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Manuel Bomfim
TEXTO da Wikipédia, a enciclopédia livre.
Manuel José Bomfim (Aracaju, 8 de agosto de 1868 — Rio de Janeiro, 21 de abril de 1932) foi
um médico, psicólogo, pedagogista, sociólogo, historiador e intelectual brasileiro. Foi o nono
diretor-geral da Escola Normal do Distrito Federal (hoje Instituto Superior de Educação do Rio de
Janeiro).
Biografia
Nasceu em Aracaju no dia 8 de agosto de 1868, sendo seus pais Paulino José do Bomfim e Maria
Joaquina do Bomfim.
Realizou os preparatórios na capital sergipana, revelando, desde criança, grande talento. Estudou
na cidade natal até os 12 anos. Em 1886 ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia,
transferindo-se para a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1888, onde concluiu o curso
em 1890, com a tese Das Nephrites. Ainda estudante, militou no “Correio do Povo”, redigido
por Alcindo Guanabara.
Em 1891, foi nomeado médico da Polícia Militar do Rio de Janeiro. No ano seguinte, passou a
tenente-cirurgião da Brigada Policial, posto que ocupou até maio de 1894. Nesta época casou-se
com Natividade de Oliveira que foi a sua companheira por toda a vida. Tiveram dois filhos: Aníbal
e Maria. A filha faleceu em tenra idade provocando uma dor tão profunda em Bomfim que ele
abandonou a Medicina. Ingressou no magistério oito anos depois de formar-se, lecionando
Educação Moral e Cívica na Escola Normal do Rio de Janeiro, na qual assumiu a cátedra de
Pedagogia e Psicologia.
Em viagem a Paris, em 1902, mandado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, a fim de estudar os
estabelecimentos pedagógicos daquele continente, entre 1902 e 1903, também estudou
Psicologia na Sorbonne (França), com o propósito de especializar-se nessa disciplina para estar
em condições de melhor desempenhar as suas tarefas no “Pedagogium”. Bomfim estudou
com Georges Dumas e Alfred Binet, com quem planejou a instalação do primeiro Laboratório de
Psicologia Brasileiro, instalado em 1906 no Pedagogium, do qual foi diretor por quinze anos.
De volta ao Brasil,em 1905, foi diretor interino da Instrução Pública do Rio de Janeiro e em 1906
foi nomeado Diretor Geral da Instrução Pública do Distrito Federal.
Em 1907, foi eleito deputado estadual e como deputado defendeu importantes projetos no âmbito
da educação.
Sua extensa obra abrange várias áreas de conhecimento: escreveu sobre História do Brasil e da
América Latina, Sociologia, Medicina, Zoologia e Botânica, além de vários livros didáticos, dentre
os quais estão alguns de Língua Portuguesa, em co-autoria com Olavo Bilac. Escreveu ainda, na
área de Psicologia e Educação, Lições de Pedagogia (1915) e Noções de psychologia (1916),
utilizadas como suporte para as suas aulas na Escola Normal.
Em 22 de novembro de 1918, foi condecorado pelo rei da Bélgica com o oficialato da Ordem
Leopoldo.
Exerceu, durante muitos anos, notável atividade jornalística.
Na obra Pensar e Dizer: estudo do símbolo no pensamento e na linguagem (1923), Bomfim
demonstra domínio das mais importantes correntes de Psicologia de sua época.
Escreveu também O methodo dos testes (1926); Cultura do povo brasileiro (1932); Crítica à
Escola Activa, O fato psychico, As alucinações auditivas do perseguido e O respeito à criança.
Sua obra revela um pensamento original, não articulado às ideias dominantes em sua época e
sua interpretação do Brasil apóia-se na análise histórica da colonização, na exploração e na
espoliação das riquezas do país, analisando as conseqüências sobre as condições culturais do
povo.
Defende a expansão da educação pública como meio para a emancipação e para construção de
uma sociedade democrática.
Suas concepções de Psicologia - seu método e seu objeto - também são destoantes em relação a
seus contemporâneos. Considerava o fenômeno psicológico como eminentemente histórico-
social, constituído nas relações entre consciências, mediadas pela linguagem, esta entendida
como produto e meio da socialização.
