração ao universo do consumo atinge todas as classes. ‘Democracia’ e ‘mercado’ tornam-se sinônimos e o american way of life encontra seus símbolos no mercado: Hollywood, Disneylândia, Coca- Cola, etc”. Uma dessas criações do pós-guerra é a fotonovela, que nasceu do cinema, com cine romances resumos de filmes, com fotos das principais cenas e um texto mais curto, Mira (1997). Era uma narrativa amorosa, que teve grande espaço na América Latina. A editora Abril entraria nesse mercado em 1952, com a publicação da revista Capricho, com 91 mil exemplares e que atinge seu auge em 1961 com 500 mil exemplares. Diferente de outras publicações que traziam as estórias em capítulos, como Grande Hotel, a publicação vinha com o desfecho completo em cada número, virando uma febre entre os leitores. As estórias traziam conselhos e uma valorização da renuncia e com uma moral rígida da época. A partir dos anos 70 há um declínio das fotonovelas. Com a expansão das rodovias, surge a revista Quatro Rodas. Nesse período, o também ítalo-brasileiro Mino Carta esta a frente de alguns desses projetos. Na década de 1960, como precursora da Veja, viria à publicação Realidade: Um projeto sobre a direção de Roberto Civita, cuja intenção era de fazer uma revista semanal de grandes reportagens, que debate com franqueza, problemas de família, sexo, política, e sacode preconceitos e tabus. Realidade reunia cerca de 30 pessoas, com média de idade abaixo dos 30 anos, o que garantia a revista em tom entusiástico. (VILLALTA, 2002, p. 3)
  • 31. 31 O Grupo Abril com o faturamento em 1995 de 1,5 bilhões de dólares tem hoje três campos de atuação: Publicações, TV/ Vídeo e Novos Negócios. Só a editoria Abril tem revistas e guias; Abril Jovem (publicações juvenis); Caras; operações internacionais na Argentina e Portugal. O Grupo Abril vídeo desde 1983 com acervo de fitas de vídeo e a MTV em atividade desde 1990. Além da Listel ligada à lista telefônica e Brasil Online (UOL), criada em 1996 com serviços na internet (MIRA, 1997) 4.2 HISTÓRIA DA VEJA Com a morte da revista Realidade devido à perseguição do Regime Militar, a imprensa e devido a Abril ser detentora de um arquivo editorial farto, Dedoc, surge a Veja ao estilo da revista Time, com o Projeto Falcão, onde 14 edições pilotos de n° zero circularam durante certo período a partir de 1959. (VILLALTA, 2002). A estreia da revista Veja seria, em 1968, com sua primeira edição, mostrando de que lado a publicação se encontrava no cenário político, marcado por uma guerra fria entre URSS (Comunista) e EUA (Capitalista). A capa trazia, “um fundo vermelho, os símbolos do comunismo, a foice e o martelo, e a chamada o “Grande Duelo Comunista”, abordando o tema sob a perspectiva da invasão da Tchecoslováquia, que aconteceu em agosto do mesmo ano”. (VILLALTA, 2002, p. 7-8). Com circulação semanal a revista estava com uma proposta de integração do Brasil, um país com dimensão continental. O começo foi pouco mais de três meses antes do AI-5, o mais duro ato institucional do regime militar contra a imprensa. Provavelmente o formato da revista tenha vindo através de Roberto Civita, filho de Victor Civita, que nasceu nos EUA. Roberto Civita foi estudar economia e jornalismo na Universidade da Pensilvânia e se torna um editor. Sua tese seria sobre uma editora da Filadélfia chamada Curtis, onde depois ele vai ser estagiário em um grupo chamado time-life. Depois de estudar a Curtis, Roberto Civita não poderia ter achado lugar melhor para estagiar do que Time Inc., uma das maiores editoras de revistas do mundo. Time Inc. fora fundada em Nova York, em 1922, por Henry Luce e Briton Hadden dois jovens jornalistas que haviam se conhecido em Yale e que não tinham nenhuma experiência em revistas. Neste ano, os dois põem em prática um plano antigo, criando Time, a revista semanal de informação, diferente de tudo o que havia até então (MIRA, 1997, p. 116-117)
  • 32. 32 Para Carta, o público leitor ainda não estava acostumado a um tipo de formato, com fotos pequenas, muito texto e com uma cobertura da vida nacional e interpretativa. Com um surgimento bombástico de 700 mil exemplares no primeiro número, a queda chegou até 19 mil exemplares entre 1968 e 1972. Mino tentou com a criação de encarte de fascículos semanais com a história da conquista da lua para alavancar a Veja, além de ter sido implantado, em 1973, um sistema de assinantes que conseguiu 100 mil assinaturas. Mesmo com esse sucesso estrondoso no início e a queda posterior que fez a publicação cair de 63 páginas de anúncios vendidas na primeira edição, para apenas um da Souza Cruz que ficou por 52 edições devido um contrato, O