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1
JACQUES B. DOUKHAN
Segredos
Do
Apocalipse
O Apocalipse Através de Olhos Hebraicos
2
Obs: Esta tradução ainda está em rascunho. Aguardando
revisão
3
Segredos do Apocalipse
O Apocalipse Através de Olhos Hebraicos
Jacques B. Doukhan
4
Versão utilizada para os textos bíblicos:
João Ferreira de Almeida Atualizada
do site www.BibleGateway.com
5
Conteúdo
Prefácio: Um Livro Estranho ............................................... 9
Introdução : “Ele Está Chegando” (Apocalipse 1:4-10) ........ 18
Primeira Parte: Tempestades
Capitulo 1: Carta Aberta às Igrejas (Apocalipse 1:11-3:22) 25
Capítulo 2: A Jihad Cristã (Apocalipse 4-8:1) ................... 51
Capítulo 3: Os Shofars da Morte (Apocalipse 8:2-11:10) .... 77
Segunda Parte: O Céu é Vermelho
Capítulo 4: O diabo e a Mulher (Apocalipse 12) .................107
Capítulo 5: Homens e Bestas ............................................... 114
Capítulo 6: Anjos Clamando (Apocalipse 14:6-20) ............ 123
Terceira Parte: Notícias do Oriente
Capítulo 7: As Taças do Mundo (Apocalipse 15-18) ......... 143
Capítulo 8: Guerras nas Estrelas (Apocalipse 19; 20) ........ 169
Capítulo 9: Jerusalém de Ouro (Apocalipse 21-22:5) .........188
Conclusão: “Estou Chegando” (Apocalipse 22:6-21) ........ 200
6
7
Para minha filha Abigail,
Que partilhou comigo o peso da Palavra
e a luz da visão.
8
9
Prefácio
UM LIVRO ESTRANHO
(Apocalipse 1:1-3)
O Mishnah conta a história de quatro famosos sábios que
entraram no Pardes, o paraíso místico da visão apocalíptica1
.
Porém nenhum sobreviveu à visita. O primeiro morreu na hora, o
segundo perdeu sua fé e o terceiro se tornou demente. Quanto ao
quarto... se proclamou o messias.
Esta parábola – em tom de gozação – mostra-nos uma
importante advertência: O conceito do Apocalipse é, de fato,
perigoso. Ele tem uma aura de morte, julgamento e medo sobre si.
Às vezes o medo tem se tornado tão paralisante que alguns não
podem nem pensar sobre ele. Alguém disse uma vez “ou o
apocalipse acha um homem maluco, ou ele o deixa maluco.” De
David Koresh nos Estados Unidos, Shoko Asahara no Japão, e Luc
Jouret na Europa – Para todos esses “místicos” que ainda correm
para Jerusalem2
para encontrar o Messias ou para ser um – o
conceito de apocalipse tem inspirado muitos homens loucos a cair
em grande delírio.
Antes de nos aventurarmos dentro do livro bíblico de
Apocalipse, precisamos, contudo preparar-nos a nós mesmos e
estarmos certos de que vamos lê-lo e entendê-lo da maneira que
Deus quer que ele seja entendido. Para esse propósito, os primeiros
três versos indicam a natureza do livro e serve como guia de como
devemos nos aproximar dele – e desfrutá-lo e sobreviver.
♦♦♦♦
Primeiro de tudo, o autor ele mesmo é um judeu. Seu nome
hebraico Yohanan (YHWH é gracioso) era relativamente comum
10
entre seu povo. Ele aparece em tempos bíblicos3
e Flavius
Josephus menciona 17 diferentes homens com este nome. É
também o nome de rabinos antigos famosos como Yohanan ben
Zakkai (primeiro século) ou Yohanan o Sandal Maker (segundo
século). Nosso Yohanan é provavelmente a mesma pessoa que
escreveu o Evangelho de João, Yohanan ben Zebedeh, irmão de
Tiago e discípulo amado de Jesus (ou Yeshua). A tradição cristã é
unânime nesse caso. Policarpo, bispo de Éfeso (130-196 EC),
claramente atesta a presença de Yohanan em Éfeso, que pode
explicar o interesse particular do autor com a igreja de Éfeso e da
Ásia4
. O autor do Apocalipse é real. O lugar que ele estava,
“Patmos,” era uma pequena ilha de 16 milhas2
cercada pelo Mar
Egeu (a palavra “mar,” thalassa em grego, aparece 25 vezes no
Apocalipse). De acordo com a tradição, Domiciano, o primeiro
imperador (81-96 EC) que levou sua própria divindade a serio e
requereu que seu povo o adorasse como Deus, exilou Yohanan e
sentenciou-o a trabalho pesados na pedreira. Os judeus e cristãos a
quem ele chamou de “esses ateístas” desde que eles lhe recusaram
a honra de deidade, particularmente aborreceram-no. De acordo
com Jerônimo5
, os romanos deportaram Yohanan 14 anos depois
da perseguição de Nero (94 EC) e libertaram-no dois anos mais
tarde depois da morte de Domiciano (96 EC). Tal deportação era
comum sob o regime romano e normalmente envolvia figuras
políticas. Os prisioneiros perdiam todos seus direitos civis e
propriedades. Na introdução do Apocalipse, Yohanan identifica a
si mesmo como uma testemunha, um “martus” (Apo 1:2), que
estava “sofrendo” e “estava na ilha de Patmos por causa da Palavra
de Deus” (verso 9). Desarraigado de seu passado, sua família,
amigos, residência e seus parentes; esmagado por trabalho pesado
e humilhação; não lhe deixado nada senão esperança, o autor do
Apocalipse foi então um “mártir” que alcançou Kiddush há-Shem
(Santificação do nome) na maneira perfeita da tradição judaica. E
sua nostalgia de sua terra natal e a confrontação diária com seus
opressores serviu apenas para aumentar a identidade judaica de
Yohanan.
Um livro Hebraico
O Apocalipse é, contudo, mais hebreu que qualquer outro
livro do Novo Testamento. Ele contem mais de 1000 alusões às
11
Escritura Hebraicas, incluindo 400 referências explicitas e 90
citações literais do Pentateuco e dos Profetas. Com relação a
citações textuais, o Apocalipse é mais fidedigno do original
hebraico do que de sua tradução grega, a Septuaginta. Ernest
Renan observou que “a linguagem do Apocalipse é traçada do
hebraico, pensada em hebraico e dificilmente pode ser entendida
por aqueles que não conhecem o hebraico.”6
Esta característica
convida nos a considerar a base e perspectiva hebraica do livro.
Para entender o Apocalipse, devemos lê-lo à luz das Escrituras
Hebraicas. Esta é a principal perspectiva do presente comentário.
Como procuramos achar as intenções do autor, vamos analisar as
referências às Escrituras Hebraicas em seu próprio contexto
hebraico e judaico. Nossa interpretação do Apocalipse vai incluir
não apenas uma exegese direta das Escrituras Hebraicas quando
necessária, mas também vai levar em consideração o específico
mundo judeu e tradições que o livro reflete.
Um segredo Revelado
Desde o início o livro é enraizado nos “segredos de
Daniel.” Até a primeira palavra, “revelação,” coloca-o na presença
de um segredo que está para ser revelado. “Revelação,” ou
“apocalipse,”7
vem do grego apokalupto, “para revelar um
segredo,” Acontece que este verbo “revela” é também uma das
palavras chave do livro de Daniel (glh), na qual ele ocorre sete
vezes. Igual à primeira palavra do Apocalipse, ele também
introduz visões proféticas8
e está associado com a palavra
“segredo” (razah). Este eco do livro de Daniel na primeira palavra
do Apocalipse sugere uma conexão especial entre os dois trabalhos
proféticos. As “revelações de Yohanan” levam-nos de volta aos
“segredos de Daniel.”
Além disso, o Apocalipse começa com uma bem-
aventurança que faz eco à última bem-aventurança do livro de
Daniel: “Bem-aventurado aquele que lê e bem-aventurados os que
ouvem as palavras desta profecia e guardam as coisas que nela
estão escritas; porque o tempo está próximo.” (Apo 1:3). Daniel
declarou: “Bem aventurado é o que espera e chega aos mil
trezentos e trinta e cinco dias. Tu, porem, vai-te, até que chegue o
fim; pois descansarás, e estarás no teu quinhão ao fim dos dias.”
(Dan 12:12,13).9
12
Desde o início, o autor do Apocalipse coloca-se na mesma
perspectiva da profecia de Daniel como é sugerida pelo título
“Revelação” e a primeira bem-aventurança que introduz o livro e
orienta sua leitura. O Apocalipse alude mais ao livro de Daniel do
que qualquer outra porção das Escrituras Hebraicas10
. Até a
expressão técnica “Eu Yohanan,” que o profeta usa para introduzir
sua visão11
faz eco ao “Eu Daniel” do livro12
do Antigo
Testamento. Ambos os livros tem fraseologia similar. E ambos têm
as mesmas visões, os mesmos temas, a mesma implicação ética e a
mesma perspectiva profética, cobrindo a mesma extensão de
tempo13
.
As semelhanças entre os livros de Daniel e Apocalipse
fornecem nossas primeiras senhas de como devemos ler o último
livro. As referências ao livro de Daniel guiam-nos quando
tentamos interpretar o Apocalipse. Recomendo que todos leiam o
livro de Daniel e meu comentário Segredos de Daniel14
como base
da direção de como o Apocalipse emprega seus temas e alusões.
Também, a bem-aventurança que introduz o Apocalipse
sugere de início a metodologia que deve caracterizar qualquer
aproximação a este livro. A passagem se divide em três verbos:
“ler”, “ouvir” e “toma no coração” (ou “guarda”).
O livro primeiramente nos chama para ler. “Bem-
aventurado é aquele que lê.” As bênçãos emergem da revelação,
“um segredo revelado,” um Apocalipse. A bem-aventurança
sugere que felicidade implica na necessidade de uma revelação. De
outra forma poderemos perder o foco. De fato, a natureza da
leitura deste livro é essencialmente religiosa. Interessantemente, o
verbo “ler” é o único na forma singular: “aquele que lê.” Os outros
verbos estão na forma plural: “aqueles que ouvem.” “aqueles que
guardam.” O leitor tem uma audiência - ele não está sozinho. As
palavras que ele lê devem ser ouvidas pela multidão - “aqueles que
ouvem,” de acordo com a prática litúrgica da sinagoga. Nós
estamos no contexto sagrado de adoração corporativa. O
Apocalipse é para ser lido como uma liturgia; como uma
experiência emocional e mística; como poesia, com seus ritmos,
símbolos, e lições espirituais.
Mas o Apocalipse é muito mais que um exercício
espiritual. As Escrituras chamam estas palavras de “profecia.”
Lidando com mais que emoções, o livro não é endereçado apenas a
13
místicos e poetas. De fato, suas palavras ressoam longe além dos
muros do templo, longe além das premissas do serviço de
adoração. Mais que uma liturgia, o Apocalipse é um livro cujo
leitor deve estudar e entender. Mas esta aproximação requer
esforços intelectuais. Nós temos que “ler” a profecia, o que
significa no contexto do pensamento hebraico, que temos que
entendê-la (I Reis 3:9; Nee. 8:3; Jer 6:10; Apo 2:7; 3:22). Somente
então ela irá “revelar segredos” e iluminar o curso atormentado da
história até seu completo cumprimento, como sugerido nas últimas
palavras das bem-aventuranças: “por que o tempo está próximo”
(aproximação histórico-profética). A concepção hebraica do
“ouvir” também implica uma disposição de vivenciar o que
alguém entendeu. O Shemá Israel (Deut. 6:4-9) é mais que uma
melodia agradável para se admirar. Em hebraico, o verbo “ouvir”
(escutar, entender) é sinônimo do verbo “guardar” e “obedecer.”
Esta é exatamente a mensagem das últimas palavras de nossa
passagem: “Bem-aventurados os que ouvem as palavras desta
profecia e guardam as coisas que nela estão escritas.” Alem da
leitura litúrgica que canta em nossos ouvidos e a profecia que
desafia nossa mente, o livro visa conduzir-nos a entregar nossa
vida a Deus, para fazê-la no tom com “as coisas que nela estão
escritas” (aproximação existencial). As bem-aventuranças
apontam para as primeiras palavras do livro, identificando a
mensagem escrita como uma revelação de cima, “a revelação...
que Deus deu” (Apo. 1:1). Nós devemos entender a “revelação de
Yohanan” (o mais antigo titulo do livro)15
como a revelação para
Yohanan. O Apocalipse é assim verdade divina no corpo da
palavra escrita, chamando para o penoso esforço da busca religiosa
e apaixonada do significado do texto (aproximação exegética).
Uma Estrutura da Menorah
Esta multiplicidade de aproximações que devemos usar
para estudar o Apocalipse, já a encontramos apontada por toda a
estrutura – o que eu chamo de menorah, ou padrão de sete vezes –
que apóia todo o livro (ver a tabela Menorah, p. 14). A estrutura do
Apocalipse tem as seguintes características:
1. Ela se abre em sete ciclos de visões, paralelas e
simultâneas, não diferentes do livro de Daniel16
, em forma
chiastica (da letra grega chi tendo a forma de um X) significando
14
que a segunda metade do ciclo é no paralelo inverso ao primeiro
(ABC/C‟B‟A‟).
2. No inicio de cada um dos sete ciclos a visão retorna ao
templo com a nota litúrgica que alude ao calendário dos dias
santos em Israel (como prescritos em Levíticos 23). O livro ainda
coloca cada ciclo profético dentro da perspectiva de um festival
judaico, aquele muitas vezes aludido dentro do próprio ciclo17
. O
autor convida-nos a ler o Apocalipse à luz das festas judaicas18
.
rituais que abrigam significado simbólico na história.
A Forma Menorah do Apocalipse19
Fase da terra (1-11:18) Fase final (11:9-14) Fase celestial (15-22)
15
Alem disso, como no livro de Daniel, o Apocalipse se
divide em duas seções principais (histórica/terrestre e
escatológica/celestial), no meio da qual aparece o julgamento de
Deus durante o fim dos tempos e retorno do Filho do Homem
(Apo. 14; cf,. Dan.7).20
A primeira parte do Apocalipse é
primariamente uma visão profética da história da época da vida de
Yohanan até o advento de Deus, enquanto a segunda parte lida
com a época do advento de Deus até a descida da cidade celestial.
Em lugar de interpretar o Apocalipse como uma mera reflexão dos
eventos contemporâneos de seu autor (interpretação preterista),21
devemos antes interpretá-lo de acordo com sua própria
perspectiva, como uma visão das coisas por vir (interpretação
histórico-profética), com todos os riscos de fé e responsabilidade
que esse tipo de leitura vincula (aproximação existencial). Esta
“interpretação histórico-profética” não é apenas aquela
interpretação mais confiável pelo autor, mas é também a
interpretação mais antiga.22
O livro expande, desenvolve e intensifica gradualmente
seus temas apocalípticos. Yohanan aqui segue o exemplo de
Daniel, que repete e expande suas visões (ver especialmente
Daniel 2, 7 e 8). As “revelações de Yohanan” são também uma
revelação singular. O título Apocalipse implica tanto em singular
como plural. Nossa interpretação dessas visões deve, contudo,
levar em consideração esta forma literária de repetição e
intensificação (interpretação recapitulatória). Esta interpretação
obviamente desafia a um entendimento cronológico do Apocalipse
que vê os eventos preditos pelos selos como seguindo aqueles
preditos pelas cartas; aqueles preditos pelos shofars depois dos
selos, e assim vai (interpretação futurista e dispensacionalista).
♦♦♦♦
Todas essas observações preliminares sobre a natureza,
propósito e forma do Apocalipse indica que este livro misterioso
não foi designado para ser amedrontador e estranho, mas em vez
disso é uma revelação clara para nossas questões e acalma nossos
medos sobre o futuro.
16
1
Hag. 14b; cf. TJ Hag. 2:1, 77b
2
Ver Yair Bar-El, Rimona Durst, Gregory Kartz, Josef Zislin, Ziva Strauss e
Haim Y. Knobler, “Jerusalem Syndrome.” The British Journel of Psychiatry 176 (Jan
2000):86-90.
3
Jer. 40:16; Eze 8:12; Nee. 12:23; I Cron. 3:15; etc.
4
Polycrates, From His Epistle to Victor and the Roman Church Concerning the
Day of Keeping the Passover (Ante-Nicene Fathers, vol 8, p.773), mencionada em
Eusebio, Church History 5.24.3 (Nicene and Post-Nicene Fathers Segunda Serie, vol 1,
p.242).
5
Jeronimo, Lives of Illustreous Men 9 (Nicene and Post-Nicene Fathers,
Segunda Serie, vol. 3, pp. 364, 365).
6
Ernest Renan, Antichrist: Including the Period From the Arrival of Paul in
Rome to the End of the Jewish Revolution, trans e ed. Joseph Henry Allen (Boston:
1897), p. 17.
7
A palavra “apocalipse” tem dado seu nome a uma importante tendência
literária , tanto em tradições judaicas como cristãs, e aplica-se tanto a fontes bíblicas
como não bíblicas. Nas Escrituras Hebraicas, exemplos incluem Daniel, Ezequiel, Ageu,
Zacarias e algumas partes de Isaias, etc.; No novo testamento nos encontramos o gênero
em Mateus 24; Marcos 13; I Tessalonicenses 4:13-18; II Tessalonicenses 2:1-12; I
Coríntios 15:20-26, 51-53. Fora da Bíblia (escritos apócrifos e escritos pseudo-
epigráficos) nós classificamos os escritos judaicos I Enoque, II Enoque, IV Esdras (II
Esdras 3-14), II Baruc, a Ascenção de Moises, o Apocalipse de Abraão, o Apocalipse de
Adão, o Apocalipse de Elias, o livro de Jubileus, o Testamento dos Vinte Patriarcas, e
alguns textos dos escritos do Mar Morto como apocalípticos Entre os escritos cristãos,
nos consideramos o Apocalipse de Pedro, o Apocalipse de Paulo, o Apocalipse de Isaias,
etc., como apocalípticos. Nós devemos, contudo, rever que a classificação dos trabalhos
acima como “apocalípticos” continua arbitrária e artificial. Alem disso, o Apocalipse
retém certas características que o diferencia dos outros escritos “apocalípticos” (sua
intenção profética, suas implicações éticas, seu otimismo, seu autor [cujo nome não é um
pseudônimo de um predecessor mais ilustre], etc).
8
Dan. 2:19, 22, 28, 29, 20, 47; 10:1.
9
O Apocalipse contem sete bem-aventuranças (Apo. 1:3; 14:13; 16:15; 19:9;
20:6; 22:7.14). Todas as sete aludem a vinda de Deus.
10
Ver Henry Barclay Swete, The Apocalypse of St. John; The Greek Text With
Introduction, Notes and Indices, 3a
ed. (Londres: reeditado 1917), p. cliii.
11
Cf. Apo 1:4, 9; 22:8.
12
O livro de Daniel emprega a expressão sete vezes para introduzir a visão
apocalíptica (Dan 7:15, 28; 8:15, 27; 9:2; 10:2, 7).
13
Para paralelos e conexões entre Daniel e o Apocalipse, ver Richard Lehmann,
“Relationships Between Daniel and Revelation.” No Symposium on Revelation-Book 1,
ed Frank B. Holbrook, Daniel and Revelation Committee Series (Silver Spring, Md.:
Biblical Research Institute, General Conference of Seven-day Adventists, 1992), vol. 6,
pp. 131-144. Cf. Jean-Pierre Ruiz, Ezekiel in the Apocalipse: The Transformation of
Profetic Language in Revelation 16, 17-19, 10, European University Studies, Series
XXIII, Theology (Frankfurt am Main: 1989), vol. 376; e G.K. Beale, The Use of Daniel
in Jewish Apocaliptic Literature and in the Revelation of St John (Lanham. Md.: 1984).
14
Jacques B. Doukhan, Secrets of Daniel: Wisdom and Dreams of a Jewish
Prince in Exile (Hagerstown, Md.: Review and Herald Pub. Assn., 2000).
15
The Canon Muratori , um documento do Segundo século, e os escritos dos
Pais da Igreja atestam isso (Ver David E. Aune, Revelation, World Biblical Commentary
[Dallas: Word Books, 1997], vol 52, p. 4).
17
16
Ver Jacques B. Doukhan, Daniel: The Visiono f the End, rev. ed. (Berrien
Spriongs, Mich.: Andrews University Press, 1989), pp. 3-6.
17
As Festas judaicas indicadas nos títulos deve ser no original hebraico:
Shabbat (the Sabbath), Pessah (Páscoa), Shavuot (Pentecostes), Rosh Hashanah (Ano
Novo ou Festa das Trombetas), Kippur (Dia do Perdão), Sukkot (Festa dos
Tabernáculos).
16
Por um padrão similar das festas judaicas no Evangelho de João, ver George
R. Beasley-Murray, John, 2ª ed., Word Biblical Commentary (Nashville: 1999), vol. 36,
p.lix.
19
Cf. K.A. Strand, Interpreting the Book of Revelation: Hermeneutical
Guidelines, With Brief Introduction to Literary Analysis, rev. and enl. ed; (Worthington,
Ohio: Ann Arbor Publishers, 1976), p. 51.
20
Ver Doukhan, Secrets of Daniel, p.100.
21
O jesuita espanhol Luis de Alcazar (1554-1614) introduziu primeiro esta
interpretação. Em contraste com os Reformadores que aplicam esta profecia ao papado, o
teólogo jesuíta aplica-a ao judaísmo e à Roma pagã contemporânea a Yohanan. O
nacionalismo alemão no século dezenove desenvolveu esta visão, e isso pavimentou o
caminho para o método crítico-histórico.
22
Irineu de Lyon (130-202 EC) manteve essa interpretação. Nascido apenas
pouco tempo depois do aparecimento do Apocalipse, este Pai da Igreja foi discípulo de
Policarpo, um mártir que se encontrou pessoalmente com Yohanan (ver Eusébio Church
History 5. 20. 6 [Nicene and Post-Nicene Fathers, Segunda Série, vol 1, pp. 238, 239]).
A igreja, sob a influência de Hipólito e Origenes, descartou a perspective durante a Idade
Média por mais alegórica, espiritual e moral que é esta interpretação, mas ela reapareceu
no século dezesseis com os Reformadores.
18
Introdução
“ELE ESTÁ CHEGANDO”
(Apocalipse 1:4-10)
O Deus de Israel
Das primeiras palavras de saudação do livro, o autor
sustenta sua profecia no Deus de Israel: “Da parte daquele que é, e
que era, e que há de vir” (Apo 1:4). A frase recorda-nos do modo
como Deus se anunciou a si mesmo para Moisés (Exo 3:14): “I
AM WHO I AM.” O Deus de Israel se apresentou Ele mesmo
como o Deus que não pode ser captado, ou limitado por, uma
definição teológica. Ele é simplesmente o Deus “que é”
exatamente aqui em nosso presente. Mas o Deus que nós adoramos
hoje é o mesmo adorado no antigo Israel. O segundo verbo, “que
era,” lembra-nos que Ele foi o Deus de Abraão, Isaac e Jacó.
Também Ele “é” no presente exatamente como Ele “foi” no
passado e mais que justo “será” no futuro. Em vez de usar o verbo
existencial “ser” para o futuro, Yohanan muda o verbo, trocando
pelo verbo “ser” (conjugado no passado e no presente) do verbo
“vir.” De fato, Deus existe, Mas apesar de todo o conhecimento
que temos adquirido sobre Ele e de tudo que temos experimentado
como Ele intervém na história, Ele permanece sempre remoto, por
que Ele ainda não veio. Apenas o futuro sustenta a promessa de
sua vinda. O futuro sustenta para nós muito mais que o passado e o
presente. Mais que o Deus da memória, mais que o Deus da
existência, da espiritualidade e da comunhão, Ele é o Deus “que
está para vir.”
19
O livro confirma mais adiante sua mensagem por uma
referência ao Espírito “diante do seu trono” (Apo 1:4). As
predições do Apocalipse não são para produzir alguma leitura
astrológica ou física. Elas são certas porque procedem do trono de
Deus, do soberano Juiz do universo, que sabe todas as coisas.
Quando o profeta Isaias enumera os sete espíritos que estão
para coroar o Messias, ele faz isso para ilustrar o julgamento claro
e justo que vai preceder o estabelecimento do reinado de Deus:
“Ele... não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem decidirá
segundo o ouvir dos seus ouvidos... o lobo morará com o
cordeiro... Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo
monte; porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor” (Isa.
11:3-9).
Como o Espírito do alto revela os segredos da salvação e
julgamento do mundo, o livro se define a si mesmo mais uma vez
como um Apocalipse - um desvendar. As palavras do profeta então
empregam um calor, um tom mais intimidador, pois ele declara
que tais segredos vêm “de Jesus Cristo” (Apo. 1:5). Johanan
descreve três atributos de Cristo (“fiel testemunha,” “primogênito
dos mortos,” e “príncipe dos reis da terra” [verso 5]) que estão
relacionadas com as três ações (“aquele que nos ama,” “nos
libertou,” e “nos fez reinos” [verso 6]).
Os três atributos de Yeshua aludem aos três estágios
principais da salvação: (1) Sua encarnação, como testemunha de
Deus entre a humanidade; (2) Sua morte, que nos salvou e Sua
ressurreição; e finalmente (3) Sua realeza, que garante nossa
cidadania em Seu reino.
O apóstolo Paulo, como ele refletiu sobre a ressurreição,
descreveu os mesmos três estágios: “Mas na realidade Cristo foi
ressuscitado dentre os mortos, sendo Ele as primícias dos que
dormem... Então virá o fim quando ele entregar o reino a Deus o
Pai... pois é necessário que ele reine até que haja posto todos os
inimigos debaixo de seus pés”. (I Cor. 15:20-25). E nós temos a
mesma progressão temática no discurso de Pedro para a multidão
no Pentecostes (Atos 2:22-25; cf. Atos 7:56).
