SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 13
Baixar para ler offline
ISSN 1517-6770

A fauna de vertebrados
de um banhado costeiro
em área periurbana
no sul do Brasil

Dimitri
Ramos Alves,
José Luis
Luque,
Aline
Rodrigues
Paraguassú,
Daniela dos
Santos Jorge
e Ruth Alves
Viñas

Cristina Vargas Cademartori1
Marcos Machado2
THE VERTEBRATE FAUNA OF A
COASTAL MARSHLAND IN A
PERIURBAN AREA IN SOUTH BRAZIL
ABSTRACT: Marshlands are preferential reproduction places
and refuge for many species of animals and plants.
The marshes of the coastal plains of Rio Grande do
Sul State, Brazil, have been modified by agricultural
activities and increasing urbanization. The ecological
importance of a private marshland situated in Viamão
City (30°05’S, 50°47’W), Rio Grande do Sul State,
to local fauna, was evaluated to guide the owners in
the preservation of the ecosystem. Monthly, we did
samples of vertebrate species (a total of 45) to estimate
their numbers and their seasonal fluctuations in the
area. There were significant differences in the
frequencies of some abundant species that were
related to their feeding, reproduction or
displacement habths. Macrophytes and grasses offer
good places to nest and protection of Gallinula
chloropus (Linnaeus,1758), Vanellus chilensis
(Gmelin, 1782), Jacana jacana (Linnaeus,1758),
Podiceps major (Boddaert,1783), Podilymbus
podiceps (Linnaeus,1758) (Aves) and Myocastor
coypus (Molina, 1782) (Mammalia). The preservation
of the studied marshland in a periurban area is
important to maintain the local and migratory fauna.
Key Words: Marshland, vertebrates, threatened ecosystem,
seasonal fluctuations.

Curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário La Salle. Av.
Victor Barreto 2288, Canoas, RS. titina@via-rs.net
2
ULBRA, Departamento de Biologia, Rua Miguel Tostes 101, prédio I,
sala 123, 92010-240, Canoas, RS. machadomarcos@hotmail.com
1

INTRODUÇÃO

Rev. bras.
Zoociências
Juiz de Fora
V. 4 Nº 1
Jun/2002
31-43
p. 19-30

31
A fauna de
vertebrados
de um
banhado
costeiro
em área
periurbana
no sul
do Brasil

Rev. bras.
Zoociências
Juiz de Fora
V. 4 Nº 1
Jun/2002
p. 31-43

32

Os ecossistemas lacustres constituem 15% da zona litorânea dos continentes e estão entre os mais produtivos da
biosfera (BARROSO & BERNARDES, 1995). O litoral da região
sulbrasileira é privilegiado pela presença de muitas e importantes lagunas e lagoas como a dos Patos, a Mirim e a Mangueira, localizadas no Estado do Rio Grande do Sul, ultrapassando 14600 km2 de área (VIEIRA & RANGEL, 1988) e constituindo-se no maior ecossistema lacustre do planeta. Quando
se considera que apenas 3,7% de toda a água da Terra são
constituídos de água doce, e que desse total somente 0,01%
corresponde à água armazenada nos ecossistemas aquáticos
continentais como lagos, lagoas, lagunas e rios, fica evidente
o reconhecimento do papel desses ecossistemas para a preservação de dois dos principais recursos considerados estratégicos à humanidade neste século: elevada biodiversidade e água
doce (ESTEVES, 1995).
Associado a essas grandes formações lacustres existe um
número significativo de corpos d’água de menor volume (pequenas lagoas, banhados e campos inundáveis), que justamente
por essa característica, estão mais sujeitos a alterações ambientais cíclicas ou irruptivas. Somam-se a essas, de causa natural, aquelas resultantes de ação antrópica.
Os banhados são ambientes naturais de grande importância ecológica, visto que se configuram em excelentes
criadouros naturais e abrigo seguro para muitas espécies vegetais e animais. Conforme ROSÁRIO (1996), desempenham
papel fundamental na conservação da avifauna, que está associada ao meio aquático e palustre. No período reprodutivo,
muitas espécies procuram esses ambientes para construírem
seus ninhos, onde também buscam alimento e proteção. Uma
das principais características desses ambientes é a elevada
produtividade, que pode ser traduzida na grande produção de
biomassa vegetal (macrófitas e algas unicelulares) e animal
(moluscos, crustáceos e peixes). Muito provavelmente, este foi
um fator decisivo para a fixação dos primeiros aglomerados
humanos nas suas proximidades (ESTEVES, 1995).
Este trabalho teve por objetivos conhecer a fauna de vertebrados de um banhado em área periurbana (Condomínio
Residencial Jardim Fraga, Viamão, RS), bem como determinar
as flutuações sazonais das espécies mais freqüentes.
MATERIAL E MÉTODOS

Cristina Vargas
Cademartori
Marcos
Machado

Área de Estudo
O trabalho foi realizado junto ao banhado do Condomínio
Residencial Jardim Fraga e áreas próximas, pertencentes à
bacia hidrográfica do sistema formado pelos rios Caí-SinosGravataí (VIEIRA & RANGEL, 1988), no município de Viamão 30°05’S, 50°47’W - (IBGE, 1959), Rio Grande do Sul. As áreas
amostradas, referentes ao banhado do condomínio e propriedades adjacentes, compreendem, respectivamente, cerca de
160 km 2 e 250 km2.
Segundo VIEIRA & RANGEL (1988), os banhados formam
um ecossistema no qual se distinguem vários habitats e
subabitats: pântanos permanentemente alagados, áreas sazonalmente alagadas com predominância de vegetação juncácea,
gramíneas e ciperáceas, e áreas fortemente úmidas na estação chuvosa. A área de estudo enquadra-se na descrição dos
autores, constatando-se que a vegetação dominante é formada principalmente por juncos, gramíneas e macrófitas, sendo
Scirpus sp., Cyperus sp. e Eichhornia sp., os gêneros mais abundantes (IRGANG & GASTAL, 1996).
Os campos inundáveis também ocupam as planícies
aluviais do sistema lagunar-lacustre, canais naturais, margens
de arroios e cursos interiores de rios (VIEIRA & RANGEL, 1988).
Em áreas contíguas àquela estudada, foram encontrados campos inundáveis, os quais apresentaram duas expressões
fisionômicas sazonais: um habitat gramíneo-ciperáceo nativo
nos períodos de menor precipitação pluviométrica e um
subabitat aquático decorrente das inundações de inverno. As
variações de temperatura e pluviosidade são apresentadas na
Figura 1.

Rev. bras.
Zoociências
Juiz de Fora
V. 4 Nº 1
Jun/2002
p. 31-43

33
A fauna de
vertebrados
de um
banhado
costeiro
em área
periurbana
no sul
do Brasil

Figura 1. Variações na temperatura média e na precipitação durante os anos de
1996 e 1997 em Porto Alegre (estação meteorológica mais próxima da área de
estudo).

Coleta de Dados

Rev. bras.
Zoociências
Juiz de Fora
V. 4 Nº 1
Jun/2002
p. 31-43

34

As atividades de campo foram realizadas ao longo de um
ano (fevereiro de 1996 a março de 1997). Efetuaram-se contagens mensais, diretas e diurnas, da avifauna associada ao banhado, com o auxílio de binóculo e guias de identificação de
campo (DUNNING & BELTON, 1993; NAROSKY & YZURIETA,
1987; ROSÁRIO, 1996; SILVA & CAYE, 1992); os resultados foram
obtidos sempre pelo mesmo observador. A partir de julho de 1996,
estenderam-se as contagens para ecossistemas contíguos (banhado e campo inundável) em propriedades próximas.
Paralelamente, realizaram-se coletas manuais de anfíbios ao anoitecer, os quais foram levados ao laboratório e identificados. Os répteis e mamíferos associados foram observados
durante o dia e identificados.
No processo de amostragem da ictiofauna de fundo, utilizou-se uma rede de espera cuja malha possuía 40mm de
entrenós. Nas margens, em meio à vegetação submersa e
emergente, empregou-se uma rede manual (puçá), medindo
80cm x 50cm, com malha de 0,2cm de entrenós. Concomitantemente, acompanharam-se as atividades de pesca (com caniço) realizadas por moradores do condomínio. O material coletado foi identificado (BUCKUP & REIS, 1985; MALABARBA &
ISAIA, 1992), fixado em formol 10% e depositado na coleção
científica do Museu de Ciências Naturais da Universidade
Luterana do Brasil.

