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COMPORTAMENTO DE SUÍNOS AO LONGO DO DIA EM
AMBIENTE ENRIQUECIDO
INTRODUÇÃO
O enriquecimento ambiental consiste em introduzir melhorias no sistema de produção, tornando
o ambiente mais adequado às necessidades comportamentais dos animais. Objetos de
enriquecimento ambiental estimulam os suínos a expressarem comportamentos naturais da
espécie, evitando frustração e comportamentos estereotipados, contribuindo assim para
melhorias em sua saúde física e psicológica, e consequentemente no seu bem estar. Com o
objetivo de analisar o comportamento de suínos ao longo do dia, com e sem o uso do
enriquecimento ambiental, conduziu-se um experimento utilizando 92 animais em fase de
crescimento, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado em dois tratamentos: 1)
com objeto de enriquecimento; 2) controle sem objeto de enriquecimento.
MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento foi realizado em granja comercial localizada no município de Dourados, MS.
Foram utilizados 92 suínos com peso médio inicial de 25 kg ± 2 kg, distribuídos em
delineamento inteiramente casualizado, em dois tratamentos, com 46 animais por tratamento:
T1- sem enriquecimento ambiental (controle); T2- com enriquecimento ambiental. O
enriquecimento ambiental foi promovido por meio da inserção de objetos na baia. Os objetos
foram confeccionados em tubo de PVC acoplados a quatro pedaços de mangueira plástica
transparente a qual permitia aos suínos desenvolverem a atividade exploratória de mastigação.
Os objetos foram pendurados à altura dos olhos dos suínos para facilitar o contato visual. Foram
avaliadas as frequências comportamentais dos animais ao longo de oito horas por dia durante
seis dias consecutivos, das 7h10 da manhã às 15h10 da tarde em intervalos de 10 minutos,
obtidas as imagens com auxílio de câmeras de vídeo. As observações foram utilizadas para a
composição de histograma de frequência, baseado nos comportamentos elencados em etograma:
deitado/dormindo; interagindo com o objeto (para o tratamento com enriquecimento); comendo
ou bebendo; locomovendo-se; fuçando o ambiente; comportamento sexual; comportamento
agonístico. O comportamento foi analisado individualmente sendo cada animal considerado
uma unidade experimental. Os dados foram submetidos ao Teste de Tukey a 5% de
significância, sendo analisados em intervalos de uma hora para avaliar a variação
comportamental ao longo do período.
RODRIGUES, Rafael Gauchinho¹ (rafaelgauchinho288@hotmail.com); CALDARA, Fabiana Ribeiro² (fabianacaldara@ufgd.edu.br);
OLIVEIRA, Geyssane Farias³ (geyssanesousa@hotmail.com); MACHADO, Simone Pereira3 (si_machadovet@hotmail.com); FOPPA,
Luciana3 (lufoppa@yahoo.com.br); GONÇALVES, Liliane Maria Piano2 (lilianegoncalves@ufgd.edu.br)
¹ Discente do curso de Zootecnia da UFGD – Dourados;
² Docente do curso de Zootecnia da UFGD – Dourados;
³ Mestranda do curso de Pós-Graduação em Zootecnia da UFGD – Dourados;
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Houve efeito do enriquecimento ambiental, para os comportamentos dormindo; interagindo
com o objeto; comendo e bebendo; e fuçando o ambiente. De modo geral, independente do
tratamento ou do horário do dia, os animais passaram a maior parte do tempo
deitados/dormindo (Figura 1). Entretanto, em todos os horários avaliados (exceto das 9:30 às
10:30 h) suínos mantidos em ambiente sem enriquecimento passaram mais tempo dormindo
(67,7%) em relação aos que possuíam objetos de enriquecimento em sua baia (58,5%)
(p<0,05). Essa diferença pode ser justificada pelo fato dos animais em ambiente enriquecido
terem passado em média 9,7% do tempo interagindo com os objetos. A frequência de interação
com os objetos foi menor entre 9:30 e 12:50 h, coincidindo com o horário em que os animais
passaram mais tempo descansando. Suínos sem enriquecimento apresentaram maior
frequência (p<0,05) no comportamento fuçando a baia no primeiro horário de avaliação (7:10
– 8:10 h). De modo geral, este horário foi o de maior atividade dos animais e pode-se inferir
que, uma vez que este grupo não possuía enriquecimento ambiental, seu comportamento
investigativo foi desviado aos componentes da baia. Suínos pertencentes ao tratamento com
enriquecimento apresentaram maior frequência do comportamento comendo/bebendo (17,96%
x 14,30%) apenas no primeiro horário avaliado, não havendo diferença no período restante.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
SE CE SE CE SE CE SE CE SE CE SE CE SE CE
7:10-8:10 8:20-9:20 9:30-10:30 10:40-11:40 11:50-12:50 13:00-14:00 14:10-15:10
Horários
Frequênciacomportamental(%)
Dormindo/deitado Fuçando
CONCLUSÃO
A presença de objetos de enriquecimento ambiental estimula o comportamento investigativo
e exploratório natural dos suínos, tornando-os mais ativos ao longo do dia, o que pode
promover melhorias em seu bem-estar psicológico.