Pato Donald, que dava um retorno significativo, foi quem segurou os prejuízos de Veja, para que ela conseguisse manter sua circulação, “até que se descobrissem meios e estratégias para corrigir o problema” (VILLALTA, 2002, p. 11). O que foi um “erro de marketing empresarial”, no início como cita Elio Gaspari, depois a correção veio, com um sistema de distribuição que atingia todos os mais variados locais do Brasil. A revista Veja, para Augusti (2005), procura contemplar o leitor em aspectos da sua vida comportamental, como envelhecer melhor, dormir melhor, relaxar, comer, etc. Com um discurso do “eu interior”, o sujeito se torna senhor do seu próprio destino e a Veja, vêm como um “manual de auto-ajuda” para guiar o leitor. O próprio indivíduo, na auto-ajuda, cria a fantasia e torna a si mesmo como o objeto idealizado, porque acredita, um dia, poder encontrar o que tanto deseja e, finalmente, ser um sujeito livre, realizado e feliz. Ele sente prazer em admirar-se pela autoconfiança e “auto-estima” imediatamente adquirida e fortalecida. Sente segurança e acredita que essa condição estará sempre presente em sua vida. (CHAGAS, 2001, p.64 apud AUGUSTI, 2005, p. 21) Antes disso, ainda a revista precisou passar por mudanças como a entrada de Gaspari a convite de Mino Carta, para mudar a direção que tinha na redação, onde profissionais se cristalizavam em suas funções, como no caso de editores que só escreviam, enquanto assistentes e repórteres apuravam. Essa mudança, de acordo com Augusti (2005), fez a publicação passar de 300 mil exemplares vendidos para 800 mil por semana. A publicação defendia que o importante era a notícia que os leitores queriam, segundo pesquisas de opinião realizadas pela própria Veja.
  • 33. 33 4.3 VEJA X POLÍTICA Como qualquer veículo de comunicação que cobre política, a Veja busca mostrar uma isenção ou uma mera imparcialidade que na verdade não existe. Quando Lula assumiu o poder em 2003, a revista fazia uma espécie de cobertura distanciada do seu sentimento de anti- governismo de esquerda. Na capa de 8 de janeiro de 2003, com título “Lula de Mel”, a publicação mostra como seria daquele momento em diante sua relação com o governo. Silva (2006) coloca o posicionamento a partir dali, “A partir de agora começa a cobrança”. Até a edição de 20 de agosto de 2003 vem uma entrevista com o então presidente Luís Inácio Lula da Silva, com a matéria fazendo elogios a política econômica do governo mantendo o sistema igual ao do antecessor Fernando Henrique Cardoso. Mas já em fevereiro de 2004, Veja coloca uma capa com denúncias do filho do ex-governador Leonel Brizola sobre um suposto caso de corrupção no governo Olívio Dutra (PT). Em 26 de fevereiro de 2005, mais uma capa anti-governista, com críticas em 12 páginas ao que seria “o risco da involução”. Com a condenação da revista às cotas sociais, a criação de um Conselho Federal de Jornalismo, a criação da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual e a Lei Geral dos Meios de Comunicação. Durante todo o governo Lula, o ex-presidente passou a ser retratado de um modo negativo, com “manchetes, fotografias, cores e símbolos que passaram a mostrar uma realidade bem diferente, ou seja, de um governo em crise” (OLIVEIRA; NAPOLEÂO, 2008, p. 83). A Veja que retratou primeiro um presidente, como um herói a favor do povo, durante o seu primeiro ano de governo e depois passou a usar a imagem do Lula, com tons irônicos e de sarcasmo e com caráter de denúncia. Um ex-editor da revista Veja, Carmo Chagas, destaca um pouco do que seria a política editorial da publicação e como ela se posiciona para o seu pequeno numero de eleitores cativos. Quem leria os editoriais seriam, “os empresários mais sólidos; os políticos mais perspicazes, os economistas mais consistentes, os intelectuais mais atentos, são eles que constituem a elite interessada na opinião que aparece todo o dia na imprensa” (SILVA, 2005, p. 83). Silva (2005) coloca que a revista usaria noções liberais permanentes para ocultar sua ação partidária. Na edição da revista do dia 09 de janeiro de 1997, p. 07,
