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1
InstitutoInternacionaldeEducaçãodoBrasil–IEB
Ailton Dias dos Santos
POTENCIALIDADE E LIMITES DA CADEIA
DE VALOR DOS ÓLEOS DE ESSÊNCIAS
FLORESTAIS NO SUL DO AMAZONAS
Realização Apoio
2
INSTITUTO INTERNACIONAL DE
EDUCAÇÃO DO BRASIL – IEB
Potencialidade e limites da cadeia de valor
dos óleos de essências florestais no sul do
Amazonas
Ailton Dias dos Santos
Dezembro de 2016
Realização Apoio
3
1. INTRODUÇÃO
As áreas florestadas do Amazonas são consideradas ricas em essências florestais de
uso múltiplo, entre as quais se destacam as oleaginosas como a copaíba, a andiroba,
o murumuru, entre outras. Mas com a dispersão dessas espécies por vastas áreas do
território a sua exploração ocorre apenas de modo artesanal e em pequena escala. Do
lado da oferta, não há estudos que permitam estimar com mais precisão o potencial
da atividade de extração em termos de incremento para a economia dos municípios
e do Estado. Do lado da demanda, a capacidade instalada no Estado para o proces-
samento e comercialização é ainda muito baixa, o que representa um gargalo para a
cadeia de valor do produto, que requer um processamento intermediário antes de ser
direcionado para diferentes ramos da industria.
Segundo a Associação Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE), o Estado do
Amazonas possui uma capacidade industrial para processamento de 2000 toneladas
por dia, o que representa apenas 1% da capacidade nacional. Em termos de refino e
envase da produção esta capacidade estadual cai para 0%. Os principais Estados com
maior capacidade instalada para processamento são Mato Grosso (22%), Paraná (19%),
Rio Grande do Sul (16%) e Goiás (14%). Já em termos de refino e envase o Estado de
São Paulo é que possui a maior capacidade instalada representando 26% e 25% da
capacidade nacional respectivamente.
A maior parte do parque industrial para a produção de óleos vegetais no Brasil está
ligado ao chamado “complexo da soja” e tem proximidade geográfica e organização
logística com as áreas que são grandes produtoras desta oleaginosa. Parte desta ca-
pacidade instalada também é capaz de processar matérias primas como girassol, al-
godão, milho, canola, ente outros grãos.
4
Estado UF
Total 2015
Capacidade de Capacidade de Capacidade de
Processamento Refino Envase
Ton/dia % Ton/dia % Ton/dia %
Mato Grosso MT 41.210 22% 3.263
14
%
2.405 15%
Paraná PR 35.745 19% 3.830
16
%
2.032 12%
Rio Grande do
Sul
RS 29.190 16% 1.820
8
%
1.320 8%
Goiás GO 26.785 14% 3.090
13
%
3.127 19%
São Paulo SP 14.773 8% 6.135
26
%
4.000 25%
Mato Grosso
do Sul
MS 10.590 6% 408
2
%
350 2%
Minas Gerais MG 9.100 5% 1.300
6
%
905 6%
Bahia BA 6.691 4% 1.053
4
%
969 6%
Santa
Catarina
SC 3.200 2% 750
3
%
349 2%
Tocantins TO 3.020 2% -   -  
Piauí PI 2.800 1% 120
1
%
180 1%
Amazonas AM 2.000 1% -
0
%
- 0%
Maranhão MA 1.500 1% 300
1
%
300 2%
Pernambuco PE 400 0% 640
3
%
222 1%
Rondônia RO 300 0% -
0
%
40 0%
Ceará CE - 0% 700
3
%
100 1%
Total   187.304   23.409   16.299  
3
Tabela 01 Capacidade Instalada da Indústria de Óleos Vegetais – 2015, por Estado.
(*) Os valores de Ton/dia de capacidade instalada contemplam as unidades ativas e paradas.
Fonte/Elaboração: ABIOVE – Coordenadoria de economia e estatística.
5
Em que pese a baixa capacidade para o processamento de óleos vegetais, o dados
oficiais do IBGE apontam o Amazonas como o maior produtor de óleo de copaíba do
Brasil com 127 toneladas produzidas em 2015, o que representaria cerca de R$ 2,8 mi-
lhões. As informações sobre volume de produção dos demais óleos são difusas e não
permitem gerar estatísticas mais precisas. Os próprios dados do IBGE parecem muito
subestimados quando comparados à observações e levantamentos de campo, que
sugerem que a produção é muito maior do que os números oficiais indicam.
Apesar do alto potencial de produção quando comparado aos demais Estados da
Amazonia, as limitações do parque industrial fazem supor que a maior parte do óleo
produzido no Amazonas tem como destino os Estados do centro-sul do país, onde o
produto entra na cadeia de produção dos mercados de cosméticos e medicamentos
fitoterápicos.
De maneira geral a cadeia de valor dos óleos vegetais no Amazonas está organizadas
da seguinte forma: i) um número indefinido de famílias fazem o trabalho de coleta
e extração utilizando os métodos tradicionais e vendem os produtos em pequenas
quantidades nos mercados locais e regionais; ii) em um segundo nível operam as
pequenas usinas de extração mecanizada, as vezes geridas por grupos comunitários,
que vendem a produção para industrias maiores; iii) no terceiro nível operam algu-
mas indústrias de maior porte que fazem o refino dos óleos e a sua comercialização
junto às indústrias de cosméticos, principalmente.
Mas em alguns casos há arranjos produtivos envolvendo a relação direta entre gru-
pos comunitários e a indústria de cosméticos, a exemplo do relacionamento entre a
empresa Natura e as organizações locais do Médio Juruá, município de Caraoari.
Nos mercados locais e regionais do Amazonas os óleos de essências florestais como
a copaíba (Copaifera langsdorffii) e a andiroba (Carapa guaianensis e Carapa procera)
são comercializados de maneira informal principalmente em mercados municipais
e farmácias, enquanto que a demanda da indústria tem sido principalmente para a
produção de medicamentos fitoterápicos e cosméticos. Esses e outros produtos da
floresta estão fortemente associados aos conhecimentos dos povos e comunidades
tradicionais, que fazem uso corrente dos óleos vegetais para diferentes fins.
A exportação e óleos vegetais da Amazônia é frequentemente apontada como uma
alternativa que poderia remunerar melhor as famílias extrativistas, tendo em vista
que os preços praticados localmente têm estado muito baixo. Em diversas iniciativas
e projetos há uma manifesta expectativa de que a produção organizada e sistemática
6
desses produtos poderia se converter numa importante fonte de renda ao se explorar
nichos dos mercados nacional e internacional.
