1. manifesto para retomada de territórios urbanos
A pandemia mudou e continuará mudando nossos hábitos de interação
social nas cidades. Vivemos num contexto de desigualdade social -
fonteeprodutodaausênciadedireitoàcidade,comasocializaçãodas
externalidades negativas da mobilidade motorizada e com a lentidão
na realização das prioridades nas políticas públicas que ampliam as
injustiças sociais. Considerando a perspectiva iminente de ampliação
dapobreza,dadificuldadenarecuperaçãoeconômica,daescassezdos
recursos e da necessária diminuição dos contatos físicos, precisamos,
agoramaisquenunca,mobilizartodososativosparaatransformação
da cidade em espaços mais humanos, democráticos e sustentáveis. Se
a realidade atual nunca deveria ter sido tolerada, não pode mais ser
aceita ou normalizada. Principalmente frente ao novo cenário. Não
há mais como aceitar um futuro senão de uma revolução que devolva
a cidade para as pessoas.
Dopontodevistadamobilidadeurbana,asituaçãoatípicadediminuição
daquantidadedeautomóveisnasviasresgatoupartedeumacidadeque
já tivemos: menos colisões, mortes e atropelamentos; com diminuição
da poluição sonora e atmosférica; redução de ocupação abusiva do
espaço público e contenção de estressantes engarrafamentos. No
futuro próximo, tornaremos a usar a cidade, mas não como antes.
2. O transporte coletivo sofrerá limitações. e não poderá mais ser
um espaço de confinamento. Aos carros, mesmo que se pretendesse
ampliar o acesso, não haveria condições social, ambiental e espacial
da fazê-lo. Menos mal. Pois já sabemos que, se o fizéssemos, estaríamos
nos deixando arrastar para um labirinto de mazelas a ditar nossa vida.
Este cenário prejudicará especialmente as parcelas mais vulneráveis
da população, como mulheres e pessoas negras. A organização da
mobilidade na cidade precisa ser revista para comportar mudanças.
Queremos cidades mais humanas. Com foco nas vidas, e não no fluxo
de veículos. Com velocidades compatíveis com a sobrevivência. Com
prioridade para segurança nos deslocamentos e nos encontros
físicos. Queremos uma cidade com mais espaço para afetos.
Queremos cidades mais sustentáveis. Com menos poluição e baixo
consumo de carbono. Sem o uso excessivo dos escassos recursos
socioambientais. Com mais espaços verdes e naturais.
Queremos cidades mais democráticas. Com melhores ofertas para
escolhas de modos de deslocamento. Com divisões mais justas do
espaço entre os modos de transporte. Com menos privilégios sociais,
raciais e de gênero. Com priorização de recursos a quem mais precisa.
A bicicleta é, sempre foi e será, parte essencial dessa revolução: a
transformação das cidades em ambientes mais humanos, democráticos
e sustentáveis. Não mata, não polui, é energética e espacialmente
eficiente. É saudável, acessível, rápida e prática. Democrática, a
bicicleta pode ser utilizada por todo tipo de gente: mulheres e homens,
crianças e pessoas idosas, pessoas com restrições físicas, de diversas
classes sociais. E, apesar disso, como reflexo de estruturas de poder
tão desiguais, o risco gerado pelo uso dos veículos motorizados
sempre dificultou a sua utilização. Portanto, para o uso massivo da
bicicleta, é necessária a adaptação das estruturas da cidade para
garantir a sua segurança. Queremos as ruas para todas as pessoas
agora e queremos para sempre!