SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 19
Quando a sensualidade é parte inerente do sucesso.   Texto e apresentação por  Renato Cardoso
Texto de Renato Cardoso
Bem, confesso que me assustei com a chegada dos “Doces Bárbaros”. Eram mais bárbaros do que doces, mas mesmo assim fiquei observando, vendo no que ia dar tudo aquilo.  Claro que sei que, para chegar, é necessário um certo “aprouche” meio chocante.  Foi assim com os Rollings Stones, com Beatles e, por que não seria com os baianos que chegavam?
Observei que cada baiano fazia um papel no visual, além é claro, de cantar, dançar, interpretar com maestria a proposta que chegava em tempos de bossa nova, jovem guarda e, por que não, as tradicionais que estavam na parada há anos.  Como sou meio ligado em estética, fui logo me afeiçoando por Gal Costa, a mais feminina do grupo. Até mais que Caetano e Gil. Bethânia logo cedo fazia o gênero “homem do grupo”.
E não estava de todo errado.  Gal “sacou” esse seu jeito sensual e passou a explorá-lo com mais intensidade, enquanto dava um bom trato em sua voz, evitando os gritos tipo “meu nome é Gal”. Passou a mostrar sua voz mais intensa, concluindo as frases musicais com palavras na garganta, abusando bem de sua docilidade.
Claro que demorou um pouco para se despojar do jeito baiano de “doces bárbaros”.  Afinal aquilo fazia parte do teatro para conquistar espaço. A música dizia tudo: “ Com amor no coração/  Preparamos a invasão/  Cheios de felicidade/  Entramos na cidade amada/  Peixe Espada, peixe luz/  Doce bárbaro Jesus/  Sabe bem quem é otário/ Peixe do aquário nada/ “
Mas como ninguém é bárbaro prá sempre, bem que novos contatos, viagens, gente nova, o Rio de Janeiro, etc. e Gal Costa foi assumindo um lado digamos assim, mais fino, menos bárbaro.  Talvez retomando o seu lado familiar, já que nasceu Maria da Graça Costa Pena Burgos, nome meio nada a ver com “doces bárbaros”.  Nada contra os que adotam e preferem esse estilo.
E quanto mais Gal Costa se mostrava mais fina e menos bárbara, usando e abusando de sua sensualidade, mais paulistas, cariocas e todo o Brasil a admiravam. Foi uma bela fase, com a baiana se apresentando como a mais sensual de nosso port folio de artistas. Vieram grandes sucessos de autoria do próprio Caetano, passou a gravar sucessos do passado, aproximou-se de Roberto Carlos e dele gravou várias românticas.  Uma fase de encantamento à sua grande legião de fãs. Aí já rompeu barreiras e seu sucesso alcançava paises de “além mar”.
Sensualidade: esta era sua “carta de apresentação”. Dona de uma voz extremamente doce, sex no dizer palavras estratégicas das frases musicais, Gal Costa era tudo: beleza, voz, interpretação, sensualidade, tesão, tudo, tudinho.
Há quem preferisse seu repertório, alguns o seu  approach , outros seu  sex  appeal . Eu buscava tudo na baiana que preenchia os palcos como ninguém, parecendo ter um metro e noventa (na verdade não tem mais que um metro e sessenta). Mas sempre vi Gal Costa como um conjunto que dava certo. Voz, approach, beleza, sensualidade, sex appeal, voz, interpretação, repertório, postura de palco,  apresentação .
E assim fui curtindo os belos e longos anos de sucesso da cantora, sempre tendo a baiana no topo de minhas preferidas. Foram anos de “viagem” para a então “doce bárbara”, já domada e mais socializada do que ninguém. Quantos sucessos intermináveis, quantas apresentações memoráveis.
Seus sucessos? Gostei muito de "Baby", composta por Caetano especialmente para ela, quando tornou-se muito popular. Em 1969, com a ida de Caetano e Gil para o exílio na Inglaterra, ligou-se também a outros compositores como Macalé, e lançou o LP "Gal".  Mas gostei mesmo da era “Tom Jobim, Vinicius de Moraes e depois Roberto Carlos. Uma em especial, “ O amor”,  composição de  Caetano Veloso  e  Ney Costa Santos , inspirado em poema de  Vladimir Maiakovski .
O tempo parecia não passar para Gal, que usava bem seu perfil e abusava de sua sensualidade.  O olhar faceiro meio lembrando Gabriela, da série e do filme, e para quem gravou a trilha – música que consta de sua carta de apresentação - sempre foi uma de suas marcas. O seu estilo tinha muito a ver com o seu perfil e aguçava a imaginação de homens e mulheres (sempre atraiu a atenção das mulheres, daí sua fama de bi-sexual.
 
