5. Chefe do Departamento de Ciências Biológicas
Guilherme Victor Nippes Pereira
Chefe do Departamento de Ciências Sociais
Maria da Luz Alves Ferreira
Chefe do Departamento de Geociências
Guilherme Augusto Guimarães Oliveira
Chefe do Departamento de História
Donizette Lima do Nascimento
Chefe do Departamento de Comunicação e Letras
Ana Cristina Santos Peixoto
Chefe do Departamento de Educação
Andréia Lafetá de Melo Franco
Coordenadora do Curso a Distância de Artes Visuais
Maria Elvira Curty Romero Christoff
Coordenador do Curso a Distância de Ciências Biológicas
Afrânio Farias de Melo Junior
Coordenadora do Curso a Distância de Ciências Sociais
Cláudia Regina Santos de Almeida
Coordenadora do Curso a Distância de Geografia
Janete Aparecida Gomes Zuba
Coordenadora do Curso a Distância de História
Jonice dos Reis Procópio
Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Espanhol
Orlanda Miranda Santos
Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Inglês
Hejaine de Oliveira Fonseca
Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Português
Ana Cristina Santos Peixoto
Coordenadora do Curso a Distância de Pedagogia
Maria Narduce da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário de Educação a Distância
Carlos Eduardo Bielschowsky
Coordenador Geral da Universidade Aberta do Brasil
Celso José da Costa
Governador do Estado de Minas Gerais
Antônio Augusto Junho Anastasia
Vice-Governador do Estado de Minas Gerais
Alberto Pinto Coelho
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
Alberto Duque Portugal
Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos Reis Canela
Vice-Reitora da Unimontes
Maria Ivete Soares de Almeida
Pró-Reitora de Ensino
Anete Marília Pereira
Diretor do Centro de Educação a Distância
Jânio Marques Dias
Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH
Antonio Wagner Veloso Rocha
Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS
Maria das Mercês Borem Correa Machado
Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA
Paulo Cesar Mendes Barbosa
Chefe do Departamento de Artes
Maria Elvira Curty Romero Christoff
6. Autor
César Henrique de Queiroz Porto
Graduado em História pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes.
Mestre em História pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG.
Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes/
MG e Doutorando em História pela USP.
9. 9
História - História Moderna II
Apresentação
Olá pessoal! O período sobre o qual fala-
remos, neste caderno, é um momento fun-
damental para a compreensão da história
da sociedade do mundo ocidental. O século
XVIII assinalou importantes transformações
na vida do povo europeu.
O objetivo do texto é mostrar para vocês
a dinâmica deste período que compreende as
duas revoluções que moldaram as instituições
políticas e econômicas que estruturam o mun-
do contemporâneo. Além disso, ao longo des-
te recorte temporal, ocorre a passagem da trans-
cedência que lentamente vai perdendo força
nos meios urbanos e intelectuais rumo a uma so-
ciedade cada vez mais marcada pela imanência.
O período em que propomos nossa jor-
nada compreende o século XVIII, embora os
processos que culminaram nos grandes even-
tos econômicos, políticos e sociais têm antece-
dentes que em alguns casos podem remontar
até mesmo o final da Idade Média. Além disso,
a Revolução Industrial é um processo que não
se esgota no século em questão, seus desdo-
bramentos podem ser vistos nos dias atuais.
Portanto, o final da Idade Moderna deve ser
entendido como um momento fundante, que
inaugura a dinâmica de uma nova era, cujo prin-
cipal protagonista é a Europa Capitalista, só de-
pois os Estados Unidos emergem na liderança
do mundo capitalista, já no imediato Pós-Primei-
ra Guerra Mundial, no início do século XX.
Para melhor sistematização do conteúdo,
esta disciplina foi organizada em três unida-
des: a primeira trata do fenômeno iluminis-
ta, procurando contextualizá-lo dentro dos
quadros da crise do Antigo Regime. Também
foi destacado o Despotismo Esclarecido, com
seus limites e principais representantes nas
monarquias europeias da Rússia, Prússia, Áus-
tria, Espanha e Portugal.
A segunda unidade compreende o tema
da Revolução Industrial, destacando o pionei-
rismo inglês através da análise das transfor-
mações agrárias e do processo de acumulação
primitiva de capital. O tema da emergência da
ferrovia também foi destacado, apesar de seu
advento se inscrever já no século seguinte ao
nosso recorte.
A terceira unidade aborda a Revolução
Francesa em suas várias fases. No entanto, an-
tes de partirmos para o processo revolucioná-
rio, fizemos uma caracterização das estruturas
políticas, econômicas e sociais que compu-
nham a França do Antigo Regime.
Todas estas unidades são subdivididas
em subunidades para facilitar a leitura e a dis-
cussão, conforme vocês verão em seguida.
Vocês deverão ficar atentos e não desprezar
o desafio das questões para discussão e refle-
xão, pois elas são importantes e acompanham
o texto. Outro aspecto importante são as su-
gestões para transitar do ambiente de apren-
dizagem aos chats, fóruns e acesso as bibliote-
cas virtuais na Web. As sugestões e dicas estão
localizadas junto ao texto.
Então? Vamos lá?
Espero que apreciem!
Bons estudos!
O autor.
Guia do Professor
A Apostila de História Moderna II está dividida em três unidades a saber:
• Idéias e práticas políticas na Época Moderna;
• A Revolução Industrial;
• A Revolução Francesa.
Nessas unidades dividimos os conteúdos em sub-tópicos que facilitam a exposição e debate
dos assuntos abordados e permite maior assimilação dos acadêmicos.
Ao longo do texto, itens interativos aparecem, sendo eles: Para saber mais, Dicas, Glossário e
Atividades. Nos itens de Dicas e Atividades, questões e exercícios são propostos. Sugerimos assim,
que seja elaborado espaço na plataforma on-line para que os alunos discutam e respondam à es-
sas questões e atividades propostas.
As imagens contidas no corpo do texto devem ser utilizadas como sendo parte integrante
do conteúdo, possibilitando ao acadêmico a visualização de situações e personagens importan-
tes do período tratado. Cabe ao professor realizar essa ligação das imagens ao texto e lhes pro-
10. 10
UAB/Unimontes - 6º Período
porcionar lugar de maior destaque que o de meras representações decorativas.
Ao final de cada unidade disponibilizamos uma lista de Referências para que os professores
e acadêmicos busquem maiores informações sobre os temas e assuntos abordados ao longo da
apostila. Ao final do trabalho, preparamos um caderno de atividades que traz consigo as resolu-
ções comentadas para maior assimilação do conteúdo.
Desejamos a todos um bom trabalho.
11. 11
História - História Moderna II
Unidade 1
Ideias e práticas políticas na Época
Moderna
1.1 Introdução
O Iluminismo significou um grande mo-
mento na conjuntura da emergência da moder-
nidade europeia ao realizar a crítica da socieda-
de do Antigo Regime e propor a reforma das
instituições a partir do primado do racionalismo.
A partir de agora será estudado o tema
do Iluminismo, corrente filosófica que emergiu
no século XVIII e que influenciou quase todas
as áreas do conhecimento de sua época. Essa
poderosa corrente de pensamento não se en-
cerrou nos setecentos e continuou a ser bas-
tante influente nos séculos posteriores.
Aqui serão discutidas as condições que
fizeram com que emergissem as suas origens
nos séculos XVI e XVII, as fases pelas quais
passou o Iluminismo, os significados que ele
assumiu nos principais centros europeus, seus
principais conceitos e expoentes.
1.2 As Abordagens do
Pensamento Iluminista
Para não cair em um lugar comum, que poucos escapam quando abordam o tema em ques-
tão, os historiadores Francisco Falcon e Roberto Salinas criticam a forma com que o tema do Ilu-
minismo é tratado em muitos livros, ora
reduzido a uma espécie de recitativo de nomes de “grandes pensadores” e das
suas obras principais, ficando sua importância histórica reduzida ao caráter de
manifestação intelectual que expressa as idéias de uma “burguesia em ascen-
são” (FALCON, 2004, p. 5)
Ou então é exposto como “uma simples decoreba de nomes de livros e autores dispostos
em ordem em uma espécie de cardápio ideológico do século XVIII”. (SALINAS, 1982, p. 9)
Mesmo que se pretenda fugir desse tipo de exposição não há como deixar de citar alguns
nomes que são os mais representativos do período como Montesquieu, Voltaire, Rousseau, Dide-
rot, D’Alembert, David Hume, entre vários outros.
1.2.1 O Iluminismo e seus significados
Não se pode deixar de dispensar algumas palavras sobre significado, ou sobre os significa-
dos que os termos Iluminismo e Ilustração assumem, já que, muitas vezes, aparecem como si-
nônimos, quando, na verdade, são coisas distintas. À primeira vista, Iluminismo, é mais utilizado,
enquanto que “Ilustração” é mais adequado, no entanto, é menos utilizado.
Atividades
Montesquieu em “O
Espírito das leis” (1748)
diz que as leis que vão
governar um povo não
são fruto do arbítrio de
quem legisla essas leis.
Para ele a realidade
histórica e social de um
povo é determinante
para a elaboração
das leis de um povo.
Não há leis justas ou
injustas desse ponto
de vista, mas leis mais
ou menos adequadas
a um povo e a deter-
minadas circunstân-
cias de época e lugar.
Montesquieu distingue
três formas de governo.
Identifique e faça uma
breve caracterização
dessas três formas de
governo.
12. 12
UAB/Unimontes - 6º Período
Em um sentido mais geral, há uma ten-
dência a associar Iluminismo como sinônimo
de Ilustração, a referência a um movimento
filosófico do século XVIII e, em alguns casos,
referir-se ainda a algo que esteja associado a
uma certa doutrina, ou até mesmo a algo so-
brenatural.
Existe, como se pode perceber, uma polissemia quanto ao significado de Iluminismo. Esta
polissemia pode até mesmo ser contraditória, já que compreende algo racional, quando associa-
do a um movimento filosófico, ou irracional, quando também relacionado a algo sobrenatural.
(FALCON, 2004, p. 7-12)
Para refletir
Voltaire: filósofo
francês crítico da reli-
gião e da monarquia,
anticlericalista, por
excelência. Para ele
é necessário ter uma
religião e não acreditar
nos padres. Segundo
Voltaire a liberdade e
a propriedade privada
são os pilares da po-
lítica, sua obra esteve
mais preocupada com
o conjunto das ativida-
des humanas.
◄ Figura 1: Retrato de
Montesquieu
Fonte: http://bitacoras.
rebeliondigital.es/Bitaco-
ra_de_DLV.htm
Acesso em: 16 de maio de
2011
Figura 2: Retrato de
Voltaire
Fonte: http://cora-
caoduplo.blogspot.
com/2010/12/voltaire-um-
-livro-por-dia.html
Acesso em: 16 de maio
de 2011
►
13. 13
História - História Moderna II
Conforme a distinção observada por Francisco
Falcon, há “uma profunda diferença entre o senti-
do religioso da iluminaçãomística e o sentido secu-
lardailuminaçãoracional.”(FALCON,2004,p.16)
Já que, em um sentido mais geral, Iluminis-
mo compreende esses múltiplos significados,
quais significados teriam então o termo “Ilustra-
ção”? De uma maneira geral, o termo refere-se a
um conjunto de conhecimentos, ou a alguém de
notável saber, erudição e esclarecimento.
Ilustração também compreende uma cer-
ta polissemia. Neste caso, tanto pode encerrar
um significado mais genérico, quanto pode
equivaler-se ao mesmo significado de Ilumi-
nismo. Em razão dessas possibilidades de sig-
nificados, o uso de qualquer um dos termos fica
a critério de cada um, mas parece mais adequa-
do o uso de Ilustração. (FALCON, 2004, p. 7-12)
para refletir
Diderot é a principal
figura da enciclopédia.