Cristina Vargas
Cademartori
Marcos
Machado

Análise Estatística
A análise quantitativa dos dados restringiu-se àquelas espécies mais abundantes observadas no ecossistema. Para determinar a significância de diferenças entre o número de espécies observadas por estação utilizou-se o teste ANOVA: um
critério, empregando-se o programa estatístico GRAPHPAD
Instat Versão 3.0. O mesmo procedimento foi adotado para
avaliar a existência de significância entre a freqüência relativa da espécie mais abundante e as demais, por estação,
complementando-se a análise com aplicação do teste de
Bonferroni. Vale ressaltar, ainda, que os dados originais foram
logaritmizados, garantindo, assim, o atendimento de uma exigência fundamental do teste ANOVA, isto é, populações com
desvios padrões idênticos.
As espécies menos abundantes e as áreas contíguas próximas ao condomínio forneceram informações de caráter qualitativo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o estudo foram observadas 42 espécies de vertebrados (Tabela 1), sendo 34 pertencentes à Classe Aves, uma
pertencente à Classe Mammalia, uma pertencente à Classe
Reptilia - Trachemys dorbignyi (Duméril & Bilron, 1835), uma
pertencente à Classe Amphibia - Leptodactylus ocellatus (Linnaeus, 1758) e 5 pertencentes à Classe Osteichthyes -Rhamdia
quelen (Quoy & Gaimard, 1824), Hoplias malabaricus (Bloch,
1794), Gymnogeophagus rhabdotus (Hensel, 1870),
Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824) e Astyanax
eigenmanniorum (Cope, 1894). Foram registradas 2 espécies
de aves exclusivas ao banhado do condomínio: Sterna sp. e
Colaptes campestris. Também foram encontradas 7 espécies
de aves restritas às áreas contíguas: Accipter striatus (Vieillot,
1807) Rostrhamus sociabilis, Amazonetta brasiliensis (Gmelin,

Rev. bras.
Zoociências
Juiz de Fora
V. 4 Nº 1
Jun/2002
p. 31-43

35
A fauna de
vertebrados
de um
banhado
costeiro
em área
periurbana
no sul
do Brasil
Classe/Família
AVES
Accipitridae

Tabela 1. Número de indivíduos de espécies de aves e mamíferos observados
sazonalmente no banhado do Condomínio Residencial Jardim Fraga (área 1),
e em áreas contíguas de banhado e campos inundáveis (área 2), em propriedades próximas, Viamão, RS.
Estações
Outono/96

Espécie

Inverno/96 Primavera/96 Verão/97

Migração

Inverno/96 Primavera/96 Verão/97

Área 2

Área 1

Rs

1

0

0

0

1

0

0

M#

0

0

0

0

0

1

0

Rs

0

0

0

0

1

0

0

Ceryle torquata
(Linnaeus, 1766)
Chloroceryle amazona
(Latham, 1790)

Rs

1

2

1

0

0

1

0

Rs

1

1

1

0

1

0

0

Dendrocygna viduata
(Linnaeus,1766)
Amazonetta brasiliensis
(Gmelin, 1789)

Rs

0

0

18

7

7

3

2

Rs

0

0

0

0

3

0

0

Egretta alba
(Linnaeus, 1758)
Egretta thula
(Molina, 1782)
Nycticorax nycticorax
Syrigma sibilatrix
(Temminck, 1824)

Rs

6

7

2

4

45

8

0

Rs

9

5

3

1

16

11

1

Rs
Rs

0
0

0
0

0
1

0
0

0
0

0
0

1
1

Charadriidae

Vanellus chilensis
(Gmelin, 1782)

Rs

19 e 7j

30 e n

53 e 3f e 6j

56

17

35

23

Ciconiidae

Ciconia maguari
(Gmelin, 1789)

Rs

0

0

0

1

4

0

0

Cuculidae

Guira guira
(Gmelin, 1788)

Rs

0

0

2

0

0

3

0

Furnariidae

Furnarius rufus
(Gmelin, 1788)

Rs

0

2

3

0

0

1

0

Hirundinidae

Notiochelidon cyanoleuca
(Vieillot, 1817)

Rs

0

7

9

0

0

3

0

Icteridae

Molothrus bonariensis
(Gmelin, 1789)

Rs

3

7

0

0

0

4

0

Jacanidae

Jacana jacana
(Linnaeus, 1758)

Rs

19 e 11j

29 e 6f

36 e 3j

28 e 3f e 16j

23

21

14 e 4j

Laridae

Larus dominicanus
(Lichtenstein, 1823)
Sterna sp. (Linnaeus, 1758)

Rs

1

0

0

0

6

0

0

?

1

3

4

1

0

0

0

Phalacrocoracidae Phalacrocorax brasilianus

Rs

0

1

0

0

13

13

3

Picidae

Colaptes campestris
(Vieillot, 1818)

Rs

0

2

0

0

0

0

0

Podicipedidae

Podilymbus podiceps (Linnaeus, 1758)
Podiceps major (Boddaert, 1783)

Rs
Rs

3
12

10 e 2j
6 e 3j

8 e 1f
2 e 1j

0
14 e 1f

11
19

0
4

Rallidae

Gallinula chloropus (Linnaeus, 1758)

Rs

36 e 2f e 12j

48 e 2f

22

30 e 1f e 6j

11 e 1f e 1j

9

1

Recurvirostridae

Himantopus himantopus (Linnaeus, 1788)

Rs

0

0

0

0

0

0

3

Threskiornithidae Plegadis chihi (Viellot, 1817)

Platalea ajaja (Linnaeus, 1758

Rs
Rs

9
0

1
0

4
0

32
0

0
1

1
0

0
0

Troglodytidae

Troglodytes aedon (Vieillot, 1808)
Machetornis rixosus (Vieillot, 1819)

Rs
Rs

3
0

7
4

0
1

0
2

5
0

0
6

0
0

Tyrannidae

Satrapa icterophrys (Vieillot, 1818)
Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766)
Tyrannus savana (Linnaeus,1766)
Xolmis irupero ( Viellot, 1817)

Rs#
Rs
Mv/Rs
Rs

0
3
0
0

2
7
0
0

0
3
4
0

0
5
0
0

1
3
0
0

0
9
1
2

0
2
0
0

-

21

13

3

3

2

1

0

Alcedinidae

Anatidae

Ardeidae

Buteo magnirostris
(Gmelin,1788)
Accipiter striatus
(Vieillot,1807)
Rostrhamus sociabilis
(Viellot,1817)

(Humboldt, 1805)

MAMMALIA
Capromyidae
Rev. bras.
Zoociências
Juiz de Fora
V. 4 Nº 1
Jun/2002
p. 31-43

36

Myocastor coypus

(Molina ,1782)

6 e 3f
6 e 3 f

* j=jovem; f=filhote; n=ninho com ovos
**Rs=residente; Mv=Migrante de verão; ?=não identificada; # = assume-se
migração ou residência, sem confirmação (Belton, 1994)
1789), Nycticorax nycticorax, (L.,1758) Himantopus mexicanus
(L., 1758), Platalea ajaja L., 1758 e Xolmis irupero (Vieillot,
1823). Tal diferença na composição específica das áreas pode
ser atribuída aos hábitos preferenciais das várias espécies, coincidentes com as características próprias de uma ou de outra
área e, sobretudo, ao menor impacto antrópico e à maior
heterogeneidade de habitats que caracterizam as áreas contíguas, permitindo a coexistência de um maior número de espécies.
O número de espécies de aves e mamíferos variou sazonalmente durante o período de estudo no banhado do condomínio e nas áreas próximas (Figura 2), revelando assim o mesmo padrão de flutuação. Tal comportamento permite afirmar
que os corpos d’água em questão estão submetidos aos mesmos agentes reguladores de causa abiótica (por exemplo, regimes de chuvas e de evaporação), os quais determinam respostas idênticas quanto à variação no número de espécies,
apesar das diferenças em relação à composição faunística..
Não obstante a redução no número de espécies entre a primavera e o verão, constatou-se uma diferença não-significativa
(F=3,517; p=0,1635). Entretanto, presume-se que a variação
observada não tenha ocorrido aleatoriamente, posto que coincidiu com a redução do volume dos corpos d’água nessa época. Supõe-se que a diminuição no número de espécies de aves
possa estar relacionada a dois fatores distintos: as espécies residentes deslocaram-se para ambientes palustres maiores e,
portanto, mais estáveis; as migratórias seguiram suas rotas de
deslocamento anual, que coincidem com as condições locais
desfavoráveis (Tabela 1).

Cristina Vargas
Cademartori
Marcos
Machado

Rev. bras.
Zoociências
Juiz de Fora
V. 4 Nº 1
Jun/2002
p. 31-43

37
A fauna de
vertebrados
de um
banhado
costeiro
em área
periurbana
no sul
do Brasil

Figura 2. Número de espécies de aves e mamíferos observados sazonalmente
na área de estudo (Viamão, RS), de fevereiro de 1996 a março de 1997: A banhado do Condomínio Residencial Jardim Fraga, B – propriedades próximas (banhado e campos inundáveis).