Pena o tempo ser implacável para todos, sem distinção. E o tempo foi, aos poucos, roubando uma de suas marcas, a sensualidade, embora preservando sua voz, sua interpretação. Meio triste falar nisso, mas convenhamos, é a mais pura realidade. Sem seu jeito sensual, seu sex appeal, o sucesso foi aos poucos deixando Gal Costa. Levemos em conta ser o tempo, maioria das vezes, mais cruel para as mulheres (e parece ter sido para Gal). Hoje não desfruta do mesmo sucesso e já não grava lindas canções do Roberto, do próprio Caetano e já não tem mais espaço para as antigas de Tom, Vinicius, etc.
Triste ver Gal Costa sem aquela majestade que a trouxe da Bahia e a fixou nas capitais paulista, carioca e de outros estados. Triste apenas não.  Lamentável não termos novos sucessos de Gal a encantar nossos ouvidos, enquanto nossos olhos poderiam se transformar em transmissor da sensualidade da baiana, que poderia gelar nossas espinhas e continuar a nos causar “frisson”.
Para muitas pessoas o tempo não devia passar. Para Gal em especial. Por ela, prá sua felicidade e sua realização. Prá todos seus fãs que se pegam sempre meio assim, faltando alguma coisa.
Talvez quem sabe, um dia, por uma alameda do zoológico ela também chegará. Ela que também amava os animais, entrará sorridente assim como está na foto sobre a mesa. Ela é tão bonita. Ela é tão bonita que na certa eles a ressuscitarão. O século trinta vencerá; o coração destroçado já...pelas mesquinharias. Agora vamos alcançar tudo o que não podemos amar na vida - com o estrelar das noites inumeráveis Ressuscita-me. Da música poema “O amor”.
Texto e apresentação por Renato Cardoso

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados (16)

Origem da palavra carnaval
Origem da palavra carnavalOrigem da palavra carnaval
Origem da palavra carnaval
 
Ameopoema jun 2017 - Ed 0050
Ameopoema jun 2017 - Ed 0050Ameopoema jun 2017 - Ed 0050
Ameopoema jun 2017 - Ed 0050
 
Piratininga
PiratiningaPiratininga
Piratininga
 
Fogaça
Fogaça Fogaça
Fogaça
 
Achou mas nao levou
Achou mas nao levouAchou mas nao levou
Achou mas nao levou
 
Jornal edição 17
Jornal edição 17Jornal edição 17
Jornal edição 17
 
O alterense 28
O alterense 28O alterense 28
O alterense 28
 
Ii encontro musicalsite
Ii encontro musicalsiteIi encontro musicalsite
Ii encontro musicalsite
 
Piratininga
PiratiningaPiratininga
Piratininga
 
A massacrante felicidade dos outros
A massacrante felicidade dos outrosA massacrante felicidade dos outros
A massacrante felicidade dos outros
 
Ralfão
RalfãoRalfão
Ralfão
 
Virada Cultural
Virada Cultural Virada Cultural
Virada Cultural
 
Folha 111
Folha 111Folha 111
Folha 111
 
Chama 175
Chama 175Chama 175
Chama 175
 
Pesquisa
PesquisaPesquisa
Pesquisa
 
Quer saber de uma coisa - Pedro Bial
Quer saber de uma coisa - Pedro BialQuer saber de uma coisa - Pedro Bial
Quer saber de uma coisa - Pedro Bial
 

Destaque (20)

Eu Te Amo Arnaldo Jabor J
Eu Te Amo Arnaldo Jabor JEu Te Amo Arnaldo Jabor J
Eu Te Amo Arnaldo Jabor J
 
Before You Begin Writing
Before You Begin WritingBefore You Begin Writing
Before You Begin Writing
 
Tesis Fantstica Mariana
Tesis Fantstica MarianaTesis Fantstica Mariana
Tesis Fantstica Mariana
 