Figura 1. Frequência comportamental de suínos em ambientes enriquecidos ou não ao
longo do dia

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  • 1. COMPORTAMENTO DE SUÍNOS AO LONGO DO DIA EM AMBIENTE ENRIQUECIDO INTRODUÇÃO O enriquecimento ambiental consiste em introduzir melhorias no sistema de produção, tornando o ambiente mais adequado às necessidades comportamentais dos animais. Objetos de enriquecimento ambiental estimulam os suínos a expressarem comportamentos naturais da espécie, evitando frustração e comportamentos estereotipados, contribuindo assim para melhorias em sua saúde física e psicológica, e consequentemente no seu bem estar. Com o objetivo de analisar o comportamento de suínos ao longo do dia, com e sem o uso do enriquecimento ambiental, conduziu-se um experimento utilizando 92 animais em fase de crescimento, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado em dois tratamentos: 1) com objeto de enriquecimento; 2) controle sem objeto de enriquecimento. MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi realizado em granja comercial localizada no município de Dourados, MS. Foram utilizados 92 suínos com peso médio inicial de 25 kg ± 2 kg, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, em dois tratamentos, com 46 animais por tratamento: T1- sem enriquecimento ambiental (controle); T2- com enriquecimento ambiental. O enriquecimento ambiental foi promovido por meio da inserção de objetos na baia. Os objetos foram confeccionados em tubo de PVC acoplados a quatro pedaços de mangueira plástica transparente a qual permitia aos suínos desenvolverem a atividade exploratória de mastigação. Os objetos foram pendurados à altura dos olhos dos suínos para facilitar o contato visual. Foram avaliadas as frequências comportamentais dos animais ao longo de oito horas por dia durante seis dias consecutivos, das 7h10 da manhã às 15h10 da tarde em intervalos de 10 minutos, obtidas as imagens com auxílio de câmeras de vídeo. As observações foram utilizadas para a composição de histograma de frequência, baseado nos comportamentos elencados em etograma: deitado/dormindo; interagindo com o objeto (para o tratamento com enriquecimento); comendo ou bebendo; locomovendo-se; fuçando o ambiente; comportamento sexual; comportamento agonístico. O comportamento foi analisado individualmente sendo cada animal considerado uma unidade experimental. Os dados foram submetidos ao Teste de Tukey a 5% de significância, sendo analisados em intervalos de uma hora para avaliar a variação comportamental ao longo do período. RODRIGUES, Rafael Gauchinho¹ (rafaelgauchinho288@hotmail.com); CALDARA, Fabiana Ribeiro² (fabianacaldara@ufgd.edu.br); OLIVEIRA, Geyssane Farias³ (geyssanesousa@hotmail.com); MACHADO, Simone Pereira3 (si_machadovet@hotmail.com); FOPPA, Luciana3 (lufoppa@yahoo.com.br); GONÇALVES, Liliane Maria Piano2 (lilianegoncalves@ufgd.edu.br) ¹ Discente do curso de Zootecnia da UFGD – Dourados; ² Docente do curso de Zootecnia da UFGD – Dourados; ³ Mestranda do curso de Pós-Graduação em Zootecnia da UFGD – Dourados; RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve efeito do enriquecimento ambiental, para os comportamentos dormindo; interagindo com o objeto; comendo e bebendo; e fuçando o ambiente. De modo geral, independente do tratamento ou do horário do dia, os animais passaram a maior parte do tempo deitados/dormindo (Figura 1). Entretanto, em todos os horários avaliados (exceto das 9:30 às 10:30 h) suínos mantidos em ambiente sem enriquecimento passaram mais tempo dormindo (67,7%) em relação aos que possuíam objetos de enriquecimento em sua baia (58,5%) (p<0,05). Essa diferença pode ser justificada pelo fato dos animais em ambiente enriquecido terem passado em média 9,7% do tempo interagindo com os objetos. A frequência de interação com os objetos foi menor entre 9:30 e 12:50 h, coincidindo com o horário em que os animais passaram mais tempo descansando. Suínos sem enriquecimento apresentaram maior frequência (p<0,05) no comportamento fuçando a baia no primeiro horário de avaliação (7:10 – 8:10 h). De modo geral, este horário foi o de maior atividade dos animais e pode-se inferir que, uma vez que este grupo não possuía enriquecimento ambiental, seu comportamento investigativo foi desviado aos componentes da baia. Suínos pertencentes ao tratamento com enriquecimento apresentaram maior frequência do comportamento comendo/bebendo (17,96% x 14,30%) apenas no primeiro horário avaliado, não havendo diferença no período restante. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 SE CE SE CE SE CE SE CE SE CE SE CE SE CE 7:10-8:10 8:20-9:20 9:30-10:30 10:40-11:40 11:50-12:50 13:00-14:00 14:10-15:10 Horários Frequênciacomportamental(%) Dormindo/deitado Fuçando CONCLUSÃO A presença de objetos de enriquecimento ambiental estimula o comportamento investigativo e exploratório natural dos suínos, tornando-os mais ativos ao longo do dia, o que pode promover melhorias em seu bem-estar psicológico. Figura 1. Frequência comportamental de suínos em ambientes enriquecidos ou não ao longo do dia