A Fundação FHC e a Corporación de Estudios para Latinoamerica (Cieplan), dois dos principais think tanks da América Latina, promovem este seminário sobre o futuro da região, diante das incertezas acarretadas pela desconstrução da ordem internacional até há pouco vigente e pela crise global da democracia. Reservado a um grupo de cinquenta convidados, o encontro de dois dias permitirá aos participantes debater com destacados intelectuais públicos (economistas, sociólogos e cientistas políticos) do Brasil, Chile, Argentina, entre outros países, algumas das questões mais desafiadoras do momento para o Brasil e para a região. O objetivo maior é o de compreender as tendências de longo prazo e identificar caminhos que levem nossos países a navegar águas turbulentas sem perder o horizonte da democracia e do desenvolvimento. Lourdes Sola Professora e pesquisadora sênior da USP

1. Reformismo e Possibilismo
em Albert Hirschman
Lourdes Sola

2. O possibilismo em Hirschman
ontem e hoje
 O conceito condensa as várias encarnações: o dissidente , o otimista cético, o que traspassa
fronteiras estabelecidas: afã de compreensão e a busca de um “bias for hope.”
Dois tópicos relevantes
I- Desigualdade à luz da interação dinâmica entre economia/política, “political economics”
• uma das joias teóricas da obra de Hirschman – um modelo (1973) redimensionado à luz da
problemática latino-americana de 1979.
• cabe redimensionar à luz das transformações globais, regionais e de novos achados da CP da
economia? Se sim, onde entra o possibilismo?
II- O Plano Real como um exercício de possibilismo: resgate de um conceito clássico, statecraft

3. A tolerância pela desigualdade da renda, “efeito túnel” e as reformas
 O paradoxo: tolerância /a/intolerância pela desigualdade (da renda) e as flutuações da
economia’ – na percepção dos setores “left behind”:
• A tolerância constatada na alta do “ciclo” justamente quando as diferenças relativas
se aceleram; é na retração/ na crise que se tornam perceptíveis.
• Explicação: um mix de experiência e de erros de percepção, “efeito túnel”
- em tempos de bonança: os ganhos em termos absolutos
(e de mobilidade social ascendente) obscurece o aumento das diferenças
relativas e molda expectativas de ganhos sustentáveis.
- intolerância pela desigualdade associada à percepção que a fila parou.
- A percepção de perdas relativas e frustração – demanda por reformas
redistributivas (inclusão)

4. O “efeito túnel” redimensionado à luz da A.L
 Para explicar mudança de regime (1979) a partir do resgate dos determinantes políticos.
1) as dimensões políticas do desenvolvimento econômico: como fator de legitimação política
do governo/da coalizão dominante
- e cimento em termos de coesão social. E vice-versa.
2) Ênfase nas bases sociais da política – centralidade processo legitimação política – potencial
embutido na operação das forças cíclicas inseparáveis da operação do capitalismo - crises de
legitimação
3) Mudança de rumos e de registro associadas às tarefas de coordenação econômica e política.

5. Porque redimensionar
 Os desafios distributivos adquiriram novos contornos nas democracias “de mercado emergente”.
1- Processo inverso ao dos países do Global North: mudança na composição social da
população e do eleitorado: mobilidade social ascendente e classes” médias;
2- Os critérios de legitimação política (e de deslegitimação), mudaram com a emergência do
eleitor-consumidor-contribuinte
3- Em democracias de renda média , os casos de avanços cumulativos, (partes da Asia)
coexistem com reveses e retrocessos (Brazil and Argentina), ou de “backsliding” (Turquia,
Venezuela).
 Para determinar como opera o “efeito túnel” nesse cenário, é necessário determinar como a
globalização econômica afetou crescimento e distribuição nesse grupo de países.
1- As evidências (Lang e Tavares): o efeito crescimento (renda média) ao efeito renda
(distribuição) observam o efeito conjunto “across-countries” e within countries.
2- Ganhos across-countries, seguem mesmo padrão, ganhos positivos mas decrescentes
mas os ganhos dentro de países, para o topo da pirâmide.
3- Desigualdade da renda individual a nível global é determinada pelo impacto adverso da
integração dentro dos países – papel das políticas compensatórias ou preventivas combinadas a
investimentos sustentáveis de longo-prazo em educação.
 O possibilismo - Statecrefting -