  • 34. 34 a seção Carta ao Leitor se posiciona favorável à emenda de reeleição em votação no Congresso Nacional e até coloca sua sinalização de que o segundo mandato seria melhor para a nação, O que se está discutindo é a possibilidade de Fernando Henrique Cardoso concorrer de novo ao mesmo cargo, submetendo-se ao voto do povo. Nas pesquisas de opinião pública, a tese da reeleição é majoritária. Há no país uma tendência a se considerar que os quatro anos, nas circunstâncias atuais e com o atual ocupante do Planalto são tempo curto demais para consolidar o clima de estabilidade que o país vem conquistando. Pensa isso o cidadão comum que é ouvido pelos institutos. Acha o mesmo quem analisar as perspectivas de maciços investimentos no país graças à diminuição significativa das incertezas econômicas. (SILVA, 2005, p. 105). A revista seleciona entre todas as cartas ao leitor, àquelas que favorecem claramente uma visão positiva do Brasil naquele ano, véspera de eleição presidencial e de desejo de continuidade o que justificaria então a emenda de reeleição de Fernando Henrique Cardoso até hoje contestada por oposicionistas como tendo sido um suposto esquema de mensalão para que os deputados aprovassem a possibilidade do presidente ter o direito a ser reconduzido ao cargo novamente caso tirasse maior numero de votos. Assim, a revista mostraria que tudo caminhava bem no país com as pessoas com mais dinheiro no bolso, indo mais à praia, devido a um suposto ajuste econômico que a revista avaliaria como sendo decorrente de ações do governo FHC. (SILVA, 2005). Durante seus primeiros anos, a Veja cobriu alguns eventos que seriam de movimentos contrários ao regime militar, como na capa de 09 de outubro de 1968, quando cita a Incrível Batalha dos Estudantes, ou 16 de outubro de 1968, quando coloca na capa, Todos Presos: Assim acabou o congresso da ex-UNE. Ou quando numa das capas Procura-se Marighela em 20/11/1968 e a mais emblemática onde aparece na capa o Congresso Nacional dentro de um vidro quebrado na edição de 04/12/1968. Na edição de 18/04/1984 a foto de Ulisses Guimarães e a multidão nas ruas atrás dele e o título Diretas Já: Um Brado Retumbante, um momento em que a revista está mais aliada aos anseios daquela pós-ditadura e não se tinha ainda claro o que seria a democracia e quais forças estariam à frente do comando do país. No mesmo ano na edição de 05 de maio, a foto de Tancredo Neves com as mãos juntas em um ato de reflexão e os dizeres: À Hora de Tancredo.
  • 35. 35 Alguns anos depois e já com a eleição presidencial garantida pelo voto direto à revista vem com a capa de Collor de Melo, com a pergunta Collor Quem é o que quer e por que está agitando a sucessão na edição de 17/05/1989. Pouco tempo depois vem outra edição com Brizola e a cobertura de Lula (06/09/1989), mostrando o candidato com o punho serrado e a bandeira do PT atrás. Após a eleição de Collor e sua renúncia e depois de Itamar Franco assumir interinamente a presidência da Republica do Brasil, a Veja que teve um papel importante na denúncia contra Collor desde o início com as declarações de Pedro Collor de Melo até os “Caras Pintadas”, vem no ano da eleição presidencial de 1994, com a capa de 12 de janeiro de 1994 e a foto de FHC e o título E Agora Fernando? Uma sugestão de quem poderia ser o novo presidente. Durante esse ano não houve uma capa em que Lula aparecesse como possível solução para presidente, enquanto em três capas FHC apareceu como o homem a solucionar problemas. Durante todo o primeiro mandato de FHC nem uma citação ruim ao seu governo pela Veja, mas apenas mostrando um lado que possivelmente as pessoas nas ruas não observavam apesar da capa de 19/02/1997 com o título Onde Estão os Empregos: Os novos polos de crescimento e as oportunidades que eles oferecem, colocando o Brasil como um local de maravilhosas oportunidades, mas que enfrentava uma crise na prática não citada pela Veja. Já na edição de 22/05/2002 a revista Veja tem na capa a foto de Lula a olhar para cima, onde tem dados da bolsa de valores e o título: Por que Lula Assusta o Mercado. Dois meses depois na edição de 17/07/2002 a foto de Lula atrás e embaixo de um lado Ciro Gomes e de outro José Serra e a pergunta Ciro ou Serra: Quem vai ser o anti-Lula? E ainda na edição anterior a eleição em 25/09/2002 o título O PT está preparado para presidência? São anos sucessivos de cobertura da Veja pós-ditadura onde a mesma seleciona um ponto de vista de cobertura e coloca seu enfoque mais ligado ao PSDB e ao neoliberalismo tucano, ao mesmo tempo em que coloca o PT como um partido no começo radical, depois corrupto e essa visão que tem da realidade tenta sempre definir aquilo que quer para seu público, um debate hoje mais interno com leitores cativos do que externo com a grande massa que surge nos últimos anos de novas leituras. A cobertura das eleições de 2010 entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), demonstra bem como se posiciona a Veja como um partido de direita