Rev. bras.
Zoociências
Juiz de Fora
V. 4 Nº 1
Jun/2002
p. 31-43

38
Observaram-se variações na freqüência relativa das espécies de aves ao longo das estações (Figura 3). No outono e
no inverno, Gallinula chloropus (L.,1758) apresentou a mais
alta freqüência, sendo esta significativamente maior do que
Podilymbus podiceps (L., 1758) (t=4,218; p<0,01), Podiceps
major (Boddaert, 1783) (t=4,218; p<0,01), Egretta thula (Molina,
1782) (t=5,777; p< 0,001) e Egretta alba (L., 1758) (t =5,637; p
< 0,001). Esses picos de abundância podem ser explicados pela
OUTONO
Outono

0,45

INVERNO
inverno
0,45

0,4

0,4

0,35

0,35

0,3

0,3

0,25

0,25

fr

0,2

filhote

0,15

0,2

jovem
adulto

0,1

filhote

0,15
0,1

0,05

jovem
adulto

0,05
G. chloropus

V. chilensis

E. alba

spp.

VERÃO

PRIMAVERA

Primavera

verão

0,45

0,45
0,4

0,4

0,35

0,35

0,3

0,3

0,25

0,25

fr

0,2

filhote

0,15

jovem

0,1

adulto

0,2
filhote

0,15

jovem

0,1

adulto

0,05

0,05

Figura 3. Freqüência relativa das espécies de aves de maior ocorrência no
banhado do Condomínio Residencial Jardim Fraga, Viamão, RS, nas diferentes
estações do ano - fevereiro de 1996 a março de 1997.

G. chloropus

V. chilensis

E. alba

E. thula

P. major

G. chloropus

V. chilensis

E. alba

E. thula

P. major

P.podiceps

J.jacana

spp.

P.podiceps

0

0

J.jacana

fr

E. thula

J.jacana

G. chloropus

V. chilensis

E. alba

E. thula

P. major

P.podiceps

J.jacana

spp.

P. major

0

0

P.podiceps

fr

Cristina Vargas
Cademartori
Marcos
Machado

spp.

Rev. bras.
Zoociências
Juiz de Fora
V. 4 Nº 1
Jun/2002
p. 31-43

39
A fauna de
vertebrados
de um
banhado
costeiro
em área
periurbana
no sul
do Brasil

Rev. bras.
Zoociências
Juiz de Fora
V. 4 Nº 1
Jun/2002
p. 31-43

40

descrição de BELTON (1994) e SICK (1997) acerca dos movimentos migratórios dessa espécie, que apesar de ser encontrada durante todo o ano no estado, apresenta um influxo no inverno de indivíduos vindos do sul.
Na primavera e no verão, Vanellus chilensis (Gmelin,
1782) foi a espécie mais freqüente, diferindo significativamente de P. podiceps (t=4,362; p<0,01), P. major (t=4,362; p<0,01),
E. thula (t=5,921; p< 0,001) e E. alba (t =5,781; p < 0,001). Conforme BELTON (1994), V. chilensis tende a formar bandos depois da nidificação (inverno e primavera), o que explica os
picos de primavera e verão, observados na área de estudo (Figura 3).
Jacana jacana (L., 1758) se manteve sempre como a segunda espécie mais freqüente ao longo de todo o ano (Figura
3), apresentando diferença significativa em relação a P.
podiceps (t=3,899; p<0,05), P. major (t=3,899; p<0,05), E. thula
(t=5,458; p< 0,001) e E. alba (t =5,318; p < 0,001). BELTON
(1994) caracteriza essa espécie como abundante na maior parte
das áreas baixas do estado, o que corrobora os resultados obtidos.
Observou-se, ao longo de todas as estações, a ocorrência
de jovens e filhotes para a maioria das espécies mais freqüentes (Tabela 1). Por exemplo, V. chilensis apresentou indivíduos juvenis ou ovos no outono, no inverno e na primavera. Este dado
contraria o registro de DUNNING & BELTON (1993), que restringem a nidificação à primavera, mas é confirmado por BELTON
(1994), que amplia o período para o inverno e primavera.
As observações referentes à existência de ninhos com
ovos, filhotes e jovens das espécies J. jacana, P. major e P.
podiceps (Tabela 1) são confirmadas por BELTON (1994).
Myocastor coypus (Molina, 1782), embora presente ao longo de todas as estações do ano, teve sua freqüência reduzida na
primavera de 1996 e no verão de 1997 (Tabela 1). Tal redução
está, provavelmente, associada ao deslocamento para ambientes palustres mais estáveis. Esse roedor, que possui comprimento
médio total de 86,23 cm e peso médio de 5 kg, ocupa corpos
d’água permanentes com vegetação aquática suculenta, da qual
se alimenta (REDFORD & EISENBERG, 1992). Observou-se a
ocorrência de 5 adultos e 20 filhotes em uma única amostragem
no mês de fevereiro de 1996. Essa observação corrobora os da-
dos de REDFORD & EISENBERG (1992), que apontam que o nascimento dos filhotes acontece na primavera e no verão.
Outras espécies, tais como, Dendrocygna viduata (L.,
1758) e Plegadis chihi (Vieillot, 1817), embora menos freqüentes, apresentaram picos na primavera e no verão (Tabela 1).
Essas espécies estão associadas não somente a banhados e
lagoas rasas, mas também à rizicultura (ROSÁRIO, 1996). Observaram-se, em propriedades próximas, extensas áreas de
cultivo de arroz. Os picos mencionados coincidem com os estágios intermediário e final do cultivo dessa gramínea. Presume-se, então, que uma alta disponibilidade de alimento favoreça maiores concentrações dessas espécies na área, nessa
época do ano. Esses resultados coincidem com as observações realizadas por CHEANEY & JENNINGS (1975), que indicam grandes danos à lavoura causados por aves. Especificamente com relação à P. chihi, BELTON (1994) acrescenta que
na primavera e no verão, os indivíduos se espalham, talvez
para nidificar, indo para açudes e áreas pantanosas menores.
Os banhados da planície costeira do Rio Grande do Sul
encontram-se alterados devido a impactos antrópicos; exemplos disso são as modificações causadas por drenagens,
loteamentos e urbanização não planejada cada vez mais freqüentes. ROSÁRIO (1996) salienta a influência da poluição
doméstica, que aumenta a quantidade de matéria orgânica,
diminui a quantidade de oxigênio na água e, conseqüentemente, reduz as populações de peixes e interfere direta ou indiretamente em toda a cadeia trófica. A eliminação da vegetação
marginal constitui-se em fator igualmente importante, reduzindo drasticamente a oferta de locais adequados à nidificação e
refúgio de aves e mamíferos aquáticos, postura e refúgio de
anfíbios e répteis. Nota-se também a ampliação de locais destinados à pastagem, o que restringe as áreas de campos
inundáveis, sazonalmente ocupados pela fauna associada.
Os pequenos ambientes palustres do complexo lagunarlacustre da região costeira do Rio Grande do Sul constituemse em ecossistemas que podem ser compreendidos a partir de
modelos metapopulacionais (BEGON et al., 1996). Segundo
HARTL & CLARK (1989), uma população subdividida geograficamente fica sujeita à ação da deriva genética, o que resulta
em divergência genotípica entre subpopulações com pequeno

Cristina Vargas
Cademartori
Marcos
Machado

Rev. bras.
Zoociências
Juiz de Fora
V. 4 Nº 1
Jun/2002
p. 31-43

41
A fauna de
vertebrados
de um
banhado
costeiro
em área
periurbana
no sul
do Brasil

tamanho efetivo e que pode levar à especiação ou, mais provavelmente, gerar processos de extinções locais. Estas hipóteses acerca dos processos geradores dos padrões de dinâmica
e de genética populacionais carecem de investigação científica nos inúmeros e pequenos corpos d’água que compõem a
planície costeira sul-riograndense. Por outro lado, a migração
atua como uma potente força que se opõe à deriva genética,
compensando seus efeitos. Assim, considera-se fundamental a
preservação desses corpos palustres com menor volume d’água,
posto que desempenham importante papel na manutenção da
diversidade genética, contrapondo-se aos processos
estocásticos, os quais, potencializados pela degradação, intensificam a perda de biodiversidade.