Mas como bem descrevem Mendonza & Ferraz (2006), a exportação de óleos vegetais
por pequenos produtores, associações e cooperativas do interior do Amazonas é di-
ficultada pela burocracia dos procedimentos formais para a exportação deste tipo de
produto. Isso envolve:
i) a apresentação, ao IBAMA, de um comprovante de cadastro técnico de atividades
potencialmente poluidoras ou utilizadoras de recursos naturais, registro de exporta-
dor e autorização de transporte de produtos florestais;
ii) à Receita Federal devem ser apresentados a fatura do produto e o “Bill of Loading”;
iii) ao Sistema de Comércio Exterior um registro de exportador e declaração despacho
de exportação e;
iv) ao Ministério da Agricultura, o certificado fitossanitário do óleo.
Figura 01 - Procedimentos necessários para a exportação de óleo de andiroba no Amazonas.
Fonte: Mendonza & Ferraz (2006)
O alto custo para a obtenção dessa documentação e do tempo a ser despendido para
vencer todos os trâmites para a exportação toram praticamente inviáveis a exportação
de óleos vegetais da Amazônia que quase sempre são produzidos em pequena esca-
la e em unidades produtivas distribuídas por longas distâncias. Restam como opção,
portanto, os mercados locais, estaduais e nacional.
7
Fonte: IBGE (2013); Herculano (2013)
Os municípios da região do Rio Madeira, como Novo Aripuanã, Manicoré, Humaitá e Apui, se
destacam como os maiores produtores nacionais de óleo de copaíba, segundo dados do IBGE
(2017).
Gráfico 01 - Volume total da produção (em ton) de óleo
de copaíba segundo o Estado produtor - 2011
Maranhão Acre Mato Grosso Rondônia Para Amazonas
168
32
12
110
2. A PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE
ÓLEOS VEGETAIS NO SUL DO AMAZONAS
A semelhança do que ocorre em todo o Amazonas, na região sul do Estado a extração
e o comercio de óleos vegetais oriundos de essências florestais ocorre de maneira
irregular, sem que as cadeias produtivas e comerciais estejam devidamente estrutu-
radas. Os processos de extração ocorrem quase sempre conforme as práticas tradicio-
nais das comunidades ribeirinhas. Como a produção dos óleos ocorrem de maneira
individualizada (por família) e em escala limitada, não há dados estatísticos confiáveis
sobre o volume total da produção de cada tipo de óleo e nem sobre o destino final
do óleo comercializado.
A pesquisa do IBGE sobre “Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura – PEVS” re-
lativos a 2015, por exemplo, não traz informações sobre a produção e comercializa-
ção do óleo da andiroba, uma das essências florestais oleaginosas mais usadas no
Amazonas. Também estão fora das estatísticas o murumuru (Astrocaryum murumu-
ru), tucumã (Astrocaryum tucuma), mulateiro (Calycophyllum spruceanum), sangue de
dragão (Croton lechleri), entre outros produtos da floresta.
Já os dados sobre a produção do óleo de copaíba informam que o volume produzido
no sul do Amazonas foi de 85 toneladas em 2015, o que corresponderia a um fatura-
mento bruto de R$ 2 milhões.
De toda forma, a extração e comercialização dos óleos vegetais pode representar uma
fonte complementar de renda ao entrar na cesta de produtos que as famílias agro-
extrativitas obtêm da floresta ao longo do ano. Como os sistemas produtivos dessas
famílias é de natureza diversificada, a extração dos óleos pode ocorrer em meio a
muitas outras atividades.
Gráfico 01: Volume de óleo de copaiba (em ton) produzido
nos municípios do sul do Amazonas em 2015.
Fonte: IBGE (2017)
8
(2017).
Fonte: IBGE (2017)
Na falta de dados e informações sistematizadas sobre este mercado e seu potencial
econômico, resta analisar alguns casos específicos em que famílias, grupos de
famílias ou organizações tomaram a iniciativa de organizar a produção e a
comercialização de óleos vegetais.
Produção e comercialização do óleo de copaíba do PAE Aripuanã-Guariba
Uma das experiências relevantes para o desenvolvimento do mercado de óleos
vegetais no sul do Amazonas foi a comercialização, em 2012, de 400 quilos de óleo de
copaíba por parte de um grupo de vinte agroextrativistas da Associação do Projeto
Agroextrativista Aripuanã-Guariba, município de Apui. A transação foi realizada com a
empresa suíça Firmenich, sediada em Cotia-SP, que utilizou o óleo como matéria
prima para a produção de fragrâncias a serem comercializadas para outras empresas
do ramo dos cosméticos.
Gráfico 01: Volume de óleo de copaiba (em ton) produzido nos
municípios do sul do Amazonas em 2015
            Tapauá             Boca do Acre             Lábrea             Humaitá             Novo Aripuanã
49
21
6
43
1100
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Gráfico 02: Volume de óleo de copaiba (em ton) produzido
nos municípios do sul do Amazonas em 2015.
Fonte: IBGE (2017)
Os municípios da região do Rio Madeira, como Novo Aripuanã, Manicoré, Humaitá e
Apui, se destacam como os maiores produtores nacionais de óleo de copaíba, segun-
do dados do IBGE (2017).
Na falta de dados e informações sistematizadas sobre este mercado e seu potencial
econômico, resta analisar alguns casos específicos em que famílias, grupos de famí-
lias ou organizações tomaram a iniciativa de organizar a produção e a comercializa-
ção de óleos vegetais.
3. PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DO ÓLEO
DE COPAÍBA DO PAE ARIPUANÃ-GUARIBA
Uma das experiências relevantes para o desenvolvimento do mercado de óleos ve-
getais no sul do Amazonas foi a comercialização, em 2012, de 400 quilos de óleo de
copaíba por parte de um grupo de vinte agroextrativistas da Associação do Projeto
Agroextrativista Aripuanã-Guariba, município de Apui. A transação foi realizada com
a empresa suíça Firmenich, sediada em Cotia-SP, que utilizou o óleo como matéria
prima para a produção de fragrâncias a serem comercializadas para outras empresas
do ramo dos cosméticos.
A iniciativa teve apoio do WWF-Brasil, que assessorou o grupo por meio de atividades
voltadas para o fortalecimento institucional via associações e cooperativas, elabora-
ção de projetos e adoção de boas práticas de manejo da copaíba. A questão do ma-
nejo é fator essencial para que o óleo obtido da extração possa ver vendido dentro
dos padrões de qualidade exigidos pela indústria. As negociações com a Firmenich
tiveram início ainda em 2011.
O transporte dos 400 quilos de óleo envolveu uma logística complexa. A primeira eta-
pa do transporte ocorreu por via fluvial, desde a região do PAE até Manaus. Na capital
9
do Estado foi feita a emissão das notas fiscais e a regularização burocrática da carga,
sendo esta a fase mais demorada de todo o processo. O próximo destino foi Porto Ve-
lho, para onde a encomenda foi enviada novamente por via fluvial (Rio Madeira). De
Rondônia a carga seguiu para São Paulo por via terrestre, onde chegou após cerca de
mês após ter deixado a região do PAE Aripuanã-Guariba. Após receber o pagamento
pela remessa do óleo as lideranças da associação fizeram a distribuição da receita
entre os extrativistas envolvidos na atividade.