O plano todo da salvação, como entendido pelos primeiros
cristãos judeus, serve como um prelúdio da profecia. O Deus que
veio é nada mais que o Messias Ele mesmo. Mas a profecia tem
mais que somente as boas novas da libertação. Não esperamos
20
meramente por um evento, mas também por uma pessoa que
amamos e quem nós conhecemos, e que nos ama e nos conhece.
Este relacionamento pessoal torna a espera muito mais intensa.
A primeira profecia que o Apocalipse apresenta é aquela da
vinda do Messias. O livro descreve o Messias como Ele foi
descrito no livro de Daniel: “Eis que vem com as nuvens” (Apo.
1:7; cf. Dan 7:13). A expressão parece forçada e tem às vezes uma
conotação de riso e até de zombaria. Alguns conceituaram
interpretar melhor no sentido espiritual, como Deus habitando no
coração e na alma de alguém. Outros a entenderam como sendo
pouco mais que mitológica. Ainda que claramente o profeta tenha
em mente algo completamente real como está na declaração:
“Todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram” (Apo.
1:7). O texto aqui se refere à profecia pronunciada por Zacarias:
“E olharão para aquele a quem traspassaram, e o prantearão como
quem pranteia por seu filho único; e chorarão amargamente por
ele, como se chora pelo primogênito. Naquele dia será grande o
pranto em Jerusalém, como o pranto de Hadade-Rimon no vale do
Megido.” (Zac. 12:10,11).
A alusão à Zacarias evoca a idéia e imagem de choro e
lamentação. Diante “E nos fez reino, sacerdotes” (Apo 1:6),
aqueles que apaixonadamente esperam pela vinda do Messias, do
alto, Yohanan aponta para outro campo – “os reis da terra,” que
confiam apenas no poder terrestre imediato e tangível. Ele não
inclui apenas os romanos que direcionaram os pregos e viram-No
morrer com seus próprios olhos, mas também aqueles que
indiretamente contribuíram com sua morte: Os sacerdotes
invejosos de Sua popularidade; os discípulos cristãos que
covardemente silenciaram; e finalmente a multidão toda de
homens e mulheres que, através dos tempos, tem de uma forma ou
de outra, participado de seu assassinato. Yohanan prediz que eles
serão desapontados. Em lugar de se tornarem reis e herdeiros da
vida eterna, eles lamentarão por Ele, não porque Ele vai morrer,
mas por que na Sua vinda eles irão então entender a extensão de
seu mau julgamento. As Escrituras comparam a tristeza deles com
aquela profunda emoção que temos quando alguém amado morre.
É de fato uma nota irônica. Aquele que eles desejaram ver morto –
aquele que eles realmente mataram – eles agora lamentam
21
igualmente quando verão com seus próprios olhos que Ele não está
mais morto.
Uma resposta litúrgica confirma que o Messias vai
retornar: “Sim! Amém” (verso 7). As palavras parecem proceder
diretamente da boca do traspassado, e é Ele que agora fala: “‟Eu
sou o Alfa e o Ômega‟ diz o Senhor Deus, „aquele que é, e que era,
e que há de vir, o Todo Poderoso‟” (verso 8)). Ele é o “Senhor
Deus,” o YHWH Elohim da Criação (Gen. 2), o Deus tanto do
inicio como do fim do tempo; “o Alfa e o Ômega” (a primeira e a
última palavra do alfabeto grego); aquele “que é, e que foi” e
especialmente aquele “que virá”; e “o Todo-Poderoso,” o El
Shaddai.
Este último nome é um dos mais antigos nomes de Deus na
tradição hebraica. Israel se lembraria dEle, o Deus dos patriarcas,
como o Deus das promessas e bênçãos (Gen. 28:3; 35:11).
Shabbat
Yohanan recebe sua visão no “Dia do Senhor” (Apo. 1:10).
A maioria dos leitores cristãos pensa imediatamente no domingo,
esquecendo que o escritor é judeu, alimentado pelas Escrituras
Hebraicas e ensinado na tradição de seus ancestrais. Além disso, a
história não começa a referir “Dia do Senhor” como domingo até o
segundo século EC. Logo é mais plausível pensar que “Dia do
Senhor” é igual a dia de Sábado, também chamado um dia “para o
Senhor” nas Escrituras Hebraicas (Exo. 20:10; Deut. 5:14).
Também o uso freqüente do numero 7 no Apocalipse justifica
nossa alusão ao dia de Sábado como a abertura das festas do livro.
Além disso, o Sábado introduz o ciclo anual de festas delineado
em Levíticos 23: “Seis dias se farás todo trabalho, mas o sétimo
dia é o sábado do descanso solene, uma santa convocação; nenhum
trabalho será feito, é o sábado do Senhor em todas as vossas
habitações” (Lev 23:3).
De acordo com a tradição bíblica, o Sábado foi a primeira
festa de Deus que a humanidade observou (Gen. 2:1-3). Foi
também o único dia que Deus santificou antes de dar os
mandamentos no Sinai (Exo 16:23, 29), e o único dia que não
depende de estações, movimentos dos corpos celestes, ou qualquer
outro evento histórico. Logo é perfeitamente natural começar com
o Sábado.
22
Do mesmo modo é altamente provável que Yohanan está
aludindo ao outro “Dia do Senhor,” o Dia de YHWH dos antigos
profetas hebreus (Isa. 13:9-13; Eze 30:1-5; Joel 2:1-11; Amós
5:18-20; Sof. 1:14-18; etc.), o dia do juízo e o dia de Sua vinda e
do fim dos tempos. O contexto escatológico de nossa passagem
confirma tal interpretação.
Em outras palavras, Yohanan recebeu sua visão sobre o dia
do Senhor (dia do juízo final e da Parousia). Durante o dia do
Sábado (o outro dia do Senhor). Que o profeta tenha associado os
dois dias não é normal. O Sábado tem sempre recebido um
sobretom escatológico na Bíblia (Isa. 58:14; 61:1-3), tão bem
quanto na tradição judaica, que entende o Sábado como o sinal do
dia da libertação e “o antegozo do Mundo por vir.”1
De repente Yohanan ouviu uma grande voz por trás dele
(Apo. 1:10). O pensamento hebraico situa o passado “antes” aos
olhos de alguém, porque ele é propagado diante de nossa
percepção, enquanto o futuro está ainda para acontecer e
consequentemente vem de detrás de nós2
. Desse modo, por
implicação a grande voz representa o futuro.
Para Yohanan, a voz soa próxima, familiar. É a voz do
Messias que ele conheceu pessoalmente e quem ele amava. A voz
presente de Yeshua ressuscitado. Mas ela é também a voz que
chega de muito longe, do futuro – a voz de Deus que está
chegando.
1
Midrash Rabbah, Gênesis 17.5.
2 A palavra hebraica qedem, significando “antes,” designa que já ocorreu, o
passado; a palavra hebraica altar, significando “atrás,” indica o que vem depois, o
futuro. Em contraste, ocidentais modernos tendem a ver o passado como atrás e o futuro
como adiante. Neste sentido ver Thorleif Boman, Hebrew Thouyght Compared with
Greek (New York; re-impresso 1970).pp. 149, 150.
23
Primeira Parte
TEMPESTADES
João agora esboça uma imagem que descreve Yeshua
(Jesus) como tendo uma dupla identidade. O Yeshua da visão do
profeta assemelha-se um “filho do homem” comum, igual ao
Yeshua dos Evangelhos,* um de carne e sangue morando entre
homens e mulheres daquele tempo. Mas Ele também tem as
características do glorioso “Filho do Homem” de Daniel, que, com
Seus cabelos como puríssima lã (Dan 7:9) o olhos de fogo (Dan
10:6), participa do julgamento final e vem com as nuvens para
inaugurar o reino de Deus (Dan 7:13).
Nós ainda encontramos ambos, o Deus que está perto,
presente num nível pessoal na carne do Messias Yeshua, e o Deus
distante, o Deus do futuro glorioso. Quando Ele se dirige a
Yohanan, o profeta cai à Seus pés “como morto”, Mas este Deus
também o tranqüiliza: “não temas” (Apo. 1:17).
É esta tensão entre o futuro Deus que vem e o presente
Deus que é aquela esperança acesa dentro de nós. Sem a certeza de
um mundo vindouro, além da ansiedade do presente, nós não
teríamos razão para esperar. E sem a onda diária de esperança
produzida pelo encontro renovado com Deus, não teríamos desejo
de esperar. Esperança requer as categorias de ambos, presente e
futuro.
A primeira série de visões reflete esta tensão. Nós ouvimos
sobre o mártir fiel e o opressor infiel. Deus recompensa a ambos e
julga a história da igreja. A chuva tem duas faces – é tanto uma
benção como uma maldição, um banho de vida e uma tempestade
de morte – e a igreja tem também duas faces.
* Mat 8:20; 10:23; 17:9; Luc 7:34; João 6:53, etc.
24
25
Capitulo 1
CARTA ABERTA ÀS IGREJAS
(Apocalipse 1:11-3:22)
Pessah
Não é coincidência de que a visão introdutória das sete
igrejas transporta-nos para o meio dos candelabros. Isso teria
lembrado o leitor como o candelabro do Templo se tornou só outro
item do saque levado depois que o exercito de Roma destruiu o
Templo em 70 D.C., um fato atestado pela sua presença no relevo
no arco celebrando a vitória de Tito sobre Jerusalém. A figura da
visão significa que o fim do Templo não devia implicar a fim do
relacionamento da humanidade com Deus. O candelabro que
aparentemente desapareceu entre os tesouros de Roma estava
ainda presente nas sete igrejas, e no meio dele o Deus do céu ainda
anda. Ele não deixou seu povo a se desviar por si só ou por
suportar o curso tortuoso da história sem Ele. Deus está ainda com
Seu povo como o shekinah estava com Israel: “andarei no meio de
vós” (Lev 26:12). A última palavra de Yeshua antes de sua
ascensão manteve a mesma promessa: “E eis que eu estou
convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mat
28:20). Foi o shekinah, a nuvem de fogo, que guiou o Êxodo (cf. a
árvore que queimava em Êxodo 3). Da mesma forma, é a presença
do Filho do homem, com olhos igual “chama de fogo” (Apo.1:14),
uma face “como o sol, quando resplandece na sua força” (verso
16), e pés “semelhantes a latão reluzente que fora refinado numa
fornalha” (verso 15), que perpetua a luz do candelabro e guia o
curso das pessoas. Esta visão do Filho do homem com vestes de
26
ouro fundido entre o brilho incandescente dos candelabros em um
raio de luz apontando para o resplendor da futura Jerusalém de
ouro.
Depois do Shabbat, o Apocalipse agora proclama a
mensagem da páscoa através de uma alusão à morte e ressurreição
de Yeshua (verso 18)1
e ao shekinah no meio do povo. Páscoa é a
festa que diretamente segue o Shabbat em Levíticos 23 (verso 4-
14) e é a primeira festa do calendário anual judaico (Exo 12:2). De
fato Páscoa comemora o Êxodo e a criação de Israel. Mas isso
impõe mais que um dia de lembrança – Ele fala de uma esperança
messiânica. O sacrifício do cordeiro simboliza pessah, o anjo
“passando por cima” das casas separadas pelo sangue, e renova a
esperança de libertação por vir (verso 7, 13). A proibição de
quebrar os ossos alude à Ressurreição2
. O comer pão não
levedado, matzah, lembra a origem nômade de um povo cuja
única esperança repousa na Terra Prometida (verso 11). Até a
liturgia judaica, o haggadah, repete de geração em geração o
profundo sinal de Israel, “Próximo ano em Jerusalém” (leshanah
habaah birushalayim). Do mesmo modo, na tradição cristã, o
serviço da comunhão – a comemoração eucarística da última
pessah, do Senhor – repete a mesma fórmula litúrgica com
promessa “Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da
videira, até aquele dia em que o beber, novo, no reino de Deus”
(Mar 14:25), uma promessa que o apóstolo Paulo entenderia mais
tarde num sentido escatológico: “Porque todas as vezes que
comerdes deste pão e beberdes do cálice estareis anunciando a
morte do Senhor, até que Ele venha” (I Cor 11:26). É também
digno de nota que a liturgia eucarística dos primeiros cristãos
conclui com a saudação aramaica Marana tha, “Vem, Oh Senhor,”
testemunhando da esperança dos primeiros cristãos3
.
As Sete Igrejas
A tensão entre o futuro e o presente está no verdadeiro
âmago da visão profética e é a chave para nosso entendimento. O
profeta vê “as coisas que... são e as que depois destas hão de
suceder” (Apo 1:19). Devemos ler a mensagem às igrejas
contemporâneas de Yohanan também da perspectiva profética –
como uma mensagem às igrejas que virão. A passagem já aponta
27
para este tipo de interpretação. Ela compara as sete igrejas a sete
estrelas, seguras na mão direita do Filho do homem (verso 16, 20)
Os antigos acreditavam que as estrelas direcionavam o destino
humano, tanto que a popularidade da astrologia, especialmente na
mesopotâmia, tem um significado de predizer o futuro. Os autores
da Bíblia estão bem familiarizados com tais crenças, como prova
no livro de Jó: “Podes atar as cadeias das Plêiades, ou soltar os
atilhos do Órion? Ou fazer sair as constelações a seu tempo. E
guias a ursa com seus filhos? Sabes tu as ordenanças dos céus, ou
podes estabelecer o seu domínio sobre a terra?” (Jó 38:31-33). O
judaísmo antigo acreditava que toda pessoa tinha um corpo
celestial, um mazzal i.e. uma estrela particular presidindo sobre o
destino dele ou dela.4
Deus segurando as estrelas em Suas mãos remonta que Ele
está no controle do destino delas. Ao falar de seu Deus como o
Deus dos céus, Daniel chega ao mesmo ponto que os astrólogos
babilônicos: seu Deus era a deidade que controlava as estrelas,
assim como o destino da humanidade5
. Andando entre as igrejas
de seu tempo, Yohanan alude a aquelas do futuro, De fato, seu
verdadeiro número, sete, confirma tal interpretação.
Desde os tempos mais remotos o número 7 tem tido valor
simbólico. Sumérios, babilônicos, cananitas e israelitas6
lembram
o número 7 como símbolo de totalidade e perfeição. Durante o
período intertestamental, sob influência de Pitágoras (século
quinto AEC), o simbolismo numérico, especialmente o número 7
era muito popular7
. O Apocalipse usa extensivamente o
simbolismo numérico, inclusive o numero 7. O número 7 ocorre
88 vezes no Novo Testamento. Cinqüenta e seis delas aparecem no
Apocalipse: Sete candeeiros, sete estrelas, sete selos, sete espíritos,
sete anjos, sete pragas, sete chifres, sete montanhas, etc. Yohanan
moldou toda sua estrutura em torno do número 7.
Não devemos tomar as sete igrejas em um nível
estritamente literal. De fato, seu número dificilmente reflete a
conta atual das igrejas da Ásia, que eram muito mais numerosas. O
Apocalipse não inclui as duas igrejas de Colossos e Hierápolis,
ambas mencionadas no Novo Testamento8
. De fato, as sete igrejas
do Apocalipse representam as igrejas como um todo, uma
interpretação atestada por um manuscrito do terceiro século EC.9
A frase de conclusão de cada carta, “Quem tem ouvidos, ouça o
28
que o Espírito diz às igrejas,”10
parece dirigir-se a uma grande
audiência. As cartas falam a todas as igrejas, e qualquer um pode
se beneficiar de seu conteúdo, um ponto explicitamente realçado
na quarta carta para Tiatira. Ela contém a frase “todas as igrejas”
(Apo 2:23).
As sete igrejas foram escolhidas não apenas como parte dos
arredores familiares ao profeta (ele tinha estado lá e as conhecia),
mas também por seu significado simbólico. Extrair a profecia de
um local geográfico era prática comum em Israel. Miquéias traça
toda a visão do futuro em torno dos nomes de cidades Palestinas.11
Até mesmo a ordem seqüencial das igrejas segue uma certa
geografia – a rota de um viajante.13
Assim que avançamos de uma carta para outra, notamos a
presença de Yeshua crescendo mais íntimo com cada carta:
1. Éfeso “Aquele que... anda no meio dos sete candeeiros
de ouro.” (Apo 2:1).
2. Esmirna: “aquele... morreu e reviveu” (verso 8).
3. Pérgamo: “Arrepende-te, pois; ou se não, virei a ti em
breve, e contra eles batalharei com a espada da minha boca”.
(Verso 16).
4. Tiatira: “mas o que tendes, retende-o até que eu venha”.
(verso 25).
5. Sardes: “Pois se não vigiares, virei como um ladrão”
(Apo. 3:3).
6. Filadelfia: “venho sem demora” (verso 11).
7. Laodiceia: “Eis que estou à porta” (verso 20).
Mas é somente penetrando no verdadeiro âmago das cartas
que poderemos alcançar a intenção profética. E, realmente, o
cenário cristão não é róseo. Ao contrário, a própria cristandade se
encontra ela mesma no meio das crises e tempestades como mostra
a cortina que se levanta numa revelação de detalhes complexos e
preocupantes.
Assim que lemos as cartas, vamos notar seu reflexo
profético assim como sua mensagem pastoral. Como salientado no
início, as cartas às sete igrejas se referem tanto às igrejas
contemporâneas a Yohanan (interpretação preterista) como a
qualquer uma equipada de ouvidos para: “ouvir o que o Espírito
diz às igrejas” (interpretação idealista ou simbólica). E agora,
assim que entramos o terceiro milênio, vemos a nós mesmo no
29
horizonte distante da serie profética. Em adição às interpretações
preteristas e idealistas, a interpretação profética - uma que nós
podemos comparar com eventos atuais – é sempre mais relevante.
Éfeso
Da ilha de Patmos, a primeira parada é Éfeso, um dos mais
importantes portos da época. Marinheiros podiam ver suas luzes à
distancia no mar. Não é coincidência que Éfeso representa a
primeira igreja, o primeiro candeeiro. Yohanan começa seu ciclo
de cartas fazendo uma alusão ao jardim do Éden, exatamente como
Daniel fez em sua introdução ao primeiro reino, Babilônia14
. “Ao
que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no
paraíso de Deus” (Apo. 2.7).
Éfeso é, na realidade, o primeiro amor, seu nome grego
significa “desejado”. A paixão ainda é viva, e a memória é fresca
(Apo. 2:5). É a igreja dos apóstolos (verso 2) e também a igreja
dos primeiros pagãos conversos. Antigos pagãos devem com
humildade reconhecer de onde eles vieram (verso 5). Paulo
igualmente advertiu os pagãos em Roma (Rom. 11:18). Para os
cristãos de Éfeso – o lugar da deusa Artemis, a famosa “Diana dos
Efésios” (Atos 19:28, KJV) – essa chamada é significante. Os
efésios eram muito conhecidos por sua superstição, e eles tinham
um proeminente negócio de amuletos. A taxa de delitos de Éfeso
chegou a tal ponto que o filósofo Heráclitus declaradamente
chorou sobre ela e depois disso levou o título de “filósofo chorão.”
Éfeso, portanto, é a igreja dos começos.
Até aqui, embora ainda encaixada em sua fonte espiritual,
ela está no caminho para sua perdição. Já o passo excitante
daquele “que tem na sua destra as sete estrelas” aponta para o
perigo da situação (Apo. 2.1). Pedro usa o mesmo verbo
(peripatei) para descrever o comportamento preocupante de
satanás ao redor15
. O problema de Éfeso reside no fato de que sua
chama apagou e não foi reacendida: “deixaste o teu primeiro
amor”. (verso 4). “Arrepende-te, e pratica as primeiras obras”
(verso 5). Estas “primeiras obras” aludem a teshuvah, a chamada
profética para o arrependimento. O anjo acopla a exortação, com
uma advertência: “Se não, brevemente virei a ti, e removerei do
seu lugar o teu candeeiro” (verso 5). A pureza da primeira igreja
não lhe dava garantia de não perder sua luz. O fato de Deus ter Ele
30
mesmo estabelecido sua igreja não a isenta das obras futuras. A
igreja está pronta a deslizar. Ela pode até cair e bater em seu
candeeiro e extinguir sua luz, um ponto que precisamos ponderar.
Os riscos de erro e falha sempre permanecem. Não podemos
equiparar a igreja com Deus. Não é suficiente ser um membro da
igreja para ser salvo: “até dentro da igreja, não tem salvação.”
Também a carta não protela em ameaças. Apesar de seus
erros, a igreja mantém certa integridade espiritual. Ela odeia “as
obras dos nicolaitas” (verso 6), uma atitude mais que virtuosa
desde que Deus também partilha isso: “que eu também aborreço”.
O mal que ameaça os primeiros cristãos trás de volta o caso
dos nicolaitas. Uma tradição antiga da igreja considerou-os
seguidores de Nicolas mencionado em Atos 6:5. De acordo com os
pais da igreja onde quer que eles fossem os nicolaitas lá estavam,
bem conhecidos por sua depravação16
. Uma distorção da nova
posição de Paulo sobre graça e lei levou-os a rejeitar todos os
princípios da Torah. Pela graça de Yeshua o Messias, eles se
consideravam livres da Torah e caíam em deboche.
Eles basearam suas idéias na visão dualística prevalecente
entre os cristãos gnósticos de seu tempo17
. Eles menosprezaram o
corpo humano e, de fato, qualquer coisa pertencente à criação
física como matéria desprezível e má enquanto lembrando o
espírito como puro, bom, e divino. Portanto alguém poderia dispor
do corpo de outro à vontade, torturá-lo, ou satisfazê-lo enquanto
permaneceria puro no espírito. O dualismo limita o corpo ao
domínio da lei e rejeita-a, enquanto a alma, ligada ao domínio da
graça, é mantida.
De acordo com o testemunho profético da primeira carta, as
primeiras sementes da apostasia devem ter surgido da
desvalorização de ambas a Torah e a criação física. Mas a
conclusão da carta declara: “Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da
árvore da vida” (Apo 2:7). Por um lado ela afirma o ato físico de
comer e desse modo a criação18
– uma resposta aos dualistas que
cuidavam apenas da parte espiritual e desprezavam a vida física e a
criação. Por outro lado, “a árvore da vida” (ets hayyim) mantém a
Torah, da qual tem se tornado um símbolo clássico desde os
tempos bíblicos19
e depois na tradição judaica.20
. Isso veio a
designar os cilindros de madeira para segurar os pergaminhos dos
rolos da Torah.
31
Esmirna
Nossa segunda parada leva-nos a Esmirna distante 40
milhas de Éfeso. Conhecida como uma cidade comercial de
surpreendente beleza, ela foi uma das raras cidades da antiguidade
a sofrer planejamento extensivo, e depois, reconstrução. Os gregos
a construíram em 1000 AEC, então os Lidos destruíram-na em 600
AEC. Depois Lisímaco, um dos generais de Alexandre o Grande,
reconstruiu-a (200 AEC). A cidade literalmente “ressurgiu” das
ruínas. Assim não é coincidência que o tema de morte e
ressurreição permeia a carta à igreja de Esmirna. O autor da carta
se introduz como “O... que foi morto e reviveu” (verso 8). Os
destinatários da carta, prestes a ir para morte, já tem a promessa da
vida (verso 10,11). O verdadeiro nome, Esmirna, tem sido
popularmente associado com a palavra “myrrh,” o bálsamo da
morte.
Além da alusão ao destino da cidade, a carta para Esmirna
evoca a perseguição sofrida pelos mártires cristãos. Além da
ameaça de morte, os cristãos de Esmirna lutavam com a pobreza.
Os cristãos de Esmirna dificilmente refletem os paramentos
carmesins e coroas adornadas do cristianismo posterior. É ainda o
tempo que para ser cristão não implicava sucesso e fama. Cristãos,
em sua maioria, vieram dos pobres da cidade e sofreram a
hostilidade das massas pagãs.
O destino da igreja de Esmirna é aquele da perseguição.
Pessoas suspeitavam dos cristãos os mais ultrajantes crimes. Os
pagãos associaram o rito da Comunhão com canibalismo, durante
o qual eles acreditavam que os cristãos bebiam sangue e comiam
carne humana. Os não cristãos também visualizaram as
celebrações ágapes das sociedades cristãs, como orgias de
deboche. Porque Deus era invisível, os cristãos enfrentaram
acusações de ateísmo. O estado suspeitava deles por causa de sua
recusa em se submeter ao imperador como Deus. Alguns até
acusaram-nos de ter profetizado o fim do mundo pelo fogo, uma
acusação explorada mais tarde pelo imperador Nero. Muitos
desprezaram os cristãos porque eles os identificavam como judeus,
uma religião considerada retrógada e remota.
A situação dos judeus era simplesmente miserável. Os
judeus que proclamaram um Messias eram suspeitos dos e fora e
dos de dentro. Divisões internas como a validade do Messias
32
esfacelou a comunidade judaica, como vemos no caso de Saulo de
Tarso, depois conhecido como Paulo21
. A carta para Esmirna
reprova-os por sua calunia e questões de autenticidade de seu
judaísmo: “dos que se dizem ser judeus” (verso 9). A alusão do
judaísmo aponta para o fato de que os primeiros cristãos ainda se
consideravam judeus. Hoje nós poderíamos acusar nossos
companheiros crentes de não viver seu “cristianismo” e chamar
seu local de culto uma “igreja de satanás.” Os cristãos de Esmirna
eram mais próximos da comunidade judaica do que seus oponentes
pagãos. O anti-semitismo cristão não tinha começado ainda.
Atirados em prisões e torturados pelos pagãos, suspeitados pelos
seus irmãos e irmãs judeus, os primeiros cristãos foram deixados à
sua própria infelicidade.
A perseguição atingiu alarmantes proporções sob o reinado
de Diocleciano, a era histórica dos mártires. Em um edito (303 EC)
o imperador ordenou dissolução da comunidade cristã, demoliu
suas igrejas, e queimou seus livros22
. Numerosos cristãos
morreram por suas crenças. Muitos se acharam reduzidos à
escravidão. Numerosos santos reverenciados pela igreja data dessa
época: São Sebastião, que morreu perfurado por uma centena de
flechas enquanto amarrado a uma árvore; Santa Cecília, patrona da
música sacra e Santa Agnes, queimadas na estaca. As últimas
ondas das perseguições duraram até 311. Em 313 o imperador
Constantino lançou um edito que estabeleceu o cristianismo como
uma religião oficial.