AGRADECIMENTOS
À Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), pelo auxílio
financeiro à execução do projeto e empréstimo do material
utilizado durante as atividades de campo. À Cíntia Santos
Lautert, pelo auxílio nas atividades de campo e na tabulação
dos dados. À Carla Suertegaray Fontana e a Marcos Di
Bernardo, pela indicação dos nomes dos autores que descreveram algumas das espécies estudadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Rev. bras.
Zoociências
Juiz de Fora
V. 4 Nº 1
Jun/2002
p. 31-43

42

BARROSO, L.V. & M.C. BERNARDES. 1995. Um patrimônio
natural ameaçado. Ciência Hoje. 19(110): 70-74.
BEGON, M.; M. MORTIMER & D.J. THOMPSON. 1996.
Population Ecology: a unified study of animals and plants.
Oxford, Blackwell Science. 247p.
BELTON, W. 1994. Aves do Rio Grande do Sul: distribuição e
biologia. São Leopoldo, UNISINOS. 584p.
BUCKUP, P.A. & R.E. REIS. 1985. Conheça os nossos peixes I.
Natureza em Revista. 10: 22-29.
CHEANEY, R.L. & P.R. JENNINGS. 1975. Problemas nas lavouras de arroz na América Latina. Porto Alegre, Instituto
Rio Grandense do Arroz, 59p.
DUNNING, J.S. & W. BELTON. 1993. Aves silvestres do Rio
Grande do Sul. Porto Alegre, FZBRS, 174p.
ESTEVES, F.A. 1995. Lagoas costeiras de Macaé. Ciência Hoje.
19 (110): 75-77.
HARTL, D.L. & A.G. CLARK. 1989. Principles of population
genetics. Sunderland, Sinauer Associates, 682p.
IBGE. 1959. Enciclopédia dos municípios brasileiros. Rio de
Janeiro, IBGE, 411p.
IRGANG, B.E. & C.V.S. GASTAL JR. 1996. Macrófitas aquáticas da planície costeira do RS. Porto Alegre, UFRGS, 290p.
MALABARBA, L.R. & E.A. ISAIA. 1992. The fresh water fish fauna
of the Rio Tramandaí drainage, Rio Grande do Sul, Brazil,
with a discussion of its historical origin. Comunicações do
Museu de Ciências da PUCRS. 5(12): 197-223.
NAROSKY, T. & D. YZURIETA. 1987. Guia para la identificacion
de las aves de Argentina y Uruguay. Buenos Aires,
Vazquez Mazzini, 344p.
REDFORD, K.H. & J.F. EISENBERG. 1992. Mammals of the
Neotropics: the southern cone. Chicago, University of Chicago. 430p.
ROSÁRIO, L.A. 1996. As aves em Santa Catarina: distribuição
geográfica e meio ambiente. Florianópolis, FATMA. 326p.
SICK, H. 1997. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro, Nova
Fronteira, 862p.
SIEGEL, S. 1975. Estatística não-paramétrica (para as ciências do comportamento). São Paulo, McGraw-Hill, 350p.
SILVA, F. & C.E. CAYE. 1992. Lista de aves: Rio Grande do Sul.
Porto Alegre, PUCRS, 26p.
VIEIRA, E.F. & S.S. RANGEL. 1988. Planície Costeira do RS:
geografia física, vegetação e dinâmica sócio-demográfica.
Porto Alegre, Sagra, 256p.

Cristina Vargas
Cademartori
Marcos
Machado

Recebido: 16/02/01
Aceito: 25/01/02

Rev. bras.
Zoociências
Juiz de Fora
V. 4 Nº 1
Jun/2002
p. 31-43

43

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Estrutura populacional de Lychnophora pinaster Mart. em um trecho de Campo Ru...
Estrutura populacional de Lychnophora pinaster Mart. em um trecho de Campo Ru...Estrutura populacional de Lychnophora pinaster Mart. em um trecho de Campo Ru...
Estrutura populacional de Lychnophora pinaster Mart. em um trecho de Campo Ru...Écio Diniz
 
Registro de ocorrência de duas espécies de potamotrigonídeos na região do alt...
Registro de ocorrência de duas espécies de potamotrigonídeos na região do alt...Registro de ocorrência de duas espécies de potamotrigonídeos na região do alt...
Registro de ocorrência de duas espécies de potamotrigonídeos na região do alt...pryloock
 
Aspectos biogeográficos no Arquipélago de Santa Catarina
Aspectos biogeográficos no Arquipélago de Santa CatarinaAspectos biogeográficos no Arquipélago de Santa Catarina
Aspectos biogeográficos no Arquipélago de Santa CatarinaAvistarBrasil
 
Interferência do pinus nos campos de cima da serra
Interferência do pinus nos campos de cima da serraInterferência do pinus nos campos de cima da serra
Interferência do pinus nos campos de cima da serraAlexandre Panerai
 
Diversidade de abelhas (hymenoptera apidae) em área de amta atlantica (piraí)
Diversidade de abelhas (hymenoptera  apidae) em área de amta atlantica (piraí)Diversidade de abelhas (hymenoptera  apidae) em área de amta atlantica (piraí)
Diversidade de abelhas (hymenoptera apidae) em área de amta atlantica (piraí)Label-ha
 
A malacofauna terrestre do distrito de Vai Volta
A malacofauna terrestre do distrito de Vai VoltaA malacofauna terrestre do distrito de Vai Volta
A malacofauna terrestre do distrito de Vai VoltaAmanda Oliveira
 
Produção, acúmulo e decomposição da serapilheira em uma restinga da ilha do m...
Produção, acúmulo e decomposição da serapilheira em uma restinga da ilha do m...Produção, acúmulo e decomposição da serapilheira em uma restinga da ilha do m...
Produção, acúmulo e decomposição da serapilheira em uma restinga da ilha do m...Vinícius Corrêa
 
Diversidade de formigas epigeicas trabalho
Diversidade de formigas epigeicas trabalhoDiversidade de formigas epigeicas trabalho
Diversidade de formigas epigeicas trabalhoMaira F Silva F
 
Biomas e sucessão
Biomas e sucessãoBiomas e sucessão
Biomas e sucessãoEdu Rabelo
 
O risco da insegurança alimentar: os vinhos do Vale do Juruá
O risco da insegurança alimentar: os vinhos do Vale do JuruáO risco da insegurança alimentar: os vinhos do Vale do Juruá
O risco da insegurança alimentar: os vinhos do Vale do JuruáAugusto Rocha
 
Composição florística da vegetação de restinga da apa rio capivara
Composição florística da vegetação de restinga da apa rio capivaraComposição florística da vegetação de restinga da apa rio capivara
Composição florística da vegetação de restinga da apa rio capivaraParanapiacaba
 
Biodiversidade de Baetidae (Insecta: Ephemeroptera) no Parque Estadual do Rio...
Biodiversidade de Baetidae (Insecta: Ephemeroptera) no Parque Estadual do Rio...Biodiversidade de Baetidae (Insecta: Ephemeroptera) no Parque Estadual do Rio...
Biodiversidade de Baetidae (Insecta: Ephemeroptera) no Parque Estadual do Rio...Elidiomar R Da-Silva
 

Mais procurados (20)

Estrutura populacional de Lychnophora pinaster Mart. em um trecho de Campo Ru...
Estrutura populacional de Lychnophora pinaster Mart. em um trecho de Campo Ru...Estrutura populacional de Lychnophora pinaster Mart. em um trecho de Campo Ru...
Estrutura populacional de Lychnophora pinaster Mart. em um trecho de Campo Ru...
 
Registro de ocorrência de duas espécies de potamotrigonídeos na região do alt...
Registro de ocorrência de duas espécies de potamotrigonídeos na região do alt...Registro de ocorrência de duas espécies de potamotrigonídeos na região do alt...
Registro de ocorrência de duas espécies de potamotrigonídeos na região do alt...
 
Aspectos biogeográficos no Arquipélago de Santa Catarina
Aspectos biogeográficos no Arquipélago de Santa CatarinaAspectos biogeográficos no Arquipélago de Santa Catarina
Aspectos biogeográficos no Arquipélago de Santa Catarina
 
Interferência do pinus nos campos de cima da serra
Interferência do pinus nos campos de cima da serraInterferência do pinus nos campos de cima da serra
Interferência do pinus nos campos de cima da serra
 
Diversidade de abelhas (hymenoptera apidae) em área de amta atlantica (piraí)
Diversidade de abelhas (hymenoptera  apidae) em área de amta atlantica (piraí)Diversidade de abelhas (hymenoptera  apidae) em área de amta atlantica (piraí)
Diversidade de abelhas (hymenoptera apidae) em área de amta atlantica (piraí)
 
Artigo bioterra v21_n1_04
Artigo bioterra v21_n1_04Artigo bioterra v21_n1_04
Artigo bioterra v21_n1_04
 
Diversidade da familia coleoptera
Diversidade da familia coleopteraDiversidade da familia coleoptera
Diversidade da familia coleoptera
 
112 1269543456 resumo
112 1269543456 resumo112 1269543456 resumo
112 1269543456 resumo
 
Artigo bioterra v16_n2_05
Artigo bioterra v16_n2_05Artigo bioterra v16_n2_05
Artigo bioterra v16_n2_05
 
Artigo bioterra v16_n2_08
Artigo bioterra v16_n2_08Artigo bioterra v16_n2_08
Artigo bioterra v16_n2_08
 
A malacofauna terrestre do distrito de Vai Volta
A malacofauna terrestre do distrito de Vai VoltaA malacofauna terrestre do distrito de Vai Volta
A malacofauna terrestre do distrito de Vai Volta
 
Produção, acúmulo e decomposição da serapilheira em uma restinga da ilha do m...
Produção, acúmulo e decomposição da serapilheira em uma restinga da ilha do m...Produção, acúmulo e decomposição da serapilheira em uma restinga da ilha do m...
Produção, acúmulo e decomposição da serapilheira em uma restinga da ilha do m...
 