4. A PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO
DE ÓLEOS VEGETAIS EM LÁBREA
A várzea do Rio Purus é uma importante área de ocorrência de espécies florestais
oleaginosas como a copaíba e a andiroba, por exemplo. Embora não haja estatísticas
oficiais que atestem a extensão e o potencial econômico desses recursos naturais, é
sabido que muitas famílias nas comunidades ribeirinhas extraem os óleos utilizando
métodos tradicionais em pequena escala. O comercio ocorre quase sempre de ma-
neira fracionada, seja no mercado da cidade de Lábrea, seja via comerciantes fluviais
(regatões).
Percebendo o potencial econômico do óleo de andiroba a Comissão Pastoral da Terra
(CPT) de Lábrea iniciou entre 2005 e 2007 um trabalho de sensibilização de algumas
famílias para a comercialização coletiva da produção. A estratégia consistia em orga-
nizar os grupos a fim aumentar a escala da produção e comercializar o óleo direta-
mente no mercado de Manaus. Se tentava dessa forma escapar dos atravessadores
locais, que pagavam um preço muito baixo pelo quilo do produto. O desafio era ar-
mazenar o óleo em recipientes adequados, leva-los via barco até Manaus e realizar
a venda a preços mais favoráveis. O lucro da venda seria então distribuído entre os
extrativistas participantes. Um agente da CPT tinha um papel chave como intermedi-
ário das transações.
Além da complexidade da logística envolvida, a venda do óleo esbarrava na questão
da qualidade, já que muitas vezes o produto chegada ao destino final com uma taxa
de acidez muito elevada, o que compromete as suas propriedades químicas. O fato da
extração ocorrer de forma artesanal e descentralizada torna ainda mais complexo o
problema da qualidade do produto. Para se obter certa escala comercial a produção
de cada família é misturada à das demais comprometendo uma padronização mínima
do produto em termos de qualidade.
10
conservação dos recursos naturais das Terras Indígenas, incluindo os óleos vegetais
como os da copaíba e da andiroba. As ações são partes de uma estratégia mais ampla
que envolve a realização de estudos e diagnósticos participativos e a construção de
planos de gestão territorial e ambiental.
Óleos de copaíba (esquerda) e andiroba (direita) como comercializados no mercado municipal
de Lábrea-AM
Por meio do Projeto Raizes do Purus, financiado pela Petrobrás, A OPAN realizou o
trabalho de assessoria técnica e apoio ao manejo e boas práticas da copaíba e da
andiroba junto ao povo Jamamadi da Terra Indígena Jarawara/Jamamadi/Kanamanti.
A adoção de boas práticas no processo de extração dos óleos resulta numa melhor
qualidade do produto, com possibilidade de negociar melhores preços no mercado.
Em 2014 o preço do quilo de óleo de copaíba obtido sem a adoção de boas práticas
era vendido a R$ 12,00 no mercado de Lábrea. Segundo a OPAN, este valor pode
chegar a R$ 30,00 com a adoção das boas práticas de manejo (OPAN, 2016).
conservação dos recursos naturais das Terras Indígenas, incluindo os óleos vegetais
como os da copaíba e da andiroba. As ações são partes de uma estratégia mais ampla
que envolve a realização de estudos e diagnósticos participativos e a construção de
planos de gestão territorial e ambiental.
Óleos de copaíba (esquerda) e andiroba (direita) como comercializados no mercado municipal
de Lábrea-AM
Por meio do Projeto Raizes do Purus, financiado pela Petrobrás, A OPAN realizou o
trabalho de assessoria técnica e apoio ao manejo e boas práticas da copaíba e da
andiroba junto ao povo Jamamadi da Terra Indígena Jarawara/Jamamadi/Kanamanti.
A adoção de boas práticas no processo de extração dos óleos resulta numa melhor
qualidade do produto, com possibilidade de negociar melhores preços no mercado.
Em 2014 o preço do quilo de óleo de copaíba obtido sem a adoção de boas práticas
era vendido a R$ 12,00 no mercado de Lábrea. Segundo a OPAN, este valor pode
chegar a R$ 30,00 com a adoção das boas práticas de manejo (OPAN, 2016).
1.
Coleta e seleção
das sementes
2.
Armazenamento de
todas sementes por um
prazo de 3 a 15 dias
5.
Extração do óleo por
escorrimento ao sol, à
sombra ou no tipiti
3.
Preparo da massa:
cozimento das
sementes por um
período de 1 a 3 horas
4.
Repouso da massa
por um período
de 7 a 20 dias
Figura 02: Itinerário técnico
da extração tradicional do
óleo de andiroba.
A qualidade acaba sendo determinante no momento de negociação dos preços, ex-
ceto quanto o produto é vendido localmente e em poucas quantidades. Por essas e
outras razões a iniciativa acabou não prosperando.
Nos anos recentes a organização indigenista Operação Amazônia Nativa (OPAN) vem
trabalhando com comunidades indígenas no sentido de melhorar o aproveitamento
e conservação dos recursos naturais das Terras Indígenas, incluindo os óleos vegetais
como os da copaíba e da andiroba. As ações são partes de uma estratégia mais ampla
que envolve a realização de estudos e diagnósticos participativos e a construção de
planos de gestão territorial e ambiental.
Óleos de copaíba
(esquerda) e andiroba
(direita) como
comercializados
no mercado municipal
de Lábrea-AM
11
A Coopmas também instalou uma pequena usina de extração e pretende abs
parte da matéria prima bruta para a produção de óleos de vários tipos, a exemp
manteiga de cupuaçu.
Manteiga de cupuaçu produzida na usina de extração da Coopmas, Lábrea.
A iniciativa de produção e comercialização de óleos vegetais da Cooperar - B
do Acre
Projeto Valores da Amazônia, liderando pela organização SOS Amazônia com a
financeiro do Fundo Amazônia/BNDES. O objetivo do projeto é “disseminar e ap
iniciativas empreendedoras em nove instituições aglutinadas, com foco na geraçã
trabalho e renda e no desenvolvimento sustentável da região”.
Uma das instituições aglutinadas do Projeto Valores da Amazônia é a Cooper
Agroextrativista do Mapiá e Médio Purus (Cooperar), que tem sua sede em Boc
Acre. Por meio de recursos do projeto a Cooperar está instalando no local
pequena usina de beneficiamento de produtos para a extração de óleos vegeta
castanha, andiroba, gergelin, patoá, murumuru, entre outros produtos.
A Cooperar também assume o trabalho de diagnóstico do potencial produtivo
comunidades incluídas no projeto, o que inclui a aplicação de um questionário pa
levantamento e sistematização dos dados relativos à produção. Além diss
cooperativa contratou um profissional cuja missão é fornecer assessoria técnica
grupos visando a adoção de boas práticas de manejo e também coordena
trabalhos na usina de extração de óleos que está sendo montada na sede
entidade, na cidade de Boca do Acre.
