SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 9
Baixar para ler offline
Em Torno da Vigência do Socialismo Libertário
Definições de um Companheiro
Gerardo Gatti
Tradução: Martin Russo e Daniel Augusto A. Alves
2009
Projeto de capa: Luiz Carioca
Diagramação: Farrer
Revisão: Felipe Corrêa
(C) Copyleft - É livre, e inclusive incentivada, a reprodução deste livro, para fins
estritamente não comerciais, desde que a fonte seja citada e esta nota incluída.
Faísca Publicações Libertárias
www.editorafaisca.net
faisca@riseup.net
vendasfaisca@riseup.net
Sumário
Em Torno da Vigência do Socialismo Libertário . . . . . . . . . . . . . . 4
Definições de um Companheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Em Torno da Vigência do Socialismo Libertário
Acreditamos ser fundamental, desde já, a afirmação categórica e sem dogmatis-
mos, ampla e sem malabarismos oportunistas, de uma clara ideologia, de uma
ideologia socialista e libertária. Que incorpore com audácia os ensinamentos da
contribuição de cada feito popular; que se manifeste em programas, métodos e
plataforma, em função das condições do local e do tempo em que devemos agir;
aqui e agora.
Reafirmamos tudo aquilo que é válido e vigente do pensamento socialista e
libertário, e da ação do anarquismo revolucionário. A ação direta popular como
método para o combate anticapitalista e a construção socialista. O protagonismo
dos homens e dos povos como fator da história (...), a concepção do socialismo
e da liberdade como duas fases inseparáveis de um único processo de libertação
humana.
(...) A experiência histórica dos últimos tempos dá razão aos questionamen-
tos anarquistas que, desde o século passado, alertam (...) que a liberdade não é
um mero subproduto da abundância material, nem um prescindível preconceito
burguês, que o problema do poder é um problema real e não uma preocupação
de utopistas, que a vasta experiência revolucionária acumulada não pode ser
jogada fora. Essa experiência deve ser assimilada com um sentido criador.
Um movimento político não pode ser uma seita dedicada à guarda de livros
santos onde estão contidas todas as verdades possíveis, ditas de uma só vez e
para sempre. A experiência prática, a história, não se compadece quase nunca
com os textos sagrados.
(...) Não se trata agora, portanto, de trocar um rótulo por outro. Nem de tirar
uma ideologia, como um mágico que tira um coelho da cartola vazia. As ideolo-
gias não surgem de genialidades. Elas se dão em um processo, amadurecem na
história e no tempo, são repensadas, são adequadas às novas realidades (...).
Sim, desenvolvimento criador do muito que está vigente na ampla bagagem
do socialismo, de tudo aquilo que é útil no sentido socialista e libertário, sem o
sectarismo rotineiro que nos cega.
Sim, estudo e compreensão da realidade atual, mundial, latino-americana,
nacional, sobretudo. Para, no meio da luta, fecundar os esquemas doutrinários.
Para adequá-los, para que sirvam na ação (...).
O estudo desta realidade propõe a vigência do federalismo como tendência
progressiva da organização econômica e política socialista. Para garantir uma
participação que seja o mais ampla possível, desde o início, e cada vez mais
ampla do povo na organização e na gestão da vida econômica.
5 Em Torno da Vigência do Socialismo Libertário
Para garantir a mesma participação na direção política local, regional e naci-
onal. Para que a velha promessa igualitária da democracia deixe de ser uma pa-
ródia, um mero slogan manchado pela demagogia mistificadora daqueles que,
em nome da democracia, exercem a exploração e a tirania.
Reafirmamos nesse repensar o sentido humanista, a reivindicação e o exercí-
cio pleno da liberdade que significa o autêntico socialismo.
A experiência histórica acumulou materiais que permitem uma elaboração
mais real e atual dos problemas da Revolução Socialista, elaboração imprescindí-
vel para superar os erros e lacunas de certos esquemas doutrinários que expõem
a atividade revolucionária à esterilidade asséptica ou ao fracasso.
