Para alem do capitalismo e da modernidade. Propomos olhares alternativos, novas formas de organizacao social para alem nao so do Capital mas tambem da esquerda tradicional cooptada, vendida e tradicionalista.
Analise de politicas publicas e gerenciamento costeiro na Baixada Santista em...
O capitalismo mata: 4 olhares
1. Olhares além da edificação chamada capitalismo (O capitalismo Mata)
Este documento é uma pequena contribuição do Coletivo Alternativa Verde (CAVE) no
sentido de iniciar uma conversa com outras organizações e coletivos não só do
movimento ecológico, como também no cenário maior dos movimentos sociais de nossa
região, então vamos iniciar o nosso dialogo.
O capitalismo é uma edificação e os materiais utilizados em sua construção e na sua
manutenção são a dominação, a exploração e a alienação mas se nos esforçarmos quem
sabe poderemos ver além desta edificação e de seus materiais . Ou pelo menos Sonhar
com este outro lado, já que mal o podemos ver claramente. Alguns dizem, que esta idéia
é uma ilusão, algo infantil, desorientada e confusa. Porém nós acreditamos que é uma
possibilidade, uma rota por explorar, um caminho no qual podemos caminhar, e nos
orientar em uma nova forma de fazer política e que não tem por objetivo o poder que não
é uma vanguarda iluminada cujo programa, liderança e carisma se tenha que seguir
cegamente. E sim uma entre muitas possibilidades de interpretação e de leituras. Então
vamos lançar nossos olhares para além do edifício do capital e de suas relações e estes
olhares serão nossos instrumentos na tentativa de vislumbrar algumas alternativas na
construção de uma outra realidade.
O primeiro Olhar: Unidade na Diversidade
Ao olharmos a nossa sociedade, mas especificamente nos últimos dois séculos, o
pensamento hegemônico e também dos movimentos sociais foi construído sob algumas
bases teoricamente bem sólidas. O pensamento moderno, sob a influência do iluminismo,
do pensamento newtoniano e depois do positivismo gerou a visão de que poderíamos
construir a verdade a partir da racionalidade. Construiu-se a idéia de que poderíamos
encontrar através da ciência, a verdade, e com ela, construir leis universais do
funcionamento da história. Nossos movimentos sociais adotaram esta visão. Se
encontrávamos e compreendíamos esse funcionamento, só era questão de seguir as pautas
dessa verdade científica para construir a revolução.
Esta idéia sobre a verdade, a racionalidade e a ciência, gerou um marco de pensamento
patriarcal, linear, e mecanicista, que ajudou muito na construção de uma modernidade
desenvolvimentista e em constante expansão. A idéia de progresso, de desenvolvimento,
e crescimento, foi adotada por nossa sociedade, pela esquerda e por nossos movimentos
como um fato sem questionamento da história humana.
Mas esse pensamento ajudou muito no funcionamento de um sistema que precisamente
precisa crescer sem obstáculos. É assim que funciona o capitalismo. O capitalismo
cresce, ou perece.
Esse pensamento está em crise hoje. A nossa visão então se inscreve na desestruturação
desse pensamento. E, por que as bases deste pensamento modernizador,
2. desenvolvimentista, positivista causaram vários estragos? Nós propomos uma unidade na
diversidade. Propomos a idéia da verdade múltipla frente às leis universais de verdades
únicas. O pensamento dominante ou hegemônico ajudou a criar a idéia de que se tinha de
homogeneizar, desenvolver, modernizar. Esta visão ajudou a arrasar as diferenças, "os
diferentes" em nome de uma modernidade racional que avançava inexoravelmente para
um mundo melhor. E todos nós sofremos as conseqüências desta visão. O nosso olhar se
inscreve então numa onda de novas idéias que nos dizem que a história não está escrita,
que não necessariamente avançamos para um sistema melhor, e que o múltiplo e o
diverso não são um obstáculo, senão que as diferenças são uma riqueza a proteger, a
preservar. A diversidade nos ajuda a avançar. A unidade na diversidade é a proposta de
um outro mundo onde convive, em unidade de princípios, a diversidade de idéias sem que
uns se imponham a outros. Não é só uma idéia utópica do futuro, é uma forma de ver-nos,
sonhar-nos, falar-nos entre nós. Hoje a política não deve ser feita mais em nome de
verdades fechadas, mas de uma relação viva entre grupos diversos e princípios
revolucionários.