É interessante que o tempo da perseguição durou um total
de 10 anos, como predito pela carta (um dia igual um ano, de
acordo com os cálculos proféticos)23
. Mas a linguagem é também
simbólica. Na tradição judaica e bíblica, o número 10 vem a
simbolizar a idéia de teste ou prova. Por exemplo, nós lembramos
os 10 dias de prova de Daniel (Dan. 1:14, 15). O calendário
judaico manteve o simbolismo. Dez dias de aflição separam Rosh
Hashanah, a Festa das Trombetas, do Kippur, o Dia do Perdão,
durante o qual os judeus se preparam para o grande dia do
julgamento. O Mishnah emprega a mesma linguagem quando fala
de 10 gerações de Adão até Noé, e de Noé até Abraão; as dez
provas suportadas por Abraão; e as 10 pragas no Egito, concluem
que de fato, o número 10 é o símbolo de prova e testemunho24
.
Mas isso é meramente um teste, que por definição implica
33
recompensa. Queda e morte não deve ser a última palavra e existe
esperança. Deus tem reservado a coroa da vitória (stephanos) para
os mártires da fé (Apo. 2:10).
Ironicamente a passagem permanece: vencidos pela espada
do gladiador, os cristãos jamais receberam a coroa da vitória. Eles
morreram, ainda que eles tivessem a “coroa da vida”, uma imagem
muitas vezes reproduzida nos sepulcros da antiguidade greco-
romana para simbolizar a vitória sobre a morte25
. Isso, contudo,
não faz nenhuma alusão à imortalidade da alma, uma noção
acariciada pala mente grega e aquela que mais tarde se infiltraria
na tradição judaico-cristã. O próximo verso depois especifica que
os mártires “não sofrerão a segunda morte” (verso 11), uma
expressão encontrada apenas no Apocalipse26
. A literatura rabínica
e o Targum, de qualquer forma apóiam o conceito27
. Em todas
estas passagens, a “segunda morte” consiste na morte final do
culpado, sem esperança de ressurreição. Uma passagem posterior
do Apocalipse (Apo 20:6) fala de duas ressurreições. A primeira
pertence aos justos, na vinda do Messias. A segunda envolve os
culpados. Apenas a primeira ressurreição resulta em vida eterna. A
segunda, por outro lado, leva para a morte eterna. Todos devem
sofrer a primeira morte, mas apenas os culpados devem conhecer a
segunda morte28
.
Para isentar os mártires de Esmirna da segunda morte uma
verdadeira ressurreição é lhes assegurada que os leva à vida eterna.
Pela Bíblia, o livramento da morte não afeta meramente a alma,
mas o individuo todo carne e sangue, negando qualquer suposição
dualística.
Pérgamo
Nossa viagem continua aproximadamente 50 quilômetros
em direção ao norte de Esmirna. A cidade de Pérgamo nos dá as
boas vindas em toda sua grandeza e majestade – uma cidade numa
colina – assim é seu nome, “cidadela” ou “gloriosa cidade.”
Situada em algum lugar fora da principal rota comercial da Ásia, a
cidade de Pérgamo era nada menos que a maior cidade da Ásia
Menor. O geógrafo grego Strabo (por volta de 63 AEC até 21 EC)
chamou-a de “cidade ilustre,” o historiador romano Plínio, o Elder
(23-79 AC), considerou-a “a mais famosa cidade da Ásia.” Um
centro político, Pérgamo era renomada como centro tanto cultural
34
como religioso. Foi em Pérgamo que o pergaminho foi feito pela
primeira vez. Abrigando 200.000 rolos de pergaminhos, a
biblioteca de Pérgamo rivalizava com a biblioteca de Alexandria.
A cidade foi também famosa por sua vida religiosa. Seus hospitais
e templos de cura em honra do deus Asclepias atraiu milhares de
peregrinos de todo mundo como testemunhado pelos achados
arqueológicos de grande quantidade de moedas.
A cidade de Pérgamo reflete a situação do terceiro período
da historia da igreja. Em contraste com suas precedentes, a igreja
de Pérgamo exibe grande sucesso e gloria. Os cristãos de Pérgamo
são cidadãos respeitáveis. A era dos mártires já acabou.
Referências sobre aqueles tempos miseráveis ocorrem no passado:
“mesmo nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi
morto entre vós” (Apo. 2:13). O tempo é de prosperidade e
conforto
Mas Pérgamo não tem problemas. A carta denuncia uma
pratica remanescente de relacionamento de Balaão, o profeta
responsável por levar o povo de Israel ao sincretismo29
. Balaão,
cujo nome significa “devorar o povo,” reconheceu que o
compromisso era o melhor caminho para “devorar” ou neutralizar
o povo escolhido. Introduzi-los aos elementos culturais
estrangeiros causava mais dano ao povo de Israel do que
perseguição ou morte. Compromisso com o mal pode ser mais
perigoso que o mal em si. É mais fácil identificar o inimigo
enquanto ele ainda está fora das trincheiras do que quando ele está
infiltrado nas câmaras secretas da cidade. Tal era a situação da
igreja de Pérgamo. Paganismo e erros misturaram-se com a
verdade. Desde Éfeso, a igreja perdeu-se grandemente. Os
nicolaitas, uma vez odiados pela igreja, agora prega dentro de seus
muros: “Assim tens também alguns que de igual modo seguem a
doutrina dos nicolaitas” (verso 15). Ambos, Balaão, “que devora o
povo,” e os nicolaitas, um nome que era o equivalente grego para
Balaão e significando “o conquistador do povo,” agora devasta a
igreja.
A história confirma esta tendência ao compromisso. Para
fortificar seu status político, a igreja adotou uma atitude de
flexibilidade e aberturas, moldando-se a si mesma em torno da
elite do poder político. Decretos imperiais promulgados naquele
tempo refletem a habilidade do compromisso da igreja. Por
35
exemplo, domingo, o dia romano do sol, veio substituir o Sábado
como o dia dado por Deus30
.
O profeta Daniel já tinha destacado esta tendência ao
compromisso na visão da estátua e dos quatro animais. A visão da
estátua (Daniel 2) representou a igreja por ambos barro,
simbolizando as dimensões da religião, e ferro, simbolizando o
poder político.31
Na visão dos quatro animais, um chifre – poder
político – feições humanas – poder espiritual – simbolizava a
igreja (Dn 7:8).
O mesmo chamado ao arrependimento que ouvimos em
Esmirna, agora o anjo repete aqui. A espada de dois gumes na
boca do Filho do homem (Apo 2:16) representa a palavra de um
Deus que julga, separando a verdade do erro (cf. Isa. 49:2). A
recompensa do justo, o “maná escondido,” e a “pedra branca”
(Apo. 2:17), do mesmo modo alude a um contexto de julgamento.
O maná evoca o Êxodo e a perspectiva da Terra prometida. Este
pão caído do céu se torna sinal de esperança33
. De acordo com uma
antiga lenda judaica, durante a destruição do Templo (sexto século
AEC) o profeta Jeremias escondeu o pote de maná mantido na arca
sagrada34
. Somente na época do Messias alguém encontraria o pote
do maná e outra vez o comeria como alimento35
. De acordo com
esta lenda, apenas o final dos tempos revelaria a identidade dos
poucos selecionados para serem salvos. Enquanto isso é
impossível determinar quem está e quem não está salvo.
A mesma lição está gravada na pedra branca trazendo um
“novo nome” (verso 17). A pedra branca alude ao procedimento
judicial romano que usava pedras brancas e pretas para indicar o
veredicto. Branco significava inocência, e preto condenação.
Receber uma pedra branca significava então, ser inocentado.
Assim o “novo nome”, representa o ato da recriação acima, o sinal
do novo começo e do novo destino. Neste caminho, Abrão se
tornou Abraão, carregando a promessa de uma generosa
descendência36
. Jacó se tornou Israel, com a responsabilidade de
lutar com Deus37
. Localizações geográficas adquirem novo nome:
Jerusalém recebe a nova designação de “O Senhor é Nossa
Justiça” em virtude da eterna presença de Deus entre Seu povo.38
Da mesma forma os escolhidos de Pérgamo recebem um novo
nome “o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe” (verso
17). A Bíblia e a tradição judaica falam do nome de Deus como
36
impronunciável e incompreensível39
. Isso de fato é a interpretação
dada em uma carta posterior: “E escreverei sobre ele o nome do
meu Deus e o nome da cidade do meu Deus” (Apo 3:12). Este
“novo nome” é o verdadeiro nome de Deus e, por extensão, o
nome da nova Jerusalém que Deus trará do Céu (verso 12). Esta
associação do nome de Jerusalém com o mesmo nome de Deus já
aparece no livro de Jeremias, no qual o profeta dá um novo nome
para a cidade, “O Senhor é Nossa Justiça” (Jer 33:16). Baseados
neste verso o Talmude e o Midrash vão depois elaborar associando
Jerusalém e o Messias, “por que ambos carregam o nome do
Santo, Bendito Seja Ele” Do mesmo modo o Midrash nota que
“exatamente como [Deus] chama o Messias com Seu próprio
nome, Ele irá também chamar Jerusalém com Seu próprio
nome.”41
Nós encontramos o mesmo conceito no âmago do
Apocalipse. Os poucos escolhidos, os 144 mil cidadãos da Nova
Jerusalém, recebem um nome identificado com aquele de Deus
(Apo. 14:1; cf. 22:4).
Na introdução da carta os fiéis eram aqueles que
lembravam o nome de Deus. Então em sua conclusão, os
escolhidos de Pérgamo receberam o nome de Deus como seus
próprios (Apo. 2:17), A responsabilidade de Israel é levar Seu
nome, por que Seu povo são os sinais do Deus invisível. A menção
de Antipas, significando “ele que representa o pai,” já tinha
aludido a isso. A missão do filho é carregar o nome de seu pai e
representá-lo em sua ausência. É por isso que este nome é
conhecido apenas daqueles que o recebem. Do mesmo modo, se os
eleitos de Pérgamo são apenas aqueles que sabem o nome de Deus
escrito na pedra branca, é por causa de seu relacionamento pessoal
com Ele. No tempo representado por Pérgamo a igreja visível
começa a perder sua identidade e sua missão como os portadores
do nome de Deus.
Tiatira
Nossa atenção agora foi direcionada para o leste,
aproximadamente 64 quilômetros de Pérgamo. Tiatira é uma
cidade completamente insignificante em contraste com Éfeso e
Pérgamo. Plínio chama-a uma “cidade medíocre.” Assim, esta
carta mantém a mais alta acusação (Apo. 2:20-27), e muito pouco
elogio.(verso 19).
37
Já o mal havia se infiltrado em Pérgamo. A situação piorou
com Tiatira. O mal agora permeia cada área da igreja. O anjo
pintou a heresia em Pérgamo através do símbolo de Balaão, cuja
influência tinha permanecido externa à igreja. Porem, na igreja de
Tiatira, o mal reina incorporando a rainha Jezabel (verso 20).
Jezabel era mulher de Acabe, rei de Israel. Originária da Fenícia e
filha de Ethbaal, rei dos sidônios (I Reis 16:31), sacerdote de Baal
e Astarote42
. Jezabel, por suas próprias mãos levou o rei e o povo
de Israel à adoração de Baal. Pessoalmente ela sustentava 450
profetas de Baal. É também conhecida por seu ódio cruel contra o
profeta Elias e de qualquer outro que permanecesse fiel a YHWH.
Sua influência continuou através do governo de seus filhos e sua
filha Ataliah43
.
O reinado de Jezabel é característico da igreja de Tiatira. A
heresia se tornou oficial e coincide com a elite do poder da igreja.
A igreja está agora estabelecida ela mesma como poder político e
vestiu-se com manto da realeza. E de fato, a cidade de Tiatira foi
renomeada por sua tinta púrpura, a cor da realeza 44
e dos
sacerdotes45
. Recorda Lídia de Tiatira, que trabalhava no negócio
de tintas46
.
Mas a cidade de Tiatira também tinha reputação por sua
adoração do deus Tyrimnos (deus do sol), o qual depois se
desenvolveu no culto do imperador romano. Ironicamente o autor
da carta se apresenta ele mesmo em uma aura de brilho
resplandecente, olhos como “chama de fogo,” pés igual bronze
polido, dessa forma brilhando mais que o deus-sol e denunciando
seu presunçoso orgulho. A Jezabel simbólica usurpa a autoridade
de Deus quando ela toma decisões que pertencem somente a Deus.
A carta menciona “todas as igrejas” (Apo 21:23). Muitas
vezes as testemunhas de Deus esquecem quem elas representam e
substituem o objeto de seu testemunho por elas próprias. Isso é um
risco enfrentado por todas as religiões e todos os profetas. Pessoas
devem substituir suas próprias vozes pela voz de Deus. Tradições e
instituições podem prevalecer sobre a verdade que as originou.
Quando a humanidade e instituições tomam o lugar de Deus e da
verdade, o resultado é sempre o mesmo: intolerância e
perseguições. Tais se tornaram as características da igreja de
Tiatira, a igreja da era medieval, oficialmente instituída em 538
EC depois do último tratado Ariano47
, e desmantelada em 1563,
38
com o Concilio de Trento. Ela foi a igreja da Inquisição e das
Cruzadas. Nunca a historia humana testemunhou tão prolongada e
consistente perseguição. É compreensível a ira do Filho de Deus
que traz um juízo de intenso sofrimento (verso 22). A igreja deve
pagar caro por sua intolerância.
Devemos, contudo, notar que Deus não direciona Sua
cólera contra os homens e mulheres de Tiatira, mas contra a igreja
como uma instituição humana. Mesmo dentro da igreja de Tiatira
homens e mulheres sem conta permaneceram fiéis e não
conheceram “as chamadas profundezas de Satanás” (verso 24).
Esta expressão faz eco à outra similar sobre Deus: “as profundezas
de Deus” (I Cor 2:10), caracterizando aqueles que colocaram sua
confiança no Espírito de Deus em lugar da “sabedoria humana”
(verso 5). Como nos tempos da Jezabel original, eles não
“dobraram os joelhos” aos novos desejos de Jezabel (I Reis 19:18),
mas permaneceram fiéis a seu Deus. A carta reconhece essas
exceções e exalta-os profusamente. Ela também menciona quatro
virtudes: amor, fé, serviço e perseverança (Apo 2:19). A igreja de
Tiatira é também a igreja de Francisco de Assis (1182-1226) e do
rei francês Luis (chamado o Santo), que fundou alguns das
primeiras escolas, hospitais e universidades. É um tempo de
mudança e de reforma. Lembramos Pedro Valdo (1140-1217) na
Itália, John Wycliffe (1320-1384) na Inglaterra e John Huss (1369-
1415) na Bohemia. Então veio Martinho Lutero (1483-1546) na
Alemanha. O anjo encoraja todos esses homens, todos esses
movimentos: “mas o que tendes, retende-o até que eu venha”
(verso 25).
O Apocalipse mantém nossa esperança escatológica como
o último conforto e recompensa. Primeiro isso representa a dádiva
“autoridade sobre as nações” (verso 26), uma promessa derivada
do Salmo 2:8,9, o qual anuncia a era messiânica. De acordo com
os antigos rabinos, isso seria a vinda do “Messias filho de
David.”48
Desde que a carta para esta igreja retrata a tentativa
humana de usurpar a autoridade de Deus, nós precisamos estar
lembrados quem somente ter o poder final.
A esperança da Segunda Vinda é também o presente da
“Estrela da Manhã” (Apo. 2:28), uma alusão a Números 24:17
(“uma estrela procederá de Jacó”), uma passagem tradicionalmente
interpretada no judaísmo como referente ao Messias: “Números
39
24:17, eu vejo-o: isto se aplica ao Rei Messias, „uma estrela deve
surgir de Jacó,‟ a estrela vinda do escuro... esta é a estrela do
Messias,”49
Esta última promessa encoraja todos aqueles que
lutaram durante a Era Escura e ansiaram por uma nova aurora.
Sardes
Sessenta e cinco quilômetros para o sul de Tiatira, a cidade
de Sardes se estende em dois níveis, por isso a forma plural de seu
nome (Sardeis em Grego). Originalmente a cidade foi construída
em um planalto, mas no curso de seu desenvolvimento ela fluiu
para os vales e ladeiras mais baixos. A topografia de Sardes
testifica sua decadência. Sardes é o perfeito exemplo do contraste
entre um passado glorioso e um presente miserável. No tempo do
exílio de Yohanan, o passado glorioso de Sardes era história.
Cinco séculos antes ela estava entre as cidades mais prestigiadas
do mundo. O poderoso Croesus tinha sido seu último rei (reinou de
560-546 AEC). Então ela caiu nas mãos de Cyrus. Quando seu
exército se aproximou do topo do planalto, eles encontraram as
portas da cidade abertas e desguarnecidas. Distraído pela sua
prosperidade, Croesus não se preparou para a guerra. A cidade de
Sardes rapidamente decaiu em um marco de cinzas do passado,
lembrando a seu povo definhante, o penoso preço por sua falta de
vigilância.
A tragédia da história da cidade agora inspira a exortação
da carta: “lembra-te, portanto, do que tens recebido e ouvido, e
guarda-o, e arrepende-te” (Apo. 3:3). A carta toda apela à igreja a
retornar ao passado de verde e fé autêntica.
O autor da carta agora se apresenta – como fez na igreja de
Éfeso – como “aquele que tem na sua destra... sete estrelas” (verso
1; cf. Apo. 2:1). Sardes, como Éfeso, é a única igreja que “tem”
alguma coisa. Apesar de todas as acusações contra elas, as duas
igrejas ainda “têm” alguma coisa a seu crédito. A mesma palavra
grega alla (“mas,”. Apo. 2:6; “ainda,” Apo. 3:4) introduz o elogio,
o “tem” dentro do corpo de reprimendas. Ambas as igrejas
recebem a promessa de vida – “a árvore da vida” para Éfeso (Apo.
2:7) e o “livro da vida” para Sardes (Apo. 3:5). E ambas tomam
parte do banquete celestial – para Éfeso (Apo. 2:7) o direito de
comer da árvore da vida, e para Sardes (Apo. 3:4,5) menção das
40
vestes brancas, uma imagem que evocou o conceito de festas e
celebração (Ecl. 9:8)
A igreja de Sardes representa um retorno da Cristandade à
suas origens. Na igreja da Reforma, seu povo redescobre a
mensagem original da Bíblia. Mentes se abrem assim que reacende
a busca pela verdade. O movimento da Reforma estabeleceu
acesso direto aos documentos bíblicos, removendo barreiras de
sacerdotes e tradição. Estudiosos encorajaram a leitura da Bíblia
em sua linguagem original, grego e hebraico, e começaram a
produzir as primeiras gramáticas hebraicas.
Porém o dinamismo da mudança rapidamente se solidificou
como dogma. A igreja introduziu novas tradições e credos. Uma
preocupação pela doutrina correta prevaleceu sobre um
relacionamento pessoal com Deus. Intolerância se arrastou de volta
dentro da vida da igreja. Os protestantes tiveram suas próprias
Inquisições. Calvino teve seguidores como Michael Servetus
(1511-1553) executado na estaca, enquanto Luther se encolerizou
contra católicos e judeus e votou exterminar aqueles que
escolhessem não seguir sua liderança. As vítimas das guerras
religiosas da Europa não foram somente os Protestantes que como
lideres da igreja cometeram mais crimes em nome de Deus. Ambas
as igrejas protestantes e a católica se estabeleceram elas mesmas
como instituições poderosas. Esquecendo as origens da verdade,
protestantes caíram na mesma espécie de erros que eles criticaram
na igreja medieval.
A história é obrigada a se repetir para aqueles que não se
lembram. A igreja que não permanece vigilante perde sua razão de
ser. Os guardas da cidade caíram no sono. “Acorda!” A carta
divina se apressa: “Confirma o restante, que estava para morrer”
(Apo. 3:2); “Se não vigiares, virei como um ladrão” (verso 3).
O imperativo troveja através de toda a carta para Sardes:
“acorda!” “confirma,” “lembra,” “obedeça,” “arrepende-te.” Tal
linguagem procura despertar as pessoas que, como fizeram os
antigos moradores de Sardes, acomodaram-se na riqueza e no
conforto.
“Apesar disso,” sinaliza o autor da carta, “algumas pessoas
em Sardes” permanecem fiéis às suas origens. Eles não
“contaminaram suas vestes” (verso 4). A minoria suporta. A noção
do “remanescente” permeia a tradição bíblica. Desde Sete, o
41
terceiro filho de Adão, os construtores do Templo sob Esdras e
Neemias; dos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó aos discípulos de
Elias, a história da aliança de Deus com seu povo é
constantemente reorganizada em torno destes poucos preciosos,
este “remanescente” sobrevivente
Deus fez a mesma promessa de um remanescente
sobrevivente ao profeta Isaias, que proclamou em nome de um de
seus filhos, Shear-Jashub (um remanescente vai retornar), como
um sinal a seu povo sonolento (Isa 7:3). Yohanan também joga no
nome de Sardes para conduzir sua mensagem profética através da
aliteração “sterison!” (“Acorda!”). Dentro do nome de Sardes nós
podemos ouvir o ressonante sterison, o poderoso clamor para
acordar aqueles ameaçados pelo sono da morte.
Filadelfia
Exatamente a de 65 quilômetros ao leste de Sardes, repousa
Filadelfia, assustada pelo seu passado tumultuoso de terremotos.
Uma grande planície vulcânica que leva o nome de Katakaumena
(terra queimada). Os colonizadores de Pérgamo quiseram propagar
a linguagem e a cultura grega, fundaram a cidade durante o
reinado de Attalus II (159-138 AC). A cidade de Filadelfia (“amor
fraterno”) tomou este nome do grande amor do rei por seu irmão
Eumenes II. Ela teve outros nomes também. Em agradecimento a
Tiberius (imperador de Roma de 14 a 37 EC), que ajudou em sua
reconstrução depois de um terremoto devastador, ela adotou o
nome de Neo-Cesarea (nova cidade de César), então mudou de
novo para Flavia em agradecimento ao último imperador (Flavius)
Vespasian (governo de 69-79 EC) A carta a igreja de Filadelfia
reflete seu passado tormentoso. Novamente toma detalhes
históricos para ilustrar sua mensagem. Do mesmo modo que a
cidade de Filadelfia, colonizadores fundaram a igreja profética de
Filadelfia. A igreja de Filadelfia é a igreja das missões,
expandindo alem das fronteiras da Europa para África e as
Américas (final do século dezoito até o inicio do século dezenove)
Uma renovação de seu espírito e do entusiasmo e zelo do começo
caracteriza o espírito de seu cristianismo: “Conheço... que tens
pouca força, entretanto guardaste a minha palavra e não negaste o
meu nome” (Apo. 3:8).
42
A eleição de Filadelfia caminha nas pegadas do
remanescente de Sardes. Eles também mantiveram a palavra. Mas
a igreja de Filadelfia está em uma condição melhor. Apesar de ela
ter um remanescente justo, a carta de Sardes pede por “confirmar”
o que restou da palavra. Mas a carta e Filadelfia tem apenas elogio
para a paciência daqueles que “mantiveram” (verso 8 e 10) a
palavra. A situação em Filadelfia tem progredido alem daquela de
Sardes. O que os crentes de Sardes apenas sonharam agora se torna
realidade em Filadelfia. Em Sardes a vinda do Messias pode ser
igual à de um ladrão; alguém, deixado só por muito tempo, não
espera a chegada de um ladrão. A carta à Filadelfia, contudo,
menciona o retorno do Messias sem o tom negativo, e as palavras
sugerem que crentes aguardam isso com impaciência: “Venho sem
demora” (verso 11).
A igreja de Filadelfia é um tempo de reavivamento entre
Deus e seu povo. Até os inimigos da igreja vão seu reconhecer seu
status de amada de Deus: “Eis que farei que venham, e adorem
prostrados aos teus pés, e saibam que eu te amo” (verso 9; cf. Sal.
23:5). Nós vemos a reciprocidade entre os dois verbos:
“guardaste” (Apo. 3:10) e “também eu te guardarei” (verso 10). Os
profetas tem já proclamado este relacionamento: “Eu serei o vosso
Deus, e vós sereis o meu povo” (Jer. 7:23). No Cântico dos
Cânticos isso toma a linguagem do amor: “Meu amado é meu e eu
sou dele” (Cant. 2:16; cf. Cant. 6:3; 7:10,11). Este relacionamento
de amor exclusivo ressoa no nome natural da igreja – Filadelfia,
“amor fraternal”.
Aqui novamente o Apocalipse afirma a esperança
escatológica: “Venho sem demora” (Apo 3:11) A promessa feita
para “ele que dominará” vai alem daquela dada à igreja de Sardes.
Agora ela é de duração eterna no novo reino inaugurado pela
chegada do Messias. “eu o (ao que vencer) farei coluna no templo
de meu Deus, donde jamais sairá” (verso 12). A “coluna” já leva a
idéia de continuidade por associação. No mundo judaico é costume
erigir uma coluna como um monumento para ajudar a lembrar uma
pessoa depois que ele ou ela morrer e assim imortalizar o
indivíduo na memória dos vivos. Tais colunas, por exemplo,
fizeram parte da antiga sinagoga de Chorazin e Kefar Naum
(Cafarnaum). Ser identificada como uma coluna significa que a
pessoa vai permanecer para sempre como parte essencial do
43
templo de Deus. Mas a promessa vai mais alem – eles serão
também, identificados com o próprio Deus, pois o nome de Deus
será escrito neles. Como a antiga cidade greco-romana os
habitantes de Filadelfia recebem um nome de seu benfeitor – de
seu Deus. Esta recompensa, contudo, irá afetar profundamente sua
identidade e o destino do justificado, pois isso transforma seu ser
total. O justificado se tornou para sempre uma pessoa identificada
no relacionamento com Deus e Seu templo. O Talmud ressoa com
as mesmas associações. “Três são chamados pelo nome do Santo,
Bendito Seja Ele, e são os seguintes: Os justificados, o Messias e
Jerusalém.”50
A igreja de Filadelfia é caracterizada pela sua esperança no
reino de Deus. Este tempo na história provavelmente é o mais
preocupado com a esperança escatológica. Esta esperança pegou
pessoas nos Estados Unidos, Alemanha, Escandinávia, França,
Suíça e Holanda. Um historiador do tempo, John B. McMaster,
escreveu que perto de 1 milhão de pessoas, fora os 17 milhões nos
Estados Unidos, participaram neste movimento.51
Suas
expectativas foram das mais sérias porque parecia que estavam
sendo reforçadas pela profecia bíblica. Líderes religiosos
chegaram a determinar uma data precisa para os cálculos
proféticos: 1844.