Ele rompe definitiva-
mente com a filosofia
tradicional e a teologia
(professa um resoluto
ateísmo e um conse-
quente materialismo).
“Tudo é matéria”, pensa
Diderot e a “matéria é
a essência do real”. As
ideias dependem dos
sentidos. Politicamente
se guia pelo princípio
da utilidade.
Rousseau publica “Do
contrato social”, defen-
dendo a liberdade e a
soberania. É considera-
do um desmancha pra-
zeres da festa iluminis-
ta por ser contraditório
e paradoxal.
◄ Figura 3: Retrato de
Diderot
Fonte: http://www.
bacdefrancais.net/biodi-
derot.htm
Acesso em: 16 de maio
de 2011
◄Figura 4: Retrato de Rousseau
Fonte: http://www.crawfordsworld.com/rob/apcg/Uni-
t1rousseau.htm. Acesso em: 16 de maio de 2011
14. 14
UAB/Unimontes - 6º Período
A ideia principal do iluminismo reside no
fato de a gestão da sociedade estar submetida
ao império da razão e esta razão não se sub-
mete a nenhuma autoridade, pois é soberana
e livre. Os filósofos iluministas criticam a igreja
e o cristianismo que eram a essência daquela
sociedade. Para os iluministas, a racionalida-
de vem “iluminar as sombras do erro e da ig-
norância”. Razão é mudança que levam a um
novo pensar (o pensar racionalmente) em que
tudo deve ser submetido ao espírito crítico,
inclusive o próprio poder político é objeto de
investigação racional, uma vez que a razão
humana vai se apossar desse poder político e
conduzir o homem a plena realização de seu
destino. (ARANHA e MARTINS, 1995)
1.2.2 O Iluminismo nas nações europeias
Depois de visto os diversos significados que possuem os termos Iluminismo e Ilustração (e
sua concepção mais essencial), é importante, quando não, necessário, perceber como alguns
desses termos foram construções extemporâneas e também tiveram significados diferentes, em
diversos lugares da Europa.
para refletir
David Hume: esse filó-
sofo escocês foi muito
influenciado pelas
ideias de Locke. Para
ele, o verdadeiro fun-
damento do governo é
o hábito e “na base de
todo o conhecimento
achava-se pois uma
crença”.
◄Figura 5: David Hume
Fonte: http://www.cfh.
ufsc.br/~conte/hume.html
Acesso em: 16 de maio de
2011-05-16
Glossário
Fisiocracia: idéia de que
a terra era a principal
fonte de riqueza e
a agricultura era o
grande instrumento ci-
vilizatório. Tinha como
um dos seus principais
expoentes, Turgot.
Figura 6: Retrato de
Turgot
Fonte: http://www.memo.
fr/Dossier.asp?ID=783
Acesso em: 16 de maio de
2011
►
15. 15
História - História Moderna II
Palavras como ilustrar, iluminar, entre
várias outras, são estranhas ao vocabulário
do século XVIII e foram criadas no século XIX,
portanto, fora do ambiente intelectual do Ilu-
minismo.
Mesmo no século XVIII variava muito o
significado do Iluminismo, sendo mais apro-
priado considerar os vários significados que
o termo assumia, nos vários lugares, ou pelo
menos naqueles que são considerados os mais
expressivos, França, Alemanha e Inglaterra.
Na França, por exemplo, o termo “Lumiè-
res”, “expressa à noção de um movimento in-
telectual com o qual ‘os filósofos’ e ‘homens de
letras’ franceses sentem-se solidários, pois são os
seus protagonistas”. (FALCON, 2004, p. 13)
Já na Alemanha, “Aufklãrung”, (palavra
alemã para designar Iluminismo), quer dizer
esclarecimento, descobrimento, reconheci-
mento. A palavra assume ainda o sentido me-
teorológico de tempo sereno, o de tempo que
se torna claro. Já no âmbito intelectual, quer
dizer esclarecimento racional.
Um significado diferente também passa a ter termo o vocábulo quando analisado na Ingla-
terra, neste caso: “to enlighten”, “possui um sentido mais dirigido para as questões de natureza
moral e econômica”. (FALCON, 2004, p. 14)
No contexto lusitano, “luzes” e “iluminados” são os termos mais usados para se referirem a
ideias dos chamados iluministas. O mesmo termo, “iluminados”, era empregado na Espanha para
se referir aos místicos, também conhecidos como “alumbrados”. (FALCON, 2004, p. 17)
Mesmo com toda a diversidade de seus significados, “Entre uma coisa e outra há um espaço
mental, maior ou menor, tendente à contestação, da própria realidade.” Nisto consiste a impor-
tância do caso da França em que pauta por uma “crítica violenta ao existente” (FALCON, 2004, p.
15), ou seja, ao estabelecido.
Iluminismo é, portanto, um conceito ambíguo, em que não necessariamente se vincula a um
movimento intelectual. Não há uma unidade de princípios, mas uma pluralidade deles. Como
será discutido, mais adiante, o Iluminismo também não é possível de ser associado a uma época,
o século XVIII (FALCON, 2004, p. 16). Em resumo:
Iluminismo tanto pode significar a doutrina dos que acreditam na “Iluminação
interior” ou mística, a qual para outros constituía uma espécie de manifestação
“irracionalista”, quanto, justo o oposto, Iluminismo é sinônimo de “filosofia das
luzes”, isto é, da chamada “iluminação racional”. (FALCON, 2004, p. 17) (grifos do
autor)
Outro motivo por que não se pode considerar que o Iluminismo tenha assumido um signifi-
cado único nas mais diversas partes da Europa é que se compara, mais uma vez, os significados
que o termo ganhou na França e na Alemanha (ou nos Estados Alemães como é mais apropria-
do considerar). Enquanto nessa, o Iluminismo apresentou uma tendência de estar até mesmo ao
lado da teologia (ou de certas concepções teológicas), naquela assumiu um sentido de franca
oposição a Igreja, como ensina Hegel em Lições de História da Filosofia (HEGEL, apud: SALINAS,
1982).
Isto porque nos “países” protestantes certos dogmas da Igreja já vinham sendo submetidos
a uma série de críticas, além do que as próprias Igrejas envolvidas nos movimentos de reforma
também procuravam valorizar a Razão, do livre arbítrio às Sagradas Escrituras e eram contra o
predomínio absoluto da fé. (SALINAS, 1982, p. 17-18).
Foi a França e mais precisamente sua capital Paris, que se tornou o centro difusor do Ilumi-
nismo, lugar onde era produzida a célebre Enciclopédia. Aqui, o Iluminismo ganhou o sentido
de oposição à ordem estabelecida e nisto consistiu a sua importância. (FALCON, 2004; SALINAS,
1982)
para refletir
Adam Smith é o pai da
economia política. Em
seu trabalho “A Riqueza
das Nações” defende a
não intervenção do Es-
tado na economia. Ele
inaugura o liberalismo
econômico.
◄ Figura 7: Retrato de
Adam Smith
Fonte: http://asgestoras.
blogspot.com/2011/04/
adam-smith-e-administra-
cao.html
Acesso em: 16 de maio de
2011
para refletir
A Enciclopédia é a
obra que expõe as prin-
cipais ideias dos filóso-
fos iluministas. Diderot
foi a principal figura,
mas outros filósofos
colaboraram: Rosseau,
Voltaire, D’Alembert,
Helvetius, Dumarsais,
D’Holbach, Toussaint,
Raynal, Paul Landois,
entre outros.
16. 16
UAB/Unimontes - 6º Período
1.2.3 O Iluminismo: seu tempo e origens
De um modo geral, o Iluminismo é asso-
ciado à Europa e ao século XVIII. Essa generali-
zação precisa ser problematizada.
Primeiramente, questiona-se quanto ao
período em que o Iluminismo aparece mais
comumente relacionado, o século XVIII, fre-
qüentemente chamado “século das luzes”. Não
há um consenso entre os estudiosos quanto a
cronologia do Iluminismo. A cronologia esta-
belecida por Franco Venturi, embora o próprio
autor reconheça a existência de outras, será
adotada aqui. (VENTURI, 1970, apud: FALCON,
2004, p. 20-22)
Alguns historiadores chegam a defender
que o Iluminismo do século XVIII é tão somen-
te o ponto culminante de um processo que
remonta ao século XVII, mais precisamente a
Revolução Científica. Mas, há ainda quem re-
cue suas origens a um período ainda anterior,
remontando-o ao Renascimento dos séculos
XV e XVI. (SALINAS, 1982, p. 26)
De todo modo, é certo que “Não é o sé-
culo XVIII que exalta e descobre os poderes da
Razão.” (SALINAS, 1982, p. 23)
Em face dessas considerações não se
deve esvaziar a importância que teve o movi-
mento das luzes, que também criou algo novo
para o período. Em defesa da originalidade
da “filosofia das luzes”, para Ernst Cassirrer “...
o Iluminismo criou realmente uma forma de
pensamento que era original em sua totalida-
de, pois só no que diz respeito ao conteúdo
ela continuou na dependência das elucubra-
ções dos séculos precedentes.” (CASSIRRER,
1950, p. 13, apud: FALCON, 2004, p. 40)
Em razão dessas experiências anteriores é
que não se deve sobrevalorizar o século XVIII.
“Do ponto de vista do conteúdo das doutri-
nas ou das grandes descobertas, o século XVIII
pouco acrescenta, na realidade, às conquistas
anteriores.” (SALINAS, 1982, p. 26). Em outra
passagem do seu livro O Iluminismo e os Reis
Filósofos, Roberto Salinas afirma em relação ao
século XVIII: “... não é pelo alcance das novas
descobertas e pelo avanço geral dos conheci-
mentos que se mostra melhor a originalidade
do século anterior.” (SALINAS, 1982, p. 27)
É na década de 1740 que a circulação de
ideias atinge os principais centros europeus:
Espanha, Itália, Viena, Berlim, Paris. Nos anos
60, o Iluminismo abarca quase toda a Europa,
da Península Ibérica a Rússia. Entre 1740 e me-
ados de 1770, o Iluminismo atinge o seu ápice,
embalado pela publicação da Enciclopédia e
sua difusão pela Europa. (VENTURI, 1970, apud:
FALCON, 2004, p. 21-22) Seu encerramento te-
ria se dado com a Revolução Francesa de 1789,
mas há quem defendesse que as ideias ilumi-
nistas permaneceram influentes e continua-
ram a ser difundidas.
1.2.4 Origens sociais dos iluministas
Outra questão bastante discutida quando se estuda o Iluminismo diz respeito às origens so-
ciais dos iluministas. É quase lugar comum associar o Iluminismo a uma corrente de pensamento
que constituía a expressão de um novo grupo, ou de uma nova classe, como querem alguns, que
se encontrava em ascensão naquele momento, a burguesia. (FALCON, 2004, p. 24; SALINAS, 1982,
p. 23)
De fato, este aspecto não deixa de ser verdade. Mas isto, como diria Roberto Salinas, “Evi-
temos a todo custo os reducionismos simplificadores.” Esta visão não deixava de fazer parte de
certa vertente do marxismo que procurava reduzir as principais transformações da sociedade: a
luta de classes. É empobrecedor:
Dizer, nestas condições, que nos achamos diante de ideólogos da burguesia
não é a última palavra no movimento de explicação. Ao contrário: verdadeiro,
este rótulo serve-nos apenas como indicação inicial que não nos dispensa do
árduo trabalho de enfrentar o pensamento destes filósofos na complexidade e
riqueza que o caracteriza. (SALINAS, 1982, p. 22)
Explicar as bases sociais do Iluminismo por esse ângulo, ou seja, enquanto expressão de
uma ordem burguesa, seria tomar Montesquieu, Diderot, Voltaire, Rousseau, o Barão d’Holbach,
como pertencentes a uma mesma origem social, o que não era verdade. O Barão d’Holbach, por
exemplo, eram um nobre e autor de uma obra considerada de orientação iluminista.