O Segundo olhar: Não queremos o poder político.
Quando olhamos para a forma como se exerce o poder nos estados modernos uma
pergunta surge, será suficiente a tomada do poder político, concebido este como o poder
do estado, o poder que alguns consideram como o único e o mais importante? Nós
cremos que não. Que o poder do estado atualmente é um poder inevitável, sim, mas não é
todo o poder. Mais importante do que quem esta no poder é que quem está exercendo
o poder, obedeça. A esquerda construiu uma idéia providencial e heróica da tomada do
poder. O caminho da transformação ou da queda do capitalismo é uma grande odisséia,
quase sempre encabeçada por um herói, que se enche de dor e sofrimento no final do
caminho, a vitória, isto é, a tomada do poder é a grande chegada, o grande dia, o
momento em que se bifurca a história em duas grandes etapas. Num antes e num depois.
A partir daí, e SÓ a partir daí, a história e o homem começavam a mudar. É o que alguns
pensadores chamam de estratégia de dois passos: tomar o poder e depois, e só depois,
mudar as relações. A estratégia dos nossos movimentos sociais girava ao redor desta rota.
Era uma estratégia, digamos, estadocêntrica.
Mas esta idéia também esta mudando, ainda que siga sendo muito importante. O que
propomos é uma mudança nas formas de tomada de decisão com novos e coletivos
controles baseados na democracia direta e em conselhos populares. Concebemos a
direção como resultado de um processo coletivo democrático e não como a vanguarda
clarificante que deve guiar-nos ao grande dia da transformação. A história está cheia de
exemplos de como o estado e sua força não são o único referencial popular e muitas
vezes nem o mais importante. Há outras áreas, "alguma outra coisa" outras formas
colegiadas e diretas de vivenciar o poder. Esta não é só uma proposta ética, senão uma
proposta que desarticula a lógica do poder tal e como a conhecemos. Desarticular as
regras do poder implica evidentemente em luta acima, contra os senhores do poder e a
exploração, mas também abaixo, entre nós, rompendo os esquemas de dominação em
nossas famílias, trabalho e escolas; entre homens e mulheres, entre adultos e jovens, entre
3. raças, em nossas organizações e coletivos, em nossas relações cotidianas. É gerar uma
nova relação que permita a construção de um contra poder que decida de baixo para
acima, que se auto-governe e determine a si mesmo. Implica construir uma ordem social
diferente da atual.
Esta proposta é crítica a toda lógica do sistema em seu conjunto e não só do governo da
vez. É uma proposta de desarticulação de todos os mecanismos de dominação e não só
uma crítica aos dominadores. Mandar obedecendo significa vivenciar já este contra poder
em nossas relações e não em um futuro longínquo. Implica a democratização cada vez
mais profunda do novo poder e o correspondente processo de devolução das funções de
decisão usurpadas pelo capital dos trabalhadores. Não há que tomar o poder, senão
construí-lo. Não há que tomar o sistema por assalto, há que desconstruí-lo e nesse
processo experimentar, desenhar, sonhar, um novo sistema.
Terceiro olhar: Uma nova forma de fazer política.