É interessante que a mesma febre também atingiu os judeus
e muçulmanos. No judaísmo, o renascimento do judaísmo europeu
através do Hassidismo incluiu a predição da vinda do Messias para
o ano de 5603 (1843/1844).52
O islamismo Baha‟i chegou à mesma
conclusão. A bab (“a porta,” abrindo para o secreto) apareceria no
ano de 1260 de hegira, isto é 1843/1844.53
E no mundo secular, o
nascimento do marxismo, com sua esperança e otimismo no
progresso humano, também proclamou a expectativa de um mundo
novo.
Nós entendemos melhor o significado da promessa da
carta: “eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta que
ninguém pode fechar” (Apo 3:8). A imagem de uma “porta aberta”
ocorre de novo no próximo capitulo (Apo. 4:1). O período da
igreja de Filadelfia, como retratado pela porta aberta para o céu e
para a terra é também de esperança e expectativa – um tempo de
preparação para a salvação vinda de cima.
44
Laodiceia
Depois de Filadelfia, o profeta vê uma jornada de 70
quilômetros ao sul para Laodiceia. É a última parada, o tempo do
fim. – nosso tempo, uma idéia já levantada pelo fato de que ela é a
sétima carta, um símbolo do fim. A idéia de fim permeia a
mensagem. Já o autor se apresenta ele mesmo como o “Amén”
(Apo. 3:14). Aqui temos a última palavra, o cumprimento de todas
as promessas, e de todas as orações. O profeta Isaias há muito
tempo atrás descreveu o Senhor como o “Deus do Amén” (Isa.
65:16, tradução literal).54
Em ambos os textos uma referência à
Criação segue ambos os améns.
O Deus do Amén em Isaias jura: “crio novos céus e nova
terra” (verso 17). Na carta de Laodiceia, o Deus do Amén define a
si mesmo como o “o princípio da criação de Deus” (Apo. 3:14,
uma tradução alternativa do NIV). A palavra grega arché para
“principio” traduz a palavra hebraica bereshit (princípio) em
Gênesis 1:1.35
O Deus do fim é também o Deus dos princípios. Ele
está presente do princípio ao fim.
Durante estes últimos dias a vinda de Deus jamais esteve
tão próxima. A carta descreve-o como batendo na porta (Apo.
3:20), como cantado no Cantares de Salomão, cujo amado é
também descrito à porta. (Cant.. 2:8, 9; 5:5). Yeshua está à porta, o
que significa na linguagem do Novo Testamento que o fim está
próximo (Mat. 24:32; Mar. 13:29). A próxima alusão para a
refeição íntima tem a mesma conotação: “entrarei em sua casa, e
com ele cearei, e ele comigo” (Apo. 3:20)
A refeição tem sempre simbolizado desejo para reunião
final. A idéia de aromas desejados cada refeição sacra do
calendário levítico56
. Ela aparece no Salmo 23, no qual a mesa do
banquete honra aquele que tem permanecido perto de Deus até ao
ponto de morrer. A refeição tomada por Yeshua e seus discípulos
no Novo Testamento tem a mesma conotação57
. A última ceia que
eles partilharam a seder, eles o fizeram na esperança da reunião
final no céu, e isso se tornou a personificação da esperança para
todos os cristãos58
.
O banquete final da reunião é um dos temas centrais do
Apocalipse59
. A esperança da Bíblia é real, é concreta. Ela afeta
todos nossos sentidos: tato, olfato, visão e paladar cada um
contribui para alegria desta esperança. A presença do hóspede
45
enriquece muito mais a experiência. A tradicional expressão: “com
ele cearei e ele comigo” (Apo. 3:20) também indica a intimidade e
mutualidade do relacionamento. No Oriente Médio as pessoas
costumam sentar-se no chão juntas e comer com suas mãos do
mesmo prado, tocando e repartindo o alimento um do outro, um
negócio de fato perigoso. A refeição foi verdadeiramente um ato
de comunhão. Nós devemos aguardar a reunião com Deus como
um evento concreto algo para experimentar física e historicamente.
Interessantemente aquele que espera em nossa passagem não é a
humanidade, mas Deus. É Deus quem bate e quem pleiteia e não
nós. “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz...”
(verso 20).
Deus é aquele que deve ser convidado. A refeição é
primeiramente para ser compartilhada em nosso meio. Em
contraste com a situação de Filadelfia, apenas nós podemos abrir a
porta: “Se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, eu entrarei
em sua casa.” Depois de uma longa argumentação por mudança e
arrependimento (versos 15-19), é o último pedido de Deus, o qual
é todo patético por que Laodiceia não sente ainda necessidade de
mudança. A igreja se acha justa. Como indicado pelo seu nome
“povo justo”, e como a carta explicitamente menciona: “dizes:
„rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta‟” (verso 17).
Isto é precisamente a atitude da antiga cidade de Laodiceia,
afamada por sua riqueza e elaborado sistema bancário. Quando o
estadista romano Cícero (106-43 AEC) viajou através da Ásia
Menor, ele teria sempre parado por lá para restabelecer suas cartas
de crédito. O povo de Laodiceia tinha produzido suas próprias
moedas desde o século segundo AEC criando a figura de seus
deuses locais. Completamente auto-suficiente Laodiceia não
necessitava de intervenção externa. O historiador Tácitus (55-120
EC) ficou maravilhado que, depois de sua devastação por um
terremoto em 61 EC a cidade de Laodiceia foi reconstruída por si
mesma sem qualquer ajuda do governo romano60
.
Laodiceia também era auto-suficiente por suas férteis
fazendas e pastagens, onde pastavam ovelhas cuja lã
completamente preta fez a fama da cidade61
. Ela foi o centro de
uma indústria têxtil florescente. A cidade foi também famosa pela
exportação de seu colírio medicinal.
46
Mas a carta profética considera toda a prosperidade da
cidade sem valor. O ouro de Laodiceia é deslustrado, sua pureza é
duvidosa. A carta aconselha-a a comprar ouro “provado no fogo”
(verso 18). Da mesma forma Deus zomba do guarda roupa da
igreja, aconselhando-a a vestir-se. Cegada por seu próprio senso de
valor próprio ela nem pode ver que está nua. O esnobismo de
Laodiceia é ridículo – eles andam inflados, cheios de ilusão de que
estão bem vestidos, enquanto eles estão na verdade simplesmente
nus e miseráveis. A carta então urge com eles para comprarem
colírio para ajudá-los a ver sua própria infelicidade.
Deus tem encontrado os ricos de Laodiceia – seu ouro,
tecidos e colírio, todas suas possessões – em falta. A razão é
simples: Sua riqueza vem de fontes erradas. A igreja deve “de mim
comprar” (verso 18) – de Yeshua. A prosperidade desses crentes
da ultima hora é lixo, por que ela não vem de Deus. Sua situação é
inteiramente trágica por que eles estão inconscientes disso e
acreditam que eles são ricos. Sua mentalidade é tão somente o
sintoma da civilização que se orgulha de seu secularismo e
humanismo enquanto excluem Deus. Sua riqueza – e mesmo
espiritual e religiosa – ela acumula por bravuras de raciocínio.
Saídas religiosas são despojadas de toda referencia ao
sobrenatural. Milagres pertencem a mitos e crenças antigas. O
reinado de Deus tem se tornado construção humana. A igreja
institucional – se não a nação – tem substituído a cidade de Deus.
Políticas tomam o lugar da religião, e o raciocínio em lugar da
revelação. O humano usurpou o divino em todos os níveis. Esta
atitude tem se infiltrado até naqueles que deveriam estar
aguardando. A certeza da verdade e do alto nível de moralidade e
espiritualidade que eles atingiram apenas afunda-os na auto-
satisfação e orgulho. Riquezas materiais – o resultado do êxito de
projetos missionários, administrativos e eclesiásticos – oculta a
infelicidade da situação. E até quando eles se conscientizam de sua
necessidade, a paixão está faltando. Indiferença acompanha
ignorância. Depois de diagnosticar seu problema, a carta de
Laodiceia declara: “porque és morno, e não és quente nem frio,
vomitar-te-ei da minha boca” (verso 16). A antiga cidade tinha
fontes minerais nas redondezas. Nada é mais nauseante que água
sulfurosa morna, ela simboliza a condição espiritual da igreja.
47
Nós não precisamos mencionar nenhum nome, desde que
todos nos acomodamos no perfil. A carta para Laodiceia é também
um “julgamento do povo,” o outro significado do nome
“Laodiceia” O que pode ser feito? Para o autor da carta, a solução
está alem dos recursos humanos. Não há propósito em organizar
mesmo assim outro colóquio, outro comitê ou ainda recorrer ao
jogo do poder ou do dinheiro. A resposta está em outro lugar e
envolve uma reversão de regras. O pobre parece rico e o rico
parece pobre. O povo de Laodiceia passa por rico. Deus responde
tomando os trapos de um mendigo. A solução está além da porta,
a qual deve ser aberta apenas de dentro, como no Cantares de
Salomão (Cant.5:5). Aquele que correr este risco “ao que vencer”
– não somente recebe o nome de Deus, como em Sardes, mas
agora recebe privilegio de Deus e poder de governar com Ele: “Eu
concederei que se assente comigo no meu trono” (Apo. 3:21).
Aqueles que abrirem a porta do coração penetrarão através
da porta do céu, e se tornarão parte de uma nova ordem, outra
soberania, um novo prazer em coisas que ninguém merece.
De modo muito interessante, o próximo capitulo começa
com uma porta: “e eis que estava uma porta aberta” (Apo. 4:1) e
mostrando o trono de Deus. O Apocalipse fala de duas portas.
Uma é aqui embaixo onde Deus bate pacientemente nela, como o
amado faz no Cantares de Salomão: “Eis a voz do meu amado!
Está batendo: „abre-me, minha irmã, amada minha‟” (Cant. 5:2).
Neste contexto, a batida é extremamente violenta. O verbo
hebraico usado aqui, dafaq denota golpear pesadamente. A
Escritura usa a mesma palavra do pastor que apressa suas
ovelhas63
. Este texto sugere que Yeshua está golpeando a porta.
Sua paixão indica a urgência e seriedade da situação. Abrir a porta
de nosso coração é nossa responsabilidade. Religião luta com a
realidade de cada dia da existência e está relacionada com nossa
labuta e escolhas. É nossa resposta ao argumento de Deus de se
tornar parte de nossas vidas.
A outra porta abre para o céu. Somente Deus pode abrir.
Ela nos dá acesso ao Seu perdão e Seu reino. Religião não é
meramente existencial, com implicações éticas e emocionais. Nem
é ela apenas a preocupação com o indivíduo e o presente. O reino
de Deus não está somente em nosso meio (cf. Lucas 17:20, 21). O
Apocalipse fala da outra porta, a porta no céu que somente Deus
48
pode girar para abrir. O reino de Deus tem aspectos cósmicos. O
Apocalipse usa a mesma imagem da porta para sugerir um
relacionamento entre os reinos individual e universal. O reino de
Deus começa aqui embaixo quando nós abrimos a porta: “entrarei
em sua casa, e com ele cearei” (Apo. 3:20). O banquete já
começou em nossa existência. Deus desceu entre nós e comeu em
nossa mesa. Mas em Sua presença nós vamos desejar mais. Nossa
comunhão com Ele cria um desejo por uma intimidade profunda.
A refeição se torna um mero aperitivo do curso principal. Quanto
mais nos aproximamos de Deus tanto mais desejamos sua
presença; Tanto mais compreendemos o que nos falta nesta
refeição, mais ansiamos pelo banquete lá encima. E tanto mais
abrimos nossa porta aqui, mais suspiramos por Deus girar a porta
do céu.
1
Apenas em Apocalipse 5:6 o livro menciona especificamente o cordeiro,
“como havendo sido morto.” A morte do cordeiro precede o cenário do trono no cap. 5.
2
Na tradição bíblica e judaica, ossos aludem a ressurreição (ver Eze. 37:1-14;
II Reis 13:21; cf. Jó 10:11; Sal. 34:20; Isa. 66:14; Gen. 50:25). No pseudo-epígrafe de
Jubilees (Segundo Século AEC), a proibição de quebrar os ossos do cordeiro da Páscoa
parece ligada ao milagre da ressurreição: os ossos de Israel são para permanecer inteiro,
aparentemente para a ressurreição (Jubilees 49:13).
3
Didache 10. 6; cf. I Cor. 16:22.
4
Babilonian Talmud, Shabbath 53b
5
Ver Dan. 2:28; cf. 2:37, 44, 45; Doukhan, Secrets of Daniel, p. 27.
6
Ver Gen. 1; Exo. 34:18; Lev. 23:36; Num 28:11, 19, 27, etc.
7
Ver Ezra 4 (II Esdras) 13:1; Eclesiásticos (ou Sirach) 7:3; 20:12; 22:12, etc.
8
Col. 1:2; 4:13.
9
Canon Muratorianus: The Earliest Catalogue of the Books of the New
Testament, ed. Samuel Prideaux Treguelles (Oxford: 1867), pp. 19,45
10
Apo. 2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22.
11
Miqueias 1:10-16.
12
Ver Dan. 11; cf. Doukhan, Secrets of Daniel, pp. 171-174
13
Ver W. M. Ramsay, The Letters to the Seven Churches, updated ed., ed.
Mark W. Wilson (Peabody, Mass,: 1994), pp. 131-133.
14
Dan. 2:37, 38; cf. Gen. 2:28; Doukhan, Secrets of Daniel, p. 30.
15
I Ped. 5:8; cf. Jó 1:7 na Septuaginta.
16
Ver Hippolytus (morreu em torno de 226 EC) The Refutation of All Heresies
7.24 (Ante-Nicene Fathers, vol 5, p. 115); e Epihanius (morreu em 403 EC) Adversus
Heresies 1. 2. 25 (Patologic Graecae, Vol. 41, cols. 319-330). Ver tambem D.M. Beck,
“Nicolaitians,” Interpreter’s Dictionary of the Bible (1962), vol 3, p. 548.
17
Nas visões antigas do gnosticismo cristão, ver R. M. Grant, “Gnosticism,”
Interpreter’s Dictionary of the Bible (1962), vol. 2, p. 404.
18
Ver Gen. 1:29, cf. Dan. 1:16; Doukhan, Secrets of Daniel, pp. 19,20.
19
Ver Prov. 3:1-18.
20
Ver Babilonian Talmud, Ketubot 111b; cf. Zohar 2. 151a-151b.
21
Ver Atos 7-9.
49
22
Donald Kagan, Steven Ozment, e Frank M. Turner, The Western Heritage,
3a
ed. (New York: 1987), pp. 191, 192.
23
Ver Doukhan, Secrets of Daniel, pp. 108, 109, 143-145.
24
Aboth 5. 1-9.
25
Franz Cumont, Études Syriennes (Paris: 1917), pp. 63ff.both 5. 1-9
26
Apoc. 20:6, 14; 21:8.
27
Targum of Jeremiah 51:39, 57; cf. Targum of Deuteronomy 33:6 e Isaiah
22:14; 65:6, etc.
28
Daniel provavelmente alude aos dois tipos de morte e ressurreição em Daniel
12:2.
29
Num. 25:1-5.
30
Ver Samuele Bachiocchi, From Sabbath to Sunday: A Historical
Investigation of the Rise of Sunday Observance in Early Christianity (Berrien Springs,
Mich.: 1977) e Kenneth A. Strand, “The Sabbath and Sunday From the Second Through
the Fifth Centuries,” em The Sabbath in Scripture and History, ed. Kenneth A. Strand
(Hagerstown, Md.: Review and Herald Pub. Assn., 1982), pp.323-332.
31
Doukhan, Secrets of Daniel, pp. 34, 35.
32
Ibid., pp.106-111.
33
Exo. 16:15; Sal. 78:25.
34
Exo. 16:33, 34; Heb 9:4.
35
Mekhilta 16. 25; cf. II Baruc 29:8; Babylonian Talmud, Hagigah12b.
36
Gen. 17:5.
37
Gen. 32:28.
38
Jer. 33:16.
39
Ver Exo. 3:13-15; cf. Gen. 32:29, 30; Juizes 13:17, o que comandou a
proibição contra pronunciar o nome divino (ver Babylonian Talmud, Kiddushin 71a;
Mishnah, Sanhedrin 10. 1).
40
Babylonian Talmud, Baba Bathra 75b. Aboth 5. 1-9
41
Midrash on the Psalms, Salmo 21, section 2.
42
Ver Josephus Antiquities of the Jews 7. 13. 2.
43
II Reis 8:18, 26, 27; 10:11.
44
I Macabeus 8:14; Homero The Illiad 4. 141-145.
45
Exo. 25:4; 28:5, 6; 39:29; Josephus Wars of the Jews 5. 5. 4.
46
Atos 16:14, 15, 40.
47
Ver Doukhan, Secrets of Daniel, p. 109.
48
Babylonian Talmud, Sukkah 52a.
49
Pesikta Zutarta, Num.24:17.
50
Babylonian Talmud Baba Bathra 75b
51
A History of the People of the U.S. From the revolution to the Civil War
(New York: 1920). Vol. 7, p. 136.
52
Ver especialmente Menahem Mendel, Zemah Zedek (1870-1874).
53
Ver Mirzá Husain Hamadani, TheTárik-i-jadíd, ou New History of Mirzá
„Alí Muhammad , the Báb, trans. e ed. Edward G. Browne (Cambridge: reprint 1975), p.
xxxv.
54
A NVI traduz “Deus da Verdade.” A palavra amen tem a mesma raiz da
palavra emet, truth.
55
Ver também João 1:1.
56
Gen. 14:18-20; 31:54; Deut. 12:5-7, 17, 18; 14:23, 26; 15:20; Exo. 18:12;
24:11; I Sam. 9:11-14; Prov. 9:1-5.
57
Ver Mat. 5:6; 9:11; 22:1-14; Mar. 6:35-44; Luc 13:29.
58
Marc. 14:25; I Cor. 11:26.
59
Apo. 2:7; 3:20; 19:7, 9; 22;2.
50
60
The Annals 12. 27.
61
Strabo The Geography of Strabo 12. 8. 16.
62
Ver Gen. 33:13.
51
Capitulo 2
A JIHAD CRISTÃ
(Apocalipse 4-8:1)
Shavuot
E de fato a porta de Apocalipse 3 reage a outra porta: a
“porta aberta no céu” de Apocalipse 4. A voz do Filho do homem
de novo atrai Yohanan. Agora, contudo, Yeshua fala ao profeta
“sobe aqui” (Apo. 4:1). E quando ele o faz, vê que “eis que um
trono estava posto no céu, e um assentado sobre o trono” (verso 2).
O Apocalipse é o livro do Novo Testamento que tem as
principais referências do trono. Entre as 62 ocorrências da palavra
grega para “trono” no Novo Testamento, 47 aparecem no
Apocalipse, seguida por apenas quatro no Evangelho de Mateus. O
tema trono é importante para Yohanan. A alusão ao trono interessa
tanto aos contemporâneos do profeta – preocupados com tronos
terrenos, especialmente do de César – como ao povo de hoje que
tem descartado a noção de trono como nada mais que um vestígio
monárquico. O Apocalipse multiplica a alusão do trono de Deus
para nos lembrar que existe de fato um “trono no céu,” um trono
exaltado sobre todos os outros tronos. “Trono” é a palavra chave
do capitulo 4: das 47 vezes usada no Apocalipse, ele tem 14 delas.
Yohanan simplesmente menciona o trono e não atenta para
descrevê-lo. Assim como para a Pessoa sentada no trono, Yohanan
também se encontra incapaz de descrevê-Lo. Aqui, contudo, ele se
52
torna poético e compara o mesmo a três pedras preciosas: jaspe,
sárdio e esmeralda. Esta combinação específica é significante,
desde que o peitoral do sumo sacerdote de Israel contem as
mesmas três pedras (Exo. 28:17-19). É o único lugar que a
Escritura menciona as três gemas juntas. Yohanan não vê muito do
Ser misterioso sentado no trono exceto pelas três jóias. A intenção
é novamente evocar o templo.
O Arco-íris sobre o trono acrescenta a sua grandiosidade.
Isso também lembra-nos do arco-íris da esperança depois do
Dilúvio. Um símbolo de graça, o arco-íris serve para fixar a aura
de justiça representada pelo trono. No meio de “relâmpagos, e
vozes, e trovões” (Apo 4:5) – precursores do histórico caos
vindouro e o castigo de Deus1
– O arco íris é o sinal do amor de
Deus, que com Sua justiça, salva e dá esperança. O arco íris é
também o “aspecto da semelhança da glória do Senhor” (Eze.
1:28); isto é de Sua grandeza e poder infinitos. O grande arco
abraça os céus e a terra – a totalidade do universo.
Envolta do trono sentam-se 24 anciãos. A idade identifica-
os com o juiz de cabelos brancos como a lã branca, (Apo. 1:14) e
sua posição – deles, como Ele, sentados em tronos – revela a
qualidade deles como juizes.2
Os 24 anciãos então representam
aqueles que “venceram” na carta de Laodiceia – aqueles
convidados a sentarem com o filho do Homem no trono (Apo.
3:21) para ajudá-lo a julgar. Mas até o capítulo 20 o Apocalipse
não vai descrevê-los como julgando. Por enquanto, eles
apresentam louvor e adoração (Apo 4:9-11). A função deles um
pouco mais tarde envolve transmitir “as orações dos santos” (Apo.
5:8), e um deles até ajuda Yohanan a identificar o último
remanescente (Apo. 7:13, 14). Tais responsabilidades refletem
aquelas dos sacerdotes tanto quanto dos juizes. Também as duas
funções não são necessariamente incompatíveis. Sentados em
tronos eles são, como o sumo sacerdote, investidos com a dupla
responsabilidade de sacerdote e juiz, uma ligação que data do
tempo de Moisés, quando o sacerdote era também juiz3
.
È claro que o número 24 é simbólico. Ele está relacionado
com o número 12, o número da aliança (quatro, número da terra,
vezes três, número de Deus). As 12 tribos de Israel, assim como os
12 discípulos de Yeshua, têm a mesma conotação, algo claramente
testemunhado no Apocalipse (Apo. 21:12, 14). O número 12
53
representa o povo do concerto, o remanescente, todo o Israel, o
Israel do Apocalipse. O número 24 também evoca o serviço do
Templo de Jerusalém, com sua divisão de 24 sacerdotes (I Cron.
24:1-19). Um “chefe” (I Cron 24:5, chamado “oficial” na NVI),
liderava cada grupo. É interessante que o Mishnah chama-os de
“anciãos”4
. Do mesmo modo que os sacerdotes, os cantores
pertenciam a 24 grupos (I Cron. 25:1-31) e, igual aos “anciãos”
eles adoravam a Deus tocando harpa (Apo. 5:8; cf. Cron. 25:1, 6,
7). A atividade dos anciãos é nada mais que um serviço de
adoração celestial, do qual o serviço do Templo terrestre foi um
mero reflexo5
.
O mar de vidro, claro como cristal, parece se estender ad
infinitum diante do trono. (Apo 4:6) e desse modo evoca a
dimensão cósmica da situação. Também a imagem do trono de
Deus suspensa sobre água proclama o poder de Deus sobre os
elementos. O Apocalipse aqui representa Deus como o Criador. O
livro de Gênesis descreve a criação do mundo em termos de uma
vitória sobre o elemento água, um símbolo de vacuidade e de
escuridão6
.
O tema posterior ocorre também em Salmos7
e no livro de
Isaias8
. O salmo 104 coloca o trono de Deus sobre a água para
significar Sua soberania sobre a criação: “que pões nas águas os
vigamentos da tua morada” (Sal. 104:3). É provavelmente esta
imagem que inspirou o mar de bronze que Salomão fundiu para o
Templo (II Cron. 4:2). O Juiz divino, Rei do universo, está assim
identificado como o Criador9
.
Interessantemente, uma referência ao Espírito de Deus
(Apo 4:5), o agente ativo da Criação (Gen. 1:2), introduz o mar de
vidro, o símbolo da Criação. Além disso, a descrição dos quatro
seres, que representa a terra, segue a descrição do mar de vidro. Na
Bíblia, como no restante do antigo Oriente Próximo, o número 4
simboliza as dimensões terrestres. Nós recorremos aos quatro
pontos cardeais10
e aos quatro cantos da terra11
. O profeta Daniel
fala dos quatro ventos do céu. (Dan. 7:2), que, de novo, representa
a terra em sua totalidade. Ele também, re-conta a história da raça
humana (Dan. 2 e 7 ) através do simbolismo de quatro reinados.
O que é mais surpreendente sobre os quatro seres é sua
aparência. O primeiro assemelha-se a um leão, o segundo a um
boi, o terceiro a um homem e o quarto a uma águia. Uma antiga
54
historia judaica, uma midrash, empresta a mesma linguagem. De
acordo com Rabbi Abahu, existem quatro criaturas poderosas: a
águia, a mais poderosa entre as aves, o boi, o mais poderoso entre
os animais domésticos, o leão, o mais poderoso entre animais
selvagens; e o homem, o mais poderoso entre todos os animais12
.
A tradição lembra estas quatro bestas como representando toda a
criação, tanto como os 24 anciãos exemplificam mais
especificamente a raça humana. O Apocalipse coloca a criação do
universo no coração da visão do trono.
A liturgia cantada pelos 24 anciãos em resposta ao
encantamento dos quatro seres também aludem à Criação.