Em relação ao nível social, os enciclopedistas “se situam exatamente a meio caminho da
grande e média burguesia, bastante próximos das camadas sociais mais elevadas... mas não mui-
to longe do povo trabalhador...”. (PROUST, 1963, p. 505, apud: FALCON, 2004, p. 28)
17. 17
História - História Moderna II
Outro caso é o de Montesquieu. Charles
Lous de Secondat, ou simplesmente Barão
de Montesquieu (1689-1755), nasceu no dia
18 de janeiro de 1689, no castelo de La Brède,
nas proximidades de Bourdeaux na França,
seus estudos iniciais se deram em sua própria
casa, e mais tarde, quando passou a frequen-
tar o colégio teve como professores, padres
oratorianos bastante envolvidos com o clima
cultural da época, que o influenciaram deci-
didamente. Já na fase adulta realizou estudos
de direito em Paris e apesar de breve retorno
à sua terra natal, passa a frequentar vários sa-
lões literários parisienses. Por mais de quatro
anos percorreu várias partes da Europa co-
ligindo material para compor uma de suas
obras clássicas: O Espírito das Leis. O livro, na
verdade, fora resultado de mais de 20 anos de
trabalho. O Barão de Montesquieu parece um
caso paradigmático, que impede a redução do
Iluminismo à mera expressão de uma classe
nova (a burguesia) em ascensão. Tinha origem
aristocrática, foi uma das figuras mais emble-
máticas do século XVIII, produzindo uma obra
revolucionária. (SALINAS, 1982, p. 29-32)
Ainda poderia ser aventado aqui o exem-
plo de Helvétius que tinha origem nobre e era
considerado iluminista.
1.2.5 A Secularização iluminista
A secularização já foi definida como a
“passagem da transcendência a imanência,
da verticalidade a horizontalidade” no campo
político, econômico, social, ideológico e em
outros domínios do saber. A secularização tem
como característica essencial a emancipação
de cada um dos campos de conhecimento do
homem, da esfera teológica e religiosa. (FAL-
CON, 2004, p. 31-32). Como assinala Francisco
Falcon, um dos aspectos mais conhecidos da
secularização foi o desenvolvimento da críti-
ca às crenças e práticas religiosas, em nome
da razão e da liberdade de pensamento. (FAL-
CON, 2004, p. 33) (grifos do autor)
Não se deve, contudo, reduzir todo o com-
plexo processo de secularização a uma visão ma-
niqueísta e opor razão versus religião, ou natural
versus sobrenatural. (FALCON, 2004, p. 33)
A secularização não foi um processo line-
ar ou homogêneo, a ponto de ser mais ade-
quado considerar que houve secularizações.
Não é possível, inclusive, opor frontalmente
secularização e cristianismo, já que o que es-
tava em questão naquele momento era uma
ampliação da religião, não se tratava da rejei-
ção a religião, mas do seu alargamento (FAL-
CON, 2004, p. 34).
Deriva disso, duas linhas de raciocínio.
Uma que se pauta pelo reconhecimento da
autonomia do entendimento humano; outra
que apresenta uma tendência que busca con-
ciliar a ciência com os valores espirituais. Pensa-
vam assim, que era possível conciliar Razão e Re-
velação, porém, não se pode perder de vista que
é sabido que secularização não se opõe necessa-
riamente a luz divina. (FALCON, 2004, p. 34-35)
1.2.6 O Racionalismo iluminista
Na concepção iluminista, a razão é definida como um meio, um esforço intelectual para se
chegar a verdade, de maneira autônoma.
A razão iluminista se opõe a tudo o que é considerado irracional, constitui um “trabalho do
intelecto, cujas ferramentas são a observação e a experimentação”. (FALCON, 2004, p. 37) É um
instrumento de mudança, e esta mudança deveria ser a própria forma de pensar.
Pensar racionalmente para os iluministas significa submeter tudo a crítica, duvidar e mesmo
destruir. A crítica ao pensamento tradicional é uma das definições da razão iluminista, que não
possui espaço proibido, já que é através da crítica ao existente que se produz algo novo e verda-
deiro. As superstições, os ídolos, são barreiras que impedem o caminho de se chegar até a verda-
de. A verdade é algo a se desvendar, a se descobrir. (FALCON, 2004, p. 37) O iluminismo negou,
criticou, mas também procurou construir algo novo, como foi visto anteriormente.
O lema do pensamento racionalista talvez pudesse ser resumido em uma frase: “ pensar por
si mesmo”.
Mas se tudo deve ser submetido ao tribunal da crítica, porque, então, não submeter às pró-
prias ideias dos iluministas. Basicamente, é isto o que será proposto por Kant em um dos seus
escritos mais notáveis. O texto surgiu em resposta a uma pergunta lançada por editores de uma
revista alemã em 1783. A pergunta era “O que é o Iluminismo?” Uma das respostas de maior des-
taque foi a de Kant, publicada em 1784:
18. 18
UAB/Unimontes - 6º Período
O que é o Iluminismo. A saída do homem da sua menoridade, pela qual ele é
responsável. Menoridade, isto é, incapacidade de servir-se do próprio entendi-
mento sem a orientação de outrem, menoridade pela qual ele é o responsável
porque a causa dessa incapacidade não esta numa deficiência do seu enten-
dimento, e sim na falta de decisão e de coragem para dele servir-se sem a di-
reção de outrem. Sapere Aude! [ousai saber] Tem coragem de servir-te do tem
próprio entendimento! Eis a divisa das “Luzes”. (PEREIRA, apud: FALCON, 2004,
p. 19)
Na medida em que o autor de Crítica da Razão Pura, propõe que o homem deve se livrar
da “incapacidade de servir-se do próprio entendimento sem a orientação de outrem”, e que isto
dependia muito mais de um gesto de ousadia. O “Ousai Saber” abriu caminho para que se ques-
tionem as próprias ideias dos iluministas.
A própria concepção de filosofia para os iluministas constituía uma forma de pensar, ou, de
maneira precisa, uma forma racional de pensar todos os ramos do conhecimento, submetendo-
-os à crítica com o fim de produzir algo novo. Só o progresso intelectual do homem permitirá a
ele chegar a verdadeira liberdade.
1.2.7 A Enciclopédia
“Enciclopédia ou Dicionário Raciocinado
das Ciências, das Artes e dos Ofícios, por uma
Sociedade de Homens de Letras foi organiza-
da e publicada por Diderot e a parte Matemá-
tica por d’Alembert”. Este era o título da céle-
bre Enciclopédia, nela estava reunido o cerne
do pensamento iluminista.
A obra começou a ser publicada em Pa-
ris no ano de 1751 e se estendeu até 1780. Seu
processo de edição e publicação divide-se em
duas fases: a primeira delas vai de 1751 a 1757,
e a segunda de 1762 a 1772. Como o próprio tí-
tulo sugere dedica-se às ciências, às artes e aos
ofícios, seu conjunto compreende 35 volumes.
Na produção da Enciclolpédia, para cola-
borar com o projeto, foram convocados pro-
fissionais liberais como médicos e advogados,
e também cientistas. Escreveram intelectu-
ais como Montesquieu, Voltaire, Rousseau;
cientistas como Buffon, Fontenelle, o Barão
d’Holbach; Quesnay, Turgot, Jaucourt (este o
colaborador mais assíduo). Foram ao todo 142
colaboradores.
Jean Leron D’Alembert (1717-1783), ou
simplesmente D’Alembert escreveu o “Dis-
curso Preliminar” (uma espécie de Introdução
à Enciclopédia), que logo se tornou célebre,
além de outros diversos verbetes. Entretanto,
o principal organizador dessa grande emprei-
tada era mesmo Diderot. Ele era a verdadeira
“alma” da Enciclopédia e a ela dedicou a maior
parte de sua vida.
▲
Figura 8: Imagem de uma Enciclopédia iluminista
Fonte: http://historiafunbbe.blogspot.com/2008_07_01_
archive.html. Acesso em: 16 de maio de 2011
19. 19
História - História Moderna II
Nascido em Langres na França, sua vida
quase que se confunde com a Enciclopédia. A
história dele, que viria a se tornar um grande
projeto editorial, começa quando Diderot é
convidado para traduzir a Enciclopédia Cham-
bers, enciclopédia inglesa contendo 5 volu-
mes. Diderot, porém, ficou muito insatisfeito
com as limitações da Enciclopédia que tradu-
zia e propõe aos livreiros a ideia da Grande En-
ciclopédia, tarefa pela qual passará a dedicar
tempo integral, a partir de 1746. O primeiro
volume só sairá depois de 5 anos.
Paralelo aos trabalhos para a Enciclopé-
dia, Diderot também leva uma produtiva e
conturbada vida literária, com suas obras sen-
do censuradas, chegando até mesmo a ser
condenado à prisão na Bastilha. Enquanto estava
preso, recebeu a visita de seus amigos filósofos e
passou pela dor de ter perdido três filhos.
Assim, no dia 1 de julho de 1751 vem a
lume o primeiro volume da Enciclopédia, com
um “Prospectus” de Diderot e um “Discurso
Preliminar” de d’Alembert, que logo irá se tor-
nar uma referência.
O impacto da Enciclopédia é grande, mui-
tos são os seus entusiastas, mas muitos tam-
bém os seus críticos. A Enciclopédia tem um
sucesso financeiro esplendoroso para a época
com 3500 assinantes. O empreendimento faz a
fortuna dos livreiros, mas não de Diderot que
ao final da vida se queixava da penúria que
vivia. Neste cenário, o trabalho chega a ser
proibido, mas continua a ser produzido clan-
destinamente, porém colaboradores de peso
abandonam a empreitada, como d’Alembert.
(SALINAS, 1982, p. 48-55.)
A rigor, a ideia de Enciclopédia é anterior
ao Iluminismo, e remonta ao Renascimento
devido à necessidade de agrupar, ou mesmo
organizar um conjunto de conhecimentos de
um determinado momento. Iniciativas como
essa constituem um esboço daquilo que irá se
configurar como a área de humanidades.
A Enciclopédia Iluminista (herdeira da
tradição renascentista) avançou na concepção
de não ser simplesmente um dicionário, já que
como o seu próprio título sugeria, constituía um
Dicionário raciocinado. (FALCON, 2004, p. 79-84).
◄ Figura 9: Retrato de
D´Alembert
Fonte: http://tipografos.
net/historia/alembert.html
Acesso em: 16 de maio de
2011
20. 20
UAB/Unimontes - 6º Período
Uma breve história da imprensa
No livro, “Uma História Social do Conhecimento: de Gutemberg a Diderot”, o historiador in-
glês Peter Burke discute a origem da imprensa e o seu impacto para a difusão do conhecimento.
Nesse processo, o século XVIII, com o Iluminismo, teve importância decisiva. Para Burke, a inven-
ção da imprensa com tipos móveis na Alemanha em torno de 1450, além de possibilitar a difusão
mais ampla de conhecimento e a publicidade de toda uma variedade de conhecimentos, tam-
bém facilitou a interação de diferentes tipos de conhecimentos. Em suas palavras: “Ela padroni-
zou o conhecimento ao permitir que pessoas em lugares diferentes lessem os mesmos textos ou
examinassem imagens idênticas” (p.19). “No início da Europa moderna, uma ‘explosão do conhe-
cimento’ se seguiu à invenção da imprensa, aos grandes descobrimentos e à chamada ‘revolução
científica’”. (p.20). Segundo o historiador inglês, a imprensa oferecia muitas oportunidades aos
homens de letras na Europa e possibilitou a ascensão de novas profissões, como, por exemplo,
os jornalistas que começaram a se multiplicar e se tornaram cada vez mais influentes, devido a
proliferação de periódicos a partir do século XVIII (p. 34-35).