Criticava a pesquisa de laboratório, em condições que considerava restritas e artificiais. Propôs
o método interpretativo para o estudo do psiquismo, baseado no estudo das múltiplas
manifestações humanas, historicamente situadas.
Bomfim antecipou algumas ideias posteriormente adotadas por Vigotski e Piaget, mas também
de Ernst Bloch e Antonio Gramsci em sua interpretação da sociedade.
Entretanto, Bomfim foi praticamente esquecido na historiografia brasileira, o que pode ser
parcialmente explicado pela contraposição de suas ideias àquele que era em seu tempo o
pensamento dominante.[1]
Polêmica com Sílvio Romero
Ambos sergipanos, Manuel Bomfim e Sílvio Romero envolveram-se em uma das mais
espetaculares polêmicas de sua época, chegando ao nível dos ataques pessoais.
O poderoso Sílvio Romero representava os intelectuais que consideravam o povo brasileiro como
infantil ou semibárbaro, defendendo o branqueamento da população como solução para o “defeito
de formação” étnica do brasileiro.
Ao contrário da maioria dos seus contemporâneos, Manuel Bomfim defendia a miscigenação que
ocorreu historicamente no Brasil, valorizando-a e negando a validade científica das teorias
racistas em voga. Via na educação o “remédio” para o atraso do Brasil, para a emancipação das
classes populares. Esse sentido libertário que ele atribuiu à educação é um dos princípios básicos
para a construção da cidadania.
Quando Manuel Bomfim lançou América Latina, Males de Origem (1905), Sílvio Romero já era um
intelectual importante, conhecido como o “rei da polêmica”, enquanto Bomfim era apenas um
novato audacioso . O livro foi a origem de uma áspera contenda entre os dois, pois ousava
desmontar boa parte das convicções defendidas por Romero, como a teoria do
embranquecimento da raça.
Em “O Rebelde Esquecido” (Topbooks, 2000), Ronaldo Conde Aguiar afirma que a guerra entre o
pomposo Romero e o reles "manuelzinho" rendeu vinte e cinco artigos (quatrocentas páginas), de
injúrias e ataques contundentes tendo a vítima revidado uma única vez.[2]
Referências
1. ↑ Foi redescoberto apenas em 1984, num ensaio de Darcy Ribeiro o classificando como o pensador "mais original
da América Latina": RIBEIRO, Darcy. Manoel Bomfim, antropólogo. Revista do Brasil, Rio de Janeiro: Secretaria
de Ciência e Cultura do Município do Rio de Janeiro, ano I, n. 2, 1984. pp. 48-54; Esse ensaio foi republicado
como parte de um livro do próprio Bonfim: Bonfim, Manuel (1993). A América Latina: males de origem. 3.ed.
Prefácios de Darcy Ribeiro e de Franklin de Oliveira. Rio de Janeiro: Topbooks.
2. ↑ «Revista Perfil - Sílvio "Romero vs. Manuel Bomfim - Um duelo de titãs"». Consultado em 2 de janeiro de 2008.
Arquivado do original em 17 de outubro de 2007
Manoel Bomfim : Nacionalista contra o racismo
Gilberto Maringoni – de São Paulo
Revista Desafios do Desenvolvimento, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada-
IPEA, 2011 . Ano 8 . Edição 66 - 27/07/2011
Original e antielitista, pensamento de intelectual sergipano sofreu pesados ataques há um século.
Hoje, sua obra apresenta-se como inovadora e premonitória
Há exatos 106 anos era publicado um livro que causaria polêmica entre as camadas letradas
do país. As críticas não poupariam nem mesmo seu autor. A obra chamava-se A América
Latina, males de origem e fora escrita pelo médico, psicólogo, historiador e pedagogo
sergipano, Manoel Bomfim (1868-1932). O volume era inovador por deixar de lado
determinismos étnicos, climáticos e geográficos e aprofundar-se na formação colonial para
explicar os problemas brasileiros. Defendia o investimento em educação como um dos pilares
para a construção de um país menos injusto.