Artigo bioterra v20_n2_01
Artigo bioterra v20_n2_01Artigo bioterra v20_n2_01
Artigo bioterra v20_n2_01
 
Projeto i. rachovii (met. cientifica)
Projeto i. rachovii (met. cientifica)Projeto i. rachovii (met. cientifica)
Projeto i. rachovii (met. cientifica)
 
Diversidade de formigas epigeicas trabalho
Diversidade de formigas epigeicas trabalhoDiversidade de formigas epigeicas trabalho
Diversidade de formigas epigeicas trabalho
 
Cinzas
CinzasCinzas
Cinzas
 
Biomas e sucessão
Biomas e sucessãoBiomas e sucessão
Biomas e sucessão
 
O risco da insegurança alimentar: os vinhos do Vale do Juruá
O risco da insegurança alimentar: os vinhos do Vale do JuruáO risco da insegurança alimentar: os vinhos do Vale do Juruá
O risco da insegurança alimentar: os vinhos do Vale do Juruá
 
Composição florística da vegetação de restinga da apa rio capivara
Composição florística da vegetação de restinga da apa rio capivaraComposição florística da vegetação de restinga da apa rio capivara
Composição florística da vegetação de restinga da apa rio capivara
 
Biodiversidade de Baetidae (Insecta: Ephemeroptera) no Parque Estadual do Rio...
Biodiversidade de Baetidae (Insecta: Ephemeroptera) no Parque Estadual do Rio...Biodiversidade de Baetidae (Insecta: Ephemeroptera) no Parque Estadual do Rio...
Biodiversidade de Baetidae (Insecta: Ephemeroptera) no Parque Estadual do Rio...
 

Semelhante a Fauna de vertebrados em banhado costeiro

Conhecimento ecológico local de pescadores da Baía Babitonga, 2006 (PEIXES).pdf
Conhecimento ecológico local de pescadores da Baía Babitonga, 2006 (PEIXES).pdfConhecimento ecológico local de pescadores da Baía Babitonga, 2006 (PEIXES).pdf
Conhecimento ecológico local de pescadores da Baía Babitonga, 2006 (PEIXES).pdfDautodaSilveira
 
Itapua floristica restinga_artigo
Itapua floristica restinga_artigoItapua floristica restinga_artigo
Itapua floristica restinga_artigoavisaassociacao
 
Itapua avifauna frugívora_artigo
Itapua avifauna frugívora_artigoItapua avifauna frugívora_artigo
Itapua avifauna frugívora_artigoavisaassociacao
 
Mnhnl 0001464-mb-doc-web
Mnhnl 0001464-mb-doc-webMnhnl 0001464-mb-doc-web
Mnhnl 0001464-mb-doc-webLuciana Costa
 
2008 quelônios delta_jacui_port
2008 quelônios delta_jacui_port2008 quelônios delta_jacui_port
2008 quelônios delta_jacui_portProjeto Chelonia
 
Comunidades de abelhas e recursos florais em área de clima temperado no sul d...
Comunidades de abelhas e recursos florais em área de clima temperado no sul d...Comunidades de abelhas e recursos florais em área de clima temperado no sul d...
Comunidades de abelhas e recursos florais em área de clima temperado no sul d...Label-ha
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...Universidade Federal de Sergipe - UFS
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...Universidade Federal de Sergipe - UFS
 
biodiversidade (1).pdf
biodiversidade (1).pdfbiodiversidade (1).pdf
biodiversidade (1).pdfPabloFirmino2
 
A conservação do cerrado com imagens
A conservação do cerrado com imagensA conservação do cerrado com imagens
A conservação do cerrado com imagensUelson E E
 

Semelhante a Fauna de vertebrados em banhado costeiro (18)

Estudo levantamento-fauna-respectivos-metodos
Estudo levantamento-fauna-respectivos-metodosEstudo levantamento-fauna-respectivos-metodos
Estudo levantamento-fauna-respectivos-metodos
 
Ecoavis
EcoavisEcoavis
Ecoavis
 
Artigo bioterra v1_n1_2019_04
Artigo bioterra v1_n1_2019_04Artigo bioterra v1_n1_2019_04
Artigo bioterra v1_n1_2019_04
 
Conhecimento ecológico local de pescadores da Baía Babitonga, 2006 (PEIXES).pdf
Conhecimento ecológico local de pescadores da Baía Babitonga, 2006 (PEIXES).pdfConhecimento ecológico local de pescadores da Baía Babitonga, 2006 (PEIXES).pdf
Conhecimento ecológico local de pescadores da Baía Babitonga, 2006 (PEIXES).pdf
 
Biogeografia
BiogeografiaBiogeografia
Biogeografia
 
Itapua floristica restinga_artigo
Itapua floristica restinga_artigoItapua floristica restinga_artigo
Itapua floristica restinga_artigo
 
Itapua avifauna frugívora_artigo
Itapua avifauna frugívora_artigoItapua avifauna frugívora_artigo
Itapua avifauna frugívora_artigo
 
Mnhnl 0001464-mb-doc-web
Mnhnl 0001464-mb-doc-webMnhnl 0001464-mb-doc-web
Mnhnl 0001464-mb-doc-web
 
2008 quelônios delta_jacui_port
2008 quelônios delta_jacui_port2008 quelônios delta_jacui_port
2008 quelônios delta_jacui_port
 
Livro 387
Livro 387Livro 387
Livro 387
 
Itapua abelhas artigo
Itapua abelhas artigoItapua abelhas artigo
Itapua abelhas artigo
 
Conservacao-de-mamiferos-do-brasil
Conservacao-de-mamiferos-do-brasilConservacao-de-mamiferos-do-brasil
Conservacao-de-mamiferos-do-brasil
 
Comunidades de abelhas e recursos florais em área de clima temperado no sul d...
Comunidades de abelhas e recursos florais em área de clima temperado no sul d...Comunidades de abelhas e recursos florais em área de clima temperado no sul d...
Comunidades de abelhas e recursos florais em área de clima temperado no sul d...
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
 
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
 
biodiversidade (1).pdf
biodiversidade (1).pdfbiodiversidade (1).pdf
biodiversidade (1).pdf
 
A conservação do cerrado com imagens
A conservação do cerrado com imagensA conservação do cerrado com imagens
A conservação do cerrado com imagens
 
5 mamiferos
5 mamiferos5 mamiferos
5 mamiferos
 

Último

[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptxLinoReisLino
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxSlide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxssuserf54fa01
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Mary Alvarenga
 
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxAULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxLaurindo6
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADOcarolinacespedes23
 
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila RibeiroLivro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila RibeiroMarcele Ravasio
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasCassio Meira Jr.
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptMaiteFerreira4
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumAugusto Costa
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfAdrianaCunha84
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfManuais Formação
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.MrPitobaldo
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.silves15
 
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptxthaisamaral9365923
 

Último (20)

[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
[Bloco 7] Recomposição das Aprendizagens.pptx
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxSlide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
Grupo Tribalhista - Música Velha Infância (cruzadinha e caça palavras)
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptxAULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
AULA SOBRE AMERICA LATINA E ANGLO SAXONICA.pptx
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
 
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADOactivIDADES CUENTO  lobo esta  CUENTO CUARTO GRADO
activIDADES CUENTO lobo esta CUENTO CUARTO GRADO
 
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila RibeiroLivro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
 
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e EspecíficasHabilidades Motoras Básicas e Específicas
Habilidades Motoras Básicas e Específicas
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
 
Em tempo de Quaresma .
Em tempo de Quaresma                            .Em tempo de Quaresma                            .
Em tempo de Quaresma .
 
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdfUFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
UFCD_10392_Intervenção em populações de risco_índice .pdf
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
 