Nos centros urbanos das principais cidades europeias surgiam novos espaços de sociabili-
dade. Os cafés desempenharam papel importante na vida intelectual francesa, italiana e britâni-
ca, a partir do século XVII. “Os donos dos cafés frequentemente exibiam jornais e revistas como
modo de atrair clientes, encorajando assim a discussão das notícias e o surgimento do que mui-
tas vezes é chamado de ‘opinião pública’ ou ‘esfera pública’. Estas instituições facilitavam encon-
tros entre idéias e indivíduos” (p. 50-51).
A biblioteca teve uma importância ampliada depois do advento da imprensa. Efetivamente
surgiam novos lugares do conhecimento: livraria, cafés, bibliotecas, laboratórios, galerias de arte.
O surgimento desses novos espaços era embalado também pela razão da grande quantidade de
informações sobre a história natural de várias partes do mundo que afluíram para a Europa no
início do período moderno (p. 56-60).
Cidades como Roma, Paris, Londres figuravam como verdadeiras capitais do conhecimento.
(p. 64-65). Além disso, muitas dessas cidades eram importantes centros impressores – a exemplo
destas referidas anteriormente - devem ser acrescentadas Veneza, Amsterdã, Sevilha (p. 75).
“A longo prazo, a ascensão do ideal do conhecimento público é visível no início do período
moderno e está ligada ao surgimento da imprensa (p. 80). Foi isto que levou a multiplicação de
livros (p. 97). O surgimento da impressão teve duas conseqüências importantes: tornou as en-
Figura 10: Primórdios da
imprensa escrita
Fonte: http://enferma-
gemnojurua.blogspot.
com/2010/06/hoje-e-dia.
html
Acesso em: 16 de maio de
2011
►
21. 21
História - História Moderna II
ciclopédias disponíveis com maior rapidez e tornou-as ainda mais necessárias do que antes (p.
103). A invenção da imprensa transformou os manuscritos um tipo particular de documentos e
levou a seu armazenamento em separado. A centralização dos governos seguiu a centralização
dos documentos. Documentos que antes eram tratados como propriedade privada de funcio-
nários eram agora considerados como pertencentes ao Estado (p. 128). A impressão encorajava
a comercialização de todos os tipos de conhecimento. A partir da imprensa, os empreendedores
se envolveram mais diretamente no processo de difusão do saber (p. 145). Seguiu-se uma produ-
ção de atlas, enciclopédias, livros. Ao longo do século XVIII desenvolve-se a prática da assinatura
(p. 151). Um exemplo significativo é o Jornal: “Gazetas de notícias impressas, registradas pela pri-
meira vez na Alemanha em 1609, ganharam impulso na República Holandesa em princípios do
século XVII e no século XVIII já estavam espalhadas na maior parte da Europa” (p. 152).
Com todas essas transformações, o conhecimento se tornou um grande negócio. Nos pri-
mórdios da Europa moderna o conhecimento estava ligado cada vez mais à produção via im-
pressão e isso levou a um sistema de conhecimento mais aberto. Setores da sociedade interes-
sam em tornar o conhecimento público. Por outro lado, um mercado de informações cresceu ao
longo do período (p. 158).
BURKE, Peter. Uma História Social do Conhecimento: de Gutemberg a Diderot. Rio de Ja-
neiro: Jorge Zahar, 2003.
1.3 O Despotismo Esclarecido
O Despotismo Esclarecido é a expressão
usada para designar uma forma de governar
que caracterizou algumas monarquias da Eu-
ropa Moderna em meados do século XVIII. Os
déspotas esclarecidos empreenderam políti-
cas típicas do Absolutismo, como, por exem-
plo, o fortalecimento do poder real. Entretan-
to, adotaram algumas ideias relacionadas ao
iluminismo, principalmente, tendo em vista a
reforma e a modernização de seus Estados.
O desenvolvimento do Despotismo Escla-
recido se deu principalmente em áreas do cen-
tro e do leste da Europa, como a Áustria, Prús-
sia e a Rússia. Contudo, até mesmo em partes
da Europa Ocidental, como Portugal e a Espa-
nha, foram verificadas algumas políticas deste
tipo. Em geral, são países de economia predo-
minantemente agrícola, nos quais a burguesia
era pouco expressiva e que foram governados
por soberanos que empreenderam algum tipo
de medida, visando à modernização de suas
economias semifeudais.
Para René Remond, o Despotismo Es-
clarecido é uma variante da monarquia abso-
luta, cuja principal característica é a ideia de
uma sociedade governada por um príncipe
de mentalidade ilustrada. Nessa linha de argu-
mentação, o monarca era entendido como o
responsável pela condução da modernização
da sociedade e da economia. Eram objetivos
do déspota, garantir as condições que leva-
riam seu reino a atingir a prosperidade, através
do aumento da riqueza e, consequentemente,
ampliar seu poder e prestígio (REMOND, 1986).
As políticas dos déspotas variavam de
acordo com as especificidades regionais, po-
rém apesar das variações, tiveram alguns pon-
tos que podem ser considerados comuns em
todas as suas variantes. Um bom exemplo dis-
to, no campo social foi a tentativa dos sobera-
nos empreenderem uma política que buscava
a diminuição da influência eclesiástica na so-
ciedade. Esta medida reflete em grande parte
a influência exercida pelos ideais iluministas
nas maneiras de governar dos déspotas escla-
recidos.
Os mais célebres monarcas, que gover-
naram em sintonia com o ideal de governo do
Despotismo Esclarecido, foram os soberanos
Frederico II da Prússia, Catarina II da Rússia e
José II da Áustria. Além destes, pode-se des-
tacar também o Marquês de Pombal, ministro
do rei Dom José I de Portugal e Aranda minis-
tro de Carlos III da Espanha. Estes governantes
promoveram reformas que ampliaram a edu-
cação, estimularam a economia, fortaleceram
a igualdade civil, racionalizaram a administra-
ção pública e garantiram até liberdade de cul-
to. Contudo, deve-se ressaltar que a maior par-
te deles acabou foi fortalecendo a autocracia o
que vai levar ao acirramento das contradições
político-sociais.
22. 22
UAB/Unimontes - 6º Período
1.3.1 O Despotismo esclarecido de Frederico II na Prússia
Na Prússia, Frederico II, governou o país
entre 1740 e 1786, tendo sido influenciado pe-
las ideias de Voltaire o que o levaram a adotar
medidas que permitiram a liberdade de culto,
privilegiaram o ensino básico e a extinção da
tortura aos criminosos. Também foi organi-
zado um novo código legal que permitiu a
liberdade de expressão no país. O desenvol-
vimento industrial também foi estimulado
através de programas oficiais. Foram funda-
das “(...) manufaturas estatais, fomentadas as
atividades naval e mineira e desenvolvidas as
indústrias têxteis” (ANDERSON, 2004, p. 267).
Frederico procurou tentar atrair imigrantes
europeus que possuíam algum tipo de habili-
dade relacionada com a produção artesanal e
manufatureira. Até mesmo a agricultura rece-
beu incentivo com a organização de trabalhos
de drenagem nos campos, apoio a coloniza-
ção e de melhorias no sistema de transportes.
Apesar de todas estas políticas consideradas
progressistas, o monarca não alterou a estru-
tura social do país, pois a servidão permane-
ceu como o sustentáculo da economia agrária
prussiana. A Prússia permanece um Estado
feudal, com os servos sujeitos à classe domi-
nante, formada pela aristocracia Junker.
1.3.2 O Despotismo esclarecido de Catarina II na Rússia
Já na Rússia sob Catarina II, que reinou
entre 1759 e 1796, apesar da rainha ter cultiva-
do um intenso contato com muitos filósofos
franceses, as reformas foram mais acanhadas
que na Prússia. Limitou-se a construção de es-
colas e hospitais, promovendo o aumento da
influência estrangeira na Rússia, em especial
a francesa. Submeteu a Igreja Ortodoxa ao
Estado russo e autorizou a liberdade de culto.
Neste país não somente a servidão permane-
ce como a situação da população servil até
piorou, pois os proprietários passaram a ter o
direito de condená-los a morte. A carta da no-
breza, promulgada em 1785, garantiu a aristo-
cracia o controle jurídico absoluto sobre a for-
ça de trabalho. Além disso, a agricultura servil
foi estendida até o território da Ucrânia. A in-
dustrialização recebeu importante apoio, pois
a governante criou indústrias de armamen-
tos e metalúrgicas nos Urais, aproveitando as
abundantes jazidas de ferro e cobre existentes.
Figura 11: Retrato de
Frederico II da Prússia
Fonte: http://en.wikipedia.
org/wiki/File:Frederick_II_
of_Prussia_ Coloured_dra-
wing.png
Acesso em: 16 de maio de
2011
►
▲
Figura 12: Retrato de Catarina II da Rússia
Fonte: http://atouchoflisbon.blogspot.com/2007_12_01_
archive.html.Acesso em: 16 de maio de 2011
23. 23
História - História Moderna II
1.3.3 O Despotismo esclarecido de José II Áustria
Outro exemplo de déspota esclarecido foi José II da Áustria, que governou entre 1780 e
1790. Em seu governo a servidão foi legalmente abolida através de uma série de decretos. Con-
forme Anderson,
(...) todos os súditos viram assegurado o direito de livre escolha em matéria de
casamento, migração, trabalho, ocupação e propriedade. Nos locais onde esta
não existia, foi assegurada aos camponeses a garantia da posse da terra e aos
nobres proibiu-se a compra de parcelas (2004, p. 319).
Também foi implementada a igualdade
de todos perante a lei. A administração do Es-
tado foi uniformizada e organizada, o que me-
lhorou o sistema de arrecadação de impostos.
O soberano também promoveu uma política
que garantiu uma razoável liberdade de culto,
bem como incentivou a educação secular che-
gando a criar cursos para a formação de en-
genheiros e funcionários. O governo também
introduziu um código penal, modernizou a
justiça e aboliu a censura. Vocês, caros alunos,
devem estar se perguntando por que a Áus-
tria, no final do século XVIII, não conseguiu um
lugar mais central na política europeia da épo-
ca. O problema é que boa parte das reformas
modernizadoras adotadas pelo rei José II fo-
ram neutralizadas por uma política de reação
senhorial que se seguiu à morte do progres-
sista soberano. O absolutismo “iluminista” de
José II foi anulado por seu sucessor, Leopoldo
II (ANDERSON, 2004, p. 320).
1.3.4 O Despotismo do Conde de Aranda na Espanha
A Espanha também conheceu o Despotis-
mo Esclarecido. Carlos III da Dinastia Bourbon,
que governou o país até 1788 e deu importan-
te apoio ao seu ministro, o conde de Aranda
(1718-1799) que promoveu algumas medidas
reformistas. Podem-se destacar as políticas
empreendidas no sentido de fortalecer o co-
mércio e estimular as indústrias de luxo e de
tecidos. A administração foi dinamizada com a
criação dos intendentes, uma cópia do sistema
análogo criado pelo absolutismo Bourbon, na
França de Richelieu e Mazzarino, no século an-
terior. Esta medida terminou por fortalecer o
poder do rei Carlos III. No Entanto, apesar das
“Reformas Bourbônicas” que empreenderam
um certo grau de racionalização do Estado es-
panhol, assim como melhoraram a administra-
ção colonial, tudo isto foi muito limitado, não
conseguindo reverter o processo de derrocada
do império sob os Bourbon.