Por meio do Projeto Raizes do Purus, financiado
pela Petrobrás, A OPAN realizou o trabalho de as-
sessoria técnica e apoio ao manejo e boas práticas
da copaíba e da andiroba junto ao povo Jamamadi
da Terra Indígena Jarawara/Jamamadi/Kanamanti.
A adoção de boas práticas no processo de extra-
ção dos óleos resulta numa melhor qualidade do
produto, com possibilidade de negociar melho-
res preços no mercado. Em 2014 o preço do quilo
de óleo de copaíba obtido sem a adoção de boas
práticas era vendido a R$ 12,00 no mercado de Lá-
brea. Segundo a OPAN, este valor pode chegar a
R$ 30,00 com a adoção das boas práticas de ma-
nejo (OPAN, 2016).
O principal parceiro comercial da iniciativa é a Co-
operativa Mista Agroextrativista do Sardinha (CO-
OPMAS), que compra e comercializa óleos vegetais
Manteiga de cupuaçu produzida na usina de
extração da Coopmas, Lábrea.
do Rio Purus, mantendo boas relações lideranças indígenas e não indígenas. Em 2014
a cooperativa comercializou 1.600 quilos de óleo de copaíba produzidos por comuni-
dades Jamamadi. Também faz a comercialização da castanha, borracha, feijão, pira-
rucu, entre outros produtos.
A Coopmas também instalou uma pequena usina de extração e pretende absolver
parte da matéria prima bruta para a produção de óleos de vários tipos, a exemplo da
manteiga de cupuaçu.
5. A INICIATIVA DE PRODUÇÃO E
COMERCIALIZAÇÃO DE ÓLEOS VEGETAIS
DA COOPERAR - BOCA DO ACRE
Projeto Valores da Amazônia, liderando pela organização SOS Amazônia com apoio
financeiro do Fundo Amazônia/BNDES. O objetivo do projeto é “disseminar e apoiar
iniciativas empreendedoras em nove instituições aglutinadas, com foco na geração
de trabalho e renda e no desenvolvimento sustentável da região”.
12
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Persiste a dispersão da produção e a fragmentação dos circuitos de comercialização
de óleos vegetais no Médio Purus e no Rio Madeira. Esta fragmentação se soma a pro-
blemas de manejo que afetam a qualidade dos óleos produzidos localmente. Como
consequência, os preços pagos pelo quilo de óleo nos mercados locais são quase
sempre muito baixos.
Uma das instituições aglutinadas do Projeto Valores da Amazônia é a Cooperativa Agro-
extrativista do Mapiá e Médio Purus (Cooperar), que tem sua sede em Boca do Acre.
Por meio de recursos do projeto a Cooperar está instalando no local uma pequena
usina de beneficiamento de produtos para a extração de óleos vegetais da castanha,
andiroba, gergelin, patoá, murumuru, entre outros produtos.
A Cooperar também assume o trabalho de diagnóstico do potencial produtivo nas co-
munidades incluídas no projeto, o que inclui a aplicação de um questionário para o
levantamento e sistematização dos dados relativos à produção. Além disso, a coope-
rativa contratou um profissional cuja missão é fornecer assessoria técnica aos grupos
visando a adoção de boas práticas de manejo e também coordenar os trabalhos na
usina de extração de óleos que está sendo montada na sede da entidade, na cidade
de Boca do Acre.
Um dos desafios da iniciativa é o licenciamento ambiental da usina de processamen-
to de óleos junto ao Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas (IPAAM).
Um pedido de licenciamento do projeto foi formalizado pela Cooperar junto ao IPAAM
mas não houve retorno por parte do órgão. Depois de várias tratativas a cooperativa
recebeu a sugestão de contratar um “despachante” para ficar encarregado de todos
os trâmites burocráticos do licenciamento. No entanto, os custos desses serviços po-
deriam chegar a R$ 20.000,00. Este caso fornece uma ideia das dificuldades operacio-
nais e burocráticas que um empreendimento pode enfrentar ao se instalar na região.
A maioria dos grupos e organizações locais não dispõem de recursos para arcar com
os custos de transação envolvidos.
Uma vez em funcionamento, a usina de extração de óleos da Cooperar poderá se con-
verter em um importante laboratório para se testar o potencial comercial dos óleos
vegetais do Médio Purus e acesso a nichos de mercado que possam remunerar me-
lhor o trabalho das famílias extrativistas.
13
A solução para remunerar melhor a mão-de-obra famílias envolvidas nas atividades
de extração poderia ter dois sentidos: i) investimento na organização coletiva e capa-
citação dos extratores sobre boas práticas de manejo visando a obtenção de produtos
de alta qualidade; ii) criação de canais de relacionamento comercial direto com as
empresas consumidoras dos óleos, para negociação de preços e escala. Este segun-
do caminho poderia lançar mão de parcerias com cooperativas locais que poderiam
intermediar transações entre os grupos informais e as empresas.
O relacionamento direto entre os grupos agroextrativistas (lado da oferta) e as em-
presas compradoras (lado da demanda) deve levar em consideração a questão das
salvaguardas sociais e ambientais no âmbito dos contratos. Um dos aspectos a serem
bem observados nesse tipo de relação é a adequação aos termos da Convenção da
Diversidade Biológica (CDB), assinada por mais de 190 países, que o uso sustentável
da biodiversidade deve ter como parâmetro a repartição justa e equitativa dos bene-
fícios obtidos por meio do aproveitamento dos recursos genéticos. Em outras palavras,
as empresas que fizerem uso comercial dos recursos genéticos da Amazônia e dos
conhecimentos tradicionais a ales associados deve repartir parte desses benefícios
com as comunidades de onde eles foram extraídos.
Na atual conjuntura, a cooperar em Boca do Acre e a Coopmas em Lábrea represen-
tam as duas principais oportunidades de negócios para os agroextrativistas do Mé-
dio Purus e também podem estimular a produção de óleos vegetais em maior escala,
na medida em que garantem a compra do produto. Ao mesmo tempo, tem condições
de regular os preços em função da qualidade, de forma a remunerar melhor aqueles
produtores que adotam boas práticas de manejo.
O trabalho junto a essas duas iniciativas pode trazer um conhecimento mais apro-
fundado sobre os desafios da cadeia de valor pelo lado da oferta, como o potencial
produtivo, número de famílias envolvidas na atividade de extração e atributos de
qualidade do produto.
14
7. REFERÊNCIAS
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica - IBGE (2016). Produção da extração ve-
getal e silvicultura – 2015. Rio de Janeiro: IBGE.
Herculano, Francisco Elno Bezerra (2013). Produção Industrial de Cosméticos: o pro-
tagonismo da biodiversidade vegetal da Amazônia. Tese de Doutorado. Universidade
Federal do Amazonas. Manaus: UFAM
Mendonça, A.P. & Ferraz I.D.K. (2006). Procedimento para a exportação de óleo de an-
diroba no Amazonas. Revista Fitos. Vol. 2, No 2, set/2006.