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
 
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
 

Fauna de vertebrados em banhado costeiro

  • 1. ISSN 1517-6770 A fauna de vertebrados de um banhado costeiro em área periurbana no sul do Brasil Dimitri Ramos Alves, José Luis Luque, Aline Rodrigues Paraguassú, Daniela dos Santos Jorge e Ruth Alves Viñas Cristina Vargas Cademartori1 Marcos Machado2 THE VERTEBRATE FAUNA OF A COASTAL MARSHLAND IN A PERIURBAN AREA IN SOUTH BRAZIL ABSTRACT: Marshlands are preferential reproduction places and refuge for many species of animals and plants. The marshes of the coastal plains of Rio Grande do Sul State, Brazil, have been modified by agricultural activities and increasing urbanization. The ecological importance of a private marshland situated in Viamão City (30°05’S, 50°47’W), Rio Grande do Sul State, to local fauna, was evaluated to guide the owners in the preservation of the ecosystem. Monthly, we did samples of vertebrate species (a total of 45) to estimate their numbers and their seasonal fluctuations in the area. There were significant differences in the frequencies of some abundant species that were related to their feeding, reproduction or displacement habths. Macrophytes and grasses offer good places to nest and protection of Gallinula chloropus (Linnaeus,1758), Vanellus chilensis (Gmelin, 1782), Jacana jacana (Linnaeus,1758), Podiceps major (Boddaert,1783), Podilymbus podiceps (Linnaeus,1758) (Aves) and Myocastor coypus (Molina, 1782) (Mammalia). The preservation of the studied marshland in a periurban area is important to maintain the local and migratory fauna. Key Words: Marshland, vertebrates, threatened ecosystem, seasonal fluctuations. Curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário La Salle. Av. Victor Barreto 2288, Canoas, RS. titina@via-rs.net 2 ULBRA, Departamento de Biologia, Rua Miguel Tostes 101, prédio I, sala 123, 92010-240, Canoas, RS. machadomarcos@hotmail.com 1 INTRODUÇÃO Rev. bras. Zoociências Juiz de Fora V. 4 Nº 1 Jun/2002 31-43 p. 19-30 31
  • 2. A fauna de vertebrados de um banhado costeiro em área periurbana no sul do Brasil Rev. bras. Zoociências Juiz de Fora V. 4 Nº 1 Jun/2002 p. 31-43 32 Os ecossistemas lacustres constituem 15% da zona litorânea dos continentes e estão entre os mais produtivos da biosfera (BARROSO & BERNARDES, 1995). O litoral da região sulbrasileira é privilegiado pela presença de muitas e importantes lagunas e lagoas como a dos Patos, a Mirim e a Mangueira, localizadas no Estado do Rio Grande do Sul, ultrapassando 14600 km2 de área (VIEIRA & RANGEL, 1988) e constituindo-se no maior ecossistema lacustre do planeta. Quando se considera que apenas 3,7% de toda a água da Terra são constituídos de água doce, e que desse total somente 0,01% corresponde à água armazenada nos ecossistemas aquáticos continentais como lagos, lagoas, lagunas e rios, fica evidente o reconhecimento do papel desses ecossistemas para a preservação de dois dos principais recursos considerados estratégicos à humanidade neste século: elevada biodiversidade e água doce (ESTEVES, 1995). Associado a essas grandes formações lacustres existe um número significativo de corpos d’água de menor volume (pequenas lagoas, banhados e campos inundáveis), que justamente por essa característica, estão mais sujeitos a alterações ambientais cíclicas ou irruptivas. Somam-se a essas, de causa natural, aquelas resultantes de ação antrópica. Os banhados são ambientes naturais de grande importância ecológica, visto que se configuram em excelentes criadouros naturais e abrigo seguro para muitas espécies vegetais e animais. Conforme ROSÁRIO (1996), desempenham papel fundamental na conservação da avifauna, que está associada ao meio aquático e palustre. No período reprodutivo, muitas espécies procuram esses ambientes para construírem seus ninhos, onde também buscam alimento e proteção. Uma das principais características desses ambientes é a elevada produtividade, que pode ser traduzida na grande produção de biomassa vegetal (macrófitas e algas unicelulares) e animal (moluscos, crustáceos e peixes). Muito provavelmente, este foi um fator decisivo para a fixação dos primeiros aglomerados humanos nas suas proximidades (ESTEVES, 1995). Este trabalho teve por objetivos conhecer a fauna de vertebrados de um banhado em área periurbana (Condomínio Residencial Jardim Fraga, Viamão, RS), bem como determinar as flutuações sazonais das espécies mais freqüentes.
  • 3. MATERIAL E MÉTODOS Cristina Vargas Cademartori Marcos Machado Área de Estudo O trabalho foi realizado junto ao banhado do Condomínio Residencial Jardim Fraga e áreas próximas, pertencentes à bacia hidrográfica do sistema formado pelos rios Caí-SinosGravataí (VIEIRA & RANGEL, 1988), no município de Viamão 30°05’S, 50°47’W - (IBGE, 1959), Rio Grande do Sul. As áreas amostradas, referentes ao banhado do condomínio e propriedades adjacentes, compreendem, respectivamente, cerca de 160 km 2 e 250 km2. Segundo VIEIRA & RANGEL (1988), os banhados formam um ecossistema no qual se distinguem vários habitats e subabitats: pântanos permanentemente alagados, áreas sazonalmente alagadas com predominância de vegetação juncácea, gramíneas e ciperáceas, e áreas fortemente úmidas na estação chuvosa. A área de estudo enquadra-se na descrição dos autores, constatando-se que a vegetação dominante é formada principalmente por juncos, gramíneas e macrófitas, sendo Scirpus sp., Cyperus sp. e Eichhornia sp., os gêneros mais abundantes (IRGANG & GASTAL, 1996). Os campos inundáveis também ocupam as planícies aluviais do sistema lagunar-lacustre, canais naturais, margens de arroios e cursos interiores de rios (VIEIRA & RANGEL, 1988). Em áreas contíguas àquela estudada, foram encontrados campos inundáveis, os quais apresentaram duas expressões fisionômicas sazonais: um habitat gramíneo-ciperáceo nativo nos períodos de menor precipitação pluviométrica e um subabitat aquático decorrente das inundações de inverno. As variações de temperatura e pluviosidade são apresentadas na Figura 1. Rev. bras. Zoociências Juiz de Fora V. 4 Nº 1 Jun/2002 p. 31-43 33
  • 4. A fauna de vertebrados de um banhado costeiro em área periurbana no sul do Brasil Figura 1. Variações na temperatura média e na precipitação durante os anos de 1996 e 1997 em Porto Alegre (estação meteorológica mais próxima da área de estudo). Coleta de Dados Rev. bras. Zoociências Juiz de Fora V. 4 Nº 1 Jun/2002 p. 31-43 34 As atividades de campo foram realizadas ao longo de um ano (fevereiro de 1996 a março de 1997). Efetuaram-se contagens mensais, diretas e diurnas, da avifauna associada ao banhado, com o auxílio de binóculo e guias de identificação de campo (DUNNING & BELTON, 1993; NAROSKY & YZURIETA, 1987; ROSÁRIO, 1996; SILVA & CAYE, 1992); os resultados foram obtidos sempre pelo mesmo observador. A partir de julho de 1996, estenderam-se as contagens para ecossistemas contíguos (banhado e campo inundável) em propriedades próximas. Paralelamente, realizaram-se coletas manuais de anfíbios ao anoitecer, os quais foram levados ao laboratório e identificados. Os répteis e mamíferos associados foram observados durante o dia e identificados. No processo de amostragem da ictiofauna de fundo, utilizou-se uma rede de espera cuja malha possuía 40mm de entrenós. Nas margens, em meio à vegetação submersa e emergente, empregou-se uma rede manual (puçá), medindo 80cm x 50cm, com malha de 0,2cm de entrenós. Concomitantemente, acompanharam-se as atividades de pesca (com caniço) realizadas por moradores do condomínio. O material coletado foi identificado (BUCKUP & REIS, 1985; MALABARBA &