◄ Figura 13: Retrato de
José II da Austria
Fonte: http://www.mundo-
vestibular.com.br/arti-
cles/6144/1/Iluminismo/
Paacutegina1.html
Acesso em: 16 de maio de
2011
Figura 14: Retrato do Conde de Aranda
Fonte:http://faculty-staff.ou.edu/L/A-Robert.R.Lauer-1/
BIBJovellanos. html. Acesso em: 16 de maio de 2011
◄
24. 24
UAB/Unimontes - 6º Período
1.3.5 O Despotismo esclarecido do Marquês de Pombal em Portugal
Em Portugal, o Marquês de Pombal, mi-
nistro do rei Dom José I, realizou importantes
reformas, muitas delas se estendendo até as
colônias. As reformas implementadas pelo
Marquês abrangeram praticamente quase
todos os setores da vida política, social e eco-
nômica da sociedade portuguesa, apoiando o
comércio e a indústria, através da criação de
Companhias que detinham o monopólio co-
mercial nas colônias. Acrescenta-se a isso, o
fato de ter expulsado os jesuítas do Brasil e de
Portugal, fortalecendo a autoridade do poder
real. Promoveu a reconstrução da capital, Lis-
boa, que havia sido destruída por um terremo-
to em 1755. Iniciou a modernização do ensino,
criou bibliotecas e a imprensa régia.
No âmbito econômico, as Companhias
privilegiadas de comércio – além de uma
Junta de comércio – criadas em 1755, eram
compostas por representantes de grandes
casas comerciais e tinham o objetivo de con-
ceder empréstimos para o desenvolvimento
de produtos manufaturados. As Companhias
de Comércio criadas, na América portuguesa,
compreendiam as Companhias do Estado do
Grão-Pará e Maranhão em 1755, da pesca das
baleias em 1756 e a de Pernambuco e Paraíba,
no ano de 1759. Até mesmo na Ásia foi criada
uma Companhia, em 1753. O reino também
assistiu a criação de sua Companhia Geral da
Agricultura das Vinhas do Alto Douro em 1756.
Uma importante medida tomada por
Pombal foi a supressão dos estigmas de san-
gue que repousavam sobre os chamados cris-
tãos-novos. A origem desse estigma remonta
ao ano de 1497, quando os descendentes de
judeus portugueses, para não serem expulsos
do reino, tiveram que se converter obrigato-
riamente ao cristianismo, ficando conhecidos
como “cristãos-novos”. Isto os impedia de ocu-
par cargos e de terem acesso a certos benefí-
cios. A medida adotada durante o consulado
Pombalino, entretanto, não fora fortuita, mas
visava atrair capitais de judeus dispostos a in-
vestirem nas Companhias de Comércio.
Também foram realizadas reformas no
plano militar, no ano de 1763. Foi introduzido
um modelo militar de inspiração prussiana,
afastando assim as técnicas e estratégias dos
exércitos da Áustria, Rússia e França, já en-
tão vistos como ultrapassados. No reino, as
reformas foram levadas a cabo pelo Conde
Schaumburg-Lippe Buckeburg e não estavam
destituídas de influência da Guerra dos Sete
Anos (1756-1763) (WELHLING e WELHLING,
1999, p. 317)
Na América, as reformas militares ficaram
a cargo do Tenente-General austríaco João
Henrique Bohm. As reformas militares tinham
também o objetivo de reforçar os domínios
coloniais, diante do assédio das potências es-
trangeiras. Para essa tarefa em especial foi
deslocado para o Brasil o sueco especialista
em fortificações, Jacques Funck (BOSCHI, 2002,
p. 90; MAXWELL, 1996). Um aspecto bastante
acentuado do período pombalino, ou mesmo,
das monarquias dos séculos XVII e XVIII na Eu-
ropa, diz respeito à orientação da política eco-
nômica conhecida como “mercantilismo”, que
poderia ser ligeiramente definida como a in-
tervenção do Estado na economia com vistas
a assegurar “proteção, da moeda e dos esto-
ques de metais preciosos, proteção da produ-
ção, encorajamento e favores” (DEYON, 1973, 30).
A forte intervenção do Estado na economia visa-
va garantir uma rigorosa política de monopólios
e controle fiscal, seguida do princípio de que o
acúmulo de metais preciosos constituía uma po-
derosa fonte de enriquecimento e ainda acom-
panhada da busca desmesurada pela balança
comercial positiva, ou seja, exportar mais do que
importar (VAINFAS, 2000, p. 392).
▲
Figura 15: Déspota
esclarecido Marquês de
Pombal
Fonte: http://cphistoria.
blogspot.com/
Acesso em: 16 de maio de
2011
25. 25
História - História Moderna II
Dessas orientações, sobrelevava-se o
princípio da balança comercial favorável que
“ditava os outros aspectos da política mercan-
tilista” (DEYON, 1973, p. 30).
Em outras palavras, o Estado deveria con-
duzir a economia de modo a favorecer as ex-
portações, controlar ou proibir a importação
de produtos manufaturados a fim de obter um
saldo positivo na balança comercial, porém
deveria haver o incentivo a importação de ma-
térias primas (FALCON, 1982, p. 89).
O mercantilismo constituiu, desse modo,
um instrumento de geração de riquezas, e
nesse ínterim o fiscalismo “opera na realidade
como um mecanismo de transferência de ren-
das dos setores mais produtivos e dinâmico da
sociedade para aqueles setores mais retarda-
tários ou estagnados.” (FALCON, 1982).
Apesar do fisco se apresentar quase sem-
pre com a sua face mais perversa de extrator
de rendas por meio da tributação, importante
salientar também outro aspecto que decerto
pouca oposição despertou que é o incentivo
ao desenvolvimento industrial.
Em relação ao princípio da balança co-
mercial favorável, um dos aspectos mais cen-
trais do mercantilismo, não deve ser, entre-
tanto, sobrevalorizado, pois, quando se trata
da importação de matérias primas, deve haver
o incentivo por parte do Estado. O princípio
puro e simples, por vezes obstinado, da ba-
lança comercial favorável a todo custo, deu
origem a um certo “mito”, conforme assinalou
Francisco Falcon, não sendo bem entendido
por alguns estudiosos (FALCON, 1982).
1.3.6 O Despotismo esclarecido: limites e alcances
Como podemos perceber através, destes
exemplos, caros acadêmicos, o Despotismo
Esclarecido foi mesmo uma tentativa de al-
guns monarcas empreenderem determina-
das reformas que conduzissem seus reinos e
impérios a modernidade, sem, contudo, per-
derem seu poder. Muito pelo contrário, ape-
sar de influenciados por certos ideais ilumi-
nistas, conseguiram fortalecer a monarquia
e até mesmo seu poder pessoal.
Não se pode negar que muitas das refor-
mas implementadas pelos déspotas esclareci-
dos não tenham levado a progressos, princi-
palmente, no que diz respeito à modernização
e a secularização das sociedades em questão.
Muitos obstáculos relacionados à estrutura
arcaica do antigo regime funcionaram como
atenuantes das reformas. No campo agrícola,
por exemplo, as mudanças foram muito limi-
tadas, pois os soberanos tiveram que conciliar
suas políticas com os interesses aristocráticos
vigentes. Até mesmo as mudanças na esfera
jurídica, tiveram um tímido efeito, pois os reis
tinham que levar em consideração, na elabo-
ração dos códigos de leis, as ameaças advin-
das de o seu próprio poder, decorrentes da
adoção de uma legislação moderna. Como
Decuzzi concluiu, na verdade, o Despotismo Escla-
recido foi apenas uma tentativa, porém de sucesso
duvidoso de se restaurar o poder e o prestígio da
instituição monárquica, já então em um processo
dedecadência(DECUZZI,2009,p.20-31).
1.4 Referências
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Paulo: Brasiliense, 1989.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filoso-
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BOSCHI, Caio César. Administração e administradores no Brasil pombalino: os governadores
da Capitania de Minas Gerais. In: Tempo. Dossiê: Política e Administração no Mundo Luso Brasilei-
ro. Tempo, Universidade Federal Fluminense, Departamento de Historia da UFF. Vol. 7, nº 13, Jul.
Rio de Janeiro: Sette Letras, 2002.
BURKE, Peter. Uma História Social do Conhecimento: de Gutemberg a Diderot. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2003.
DECUZZI, Caio Rabello. A luz dos ideais: O Despotismo Esclarecido como plano político. Revista
de Intenção e Debate Acadêmico. Ano 1, nº 1, p. 20-31, julho de 2009.
26. 26
UAB/Unimontes - 6º Período
DEYON, Pierre. O Mercantilismo. São Paulo: Perspectiva: 1973.
FALCON, Francisco José Calazans. Iluminismo. 4ª ed. São Paulo: Ática, 2004.
FALCON, Francisco José Calazans. A época pombalina. (Política Econômica e Monarquia Ilustra-
da). São Paulo: Ática, 1982.
FORTES, Luiz Roberto Salinas. O Iluminismo e os Reis Filósofos. 2ª ed. São Paulo: Brasiliense,
1982.
MAXWELL, Kenneth. Marquês de Pombal: paradoxo do Iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1996.
PEREIRA, Miguel Baptista. Iluminismo e secularização. Revista de História das Idéias. O mar-
quês de Pombal e o seu tempo. Universidade de Coimbra 4 (2): 439-500, 1982/1983. Coordenado
por Luis Reis Torgal e Isabel Vargues.
REMOND, René. Introdução à História de Nosso Tempo. São Paulo: Cultrix, 1986.
VAINFAS, Ronaldo. Mercantilismo. In: VAINFAS, Ronaldo (dir.). Dicionário do Brasil Colonial (1500-
1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
VENTURI, Franco. Utopia e reforma no iluminismo. Tradução de Modesto Florenzano. São Pau-
lo: Edusc, 2003.
WELHLING, Arno e WELHLING, Maria José. Formação do Brasil Colonial. 3 ed. rev. e ampl. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
27. 27
História - História Moderna II
Unidade 2
A Revolução Industrial
2.1 Introdução
Ao se iniciar a discussão sobre a Revolução Industrial é bastante oportuno tomar as palavras
de um dos seus principais estudiosos,
“... a certa altura da década de 1780, e pela primeira vez na história da huma-
nidade, foram retirados os grilhões do poder produtivo das sociedades huma-
nas, que daí em diante se tornaram capazes da multiplicação rápida, constante,
e até o presente ilimitada, de homens, mercadorias e serviços.” (HOBSBAWM,
1977, p. 44).
Neste tópico serão discutidas questões de ordem conceitual em relação à Revolução Indus-
trial, suas fases e origens.
Figura 16: Vista de
Fábricas inglesas
no transcorrer da
Revolução Industrial
Fonte: http://ojornal2.
blogspot.com/2008/04/
revoluo-industrial.html
Acesso em: 14/05/2011.
▼
28. 28
UAB/Unimontes - 6º Período
2.2 A Revolução Industrial e seu
Significado
A Revolução Industrial não deve ser entendida como um acontecimento encerrado em si
mesmo, mas precisa ser inserida dentro de um processo mais amplo que é o processo de forma-
ção do sistema Capitalista, como procurou salientar José Jobson de Andrade Arruda:
... a Revolução Industrial é a culminância de um processo secular, com suas raí-
zes fundidas na crise do sistema feudal, que consolida o modo de produção ca-
pitalista, instaurando um sistema econômico-social, com sua forma peculiar de
Estado e ideologia específica. No momento da Revolução Industrial, cristaliza-
-se o capitalismo e é nesta perspectiva que procuraremos delinear a eclosão da
sociedade industrial, de modo a estabelecermos uma relação dialética entre a
Revolução Industrial e o capitalismo. (ARRUDA, 1994, p. 8)
A Revolução Industrial poderia ser definida como a “criação de um ‘sistema fabril’ mecani-
zado que por sua vez produz em quantidades tão grandes e a um custo tão rapidamente decres-
cente a ponto de não mais depender da demanda existente, mas de criar o seu próprio mercado”
(HOBSBAWM, 1977, p. 44)
Figura 17: Interior de
fábrica em que se
explora o trabalho
infantil
Fonte: http://queilaferraz.
fashionbubbles.com/tag/
revolucao-industrial/
Acesso: 14/05/2011
►
29. 29
História - História Moderna II
2.3 Fases da Revolução Industrial
Procurando situar cronologicamente esse
importante acontecimento, em seu sentido
mais essencial, a “Revolução Industrial verifica-
-se na segunda metade do século XVIII, na Grã-
-Bretanha, divulgando-se no continente e no
mundo nos séculos seguintes e desdobrando-se
na riqueza de seus inventos.”(IGLÉSIAS,1981,p.16)
A Revolução Industrial passou por fases
e, normalmente, tem sido dividida da seguin-
te forma: a Primeira Revolução Industrial, que
compreende o final do século XVIII e o iní-
cio do século XIX, com predomínio do uso da
máquina a vapor e do carvão mineral como
fontes de energia, a Segunda Revolução In-
dustrial, compreendida no final do século XIX,
em que predominou a utilização do motor à
explosão e da energia elétrica para alimenta-
rem as fábricas. Por fim, fala-se ainda em uma
Terceira Revolução Industrial, ainda em curso,
marcada pelo uso da energia atômica, não
sendo raro ser caracterizada de Revolução
Cibernética, em razão da difusão no uso dos
computadores (ARRUDA, 1994, p. 20).