Mendonça, Andreza P., Ferraz, Isolde Dorothea Kossmann (2007). Óleo de andiroba: pro-
cesso tradicional da extração, uso e aspectos sociais no estado do Amazonas, Brasil.
Acta Amazônica. Vol. 37(3) 2007: 353 – 364
Operação Amazônia Nativa (2016). Óleos Jamamadi se destacam no mercado. OPAN
Notícias. http://amazonianativa.org.br/Noticias/oleos-Jamamadi-se-destacam-no-
-mercado,2,266.html
15
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Potencial e limites da cadeia de valor de óleos florestais no sul do Amazonas

  • 1. 1 InstitutoInternacionaldeEducaçãodoBrasil–IEB Ailton Dias dos Santos POTENCIALIDADE E LIMITES DA CADEIA DE VALOR DOS ÓLEOS DE ESSÊNCIAS FLORESTAIS NO SUL DO AMAZONAS Realização Apoio
  • 2. 2 INSTITUTO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO DO BRASIL – IEB Potencialidade e limites da cadeia de valor dos óleos de essências florestais no sul do Amazonas Ailton Dias dos Santos Dezembro de 2016 Realização Apoio
  • 3. 3 1. INTRODUÇÃO As áreas florestadas do Amazonas são consideradas ricas em essências florestais de uso múltiplo, entre as quais se destacam as oleaginosas como a copaíba, a andiroba, o murumuru, entre outras. Mas com a dispersão dessas espécies por vastas áreas do território a sua exploração ocorre apenas de modo artesanal e em pequena escala. Do lado da oferta, não há estudos que permitam estimar com mais precisão o potencial da atividade de extração em termos de incremento para a economia dos municípios e do Estado. Do lado da demanda, a capacidade instalada no Estado para o proces- samento e comercialização é ainda muito baixa, o que representa um gargalo para a cadeia de valor do produto, que requer um processamento intermediário antes de ser direcionado para diferentes ramos da industria. Segundo a Associação Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE), o Estado do Amazonas possui uma capacidade industrial para processamento de 2000 toneladas por dia, o que representa apenas 1% da capacidade nacional. Em termos de refino e envase da produção esta capacidade estadual cai para 0%. Os principais Estados com maior capacidade instalada para processamento são Mato Grosso (22%), Paraná (19%), Rio Grande do Sul (16%) e Goiás (14%). Já em termos de refino e envase o Estado de São Paulo é que possui a maior capacidade instalada representando 26% e 25% da capacidade nacional respectivamente. A maior parte do parque industrial para a produção de óleos vegetais no Brasil está ligado ao chamado “complexo da soja” e tem proximidade geográfica e organização logística com as áreas que são grandes produtoras desta oleaginosa. Parte desta ca- pacidade instalada também é capaz de processar matérias primas como girassol, al- godão, milho, canola, ente outros grãos.
  • 4. 4 Estado UF Total 2015 Capacidade de Capacidade de Capacidade de Processamento Refino Envase Ton/dia % Ton/dia % Ton/dia % Mato Grosso MT 41.210 22% 3.263 14 % 2.405 15% Paraná PR 35.745 19% 3.830 16 % 2.032 12% Rio Grande do Sul RS 29.190 16% 1.820 8 % 1.320 8% Goiás GO 26.785 14% 3.090 13 % 3.127 19% São Paulo SP 14.773 8% 6.135 26 % 4.000 25% Mato Grosso do Sul MS 10.590 6% 408 2 % 350 2% Minas Gerais MG 9.100 5% 1.300 6 % 905 6% Bahia BA 6.691 4% 1.053 4 % 969 6% Santa Catarina SC 3.200 2% 750 3 % 349 2% Tocantins TO 3.020 2% -   -   Piauí PI 2.800 1% 120 1 % 180 1% Amazonas AM 2.000 1% - 0 % - 0% Maranhão MA 1.500 1% 300 1 % 300 2% Pernambuco PE 400 0% 640 3 % 222 1% Rondônia RO 300 0% - 0 % 40 0% Ceará CE - 0% 700 3 % 100 1% Total   187.304   23.409   16.299   3 Tabela 01 Capacidade Instalada da Indústria de Óleos Vegetais – 2015, por Estado. (*) Os valores de Ton/dia de capacidade instalada contemplam as unidades ativas e paradas. Fonte/Elaboração: ABIOVE – Coordenadoria de economia e estatística.
  • 5. 5 Em que pese a baixa capacidade para o processamento de óleos vegetais, o dados oficiais do IBGE apontam o Amazonas como o maior produtor de óleo de copaíba do Brasil com 127 toneladas produzidas em 2015, o que representaria cerca de R$ 2,8 mi- lhões. As informações sobre volume de produção dos demais óleos são difusas e não permitem gerar estatísticas mais precisas. Os próprios dados do IBGE parecem muito subestimados quando comparados à observações e levantamentos de campo, que sugerem que a produção é muito maior do que os números oficiais indicam. Apesar do alto potencial de produção quando comparado aos demais Estados da Amazonia, as limitações do parque industrial fazem supor que a maior parte do óleo produzido no Amazonas tem como destino os Estados do centro-sul do país, onde o produto entra na cadeia de produção dos mercados de cosméticos e medicamentos fitoterápicos. De maneira geral a cadeia de valor dos óleos vegetais no Amazonas está organizadas da seguinte forma: i) um número indefinido de famílias fazem o trabalho de coleta e extração utilizando os métodos tradicionais e vendem os produtos em pequenas quantidades nos mercados locais e regionais; ii) em um segundo nível operam as pequenas usinas de extração mecanizada, as vezes geridas por grupos comunitários, que vendem a produção para industrias maiores; iii) no terceiro nível operam algu- mas indústrias de maior porte que fazem o refino dos óleos e a sua comercialização junto às indústrias de cosméticos, principalmente. Mas em alguns casos há arranjos produtivos envolvendo a relação direta entre gru- pos comunitários e a indústria de cosméticos, a exemplo do relacionamento entre a empresa Natura e as organizações locais do Médio Juruá, município de Caraoari. Nos mercados locais e regionais do Amazonas os óleos de essências florestais como a copaíba (Copaifera langsdorffii) e a andiroba (Carapa guaianensis e Carapa procera) são comercializados de maneira informal principalmente em mercados municipais e farmácias, enquanto que a demanda da indústria tem sido principalmente para a produção de medicamentos fitoterápicos e cosméticos. Esses e outros produtos da floresta estão fortemente associados aos conhecimentos dos povos e comunidades tradicionais, que fazem uso corrente dos óleos vegetais para diferentes fins. A exportação e óleos vegetais da Amazônia é frequentemente apontada como uma alternativa que poderia remunerar melhor as famílias extrativistas, tendo em vista que os preços praticados localmente têm estado muito baixo. Em diversas iniciativas e projetos há uma manifesta expectativa de que a produção organizada e sistemática
  • 6. 6 desses produtos poderia se converter numa importante fonte de renda ao se explorar nichos dos mercados nacional e internacional. Mas como bem descrevem Mendonza & Ferraz (2006), a exportação de óleos vegetais por pequenos produtores, associações e cooperativas do interior do Amazonas é di- ficultada pela burocracia dos procedimentos formais para a exportação deste tipo de produto. Isso envolve: i) a apresentação, ao IBAMA, de um comprovante de cadastro técnico de atividades potencialmente poluidoras ou utilizadoras de recursos naturais, registro de exporta- dor e autorização de transporte de produtos florestais; ii) à Receita Federal devem ser apresentados a fatura do produto e o “Bill of Loading”; iii) ao Sistema de Comércio Exterior um registro de exportador e declaração despacho de exportação e; iv) ao Ministério da Agricultura, o certificado fitossanitário do óleo. Figura 01 - Procedimentos necessários para a exportação de óleo de andiroba no Amazonas. Fonte: Mendonza & Ferraz (2006) O alto custo para a obtenção dessa documentação e do tempo a ser despendido para vencer todos os trâmites para a exportação toram praticamente inviáveis a exportação de óleos vegetais da Amazônia que quase sempre são produzidos em pequena esca- la e em unidades produtivas distribuídas por longas distâncias. Restam como opção, portanto, os mercados locais, estaduais e nacional.