Bomfim cometia uma heresia aos olhos das elites de então. Investia contra o consenso que
debitava nosso atraso à miscigenação de brancos com negros e índios. Suas palavras são
diretas:
“Vale discutir (...) a célebre teoria das raças inferiores. Que vem a ser esta teoria? Como
nasceu ela? A resposta a estas questões nos dirá que tal teoria não passa de um sofisma
abjeto do egoísmo humano, hipocritamente mascarado pela ciência barata, e covardemente
aplicado à exploração dos fracos pelos fortes”.
Mais adiante, sentencia:
“E o negro?... A este – pois que tem a pele preta e o cabelo encarapinhado – a ciência
sociológica dos descendentes dos negreiros condena mais furiosamente ainda. Raças
completamente inferiores e gravemente diversas – considera-as Oliveira Martins. ‘O
pensamento de chamar estas raças a uma civilização foi uma das nobres quimeras...’ Para o
escritor-estadista, só tem o negro um préstimo – trabalhar como besta para sustentar a
malandrice do branco”.
O alvo de Bomfim era o escritor e político português Joaquim Pedro de Oliveira Martins
(1845-1894). Segundo este, a presença do negro seria a causa da estagnação de vários
países.
INSENSATA SENSATEZ O autor não ficava apenas nisso. Voltava suas baterias contra
personagens do meio político que, quando na oposição, proferiam discursos e formulações
radicais. Uma vez no poder, a coisa mudava de figura:
"Pouco importa a luta, os conflitos levantes e revoluções que tenham trazido o indivíduo ao
poder. Uma vez ali, ´sentindo as responsabilidades do governo´, o verdadeiro homem se
revela; tudo parou, o revolucionário de ontem desaparece, as gentes ponderadas e graves
podem aproximar-se – ficarão encantadas de verificar que mundos de sensatez nele se
encerram ali; a vida vai continuar tal qual era; ´o período de agitação acabou, as
responsabilidades etc. impõem o dever de não se criarem dificuldades novas´. Quer dizer:
todo o esforço agora é para impedir que se dê execução às reformas em nome das quais se
fez a revolução, e para defender os interesses das classes conservadoras, a fim de acalmá-
las.”
O suposto equilíbrio dos governantes parecia irritá-lo mais do que tudo:
“Para justificar esse conservantismo inconsequente, faz-se apelo a todas as fórmulas de
senso comum, não o bom-senso que se inspira dia a dia nas necessidades reais. (...) Veja-se,
por exemplo, como repetem: ´É preciso cortar despesas...´ Por quê? Por que o bom
senso tradicional assim o diz. E julgam-se todos dispensados de estudar as coisas, para ver
que, por toda parte, tem sido preciso justamente aumentar as despesas públicas, máxime
nos países novos, onde as populações crescem mais rapidamente e onde está tudo por
fazer”.
POLÍTICA ORTODOXA O alvo imediato de Bomfim eram as políticas de austeridade
empreendidas pelo médico matogrossense Joaquim Murtinho, Ministro da Fazenda do governo
Campos Salles (1898-1902). Para fazer frente a uma séria crise nas contas nacionais,
provocada pela febre especulativa do encilhamento, no início do período republicano,
Murtinho adotou o que mais tarde seria classificada como política ortodoxa. Ao longo de
quatro anos, o governo restringiu meios de pagamento, hipotecou a receita da alfândega do
Rio de Janeiro em nome dos credores externos, aumentou impostos e cortou gastos públicos.
Tal orientação provocou uma crise econômica, mas valorizou a moeda nacional e regularizou
as relações do país com a banca internacional. Para as classes populares, a situação tornou-
se dramática, com alta do desemprego e elevação do custo de vida. O Ministro saneou as
contas públicas à custa de uma profunda recessão. Foi elogiado pelas elites e aclamado pela
imprensa da época por seu extremado bom senso.
Bomfim deplorava tais orientações. Para ele:
“O Brasil (...) se pode dizer que tem a especialidade dos estadistas sensatos. (...) Eis a
garantia que oferecem às classes conservadoras; e estas, ao verificarem o quanto o homem é
sensato, dão-lhe de pronto o seu apoio, porque têm certeza de que, apesar de todos os
programas revolucionários, não se introduzirá na prática nenhuma inovação perigosa, ou
perturbadora, ninguém irá contra os preceitos que o bom senso já consagrou”.