  • 5. ISAIA, 1992), fixado em formol 10% e depositado na coleção científica do Museu de Ciências Naturais da Universidade Luterana do Brasil. Cristina Vargas Cademartori Marcos Machado Análise Estatística A análise quantitativa dos dados restringiu-se àquelas espécies mais abundantes observadas no ecossistema. Para determinar a significância de diferenças entre o número de espécies observadas por estação utilizou-se o teste ANOVA: um critério, empregando-se o programa estatístico GRAPHPAD Instat Versão 3.0. O mesmo procedimento foi adotado para avaliar a existência de significância entre a freqüência relativa da espécie mais abundante e as demais, por estação, complementando-se a análise com aplicação do teste de Bonferroni. Vale ressaltar, ainda, que os dados originais foram logaritmizados, garantindo, assim, o atendimento de uma exigência fundamental do teste ANOVA, isto é, populações com desvios padrões idênticos. As espécies menos abundantes e as áreas contíguas próximas ao condomínio forneceram informações de caráter qualitativo. RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante o estudo foram observadas 42 espécies de vertebrados (Tabela 1), sendo 34 pertencentes à Classe Aves, uma pertencente à Classe Mammalia, uma pertencente à Classe Reptilia - Trachemys dorbignyi (Duméril & Bilron, 1835), uma pertencente à Classe Amphibia - Leptodactylus ocellatus (Linnaeus, 1758) e 5 pertencentes à Classe Osteichthyes -Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824), Hoplias malabaricus (Bloch, 1794), Gymnogeophagus rhabdotus (Hensel, 1870), Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824) e Astyanax eigenmanniorum (Cope, 1894). Foram registradas 2 espécies de aves exclusivas ao banhado do condomínio: Sterna sp. e Colaptes campestris. Também foram encontradas 7 espécies de aves restritas às áreas contíguas: Accipter striatus (Vieillot, 1807) Rostrhamus sociabilis, Amazonetta brasiliensis (Gmelin, Rev. bras. Zoociências Juiz de Fora V. 4 Nº 1 Jun/2002 p. 31-43 35
  • 6. A fauna de vertebrados de um banhado costeiro em área periurbana no sul do Brasil Classe/Família AVES Accipitridae Tabela 1. Número de indivíduos de espécies de aves e mamíferos observados sazonalmente no banhado do Condomínio Residencial Jardim Fraga (área 1), e em áreas contíguas de banhado e campos inundáveis (área 2), em propriedades próximas, Viamão, RS. Estações Outono/96 Espécie Inverno/96 Primavera/96 Verão/97 Migração Inverno/96 Primavera/96 Verão/97 Área 2 Área 1 Rs 1 0 0 0 1 0 0 M# 0 0 0 0 0 1 0 Rs 0 0 0 0 1 0 0 Ceryle torquata (Linnaeus, 1766) Chloroceryle amazona (Latham, 1790) Rs 1 2 1 0 0 1 0 Rs 1 1 1 0 1 0 0 Dendrocygna viduata (Linnaeus,1766) Amazonetta brasiliensis (Gmelin, 1789) Rs 0 0 18 7 7 3 2 Rs 0 0 0 0 3 0 0 Egretta alba (Linnaeus, 1758) Egretta thula (Molina, 1782) Nycticorax nycticorax Syrigma sibilatrix (Temminck, 1824) Rs 6 7 2 4 45 8 0 Rs 9 5 3 1 16 11 1 Rs Rs 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1 1 Charadriidae Vanellus chilensis (Gmelin, 1782) Rs 19 e 7j 30 e n 53 e 3f e 6j 56 17 35 23 Ciconiidae Ciconia maguari (Gmelin, 1789) Rs 0 0 0 1 4 0 0 Cuculidae Guira guira (Gmelin, 1788) Rs 0 0 2 0 0 3 0 Furnariidae Furnarius rufus (Gmelin, 1788) Rs 0 2 3 0 0 1 0 Hirundinidae Notiochelidon cyanoleuca (Vieillot, 1817) Rs 0 7 9 0 0 3 0 Icteridae Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789) Rs 3 7 0 0 0 4 0 Jacanidae Jacana jacana (Linnaeus, 1758) Rs 19 e 11j 29 e 6f 36 e 3j 28 e 3f e 16j 23 21 14 e 4j Laridae Larus dominicanus (Lichtenstein, 1823) Sterna sp. (Linnaeus, 1758) Rs 1 0 0 0 6 0 0 ? 1 3 4 1 0 0 0 Phalacrocoracidae Phalacrocorax brasilianus Rs 0 1 0 0 13 13 3 Picidae Colaptes campestris (Vieillot, 1818) Rs 0 2 0 0 0 0 0 Podicipedidae Podilymbus podiceps (Linnaeus, 1758) Podiceps major (Boddaert, 1783) Rs Rs 3 12 10 e 2j 6 e 3j 8 e 1f 2 e 1j 0 14 e 1f 11 19 0 4 Rallidae Gallinula chloropus (Linnaeus, 1758) Rs 36 e 2f e 12j 48 e 2f 22 30 e 1f e 6j 11 e 1f e 1j 9 1 Recurvirostridae Himantopus himantopus (Linnaeus, 1788) Rs 0 0 0 0 0 0 3 Threskiornithidae Plegadis chihi (Viellot, 1817) Platalea ajaja (Linnaeus, 1758 Rs Rs 9 0 1 0 4 0 32 0 0 1 1 0 0 0 Troglodytidae Troglodytes aedon (Vieillot, 1808) Machetornis rixosus (Vieillot, 1819) Rs Rs 3 0 7 4 0 1 0 2 5 0 0 6 0 0 Tyrannidae Satrapa icterophrys (Vieillot, 1818) Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) Tyrannus savana (Linnaeus,1766) Xolmis irupero ( Viellot, 1817) Rs# Rs Mv/Rs Rs 0 3 0 0 2 7 0 0 0 3 4 0 0 5 0 0 1 3 0 0 0 9 1 2 0 2 0 0 - 21 13 3 3 2 1 0 Alcedinidae Anatidae Ardeidae Buteo magnirostris (Gmelin,1788) Accipiter striatus (Vieillot,1807) Rostrhamus sociabilis (Viellot,1817) (Humboldt, 1805) MAMMALIA Capromyidae Rev. bras. Zoociências Juiz de Fora V. 4 Nº 1 Jun/2002 p. 31-43 36 Myocastor coypus (Molina ,1782) 6 e 3f 6 e 3 f * j=jovem; f=filhote; n=ninho com ovos **Rs=residente; Mv=Migrante de verão; ?=não identificada; # = assume-se migração ou residência, sem confirmação (Belton, 1994)
  • 7. 1789), Nycticorax nycticorax, (L.,1758) Himantopus mexicanus (L., 1758), Platalea ajaja L., 1758 e Xolmis irupero (Vieillot, 1823). Tal diferença na composição específica das áreas pode ser atribuída aos hábitos preferenciais das várias espécies, coincidentes com as características próprias de uma ou de outra área e, sobretudo, ao menor impacto antrópico e à maior heterogeneidade de habitats que caracterizam as áreas contíguas, permitindo a coexistência de um maior número de espécies. O número de espécies de aves e mamíferos variou sazonalmente durante o período de estudo no banhado do condomínio e nas áreas próximas (Figura 2), revelando assim o mesmo padrão de flutuação. Tal comportamento permite afirmar que os corpos d’água em questão estão submetidos aos mesmos agentes reguladores de causa abiótica (por exemplo, regimes de chuvas e de evaporação), os quais determinam respostas idênticas quanto à variação no número de espécies, apesar das diferenças em relação à composição faunística.. Não obstante a redução no número de espécies entre a primavera e o verão, constatou-se uma diferença não-significativa (F=3,517; p=0,1635). Entretanto, presume-se que a variação observada não tenha ocorrido aleatoriamente, posto que coincidiu com a redução do volume dos corpos d’água nessa época. Supõe-se que a diminuição no número de espécies de aves possa estar relacionada a dois fatores distintos: as espécies residentes deslocaram-se para ambientes palustres maiores e, portanto, mais estáveis; as migratórias seguiram suas rotas de deslocamento anual, que coincidem com as condições locais desfavoráveis (Tabela 1). Cristina Vargas Cademartori Marcos Machado Rev. bras. Zoociências Juiz de Fora V. 4 Nº 1 Jun/2002 p. 31-43 37
  • 8. A fauna de vertebrados de um banhado costeiro em área periurbana no sul do Brasil Figura 2. Número de espécies de aves e mamíferos observados sazonalmente na área de estudo (Viamão, RS), de fevereiro de 1996 a março de 1997: A banhado do Condomínio Residencial Jardim Fraga, B – propriedades próximas (banhado e campos inundáveis). Rev. bras. Zoociências Juiz de Fora V. 4 Nº 1 Jun/2002 p. 31-43 38
  • 9. Observaram-se variações na freqüência relativa das espécies de aves ao longo das estações (Figura 3). No outono e no inverno, Gallinula chloropus (L.,1758) apresentou a mais alta freqüência, sendo esta significativamente maior do que Podilymbus podiceps (L., 1758) (t=4,218; p<0,01), Podiceps major (Boddaert, 1783) (t=4,218; p<0,01), Egretta thula (Molina, 1782) (t=5,777; p< 0,001) e Egretta alba (L., 1758) (t =5,637; p < 0,001). Esses picos de abundância podem ser explicados pela OUTONO Outono 0,45 INVERNO inverno 0,45 0,4 0,4 0,35 0,35 0,3 0,3 0,25 0,25 fr 0,2 filhote 0,15 0,2 jovem adulto 0,1 filhote 0,15 0,1 0,05 jovem adulto 0,05 G. chloropus V. chilensis E. alba spp. VERÃO PRIMAVERA Primavera verão 0,45 0,45 0,4 0,4 0,35 0,35 0,3 0,3 0,25 0,25 fr 0,2 filhote 0,15 jovem 0,1 adulto 0,2 filhote 0,15 jovem 0,1 adulto 0,05 0,05 Figura 3. Freqüência relativa das espécies de aves de maior ocorrência no banhado do Condomínio Residencial Jardim Fraga, Viamão, RS, nas diferentes estações do ano - fevereiro de 1996 a março de 1997. G. chloropus V. chilensis E. alba E. thula P. major G. chloropus V. chilensis E. alba E. thula P. major P.podiceps J.jacana spp. P.podiceps 0 0 J.jacana fr E. thula J.jacana G. chloropus V. chilensis E. alba E. thula P. major P.podiceps J.jacana spp. P. major 0 0 P.podiceps fr Cristina Vargas Cademartori Marcos Machado spp. Rev. bras. Zoociências Juiz de Fora V. 4 Nº 1 Jun/2002 p. 31-43 39