Primeiro, os quatro seres pairam sobre o trono, cantando em tripla
medida: “Santo, Santo, Santo... que era que é e que há de vir”
(Apo. 4:8). Este paralelismo sugere que a santidade de Deus
manifesta-se nos três componentes de tempo e da história: o
passado, o presente e o futuro. Em outras palavras, Deus é sempre
santo. O profeta Isaias recebeu uma visão similar (Isa 6:1-3). É
também enfatizada a santidade de Deus três vezes: “Santo, Santo,
Santo é o Senhor dos Exércitos; a terra toda está cheia da sua
glória” (verso 3).
Então os 24 anciãos prostram-se em adoração, lançando
suas coroas diante do trono. E o ciclo prossegue. Os quatro seres
continuam cantando a santidade de Deus. A liturgia deles nunca
acaba.
A cena engloba espaço e tempo. Os objetos, as vozes, as
imagens, as pessoas – tudo tipifica a mesma adoração para gloria e
honra ao Deus Criador: “Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de
receber a glória e a honra e o poder; porque tu criaste todas as
coisas, e por tua vontade existiram e foram criadas” (Apo. 4:11).
O que torna Deus digno de adoração como juiz e rei é que
Ele é o Criador do universo – que Ele é nosso Criador. Se Ele não
fosse nosso criador, nossa adoração seria idolatria. Alguém pode
adorar o Criador ou idolatrar a criatura. Somente Deus, porque Ele
nos criou, pode julgar nosso destino e nossa salvação.
“Digno és” (Apo. 4:11) antecipa a questão no capitulo 5:
“Quem é digno?” (Apo 5:2). Esta questão vem como uma
aclamação e se refere a um livro selado seguro na mão direita do
divino Juiz sentado no trono: “Quem é digno de quebrar os selos e
abrir o livro?” (verso 2). A questão é deixada suspensa, pois o
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  • 1. 1 JACQUES B. DOUKHAN Segredos Do Apocalipse O Apocalipse Através de Olhos Hebraicos
  • 2. 2 Obs: Esta tradução ainda está em rascunho. Aguardando revisão
  • 3. 3 Segredos do Apocalipse O Apocalipse Através de Olhos Hebraicos Jacques B. Doukhan
  • 4. 4 Versão utilizada para os textos bíblicos: João Ferreira de Almeida Atualizada do site www.BibleGateway.com
  • 5. 5 Conteúdo Prefácio: Um Livro Estranho ............................................... 9 Introdução : “Ele Está Chegando” (Apocalipse 1:4-10) ........ 18 Primeira Parte: Tempestades Capitulo 1: Carta Aberta às Igrejas (Apocalipse 1:11-3:22) 25 Capítulo 2: A Jihad Cristã (Apocalipse 4-8:1) ................... 51 Capítulo 3: Os Shofars da Morte (Apocalipse 8:2-11:10) .... 77 Segunda Parte: O Céu é Vermelho Capítulo 4: O diabo e a Mulher (Apocalipse 12) .................107 Capítulo 5: Homens e Bestas ............................................... 114 Capítulo 6: Anjos Clamando (Apocalipse 14:6-20) ............ 123 Terceira Parte: Notícias do Oriente Capítulo 7: As Taças do Mundo (Apocalipse 15-18) ......... 143 Capítulo 8: Guerras nas Estrelas (Apocalipse 19; 20) ........ 169 Capítulo 9: Jerusalém de Ouro (Apocalipse 21-22:5) .........188 Conclusão: “Estou Chegando” (Apocalipse 22:6-21) ........ 200
  • 6. 6
  • 7. 7 Para minha filha Abigail, Que partilhou comigo o peso da Palavra e a luz da visão.
  • 8. 8
  • 9. 9 Prefácio UM LIVRO ESTRANHO (Apocalipse 1:1-3) O Mishnah conta a história de quatro famosos sábios que entraram no Pardes, o paraíso místico da visão apocalíptica1 . Porém nenhum sobreviveu à visita. O primeiro morreu na hora, o segundo perdeu sua fé e o terceiro se tornou demente. Quanto ao quarto... se proclamou o messias. Esta parábola – em tom de gozação – mostra-nos uma importante advertência: O conceito do Apocalipse é, de fato, perigoso. Ele tem uma aura de morte, julgamento e medo sobre si. Às vezes o medo tem se tornado tão paralisante que alguns não podem nem pensar sobre ele. Alguém disse uma vez “ou o apocalipse acha um homem maluco, ou ele o deixa maluco.” De David Koresh nos Estados Unidos, Shoko Asahara no Japão, e Luc Jouret na Europa – Para todos esses “místicos” que ainda correm para Jerusalem2 para encontrar o Messias ou para ser um – o conceito de apocalipse tem inspirado muitos homens loucos a cair em grande delírio. Antes de nos aventurarmos dentro do livro bíblico de Apocalipse, precisamos, contudo preparar-nos a nós mesmos e estarmos certos de que vamos lê-lo e entendê-lo da maneira que Deus quer que ele seja entendido. Para esse propósito, os primeiros três versos indicam a natureza do livro e serve como guia de como devemos nos aproximar dele – e desfrutá-lo e sobreviver. ♦♦♦♦ Primeiro de tudo, o autor ele mesmo é um judeu. Seu nome hebraico Yohanan (YHWH é gracioso) era relativamente comum
  • 10. 10 entre seu povo. Ele aparece em tempos bíblicos3 e Flavius Josephus menciona 17 diferentes homens com este nome. É também o nome de rabinos antigos famosos como Yohanan ben Zakkai (primeiro século) ou Yohanan o Sandal Maker (segundo século). Nosso Yohanan é provavelmente a mesma pessoa que escreveu o Evangelho de João, Yohanan ben Zebedeh, irmão de Tiago e discípulo amado de Jesus (ou Yeshua). A tradição cristã é unânime nesse caso. Policarpo, bispo de Éfeso (130-196 EC), claramente atesta a presença de Yohanan em Éfeso, que pode explicar o interesse particular do autor com a igreja de Éfeso e da Ásia4 . O autor do Apocalipse é real. O lugar que ele estava, “Patmos,” era uma pequena ilha de 16 milhas2 cercada pelo Mar Egeu (a palavra “mar,” thalassa em grego, aparece 25 vezes no Apocalipse). De acordo com a tradição, Domiciano, o primeiro imperador (81-96 EC) que levou sua própria divindade a serio e requereu que seu povo o adorasse como Deus, exilou Yohanan e sentenciou-o a trabalho pesados na pedreira. Os judeus e cristãos a quem ele chamou de “esses ateístas” desde que eles lhe recusaram a honra de deidade, particularmente aborreceram-no. De acordo com Jerônimo5 , os romanos deportaram Yohanan 14 anos depois da perseguição de Nero (94 EC) e libertaram-no dois anos mais tarde depois da morte de Domiciano (96 EC). Tal deportação era comum sob o regime romano e normalmente envolvia figuras políticas. Os prisioneiros perdiam todos seus direitos civis e propriedades. Na introdução do Apocalipse, Yohanan identifica a si mesmo como uma testemunha, um “martus” (Apo 1:2), que estava “sofrendo” e “estava na ilha de Patmos por causa da Palavra de Deus” (verso 9). Desarraigado de seu passado, sua família, amigos, residência e seus parentes; esmagado por trabalho pesado e humilhação; não lhe deixado nada senão esperança, o autor do Apocalipse foi então um “mártir” que alcançou Kiddush há-Shem (Santificação do nome) na maneira perfeita da tradição judaica. E sua nostalgia de sua terra natal e a confrontação diária com seus opressores serviu apenas para aumentar a identidade judaica de Yohanan. Um livro Hebraico O Apocalipse é, contudo, mais hebreu que qualquer outro livro do Novo Testamento. Ele contem mais de 1000 alusões às
  • 11. 11 Escritura Hebraicas, incluindo 400 referências explicitas e 90 citações literais do Pentateuco e dos Profetas. Com relação a citações textuais, o Apocalipse é mais fidedigno do original hebraico do que de sua tradução grega, a Septuaginta. Ernest Renan observou que “a linguagem do Apocalipse é traçada do hebraico, pensada em hebraico e dificilmente pode ser entendida por aqueles que não conhecem o hebraico.”6 Esta característica convida nos a considerar a base e perspectiva hebraica do livro. Para entender o Apocalipse, devemos lê-lo à luz das Escrituras Hebraicas. Esta é a principal perspectiva do presente comentário. Como procuramos achar as intenções do autor, vamos analisar as referências às Escrituras Hebraicas em seu próprio contexto hebraico e judaico. Nossa interpretação do Apocalipse vai incluir não apenas uma exegese direta das Escrituras Hebraicas quando necessária, mas também vai levar em consideração o específico mundo judeu e tradições que o livro reflete. Um segredo Revelado Desde o início o livro é enraizado nos “segredos de Daniel.” Até a primeira palavra, “revelação,” coloca-o na presença de um segredo que está para ser revelado. “Revelação,” ou “apocalipse,”7 vem do grego apokalupto, “para revelar um segredo,” Acontece que este verbo “revela” é também uma das palavras chave do livro de Daniel (glh), na qual ele ocorre sete vezes. Igual à primeira palavra do Apocalipse, ele também introduz visões proféticas8 e está associado com a palavra “segredo” (razah). Este eco do livro de Daniel na primeira palavra do Apocalipse sugere uma conexão especial entre os dois trabalhos proféticos. As “revelações de Yohanan” levam-nos de volta aos “segredos de Daniel.” Além disso, o Apocalipse começa com uma bem- aventurança que faz eco à última bem-aventurança do livro de Daniel: “Bem-aventurado aquele que lê e bem-aventurados os que ouvem as palavras desta profecia e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo.” (Apo 1:3). Daniel declarou: “Bem aventurado é o que espera e chega aos mil trezentos e trinta e cinco dias. Tu, porem, vai-te, até que chegue o fim; pois descansarás, e estarás no teu quinhão ao fim dos dias.” (Dan 12:12,13).9
  • 12. 12 Desde o início, o autor do Apocalipse coloca-se na mesma perspectiva da profecia de Daniel como é sugerida pelo título “Revelação” e a primeira bem-aventurança que introduz o livro e orienta sua leitura. O Apocalipse alude mais ao livro de Daniel do que qualquer outra porção das Escrituras Hebraicas10 . Até a expressão técnica “Eu Yohanan,” que o profeta usa para introduzir sua visão11 faz eco ao “Eu Daniel” do livro12 do Antigo Testamento. Ambos os livros tem fraseologia similar. E ambos têm as mesmas visões, os mesmos temas, a mesma implicação ética e a mesma perspectiva profética, cobrindo a mesma extensão de tempo13 . As semelhanças entre os livros de Daniel e Apocalipse fornecem nossas primeiras senhas de como devemos ler o último livro. As referências ao livro de Daniel guiam-nos quando tentamos interpretar o Apocalipse. Recomendo que todos leiam o livro de Daniel e meu comentário Segredos de Daniel14 como base da direção de como o Apocalipse emprega seus temas e alusões. Também, a bem-aventurança que introduz o Apocalipse sugere de início a metodologia que deve caracterizar qualquer aproximação a este livro. A passagem se divide em três verbos: “ler”, “ouvir” e “toma no coração” (ou “guarda”). O livro primeiramente nos chama para ler. “Bem- aventurado é aquele que lê.” As bênçãos emergem da revelação, “um segredo revelado,” um Apocalipse. A bem-aventurança sugere que felicidade implica na necessidade de uma revelação. De outra forma poderemos perder o foco. De fato, a natureza da leitura deste livro é essencialmente religiosa. Interessantemente, o verbo “ler” é o único na forma singular: “aquele que lê.” Os outros verbos estão na forma plural: “aqueles que ouvem.” “aqueles que guardam.” O leitor tem uma audiência - ele não está sozinho. As palavras que ele lê devem ser ouvidas pela multidão - “aqueles que ouvem,” de acordo com a prática litúrgica da sinagoga. Nós estamos no contexto sagrado de adoração corporativa. O Apocalipse é para ser lido como uma liturgia; como uma experiência emocional e mística; como poesia, com seus ritmos, símbolos, e lições espirituais. Mas o Apocalipse é muito mais que um exercício espiritual. As Escrituras chamam estas palavras de “profecia.” Lidando com mais que emoções, o livro não é endereçado apenas a
  • 13. 13 místicos e poetas. De fato, suas palavras ressoam longe além dos muros do templo, longe além das premissas do serviço de adoração. Mais que uma liturgia, o Apocalipse é um livro cujo leitor deve estudar e entender. Mas esta aproximação requer esforços intelectuais. Nós temos que “ler” a profecia, o que significa no contexto do pensamento hebraico, que temos que entendê-la (I Reis 3:9; Nee. 8:3; Jer 6:10; Apo 2:7; 3:22). Somente então ela irá “revelar segredos” e iluminar o curso atormentado da história até seu completo cumprimento, como sugerido nas últimas palavras das bem-aventuranças: “por que o tempo está próximo” (aproximação histórico-profética). A concepção hebraica do “ouvir” também implica uma disposição de vivenciar o que alguém entendeu. O Shemá Israel (Deut. 6:4-9) é mais que uma melodia agradável para se admirar. Em hebraico, o verbo “ouvir” (escutar, entender) é sinônimo do verbo “guardar” e “obedecer.” Esta é exatamente a mensagem das últimas palavras de nossa passagem: “Bem-aventurados os que ouvem as palavras desta profecia e guardam as coisas que nela estão escritas.” Alem da leitura litúrgica que canta em nossos ouvidos e a profecia que desafia nossa mente, o livro visa conduzir-nos a entregar nossa vida a Deus, para fazê-la no tom com “as coisas que nela estão escritas” (aproximação existencial). As bem-aventuranças apontam para as primeiras palavras do livro, identificando a mensagem escrita como uma revelação de cima, “a revelação... que Deus deu” (Apo. 1:1). Nós devemos entender a “revelação de Yohanan” (o mais antigo titulo do livro)15 como a revelação para Yohanan. O Apocalipse é assim verdade divina no corpo da palavra escrita, chamando para o penoso esforço da busca religiosa e apaixonada do significado do texto (aproximação exegética). Uma Estrutura da Menorah Esta multiplicidade de aproximações que devemos usar para estudar o Apocalipse, já a encontramos apontada por toda a estrutura – o que eu chamo de menorah, ou padrão de sete vezes – que apóia todo o livro (ver a tabela Menorah, p. 14). A estrutura do Apocalipse tem as seguintes características: 1. Ela se abre em sete ciclos de visões, paralelas e simultâneas, não diferentes do livro de Daniel16 , em forma chiastica (da letra grega chi tendo a forma de um X) significando
  • 14. 14 que a segunda metade do ciclo é no paralelo inverso ao primeiro (ABC/C‟B‟A‟). 2. No inicio de cada um dos sete ciclos a visão retorna ao templo com a nota litúrgica que alude ao calendário dos dias santos em Israel (como prescritos em Levíticos 23). O livro ainda coloca cada ciclo profético dentro da perspectiva de um festival judaico, aquele muitas vezes aludido dentro do próprio ciclo17 . O autor convida-nos a ler o Apocalipse à luz das festas judaicas18 . rituais que abrigam significado simbólico na história. A Forma Menorah do Apocalipse19 Fase da terra (1-11:18) Fase final (11:9-14) Fase celestial (15-22)
  • 15. 15 Alem disso, como no livro de Daniel, o Apocalipse se divide em duas seções principais (histórica/terrestre e escatológica/celestial), no meio da qual aparece o julgamento de Deus durante o fim dos tempos e retorno do Filho do Homem (Apo. 14; cf,. Dan.7).20 A primeira parte do Apocalipse é primariamente uma visão profética da história da época da vida de Yohanan até o advento de Deus, enquanto a segunda parte lida com a época do advento de Deus até a descida da cidade celestial. Em lugar de interpretar o Apocalipse como uma mera reflexão dos eventos contemporâneos de seu autor (interpretação preterista),21 devemos antes interpretá-lo de acordo com sua própria perspectiva, como uma visão das coisas por vir (interpretação histórico-profética), com todos os riscos de fé e responsabilidade que esse tipo de leitura vincula (aproximação existencial). Esta “interpretação histórico-profética” não é apenas aquela interpretação mais confiável pelo autor, mas é também a interpretação mais antiga.22 O livro expande, desenvolve e intensifica gradualmente seus temas apocalípticos. Yohanan aqui segue o exemplo de Daniel, que repete e expande suas visões (ver especialmente Daniel 2, 7 e 8). As “revelações de Yohanan” são também uma revelação singular. O título Apocalipse implica tanto em singular como plural. Nossa interpretação dessas visões deve, contudo, levar em consideração esta forma literária de repetição e intensificação (interpretação recapitulatória). Esta interpretação obviamente desafia a um entendimento cronológico do Apocalipse que vê os eventos preditos pelos selos como seguindo aqueles preditos pelas cartas; aqueles preditos pelos shofars depois dos selos, e assim vai (interpretação futurista e dispensacionalista). ♦♦♦♦ Todas essas observações preliminares sobre a natureza, propósito e forma do Apocalipse indica que este livro misterioso não foi designado para ser amedrontador e estranho, mas em vez disso é uma revelação clara para nossas questões e acalma nossos medos sobre o futuro.
  • 16. 16 1 Hag. 14b; cf. TJ Hag. 2:1, 77b 2 Ver Yair Bar-El, Rimona Durst, Gregory Kartz, Josef Zislin, Ziva Strauss e Haim Y. Knobler, “Jerusalem Syndrome.” The British Journel of Psychiatry 176 (Jan 2000):86-90. 3 Jer. 40:16; Eze 8:12; Nee. 12:23; I Cron. 3:15; etc. 4 Polycrates, From His Epistle to Victor and the Roman Church Concerning the Day of Keeping the Passover (Ante-Nicene Fathers, vol 8, p.773), mencionada em Eusebio, Church History 5.24.3 (Nicene and Post-Nicene Fathers Segunda Serie, vol 1, p.242). 5 Jeronimo, Lives of Illustreous Men 9 (Nicene and Post-Nicene Fathers, Segunda Serie, vol. 3, pp. 364, 365). 6 Ernest Renan, Antichrist: Including the Period From the Arrival of Paul in Rome to the End of the Jewish Revolution, trans e ed. Joseph Henry Allen (Boston: 1897), p. 17. 7 A palavra “apocalipse” tem dado seu nome a uma importante tendência literária , tanto em tradições judaicas como cristãs, e aplica-se tanto a fontes bíblicas como não bíblicas. Nas Escrituras Hebraicas, exemplos incluem Daniel, Ezequiel, Ageu, Zacarias e algumas partes de Isaias, etc.; No novo testamento nos encontramos o gênero em Mateus 24; Marcos 13; I Tessalonicenses 4:13-18; II Tessalonicenses 2:1-12; I Coríntios 15:20-26, 51-53. Fora da Bíblia (escritos apócrifos e escritos pseudo- epigráficos) nós classificamos os escritos judaicos I Enoque, II Enoque, IV Esdras (II Esdras 3-14), II Baruc, a Ascenção de Moises, o Apocalipse de Abraão, o Apocalipse de Adão, o Apocalipse de Elias, o livro de Jubileus, o Testamento dos Vinte Patriarcas, e alguns textos dos escritos do Mar Morto como apocalípticos Entre os escritos cristãos, nos consideramos o Apocalipse de Pedro, o Apocalipse de Paulo, o Apocalipse de Isaias, etc., como apocalípticos. Nós devemos, contudo, rever que a classificação dos trabalhos acima como “apocalípticos” continua arbitrária e artificial. Alem disso, o Apocalipse retém certas características que o diferencia dos outros escritos “apocalípticos” (sua intenção profética, suas implicações éticas, seu otimismo, seu autor [cujo nome não é um pseudônimo de um predecessor mais ilustre], etc). 8 Dan. 2:19, 22, 28, 29, 20, 47; 10:1. 9 O Apocalipse contem sete bem-aventuranças (Apo. 1:3; 14:13; 16:15; 19:9; 20:6; 22:7.14). Todas as sete aludem a vinda de Deus. 10 Ver Henry Barclay Swete, The Apocalypse of St. John; The Greek Text With Introduction, Notes and Indices, 3a ed. (Londres: reeditado 1917), p. cliii. 11 Cf. Apo 1:4, 9; 22:8. 12 O livro de Daniel emprega a expressão sete vezes para introduzir a visão apocalíptica (Dan 7:15, 28; 8:15, 27; 9:2; 10:2, 7). 13 Para paralelos e conexões entre Daniel e o Apocalipse, ver Richard Lehmann, “Relationships Between Daniel and Revelation.” No Symposium on Revelation-Book 1, ed Frank B. Holbrook, Daniel and Revelation Committee Series (Silver Spring, Md.: Biblical Research Institute, General Conference of Seven-day Adventists, 1992), vol. 6, pp. 131-144. Cf. Jean-Pierre Ruiz, Ezekiel in the Apocalipse: The Transformation of Profetic Language in Revelation 16, 17-19, 10, European University Studies, Series XXIII, Theology (Frankfurt am Main: 1989), vol. 376; e G.K. Beale, The Use of Daniel in Jewish Apocaliptic Literature and in the Revelation of St John (Lanham. Md.: 1984). 14 Jacques B. Doukhan, Secrets of Daniel: Wisdom and Dreams of a Jewish Prince in Exile (Hagerstown, Md.: Review and Herald Pub. Assn., 2000). 15 The Canon Muratori , um documento do Segundo século, e os escritos dos Pais da Igreja atestam isso (Ver David E. Aune, Revelation, World Biblical Commentary [Dallas: Word Books, 1997], vol 52, p. 4).
  • 17. 17 16 Ver Jacques B. Doukhan, Daniel: The Visiono f the End, rev. ed. (Berrien Spriongs, Mich.: Andrews University Press, 1989), pp. 3-6. 17 As Festas judaicas indicadas nos títulos deve ser no original hebraico: Shabbat (the Sabbath), Pessah (Páscoa), Shavuot (Pentecostes), Rosh Hashanah (Ano Novo ou Festa das Trombetas), Kippur (Dia do Perdão), Sukkot (Festa dos Tabernáculos). 16 Por um padrão similar das festas judaicas no Evangelho de João, ver George R. Beasley-Murray, John, 2ª ed., Word Biblical Commentary (Nashville: 1999), vol. 36, p.lix. 19 Cf. K.A. Strand, Interpreting the Book of Revelation: Hermeneutical Guidelines, With Brief Introduction to Literary Analysis, rev. and enl. ed; (Worthington, Ohio: Ann Arbor Publishers, 1976), p. 51. 20 Ver Doukhan, Secrets of Daniel, p.100. 21 O jesuita espanhol Luis de Alcazar (1554-1614) introduziu primeiro esta interpretação. Em contraste com os Reformadores que aplicam esta profecia ao papado, o teólogo jesuíta aplica-a ao judaísmo e à Roma pagã contemporânea a Yohanan. O nacionalismo alemão no século dezenove desenvolveu esta visão, e isso pavimentou o caminho para o método crítico-histórico. 22 Irineu de Lyon (130-202 EC) manteve essa interpretação. Nascido apenas pouco tempo depois do aparecimento do Apocalipse, este Pai da Igreja foi discípulo de Policarpo, um mártir que se encontrou pessoalmente com Yohanan (ver Eusébio Church History 5. 20. 6 [Nicene and Post-Nicene Fathers, Segunda Série, vol 1, pp. 238, 239]). A igreja, sob a influência de Hipólito e Origenes, descartou a perspective durante a Idade Média por mais alegórica, espiritual e moral que é esta interpretação, mas ela reapareceu no século dezesseis com os Reformadores.
  • 18. 18 Introdução “ELE ESTÁ CHEGANDO” (Apocalipse 1:4-10) O Deus de Israel Das primeiras palavras de saudação do livro, o autor sustenta sua profecia no Deus de Israel: “Da parte daquele que é, e que era, e que há de vir” (Apo 1:4). A frase recorda-nos do modo como Deus se anunciou a si mesmo para Moisés (Exo 3:14): “I AM WHO I AM.” O Deus de Israel se apresentou Ele mesmo como o Deus que não pode ser captado, ou limitado por, uma definição teológica. Ele é simplesmente o Deus “que é” exatamente aqui em nosso presente. Mas o Deus que nós adoramos hoje é o mesmo adorado no antigo Israel. O segundo verbo, “que era,” lembra-nos que Ele foi o Deus de Abraão, Isaac e Jacó. Também Ele “é” no presente exatamente como Ele “foi” no passado e mais que justo “será” no futuro. Em vez de usar o verbo existencial “ser” para o futuro, Yohanan muda o verbo, trocando pelo verbo “ser” (conjugado no passado e no presente) do verbo “vir.” De fato, Deus existe, Mas apesar de todo o conhecimento que temos adquirido sobre Ele e de tudo que temos experimentado como Ele intervém na história, Ele permanece sempre remoto, por que Ele ainda não veio. Apenas o futuro sustenta a promessa de sua vinda. O futuro sustenta para nós muito mais que o passado e o presente. Mais que o Deus da memória, mais que o Deus da existência, da espiritualidade e da comunhão, Ele é o Deus “que está para vir.”