ATAQUES PESADOS Contemporâneo de Bomfim, Silvio Romero (1851-1914), um dos mais
importantes intelectuais brasileiros da época, republicano, abolicionista e também sergipano,
investiu pesadamente contra o livro. Em 25 artigos publicados em 1906 na imprensa carioca
e reunidos no livro A América latina – análise do livro de igual título do Dr. Manoel Bomfim, o
autor de Introdução à História da Literatura Brasileira (1883) tentou desqualificar a obra de
seu conterrâneo. Para ele, o livro “não passa de um acervo de erros, sofismas e contradições
palmares (...) e uma verdadeira comédia”. O foco eram as concepções sociais de Bomfim.
Segundo Romero, “nunca a doutrina da igualdade das raças teve um advogado tão
desastrado”. Mais adiante, sentenciava que A América Latina – males de origem era “um
reacionarismo negrista e caboclante contra as raças superiores”. Ele deplorava também a
defesa que Bomfim fazia do desenvolvimento da indústria e do comércio. Em suas linhas,
estes seriam “muito bons, mas, como força nacional e princípio de conservação, a agricultura
é superior”.
Sílvio Romero tentara, ainda antes da Abolição (1888), elaborar uma concepção sobre a
formação étnica do Brasil, dando-lhe ares de teoria. Era um defensor da imigração européia
como elemento decisivo para a constituição de uma “raça brasileira” com supremacia branca.
Manoel Bomfim decidiu não responder às provocações. É possível que a recusa tenha levado
seu livro a cair num injusto esquecimento, até ser recuperado por Darcy Ribeiro (1922-1997),
no início dos anos 1980. A reedição aconteceria apenas em 1993.
Parte do manto de silêncio colocado sobre o livro tem explicação. Aqueles eram os anos da
consolidação, a ferro e fogo, da república oligárquica que, enquanto empreendia uma radical
reforma urbana no Rio de Janeiro, buscava afastar os pobres e negros do campo de visão da
elite política e econômica da época, expulsando-a para os morros e subúrbios. Bomfim
tomava partido das classes populares.
LIVRO LUMINOSO Darcy Ribeiro era um entusiasta de América Latina, males de origem,
classificando-o de o ponto mais alto da consciência brasileira. “Para Manoel Bomfim”, dizia, “o
atraso, a pobreza e a ignorância das grandes massas latino-americanas eram de
responsabilidade das próprias classes dominantes, que lucravam com elas. É de pasmar que
este livro luminoso, não tenha sido visto e nem lido, senão para ser atacado torpemente por
Silvio Romero”.
Nas palavras do crítico literário Antonio Candido, o livro é “duro para os preconceitos de seu
tempo”. Segundo ele, a réplica de Romero é “uma obra prolixa e exibicionista, negando
qualquer valor ao adversário, hipertrofiando questões secundárias para fazer parada de
erudição e, no fundo, nada propondo de mais convincente”.
De certa maneira, Bomfim fez na sociologia o que Lima Barreto (1880-1922) empreendeu na
literatura: denunciar o racismo e o elitismo das camadas do topo da pirâmide social. As
ferramentas para se manter a ordem eram o cassetete e o bom senso. Sobre isso, sua pena
afiada mais uma vez se manifesta: “
Mas o que pode a verdade contra o bom-senso? Quando se estuda o caráter dos homens de
estado nas nações da América Latina, o que mais se impõe à atenção é a irrepreensível
sensatez de todos eles, a sensatez clássica e imponente - essa sensatez a que Anatole France
se refere quando diz ´ Todos que trouxeram ao mundo um pouco de bondade nova sofreram
o desprezo das gentes sensatas’”.
Apesar de cáustico, Manoel Bomfim não era um pessimista. Em O Brasil na América, lançado
em 1929, três anos antes de sua morte, ele aponta um caminho para o futuro:
“Aceitemos o destino em que nos formamos; tenhamos a hombridade de ser o que somos e
façamos o dever em esforços para que esse povo misturado venha a ser uma nação de
civilização realmente humana, aproveitando todas as possibilidades de espírito e de coração,
como as encontramos, na herança das raças donde viemos”.