Muitos historiadores tenderam a identi-
ficar o começo da Revolução Industrial com a
década de 1760, a exemplo de Paul Mantoux
(MANTOUX, 1962, p. 21). Todavia outros estu-
diosos apontaram a década de 1780, já que
foi aí que todos os índices estatísticos econô-
micos importantes deram um salto vertigi-
noso (HOBSBAWM, 1977, p. 44). Hobsbawm,
defensor dessa ideia, se justifica: “... trans-
formação rápida, fundamental e qualitativa
que se deu por volta da década de 1780...”
(HOBSBAWM, 1977, p. 45).
Para este historiador, a Revolução Indus-
trial começou na década de 1780 e se fecha
com a construção das ferrovias e da indústria
pesada na Grã-Bretanha na década de 1840.
A partida, ou “take-off”, para usar a ter-
minologia em inglês, da Revolução Industrial,
principalmente a sua primeira fase, com exati-
dão, pode ser situada mais precisamente nos
20 anos que compreende de 1780 a 1800. Essa
Revolução foi contemporânea, portanto, da
Revolução Francesa (HOBSBAWM, 1977, p. 45).
2.4 Alguns Antecedentes
Históricos
A Inglaterra, em princípios do século XVII, era um país predominantemente rural, a maioria
da população residia no campo. Vivia-se basicamente do cultivo de gêneros de primeira neces-
sidade, da criação de ovelhas para o aproveitamento da lã e confecção de tecidos. Praticamente
não existia comércio entre as diversas comunidades que integravam essa estrutura econômica,
ainda de traços marcadamente feudais.
Dicas
Assista ao filme Barry
Lyndon com a direção
de Stanley Bubrik. O
filme Barry Lyndon, de
1975 (183 min.), retrata
bem a vida inglesa no
século XVIII. Século
em que se verificou
a Primeira Revolução
Industrial.
Depois escreva uma
crítica sobre a situação
social que a revolução
industrial gerou na
Inglaterra.
ATIVIDADES
Quando uma deter-
minada invenção traz
por conseqüência a
extinção de empregos,
você é a favor de que
essa inovação não seja
utilizada? Qual a sua
opinião?
◄ Figura 18: Cercamentos
ingleses: movimento
que expulsou mão de
obra do campo para as
fábricas do perímetro
urbano.
Fonte: http://www.
portalsaofrancisco.com.
br/alfa/revolucao-inglesa/
revolucao-inglesa4.php
Acesso em: 14/05/2011
30. 30
UAB/Unimontes - 6º Período
Até meados do século XVII, na Inglaterra, o Rei exercia efetivamente o poder juntamente
com a aristocracia. Após a Revolução de 1640, o poder passou para as mãos da gentry (nobres e
grandes proprietários de terras), que se identificava com os grupos de mercadores.
Logo após a Revolução, os grupos mercantis, que grosso modo, poderiam ser designados de
“burguesia”, não foram imediatamente alçados ao poder político, mas passaram a exercê-lo por
intermédio dos nobres proprietários.
Como a Revolução Inglesa de 1640 houve a imposição de limites ao poder do Parlamento,
e o confisco de propriedades régias (ARRUDA, 1994, p. 33-34), o que teve grandes implicações,
como será possível ver mais adiante.
A Revolução Industrial do século XVIII é, portanto, herdeira direta da Revolução Inglesa do
século XVII, pois criou as condições básicas para que a indústria pudesse se desenvolver e possi-
bilitou um novo grupo ter maior acesso ao poder (ARRUDA, 1994, p. 8).
2.5 Fatores do Pioneirismo Inglês
O pioneirismo britânico não se deveu
à superioridade tecnológica e científica. No
campo da física e da matemática, por exem-
plo, os franceses estavam muito à frente. Na
França, chegou a ser fabricado um tear mais
complexo que qualquer um que pudesse
existir na Inglaterra. Os franceses ainda con-
seguiam construir melhores navios. Mais tar-
de, com a Revolução Francesa, vai haver um
incentivo a criação e difusão de Escolas Poli-
técnicas. Na Alemanha, também havia institui-
ções voltadas para o treinamento técnico.
Estes exemplos atestam a defasagem da edu-
cação na Inglaterra em relação aos outros países da
Europa, chegando, por essa razão, a ser caracteriza-
da como “uma piada de mau gosto”. Apesar desse
atraso, isto não significou desvantagem para os
ingleses já que “poucos refinamentos intelectuais
foram necessários para se fazer a revolução indus-
trial”(HOBSBAWM,1977,p.45-46).
Após a Revolução de 1640, que teve
como resultado a execução de um rei, a ques-
tão do desenvolvimento econômico se tornou
uma política governamental. A Revolução, que
assegurou maior poder a “burguesia”, possi-
bilitou que grupos financeiros chegassem ao
poder. Com isso, “A política estava atrelada ao
lucro”, e “O dinheiro não só falava como gover-
nava” (HOBSBAWM, 1977, p. 47). As transfor-
mações que tiveram lugar no campo, também
constituíram um fator decisivo para o pionei-
rismo inglês.
Após a Revolução de 1640, que também
produziu como resultado a expropriação fun-
diária, proprietários com espírito comercial
passaram a dominar a terra, que era cultivada
por arrendatários e pequenos agricultores.
Com isso, não houve mais na Inglaterra um
campesinato. As atividades agrícolas estavam
voltadas para o mercado.
Os Enclousure Acts, mais conhecido como
a “Lei dos Cercamentos”, terminaram por ex-
pulsar os camponeses para as cidades para
trabalharem nas fábricas, constituindo, ao
mesmo tempo, mão de obra e mercado con-
sumidor nas cidades. A agricultura, trabalhada
com técnicas mais intensivas, fornecia alimen-
tos para os centros urbanos.
Paralelo a todas essas transformações,
também houve a criação de uma infraestrutu-
ra de portos, estradas e vias navegáveis. Tudo
isso servia para integrar mais a produção e ex-
pandir o mercado.
Nessa primeira fase da Revolução, o se-
tor da economia que mais se desenvolveu
foi o do algodão.
PARA REFLETIR
A rigor, a burguesia só
passará a exercer o po-
der político diretamen-
te após 1832, ou seja,
quando a Revolução
Industrial já começa a
entrar em sua segunda
fase. (ARRUDA, 1994)
Figura 19: Máquina de
fiar. Este objeto foi o
propulsor da Revolução
Industrial.
Fonte: http://queilaferraz.
fashionbubbles.com/
historia-da-moda/design-
-de-moda-evolucao-
-industria-moda/
Acesso em: 14/05/2011
►
31. 31
História - História Moderna II
A indústria algodoeira britânica, principalmente da região de Lancashire, conseguiu flores-
cer graças à proibição de importação dos tecidos indianos, que eram de longe muito superiores
em qualidade aos britânicos. Era com os panos da Índia que se alimentava o comércio de escra-
vos em certos lugares da África, mas quando, por qualquer motivo, esse comércio era interrom-
pido, os grosseiros tecidos ingleses ganhavam espaço. Durante a Revolução Industrial, “a escravi-
dão e o algodão marcharam juntos” (HOBSBAWM, 1977, p. 49-50).
As maiores oportunidades de expansão da indústria algodoeira estavam no comércio ultra-
marino. A indústria algodoeira foi estimulada pelo comércio colonial que possibilitou uma ex-
pansão ilimitada capaz de atrair os empresários a se lançarem na indústria.
“O algodão, portanto, fornecia possibilidades suficientemente astronômicas para tentar os
empresários privados a se lançarem na aventura da revolução industrial e também uma expan-
são suficientemente rápida para torná-la uma exigência”. (HOBSBAWM, 1977, p. 52)
Os custos de montagem de uma pequena
indústria eram relativamente pequenos e as
máquinas eram proporcionalmente baratas.
Além do mais, o “sistema doméstico”, ou ”put-
ting out system”, constituía uma forma de ex-
pansão da indústria, (HOBSBAWM, 1977, p. 53).
A Inglaterra conseguiu monopolizar o co-
mércio por meio das guerras e se tornou he-
gemônica depois delas.
“Em termos de vendas, a revolução indus-
trial pode ser descrita, com a exceção dos pri-
meiros anos da década de 1780, como a vitória
do mercado exportador sobre o doméstico...”
(HOBSBAWM, 1977, p. 51).
A América Espanhola e Portuguesa se
tornaram especialmente dependentes da In-
glaterra, era um dos maiores mercados dos
grosseiros tecidos ingleses. A Índia foi “desin-
dustrializada”, “passou de exportador a merca-
do para os produtos de algodão” da Inglaterra.
“Era um grande marco na história mundial”
(HOBSBAWM, 1977, p. 51).
Dicas
Assista ao filme “Oliver
Twist” com a direção de
Roman Polansky. O filme
de 2005 (130 min.) conta
a história de um menino
(Oliver Twist) que, em
meio a muitos outros, so-
fre com as consequências
da industrialização na In-
glaterra. Depois, descreva
em poucas palavras como
era o cotidiano infantil
em meio à Revolução
Industrial.
▲
Figura 20: Ideia de
produção algodoeira na
época de 1760.
Fonte: http://a7mi-
dia.com.br/noticias/
conheca_a_historia_do_
algodao-2489.html
Acesso em: 14/05/2011
32. 32
UAB/Unimontes - 6º Período
2.6. Nova fase da Revolução
Industrial: o surgimento das
ferrovias
Outra importante transformação que se assistiu na Revolução Industrial foi no setor de mi-
neração. Isto porque qualquer país que queira se industrializar, mesmo nos dias atuais, não con-
seguiria levar a efeito essa tarefa de mais maneira autônoma, sem desenvolver as chamadas in-
dústrias de bens de capital. Estas também são chamadas de indústrias pesadas, isto em razão
de que são indústrias que fabricam indústrias, ou seja, são unidades de produção industrial que
fabricam máquinas ou materiais, como ferro e aço, que servirão para o desenvolvimento de ou-
tras indústrias.
Esse tipo de indústria (a indústria de
bens de capital), naturalmente não é como
as fábricas de algodão. Enquanto estas exi-
gem recursos bem menores, aquelas exigem
investimentos bem mais altos.
Como então, atrair investimentos para
esse setor tão dispendioso?
Primeiramente, deve-se observar que a
Inglaterra contava com reservas de carvão mi-
neral bastante abundantes em seu território.
Além do mais, o carvão inglês era de excelente
qualidade e apresentava a enorme vantagem
de ser ao mesmo tempo matéria-prima, para
a fabricação do ferro, e servir também como
fonte de energia para os fornos das indústrias.
A exploração do carvão existia na Inglaterra
desde o século XVI e no século XVIII era um se-
tor que se encontrava já bastante desenvolvi-
do. Durante a Revolução Industrial, este ramo da
indústria inglesa não passou por nenhuma trans-
formação revolucionária, foram antes melhorias.