  • 19. 19 O livro confirma mais adiante sua mensagem por uma referência ao Espírito “diante do seu trono” (Apo 1:4). As predições do Apocalipse não são para produzir alguma leitura astrológica ou física. Elas são certas porque procedem do trono de Deus, do soberano Juiz do universo, que sabe todas as coisas. Quando o profeta Isaias enumera os sete espíritos que estão para coroar o Messias, ele faz isso para ilustrar o julgamento claro e justo que vai preceder o estabelecimento do reinado de Deus: “Ele... não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem decidirá segundo o ouvir dos seus ouvidos... o lobo morará com o cordeiro... Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte; porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor” (Isa. 11:3-9). Como o Espírito do alto revela os segredos da salvação e julgamento do mundo, o livro se define a si mesmo mais uma vez como um Apocalipse - um desvendar. As palavras do profeta então empregam um calor, um tom mais intimidador, pois ele declara que tais segredos vêm “de Jesus Cristo” (Apo. 1:5). Johanan descreve três atributos de Cristo (“fiel testemunha,” “primogênito dos mortos,” e “príncipe dos reis da terra” [verso 5]) que estão relacionadas com as três ações (“aquele que nos ama,” “nos libertou,” e “nos fez reinos” [verso 6]). Os três atributos de Yeshua aludem aos três estágios principais da salvação: (1) Sua encarnação, como testemunha de Deus entre a humanidade; (2) Sua morte, que nos salvou e Sua ressurreição; e finalmente (3) Sua realeza, que garante nossa cidadania em Seu reino. O apóstolo Paulo, como ele refletiu sobre a ressurreição, descreveu os mesmos três estágios: “Mas na realidade Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, sendo Ele as primícias dos que dormem... Então virá o fim quando ele entregar o reino a Deus o Pai... pois é necessário que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de seus pés”. (I Cor. 15:20-25). E nós temos a mesma progressão temática no discurso de Pedro para a multidão no Pentecostes (Atos 2:22-25; cf. Atos 7:56). O plano todo da salvação, como entendido pelos primeiros cristãos judeus, serve como um prelúdio da profecia. O Deus que veio é nada mais que o Messias Ele mesmo. Mas a profecia tem mais que somente as boas novas da libertação. Não esperamos
  • 20. 20 meramente por um evento, mas também por uma pessoa que amamos e quem nós conhecemos, e que nos ama e nos conhece. Este relacionamento pessoal torna a espera muito mais intensa. A primeira profecia que o Apocalipse apresenta é aquela da vinda do Messias. O livro descreve o Messias como Ele foi descrito no livro de Daniel: “Eis que vem com as nuvens” (Apo. 1:7; cf. Dan 7:13). A expressão parece forçada e tem às vezes uma conotação de riso e até de zombaria. Alguns conceituaram interpretar melhor no sentido espiritual, como Deus habitando no coração e na alma de alguém. Outros a entenderam como sendo pouco mais que mitológica. Ainda que claramente o profeta tenha em mente algo completamente real como está na declaração: “Todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram” (Apo. 1:7). O texto aqui se refere à profecia pronunciada por Zacarias: “E olharão para aquele a quem traspassaram, e o prantearão como quem pranteia por seu filho único; e chorarão amargamente por ele, como se chora pelo primogênito. Naquele dia será grande o pranto em Jerusalém, como o pranto de Hadade-Rimon no vale do Megido.” (Zac. 12:10,11). A alusão à Zacarias evoca a idéia e imagem de choro e lamentação. Diante “E nos fez reino, sacerdotes” (Apo 1:6), aqueles que apaixonadamente esperam pela vinda do Messias, do alto, Yohanan aponta para outro campo – “os reis da terra,” que confiam apenas no poder terrestre imediato e tangível. Ele não inclui apenas os romanos que direcionaram os pregos e viram-No morrer com seus próprios olhos, mas também aqueles que indiretamente contribuíram com sua morte: Os sacerdotes invejosos de Sua popularidade; os discípulos cristãos que covardemente silenciaram; e finalmente a multidão toda de homens e mulheres que, através dos tempos, tem de uma forma ou de outra, participado de seu assassinato. Yohanan prediz que eles serão desapontados. Em lugar de se tornarem reis e herdeiros da vida eterna, eles lamentarão por Ele, não porque Ele vai morrer, mas por que na Sua vinda eles irão então entender a extensão de seu mau julgamento. As Escrituras comparam a tristeza deles com aquela profunda emoção que temos quando alguém amado morre. É de fato uma nota irônica. Aquele que eles desejaram ver morto – aquele que eles realmente mataram – eles agora lamentam
  • 21. 21 igualmente quando verão com seus próprios olhos que Ele não está mais morto. Uma resposta litúrgica confirma que o Messias vai retornar: “Sim! Amém” (verso 7). As palavras parecem proceder diretamente da boca do traspassado, e é Ele que agora fala: “‟Eu sou o Alfa e o Ômega‟ diz o Senhor Deus, „aquele que é, e que era, e que há de vir, o Todo Poderoso‟” (verso 8)). Ele é o “Senhor Deus,” o YHWH Elohim da Criação (Gen. 2), o Deus tanto do inicio como do fim do tempo; “o Alfa e o Ômega” (a primeira e a última palavra do alfabeto grego); aquele “que é, e que foi” e especialmente aquele “que virá”; e “o Todo-Poderoso,” o El Shaddai. Este último nome é um dos mais antigos nomes de Deus na tradição hebraica. Israel se lembraria dEle, o Deus dos patriarcas, como o Deus das promessas e bênçãos (Gen. 28:3; 35:11). Shabbat Yohanan recebe sua visão no “Dia do Senhor” (Apo. 1:10). A maioria dos leitores cristãos pensa imediatamente no domingo, esquecendo que o escritor é judeu, alimentado pelas Escrituras Hebraicas e ensinado na tradição de seus ancestrais. Além disso, a história não começa a referir “Dia do Senhor” como domingo até o segundo século EC. Logo é mais plausível pensar que “Dia do Senhor” é igual a dia de Sábado, também chamado um dia “para o Senhor” nas Escrituras Hebraicas (Exo. 20:10; Deut. 5:14). Também o uso freqüente do numero 7 no Apocalipse justifica nossa alusão ao dia de Sábado como a abertura das festas do livro. Além disso, o Sábado introduz o ciclo anual de festas delineado em Levíticos 23: “Seis dias se farás todo trabalho, mas o sétimo dia é o sábado do descanso solene, uma santa convocação; nenhum trabalho será feito, é o sábado do Senhor em todas as vossas habitações” (Lev 23:3). De acordo com a tradição bíblica, o Sábado foi a primeira festa de Deus que a humanidade observou (Gen. 2:1-3). Foi também o único dia que Deus santificou antes de dar os mandamentos no Sinai (Exo 16:23, 29), e o único dia que não depende de estações, movimentos dos corpos celestes, ou qualquer outro evento histórico. Logo é perfeitamente natural começar com o Sábado.
  • 22. 22 Do mesmo modo é altamente provável que Yohanan está aludindo ao outro “Dia do Senhor,” o Dia de YHWH dos antigos profetas hebreus (Isa. 13:9-13; Eze 30:1-5; Joel 2:1-11; Amós 5:18-20; Sof. 1:14-18; etc.), o dia do juízo e o dia de Sua vinda e do fim dos tempos. O contexto escatológico de nossa passagem confirma tal interpretação. Em outras palavras, Yohanan recebeu sua visão sobre o dia do Senhor (dia do juízo final e da Parousia). Durante o dia do Sábado (o outro dia do Senhor). Que o profeta tenha associado os dois dias não é normal. O Sábado tem sempre recebido um sobretom escatológico na Bíblia (Isa. 58:14; 61:1-3), tão bem quanto na tradição judaica, que entende o Sábado como o sinal do dia da libertação e “o antegozo do Mundo por vir.”1 De repente Yohanan ouviu uma grande voz por trás dele (Apo. 1:10). O pensamento hebraico situa o passado “antes” aos olhos de alguém, porque ele é propagado diante de nossa percepção, enquanto o futuro está ainda para acontecer e consequentemente vem de detrás de nós2 . Desse modo, por implicação a grande voz representa o futuro. Para Yohanan, a voz soa próxima, familiar. É a voz do Messias que ele conheceu pessoalmente e quem ele amava. A voz presente de Yeshua ressuscitado. Mas ela é também a voz que chega de muito longe, do futuro – a voz de Deus que está chegando. 1 Midrash Rabbah, Gênesis 17.5. 2 A palavra hebraica qedem, significando “antes,” designa que já ocorreu, o passado; a palavra hebraica altar, significando “atrás,” indica o que vem depois, o futuro. Em contraste, ocidentais modernos tendem a ver o passado como atrás e o futuro como adiante. Neste sentido ver Thorleif Boman, Hebrew Thouyght Compared with Greek (New York; re-impresso 1970).pp. 149, 150.
  • 23. 23 Primeira Parte TEMPESTADES João agora esboça uma imagem que descreve Yeshua (Jesus) como tendo uma dupla identidade. O Yeshua da visão do profeta assemelha-se um “filho do homem” comum, igual ao Yeshua dos Evangelhos,* um de carne e sangue morando entre homens e mulheres daquele tempo. Mas Ele também tem as características do glorioso “Filho do Homem” de Daniel, que, com Seus cabelos como puríssima lã (Dan 7:9) o olhos de fogo (Dan 10:6), participa do julgamento final e vem com as nuvens para inaugurar o reino de Deus (Dan 7:13). Nós ainda encontramos ambos, o Deus que está perto, presente num nível pessoal na carne do Messias Yeshua, e o Deus distante, o Deus do futuro glorioso. Quando Ele se dirige a Yohanan, o profeta cai à Seus pés “como morto”, Mas este Deus também o tranqüiliza: “não temas” (Apo. 1:17). É esta tensão entre o futuro Deus que vem e o presente Deus que é aquela esperança acesa dentro de nós. Sem a certeza de um mundo vindouro, além da ansiedade do presente, nós não teríamos razão para esperar. E sem a onda diária de esperança produzida pelo encontro renovado com Deus, não teríamos desejo de esperar. Esperança requer as categorias de ambos, presente e futuro. A primeira série de visões reflete esta tensão. Nós ouvimos sobre o mártir fiel e o opressor infiel. Deus recompensa a ambos e julga a história da igreja. A chuva tem duas faces – é tanto uma benção como uma maldição, um banho de vida e uma tempestade de morte – e a igreja tem também duas faces. * Mat 8:20; 10:23; 17:9; Luc 7:34; João 6:53, etc.
  • 24. 24
  • 25. 25 Capitulo 1 CARTA ABERTA ÀS IGREJAS (Apocalipse 1:11-3:22) Pessah Não é coincidência de que a visão introdutória das sete igrejas transporta-nos para o meio dos candelabros. Isso teria lembrado o leitor como o candelabro do Templo se tornou só outro item do saque levado depois que o exercito de Roma destruiu o Templo em 70 D.C., um fato atestado pela sua presença no relevo no arco celebrando a vitória de Tito sobre Jerusalém. A figura da visão significa que o fim do Templo não devia implicar a fim do relacionamento da humanidade com Deus. O candelabro que aparentemente desapareceu entre os tesouros de Roma estava ainda presente nas sete igrejas, e no meio dele o Deus do céu ainda anda. Ele não deixou seu povo a se desviar por si só ou por suportar o curso tortuoso da história sem Ele. Deus está ainda com Seu povo como o shekinah estava com Israel: “andarei no meio de vós” (Lev 26:12). A última palavra de Yeshua antes de sua ascensão manteve a mesma promessa: “E eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mat 28:20). Foi o shekinah, a nuvem de fogo, que guiou o Êxodo (cf. a árvore que queimava em Êxodo 3). Da mesma forma, é a presença do Filho do homem, com olhos igual “chama de fogo” (Apo.1:14), uma face “como o sol, quando resplandece na sua força” (verso 16), e pés “semelhantes a latão reluzente que fora refinado numa fornalha” (verso 15), que perpetua a luz do candelabro e guia o curso das pessoas. Esta visão do Filho do homem com vestes de
  • 26. 26 ouro fundido entre o brilho incandescente dos candelabros em um raio de luz apontando para o resplendor da futura Jerusalém de ouro. Depois do Shabbat, o Apocalipse agora proclama a mensagem da páscoa através de uma alusão à morte e ressurreição de Yeshua (verso 18)1 e ao shekinah no meio do povo. Páscoa é a festa que diretamente segue o Shabbat em Levíticos 23 (verso 4- 14) e é a primeira festa do calendário anual judaico (Exo 12:2). De fato Páscoa comemora o Êxodo e a criação de Israel. Mas isso impõe mais que um dia de lembrança – Ele fala de uma esperança messiânica. O sacrifício do cordeiro simboliza pessah, o anjo “passando por cima” das casas separadas pelo sangue, e renova a esperança de libertação por vir (verso 7, 13). A proibição de quebrar os ossos alude à Ressurreição2 . O comer pão não levedado, matzah, lembra a origem nômade de um povo cuja única esperança repousa na Terra Prometida (verso 11). Até a liturgia judaica, o haggadah, repete de geração em geração o profundo sinal de Israel, “Próximo ano em Jerusalém” (leshanah habaah birushalayim). Do mesmo modo, na tradição cristã, o serviço da comunhão – a comemoração eucarística da última pessah, do Senhor – repete a mesma fórmula litúrgica com promessa “Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da videira, até aquele dia em que o beber, novo, no reino de Deus” (Mar 14:25), uma promessa que o apóstolo Paulo entenderia mais tarde num sentido escatológico: “Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice estareis anunciando a morte do Senhor, até que Ele venha” (I Cor 11:26). É também digno de nota que a liturgia eucarística dos primeiros cristãos conclui com a saudação aramaica Marana tha, “Vem, Oh Senhor,” testemunhando da esperança dos primeiros cristãos3 . As Sete Igrejas A tensão entre o futuro e o presente está no verdadeiro âmago da visão profética e é a chave para nosso entendimento. O profeta vê “as coisas que... são e as que depois destas hão de suceder” (Apo 1:19). Devemos ler a mensagem às igrejas contemporâneas de Yohanan também da perspectiva profética – como uma mensagem às igrejas que virão. A passagem já aponta
  • 27. 27 para este tipo de interpretação. Ela compara as sete igrejas a sete estrelas, seguras na mão direita do Filho do homem (verso 16, 20) Os antigos acreditavam que as estrelas direcionavam o destino humano, tanto que a popularidade da astrologia, especialmente na mesopotâmia, tem um significado de predizer o futuro. Os autores da Bíblia estão bem familiarizados com tais crenças, como prova no livro de Jó: “Podes atar as cadeias das Plêiades, ou soltar os atilhos do Órion? Ou fazer sair as constelações a seu tempo. E guias a ursa com seus filhos? Sabes tu as ordenanças dos céus, ou podes estabelecer o seu domínio sobre a terra?” (Jó 38:31-33). O judaísmo antigo acreditava que toda pessoa tinha um corpo celestial, um mazzal i.e. uma estrela particular presidindo sobre o destino dele ou dela.4 Deus segurando as estrelas em Suas mãos remonta que Ele está no controle do destino delas. Ao falar de seu Deus como o Deus dos céus, Daniel chega ao mesmo ponto que os astrólogos babilônicos: seu Deus era a deidade que controlava as estrelas, assim como o destino da humanidade5 . Andando entre as igrejas de seu tempo, Yohanan alude a aquelas do futuro, De fato, seu verdadeiro número, sete, confirma tal interpretação. Desde os tempos mais remotos o número 7 tem tido valor simbólico. Sumérios, babilônicos, cananitas e israelitas6 lembram o número 7 como símbolo de totalidade e perfeição. Durante o período intertestamental, sob influência de Pitágoras (século quinto AEC), o simbolismo numérico, especialmente o número 7 era muito popular7 . O Apocalipse usa extensivamente o simbolismo numérico, inclusive o numero 7. O número 7 ocorre 88 vezes no Novo Testamento. Cinqüenta e seis delas aparecem no Apocalipse: Sete candeeiros, sete estrelas, sete selos, sete espíritos, sete anjos, sete pragas, sete chifres, sete montanhas, etc. Yohanan moldou toda sua estrutura em torno do número 7. Não devemos tomar as sete igrejas em um nível estritamente literal. De fato, seu número dificilmente reflete a conta atual das igrejas da Ásia, que eram muito mais numerosas. O Apocalipse não inclui as duas igrejas de Colossos e Hierápolis, ambas mencionadas no Novo Testamento8 . De fato, as sete igrejas do Apocalipse representam as igrejas como um todo, uma interpretação atestada por um manuscrito do terceiro século EC.9 A frase de conclusão de cada carta, “Quem tem ouvidos, ouça o
  • 28. 28 que o Espírito diz às igrejas,”10 parece dirigir-se a uma grande audiência. As cartas falam a todas as igrejas, e qualquer um pode se beneficiar de seu conteúdo, um ponto explicitamente realçado na quarta carta para Tiatira. Ela contém a frase “todas as igrejas” (Apo 2:23). As sete igrejas foram escolhidas não apenas como parte dos arredores familiares ao profeta (ele tinha estado lá e as conhecia), mas também por seu significado simbólico. Extrair a profecia de um local geográfico era prática comum em Israel. Miquéias traça toda a visão do futuro em torno dos nomes de cidades Palestinas.11 Até mesmo a ordem seqüencial das igrejas segue uma certa geografia – a rota de um viajante.13 Assim que avançamos de uma carta para outra, notamos a presença de Yeshua crescendo mais íntimo com cada carta: 1. Éfeso “Aquele que... anda no meio dos sete candeeiros de ouro.” (Apo 2:1). 2. Esmirna: “aquele... morreu e reviveu” (verso 8). 3. Pérgamo: “Arrepende-te, pois; ou se não, virei a ti em breve, e contra eles batalharei com a espada da minha boca”. (Verso 16). 4. Tiatira: “mas o que tendes, retende-o até que eu venha”. (verso 25). 5. Sardes: “Pois se não vigiares, virei como um ladrão” (Apo. 3:3). 6. Filadelfia: “venho sem demora” (verso 11). 7. Laodiceia: “Eis que estou à porta” (verso 20). Mas é somente penetrando no verdadeiro âmago das cartas que poderemos alcançar a intenção profética. E, realmente, o cenário cristão não é róseo. Ao contrário, a própria cristandade se encontra ela mesma no meio das crises e tempestades como mostra a cortina que se levanta numa revelação de detalhes complexos e preocupantes. Assim que lemos as cartas, vamos notar seu reflexo profético assim como sua mensagem pastoral. Como salientado no início, as cartas às sete igrejas se referem tanto às igrejas contemporâneas a Yohanan (interpretação preterista) como a qualquer uma equipada de ouvidos para: “ouvir o que o Espírito diz às igrejas” (interpretação idealista ou simbólica). E agora, assim que entramos o terceiro milênio, vemos a nós mesmo no
  • 29. 29 horizonte distante da serie profética. Em adição às interpretações preteristas e idealistas, a interpretação profética - uma que nós podemos comparar com eventos atuais – é sempre mais relevante. Éfeso Da ilha de Patmos, a primeira parada é Éfeso, um dos mais importantes portos da época. Marinheiros podiam ver suas luzes à distancia no mar. Não é coincidência que Éfeso representa a primeira igreja, o primeiro candeeiro. Yohanan começa seu ciclo de cartas fazendo uma alusão ao jardim do Éden, exatamente como Daniel fez em sua introdução ao primeiro reino, Babilônia14 . “Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus” (Apo. 2.7). Éfeso é, na realidade, o primeiro amor, seu nome grego significa “desejado”. A paixão ainda é viva, e a memória é fresca (Apo. 2:5). É a igreja dos apóstolos (verso 2) e também a igreja dos primeiros pagãos conversos. Antigos pagãos devem com humildade reconhecer de onde eles vieram (verso 5). Paulo igualmente advertiu os pagãos em Roma (Rom. 11:18). Para os cristãos de Éfeso – o lugar da deusa Artemis, a famosa “Diana dos Efésios” (Atos 19:28, KJV) – essa chamada é significante. Os efésios eram muito conhecidos por sua superstição, e eles tinham um proeminente negócio de amuletos. A taxa de delitos de Éfeso chegou a tal ponto que o filósofo Heráclitus declaradamente chorou sobre ela e depois disso levou o título de “filósofo chorão.” Éfeso, portanto, é a igreja dos começos. Até aqui, embora ainda encaixada em sua fonte espiritual, ela está no caminho para sua perdição. Já o passo excitante daquele “que tem na sua destra as sete estrelas” aponta para o perigo da situação (Apo. 2.1). Pedro usa o mesmo verbo (peripatei) para descrever o comportamento preocupante de satanás ao redor15 . O problema de Éfeso reside no fato de que sua chama apagou e não foi reacendida: “deixaste o teu primeiro amor”. (verso 4). “Arrepende-te, e pratica as primeiras obras” (verso 5). Estas “primeiras obras” aludem a teshuvah, a chamada profética para o arrependimento. O anjo acopla a exortação, com uma advertência: “Se não, brevemente virei a ti, e removerei do seu lugar o teu candeeiro” (verso 5). A pureza da primeira igreja não lhe dava garantia de não perder sua luz. O fato de Deus ter Ele
  • 30. 30 mesmo estabelecido sua igreja não a isenta das obras futuras. A igreja está pronta a deslizar. Ela pode até cair e bater em seu candeeiro e extinguir sua luz, um ponto que precisamos ponderar. Os riscos de erro e falha sempre permanecem. Não podemos equiparar a igreja com Deus. Não é suficiente ser um membro da igreja para ser salvo: “até dentro da igreja, não tem salvação.” Também a carta não protela em ameaças. Apesar de seus erros, a igreja mantém certa integridade espiritual. Ela odeia “as obras dos nicolaitas” (verso 6), uma atitude mais que virtuosa desde que Deus também partilha isso: “que eu também aborreço”. O mal que ameaça os primeiros cristãos trás de volta o caso dos nicolaitas. Uma tradição antiga da igreja considerou-os seguidores de Nicolas mencionado em Atos 6:5. De acordo com os pais da igreja onde quer que eles fossem os nicolaitas lá estavam, bem conhecidos por sua depravação16 . Uma distorção da nova posição de Paulo sobre graça e lei levou-os a rejeitar todos os princípios da Torah. Pela graça de Yeshua o Messias, eles se consideravam livres da Torah e caíam em deboche. Eles basearam suas idéias na visão dualística prevalecente entre os cristãos gnósticos de seu tempo17 . Eles menosprezaram o corpo humano e, de fato, qualquer coisa pertencente à criação física como matéria desprezível e má enquanto lembrando o espírito como puro, bom, e divino. Portanto alguém poderia dispor do corpo de outro à vontade, torturá-lo, ou satisfazê-lo enquanto permaneceria puro no espírito. O dualismo limita o corpo ao domínio da lei e rejeita-a, enquanto a alma, ligada ao domínio da graça, é mantida. De acordo com o testemunho profético da primeira carta, as primeiras sementes da apostasia devem ter surgido da desvalorização de ambas a Torah e a criação física. Mas a conclusão da carta declara: “Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida” (Apo 2:7). Por um lado ela afirma o ato físico de comer e desse modo a criação18 – uma resposta aos dualistas que cuidavam apenas da parte espiritual e desprezavam a vida física e a criação. Por outro lado, “a árvore da vida” (ets hayyim) mantém a Torah, da qual tem se tornado um símbolo clássico desde os tempos bíblicos19 e depois na tradição judaica.20 . Isso veio a designar os cilindros de madeira para segurar os pergaminhos dos rolos da Torah.