  • 10. A fauna de vertebrados de um banhado costeiro em área periurbana no sul do Brasil Rev. bras. Zoociências Juiz de Fora V. 4 Nº 1 Jun/2002 p. 31-43 40 descrição de BELTON (1994) e SICK (1997) acerca dos movimentos migratórios dessa espécie, que apesar de ser encontrada durante todo o ano no estado, apresenta um influxo no inverno de indivíduos vindos do sul. Na primavera e no verão, Vanellus chilensis (Gmelin, 1782) foi a espécie mais freqüente, diferindo significativamente de P. podiceps (t=4,362; p<0,01), P. major (t=4,362; p<0,01), E. thula (t=5,921; p< 0,001) e E. alba (t =5,781; p < 0,001). Conforme BELTON (1994), V. chilensis tende a formar bandos depois da nidificação (inverno e primavera), o que explica os picos de primavera e verão, observados na área de estudo (Figura 3). Jacana jacana (L., 1758) se manteve sempre como a segunda espécie mais freqüente ao longo de todo o ano (Figura 3), apresentando diferença significativa em relação a P. podiceps (t=3,899; p<0,05), P. major (t=3,899; p<0,05), E. thula (t=5,458; p< 0,001) e E. alba (t =5,318; p < 0,001). BELTON (1994) caracteriza essa espécie como abundante na maior parte das áreas baixas do estado, o que corrobora os resultados obtidos. Observou-se, ao longo de todas as estações, a ocorrência de jovens e filhotes para a maioria das espécies mais freqüentes (Tabela 1). Por exemplo, V. chilensis apresentou indivíduos juvenis ou ovos no outono, no inverno e na primavera. Este dado contraria o registro de DUNNING & BELTON (1993), que restringem a nidificação à primavera, mas é confirmado por BELTON (1994), que amplia o período para o inverno e primavera. As observações referentes à existência de ninhos com ovos, filhotes e jovens das espécies J. jacana, P. major e P. podiceps (Tabela 1) são confirmadas por BELTON (1994). Myocastor coypus (Molina, 1782), embora presente ao longo de todas as estações do ano, teve sua freqüência reduzida na primavera de 1996 e no verão de 1997 (Tabela 1). Tal redução está, provavelmente, associada ao deslocamento para ambientes palustres mais estáveis. Esse roedor, que possui comprimento médio total de 86,23 cm e peso médio de 5 kg, ocupa corpos d’água permanentes com vegetação aquática suculenta, da qual se alimenta (REDFORD & EISENBERG, 1992). Observou-se a ocorrência de 5 adultos e 20 filhotes em uma única amostragem no mês de fevereiro de 1996. Essa observação corrobora os da-
  • 11. dos de REDFORD & EISENBERG (1992), que apontam que o nascimento dos filhotes acontece na primavera e no verão. Outras espécies, tais como, Dendrocygna viduata (L., 1758) e Plegadis chihi (Vieillot, 1817), embora menos freqüentes, apresentaram picos na primavera e no verão (Tabela 1). Essas espécies estão associadas não somente a banhados e lagoas rasas, mas também à rizicultura (ROSÁRIO, 1996). Observaram-se, em propriedades próximas, extensas áreas de cultivo de arroz. Os picos mencionados coincidem com os estágios intermediário e final do cultivo dessa gramínea. Presume-se, então, que uma alta disponibilidade de alimento favoreça maiores concentrações dessas espécies na área, nessa época do ano. Esses resultados coincidem com as observações realizadas por CHEANEY & JENNINGS (1975), que indicam grandes danos à lavoura causados por aves. Especificamente com relação à P. chihi, BELTON (1994) acrescenta que na primavera e no verão, os indivíduos se espalham, talvez para nidificar, indo para açudes e áreas pantanosas menores. Os banhados da planície costeira do Rio Grande do Sul encontram-se alterados devido a impactos antrópicos; exemplos disso são as modificações causadas por drenagens, loteamentos e urbanização não planejada cada vez mais freqüentes. ROSÁRIO (1996) salienta a influência da poluição doméstica, que aumenta a quantidade de matéria orgânica, diminui a quantidade de oxigênio na água e, conseqüentemente, reduz as populações de peixes e interfere direta ou indiretamente em toda a cadeia trófica. A eliminação da vegetação marginal constitui-se em fator igualmente importante, reduzindo drasticamente a oferta de locais adequados à nidificação e refúgio de aves e mamíferos aquáticos, postura e refúgio de anfíbios e répteis. Nota-se também a ampliação de locais destinados à pastagem, o que restringe as áreas de campos inundáveis, sazonalmente ocupados pela fauna associada. Os pequenos ambientes palustres do complexo lagunarlacustre da região costeira do Rio Grande do Sul constituemse em ecossistemas que podem ser compreendidos a partir de modelos metapopulacionais (BEGON et al., 1996). Segundo HARTL & CLARK (1989), uma população subdividida geograficamente fica sujeita à ação da deriva genética, o que resulta em divergência genotípica entre subpopulações com pequeno Cristina Vargas Cademartori Marcos Machado Rev. bras. Zoociências Juiz de Fora V. 4 Nº 1 Jun/2002 p. 31-43 41
  • 12. A fauna de vertebrados de um banhado costeiro em área periurbana no sul do Brasil tamanho efetivo e que pode levar à especiação ou, mais provavelmente, gerar processos de extinções locais. Estas hipóteses acerca dos processos geradores dos padrões de dinâmica e de genética populacionais carecem de investigação científica nos inúmeros e pequenos corpos d’água que compõem a planície costeira sul-riograndense. Por outro lado, a migração atua como uma potente força que se opõe à deriva genética, compensando seus efeitos. Assim, considera-se fundamental a preservação desses corpos palustres com menor volume d’água, posto que desempenham importante papel na manutenção da diversidade genética, contrapondo-se aos processos estocásticos, os quais, potencializados pela degradação, intensificam a perda de biodiversidade. AGRADECIMENTOS À Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), pelo auxílio financeiro à execução do projeto e empréstimo do material utilizado durante as atividades de campo. À Cíntia Santos Lautert, pelo auxílio nas atividades de campo e na tabulação dos dados. À Carla Suertegaray Fontana e a Marcos Di Bernardo, pela indicação dos nomes dos autores que descreveram algumas das espécies estudadas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Rev. bras. Zoociências Juiz de Fora V. 4 Nº 1 Jun/2002 p. 31-43 42 BARROSO, L.V. & M.C. BERNARDES. 1995. Um patrimônio natural ameaçado. Ciência Hoje. 19(110): 70-74. BEGON, M.; M. MORTIMER & D.J. THOMPSON. 1996. Population Ecology: a unified study of animals and plants. Oxford, Blackwell Science. 247p. BELTON, W. 1994. Aves do Rio Grande do Sul: distribuição e biologia. São Leopoldo, UNISINOS. 584p. BUCKUP, P.A. & R.E. REIS. 1985. Conheça os nossos peixes I. Natureza em Revista. 10: 22-29. CHEANEY, R.L. & P.R. JENNINGS. 1975. Problemas nas lavouras de arroz na América Latina. Porto Alegre, Instituto Rio Grandense do Arroz, 59p.
  • 13. DUNNING, J.S. & W. BELTON. 1993. Aves silvestres do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, FZBRS, 174p. ESTEVES, F.A. 1995. Lagoas costeiras de Macaé. Ciência Hoje. 19 (110): 75-77. HARTL, D.L. & A.G. CLARK. 1989. Principles of population genetics. Sunderland, Sinauer Associates, 682p. IBGE. 1959. Enciclopédia dos municípios brasileiros. Rio de Janeiro, IBGE, 411p. IRGANG, B.E. & C.V.S. GASTAL JR. 1996. Macrófitas aquáticas da planície costeira do RS. Porto Alegre, UFRGS, 290p. MALABARBA, L.R. & E.A. ISAIA. 1992. The fresh water fish fauna of the Rio Tramandaí drainage, Rio Grande do Sul, Brazil, with a discussion of its historical origin. Comunicações do Museu de Ciências da PUCRS. 5(12): 197-223. NAROSKY, T. & D. YZURIETA. 1987. Guia para la identificacion de las aves de Argentina y Uruguay. Buenos Aires, Vazquez Mazzini, 344p. REDFORD, K.H. & J.F. EISENBERG. 1992. Mammals of the Neotropics: the southern cone. Chicago, University of Chicago. 430p. ROSÁRIO, L.A. 1996. As aves em Santa Catarina: distribuição geográfica e meio ambiente. Florianópolis, FATMA. 326p. SICK, H. 1997. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 862p. SIEGEL, S. 1975. Estatística não-paramétrica (para as ciências do comportamento). São Paulo, McGraw-Hill, 350p. SILVA, F. & C.E. CAYE. 1992. Lista de aves: Rio Grande do Sul. Porto Alegre, PUCRS, 26p. VIEIRA, E.F. & S.S. RANGEL. 1988. Planície Costeira do RS: geografia física, vegetação e dinâmica sócio-demográfica. Porto Alegre, Sagra, 256p. Cristina Vargas Cademartori Marcos Machado Recebido: 16/02/01 Aceito: 25/01/02 Rev. bras. Zoociências Juiz de Fora V. 4 Nº 1 Jun/2002 p. 31-43 43