  • 36. 36 moderna com funções de difundir a visão de mundo baseada no liberalismo econômico do Instituto Millenium4 a qual faz parte com outros grupos de direita no Brasil. Já na sua edição de 21 de abril de 2010, a capa da revista vêm com a chamada: “Serra e o Brasil pós Lula”. A publicação ainda destaca na capa um trecho da entrevista com Serra que ele diz “me preparei à vida inteira para ser presidente”. Na edição posterior na seção Carta ao Leitor há nove elogios a entrevista de José Serra e cinco criticando a candidata Dilma (GUILHERME, 2012, p. 6). Durante os meses seguintes, aponta Guilherme (2012), a Veja mergulha de cabeça na campanha de José Serra e passa a desqualificar tudo do governo de Lula (PT), todo tipo de denúncia é mostrando como sendo petista e as ações positivas sempre são do PSDB. Como na edição de 02 de junho, quando a matéria “José Serra vai direto ao ponto” o candidato mostra como o presidente da Bolívia Evo Morales estaria incentivando a produção de cocaína e venda para o Brasil. Na edição de 27 de setembro de 2006, a capa da revista vem com a caricatura onde o presidente Lula tem a faixa presidencial como venda para os seus olhos destacando os aspectos negativos do então presidente da república em busca da reeleição. De acordo com Cattelan (2014), a figura que mostra o presidente bem cuidado com a barba bem feita, seria um presidente de fachada e envolvido em corrupção e a cabeçorra destacada na revista mostra o preconceito por ser nordestino. As orelhas grandes seriam o símbolo da obscuridade e de tendências satânicas. O que apontaria a desonestidade e a ignorância é a faixa nos olhos do presidente, que o coloca como alguém incapaz de ver o que acontece ao seu redor. (CATTELAN, 2014). Em 1970 enquanto o Brasil vivia um dos anos mais duros da ditadura militar, “a propaganda política divulgava ideias de identidade e participação nacional, pelo estimulo a popularidade do presidente e promoção dos efeitos do regime” (CHAGAS, 2009, p. 1). A Veja neste período também vem reforçar essa ideia de nacionalidade e estimulo ao regime. Para a publicação essa exaltação se devia principalmente pelo Brasil ser uma potência mundial nesse esporte chamado futebol e por isso a euforia das pessoas nas ruas cantando músicas relacionadas à seleção canarinha. 4 IMIL Disponível < http://www.imil.org.br/> acesso em 29 de setembro de 2014
  • 37. 37 O futebol seria além de festa, guerra com o objetivo de exterminar o inimigo, como destaca bem a revista Veja ao dar espaço para as falas do presidente Emílio Garrastazu Médici. O então presidente era destacado como mais um entre os 90 milhões de brasileiros torcendo pela seleção. Que oferece um almoço ao grupo da seleção brasileira de futebol e com “o radinho de pilha na mão fumando, o presidente assistiu ao jogo contra a Áustria, no Maracanã” (CHAGAS, 2009, p. 7).
  • 38. 38 5 METODOLOGIA 5.1 LEITURA DA IMAGEM Esta monografia tem o objetivo de analisar o discurso construído por texto e imagem das capas de nove edições da Veja relacionadas à Copa do Mundo. Na análise da imagem, Joly (1996) define a categoria imagem como ícone que mantém “relação de analogia quantitativa entre o significante e o referente” (JOLY,1996 , p. 37) Para contextualizar mais sobre o que seria a imagem na prática, “compreendemos que indica algo que, embora nem sempre remeta ao visível, toma alguns traços emprestados do visual e, de qualquer modo, depende da produção de um sujeito, imaginária ou concreta...” (JOLY, 1996, p. 13). Há outras definições de imagem, como “qualquer fenômeno visual que integre a representação de objetos com os quais mantenha relação de semelhança” (CASASUS 1979, p. 39, apud BLASQUE, 2012, p. 3). A imagem, com o advento da semiótica da imagem se voltou para os estudos das mensagens visuais, ou seja, a mesma virou sinônimo de representação visual, porém ela vai mais além, pois nos mostra que é heterogênea de uma forma que reúne dentro de si, categorias de signos e formatos variados, como cores, composição interna, textura, etc., além de conter um signo linguístico, que diz algo a quem ver essa imagem (JOLY,1996). O desejo de ler além da imagem leva ao leitor a praticar o raciocínio em busca de entender a imagem, como algo além daquela figura ou fotografia. O estudo de signos peircianos se usa da fórmula matemática entre o significado e o significante com a ajuda do interpretante para se chegar a um sentido. Os signos que uma figura não apresenta, vem por meio do ícone, o índice e o símbolo. O ícone se subdividindo em imagens, diagramas e metáforas. O uso de Peirce de analogia e comparação é a maneira de se chegar a um entendimento (SOUZA, 2011). A semiótica seria como “a ciência que estuda os signos, os quais são sinais que representam algo, podendo ser objetos perceptíveis ou apenas imagináveis” (SILVEIRA, 2005, p. 4).