  • 7. 7 Fonte: IBGE (2013); Herculano (2013) Os municípios da região do Rio Madeira, como Novo Aripuanã, Manicoré, Humaitá e Apui, se destacam como os maiores produtores nacionais de óleo de copaíba, segundo dados do IBGE (2017). Gráfico 01 - Volume total da produção (em ton) de óleo de copaíba segundo o Estado produtor - 2011 Maranhão Acre Mato Grosso Rondônia Para Amazonas 168 32 12 110 2. A PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE ÓLEOS VEGETAIS NO SUL DO AMAZONAS A semelhança do que ocorre em todo o Amazonas, na região sul do Estado a extração e o comercio de óleos vegetais oriundos de essências florestais ocorre de maneira irregular, sem que as cadeias produtivas e comerciais estejam devidamente estrutu- radas. Os processos de extração ocorrem quase sempre conforme as práticas tradicio- nais das comunidades ribeirinhas. Como a produção dos óleos ocorrem de maneira individualizada (por família) e em escala limitada, não há dados estatísticos confiáveis sobre o volume total da produção de cada tipo de óleo e nem sobre o destino final do óleo comercializado. A pesquisa do IBGE sobre “Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura – PEVS” re- lativos a 2015, por exemplo, não traz informações sobre a produção e comercializa- ção do óleo da andiroba, uma das essências florestais oleaginosas mais usadas no Amazonas. Também estão fora das estatísticas o murumuru (Astrocaryum murumu- ru), tucumã (Astrocaryum tucuma), mulateiro (Calycophyllum spruceanum), sangue de dragão (Croton lechleri), entre outros produtos da floresta. Já os dados sobre a produção do óleo de copaíba informam que o volume produzido no sul do Amazonas foi de 85 toneladas em 2015, o que corresponderia a um fatura- mento bruto de R$ 2 milhões. De toda forma, a extração e comercialização dos óleos vegetais pode representar uma fonte complementar de renda ao entrar na cesta de produtos que as famílias agro- extrativitas obtêm da floresta ao longo do ano. Como os sistemas produtivos dessas famílias é de natureza diversificada, a extração dos óleos pode ocorrer em meio a muitas outras atividades. Gráfico 01: Volume de óleo de copaiba (em ton) produzido nos municípios do sul do Amazonas em 2015. Fonte: IBGE (2017)
  • 8. 8 (2017). Fonte: IBGE (2017) Na falta de dados e informações sistematizadas sobre este mercado e seu potencial econômico, resta analisar alguns casos específicos em que famílias, grupos de famílias ou organizações tomaram a iniciativa de organizar a produção e a comercialização de óleos vegetais. Produção e comercialização do óleo de copaíba do PAE Aripuanã-Guariba Uma das experiências relevantes para o desenvolvimento do mercado de óleos vegetais no sul do Amazonas foi a comercialização, em 2012, de 400 quilos de óleo de copaíba por parte de um grupo de vinte agroextrativistas da Associação do Projeto Agroextrativista Aripuanã-Guariba, município de Apui. A transação foi realizada com a empresa suíça Firmenich, sediada em Cotia-SP, que utilizou o óleo como matéria prima para a produção de fragrâncias a serem comercializadas para outras empresas do ramo dos cosméticos. Gráfico 01: Volume de óleo de copaiba (em ton) produzido nos municípios do sul do Amazonas em 2015             Tapauá             Boca do Acre             Lábrea             Humaitá             Novo Aripuanã 49 21 6 43 1100 6 Gráfico 02: Volume de óleo de copaiba (em ton) produzido nos municípios do sul do Amazonas em 2015. Fonte: IBGE (2017) Os municípios da região do Rio Madeira, como Novo Aripuanã, Manicoré, Humaitá e Apui, se destacam como os maiores produtores nacionais de óleo de copaíba, segun- do dados do IBGE (2017). Na falta de dados e informações sistematizadas sobre este mercado e seu potencial econômico, resta analisar alguns casos específicos em que famílias, grupos de famí- lias ou organizações tomaram a iniciativa de organizar a produção e a comercializa- ção de óleos vegetais. 3. PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DO ÓLEO DE COPAÍBA DO PAE ARIPUANÃ-GUARIBA Uma das experiências relevantes para o desenvolvimento do mercado de óleos ve- getais no sul do Amazonas foi a comercialização, em 2012, de 400 quilos de óleo de copaíba por parte de um grupo de vinte agroextrativistas da Associação do Projeto Agroextrativista Aripuanã-Guariba, município de Apui. A transação foi realizada com a empresa suíça Firmenich, sediada em Cotia-SP, que utilizou o óleo como matéria prima para a produção de fragrâncias a serem comercializadas para outras empresas do ramo dos cosméticos. A iniciativa teve apoio do WWF-Brasil, que assessorou o grupo por meio de atividades voltadas para o fortalecimento institucional via associações e cooperativas, elabora- ção de projetos e adoção de boas práticas de manejo da copaíba. A questão do ma- nejo é fator essencial para que o óleo obtido da extração possa ver vendido dentro dos padrões de qualidade exigidos pela indústria. As negociações com a Firmenich tiveram início ainda em 2011. O transporte dos 400 quilos de óleo envolveu uma logística complexa. A primeira eta- pa do transporte ocorreu por via fluvial, desde a região do PAE até Manaus. Na capital
  • 9. 9 do Estado foi feita a emissão das notas fiscais e a regularização burocrática da carga, sendo esta a fase mais demorada de todo o processo. O próximo destino foi Porto Ve- lho, para onde a encomenda foi enviada novamente por via fluvial (Rio Madeira). De Rondônia a carga seguiu para São Paulo por via terrestre, onde chegou após cerca de mês após ter deixado a região do PAE Aripuanã-Guariba. Após receber o pagamento pela remessa do óleo as lideranças da associação fizeram a distribuição da receita entre os extrativistas envolvidos na atividade. 4. A PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE ÓLEOS VEGETAIS EM LÁBREA A várzea do Rio Purus é uma importante área de ocorrência de espécies florestais oleaginosas como a copaíba e a andiroba, por exemplo. Embora não haja estatísticas oficiais que atestem a extensão e o potencial econômico desses recursos naturais, é sabido que muitas famílias nas comunidades ribeirinhas extraem os óleos utilizando métodos tradicionais em pequena escala. O comercio ocorre quase sempre de ma- neira fracionada, seja no mercado da cidade de Lábrea, seja via comerciantes fluviais (regatões). Percebendo o potencial econômico do óleo de andiroba a Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Lábrea iniciou entre 2005 e 2007 um trabalho de sensibilização de algumas famílias para a comercialização coletiva da produção. A estratégia consistia em orga- nizar os grupos a fim aumentar a escala da produção e comercializar o óleo direta- mente no mercado de Manaus. Se tentava dessa forma escapar dos atravessadores locais, que pagavam um preço muito baixo pelo quilo do produto. O desafio era ar- mazenar o óleo em recipientes adequados, leva-los via barco até Manaus e realizar a venda a preços mais favoráveis. O lucro da venda seria então distribuído entre os extrativistas participantes. Um agente da CPT tinha um papel chave como intermedi- ário das transações. Além da complexidade da logística envolvida, a venda do óleo esbarrava na questão da qualidade, já que muitas vezes o produto chegada ao destino final com uma taxa de acidez muito elevada, o que compromete as suas propriedades químicas. O fato da extração ocorrer de forma artesanal e descentralizada torna ainda mais complexo o problema da qualidade do produto. Para se obter certa escala comercial a produção de cada família é misturada à das demais comprometendo uma padronização mínima do produto em termos de qualidade.