Artigo retirado da publicação En La Calle (OSL Argentina).
Definições de um Companheiro
O poder da burguesia sintetiza-se e funde-se no Estado. Não há possibilidade
de transformar a sociedade sem destruir esse Estado burguês, e como lutamos
por uma sociedade sem classes sociais, queremos que se elimine todo aparato
burocrático do Estado, toda separação entre governantes e governados. Os pri-
vilegiados de todos os tempos e de todos os tipos, horrorizados diante da possi-
bilidade de perder seus privilégios, sempre afirmaram que isto é impossível. Da
mesma forma que antes se afirmava que o mundo era plano ou quadrado.
Nós acreditamos que também no que se refere à administração política da
sociedade, deve-se acabar com a propriedade privada e terminar com esta or-
dem em que uns mandam e outros obedecem. Conselhos e federações de comi-
tês operários, de vizinhos de bairro, comunas ou conselhos rurais de campone-
ses são distintas formas através das quais os trabalhadores vêm se organizando
para defender os processos revolucionários contra a contrarevolução interna ou
a agressão externa, e para administrar, ordenar e conduzir o conjunto da vida so-
cial. A partir destas bases, entendemos que devem estruturar-se os organismos
sociais. Efetivo poder dos trabalhadores, maior gestão direta, menor representa-
ção indireta, nenhum tipo de diferenciação salarial, nenhum tipo de vantagem
ou privilégio. Isso é o que entendemos por poder popular.
Nada disso é algo novo. É por estes ideais que em várias partes do mundo os
trabalhadores fizeram revoluções, celebraram vitórias e sofreram derrotas. E há
mais de um século, homens provenientes da classe operária e outros que, sem
ter esta origem, colocaram-se realmente a seu serviço, organizaram conspira-
ções, redigiram manifestos, juntaram fundos para a causa operária, desenvolve-
ram a solidariedade. Foi-se sintetizando a experiência e os trabalhadores foram
encontrando explicações para suas desgraças.
Sem conhecer esta história, sem ter lido estes livros, ainda sem conhecer es-
tas explicações, em todo o mundo, todos os dias, milhões e milhões de seres
humanos que sofrem a prepotência, querem a igualdade; aqueles que têm fome
desejam comer; os que passam frio e não têm teto querem ter uma casa e um
abrigo; aqueles que sofrem a humilhação buscam fraternidade; aqueles que se
reconhecem ignorantes aspiram a uma escola, pelo menos para seus filhos.
De forma muitas vezes vaga, dando muitas vezes denominações distintas, a
maioria das pessoas que conhece sofrimentos, ditaduras, infelicidades, despo-
tismo, pobreza, aspira ao bem estar, à solidariedade e ao entendimento entre os
humanos.
A origem primeira e a razão de nossa luta não estão em qualquer razão de
7 Definições de um Companheiro
alta política de Estado, ou de governo, de partido ou de organização, de grupo
ou de movimento. Essa origem está na dor e no desejo desta grande humani-
dade, da qual nosso povo é uma parte.
Porque sabemos que o homem é um ser social, queremos que desenvolva sua
capacidade e a coloque a serviço da sociedade; porque queremos que todas as
decisões que digam respeito à sociedade sejam assumidas e resolvidas de forma
social; porque queremos que a riqueza não seja individual ou de alguns poucos,
mas social, de todos, e por isso nos chamamos socialistas.
Porque confiamos mais no acordo que na imposição, mais no conhecimento
que na coerção, mais na liberdade que na autoridade. Por isto somos libertários.
Mas já aprendemos que, às vezes, as denominações são enganosas. Por isso
não nos dedicamos a pregar etiquetas na luta dos oprimidos. Pode haver gente
que, denominando-se de maneira parecida, não saiba bem o que quer, e há tam-
bém quem, com outro nome, ou às vezes até sem saber dar um nome, busca o
mesmo.
A todos os que lutam por estes ideais, sem mesquinharias, à sua maneira e
em sua medida, chamamos companheiros.
Buenos Aires, junho/julho de 1975
Em torno da vigência do socialismo libertário & definições de um companheiro gerardo gatti

