Série de reportagens sobre impactos dos investimentos no Polo Naval de Rio Grande. De Sebastião Ribeiro.

1. | 24 | Economia > ZERO HORA > DOMINGO | 6 | ABRIL | 2008
FOTOS JEFFERSON BOTEGA
Como
se fosse
na China,
imenso
canteiro de
obras para
abrigar
Dique Seco
prenuncia
futuro para
pólo naval
gaúcho
A redenção de
Rio Grande escassa na região. Eles têm transformado a era sinal de que estavam precisando de gente ganhou mais 60 mil habitantes entre 1970 e
SEBASTIÃO RIBEIRO vida na cidade. Até mesmo a do prefeito, Janir para limpar peixe, pregar caixas. A diferença 1990, cresceu em apenas 10 mil entre 1990
Branco (PMDB). Certa feita, entrou em uma é que era só se apresentar que tinha serviço. e 2000, cita o professor Marcelo Domin-
Da estrada que leva à praia do tradicional churrascaria local. Olhou para E hoje, para pegar nestas firmas (do pólo gues, superintendente de pesquisa da Fun-
Cassino, da área portuária, do uma mesa grande à direita, à espera de um naval), tem de ter curso – analisa nos seus dação Universidade de Rio Grande.
Centro ainda repleto de antigas casas aceno conhecido. Ninguém correspondeu. 63 anos, enquanto bate ponto no calçadão Aliados ao aumento de 95% no movimen-
coloniais, de onde (e quando) menos Virou-se para um grupo de mais de uma central – vendendo empadas e amendoim to do porto entre 2000 e 2007, os novos em-
se espera, a Petrobras 53 (P-53) se faz dezena de homens sentados à esquerda. De aquecidos em um velho forno em formato preendimentos surgem como a redenção de
vista, extravasando seu gigantismo. novo, nada. Somente depois de uma conver- de locomotiva forjado há 84 anos. um município que já se acostumava com a
sa com o gerente constatou que o problema O boom da indústria naval só não ani- própria pobreza. Desde 2005, o crescimento
A plataforma de petróleo construída não era sua popularidade. ma mais os rio-grandinos porque a cidade do emprego formal em Rio Grande supera a
em Rio Grande é tão presente como a – Eram todos clientes de fora que vieram sempre viveu entre altos e baixos, conforme média do Estado e de Pelotas, maior cidade
revolução pela qual passa o município. para cá trabalhar nas obras – revela. os ciclos econômicos. No século passado, da região, com cerca de 350 mil habitantes.
Figura típica de Rio Grande, Valdeci Be- foram o frigorífico Swift Armour, a indús- – É a retomada da função industrial do
mais antiga cidade zerra da Silva, o Torélio, observa a expansão tria pesqueira e a reforma do porto com porto, com a construção naval, que tem
gaúcha está em alvoroço da indústria naval em perspectiva histórica. instalação de indústrias de adubo e pro- potencial de agregar empresas sistemistas
desde a montagem da – Movimentação como a de agora, só vi no cessamento de soja que movimentaram o cinco vezes maior do que a indústria auto-
estrutura e das obras de tempo das grandes firmas de peixe (o auge município. Da segunda metade da década mobilística – compara Domingues.
instalação do Estaleiro foi entre as décadas de 50 e 60). Quando er- de 80 e o início da atual, Rio Grande viveu A montagem da P-53 tem prazo para ter-
Rio Grande, onde ope- guiam a bandeira vermelha numa taquara, no marasmo econômico. A população, que minar, em setembro. O avanço econômico
rários parecem formigas de Rio Grande, não. A Petrobras deve inves-
em meio ao mar de areia tir US$ 12,6 bilhões no mercado fornece-
sobre o qual as máquinas dor brasileiro até 2012. No final deste ano,
trabalham para dar forma ao Dique Seco Torélio, começa a ser produzido no local o casco da
– área montada para construir e reformar ambulante que P-55. De acordo com a estatal, “o impacto
plataformas da Petrobras. Os dois projetos vende quitutes econômico positivo sobre a cidade deverá
– o da P-53 iniciada em meados de 2005 e o aquecidos ser maior no futuro” do que agora. No auge
do dique, no final 2006 – somam um inves- do funcionamento do Dique Seco, cerca de
timento de US$ 1,5 bilhão, e significam para em um forno 10 mil empregos diretos podem ser gerados.
Rio Grande abandonar a condição de cidade em forma de Em sua passagem pelo Estado, na quinta, o
portuária enredada na crise crônica da Me- locomotiva, só presidente Luiz Inácio Lula da Silva anun-
tade Sul, transformando-se em um pólo na- viu vigor igual ciou em Rio Grande que os negócios no pólo
val imprescindível para a Petrobras. durante o boom naval serão ampliados em R$ 3 bilhões, pela
Retrato da mudança, 4,3 mil funcionários da indústria instalação de uma fábrica de cascos – ele-
trabalham no estaleiro e na P-53. A estima- vando para mais de R$ 11 bilhões os investi-
tiva é que mais de 2,5 mil vieram de fora do
pesqueira, nos mentos. A revolução está recém começando.
município, contratados para preencher vagas anos 50 e 60
que demandavam qualificação profissional SEGUE >

2. Data Publicação : 06/04/2008
Título : A redenção de Rio Grande
Assunto :
Pólo Naval, Investimento, Construção, Plataforma, P-53, Petrobras