Mesmo que desse ponto de vista (das ino-
vações técnicas), a exploração do carvão não
forneceu nenhuma contribuição significativa, foi
a partir da indústria mineral que houve uma das
maiores contribuições da revolução industrial,
que foi com o aparecimento da ferrovia. O surgi-
mento dessas modernas e poderosas máquinas
iria inaugurar uma nova fase da revolução indus-
trial, ou iria mesmo se confundir com ela.
▲
Figura 21: Mineradores
saindo da mina de
carvão
Fonte: http://namorados-
dosapo.17.forumer.com/a/
geologia-o-estudo-da-
-terra_post548-150.html
Acesso em: 14/05/2011
33. 33
História - História Moderna II
A origem das ferrovias está intimamen-
te relacionada com a exploração das minas
de carvão: isto por que logo se percebeu que
os carrinhos, que retiravam o carvão das pro-
fundezas das minas, poderiam ser puxados
por máquinas. Daí desenvolverem-se máqui-
nas que poderiam se locomover, foi um outro
avanço importante. Como, nesse período, os
custos de transporte eram altíssimos, as loco-
motivas passaram a ser usadas para a condu-
ção de minerais a distâncias cada vez maiores
e a um custo cada vez mais reduzido. “Tecno-
logicamente, a ferrovia é filha das minas e es-
pecialmente das minas de carvão do norte da
Inglaterra.” (HOBSBAWM, 1977, p. 61)
Aliado a todos esses fatores, uma outra
questão que merece ser colocada é que a fer-
rovia não deixava de alimentar o imaginário
das populações que se beneficiavam dela e
também daquelas que gostariam de ter o seu
benefício: “Nenhuma outra da revolução in-
dustrial incendiou tanto a imaginação quanto
a ferrovia, como testemunha o fato de ter sido
o único produto da industrialização do século
XIX totalmente absorvido pela imagística da
poesia erudita e popular.” (HOBSBAWM, 1977,
p. 61)
Apesar dos altos custos de investimento,
as ferrovias apresentavam enormes vanta-
gens. Entre elas, estava a de integrar merca-
dos e países isolados, a redução dos custos de
transporte, entre várias outras.
Nesse sentido é que se deve considerar
que apesar de o desenvolvimento da indústria
mineral não ter causado grande impacto sob o
ponto de vista das inovações técnicas – foram
antes melhoramentos, que transformações
revolucionárias, como se disse em linhas atrás
– a ferrovia acabou causando transformações
tão profundas quanto à indústria algodoeira.
Não se pode descartar uma certa dose de
paixão dos investidores em canalizar seus re-
cursos em um setor que exigia uma soma con-
siderável de dinheiro. Aqueles que “...coloca-
ram seu dinheiro nos altíssimos investimentos
exigidos até por metalúrgicas bem modestas
(em comparação com enormes engenhos de
algodão) são antes especuladores, aventurei-
ros e sonhadores do que verdadeiros homens
de negócios.” (HOBSBAWM, 1977, p. 59)
Uma explicação para a rápida expansão
daquele setor na Inglaterra Vitoriana (1837-
1901) também deve ser buscada “... na paixão
aparentemente irracional com que os homens
e os investidores atiraram-se à construção de
ferrovias.” (HOBSBAWM, 1977, p. 62)
Esse tipo de empreendimento, apesar de
extremamente dispendioso, não deixava de
ser menos atrativo que outros ramos da indús-
tria inglesa.
Estas explosões de investimentos parecem irracionais, porque de fato poucas
ferrovias eram mais lucrativas para o investidor do que para outras formas de
empresa, a maioria produzia lucros bem modestos e muitas vezes nem chega-
vam a dar lucro... (HOBSBAWM, 1977, p. 62)
O que explicava então a parcimônia dos lucros e a disposição dos industriais ingleses em
investir pesadamente em um setor pouco atrativo, sob o ponto de vista financeiro?
Por que? O fato fundamental na Grã-Bretanha nas primeiras duas gerações da
revolução industrial foi que as classes ricas acumulavam renda tão rapidamen-
te e em tão grandes quantidades que excediam todas as possibilidades dispo-
níveis de gasto e investimento. (HOBSBAWM, p. 62)
Havia, portanto, uma disponibilidade de capitais na Inglaterra de então. Esses recursos fo-
ram acumulados graças aos vultosos lucros da indústria algodoeira e estavam agora sendo ca-
nalizados para a ferrovia. É possível intuir que caso essa grande soma de recursos disponível não
fosse investida, aí sim a economia britânica poderia entrar em uma crise irremediável. O desen-
volvimento da ferrovia foi providencial e “de fato, sob um ponto de vista econômico, seu grande
custo era sua principal vantagem.” (HOBSBAWM, 1977, p. 61)
As indústrias existentes, por exemplo, tinham se tornado demasiadamente
▲
Figura 22: O símbolo da
Revolução Industrial: a
Locomotiva
Fonte: http://rauha-
nahistoria.blogspot.
com/2010_03_01_archive.
html
Acesso em: 14/05/2011
34. 34
UAB/Unimontes - 6º Período
baratas para absorver mais que uma porção do excedente disponível para in-
vestimento; mesmo supondo que o tamanho da indústria algodoeira fosse du-
plicado, o custo do capital absorveria só uma parte dele. Era necessário uma
esponja bastante grande para absorver tudo. (HOBSBAWM, 1977, p. 63)
Não há, desse modo, uma única causa que explique o desenvolvimento e prosperidade do
setor ferroviário na Inglaterra. A abundância de recursos minerais, uma certa desenvoltura dos
empreendedores britânicos e, principalmente, a disponibilidade de recursos, propiciada pelo de-
senvolvimento do setor algodoeiro.
De fato, o capital encontrou as ferrovias, que não podiam ter sido construídas
tão rapidamente e em tão grande escala sem essa torrente de capital, especial-
mente, na década de 1840. Era uma conjuntura feliz, pois de imediato as ferro-
vias resolveram virtualmente todos os problemas de crescimento econômico.
(HOBSBAWM, 1977, p. 64)
Sem a disponibilidade de recursos de nada adiantaria nenhuma das outras condições.
2.7 Consequências Sociais da
Revolução Industrial: o Movimento
Operário
Por volta das décadas de 1830 e 1840, a economia britânica, impulsionada pela indústria al-
godoeira, começava a dar seus sinais de crise. A queda no crescimento econômico teve consequ-
ências mais sérias, sobretudo, nos grupos menos favorecidos. Muitos passaram a viver em verda-
deira situação de miséria. As péssimas condições de vida, em que muitos operários passaram a
viver, aliadas as degradantes condições de trabalho nas fábricas, fizeram com que estourassem
um dos mais importantes movimentos sociais que tiveram lugar na Grã-Bretanha, no século
XIX, foi o surgimento do movimento operário. Sobre o assunto, o importante historiador inglês
Edward P. Thompson dedicou obra decisiva: A Formação da Classe Operária Inglesa.
É enganoso pensar, no entanto, que eram apenas os trabalhadores pobres que participa-
vam desses movimentos. Pequenos comerciantes e mesmo setores da burguesia, que sentiam os
efeitos da industrialização, também tiveram atuação nesses protestos. Fazendeiros e homens de
negócio simpatizavam com os movimentos dos trabalhadores.
O que diferenciava a atuação dos grupos mais favorecidos, em relação aos operários, é que
estes tinham uma atuação mais direta e reagiam contundentemente às condições de vida e de
trabalho que lhes eram impostas. Eles invadiam as fábricas e quebravam as máquinas que consi-
deravam ser a fonte de todos os seus males – e principalmente de desemprego. Um dos líderes,
ou talvez, o pioneiro desses movimentos chamava-se Ned, ou King Ludd, daí a origem do nome
do movimento: Ludita.
A fúria dos trabalhadores era voltada tanto para as máquinas, e seus inventores, quanto
para os seus patrões. (HOBSBAWM, 1977, p. 55)
A Revolução Industrial foi importante também para o surgimento de uma sociedade de
classes, justamente no período em que ocorre a chamada Primeira Revolução Industrial, no mo-
mento que compreende o aparecimento das ferrovias.
Nos anos 1780 e 1832, os trabalhadores ingleses em sua maioria vieram a sen-
tir uma identidade de interesses entre si, e contra seus dirigentes e emprega-
dores. Essa classe dirigente estava ela própria dividida, e de fato só conseguiu
maior coesão nesses mesmos anos porque certos antagonismos se dissolve-
ram (ou se tornaram relativamente insignificantes) frente a uma classe operária
insurgente. Portanto, a presença operária foi, em 1832, o fator mais significati-
vo da vida política britânica. (THOMPSON, 1987, p. 12)
Dicas
Assista ao filme “Tem-
pos Modernos” de 1936
(87min). O filme que
talvez tenha retratado
as consequências da
industrialização de ma-
neira mais fiel. Tempos
Modernos é também
considerado um
clássico da história do
cinema. Charles Cha-
plin com seu incrível
personagem Carlitos
dirige e atua no filme
que mostra as implica-
ções de uma sociedade
industrializada com a
super-exploração da
classe trabalhadora,
a miséria, a criminali-
dade. Para uma ação
prática, elabore um
plano de aula que
utilize o filme Tempos
Modernos como ponto
central de debate.
Atividades:
As constantes ino-
vações que houve
durante a Revolução
Industrial acabaram
retirando o emprego
de muita gente e, por
esse motivo, muitos
operários acabaram
se revoltando. Com
algumas diferenças,
esta é uma realidade
que ainda se verifica
nos dias de hoje. Reflita
se as inovações que
ameaça o emprego dos
trabalhadores devem
ser deixadas de lado
ou, independentemen-
te disso, devem ser
sempre incentivadas.
Qual sua opinião sobre
isso?
35. 35
História - História Moderna II
Thompson prefere o termo classe, a clas-
ses, pois este seria um termo evasivo, já que
reúne diferentes tipos de trabalhadores, em
realidades distintas. Assim, para o autor, não
haveria, por exemplo, uma classe de alfaiates,
uma classe de tecelões, e que juntas forma-
riam as classes trabalhadoras. Em sua defini-
ção: “por classe, entendo um fenômeno histó-
rico, que unifica uma série de acontecimentos
díspares e aparentemente desconectados, tan-
to na matéria-prima da experiência como na
consciência.” (THOMPSON, 1987, p. 9)
Este entendimento se distancia de certas
concepções de estudiosos marxistas que, se-
gundo o autor, interpretaram essa noção erro-
neamente. A classe surge quando alguns ho-
mens, por meio do resultado de experiências
comuns, sentem e articulam a identidade de
seus interesses, contra outros homens cujos
interesses geralmente se opõem.
“A experiência de classe é determinada,
em grande medida, pelas relações de produ-
ção...”. Já outro aspecto, intimamente ligado a
formação da classe é a consciência de classe.
Esta “... é a forma como essas experiências são
tratadas em termos culturais: encarnadas em
tradições, sistemas de valores, idéias e formas
institucionais”. (THOMPSON, 1987, p. 10)
Entretanto, se a experiência é quase tão
determinante para a formação da classe, o
mesmo não se pode considerar em relação
à consciência de classe. É possível enxergar
uma lógica nas reações de diferentes tipos de
trabalhadores, que vivem experiências seme-
lhantes, mas não se pode extrair daí nenhuma
espécie de lei, algo que pudesse definir um
comportamento geral dos trabalhadores em
qualquer parte. “A consciência de classe surge
da mesma forma em tempos e lugares diferen-
tes, mas nunca exatamente da mesma forma”.
(THOMPSON, 1987, p. 10)
2.8 Referências
ARRUDA, José Jobson de Andrade. A Revolução Industrial. 3a
ed. São Paulo: Ática, 1994.
HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções. Europa, 1789-1848. 3a
ed. Tradução de Maria Tereza
Lopes Teixeira e Marcos Penchel. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
IGLÉSIAS, Francisco. A Revolução Industrial. São Paulo: Brasiliense, 1981.
MANTOUX, Paul. La Rivolucion Industrial en el siglo XVIII. Ensayo sobre los comienzos de la
gran industria moderna in Inglaterra. Prefacio de T. S. Ashton. Traucción de Juan Martin. Madrid:
Aguilar, 1962.
THOMPSON, Edward Palmer. A formação da classe operária inglesa. Tradução Claudia Rocha
de Almeida e Renato Busatto Neto. São Paulo: Paz e Terra, 1987, 3vs.
Glossário
Divisão social do
trabalho: A concepção
de Classe, tal como for-
mulada por Thompson,
que valoriza a experi-
ência dos trabalhado-
res, passa pela compre-
ensão da Divisão social
do trabalho. Por esta se
entende o meio como
se distribui o trabalho
nas sociedades, e surge
quando produtores
realizam atividades
específicas em cons-
quência do avanço da
especialização das fun-
ções. Em um exemplo
seria a realização de
determinadas funções
por parte dos trabalha-
dores no interior das
fábricas.
36.
37. 37
História - História Moderna II
Unidade 3
A Revolução Francesa
3.1 Introdução
Esta unidade propõe analisar a Revolução
Francesa como um conjunto de manifestações
de diversos grupos sociais com interesses con-
flitantes. Compreender a crise que desenca-
deou as diversas fases da Revolução tornou-
-se ponto primordial nos estudos dos autores
que se dedicaram ao tema e deste conjunto de
conhecimento proporcionado pela leitura de
historiadores consagrados. Nesta parte do Ca-
derno, pretendemos colaborar na compreen-
são de um dos mais relevantes momentos da
história ocidental.
A Revolução Francesa foi o marco inau-
gural da contemporaneidade cristã ocidental
ao enterrar o Estado absolutista Bourbon. Ao
longo do século XVIII, a economia francesa co-
meçava a trilhar os caminhos do capitalismo
industrial. A burguesia era uma classe social
emergente, próspera, culta, no entanto, des-
provida do poder político. A Revolução teve
como modelo teórico-filosófico, o Iluminismo,
a saber: os princípios de igualdade, liberda-
de fraternidade e justiça, disseminados nas
célebres obras como: A Riqueza das Nações
de Adam Smith, O Espírito das Leis de Montes-
quieu, O Contrato Social de Rousseau e a Gran-
de Enciclopédia, vedete intelectual do movi-
mento das luzes.
No auge da crise que dilacerava as finan-
ças do Estado francês eclodiu uma reação
aristocrática que rechaçou as tentativas da
monarquia em tributá-las. Tal reação coincide
com uma crise social aguda que espoliava as
classes menos favorecidas: operários, artesãos,
camponeses e desempregados que se aliam
a uma oportunista burguesia, provocando
mudanças de proporções imensuráveis e im-
previstas nos destinos da sociedade francesa.
Uma vez iniciado o processo revolucionário
começou a ocorrer uma alternância de mo-
mentos distintos: ora indicava radicalização,
ora moderação. Essa ambiguidade desembo-
cou em uma ditadura liberal burguesa que
consolidou em definitivo as transformações
culturais, econômicas e políticas que perpas-
saram o processo revolucionário.
3.2 A França Pré-Revolucionária
A França Pré-Revolucionária setecentista era o país mais populoso da Europa com cerca de
26 milhões de habitantes, tendo acentuada disparidade demográfica. O século XVIII foi um perí-
odo de considerável prosperidade econômica baseada num pujante comércio colonial, num ar-
tesanato de luxo e, sobretudo, numa agricultura cerealífera que absorvia a grande parte da mão
de obra. Destaca-se também a importância política, econômica e sociocultural de Paris, conside-
rada o grande centro irradiador das ideias iluministas.
3.3 Estruturas Econômicas
A prosperidade econômica francesa no século XVIII decorre das seguintes atividades: o co-
mércio interno e o comércio colonial triangular, o artesanato de luxo, a agricultura comercial e a
metalurgia (carvão-hullha). O comércio interno e o comércio colonial triangular é uma das face-
tas deste desenvolvimento econômico do período em questão. Suas atividades eram voltadas
para a produção de artigos destinados aos mercados coloniais ultramarinos. “... As colônias são,
portanto, um componente essencial da prosperidade francesa, e mais particularmente a fachada
atlântica do Reino”. (TULARD, 1990, p. 19.)
PARA REFLETIR
Com algumas altera-
ções e atualização da
bibliografia, a Unidade
III é baseada no artigo:
VIANA, Airton Fer-
nandes; PORTO, César
Henrique de Queiroz;
OLIVEIRA, Everaldo
Ramos de; VASCONCE-
LOS, Heron Domingos
e PEREIRA, Laurindo
Mékie. A Revolução
Industrial. Cadernos
de História: Caminhos
de História/Departa-
mento de História da
Universidade Estadual
de Montes Claros.
Volume 3 - número 3
(1998) - Montes Claros:
Unimontes, p. 29-51.
Dicas
Assista ao filme
“Ligações Perigosas”.
O filme retrata uma
história cheia de
sedução e interesse
entre os membros da
alta nobreza francesa.
Trata-se de uma adap-
tação de um clássico
da literatura francesa
“Ligações perigosas”
de Pierre Choderlos de
Laclos. Todos os acon-
tecimentos se passam
na França revolucio-
nária do século XVIII.
Direção de Stephen
Frears, 1988 (119 min.)
Comente sobre a vida
social da aristocracia as
vésperas da Revolução
Francesas.
38. 38
UAB/Unimontes - 6º Período
As colônias francesas – Antilhas, Feitorias das Índias, Guiana e Ilha de Gorée no Senegal –
forneciam açúcar, algodão, café e o índigo (corante usado pelas tinturarias metropolitanas) e
consumiam produtos manufaturados. Tal processo evidencia o caráter mercantilista da econo-
mia francesa, uma nítida analogia com os casos de colonização luso-brasileira e a colonização
espanhola no restante da América Latina. Consequentemente existia uma burguesia comercial
monopolista que juntamente com a Realeza se apropriavam dos lucros oriundos da exploração
colonial. Analisando este aspecto modesto Florenzano afirma:
Figura 23: O comércio
de artigos de luxo
era uma das mais
rentáveis fontes de
riqueza na França do
final do século XVIII.
Na pintura acima, a
rainha Maria Antonieta,
em 1783, decapitada
na guilhotina pelos
revolucionários
franceses em 1789.
Fonte: http://www.
rodadamoda.com/post.
php?id_post=158
Acesso em: 05/04/2011.
39. 39
História - História Moderna II
(...) foi também um instrumento por excelência da chamada acumulação pri-
mitiva de capital, sem a qual não se teria criado as condições que mais tarde
permitiriam a Revolução Industrial e a consolidação do Modo de Produção Ca-
pitalista. (FLORENZANO, 1994, p. 18.)
O comércio triangular consistia na saída de produtos manufaturados – tecidos e adornos –
da metrópole em direção ao litoral africano onde eram permutados por escravos e seguiam para
São Domingos, local em que os negros representavam à mola propulsora da produção açuca-
reira. Posteriormente, os navios seguiam abarrotados do açúcar antilhano para ser refinado na
França e, por conseguinte, contribuir no aquecimento do comércio interno. A essência de o co-
mércio triangular era, pois, usufruir ao máximo os recursos das embarcações, evitando qualquer
viagem ou incursão marítima com navios ociosos. Vale dizer que este comércio externo poderia
ser bem mais valioso não fosse a derrota francesa na Guerra dos Sete Anos (1756-1763), cuja con-
sequência mais grave foi a perda de colônias para a Inglaterra, como o Canadá e algumas pos-
sessões no subcontinente indiano: “(...) a guerra dos Sete Anos (...) foi ruinosa para os interesses
mercantis e capitalistas da França (...)”. (FLORENZANO, 1994, p. 31.)
O comércio interno foi estimulado pelo
incipiente processo de industrialização, pelo
bem sucedido comércio colonial triangular,
pelo desenvolvimento da metalurgia em fun-
ção da abundância de hulha e ferro e tam-
bém pela obstinada busca de ostentação da
nobreza que consumia grandes quantidades
de artigos de luxo, favorecendo destarte, ao
incremento da indústria têxtil voltada para
vestimentas gerais: “(...) a indústria têxtil há
muito joga um importante papel: seda em
Lyon, algodão em Rouem e Mulhoues, Linho
e cânhamo em Laval, lã em Sedan (...).” (TU-
LARD, 1990, p. 19.)
Embora o comércio e a indústria fossem
componentes relevantes do complexo econô-
mico francês, a agricultura continuava como
a base principal de sustentação da economia
nos fins do século XVIII. A compreensão das
relações de produção estabelecidas na agri-
cultura passa pela definição de elas serem feu-
dais ou capitalistas. Dado o caráter transitório
da vida social, política e econômica deste pe-
ríodo, pode-se dizer que coexistiram práticas
típicas do Feudalismo medieval, como a cor-
véia senhorial, como também uma agricultura
capitalista com mão de obra assalariada, per-
sonificada na figura do jornaleiro e arrendatá-
rio. Abordando essa questão, surgem linhas de
interpretação divergentes.
◄ Figura 24: Imagem
acima ilustra o
comércio triangular no
qual a França estava
plenamente inserida.
Fonte:http://www.
historiabrasileira.com/
files/2010/03/comercio-
-triangular.jpg
Acesso em: 05/04/2011.
40. 40
UAB/Unimontes - 6º Período
Na véspera da Revolução, a França apresentava uma estrutura sócio-econô-
mica agrária e feudal. Agrária porque 80% da população (...) era camponesa.
Feudal, porque a forma pela qual o trabalho era realizado (...) e a maneira pela
qual os senhores se apropriavam do trabalho e do fruto do trabalho produzi-
do pelos camponeses (...) implicavam na manutenção de usos e costumes (o
conjunto das instituições jurídicas) cujas origens remontavam a Idade Média.
(FLORENZANO, 1994, p. 16.)
(...) por sua vez a massa de assalariados – esmagadora maioria da população ru-
ral – comporta de jornaleiros, empregados das fazendas, pastores, debulhado-
res que trabalhavam em granjas, vinhateiros e carreteiros (...). (TULARD, 1990, p.
21.)
Além das categorias citadas no campo ainda existiam outras classes, tais como os meeiros,
pequenos proprietários e arrendatários. De qualquer forma, a despeito de divergências interpre-
tativas do panorama econômico rural francês do antigo regime, podemos concluir, caros aca-
dêmicos, que a agricultura era a principal riqueza do país. No entanto, em sua maioria não era
do tipo capitalista, persistindo ainda usos e costumes feudais em seu seio. Pode-se falar, a partir
de Skocpol, que esta agricultura inibia o desenvolvimento da indústria, pois retardava o apareci-
mento de um mercado consumidor devido ao baixo número de pessoas com rendimentos mé-
dios (SKOCPOL, 1985, p. 66). Conclui-se, então, que o setor dominante agrícola não era do tipo
capitalista e era ainda marcado por muitas sobrevivências do feudalismo.
Apesar destas limitações, a produção agrária francesa se expandiu devido ao bom clima,
à ordem interna e ao crescimento populacional. Além dos produtos de necessidade imediata,
como os alimentos, a agricultura fornecia matéria para as manufaturas urbanas, como, por exem-
plo, o trigo, tabaco, uvas e lúpulo – usado na produção de bebidas.
Figura 25: A
França ainda era
essencialmente rural no
final do século XVIII.
Fonte: http://www.clickes-
colar.com.br/wp-content/
uploads/2010/10/nocoes-
-de-periodizacao.jpg
Acesso em: 06/04/2011
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