  • 10. 10 conservação dos recursos naturais das Terras Indígenas, incluindo os óleos vegetais como os da copaíba e da andiroba. As ações são partes de uma estratégia mais ampla que envolve a realização de estudos e diagnósticos participativos e a construção de planos de gestão territorial e ambiental. Óleos de copaíba (esquerda) e andiroba (direita) como comercializados no mercado municipal de Lábrea-AM Por meio do Projeto Raizes do Purus, financiado pela Petrobrás, A OPAN realizou o trabalho de assessoria técnica e apoio ao manejo e boas práticas da copaíba e da andiroba junto ao povo Jamamadi da Terra Indígena Jarawara/Jamamadi/Kanamanti. A adoção de boas práticas no processo de extração dos óleos resulta numa melhor qualidade do produto, com possibilidade de negociar melhores preços no mercado. Em 2014 o preço do quilo de óleo de copaíba obtido sem a adoção de boas práticas era vendido a R$ 12,00 no mercado de Lábrea. Segundo a OPAN, este valor pode chegar a R$ 30,00 com a adoção das boas práticas de manejo (OPAN, 2016). conservação dos recursos naturais das Terras Indígenas, incluindo os óleos vegetais como os da copaíba e da andiroba. As ações são partes de uma estratégia mais ampla que envolve a realização de estudos e diagnósticos participativos e a construção de planos de gestão territorial e ambiental. Óleos de copaíba (esquerda) e andiroba (direita) como comercializados no mercado municipal de Lábrea-AM Por meio do Projeto Raizes do Purus, financiado pela Petrobrás, A OPAN realizou o trabalho de assessoria técnica e apoio ao manejo e boas práticas da copaíba e da andiroba junto ao povo Jamamadi da Terra Indígena Jarawara/Jamamadi/Kanamanti. A adoção de boas práticas no processo de extração dos óleos resulta numa melhor qualidade do produto, com possibilidade de negociar melhores preços no mercado. Em 2014 o preço do quilo de óleo de copaíba obtido sem a adoção de boas práticas era vendido a R$ 12,00 no mercado de Lábrea. Segundo a OPAN, este valor pode chegar a R$ 30,00 com a adoção das boas práticas de manejo (OPAN, 2016). 1. Coleta e seleção das sementes 2. Armazenamento de todas sementes por um prazo de 3 a 15 dias 5. Extração do óleo por escorrimento ao sol, à sombra ou no tipiti 3. Preparo da massa: cozimento das sementes por um período de 1 a 3 horas 4. Repouso da massa por um período de 7 a 20 dias Figura 02: Itinerário técnico da extração tradicional do óleo de andiroba. A qualidade acaba sendo determinante no momento de negociação dos preços, ex- ceto quanto o produto é vendido localmente e em poucas quantidades. Por essas e outras razões a iniciativa acabou não prosperando. Nos anos recentes a organização indigenista Operação Amazônia Nativa (OPAN) vem trabalhando com comunidades indígenas no sentido de melhorar o aproveitamento e conservação dos recursos naturais das Terras Indígenas, incluindo os óleos vegetais como os da copaíba e da andiroba. As ações são partes de uma estratégia mais ampla que envolve a realização de estudos e diagnósticos participativos e a construção de planos de gestão territorial e ambiental. Óleos de copaíba (esquerda) e andiroba (direita) como comercializados no mercado municipal de Lábrea-AM
  • 11. 11 A Coopmas também instalou uma pequena usina de extração e pretende abs parte da matéria prima bruta para a produção de óleos de vários tipos, a exemp manteiga de cupuaçu. Manteiga de cupuaçu produzida na usina de extração da Coopmas, Lábrea. A iniciativa de produção e comercialização de óleos vegetais da Cooperar - B do Acre Projeto Valores da Amazônia, liderando pela organização SOS Amazônia com a financeiro do Fundo Amazônia/BNDES. O objetivo do projeto é “disseminar e ap iniciativas empreendedoras em nove instituições aglutinadas, com foco na geraçã trabalho e renda e no desenvolvimento sustentável da região”. Uma das instituições aglutinadas do Projeto Valores da Amazônia é a Cooper Agroextrativista do Mapiá e Médio Purus (Cooperar), que tem sua sede em Boc Acre. Por meio de recursos do projeto a Cooperar está instalando no local pequena usina de beneficiamento de produtos para a extração de óleos vegeta castanha, andiroba, gergelin, patoá, murumuru, entre outros produtos. A Cooperar também assume o trabalho de diagnóstico do potencial produtivo comunidades incluídas no projeto, o que inclui a aplicação de um questionário pa levantamento e sistematização dos dados relativos à produção. Além diss cooperativa contratou um profissional cuja missão é fornecer assessoria técnica grupos visando a adoção de boas práticas de manejo e também coordena trabalhos na usina de extração de óleos que está sendo montada na sede entidade, na cidade de Boca do Acre. Por meio do Projeto Raizes do Purus, financiado pela Petrobrás, A OPAN realizou o trabalho de as- sessoria técnica e apoio ao manejo e boas práticas da copaíba e da andiroba junto ao povo Jamamadi da Terra Indígena Jarawara/Jamamadi/Kanamanti. A adoção de boas práticas no processo de extra- ção dos óleos resulta numa melhor qualidade do produto, com possibilidade de negociar melho- res preços no mercado. Em 2014 o preço do quilo de óleo de copaíba obtido sem a adoção de boas práticas era vendido a R$ 12,00 no mercado de Lá- brea. Segundo a OPAN, este valor pode chegar a R$ 30,00 com a adoção das boas práticas de ma- nejo (OPAN, 2016). O principal parceiro comercial da iniciativa é a Co- operativa Mista Agroextrativista do Sardinha (CO- OPMAS), que compra e comercializa óleos vegetais Manteiga de cupuaçu produzida na usina de extração da Coopmas, Lábrea. do Rio Purus, mantendo boas relações lideranças indígenas e não indígenas. Em 2014 a cooperativa comercializou 1.600 quilos de óleo de copaíba produzidos por comuni- dades Jamamadi. Também faz a comercialização da castanha, borracha, feijão, pira- rucu, entre outros produtos. A Coopmas também instalou uma pequena usina de extração e pretende absolver parte da matéria prima bruta para a produção de óleos de vários tipos, a exemplo da manteiga de cupuaçu. 5. A INICIATIVA DE PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE ÓLEOS VEGETAIS DA COOPERAR - BOCA DO ACRE Projeto Valores da Amazônia, liderando pela organização SOS Amazônia com apoio financeiro do Fundo Amazônia/BNDES. O objetivo do projeto é “disseminar e apoiar iniciativas empreendedoras em nove instituições aglutinadas, com foco na geração de trabalho e renda e no desenvolvimento sustentável da região”.