  • 39. 39 Ou seja, este trabalho, quer estudar a imagem, de acordo com o que Peirce (1938-51) define dos signos, como o que nos apresenta algo por meio de alguma representação. O autor destaca Santaella (1993, p.13), para definir, o que seria a semiótica como A ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo, o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno de produção de significação e de sentido ou, simplesmente, [...] é ciência dos signos. 5.2 INTERPRETAÇÃO DA IMAGEM O olhar para imagem não se prende apenas no que se vê, pois a omissão de certos elementos dentro de um formato pode mostrar que algo está oculto aos olhos humanos e que a descoberta do que se busca está além do olhar. Na capa da Veja, o interessante é a análise da arbitrariedade, a imitação, ou a referencialidade. O contexto está apontando para um objeto específico e que define sua função a partir do olhar da sua audiência. Barthes e seus discípulos imaginavam que a leitura da imagem usaria a mesma forma da leitura do signo linguístico, que foi criticada por Vilches (1991) ao expor que existe um projeto de leitura de imagem enquanto texto que estão divididos em várias categorias linguísticas. (SOUZA, 2011). O texto visual, em seu todo, é tido como um conjunto de estruturas produtivas, cujo modelo pressupõe: expressão visual; elementos de expressão (figuras geométricas e ângulos de câmera); níveis sintagmáticos (figuras iconográficas, tipologia da montagem, relação campo/contra-campo, etc); blocos sintagmáticos com função textual (montagem; tipos de enquadre; narrativa/cronologia temporal; diferentes pontos de vista); níveis intertextuais; tópico; gênero e tipologia de gêneros. Ou seja, pela perspectiva de Vilches a leitura da imagem se dará pela apreensão da coerência que perpassa todos os elementos de textualidade descritos acima. O que chamamos a atenção nessa perspectiva é, por um lado, a apreensão e o reconhecimento por parte do leitor dos elementos que constituem o texto visual (SOUZA, 2011, p. 4-5).
  • 40. 40 5.3 SÍNTESE DO DISCURSO Na análise do discurso Gregolin (2007) coloca a síntese apresentada por Foucault (1969) em que as práticas discursivas interferem na ação do sujeito na história. Para isso é apresentado uma teoria do discurso, onde um quadro é colocado resumindo num campo: O discurso é uma prática que provem da formação dos saberes e que se articula com outras praticas não discursivas; os dizeres e fazeres insere-se em formações discursivas, cujos elementos são regidos por determinadas regras de formação; o discurso é um jogo estratégico e polêmico, por meio do qual se constituem os saberes de um momento histórico; o discurso é o espaço em que saber e poder se articulam (quem fala, fala de algum lugar, baseado em um direito reconhecido institucionalmente); a produção do discurso é controlada, selecionada, organizada e distribuída por procedimentos que visam a determinar aquilo que pode ser dito em certo momento histórico (Foucault, 1969 apud GREGOLIN, 2007, p. 14-15). Mas a análise do discurso, de forma estruturalista, onde sujeito é mero observador dos acontecimentos, perde força a partir de 1969, com a Análise do Discurso (AD) de linha francesa, que coloca o sujeito no centro do novo cenário. O marco inicial vem com a publicação de Análise Automática do Discurso (AAD) de Michel Pêcheux, com a revista Langages. De acordo com o autor, o sujeito perdido é encontrado descentrado e ferido pelo narcisismo, com livre pensar e outra parte deste sujeito são encontrados no materialismo histórico (FERREIRA, 2003). Ferreira (2003) ressalta, que a AD, não trabalha com uma língua presa na discussão linguística, mas sim com uma língua da ordem material. A língua de Sausurre língua/fala, agora é transformada por Pêcheux em língua/ discurso. A finalidade é que o leitor da imagem possa entender o que ela quer falar. O que tem por trás de certas mensagens icônicas contidas no design das capas da Veja. 5.4 OBJETO São nove capas, desde 2011 até o fim da Copa do Mundo 2014. A escolha se deve ao fato de que elas falam sobre a Copa do Mundo de Futebol no Brasil e porque essas nove edições relatam fatos políticos que mostram sua visão em
  • 41. 41 relação como o governo federal organiza a competição e de como a publicação enxerga esse mesmo governo de esquerda.
  • 42. 42 6 ANALISE DE DADOS Figura 1- Edição: 2218 Fonte: Veja
  • 43. 43 6.1 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2218 Imagem O capacete de operário verde e amarelo faz referencia ao símbolo da Copa do Mundo no Brasil, que é o troféu. Com o acréscimo da mão do construtor com a luva amarela, como existe no símbolo original. As cores acabam por remeter ao nacionalismo brasileiro, cores que faz a mente de quem ver a capa pensar no sentimento comum de união. Texto O número “2038” ao lado significa o que tem no conteúdo da publicação em destaque, que acredita que o Mundial no Brasil não se realizará, pois os estádios não ficariam prontos a tempo. Ai vem à ideia de que não dará certo a Copa do Mundo, e então a mesma imagem aparece fragmentada na cabeça do leitor, que vê diante de sim o obstáculo. Dentro desta edição, o destaque é a matéria que aparece na capa: “Por critérios matemáticos os estádios da Copa não ficaram pronto a tempo” e embaixo da imagem do estádio Maracanã ainda em reforma os dizeres: “no ritmo atual o Maracanã seria reaberto com 24 anos de atraso” Composição As cores e os símbolos que representam o país que sediará a Copa entram em conflito com os dizeres contidos na capa, e passam uma visão de que é impossível atingir as metas da organização do Mundial. Mensagem O papel da imprensa é cobrar para que os malfeitos sejam concertados e olhando para esse lado a matéria estaria de acordo com essa visão, mas a capa desconstrói essa noção, pois ela já insinua sem nenhuma base concreta o porquê da a entender que é definitivo essa visão. Aqui falta a multiangularidade, pois falta
  • 44. 44 ouvir o lado governamental e colocar o mesmo peso do que poderia ou não acontecer se a obra ficasse pronta. Classificação Nessa edição há uma visão negativa do Governo Federal. De acordo com a cobertura feita pela Veja ficou evidenciado a busca da publicação em colocar em dúvida a capacidade do governo de realizar a Copa do Mundo, segundo critérios próprios da reportagem, sem fundamento.