Fun
FunFun
Fun
 
Wq Visiting London
Wq  Visiting  LondonWq  Visiting  London
Wq Visiting London
 
Kwanzaa
KwanzaaKwanzaa
Kwanzaa
 
El Bloc
El Bloc El Bloc
El Bloc
 
20071208 Feliz AñO3
20071208 Feliz AñO320071208 Feliz AñO3
20071208 Feliz AñO3
 
Margmiðlun
MargmiðlunMargmiðlun
Margmiðlun
 
Advent
AdventAdvent
Advent
 
Elikadura eta Haurrak
Elikadura eta HaurrakElikadura eta Haurrak
Elikadura eta Haurrak
 
Wimax
WimaxWimax
Wimax
 
Viagra Efects
Viagra EfectsViagra Efects
Viagra Efects
 
Coitodejudios
CoitodejudiosCoitodejudios
Coitodejudios
 
CANANEA LECCIÓN DE DIGNIDAD
CANANEA LECCIÓN DE DIGNIDADCANANEA LECCIÓN DE DIGNIDAD
CANANEA LECCIÓN DE DIGNIDAD
 
Candlepowerpoint
CandlepowerpointCandlepowerpoint
Candlepowerpoint
 
Uma Linda História
Uma Linda HistóriaUma Linda História
Uma Linda História
 
Rosas Blancas
Rosas BlancasRosas Blancas
Rosas Blancas
 
Algebra Seeley Blogger
Algebra Seeley BloggerAlgebra Seeley Blogger
Algebra Seeley Blogger
 
Crucero de lujo
Crucero de lujoCrucero de lujo
Crucero de lujo
 

Semelhante a Gal Costa e a sensualidade

Semelhante a Gal Costa e a sensualidade (20)

Essa é para_recordar_mesmo(wilma)
Essa é para_recordar_mesmo(wilma)Essa é para_recordar_mesmo(wilma)
Essa é para_recordar_mesmo(wilma)
 
A minha musica brasileira
A minha musica brasileiraA minha musica brasileira
A minha musica brasileira
 
Roberto carlos em_detalhes
Roberto carlos em_detalhesRoberto carlos em_detalhes
Roberto carlos em_detalhes
 
Jovens & velhas tardes de domingo
Jovens & velhas tardes de domingoJovens & velhas tardes de domingo
Jovens & velhas tardes de domingo
 
Jovens & Velhas tardes de domingo
Jovens & Velhas tardes de domingoJovens & Velhas tardes de domingo
Jovens & Velhas tardes de domingo
 
O samba
O sambaO samba
O samba
 
Pagina 1
Pagina   1Pagina   1
Pagina 1
 
Aqui em salvador
Aqui em salvadorAqui em salvador
Aqui em salvador
 
Danu00 e7ar de rosto colado
Danu00 e7ar de rosto coladoDanu00 e7ar de rosto colado
Danu00 e7ar de rosto colado
 
Revista fever 1 edição
Revista fever 1 ediçãoRevista fever 1 edição
Revista fever 1 edição
 
Ii encontro musical
Ii encontro musicalIi encontro musical
Ii encontro musical
 
Ii encontro musical
Ii encontro musicalIi encontro musical
Ii encontro musical
 
Ii encontro musical
Ii encontro musicalIi encontro musical
Ii encontro musical
 
Projeto cartola
Projeto cartola Projeto cartola
Projeto cartola
 
Jovem Guarda
Jovem GuardaJovem Guarda
Jovem Guarda
 
Jovem guarda
Jovem guardaJovem guarda
Jovem guarda
 
Jovem Guarda
Jovem GuardaJovem Guarda
Jovem Guarda
 
O Amor
O AmorO Amor
O Amor
 
JOVEM GUARDA
JOVEM GUARDAJOVEM GUARDA
JOVEM GUARDA
 
Release COISA NOSTRA - Babi Jaques & Os Sicilianos 2013
Release  COISA NOSTRA - Babi Jaques & Os Sicilianos 2013Release  COISA NOSTRA - Babi Jaques & Os Sicilianos 2013
Release COISA NOSTRA - Babi Jaques & Os Sicilianos 2013
 

Mais de Renato Cardoso (20)