  • 12. 12 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Persiste a dispersão da produção e a fragmentação dos circuitos de comercialização de óleos vegetais no Médio Purus e no Rio Madeira. Esta fragmentação se soma a pro- blemas de manejo que afetam a qualidade dos óleos produzidos localmente. Como consequência, os preços pagos pelo quilo de óleo nos mercados locais são quase sempre muito baixos. Uma das instituições aglutinadas do Projeto Valores da Amazônia é a Cooperativa Agro- extrativista do Mapiá e Médio Purus (Cooperar), que tem sua sede em Boca do Acre. Por meio de recursos do projeto a Cooperar está instalando no local uma pequena usina de beneficiamento de produtos para a extração de óleos vegetais da castanha, andiroba, gergelin, patoá, murumuru, entre outros produtos. A Cooperar também assume o trabalho de diagnóstico do potencial produtivo nas co- munidades incluídas no projeto, o que inclui a aplicação de um questionário para o levantamento e sistematização dos dados relativos à produção. Além disso, a coope- rativa contratou um profissional cuja missão é fornecer assessoria técnica aos grupos visando a adoção de boas práticas de manejo e também coordenar os trabalhos na usina de extração de óleos que está sendo montada na sede da entidade, na cidade de Boca do Acre. Um dos desafios da iniciativa é o licenciamento ambiental da usina de processamen- to de óleos junto ao Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas (IPAAM). Um pedido de licenciamento do projeto foi formalizado pela Cooperar junto ao IPAAM mas não houve retorno por parte do órgão. Depois de várias tratativas a cooperativa recebeu a sugestão de contratar um “despachante” para ficar encarregado de todos os trâmites burocráticos do licenciamento. No entanto, os custos desses serviços po- deriam chegar a R$ 20.000,00. Este caso fornece uma ideia das dificuldades operacio- nais e burocráticas que um empreendimento pode enfrentar ao se instalar na região. A maioria dos grupos e organizações locais não dispõem de recursos para arcar com os custos de transação envolvidos. Uma vez em funcionamento, a usina de extração de óleos da Cooperar poderá se con- verter em um importante laboratório para se testar o potencial comercial dos óleos vegetais do Médio Purus e acesso a nichos de mercado que possam remunerar me- lhor o trabalho das famílias extrativistas.
  • 13. 13 A solução para remunerar melhor a mão-de-obra famílias envolvidas nas atividades de extração poderia ter dois sentidos: i) investimento na organização coletiva e capa- citação dos extratores sobre boas práticas de manejo visando a obtenção de produtos de alta qualidade; ii) criação de canais de relacionamento comercial direto com as empresas consumidoras dos óleos, para negociação de preços e escala. Este segun- do caminho poderia lançar mão de parcerias com cooperativas locais que poderiam intermediar transações entre os grupos informais e as empresas. O relacionamento direto entre os grupos agroextrativistas (lado da oferta) e as em- presas compradoras (lado da demanda) deve levar em consideração a questão das salvaguardas sociais e ambientais no âmbito dos contratos. Um dos aspectos a serem bem observados nesse tipo de relação é a adequação aos termos da Convenção da Diversidade Biológica (CDB), assinada por mais de 190 países, que o uso sustentável da biodiversidade deve ter como parâmetro a repartição justa e equitativa dos bene- fícios obtidos por meio do aproveitamento dos recursos genéticos. Em outras palavras, as empresas que fizerem uso comercial dos recursos genéticos da Amazônia e dos conhecimentos tradicionais a ales associados deve repartir parte desses benefícios com as comunidades de onde eles foram extraídos. Na atual conjuntura, a cooperar em Boca do Acre e a Coopmas em Lábrea represen- tam as duas principais oportunidades de negócios para os agroextrativistas do Mé- dio Purus e também podem estimular a produção de óleos vegetais em maior escala, na medida em que garantem a compra do produto. Ao mesmo tempo, tem condições de regular os preços em função da qualidade, de forma a remunerar melhor aqueles produtores que adotam boas práticas de manejo. O trabalho junto a essas duas iniciativas pode trazer um conhecimento mais apro- fundado sobre os desafios da cadeia de valor pelo lado da oferta, como o potencial produtivo, número de famílias envolvidas na atividade de extração e atributos de qualidade do produto.
  • 14. 14 7. REFERÊNCIAS Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica - IBGE (2016). Produção da extração ve- getal e silvicultura – 2015. Rio de Janeiro: IBGE. Herculano, Francisco Elno Bezerra (2013). Produção Industrial de Cosméticos: o pro- tagonismo da biodiversidade vegetal da Amazônia. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Amazonas. Manaus: UFAM Mendonça, A.P. & Ferraz I.D.K. (2006). Procedimento para a exportação de óleo de an- diroba no Amazonas. Revista Fitos. Vol. 2, No 2, set/2006. Mendonça, Andreza P., Ferraz, Isolde Dorothea Kossmann (2007). Óleo de andiroba: pro- cesso tradicional da extração, uso e aspectos sociais no estado do Amazonas, Brasil. Acta Amazônica. Vol. 37(3) 2007: 353 – 364 Operação Amazônia Nativa (2016). Óleos Jamamadi se destacam no mercado. OPAN Notícias. http://amazonianativa.org.br/Noticias/oleos-Jamamadi-se-destacam-no- -mercado,2,266.html