  • 45. 45 Figura 2 - Edição: 2250 Fonte: Veja
  • 46. 46 6.2ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2250 Imagem Ao redor, caricaturas das principais figuras mundiais como se estivessem olhando para o Brasil. Seria o país, de acordo com as imagens uma espécie de novidade, como também de desejo para os outros países do mundo. Texto No centro o dizer: “O Brasil aos Olhos do Mundo” a pesquisa feita pela CNT em 18 países a pedido da Veja. Em baixo do título, questões que a pesquisa buscou saber sobre o que pensam os estrangeiros em relação ao Brasil: “Pelé e Carnaval? Obvio!” “As surpresa começam nas respostas sobre quem é dono da Amazônia ou nossa capacidade de fazer a Copa do Mundo”. Composição O discurso atrelado à imagem da à percepção clara de que os entrevistados teriam se posicionado contra Amazônia, ou que os países não seriam capazes de realizar grandes eventos mundiais, porém as respostas foram outras. Essa surpresa quer dizer que a publicação fica perplexa, sobre o porquê de lá fora se acreditar e aqui não. A resposta é clara, lá a imprensa retrata o Brasil de uma forma bem mais positiva e aqui o olhar da imprensa é mais para os problemas e menos para a solução. Mensagem A pesquisa CNT/ Sensus em parceria com treze empresas de pesquisa constatou que o Brasil é para essas nações, rico, influente e com uma economia relevante com viés de alta. Mas a opinião da revista começa a interferi no que a pesquisa diz, quando começa a dizer que a política externa do Brasil não seria boa e que seriamos apenas conhecidos como país do futebol e carnaval, contradizendo a pesquisa que vê justamente o contrário, que 94% da população mundial ver o Brasil
  • 47. 47 como uma economia forte e que 74% dos estrangeiros estavam otimistas com a realização do Mundial no Brasil. Classificação Nessa edição há a visão negativa do Governo Federal. Mesmo com dados favoráveis ao Brasil de acordo com a pesquisa, a publicação diminuiu as conquistas nacionais e potencializou as falhas
  • 48. 48 Figura 3- Edição: 2327 Fonte: Veja
  • 49. 49 6.3ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2327 Imagem A imagem de uma jovem de costas com a bandeira do Brasil servindo como uma capa remete ao imaginário, uma heroína que busca representar a todo o povo que foi às ruas. A imagem da caminhada da jovem para o fogo representa à nação, que caminha para o caos, a destruição. Acima dela, as labaredas de fogo que iluminam a cena sobre as barricadas. Texto Abaixo os dizeres: “Os sete dias que mudaram o Brasil”. A referência a manifestação “Jornadas de Junho” que sacudiram o país contra os gastos excessivos da Copa do Mundo. A publicação faz uma afirmação contundente de que essas manifestações foram um divisor de águas na história do Brasil. Composição Nessa edição imagem e texto se conectam para passar uma mensagem de mudança, de transformação contra a realidade que estava imposta até aquele momento no Brasil. Mensagem Ao entrar no conteúdo exposto na capa, você observa que o discurso da Veja fica todo, como se o movimento fosse anti-PT. Era segundo a edição, um emparedamento das esquerdas. Mas na verdade existiam vários grupos misturados de esquerda, extrema direita, entre outros. E tudo começou por questões de valores de reajuste de passagens em várias regiões do Brasil e que coincidia com um evento como a Copa das Confederações, cujo trazia os olhos do mundo para o país. O estopim para tudo começar foi à truculência da Policia Militar de São Paulo, comandada por Geraldo Alckmin (PSDB), que excedeu na força contra os manifestantes.
  • 50. 50 Se exigia nesse movimento a melhoria da qualidade de vida das pessoas que já ascenderam de classe social e que hoje dividiam um espaço com uma classe social que se sentia sufocada por mais carros nas ruas, falta de serviços com excelência no setor público e até particular. Seria a busca de melhor infraestrutura, pois o Brasil se desenvolveu nos governos do PT, mas ainda faltou criar a condição pra que a população viva com mais qualidade. Classificação Nessa edição há a visão negativa do Governo Federal. A cobertura da Veja coloca, as “Jornadas de Junho”, como um movimento anti-governo federal. É reduzido as bandeiras daqueles que estavam, nas ruas, como apenas uma busca de uma oposição ao PT e a presidente Dilma.