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Cadernos Opção Socialista - Edição 1
Cadernos Opção Socialista - Edição 1Cadernos Opção Socialista - Edição 1
Cadernos Opção Socialista - Edição 1Sofia Cavedon
 
Gramsci e Educação - JH Correa y L Ferreira
Gramsci e Educação - JH Correa y L FerreiraGramsci e Educação - JH Correa y L Ferreira
Gramsci e Educação - JH Correa y L FerreiraEUROsociAL II
 
5º Bloco 2 As RevoluçõEs Do SéC. Xx E O Significado HistóRico Ronaldo C...
5º Bloco   2   As RevoluçõEs Do SéC. Xx E O Significado HistóRico   Ronaldo C...5º Bloco   2   As RevoluçõEs Do SéC. Xx E O Significado HistóRico   Ronaldo C...
5º Bloco 2 As RevoluçõEs Do SéC. Xx E O Significado HistóRico Ronaldo C...Wladimir Crippa
 
Capítulo 8 Sociologia
Capítulo 8 Sociologia Capítulo 8 Sociologia
Capítulo 8 Sociologia Miro Santos
 
Necessidade da Organização - Mikhail Bakunin
Necessidade da Organização - Mikhail BakuninNecessidade da Organização - Mikhail Bakunin
Necessidade da Organização - Mikhail BakuninBlackBlocRJ
 
Tese Reconquistar a UNE 51-CONUNE-2009
Tese Reconquistar a UNE 51-CONUNE-2009Tese Reconquistar a UNE 51-CONUNE-2009
Tese Reconquistar a UNE 51-CONUNE-2009Guilherme Ribeiro
 
Florentino de carvalho dois escritos da imprensa anarquista de são paulo
Florentino de carvalho dois escritos da imprensa anarquista de são pauloFlorentino de carvalho dois escritos da imprensa anarquista de são paulo
Florentino de carvalho dois escritos da imprensa anarquista de são paulomoratonoise
 
OS 7 DIAS QUE ABALARAM O BRASIL
OS 7 DIAS QUE ABALARAM O BRASILOS 7 DIAS QUE ABALARAM O BRASIL
OS 7 DIAS QUE ABALARAM O BRASILaugustodefranco .
 
Mario bunge o socialismo existiu alguma vez e tem futuro
Mario bunge   o socialismo existiu alguma vez e tem futuroMario bunge   o socialismo existiu alguma vez e tem futuro
Mario bunge o socialismo existiu alguma vez e tem futurorochamendess82
 
Capítulo 7 sociologia
Capítulo 7   sociologiaCapítulo 7   sociologia
Capítulo 7 sociologiaMiro Santos
 
Errico malatesta a organização ii
Errico malatesta   a organização iiErrico malatesta   a organização ii
Errico malatesta a organização iimoratonoise
 
2 soc prov. bimestral 2 chamada 3 bimestre
2 soc prov. bimestral  2 chamada 3 bimestre2 soc prov. bimestral  2 chamada 3 bimestre
2 soc prov. bimestral 2 chamada 3 bimestreFelipe Serra
 
Marighella manual do guerrilheiro urbano
Marighella   manual do guerrilheiro urbanoMarighella   manual do guerrilheiro urbano
Marighella manual do guerrilheiro urbanoESCRIBAVALDEMIR
 

Mais procurados (18)

Cadernos Opção Socialista - Edição 1
Cadernos Opção Socialista - Edição 1Cadernos Opção Socialista - Edição 1
Cadernos Opção Socialista - Edição 1
 
Gramsci e Educação - JH Correa y L Ferreira
Gramsci e Educação - JH Correa y L FerreiraGramsci e Educação - JH Correa y L Ferreira
Gramsci e Educação - JH Correa y L Ferreira
 
5º Bloco 2 As RevoluçõEs Do SéC. Xx E O Significado HistóRico Ronaldo C...
5º Bloco   2   As RevoluçõEs Do SéC. Xx E O Significado HistóRico   Ronaldo C...5º Bloco   2   As RevoluçõEs Do SéC. Xx E O Significado HistóRico   Ronaldo C...
5º Bloco 2 As RevoluçõEs Do SéC. Xx E O Significado HistóRico Ronaldo C...
 
