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O comentário como exercício de divulgação em
Linguística
Ana Sousa Martins
anissimamente@gmail.com
CLUNL
TEMAS – alguns exemplos
“deverão ser” /”deverão estar” -> vagueza; ambiguidade (o modal
dever tem valor de possibilidade ou necessidade?)
«Chirac terá pensado em substituir Villepin» -> evidencialidade
indireta inferencial; especulação (futuro composto + verbo psicológico)
“os acordos celebrados entre os municípios e o Ministério da Saúde
não significam que os serviços de urgência não fechem.” -> baixa
informatividade (negação na subordinante e negação na subordinada)
TEMAS – alguns exemplos
«Caixa cobra juros a clientes por atrasos da sua responsabilidade»->
Ambiguidade estrutural
«Um estudo […] sugere que demonstrar interesse por uma pessoa
pode torná-la mais atraente aos olhos desta.» - > coesão pronominal
deficitária
“engenharia financeira” (termo de especialidade) vs. “engenharias
financeiras” (= manigâncias políticas; engenhar = urdir/tramar)
Regularidades macroestruturais
• ME I: Assunção explícita de dados do
conhecimento comum/tábua de valores
• É comum…/Toda a gente sabe…/Muitos consideram…/ É
sabido…/ Ninguém…
• Pergunta + resposta consensual
• ME II: Explicação do fenómeno linguístico
implicado -> Teorização
• ME III: Transição (+ ato diretivo) -> introdução
do discurso-alvo + circunstancialização
Porém…/E no entanto…/Agora…
Veja-se…/Olhemos…/Consideremos…
• Macrossequências
explicativas
Regularidades macroestruturais
• ME IV: Argumento = dados apurados da
análise do fragmento-alvo (ancorada em ME
II)
• ME V: Conclusão = identificação da
disfunção comunicativa resultante em:
• Vagueza/complexidade obscura
• Contradição/inconsistência
• Evidencialidade indireta com lacunas
inferenciais
• Baixa informatividade/falta de pertinência
• Macrossequências
argumentativas
De que falamos quando falamos de rigor linguístico
Ana Sousa Martins, Semanário Sol, 6 de junho de 2009
[ME I (S1)] Recentemente, uma acesa edição do Jornal Nacional de sexta-feira,
da TVI, motivou um relatório da Unidade de Análise da ERC, no qual aquela
entidade, na leitura do crítico de televisão Eduardo Cintra Torres (Público,
30/05/09), não apontou falhas de rigor factual, tão-só falhas de rigor linguístico.
(S2) O relatório vem ajudar a refazer a ideia feita, vigente na comunidade
jornalística, de que uma coisa é a correcção gramatical, que se deve observar
para não se mostrar ignorância, outra coisa (aquilo que verdadeiramente
importa) é a exactidão no reportar dos factos.
[ME II (S3)] Esta separação, porém, não existe.
(S4) Um exemplo. Um título: «Vargas Llosa não pretendia "insultar" Hugo
Chávez» (Público, 29/05/09). [ME III (S5)] O uso do imperfeito e da
negação faz derivar imediatamente aquilo que em pragmática linguística se
chama uma implicatura: Llosa disse algo que alguém entendeu ser um
insulto. (S6) Confrontem-se as seguintes sequências: Llosa não pretendia
insultar, mas insultou; Llosa não pretendia insultar e não insultou. [ME IV
(S7)] Vê-se bem que a segunda sequência não tem qualquer pertinência
informativa (e sem facto não há notícia) e que, portanto, nunca seria esse o
caminho interpretativo que o leitor ia seguir.
(S8) Então, o que devia/podia estar escrito era «Vargas Llosa: "Não
pretendo insultar Hugo Chávez"». (S9) A declaração foi feita durante a
hora e meia em que Llosa esteve retido no aeroporto de Caracas, para
as autoridades o deixarem bem avisado de que não podia fazer
declarações políticas, sob pena de ser expulso do país. (S10) O escritor
ia participar num fórum sobre liberdade e democracia. [ME V (S11)] Se
se tivesse recorrido ao discurso directo (e, portanto, ao presente do
indicativo), o título encaminharia rigorosamente para o cerne da
notícia: o país de Chávez é, para Llosa, um sítio onde estar calado é já
falar errado.