PARA CONHECER MAIS
BOMFIM, Manoel, A América latina,
males de origem, Topbooks, Rio de
Janeiro, 4ª. Edição, 1993
AGUIAR, Ronaldo Conde, O rebelde
esquecido, vida e obra de Manoel
Bomfim, Topbooks, Rio de janeiro,
2000
BECHELLI, Ricardo Sequeira,
Nacionalismos antirracistas, LCTE
Editora, São Paulo, 2009

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  • 1. Manuel Bomfim TEXTO da Wikipédia, a enciclopédia livre. Manuel José Bomfim (Aracaju, 8 de agosto de 1868 — Rio de Janeiro, 21 de abril de 1932) foi um médico, psicólogo, pedagogista, sociólogo, historiador e intelectual brasileiro. Foi o nono diretor-geral da Escola Normal do Distrito Federal (hoje Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro). Biografia Nasceu em Aracaju no dia 8 de agosto de 1868, sendo seus pais Paulino José do Bomfim e Maria Joaquina do Bomfim. Realizou os preparatórios na capital sergipana, revelando, desde criança, grande talento. Estudou na cidade natal até os 12 anos. Em 1886 ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, transferindo-se para a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1888, onde concluiu o curso em 1890, com a tese Das Nephrites. Ainda estudante, militou no “Correio do Povo”, redigido por Alcindo Guanabara. Em 1891, foi nomeado médico da Polícia Militar do Rio de Janeiro. No ano seguinte, passou a tenente-cirurgião da Brigada Policial, posto que ocupou até maio de 1894. Nesta época casou-se com Natividade de Oliveira que foi a sua companheira por toda a vida. Tiveram dois filhos: Aníbal e Maria. A filha faleceu em tenra idade provocando uma dor tão profunda em Bomfim que ele abandonou a Medicina. Ingressou no magistério oito anos depois de formar-se, lecionando Educação Moral e Cívica na Escola Normal do Rio de Janeiro, na qual assumiu a cátedra de Pedagogia e Psicologia. Em viagem a Paris, em 1902, mandado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, a fim de estudar os estabelecimentos pedagógicos daquele continente, entre 1902 e 1903, também estudou Psicologia na Sorbonne (França), com o propósito de especializar-se nessa disciplina para estar em condições de melhor desempenhar as suas tarefas no “Pedagogium”. Bomfim estudou com Georges Dumas e Alfred Binet, com quem planejou a instalação do primeiro Laboratório de Psicologia Brasileiro, instalado em 1906 no Pedagogium, do qual foi diretor por quinze anos. De volta ao Brasil,em 1905, foi diretor interino da Instrução Pública do Rio de Janeiro e em 1906 foi nomeado Diretor Geral da Instrução Pública do Distrito Federal. Em 1907, foi eleito deputado estadual e como deputado defendeu importantes projetos no âmbito da educação. Sua extensa obra abrange várias áreas de conhecimento: escreveu sobre História do Brasil e da América Latina, Sociologia, Medicina, Zoologia e Botânica, além de vários livros didáticos, dentre os quais estão alguns de Língua Portuguesa, em co-autoria com Olavo Bilac. Escreveu ainda, na área de Psicologia e Educação, Lições de Pedagogia (1915) e Noções de psychologia (1916), utilizadas como suporte para as suas aulas na Escola Normal. Em 22 de novembro de 1918, foi condecorado pelo rei da Bélgica com o oficialato da Ordem Leopoldo. Exerceu, durante muitos anos, notável atividade jornalística. Na obra Pensar e Dizer: estudo do símbolo no pensamento e na linguagem (1923), Bomfim demonstra domínio das mais importantes correntes de Psicologia de sua época. Escreveu também O methodo dos testes (1926); Cultura do povo brasileiro (1932); Crítica à Escola Activa, O fato psychico, As alucinações auditivas do perseguido e O respeito à criança. Sua obra revela um pensamento original, não articulado às ideias dominantes em sua época e sua interpretação do Brasil apóia-se na análise histórica da colonização, na exploração e na espoliação das riquezas do país, analisando as conseqüências sobre as condições culturais do povo.