  • 51. 51 Figura 4- Edição: 2354 Fonte: Veja
  • 52. 52 6.4ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2354 Imagem Uma criança chamada Deyvid com a camisa da seleção brasileira de pés descalços e com um sorriso no rosto em meio ao pano de fundo da sua realidade em um campo de terra batida, em alguma várzea do Brasil. Em contraste ao seu lado, a imagem de Neymar, ídolo do Barcelona e principal esperança para Copa do Mundo no Brasil. O corte nas duas figuras, unidas apenas pela junção das traves do Maracanã e do campinho de terra, para dar intensidade clara ao que se quer mostrar as diferenças, o que está errado e que o país é muito diferente do que se tenta pregar. Texto A intenção da capa é provocar em quem ver a revista, uma indignação de observar um país tão desigual de oportunidades, onde o título reforça a imagem: “Uma Copa dois países” e o subtítulo realça a sensação de desconforto com a aproximação do Mundial: “Os desafios para o Brasil em 2014, fora e dentro de campo”. Dentro do texto a constatação de que somos o país do futebol, mas pereba na infraestrutura, perna de pau na educação e consistente na desigualdade e um matador na corrupção. E o foco da edição prevê o mundial que não será legal fora de campo. E que o resultado fora de campo contaria mais do que dentro de campo. Composição A imagem de Neymar e do Deyvid com imagens diferentes, com o texto Uma Copa, Dois Países, dá um resultado final, que impacta quem ver, pois quer passar um visão de divisão de duas realidades. Mensagem O Brasil é injusto, porque um garoto como Neymar chegou ao estrelato, enquanto outro garoto Deyvid está em uma realidade que pode ser que lhe leve para
  • 53. 53 outros caminhos. Como também a mensagem dar a entender que o Deyvid também pode chegar à mesma situação de fama de Neymar, que um dia foi igual a esse garoto. Classificação Nessa edição há a visão negativa do Governo Federal. A Veja procura separar os dois países de Neymar e de Deyvid, mas esquece que o jogador do Barcelona, também já foi um menino que jogou em campos de terras batidas. A Veja não procura identificar os problemas da miséria de jovens garotos que jogam na periferia do Brasil, mas sim apenas sugerir que há oportunidades desiguais. NA verdade o capitalismo gera desigualdade, não só no futebol, mas em toda sociedade.
  • 54. 54 Figura 5- Edição: 2377 Fonte: Veja
  • 55. 55 6.5ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2377 Imagem A capa é apenas duas letras A e Z, dentro delas, a fotos do que marcou o país de 1950 a 2014. Atrás o fundo branco com a intenção clara de mostrar serenidade na edição. Texto O título “O Brasil moderno que nasceu entre duas copas”. O desejo da revista de mostrar um país em desenvolvimento às vésperas da Copa do Mundo. O interesse de falar para o seu público habitual de grandes empresários que necessitam de reafirmação de que os laços do Mundial podem trazer dividendos importantes e que também aquelas pessoas que compraram ingressos poderiam se sentir segura na sua opção de compra. Composição A imagem, contrastada com o título ressalta que as mudanças que ocorreram no Brasil, não se limitam aos 12 anos do governo atual de Lula e Dilma, mas que a modernização é fruto de mais de 64 anos de transformações em várias áreas desde cultura, economia, saúde, entre outras. Mensagem Na mesma edição, um guia da Copa do Mundo, com todos os detalhes das sedes e das seleções e dos grupos da Copa. Desse momento em diante os olhos da imprensa esportiva mundial passariam a olhar o Brasil e até a Veja critica do governo e da competição pensa como toda empresa: lucro e por isso o encarte especial com tudo aquilo que o fã de esporte deseja saber. O mais improvável acontece para quem reconhece na revista um domínio do anti-governismo, de derrepente sair do lado que critica para ser o lado que afaga o ego dos torcedores.
  • 56. 56 O fenômeno acontece com toda a imprensa nacional, que num passe de mágicas esquece os problemas e mergulha num misticismo, onde tudo passou a dar certo e a cordialidade dos nativos é o que mais importa entre todos os possíveis defeitos antes vistos como algo insuperável. Classificação Nessa edição há uma visão neutra em relação ao Governo Federal. Apesar de não ser contrária ao governo diretamente, a Veja por destacar que os progressos não são produtos de apenas 12 anos procura, diminuir as transformações dos governos de Lula e Dilma. Mesmo a publicação sendo coerente em fazer uma retrospectiva do que aconteceu entre 1950 e 2014 no Brasil, ela jamais enfatiza que foi o governo federal atual que possibilitou a vinda da competição depois de 64 anos.