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16 wgt as-martins

  • 1. FCSH - 16 WGT :: 16/12/2016 O comentário como exercício de divulgação em Linguística Ana Sousa Martins anissimamente@gmail.com CLUNL
  • 2. TEMAS – alguns exemplos “deverão ser” /”deverão estar” -> vagueza; ambiguidade (o modal dever tem valor de possibilidade ou necessidade?) «Chirac terá pensado em substituir Villepin» -> evidencialidade indireta inferencial; especulação (futuro composto + verbo psicológico) “os acordos celebrados entre os municípios e o Ministério da Saúde não significam que os serviços de urgência não fechem.” -> baixa informatividade (negação na subordinante e negação na subordinada)
  • 3. TEMAS – alguns exemplos «Caixa cobra juros a clientes por atrasos da sua responsabilidade»-> Ambiguidade estrutural «Um estudo […] sugere que demonstrar interesse por uma pessoa pode torná-la mais atraente aos olhos desta.» - > coesão pronominal deficitária “engenharia financeira” (termo de especialidade) vs. “engenharias financeiras” (= manigâncias políticas; engenhar = urdir/tramar)
  • 4. Regularidades macroestruturais • ME I: Assunção explícita de dados do conhecimento comum/tábua de valores • É comum…/Toda a gente sabe…/Muitos consideram…/ É sabido…/ Ninguém… • Pergunta + resposta consensual • ME II: Explicação do fenómeno linguístico implicado -> Teorização • ME III: Transição (+ ato diretivo) -> introdução do discurso-alvo + circunstancialização Porém…/E no entanto…/Agora… Veja-se…/Olhemos…/Consideremos… • Macrossequências explicativas
  • 5. Regularidades macroestruturais • ME IV: Argumento = dados apurados da análise do fragmento-alvo (ancorada em ME II) • ME V: Conclusão = identificação da disfunção comunicativa resultante em: • Vagueza/complexidade obscura • Contradição/inconsistência • Evidencialidade indireta com lacunas inferenciais • Baixa informatividade/falta de pertinência • Macrossequências argumentativas
  • 6. De que falamos quando falamos de rigor linguístico Ana Sousa Martins, Semanário Sol, 6 de junho de 2009 [ME I (S1)] Recentemente, uma acesa edição do Jornal Nacional de sexta-feira, da TVI, motivou um relatório da Unidade de Análise da ERC, no qual aquela entidade, na leitura do crítico de televisão Eduardo Cintra Torres (Público, 30/05/09), não apontou falhas de rigor factual, tão-só falhas de rigor linguístico. (S2) O relatório vem ajudar a refazer a ideia feita, vigente na comunidade jornalística, de que uma coisa é a correcção gramatical, que se deve observar para não se mostrar ignorância, outra coisa (aquilo que verdadeiramente importa) é a exactidão no reportar dos factos. [ME II (S3)] Esta separação, porém, não existe.
  • 7. (S4) Um exemplo. Um título: «Vargas Llosa não pretendia "insultar" Hugo Chávez» (Público, 29/05/09). [ME III (S5)] O uso do imperfeito e da negação faz derivar imediatamente aquilo que em pragmática linguística se chama uma implicatura: Llosa disse algo que alguém entendeu ser um insulto. (S6) Confrontem-se as seguintes sequências: Llosa não pretendia insultar, mas insultou; Llosa não pretendia insultar e não insultou. [ME IV (S7)] Vê-se bem que a segunda sequência não tem qualquer pertinência informativa (e sem facto não há notícia) e que, portanto, nunca seria esse o caminho interpretativo que o leitor ia seguir.
  • 8. (S8) Então, o que devia/podia estar escrito era «Vargas Llosa: "Não pretendo insultar Hugo Chávez"». (S9) A declaração foi feita durante a hora e meia em que Llosa esteve retido no aeroporto de Caracas, para as autoridades o deixarem bem avisado de que não podia fazer declarações políticas, sob pena de ser expulso do país. (S10) O escritor ia participar num fórum sobre liberdade e democracia. [ME V (S11)] Se se tivesse recorrido ao discurso directo (e, portanto, ao presente do indicativo), o título encaminharia rigorosamente para o cerne da notícia: o país de Chávez é, para Llosa, um sítio onde estar calado é já falar errado.