  • 2. Defende a expansão da educação pública como meio para a emancipação e para construção de uma sociedade democrática. Suas concepções de Psicologia - seu método e seu objeto - também são destoantes em relação a seus contemporâneos. Considerava o fenômeno psicológico como eminentemente histórico- social, constituído nas relações entre consciências, mediadas pela linguagem, esta entendida como produto e meio da socialização. Criticava a pesquisa de laboratório, em condições que considerava restritas e artificiais. Propôs o método interpretativo para o estudo do psiquismo, baseado no estudo das múltiplas manifestações humanas, historicamente situadas. Bomfim antecipou algumas ideias posteriormente adotadas por Vigotski e Piaget, mas também de Ernst Bloch e Antonio Gramsci em sua interpretação da sociedade. Entretanto, Bomfim foi praticamente esquecido na historiografia brasileira, o que pode ser parcialmente explicado pela contraposição de suas ideias àquele que era em seu tempo o pensamento dominante.[1] Polêmica com Sílvio Romero Ambos sergipanos, Manuel Bomfim e Sílvio Romero envolveram-se em uma das mais espetaculares polêmicas de sua época, chegando ao nível dos ataques pessoais. O poderoso Sílvio Romero representava os intelectuais que consideravam o povo brasileiro como infantil ou semibárbaro, defendendo o branqueamento da população como solução para o “defeito de formação” étnica do brasileiro. Ao contrário da maioria dos seus contemporâneos, Manuel Bomfim defendia a miscigenação que ocorreu historicamente no Brasil, valorizando-a e negando a validade científica das teorias racistas em voga. Via na educação o “remédio” para o atraso do Brasil, para a emancipação das classes populares. Esse sentido libertário que ele atribuiu à educação é um dos princípios básicos para a construção da cidadania. Quando Manuel Bomfim lançou América Latina, Males de Origem (1905), Sílvio Romero já era um intelectual importante, conhecido como o “rei da polêmica”, enquanto Bomfim era apenas um novato audacioso . O livro foi a origem de uma áspera contenda entre os dois, pois ousava desmontar boa parte das convicções defendidas por Romero, como a teoria do embranquecimento da raça. Em “O Rebelde Esquecido” (Topbooks, 2000), Ronaldo Conde Aguiar afirma que a guerra entre o pomposo Romero e o reles "manuelzinho" rendeu vinte e cinco artigos (quatrocentas páginas), de injúrias e ataques contundentes tendo a vítima revidado uma única vez.[2] Referências 1. ↑ Foi redescoberto apenas em 1984, num ensaio de Darcy Ribeiro o classificando como o pensador "mais original da América Latina": RIBEIRO, Darcy. Manoel Bomfim, antropólogo. Revista do Brasil, Rio de Janeiro: Secretaria de Ciência e Cultura do Município do Rio de Janeiro, ano I, n. 2, 1984. pp. 48-54; Esse ensaio foi republicado como parte de um livro do próprio Bonfim: Bonfim, Manuel (1993). A América Latina: males de origem. 3.ed. Prefácios de Darcy Ribeiro e de Franklin de Oliveira. Rio de Janeiro: Topbooks. 2. ↑ «Revista Perfil - Sílvio "Romero vs. Manuel Bomfim - Um duelo de titãs"». Consultado em 2 de janeiro de 2008. Arquivado do original em 17 de outubro de 2007
  • 3. Manoel Bomfim : Nacionalista contra o racismo Gilberto Maringoni – de São Paulo Revista Desafios do Desenvolvimento, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada- IPEA, 2011 . Ano 8 . Edição 66 - 27/07/2011 Original e antielitista, pensamento de intelectual sergipano sofreu pesados ataques há um século. Hoje, sua obra apresenta-se como inovadora e premonitória Há exatos 106 anos era publicado um livro que causaria polêmica entre as camadas letradas do país. As críticas não poupariam nem mesmo seu autor. A obra chamava-se A América Latina, males de origem e fora escrita pelo médico, psicólogo, historiador e pedagogo sergipano, Manoel Bomfim (1868-1932). O volume era inovador por deixar de lado determinismos étnicos, climáticos e geográficos e aprofundar-se na formação colonial para explicar os problemas brasileiros. Defendia o investimento em educação como um dos pilares para a construção de um país menos injusto. Bomfim cometia uma heresia aos olhos das elites de então. Investia contra