  • 31. 31 Esmirna Nossa segunda parada leva-nos a Esmirna distante 40 milhas de Éfeso. Conhecida como uma cidade comercial de surpreendente beleza, ela foi uma das raras cidades da antiguidade a sofrer planejamento extensivo, e depois, reconstrução. Os gregos a construíram em 1000 AEC, então os Lidos destruíram-na em 600 AEC. Depois Lisímaco, um dos generais de Alexandre o Grande, reconstruiu-a (200 AEC). A cidade literalmente “ressurgiu” das ruínas. Assim não é coincidência que o tema de morte e ressurreição permeia a carta à igreja de Esmirna. O autor da carta se introduz como “O... que foi morto e reviveu” (verso 8). Os destinatários da carta, prestes a ir para morte, já tem a promessa da vida (verso 10,11). O verdadeiro nome, Esmirna, tem sido popularmente associado com a palavra “myrrh,” o bálsamo da morte. Além da alusão ao destino da cidade, a carta para Esmirna evoca a perseguição sofrida pelos mártires cristãos. Além da ameaça de morte, os cristãos de Esmirna lutavam com a pobreza. Os cristãos de Esmirna dificilmente refletem os paramentos carmesins e coroas adornadas do cristianismo posterior. É ainda o tempo que para ser cristão não implicava sucesso e fama. Cristãos, em sua maioria, vieram dos pobres da cidade e sofreram a hostilidade das massas pagãs. O destino da igreja de Esmirna é aquele da perseguição. Pessoas suspeitavam dos cristãos os mais ultrajantes crimes. Os pagãos associaram o rito da Comunhão com canibalismo, durante o qual eles acreditavam que os cristãos bebiam sangue e comiam carne humana. Os não cristãos também visualizaram as celebrações ágapes das sociedades cristãs, como orgias de deboche. Porque Deus era invisível, os cristãos enfrentaram acusações de ateísmo. O estado suspeitava deles por causa de sua recusa em se submeter ao imperador como Deus. Alguns até acusaram-nos de ter profetizado o fim do mundo pelo fogo, uma acusação explorada mais tarde pelo imperador Nero. Muitos desprezaram os cristãos porque eles os identificavam como judeus, uma religião considerada retrógada e remota. A situação dos judeus era simplesmente miserável. Os judeus que proclamaram um Messias eram suspeitos dos e fora e dos de dentro. Divisões internas como a validade do Messias
  • 32. 32 esfacelou a comunidade judaica, como vemos no caso de Saulo de Tarso, depois conhecido como Paulo21 . A carta para Esmirna reprova-os por sua calunia e questões de autenticidade de seu judaísmo: “dos que se dizem ser judeus” (verso 9). A alusão do judaísmo aponta para o fato de que os primeiros cristãos ainda se consideravam judeus. Hoje nós poderíamos acusar nossos companheiros crentes de não viver seu “cristianismo” e chamar seu local de culto uma “igreja de satanás.” Os cristãos de Esmirna eram mais próximos da comunidade judaica do que seus oponentes pagãos. O anti-semitismo cristão não tinha começado ainda. Atirados em prisões e torturados pelos pagãos, suspeitados pelos seus irmãos e irmãs judeus, os primeiros cristãos foram deixados à sua própria infelicidade. A perseguição atingiu alarmantes proporções sob o reinado de Diocleciano, a era histórica dos mártires. Em um edito (303 EC) o imperador ordenou dissolução da comunidade cristã, demoliu suas igrejas, e queimou seus livros22 . Numerosos cristãos morreram por suas crenças. Muitos se acharam reduzidos à escravidão. Numerosos santos reverenciados pela igreja data dessa época: São Sebastião, que morreu perfurado por uma centena de flechas enquanto amarrado a uma árvore; Santa Cecília, patrona da música sacra e Santa Agnes, queimadas na estaca. As últimas ondas das perseguições duraram até 311. Em 313 o imperador Constantino lançou um edito que estabeleceu o cristianismo como uma religião oficial. É interessante que o tempo da perseguição durou um total de 10 anos, como predito pela carta (um dia igual um ano, de acordo com os cálculos proféticos)23 . Mas a linguagem é também simbólica. Na tradição judaica e bíblica, o número 10 vem a simbolizar a idéia de teste ou prova. Por exemplo, nós lembramos os 10 dias de prova de Daniel (Dan. 1:14, 15). O calendário judaico manteve o simbolismo. Dez dias de aflição separam Rosh Hashanah, a Festa das Trombetas, do Kippur, o Dia do Perdão, durante o qual os judeus se preparam para o grande dia do julgamento. O Mishnah emprega a mesma linguagem quando fala de 10 gerações de Adão até Noé, e de Noé até Abraão; as dez provas suportadas por Abraão; e as 10 pragas no Egito, concluem que de fato, o número 10 é o símbolo de prova e testemunho24 . Mas isso é meramente um teste, que por definição implica
  • 33. 33 recompensa. Queda e morte não deve ser a última palavra e existe esperança. Deus tem reservado a coroa da vitória (stephanos) para os mártires da fé (Apo. 2:10). Ironicamente a passagem permanece: vencidos pela espada do gladiador, os cristãos jamais receberam a coroa da vitória. Eles morreram, ainda que eles tivessem a “coroa da vida”, uma imagem muitas vezes reproduzida nos sepulcros da antiguidade greco- romana para simbolizar a vitória sobre a morte25 . Isso, contudo, não faz nenhuma alusão à imortalidade da alma, uma noção acariciada pala mente grega e aquela que mais tarde se infiltraria na tradição judaico-cristã. O próximo verso depois especifica que os mártires “não sofrerão a segunda morte” (verso 11), uma expressão encontrada apenas no Apocalipse26 . A literatura rabínica e o Targum, de qualquer forma apóiam o conceito27 . Em todas estas passagens, a “segunda morte” consiste na morte final do culpado, sem esperança de ressurreição. Uma passagem posterior do Apocalipse (Apo 20:6) fala de duas ressurreições. A primeira pertence aos justos, na vinda do Messias. A segunda envolve os culpados. Apenas a primeira ressurreição resulta em vida eterna. A segunda, por outro lado, leva para a morte eterna. Todos devem sofrer a primeira morte, mas apenas os culpados devem conhecer a segunda morte28 . Para isentar os mártires de Esmirna da segunda morte uma verdadeira ressurreição é lhes assegurada que os leva à vida eterna. Pela Bíblia, o livramento da morte não afeta meramente a alma, mas o individuo todo carne e sangue, negando qualquer suposição dualística. Pérgamo Nossa viagem continua aproximadamente 50 quilômetros em direção ao norte de Esmirna. A cidade de Pérgamo nos dá as boas vindas em toda sua grandeza e majestade – uma cidade numa colina – assim é seu nome, “cidadela” ou “gloriosa cidade.” Situada em algum lugar fora da principal rota comercial da Ásia, a cidade de Pérgamo era nada menos que a maior cidade da Ásia Menor. O geógrafo grego Strabo (por volta de 63 AEC até 21 EC) chamou-a de “cidade ilustre,” o historiador romano Plínio, o Elder (23-79 AC), considerou-a “a mais famosa cidade da Ásia.” Um centro político, Pérgamo era renomada como centro tanto cultural
  • 34. 34 como religioso. Foi em Pérgamo que o pergaminho foi feito pela primeira vez. Abrigando 200.000 rolos de pergaminhos, a biblioteca de Pérgamo rivalizava com a biblioteca de Alexandria. A cidade foi também famosa por sua vida religiosa. Seus hospitais e templos de cura em honra do deus Asclepias atraiu milhares de peregrinos de todo mundo como testemunhado pelos achados arqueológicos de grande quantidade de moedas. A cidade de Pérgamo reflete a situação do terceiro período da historia da igreja. Em contraste com suas precedentes, a igreja de Pérgamo exibe grande sucesso e gloria. Os cristãos de Pérgamo são cidadãos respeitáveis. A era dos mártires já acabou. Referências sobre aqueles tempos miseráveis ocorrem no passado: “mesmo nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós” (Apo. 2:13). O tempo é de prosperidade e conforto Mas Pérgamo não tem problemas. A carta denuncia uma pratica remanescente de relacionamento de Balaão, o profeta responsável por levar o povo de Israel ao sincretismo29 . Balaão, cujo nome significa “devorar o povo,” reconheceu que o compromisso era o melhor caminho para “devorar” ou neutralizar o povo escolhido. Introduzi-los aos elementos culturais estrangeiros causava mais dano ao povo de Israel do que perseguição ou morte. Compromisso com o mal pode ser mais perigoso que o mal em si. É mais fácil identificar o inimigo enquanto ele ainda está fora das trincheiras do que quando ele está infiltrado nas câmaras secretas da cidade. Tal era a situação da igreja de Pérgamo. Paganismo e erros misturaram-se com a verdade. Desde Éfeso, a igreja perdeu-se grandemente. Os nicolaitas, uma vez odiados pela igreja, agora prega dentro de seus muros: “Assim tens também alguns que de igual modo seguem a doutrina dos nicolaitas” (verso 15). Ambos, Balaão, “que devora o povo,” e os nicolaitas, um nome que era o equivalente grego para Balaão e significando “o conquistador do povo,” agora devasta a igreja. A história confirma esta tendência ao compromisso. Para fortificar seu status político, a igreja adotou uma atitude de flexibilidade e aberturas, moldando-se a si mesma em torno da elite do poder político. Decretos imperiais promulgados naquele tempo refletem a habilidade do compromisso da igreja. Por
  • 35. 35 exemplo, domingo, o dia romano do sol, veio substituir o Sábado como o dia dado por Deus30 . O profeta Daniel já tinha destacado esta tendência ao compromisso na visão da estátua e dos quatro animais. A visão da estátua (Daniel 2) representou a igreja por ambos barro, simbolizando as dimensões da religião, e ferro, simbolizando o poder político.31 Na visão dos quatro animais, um chifre – poder político – feições humanas – poder espiritual – simbolizava a igreja (Dn 7:8). O mesmo chamado ao arrependimento que ouvimos em Esmirna, agora o anjo repete aqui. A espada de dois gumes na boca do Filho do homem (Apo 2:16) representa a palavra de um Deus que julga, separando a verdade do erro (cf. Isa. 49:2). A recompensa do justo, o “maná escondido,” e a “pedra branca” (Apo. 2:17), do mesmo modo alude a um contexto de julgamento. O maná evoca o Êxodo e a perspectiva da Terra prometida. Este pão caído do céu se torna sinal de esperança33 . De acordo com uma antiga lenda judaica, durante a destruição do Templo (sexto século AEC) o profeta Jeremias escondeu o pote de maná mantido na arca sagrada34 . Somente na época do Messias alguém encontraria o pote do maná e outra vez o comeria como alimento35 . De acordo com esta lenda, apenas o final dos tempos revelaria a identidade dos poucos selecionados para serem salvos. Enquanto isso é impossível determinar quem está e quem não está salvo. A mesma lição está gravada na pedra branca trazendo um “novo nome” (verso 17). A pedra branca alude ao procedimento judicial romano que usava pedras brancas e pretas para indicar o veredicto. Branco significava inocência, e preto condenação. Receber uma pedra branca significava então, ser inocentado. Assim o “novo nome”, representa o ato da recriação acima, o sinal do novo começo e do novo destino. Neste caminho, Abrão se tornou Abraão, carregando a promessa de uma generosa descendência36 . Jacó se tornou Israel, com a responsabilidade de lutar com Deus37 . Localizações geográficas adquirem novo nome: Jerusalém recebe a nova designação de “O Senhor é Nossa Justiça” em virtude da eterna presença de Deus entre Seu povo.38 Da mesma forma os escolhidos de Pérgamo recebem um novo nome “o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe” (verso 17). A Bíblia e a tradição judaica falam do nome de Deus como
  • 36. 36 impronunciável e incompreensível39 . Isso de fato é a interpretação dada em uma carta posterior: “E escreverei sobre ele o nome do meu Deus e o nome da cidade do meu Deus” (Apo 3:12). Este “novo nome” é o verdadeiro nome de Deus e, por extensão, o nome da nova Jerusalém que Deus trará do Céu (verso 12). Esta associação do nome de Jerusalém com o mesmo nome de Deus já aparece no livro de Jeremias, no qual o profeta dá um novo nome para a cidade, “O Senhor é Nossa Justiça” (Jer 33:16). Baseados neste verso o Talmude e o Midrash vão depois elaborar associando Jerusalém e o Messias, “por que ambos carregam o nome do Santo, Bendito Seja Ele” Do mesmo modo o Midrash nota que “exatamente como [Deus] chama o Messias com Seu próprio nome, Ele irá também chamar Jerusalém com Seu próprio nome.”41 Nós encontramos o mesmo conceito no âmago do Apocalipse. Os poucos escolhidos, os 144 mil cidadãos da Nova Jerusalém, recebem um nome identificado com aquele de Deus (Apo. 14:1; cf. 22:4). Na introdução da carta os fiéis eram aqueles que lembravam o nome de Deus. Então em sua conclusão, os escolhidos de Pérgamo receberam o nome de Deus como seus próprios (Apo. 2:17), A responsabilidade de Israel é levar Seu nome, por que Seu povo são os sinais do Deus invisível. A menção de Antipas, significando “ele que representa o pai,” já tinha aludido a isso. A missão do filho é carregar o nome de seu pai e representá-lo em sua ausência. É por isso que este nome é conhecido apenas daqueles que o recebem. Do mesmo modo, se os eleitos de Pérgamo são apenas aqueles que sabem o nome de Deus escrito na pedra branca, é por causa de seu relacionamento pessoal com Ele. No tempo representado por Pérgamo a igreja visível começa a perder sua identidade e sua missão como os portadores do nome de Deus. Tiatira Nossa atenção agora foi direcionada para o leste, aproximadamente 64 quilômetros de Pérgamo. Tiatira é uma cidade completamente insignificante em contraste com Éfeso e Pérgamo. Plínio chama-a uma “cidade medíocre.” Assim, esta carta mantém a mais alta acusação (Apo. 2:20-27), e muito pouco elogio.(verso 19).
  • 37. 37 Já o mal havia se infiltrado em Pérgamo. A situação piorou com Tiatira. O mal agora permeia cada área da igreja. O anjo pintou a heresia em Pérgamo através do símbolo de Balaão, cuja influência tinha permanecido externa à igreja. Porem, na igreja de Tiatira, o mal reina incorporando a rainha Jezabel (verso 20). Jezabel era mulher de Acabe, rei de Israel. Originária da Fenícia e filha de Ethbaal, rei dos sidônios (I Reis 16:31), sacerdote de Baal e Astarote42 . Jezabel, por suas próprias mãos levou o rei e o povo de Israel à adoração de Baal. Pessoalmente ela sustentava 450 profetas de Baal. É também conhecida por seu ódio cruel contra o profeta Elias e de qualquer outro que permanecesse fiel a YHWH. Sua influência continuou através do governo de seus filhos e sua filha Ataliah43 . O reinado de Jezabel é característico da igreja de Tiatira. A heresia se tornou oficial e coincide com a elite do poder da igreja. A igreja está agora estabelecida ela mesma como poder político e vestiu-se com manto da realeza. E de fato, a cidade de Tiatira foi renomeada por sua tinta púrpura, a cor da realeza 44 e dos sacerdotes45 . Recorda Lídia de Tiatira, que trabalhava no negócio de tintas46 . Mas a cidade de Tiatira também tinha reputação por sua adoração do deus Tyrimnos (deus do sol), o qual depois se desenvolveu no culto do imperador romano. Ironicamente o autor da carta se apresenta ele mesmo em uma aura de brilho resplandecente, olhos como “chama de fogo,” pés igual bronze polido, dessa forma brilhando mais que o deus-sol e denunciando seu presunçoso orgulho. A Jezabel simbólica usurpa a autoridade de Deus quando ela toma decisões que pertencem somente a Deus. A carta menciona “todas as igrejas” (Apo 21:23). Muitas vezes as testemunhas de Deus esquecem quem elas representam e substituem o objeto de seu testemunho por elas próprias. Isso é um risco enfrentado por todas as religiões e todos os profetas. Pessoas devem substituir suas próprias vozes pela voz de Deus. Tradições e instituições podem prevalecer sobre a verdade que as originou. Quando a humanidade e instituições tomam o lugar de Deus e da verdade, o resultado é sempre o mesmo: intolerância e perseguições. Tais se tornaram as características da igreja de Tiatira, a igreja da era medieval, oficialmente instituída em 538 EC depois do último tratado Ariano47 , e desmantelada em 1563,
  • 38. 38 com o Concilio de Trento. Ela foi a igreja da Inquisição e das Cruzadas. Nunca a historia humana testemunhou tão prolongada e consistente perseguição. É compreensível a ira do Filho de Deus que traz um juízo de intenso sofrimento (verso 22). A igreja deve pagar caro por sua intolerância. Devemos, contudo, notar que Deus não direciona Sua cólera contra os homens e mulheres de Tiatira, mas contra a igreja como uma instituição humana. Mesmo dentro da igreja de Tiatira homens e mulheres sem conta permaneceram fiéis e não conheceram “as chamadas profundezas de Satanás” (verso 24). Esta expressão faz eco à outra similar sobre Deus: “as profundezas de Deus” (I Cor 2:10), caracterizando aqueles que colocaram sua confiança no Espírito de Deus em lugar da “sabedoria humana” (verso 5). Como nos tempos da Jezabel original, eles não “dobraram os joelhos” aos novos desejos de Jezabel (I Reis 19:18), mas permaneceram fiéis a seu Deus. A carta reconhece essas exceções e exalta-os profusamente. Ela também menciona quatro virtudes: amor, fé, serviço e perseverança (Apo 2:19). A igreja de Tiatira é também a igreja de Francisco de Assis (1182-1226) e do rei francês Luis (chamado o Santo), que fundou alguns das primeiras escolas, hospitais e universidades. É um tempo de mudança e de reforma. Lembramos Pedro Valdo (1140-1217) na Itália, John Wycliffe (1320-1384) na Inglaterra e John Huss (1369- 1415) na Bohemia. Então veio Martinho Lutero (1483-1546) na Alemanha. O anjo encoraja todos esses homens, todos esses movimentos: “mas o que tendes, retende-o até que eu venha” (verso 25). O Apocalipse mantém nossa esperança escatológica como o último conforto e recompensa. Primeiro isso representa a dádiva “autoridade sobre as nações” (verso 26), uma promessa derivada do Salmo 2:8,9, o qual anuncia a era messiânica. De acordo com os antigos rabinos, isso seria a vinda do “Messias filho de David.”48 Desde que a carta para esta igreja retrata a tentativa humana de usurpar a autoridade de Deus, nós precisamos estar lembrados quem somente ter o poder final. A esperança da Segunda Vinda é também o presente da “Estrela da Manhã” (Apo. 2:28), uma alusão a Números 24:17 (“uma estrela procederá de Jacó”), uma passagem tradicionalmente interpretada no judaísmo como referente ao Messias: “Números
  • 39. 39 24:17, eu vejo-o: isto se aplica ao Rei Messias, „uma estrela deve surgir de Jacó,‟ a estrela vinda do escuro... esta é a estrela do Messias,”49 Esta última promessa encoraja todos aqueles que lutaram durante a Era Escura e ansiaram por uma nova aurora. Sardes Sessenta e cinco quilômetros para o sul de Tiatira, a cidade de Sardes se estende em dois níveis, por isso a forma plural de seu nome (Sardeis em Grego). Originalmente a cidade foi construída em um planalto, mas no curso de seu desenvolvimento ela fluiu para os vales e ladeiras mais baixos. A topografia de Sardes testifica sua decadência. Sardes é o perfeito exemplo do contraste entre um passado glorioso e um presente miserável. No tempo do exílio de Yohanan, o passado glorioso de Sardes era história. Cinco séculos antes ela estava entre as cidades mais prestigiadas do mundo. O poderoso Croesus tinha sido seu último rei (reinou de 560-546 AEC). Então ela caiu nas mãos de Cyrus. Quando seu exército se aproximou do topo do planalto, eles encontraram as portas da cidade abertas e desguarnecidas. Distraído pela sua prosperidade, Croesus não se preparou para a guerra. A cidade de Sardes rapidamente decaiu em um marco de cinzas do passado, lembrando a seu povo definhante, o penoso preço por sua falta de vigilância. A tragédia da história da cidade agora inspira a exortação da carta: “lembra-te, portanto, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te” (Apo. 3:3). A carta toda apela à igreja a retornar ao passado de verde e fé autêntica. O autor da carta agora se apresenta – como fez na igreja de Éfeso – como “aquele que tem na sua destra... sete estrelas” (verso 1; cf. Apo. 2:1). Sardes, como Éfeso, é a única igreja que “tem” alguma coisa. Apesar de todas as acusações contra elas, as duas igrejas ainda “têm” alguma coisa a seu crédito. A mesma palavra grega alla (“mas,”. Apo. 2:6; “ainda,” Apo. 3:4) introduz o elogio, o “tem” dentro do corpo de reprimendas. Ambas as igrejas recebem a promessa de vida – “a árvore da vida” para Éfeso (Apo. 2:7) e o “livro da vida” para Sardes (Apo. 3:5). E ambas tomam parte do banquete celestial – para Éfeso (Apo. 2:7) o direito de comer da árvore da vida, e para Sardes (Apo. 3:4,5) menção das
  • 40. 40 vestes brancas, uma imagem que evocou o conceito de festas e celebração (Ecl. 9:8) A igreja de Sardes representa um retorno da Cristandade à suas origens. Na igreja da Reforma, seu povo redescobre a mensagem original da Bíblia. Mentes se abrem assim que reacende a busca pela verdade. O movimento da Reforma estabeleceu acesso direto aos documentos bíblicos, removendo barreiras de sacerdotes e tradição. Estudiosos encorajaram a leitura da Bíblia em sua linguagem original, grego e hebraico, e começaram a produzir as primeiras gramáticas hebraicas. Porém o dinamismo da mudança rapidamente se solidificou como dogma. A igreja introduziu novas tradições e credos. Uma preocupação pela doutrina correta prevaleceu sobre um relacionamento pessoal com Deus. Intolerância se arrastou de volta dentro da vida da igreja. Os protestantes tiveram suas próprias Inquisições. Calvino teve seguidores como Michael Servetus (1511-1553) executado na estaca, enquanto Luther se encolerizou contra católicos e judeus e votou exterminar aqueles que escolhessem não seguir sua liderança. As vítimas das guerras religiosas da Europa não foram somente os Protestantes que como lideres da igreja cometeram mais crimes em nome de Deus. Ambas as igrejas protestantes e a católica se estabeleceram elas mesmas como instituições poderosas. Esquecendo as origens da verdade, protestantes caíram na mesma espécie de erros que eles criticaram na igreja medieval. A história é obrigada a se repetir para aqueles que não se lembram. A igreja que não permanece vigilante perde sua razão de ser. Os guardas da cidade caíram no sono. “Acorda!” A carta divina se apressa: “Confirma o restante, que estava para morrer” (Apo. 3:2); “Se não vigiares, virei como um ladrão” (verso 3). O imperativo troveja através de toda a carta para Sardes: “acorda!” “confirma,” “lembra,” “obedeça,” “arrepende-te.” Tal linguagem procura despertar as pessoas que, como fizeram os antigos moradores de Sardes, acomodaram-se na riqueza e no conforto. “Apesar disso,” sinaliza o autor da carta, “algumas pessoas em Sardes” permanecem fiéis às suas origens. Eles não “contaminaram suas vestes” (verso 4). A minoria suporta. A noção do “remanescente” permeia a tradição bíblica. Desde Sete, o
  • 41. 41 terceiro filho de Adão, os construtores do Templo sob Esdras e Neemias; dos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó aos discípulos de Elias, a história da aliança de Deus com seu povo é constantemente reorganizada em torno destes poucos preciosos, este “remanescente” sobrevivente Deus fez a mesma promessa de um remanescente sobrevivente ao profeta Isaias, que proclamou em nome de um de seus filhos, Shear-Jashub (um remanescente vai retornar), como um sinal a seu povo sonolento (Isa 7:3). Yohanan também joga no nome de Sardes para conduzir sua mensagem profética através da aliteração “sterison!” (“Acorda!”). Dentro do nome de Sardes nós podemos ouvir o ressonante sterison, o poderoso clamor para acordar aqueles ameaçados pelo sono da morte. Filadelfia Exatamente a de 65 quilômetros ao leste de Sardes, repousa Filadelfia, assustada pelo seu passado tumultuoso de terremotos. Uma grande planície vulcânica que leva o nome de Katakaumena (terra queimada). Os colonizadores de Pérgamo quiseram propagar a linguagem e a cultura grega, fundaram a cidade durante o reinado de Attalus II (159-138 AC). A cidade de Filadelfia (“amor fraterno”) tomou este nome do grande amor do rei por seu irmão Eumenes II. Ela teve outros nomes também. Em agradecimento a Tiberius (imperador de Roma de 14 a 37 EC), que ajudou em sua reconstrução depois de um terremoto devastador, ela adotou o nome de Neo-Cesarea (nova cidade de César), então mudou de novo para Flavia em agradecimento ao último imperador (Flavius) Vespasian (governo de 69-79 EC) A carta a igreja de Filadelfia reflete seu passado tormentoso. Novamente toma detalhes históricos para ilustrar sua mensagem. Do mesmo modo que a cidade de Filadelfia, colonizadores fundaram a igreja profética de Filadelfia. A igreja de Filadelfia é a igreja das missões, expandindo alem das fronteiras da Europa para África e as Américas (final do século dezoito até o inicio do século dezenove) Uma renovação de seu espírito e do entusiasmo e zelo do começo caracteriza o espírito de seu cristianismo: “Conheço... que tens pouca força, entretanto guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome” (Apo. 3:8).
  • 42. 42 A eleição de Filadelfia caminha nas pegadas do remanescente de Sardes. Eles também mantiveram a palavra. Mas a igreja de Filadelfia está em uma condição melhor. Apesar de ela ter um remanescente justo, a carta de Sardes pede por “confirmar” o que restou da palavra. Mas a carta e Filadelfia tem apenas elogio para a paciência daqueles que “mantiveram” (verso 8 e 10) a palavra. A situação em Filadelfia tem progredido alem daquela de Sardes. O que os crentes de Sardes apenas sonharam agora se torna realidade em Filadelfia. Em Sardes a vinda do Messias pode ser igual à de um ladrão; alguém, deixado só por muito tempo, não espera a chegada de um ladrão. A carta à Filadelfia, contudo, menciona o retorno do Messias sem o tom negativo, e as palavras sugerem que crentes aguardam isso com impaciência: “Venho sem demora” (verso 11). A igreja de Filadelfia é um tempo de reavivamento entre Deus e seu povo. Até os inimigos da igreja vão seu reconhecer seu status de amada de Deus: “Eis que farei que venham, e adorem prostrados aos teus pés, e saibam que eu te amo” (verso 9; cf. Sal. 23:5). Nós vemos a reciprocidade entre os dois verbos: “guardaste” (Apo. 3:10) e “também eu te guardarei” (verso 10). Os profetas tem já proclamado este relacionamento: “Eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo” (Jer. 7:23). No Cântico dos Cânticos isso toma a linguagem do amor: “Meu amado é meu e eu sou dele” (Cant. 2:16; cf. Cant. 6:3; 7:10,11). Este relacionamento de amor exclusivo ressoa no nome natural da igreja – Filadelfia, “amor fraternal”. Aqui novamente o Apocalipse afirma a esperança escatológica: “Venho sem demora” (Apo 3:11) A promessa feita para “ele que dominará” vai alem daquela dada à igreja de Sardes. Agora ela é de duração eterna no novo reino inaugurado pela chegada do Messias. “eu o (ao que vencer) farei coluna no templo de meu Deus, donde jamais sairá” (verso 12). A “coluna” já leva a idéia de continuidade por associação. No mundo judaico é costume erigir uma coluna como um monumento para ajudar a lembrar uma pessoa depois que ele ou ela morrer e assim imortalizar o indivíduo na memória dos vivos. Tais colunas, por exemplo, fizeram parte da antiga sinagoga de Chorazin e Kefar Naum (Cafarnaum). Ser identificada como uma coluna significa que a pessoa vai permanecer para sempre como parte essencial do
  • 43. 43 templo de Deus. Mas a promessa vai mais alem – eles serão também, identificados com o próprio Deus, pois o nome de Deus será escrito neles. Como a antiga cidade greco-romana os habitantes de Filadelfia recebem um nome de seu benfeitor – de seu Deus. Esta recompensa, contudo, irá afetar profundamente sua identidade e o destino do justificado, pois isso transforma seu ser total. O justificado se tornou para sempre uma pessoa identificada no relacionamento com Deus e Seu templo. O Talmud ressoa com as mesmas associações. “Três são chamados pelo nome do Santo, Bendito Seja Ele, e são os seguintes: Os justificados, o Messias e Jerusalém.”50 A igreja de Filadelfia é caracterizada pela sua esperança no reino de Deus. Este tempo na história provavelmente é o mais preocupado com a esperança escatológica. Esta esperança pegou pessoas nos Estados Unidos, Alemanha, Escandinávia, França, Suíça e Holanda. Um historiador do tempo, John B. McMaster, escreveu que perto de 1 milhão de pessoas, fora os 17 milhões nos Estados Unidos, participaram neste movimento.51 Suas expectativas foram das mais sérias porque parecia que estavam sendo reforçadas pela profecia bíblica. Líderes religiosos chegaram a determinar uma data precisa para os cálculos proféticos: 1844. É interessante que a mesma febre também atingiu os judeus e muçulmanos. No judaísmo, o renascimento do judaísmo europeu através do Hassidismo incluiu a predição da vinda do Messias para o ano de 5603 (1843/1844).52 O islamismo Baha‟i chegou à mesma conclusão. A bab (“a porta,” abrindo para o secreto) apareceria no ano de 1260 de hegira, isto é 1843/1844.53 E no mundo secular, o nascimento do marxismo, com sua esperança e otimismo no progresso humano, também proclamou a expectativa de um mundo novo. Nós entendemos melhor o significado da promessa da carta: “eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta que ninguém pode fechar” (Apo 3:8). A imagem de uma “porta aberta” ocorre de novo no próximo capitulo (Apo. 4:1). O período da igreja de Filadelfia, como retratado pela porta aberta para o céu e para a terra é também de esperança e expectativa – um tempo de preparação para a salvação vinda de cima.