  • 57. 57 Figura 6- Edição: 2378 Fonte: Veja
  • 58. 58 6.6 ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2378 Imagem A primeira figura mostra os jogadores perfilados para cantar o hino, unidos depois à capela pelo público na Arena Itaquera. Na segunda imagem Neymar comemora o gol com os braços abertos e na terceira imagem o rosto de Dilma tensa com as vaias vindo do setor Vip do estádio. Texto Logo em cima do nome Veja: “Os três destaques da abertura da Copa mostram que para os brasileiros, pátria não é governo e a paixão pelo futebol não combina com política”. A Veja tenta acertar em cheio o imaginário do brasileiro que ama o futebol e que está estarrecido com escândalos de corrupção denunciados pela mídia e que tem como alvo o governo federal. Seriam como que imagens de situações distintas que representariam momentos diferentes da vida do brasileiro. Composição A separação da capa em três momentos de imagens e títulos demonstra que ainda a publicação estava ainda politizando a cobertura da Copa do Mundo de Futebol. Mensagem Não há como separar no Brasil futebol e política. Mesmo na ditadura militar quando existia o movimento “Brasil, Ame ou deixe-o” em que o governo que torturava tentava fazer um marketing com a seleção de 1970 tricampeã, estava ligada ao esporte. Sabe-se que João Saldanha comunista confesso, e treinador do Brasil nas eliminatórias em 1969 saiu da seleção, não por sua simpatia ideológica, mas por contrariar o presidente, que queria que Dadá Maravilha fosse a Copa e o treinador não aceitava intromissão em sua convocação.
  • 59. 59 A Copa do Mundo trazida por Lula enquanto presidente foi um marco histórico para o mundo esportivo nacional. A Veja não respeitou a presidente como uma autoridade maior da república brasileira, mas a colocou num patamar de pessoa qualquer que representava o perigo vermelho a combater, sem piedade e por isso todas as armas necessárias para descolar Dilma, da favorita até então seleção brasileira. Classificação Nessa edição há uma visão negativa em relação ao Governo Federal. A capa desta edição está mais que emblemática ao mostrar o teor político, por trás das imagens. Quem ver é capturado por uma sensação contrária a presidente Dilma. A população é levada a olhar a seleção brasileira como um patrimônio descolado da política, que foi ao mesmo tempo a responsável por trazer a competição para o Brasil.
  • 60. 60 Figura 7- Edição: 2379 Fonte: Veja
  • 61. 61 6.7ANALISE DA CAPA DA VEJA EDIÇÃO 2379 Imagem A foto da mulher de verde amarelo, no meio da torcida brasileira e com um sorriso no rosto diz como estava a Copa e qual o clima dos brasileiros em relação ao Mundial. As imagens mostram como mudou o clima dos principais veículos nacionais contrários a realização do Mundial. Mas os alertas dos títulos demonstram que mesmo assim a visão da publicação continua com seu viés anti-governo. Texto O título diz: Só alegria até agora e o subtítulo ressalta: Um festival de gols nos gramados, menos pessimismo nas pesquisas, visitantes em festa e o melhor é aproveitar, pois o legado duradouro esqueça. No canto direito da revista, uma pequena denuncia: Testamos o programa de computador que fura a fila da do site da Fifa. Funciona. Mas Justo? Composição O tom de alegria da Copa do Mundo, demonstrado pela imagem dos torcedores sorrindo dentro dos estádios com um texto positivo, demonstra que a publicação abraçou o Mundial e que o clima do momento era favorável para uma cobertura mais otimista. Mensagem Sem poder contestar números positivos, na hospitalidade, bom público, gols, tranquilidade nos aeroportos, a edição em alguns momentos foca mais na cobertura esportiva. E joga a responsabilidade da Copa do Caos, para os veículos estrangeiros como o jornal inglês Times, que falava em caos três meses antes do Mundial. Ou canal americano Fox que destaca o sucesso apesar dos obstáculos. Se fora previsto grandes manifestações que balançariam as estruturas da nação e a envergonharia perante a opinião pública, a adesão foi diminuta com 26 mil
  • 62. 62 pessoas em 195 manifestações, média de 247 por ato, bem menor que o milhão nas Jornadas de Julho de 2013. A Copa que tomou conta das discussões diárias, dos noticiários era sobre quem fazia mais gols, a festa nas cidades, a chegada de grande número de turistas e o possível título do Brasil dentro de campo. Mas a Veja é uma revista anti- governista e não pode ficar tranquila enquanto não fizer uma reportagem negativa, mas até aquele momento tudo estava dentro dos planos e apenas ela insinuava que o legado da Copa seria só durante o torneio e depois tudo voltaria a realidade e que o brasileiro estaria de volta as suas reclamações cotidianas. Classificação Nessa edição há uma visão neutra em relação ao Governo Federal. Há uma visão positiva em relação à Copa do Mundo e um alerta sobre o que ainda pode acontecer de ruim.
  • 63. 63 Figura 8- Edição: 2381 Fonte: Veja