o consenso que debitava nosso atraso à miscigenação de brancos com negros e índios. Suas palavras são diretas: “Vale discutir (...) a célebre teoria das raças inferiores. Que vem a ser esta teoria? Como nasceu ela? A resposta a estas questões nos dirá que tal teoria não passa de um sofisma abjeto do egoísmo humano, hipocritamente mascarado pela ciência barata, e covardemente aplicado à exploração dos fracos pelos fortes”. Mais adiante, sentencia: “E o negro?... A este – pois que tem a pele preta e o cabelo encarapinhado – a ciência sociológica dos descendentes dos negreiros condena mais furiosamente ainda. Raças completamente inferiores e gravemente diversas – considera-as Oliveira Martins. ‘O pensamento de chamar estas raças a uma civilização foi uma das nobres quimeras...’ Para o escritor-estadista, só tem o negro um préstimo – trabalhar como besta para sustentar a malandrice do branco”. O alvo de Bomfim era o escritor e político português Joaquim Pedro de Oliveira Martins (1845-1894). Segundo este, a presença do negro seria a causa da estagnação de vários países. INSENSATA SENSATEZ O autor não ficava apenas nisso. Voltava suas baterias contra personagens do meio político que, quando na oposição, proferiam discursos e formulações radicais. Uma vez no poder, a coisa mudava de figura: "Pouco importa a luta, os conflitos levantes e revoluções que tenham trazido o indivíduo ao poder. Uma vez ali, ´sentindo as responsabilidades do governo´, o verdadeiro homem se revela; tudo parou, o revolucionário de ontem desaparece, as gentes ponderadas e graves podem aproximar-se – ficarão encantadas de verificar que mundos de sensatez nele se encerram ali; a vida vai continuar tal qual era; ´o período de agitação acabou, as responsabilidades etc. impõem o dever de não se criarem dificuldades novas´. Quer dizer: todo o esforço agora é para impedir que se dê execução às reformas em nome das quais se fez a revolução, e para defender os interesses das classes conservadoras, a fim de acalmá-
  • 4. las.” O suposto equilíbrio dos governantes parecia irritá-lo mais do que tudo: “Para justificar esse conservantismo inconsequente, faz-se apelo a todas as fórmulas de senso comum, não o bom-senso que se inspira dia a dia nas necessidades reais. (...) Veja-se, por exemplo, como repetem: ´É preciso cortar despesas...´ Por quê? Por que o bom senso tradicional assim o diz. E julgam-se todos dispensados de estudar as coisas, para ver que, por toda parte, tem sido preciso justamente aumentar as despesas públicas, máxime nos países novos, onde as populações crescem mais rapidamente e onde está tudo por fazer”. POLÍTICA ORTODOXA O alvo imediato de Bomfim eram as políticas de austeridade empreendidas pelo médico matogrossense Joaquim Murtinho, Ministro da Fazenda do governo Campos Salles (1898-1902). Para fazer frente a uma séria crise nas contas nacionais, provocada pela febre especulativa do encilhamento, no início do período republicano, Murtinho adotou o que mais tarde seria classificada como política ortodoxa. Ao longo de quatro anos, o governo restringiu meios de pagamento, hipotecou a receita da alfândega do Rio de Janeiro em nome dos credores externos, aumentou impostos e cortou gastos públicos. Tal orientação provocou uma crise econômica, mas valorizou a moeda nacional e regularizou as relações do país com a banca internacional. Para as classes populares, a situação tornou- se dramática, com alta do desemprego e elevação do custo de vida. O Ministro saneou as contas públicas à custa de uma profunda recessão. Foi elogiado pelas elites e aclamado pela imprensa da época por seu extremado bom senso. Bomfim deplorava tais orientações. Para ele: “O Brasil (...) se pode dizer que tem a especialidade dos estadistas sensatos. (...) Eis a garantia que oferecem às classes conservadoras; e estas, ao verificarem o quanto o homem é sensato, dão-lhe de pronto o seu apoio, porque têm certeza de que, apesar de todos os programas revolucionários, não se introduzirá na prática nenhuma inovação perigosa, ou perturbadora, ninguém irá contra os preceitos que o bom senso já consagrou”. ATAQUES PESADOS Contemporâneo de Bomfim, Silvio Romero (1851-1914), um