  • 44. 44 Laodiceia Depois de Filadelfia, o profeta vê uma jornada de 70 quilômetros ao sul para Laodiceia. É a última parada, o tempo do fim. – nosso tempo, uma idéia já levantada pelo fato de que ela é a sétima carta, um símbolo do fim. A idéia de fim permeia a mensagem. Já o autor se apresenta ele mesmo como o “Amén” (Apo. 3:14). Aqui temos a última palavra, o cumprimento de todas as promessas, e de todas as orações. O profeta Isaias há muito tempo atrás descreveu o Senhor como o “Deus do Amén” (Isa. 65:16, tradução literal).54 Em ambos os textos uma referência à Criação segue ambos os améns. O Deus do Amén em Isaias jura: “crio novos céus e nova terra” (verso 17). Na carta de Laodiceia, o Deus do Amén define a si mesmo como o “o princípio da criação de Deus” (Apo. 3:14, uma tradução alternativa do NIV). A palavra grega arché para “principio” traduz a palavra hebraica bereshit (princípio) em Gênesis 1:1.35 O Deus do fim é também o Deus dos princípios. Ele está presente do princípio ao fim. Durante estes últimos dias a vinda de Deus jamais esteve tão próxima. A carta descreve-o como batendo na porta (Apo. 3:20), como cantado no Cantares de Salomão, cujo amado é também descrito à porta. (Cant.. 2:8, 9; 5:5). Yeshua está à porta, o que significa na linguagem do Novo Testamento que o fim está próximo (Mat. 24:32; Mar. 13:29). A próxima alusão para a refeição íntima tem a mesma conotação: “entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo” (Apo. 3:20) A refeição tem sempre simbolizado desejo para reunião final. A idéia de aromas desejados cada refeição sacra do calendário levítico56 . Ela aparece no Salmo 23, no qual a mesa do banquete honra aquele que tem permanecido perto de Deus até ao ponto de morrer. A refeição tomada por Yeshua e seus discípulos no Novo Testamento tem a mesma conotação57 . A última ceia que eles partilharam a seder, eles o fizeram na esperança da reunião final no céu, e isso se tornou a personificação da esperança para todos os cristãos58 . O banquete final da reunião é um dos temas centrais do Apocalipse59 . A esperança da Bíblia é real, é concreta. Ela afeta todos nossos sentidos: tato, olfato, visão e paladar cada um contribui para alegria desta esperança. A presença do hóspede
  • 45. 45 enriquece muito mais a experiência. A tradicional expressão: “com ele cearei e ele comigo” (Apo. 3:20) também indica a intimidade e mutualidade do relacionamento. No Oriente Médio as pessoas costumam sentar-se no chão juntas e comer com suas mãos do mesmo prado, tocando e repartindo o alimento um do outro, um negócio de fato perigoso. A refeição foi verdadeiramente um ato de comunhão. Nós devemos aguardar a reunião com Deus como um evento concreto algo para experimentar física e historicamente. Interessantemente aquele que espera em nossa passagem não é a humanidade, mas Deus. É Deus quem bate e quem pleiteia e não nós. “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz...” (verso 20). Deus é aquele que deve ser convidado. A refeição é primeiramente para ser compartilhada em nosso meio. Em contraste com a situação de Filadelfia, apenas nós podemos abrir a porta: “Se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, eu entrarei em sua casa.” Depois de uma longa argumentação por mudança e arrependimento (versos 15-19), é o último pedido de Deus, o qual é todo patético por que Laodiceia não sente ainda necessidade de mudança. A igreja se acha justa. Como indicado pelo seu nome “povo justo”, e como a carta explicitamente menciona: “dizes: „rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta‟” (verso 17). Isto é precisamente a atitude da antiga cidade de Laodiceia, afamada por sua riqueza e elaborado sistema bancário. Quando o estadista romano Cícero (106-43 AEC) viajou através da Ásia Menor, ele teria sempre parado por lá para restabelecer suas cartas de crédito. O povo de Laodiceia tinha produzido suas próprias moedas desde o século segundo AEC criando a figura de seus deuses locais. Completamente auto-suficiente Laodiceia não necessitava de intervenção externa. O historiador Tácitus (55-120 EC) ficou maravilhado que, depois de sua devastação por um terremoto em 61 EC a cidade de Laodiceia foi reconstruída por si mesma sem qualquer ajuda do governo romano60 . Laodiceia também era auto-suficiente por suas férteis fazendas e pastagens, onde pastavam ovelhas cuja lã completamente preta fez a fama da cidade61 . Ela foi o centro de uma indústria têxtil florescente. A cidade foi também famosa pela exportação de seu colírio medicinal.
  • 46. 46 Mas a carta profética considera toda a prosperidade da cidade sem valor. O ouro de Laodiceia é deslustrado, sua pureza é duvidosa. A carta aconselha-a a comprar ouro “provado no fogo” (verso 18). Da mesma forma Deus zomba do guarda roupa da igreja, aconselhando-a a vestir-se. Cegada por seu próprio senso de valor próprio ela nem pode ver que está nua. O esnobismo de Laodiceia é ridículo – eles andam inflados, cheios de ilusão de que estão bem vestidos, enquanto eles estão na verdade simplesmente nus e miseráveis. A carta então urge com eles para comprarem colírio para ajudá-los a ver sua própria infelicidade. Deus tem encontrado os ricos de Laodiceia – seu ouro, tecidos e colírio, todas suas possessões – em falta. A razão é simples: Sua riqueza vem de fontes erradas. A igreja deve “de mim comprar” (verso 18) – de Yeshua. A prosperidade desses crentes da ultima hora é lixo, por que ela não vem de Deus. Sua situação é inteiramente trágica por que eles estão inconscientes disso e acreditam que eles são ricos. Sua mentalidade é tão somente o sintoma da civilização que se orgulha de seu secularismo e humanismo enquanto excluem Deus. Sua riqueza – e mesmo espiritual e religiosa – ela acumula por bravuras de raciocínio. Saídas religiosas são despojadas de toda referencia ao sobrenatural. Milagres pertencem a mitos e crenças antigas. O reinado de Deus tem se tornado construção humana. A igreja institucional – se não a nação – tem substituído a cidade de Deus. Políticas tomam o lugar da religião, e o raciocínio em lugar da revelação. O humano usurpou o divino em todos os níveis. Esta atitude tem se infiltrado até naqueles que deveriam estar aguardando. A certeza da verdade e do alto nível de moralidade e espiritualidade que eles atingiram apenas afunda-os na auto- satisfação e orgulho. Riquezas materiais – o resultado do êxito de projetos missionários, administrativos e eclesiásticos – oculta a infelicidade da situação. E até quando eles se conscientizam de sua necessidade, a paixão está faltando. Indiferença acompanha ignorância. Depois de diagnosticar seu problema, a carta de Laodiceia declara: “porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca” (verso 16). A antiga cidade tinha fontes minerais nas redondezas. Nada é mais nauseante que água sulfurosa morna, ela simboliza a condição espiritual da igreja.
  • 47. 47 Nós não precisamos mencionar nenhum nome, desde que todos nos acomodamos no perfil. A carta para Laodiceia é também um “julgamento do povo,” o outro significado do nome “Laodiceia” O que pode ser feito? Para o autor da carta, a solução está alem dos recursos humanos. Não há propósito em organizar mesmo assim outro colóquio, outro comitê ou ainda recorrer ao jogo do poder ou do dinheiro. A resposta está em outro lugar e envolve uma reversão de regras. O pobre parece rico e o rico parece pobre. O povo de Laodiceia passa por rico. Deus responde tomando os trapos de um mendigo. A solução está além da porta, a qual deve ser aberta apenas de dentro, como no Cantares de Salomão (Cant.5:5). Aquele que correr este risco “ao que vencer” – não somente recebe o nome de Deus, como em Sardes, mas agora recebe privilegio de Deus e poder de governar com Ele: “Eu concederei que se assente comigo no meu trono” (Apo. 3:21). Aqueles que abrirem a porta do coração penetrarão através da porta do céu, e se tornarão parte de uma nova ordem, outra soberania, um novo prazer em coisas que ninguém merece. De modo muito interessante, o próximo capitulo começa com uma porta: “e eis que estava uma porta aberta” (Apo. 4:1) e mostrando o trono de Deus. O Apocalipse fala de duas portas. Uma é aqui embaixo onde Deus bate pacientemente nela, como o amado faz no Cantares de Salomão: “Eis a voz do meu amado! Está batendo: „abre-me, minha irmã, amada minha‟” (Cant. 5:2). Neste contexto, a batida é extremamente violenta. O verbo hebraico usado aqui, dafaq denota golpear pesadamente. A Escritura usa a mesma palavra do pastor que apressa suas ovelhas63 . Este texto sugere que Yeshua está golpeando a porta. Sua paixão indica a urgência e seriedade da situação. Abrir a porta de nosso coração é nossa responsabilidade. Religião luta com a realidade de cada dia da existência e está relacionada com nossa labuta e escolhas. É nossa resposta ao argumento de Deus de se tornar parte de nossas vidas. A outra porta abre para o céu. Somente Deus pode abrir. Ela nos dá acesso ao Seu perdão e Seu reino. Religião não é meramente existencial, com implicações éticas e emocionais. Nem é ela apenas a preocupação com o indivíduo e o presente. O reino de Deus não está somente em nosso meio (cf. Lucas 17:20, 21). O Apocalipse fala da outra porta, a porta no céu que somente Deus
  • 48. 48 pode girar para abrir. O reino de Deus tem aspectos cósmicos. O Apocalipse usa a mesma imagem da porta para sugerir um relacionamento entre os reinos individual e universal. O reino de Deus começa aqui embaixo quando nós abrimos a porta: “entrarei em sua casa, e com ele cearei” (Apo. 3:20). O banquete já começou em nossa existência. Deus desceu entre nós e comeu em nossa mesa. Mas em Sua presença nós vamos desejar mais. Nossa comunhão com Ele cria um desejo por uma intimidade profunda. A refeição se torna um mero aperitivo do curso principal. Quanto mais nos aproximamos de Deus tanto mais desejamos sua presença; Tanto mais compreendemos o que nos falta nesta refeição, mais ansiamos pelo banquete lá encima. E tanto mais abrimos nossa porta aqui, mais suspiramos por Deus girar a porta do céu. 1 Apenas em Apocalipse 5:6 o livro menciona especificamente o cordeiro, “como havendo sido morto.” A morte do cordeiro precede o cenário do trono no cap. 5. 2 Na tradição bíblica e judaica, ossos aludem a ressurreição (ver Eze. 37:1-14; II Reis 13:21; cf. Jó 10:11; Sal. 34:20; Isa. 66:14; Gen. 50:25). No pseudo-epígrafe de Jubilees (Segundo Século AEC), a proibição de quebrar os ossos do cordeiro da Páscoa parece ligada ao milagre da ressurreição: os ossos de Israel são para permanecer inteiro, aparentemente para a ressurreição (Jubilees 49:13). 3 Didache 10. 6; cf. I Cor. 16:22. 4 Babilonian Talmud, Shabbath 53b 5 Ver Dan. 2:28; cf. 2:37, 44, 45; Doukhan, Secrets of Daniel, p. 27. 6 Ver Gen. 1; Exo. 34:18; Lev. 23:36; Num 28:11, 19, 27, etc. 7 Ver Ezra 4 (II Esdras) 13:1; Eclesiásticos (ou Sirach) 7:3; 20:12; 22:12, etc. 8 Col. 1:2; 4:13. 9 Canon Muratorianus: The Earliest Catalogue of the Books of the New Testament, ed. Samuel Prideaux Treguelles (Oxford: 1867), pp. 19,45 10 Apo. 2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22. 11 Miqueias 1:10-16. 12 Ver Dan. 11; cf. Doukhan, Secrets of Daniel, pp. 171-174 13 Ver W. M. Ramsay, The Letters to the Seven Churches, updated ed., ed. Mark W. Wilson (Peabody, Mass,: 1994), pp. 131-133. 14 Dan. 2:37, 38; cf. Gen. 2:28; Doukhan, Secrets of Daniel, p. 30. 15 I Ped. 5:8; cf. Jó 1:7 na Septuaginta. 16 Ver Hippolytus (morreu em torno de 226 EC) The Refutation of All Heresies 7.24 (Ante-Nicene Fathers, vol 5, p. 115); e Epihanius (morreu em 403 EC) Adversus Heresies 1. 2. 25 (Patologic Graecae, Vol. 41, cols. 319-330). Ver tambem D.M. Beck, “Nicolaitians,” Interpreter’s Dictionary of the Bible (1962), vol 3, p. 548. 17 Nas visões antigas do gnosticismo cristão, ver R. M. Grant, “Gnosticism,” Interpreter’s Dictionary of the Bible (1962), vol. 2, p. 404. 18 Ver Gen. 1:29, cf. Dan. 1:16; Doukhan, Secrets of Daniel, pp. 19,20. 19 Ver Prov. 3:1-18. 20 Ver Babilonian Talmud, Ketubot 111b; cf. Zohar 2. 151a-151b. 21 Ver Atos 7-9.
  • 49. 49 22 Donald Kagan, Steven Ozment, e Frank M. Turner, The Western Heritage, 3a ed. (New York: 1987), pp. 191, 192. 23 Ver Doukhan, Secrets of Daniel, pp. 108, 109, 143-145. 24 Aboth 5. 1-9. 25 Franz Cumont, Études Syriennes (Paris: 1917), pp. 63ff.both 5. 1-9 26 Apoc. 20:6, 14; 21:8. 27 Targum of Jeremiah 51:39, 57; cf. Targum of Deuteronomy 33:6 e Isaiah 22:14; 65:6, etc. 28 Daniel provavelmente alude aos dois tipos de morte e ressurreição em Daniel 12:2. 29 Num. 25:1-5. 30 Ver Samuele Bachiocchi, From Sabbath to Sunday: A Historical Investigation of the Rise of Sunday Observance in Early Christianity (Berrien Springs, Mich.: 1977) e Kenneth A. Strand, “The Sabbath and Sunday From the Second Through the Fifth Centuries,” em The Sabbath in Scripture and History, ed. Kenneth A. Strand (Hagerstown, Md.: Review and Herald Pub. Assn., 1982), pp.323-332. 31 Doukhan, Secrets of Daniel, pp. 34, 35. 32 Ibid., pp.106-111. 33 Exo. 16:15; Sal. 78:25. 34 Exo. 16:33, 34; Heb 9:4. 35 Mekhilta 16. 25; cf. II Baruc 29:8; Babylonian Talmud, Hagigah12b. 36 Gen. 17:5. 37 Gen. 32:28. 38 Jer. 33:16. 39 Ver Exo. 3:13-15; cf. Gen. 32:29, 30; Juizes 13:17, o que comandou a proibição contra pronunciar o nome divino (ver Babylonian Talmud, Kiddushin 71a; Mishnah, Sanhedrin 10. 1). 40 Babylonian Talmud, Baba Bathra 75b. Aboth 5. 1-9 41 Midrash on the Psalms, Salmo 21, section 2. 42 Ver Josephus Antiquities of the Jews 7. 13. 2. 43 II Reis 8:18, 26, 27; 10:11. 44 I Macabeus 8:14; Homero The Illiad 4. 141-145. 45 Exo. 25:4; 28:5, 6; 39:29; Josephus Wars of the Jews 5. 5. 4. 46 Atos 16:14, 15, 40. 47 Ver Doukhan, Secrets of Daniel, p. 109. 48 Babylonian Talmud, Sukkah 52a. 49 Pesikta Zutarta, Num.24:17. 50 Babylonian Talmud Baba Bathra 75b 51 A History of the People of the U.S. From the revolution to the Civil War (New York: 1920). Vol. 7, p. 136. 52 Ver especialmente Menahem Mendel, Zemah Zedek (1870-1874). 53 Ver Mirzá Husain Hamadani, TheTárik-i-jadíd, ou New History of Mirzá „Alí Muhammad , the Báb, trans. e ed. Edward G. Browne (Cambridge: reprint 1975), p. xxxv. 54 A NVI traduz “Deus da Verdade.” A palavra amen tem a mesma raiz da palavra emet, truth. 55 Ver também João 1:1. 56 Gen. 14:18-20; 31:54; Deut. 12:5-7, 17, 18; 14:23, 26; 15:20; Exo. 18:12; 24:11; I Sam. 9:11-14; Prov. 9:1-5. 57 Ver Mat. 5:6; 9:11; 22:1-14; Mar. 6:35-44; Luc 13:29. 58 Marc. 14:25; I Cor. 11:26. 59 Apo. 2:7; 3:20; 19:7, 9; 22;2.
  • 50. 50 60 The Annals 12. 27. 61 Strabo The Geography of Strabo 12. 8. 16. 62 Ver Gen. 33:13.
  • 51. 51 Capitulo 2 A JIHAD CRISTÃ (Apocalipse 4-8:1) Shavuot E de fato a porta de Apocalipse 3 reage a outra porta: a “porta aberta no céu” de Apocalipse 4. A voz do Filho do homem de novo atrai Yohanan. Agora, contudo, Yeshua fala ao profeta “sobe aqui” (Apo. 4:1). E quando ele o faz, vê que “eis que um trono estava posto no céu, e um assentado sobre o trono” (verso 2). O Apocalipse é o livro do Novo Testamento que tem as principais referências do trono. Entre as 62 ocorrências da palavra grega para “trono” no Novo Testamento, 47 aparecem no Apocalipse, seguida por apenas quatro no Evangelho de Mateus. O tema trono é importante para Yohanan. A alusão ao trono interessa tanto aos contemporâneos do profeta – preocupados com tronos terrenos, especialmente do de César – como ao povo de hoje que tem descartado a noção de trono como nada mais que um vestígio monárquico. O Apocalipse multiplica a alusão do trono de Deus para nos lembrar que existe de fato um “trono no céu,” um trono exaltado sobre todos os outros tronos. “Trono” é a palavra chave do capitulo 4: das 47 vezes usada no Apocalipse, ele tem 14 delas. Yohanan simplesmente menciona o trono e não atenta para descrevê-lo. Assim como para a Pessoa sentada no trono, Yohanan também se encontra incapaz de descrevê-Lo. Aqui, contudo, ele se
  • 52. 52 torna poético e compara o mesmo a três pedras preciosas: jaspe, sárdio e esmeralda. Esta combinação específica é significante, desde que o peitoral do sumo sacerdote de Israel contem as mesmas três pedras (Exo. 28:17-19). É o único lugar que a Escritura menciona as três gemas juntas. Yohanan não vê muito do Ser misterioso sentado no trono exceto pelas três jóias. A intenção é novamente evocar o templo. O Arco-íris sobre o trono acrescenta a sua grandiosidade. Isso também lembra-nos do arco-íris da esperança depois do Dilúvio. Um símbolo de graça, o arco-íris serve para fixar a aura de justiça representada pelo trono. No meio de “relâmpagos, e vozes, e trovões” (Apo 4:5) – precursores do histórico caos vindouro e o castigo de Deus1 – O arco íris é o sinal do amor de Deus, que com Sua justiça, salva e dá esperança. O arco íris é também o “aspecto da semelhança da glória do Senhor” (Eze. 1:28); isto é de Sua grandeza e poder infinitos. O grande arco abraça os céus e a terra – a totalidade do universo. Envolta do trono sentam-se 24 anciãos. A idade identifica- os com o juiz de cabelos brancos como a lã branca, (Apo. 1:14) e sua posição – deles, como Ele, sentados em tronos – revela a qualidade deles como juizes.2 Os 24 anciãos então representam aqueles que “venceram” na carta de Laodiceia – aqueles convidados a sentarem com o filho do Homem no trono (Apo. 3:21) para ajudá-lo a julgar. Mas até o capítulo 20 o Apocalipse não vai descrevê-los como julgando. Por enquanto, eles apresentam louvor e adoração (Apo 4:9-11). A função deles um pouco mais tarde envolve transmitir “as orações dos santos” (Apo. 5:8), e um deles até ajuda Yohanan a identificar o último remanescente (Apo. 7:13, 14). Tais responsabilidades refletem aquelas dos sacerdotes tanto quanto dos juizes. Também as duas funções não são necessariamente incompatíveis. Sentados em tronos eles são, como o sumo sacerdote, investidos com a dupla responsabilidade de sacerdote e juiz, uma ligação que data do tempo de Moisés, quando o sacerdote era também juiz3 . È claro que o número 24 é simbólico. Ele está relacionado com o número 12, o número da aliança (quatro, número da terra, vezes três, número de Deus). As 12 tribos de Israel, assim como os 12 discípulos de Yeshua, têm a mesma conotação, algo claramente testemunhado no Apocalipse (Apo. 21:12, 14). O número 12
  • 53. 53 representa o povo do concerto, o remanescente, todo o Israel, o Israel do Apocalipse. O número 24 também evoca o serviço do Templo de Jerusalém, com sua divisão de 24 sacerdotes (I Cron. 24:1-19). Um “chefe” (I Cron 24:5, chamado “oficial” na NVI), liderava cada grupo. É interessante que o Mishnah chama-os de “anciãos”4 . Do mesmo modo que os sacerdotes, os cantores pertenciam a 24 grupos (I Cron. 25:1-31) e, igual aos “anciãos” eles adoravam a Deus tocando harpa (Apo. 5:8; cf. Cron. 25:1, 6, 7). A atividade dos anciãos é nada mais que um serviço de adoração celestial, do qual o serviço do Templo terrestre foi um mero reflexo5 . O mar de vidro, claro como cristal, parece se estender ad infinitum diante do trono. (Apo 4:6) e desse modo evoca a dimensão cósmica da situação. Também a imagem do trono de Deus suspensa sobre água proclama o poder de Deus sobre os elementos. O Apocalipse aqui representa Deus como o Criador. O livro de Gênesis descreve a criação do mundo em termos de uma vitória sobre o elemento água, um símbolo de vacuidade e de escuridão6 . O tema posterior ocorre também em Salmos7 e no livro de Isaias8 . O salmo 104 coloca o trono de Deus sobre a água para significar Sua soberania sobre a criação: “que pões nas águas os vigamentos da tua morada” (Sal. 104:3). É provavelmente esta imagem que inspirou o mar de bronze que Salomão fundiu para o Templo (II Cron. 4:2). O Juiz divino, Rei do universo, está assim identificado como o Criador9 . Interessantemente, uma referência ao Espírito de Deus (Apo 4:5), o agente ativo da Criação (Gen. 1:2), introduz o mar de vidro, o símbolo da Criação. Além disso, a descrição dos quatro seres, que representa a terra, segue a descrição do mar de vidro. Na Bíblia, como no restante do antigo Oriente Próximo, o número 4 simboliza as dimensões terrestres. Nós recorremos aos quatro pontos cardeais10 e aos quatro cantos da terra11 . O profeta Daniel fala dos quatro ventos do céu. (Dan. 7:2), que, de novo, representa a terra em sua totalidade. Ele também, re-conta a história da raça humana (Dan. 2 e 7 ) através do simbolismo de quatro reinados. O que é mais surpreendente sobre os quatro seres é sua aparência. O primeiro assemelha-se a um leão, o segundo a um boi, o terceiro a um homem e o quarto a uma águia. Uma antiga
  • 54. 54 historia judaica, uma midrash, empresta a mesma linguagem. De acordo com Rabbi Abahu, existem quatro criaturas poderosas: a águia, a mais poderosa entre as aves, o boi, o mais poderoso entre os animais domésticos, o leão, o mais poderoso entre animais selvagens; e o homem, o mais poderoso entre todos os animais12 . A tradição lembra estas quatro bestas como representando toda a criação, tanto como os 24 anciãos exemplificam mais especificamente a raça humana. O Apocalipse coloca a criação do universo no coração da visão do trono. A liturgia cantada pelos 24 anciãos em resposta ao encantamento dos quatro seres também aludem à Criação. Primeiro, os quatro seres pairam sobre o trono, cantando em tripla medida: “Santo, Santo, Santo... que era que é e que há de vir” (Apo. 4:8). Este paralelismo sugere que a santidade de Deus manifesta-se nos três componentes de tempo e da história: o passado, o presente e o futuro. Em outras palavras, Deus é sempre santo. O profeta Isaias recebeu uma visão similar (Isa 6:1-3). É também enfatizada a santidade de Deus três vezes: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; a terra toda está cheia da sua glória” (verso 3). Então os 24 anciãos prostram-se em adoração, lançando suas coroas diante do trono. E o ciclo prossegue. Os quatro seres continuam cantando a santidade de Deus. A liturgia deles nunca acaba. A cena engloba espaço e tempo. Os objetos, as vozes, as imagens, as pessoas – tudo tipifica a mesma adoração para gloria e honra ao Deus Criador: “Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória e a honra e o poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existiram e foram criadas” (Apo. 4:11). O que torna Deus digno de adoração como juiz e rei é que Ele é o Criador do universo – que Ele é nosso Criador. Se Ele não fosse nosso criador, nossa adoração seria idolatria. Alguém pode adorar o Criador ou idolatrar a criatura. Somente Deus, porque Ele nos criou, pode julgar nosso destino e nossa salvação. “Digno és” (Apo. 4:11) antecipa a questão no capitulo 5: “Quem é digno?” (Apo 5:2). Esta questão vem como uma aclamação e se refere a um livro selado seguro na mão direita do divino Juiz sentado no trono: “Quem é digno de quebrar os selos e abrir o livro?” (verso 2). A questão é deixada suspensa, pois o