Bauruenses queridos
Bauruenses queridosBauruenses queridos
Bauruenses queridos
 
As aquarelas sensuais de Steve Hanks
As aquarelas sensuais de Steve HanksAs aquarelas sensuais de Steve Hanks
As aquarelas sensuais de Steve Hanks
 
O cé de bauru é mais bonito
O cé de bauru é mais bonito O cé de bauru é mais bonito
O cé de bauru é mais bonito
 
No ano que vem
No ano que vemNo ano que vem
No ano que vem
 
Primavera sem flor 1
Primavera sem flor 1Primavera sem flor 1
Primavera sem flor 1
 
Primavera sem flor
Primavera sem florPrimavera sem flor
Primavera sem flor
 
Primavera sem flor
Primavera sem florPrimavera sem flor
Primavera sem flor
 
Primavera sem flor
Primavera sem florPrimavera sem flor
Primavera sem flor
 
Sinto muito
Sinto muitoSinto muito
Sinto muito
 
Sinto muito
Sinto muito Sinto muito
Sinto muito
 
Sinto muito -
Sinto muito - Sinto muito -
Sinto muito -
 
Sinto muito.pps
Sinto muito.ppsSinto muito.pps
Sinto muito.pps
 
Sinto muito
Sinto muitoSinto muito
Sinto muito
 
Sinto muito
Sinto muito Sinto muito
Sinto muito
 
Sinto muito
Sinto muitoSinto muito
Sinto muito
 
Aprendi
AprendiAprendi
Aprendi
 
Sinto muito
Sinto muitoSinto muito
Sinto muito
 
Untitled Presentation
Untitled PresentationUntitled Presentation
Untitled Presentation
 
Sinto muito
Sinto muitoSinto muito
Sinto muito
 
Orao do-amigo-1206903801670519-3 (3)
Orao do-amigo-1206903801670519-3 (3)Orao do-amigo-1206903801670519-3 (3)
Orao do-amigo-1206903801670519-3 (3)
 