dos mais importantes intelectuais brasileiros da época, republicano, abolicionista e também sergipano, investiu pesadamente contra o livro. Em 25 artigos publicados em 1906 na imprensa carioca e reunidos no livro A América latina – análise do livro de igual título do Dr. Manoel Bomfim, o autor de Introdução à História da Literatura Brasileira (1883) tentou desqualificar a obra de seu conterrâneo. Para ele, o livro “não passa de um acervo de erros, sofismas e contradições palmares (...) e uma verdadeira comédia”. O foco eram as concepções sociais de Bomfim. Segundo Romero, “nunca a doutrina da igualdade das raças teve um advogado tão desastrado”. Mais adiante, sentenciava que A América Latina – males de origem era “um reacionarismo negrista e caboclante contra as raças superiores”. Ele deplorava também a defesa que Bomfim fazia do desenvolvimento da indústria e do comércio. Em suas linhas, estes seriam “muito bons, mas, como força nacional e princípio de conservação, a agricultura é superior”. Sílvio Romero tentara, ainda antes da Abolição (1888), elaborar uma concepção sobre a formação étnica do Brasil, dando-lhe ares de teoria. Era um defensor da imigração européia como elemento decisivo para a constituição de uma “raça brasileira” com supremacia branca. Manoel Bomfim decidiu não responder às provocações. É possível que a recusa tenha levado seu livro a cair num injusto esquecimento, até ser recuperado por Darcy Ribeiro (1922-1997), no início dos anos 1980. A reedição aconteceria apenas em 1993. Parte do manto de silêncio colocado sobre o livro tem explicação. Aqueles eram os anos da
  • 5. consolidação, a ferro e fogo, da república oligárquica que, enquanto empreendia uma radical reforma urbana no Rio de Janeiro, buscava afastar os pobres e negros do campo de visão da elite política e econômica da época, expulsando-a para os morros e subúrbios. Bomfim tomava partido das classes populares. LIVRO LUMINOSO Darcy Ribeiro era um entusiasta de América Latina, males de origem, classificando-o de o ponto mais alto da consciência brasileira. “Para Manoel Bomfim”, dizia, “o atraso, a pobreza e a ignorância das grandes massas latino-americanas eram de responsabilidade das próprias classes dominantes, que lucravam com elas. É de pasmar que este livro luminoso, não tenha sido visto e nem lido, senão para ser atacado torpemente por Silvio Romero”. Nas palavras do crítico literário Antonio Candido, o livro é “duro para os preconceitos de seu tempo”. Segundo ele, a réplica de Romero é “uma obra prolixa e exibicionista, negando qualquer valor ao adversário, hipertrofiando questões secundárias para fazer parada de erudição e, no fundo, nada propondo de mais convincente”. De certa maneira, Bomfim fez na sociologia o que Lima Barreto (1880-1922) empreendeu na literatura: denunciar o racismo e o elitismo das camadas do topo da pirâmide social. As ferramentas para se manter a ordem eram o cassetete e o bom senso. Sobre isso, sua pena afiada mais uma vez se manifesta: “ Mas o que pode a verdade contra o bom-senso? Quando se estuda o caráter dos homens de estado nas nações da América Latina, o que mais se impõe à atenção é a irrepreensível sensatez de todos eles, a sensatez clássica e imponente - essa sensatez a que Anatole France se refere quando diz ´ Todos que trouxeram ao mundo um pouco de bondade nova sofreram o desprezo das gentes sensatas’”. Apesar de cáustico, Manoel Bomfim não era um pessimista. Em O Brasil na América, lançado em 1929, três anos antes de sua morte, ele aponta um caminho para o futuro: “Aceitemos o destino em que nos formamos; tenhamos a hombridade de ser o que somos e façamos o dever em esforços para que esse povo misturado venha a ser uma nação de civilização realmente humana, aproveitando todas as possibilidades de espírito e de coração, como as encontramos, na herança das raças donde viemos”. PARA CONHECER MAIS BOMFIM, Manoel, A América latina, males de origem, Topbooks, Rio de Janeiro, 4ª. Edição, 1993 AGUIAR, Ronaldo Conde, O rebelde esquecido, vida e obra de Manoel Bomfim, Topbooks, Rio de janeiro, 2000 BECHELLI, Ricardo Sequeira, Nacionalismos antirracistas, LCTE Editora, São Paulo, 2009