Propomos então um terceiro olhar. A história da esquerda e de nossos movimentos está
cheia de tristes exemplos onde os piores vícios do poder dominante foram reproduzidos
em nossas organizações, em nossas decisões, em nossas estratégias. É uma história que
separava os meios dos fins. Se procurássemos um mundo melhor para todos, o
socialismo, o comunismo ou a revolução social, isto justificava qualquer meio para se
chegar a isso. Hoje, sabemos que este pensamento pragmático deixou muito que desejar
e que cooptações, a corrupção, o sectarismo, o vanguardismo, o setorialismo e o
autoritarismo, abalaram a credibilidade e a esperança de todos que viram seus dirigentes
revolucionários converterem-se em ditadorezinhos em seus partidos ou em suas
organizações. Que viram enriquecer aqueles que falavam de um mundo igualitário. Que
viram reproduzir o poder que tanto se criticava. Os que se diziam dominados,
convertendo-se em novos dominadores. Uma nova ética, fundada em espaços coletivos é
condição imprescindível para um novo mundo. Espaços e organizações que possam ser a
expressão de uma democracia direta e assemblária onde todos possam ter voz e assim
construir o conhecimento e a pratica em uma vivência cotidiana da nossa utopia, em
oposição a organizações com muitos membros, mas que na prática costumam ser a voz de
um só. Sem novos movimentos que se desenvolvam, experimentem e atuem dentro de um
novo marco ético, um novo mundo se afasta, com o descrédito frente aos nossos olhares.
Quarto Olhar: UM ritmo do mais lento, para uma mudança mas profunda.
Quando olhamos a eliminação do conceito de vanguarda, essa que dizia que com uma
elite preparada e um programa e uma estratégia adequada, nós teríamos,
inequivocadamente, a revolução entendemos mais a nossa necessidade da construção
de alternativas revolucionarias como um processo. A imagem de adiar metas que ainda
não são realizáveis se derruba frente à idéia de que há de se construir em um ritmo do
mais lento. Eliminando de novo a intenção de impor idéias e estratégias que por muito
corretas, por muito avançadas que sejam não podem ser cristalizadas sem o outro, sem os
outros, que as devem compartilhar, entender e enriquecer ditas propostas. Caminhar ao
4. ritmo do mais lento é construir um processo coletivo para caminhar, e não correr
deixando ao resto atrás.
Enquanto uma parte da esquerda se nega a reconhecer que não há um só ator da
transformação, o pensamento e a ação que propomos é um exemplo entre muitos outros
de que nenhum setor tem um papel histórico predeterminado. E mais ainda, que a classe
operária industrial, à que se atribuía um papel protagonista teve posições bem mais
conservadoras frente à emergência de novos atores como os povos índios, os
trabalhadores desempregados ou os movimentos de mulheres e pelo ambiente.
Quatro Olhares: O Diálogo
Todos os nossos olhares são forte crítica ao pensamento ortodoxo de esquerda, mas mais
ainda, ao pensamento moderno iluminista. Dialogar implica no reconhecimento dos
outros como atores para a construção de alternativas revolucionárias. O dialogo se
coloca dentro de uma visão profundamente democrática interna e externa a todos os
envolvidos. Implica reconhecer que podem existir outras estratégias, implica reconhecer
que devem mediar estratégias de consulta e consenso no interior de nossos movimentos e
que o diálogo como forma de articulação é um veículo poderoso entre os movimentos
para desarticular muitas formas de dominação de maneira radical.
Não desejamos aqui superestimar nossos olhares. Sabemos de suas limitações, e
contradições. Parece-nos, no entanto, que nossa visão traz contribuições ao pensamento
crítico que não podemos deixar de lado porque são assinalamentos profundos de uma
reconstituição de nossas formas de pensar e construir nosso horizonte utópico.
E como colocamos no principio deste texto e agora este é apenas o inicio de um dialogo
que não se pretende fechado, mas que pretende olhar para além do grande edifício do
capital. Ou começamos agora a construção de novas relações ou iremos, em pouco
tempo, ver o óbvio: o capitalismo mata.
Um abraço a todas e todos os companheiros, amigos e comparsas no sonho de um novo
mundo libertário.
Ass. Giulius Césari (CAVE)