Gal Costa e a sensualidade

  • 1. Quando a sensualidade é parte inerente do sucesso. Texto e apresentação por Renato Cardoso
  • 2. Texto de Renato Cardoso
  • 3. Bem, confesso que me assustei com a chegada dos “Doces Bárbaros”. Eram mais bárbaros do que doces, mas mesmo assim fiquei observando, vendo no que ia dar tudo aquilo. Claro que sei que, para chegar, é necessário um certo “aprouche” meio chocante. Foi assim com os Rollings Stones, com Beatles e, por que não seria com os baianos que chegavam?
  • 4. Observei que cada baiano fazia um papel no visual, além é claro, de cantar, dançar, interpretar com maestria a proposta que chegava em tempos de bossa nova, jovem guarda e, por que não, as tradicionais que estavam na parada há anos. Como sou meio ligado em estética, fui logo me afeiçoando por Gal Costa, a mais feminina do grupo. Até mais que Caetano e Gil. Bethânia logo cedo fazia o gênero “homem do grupo”.
  • 5. E não estava de todo errado. Gal “sacou” esse seu jeito sensual e passou a explorá-lo com mais intensidade, enquanto dava um bom trato em sua voz, evitando os gritos tipo “meu nome é Gal”. Passou a mostrar sua voz mais intensa, concluindo as frases musicais com palavras na garganta, abusando bem de sua docilidade.
  • 6. Claro que demorou um pouco para se despojar do jeito baiano de “doces bárbaros”. Afinal aquilo fazia parte do teatro para conquistar espaço. A música dizia tudo: “ Com amor no coração/ Preparamos a invasão/ Cheios de felicidade/ Entramos na cidade amada/ Peixe Espada, peixe luz/ Doce bárbaro Jesus/ Sabe bem quem é otário/ Peixe do aquário nada/ “
  • 7. Mas como ninguém é bárbaro prá sempre, bem que novos contatos, viagens, gente nova, o Rio de Janeiro, etc. e Gal Costa foi assumindo um lado digamos assim, mais fino, menos bárbaro. Talvez retomando o seu lado familiar, já que nasceu Maria da Graça Costa Pena Burgos, nome meio nada a ver com “doces bárbaros”. Nada contra os que adotam e preferem esse estilo.
  • 8. E quanto mais Gal Costa se mostrava mais fina e menos bárbara, usando e abusando de sua sensualidade, mais paulistas, cariocas e todo o Brasil a admiravam. Foi uma bela fase, com a baiana se apresentando como a mais sensual de nosso port folio de artistas. Vieram grandes sucessos de autoria do próprio Caetano, passou a gravar sucessos do passado, aproximou-se de Roberto Carlos e dele gravou várias românticas. Uma fase de encantamento à sua grande legião de fãs. Aí já rompeu barreiras e seu sucesso alcançava paises de “além mar”.
  • 9. Sensualidade: esta era sua “carta de apresentação”. Dona de uma voz extremamente doce, sex no dizer palavras estratégicas das frases musicais, Gal Costa era tudo: beleza, voz, interpretação, sensualidade, tesão, tudo, tudinho.
  • 10. Há quem preferisse seu repertório, alguns o seu approach , outros seu sex appeal . Eu buscava tudo na baiana que preenchia os palcos como ninguém, parecendo ter um metro e noventa (na verdade não tem mais que um metro e sessenta). Mas sempre vi Gal Costa como um conjunto que dava certo. Voz, approach, beleza, sensualidade, sex appeal, voz, interpretação, repertório, postura de palco, apresentação .
  • 11. E assim fui curtindo os belos e longos anos de sucesso da cantora, sempre tendo a baiana no topo de minhas preferidas. Foram anos de “viagem” para a então “doce bárbara”, já domada e mais socializada do que ninguém. Quantos sucessos intermináveis, quantas apresentações memoráveis.
  • 12. Seus sucessos? Gostei muito de "Baby", composta por Caetano especialmente para ela, quando tornou-se muito popular. Em 1969, com a ida de Caetano e Gil para o exílio na Inglaterra, ligou-se também a outros compositores como Macalé, e lançou o LP "Gal". Mas gostei mesmo da era “Tom Jobim, Vinicius de Moraes e depois Roberto Carlos. Uma em especial, “ O amor”, composição de Caetano Veloso e Ney Costa Santos , inspirado em poema de Vladimir Maiakovski .
  • 13. O tempo parecia não passar para Gal, que usava bem seu perfil e abusava de sua sensualidade. O olhar faceiro meio lembrando Gabriela, da série e do filme, e para quem gravou a trilha – música que consta de sua carta de apresentação - sempre foi uma de suas marcas. O seu estilo tinha muito a ver com o seu perfil e aguçava a imaginação de homens e mulheres (sempre atraiu a atenção das mulheres, daí sua fama de bi-sexual.
  • 14.  
  • 15. Pena o tempo ser implacável para todos, sem distinção. E o tempo foi, aos poucos, roubando uma de suas marcas, a sensualidade, embora preservando sua voz, sua interpretação. Meio triste falar nisso, mas convenhamos, é a mais pura realidade. Sem seu jeito sensual, seu sex appeal, o sucesso foi aos poucos deixando Gal Costa. Levemos em conta ser o tempo, maioria das vezes, mais cruel para as mulheres (e parece ter sido para Gal). Hoje não desfruta do mesmo sucesso e já não grava lindas canções do Roberto, do próprio Caetano e já não tem mais espaço para as antigas de Tom, Vinicius, etc.
  • 16. Triste ver Gal Costa sem aquela majestade que a trouxe da Bahia e a fixou nas capitais paulista, carioca e de outros estados. Triste apenas não. Lamentável não termos novos sucessos de Gal a encantar nossos ouvidos, enquanto nossos olhos poderiam se transformar em transmissor da sensualidade da baiana, que poderia gelar nossas espinhas e continuar a nos causar “frisson”.
  • 17. Para muitas pessoas o tempo não devia passar. Para Gal em especial. Por ela, prá sua felicidade e sua realização. Prá todos seus fãs que se pegam sempre meio assim, faltando alguma coisa.
  • 18. Talvez quem sabe, um dia, por uma alameda do zoológico ela também chegará. Ela que também amava os animais, entrará sorridente assim como está na foto sobre a mesa. Ela é tão bonita. Ela é tão bonita que na certa eles a ressuscitarão. O século trinta vencerá; o coração destroçado já...pelas mesquinharias. Agora vamos alcançar tudo o que não podemos amar na vida - com o estrelar das noites inumeráveis Ressuscita-me. Da música poema “O amor”.
  • 19. Texto e apresentação por Renato Cardoso