Coquetel
CoquetelCoquetel
Coquetel
 
Sociologia
SociologiaSociologia
Sociologia
 
Capítulo 8 Sociologia
Capítulo 8 Sociologia Capítulo 8 Sociologia
Capítulo 8 Sociologia
 
Pilulas democraticas 6 Lado
Pilulas democraticas 6  LadoPilulas democraticas 6  Lado
Pilulas democraticas 6 Lado
 
Necessidade da Organização - Mikhail Bakunin
Necessidade da Organização - Mikhail BakuninNecessidade da Organização - Mikhail Bakunin
Necessidade da Organização - Mikhail Bakunin
 
Tese Reconquistar a UNE 51-CONUNE-2009
Tese Reconquistar a UNE 51-CONUNE-2009Tese Reconquistar a UNE 51-CONUNE-2009
Tese Reconquistar a UNE 51-CONUNE-2009
 
Florentino de carvalho dois escritos da imprensa anarquista de são paulo
Florentino de carvalho dois escritos da imprensa anarquista de são pauloFlorentino de carvalho dois escritos da imprensa anarquista de são paulo
Florentino de carvalho dois escritos da imprensa anarquista de são paulo
 
Classes sociais
Classes sociaisClasses sociais
Classes sociais
 
Livros nuno cunharolo
Livros nuno cunharoloLivros nuno cunharolo
Livros nuno cunharolo
 
OS 7 DIAS QUE ABALARAM O BRASIL
OS 7 DIAS QUE ABALARAM O BRASILOS 7 DIAS QUE ABALARAM O BRASIL
OS 7 DIAS QUE ABALARAM O BRASIL
 
Mario bunge o socialismo existiu alguma vez e tem futuro
Mario bunge   o socialismo existiu alguma vez e tem futuroMario bunge   o socialismo existiu alguma vez e tem futuro
Mario bunge o socialismo existiu alguma vez e tem futuro
 
Capítulo 7 sociologia
Capítulo 7   sociologiaCapítulo 7   sociologia
Capítulo 7 sociologia
 
Errico malatesta a organização ii
Errico malatesta   a organização iiErrico malatesta   a organização ii
Errico malatesta a organização ii
 
2 soc prov. bimestral 2 chamada 3 bimestre
2 soc prov. bimestral  2 chamada 3 bimestre2 soc prov. bimestral  2 chamada 3 bimestre
2 soc prov. bimestral 2 chamada 3 bimestre
 
Marighella manual do guerrilheiro urbano
Marighella   manual do guerrilheiro urbanoMarighella   manual do guerrilheiro urbano
Marighella manual do guerrilheiro urbano
 

Semelhante a Em torno da vigência do socialismo libertário & definições de um companheiro gerardo gatti

Pierre kropotkine o princípio anarquista
Pierre kropotkine  o princípio anarquistaPierre kropotkine  o princípio anarquista
Pierre kropotkine o princípio anarquistaHome
 
Malatesta e.-anarquismo-e-anarquia
Malatesta e.-anarquismo-e-anarquiaMalatesta e.-anarquismo-e-anarquia
Malatesta e.-anarquismo-e-anarquiamoratonoise
 
Malatesta anarquismo e anarquia
Malatesta anarquismo e anarquiaMalatesta anarquismo e anarquia
Malatesta anarquismo e anarquiamoratonoise
 
Fratelli Tutti V capítulo.pptx
Fratelli Tutti V capítulo.pptxFratelli Tutti V capítulo.pptx
Fratelli Tutti V capítulo.pptxLuizHonorio4
 
A Comuna de Paris e o Estado - Mikhail Bakunin
A Comuna de Paris e o Estado - Mikhail BakuninA Comuna de Paris e o Estado - Mikhail Bakunin
A Comuna de Paris e o Estado - Mikhail BakuninBlackBlocRJ
 
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associação
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associaçãoPierre joseph proudhon sobre o princípio da associação
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associaçãomoratonoise
 
Luigi fabbri a organização anarquista
Luigi fabbri   a organização anarquistaLuigi fabbri   a organização anarquista
Luigi fabbri a organização anarquistamoratonoise
 
A publicização da política
A publicização da políticaA publicização da política
A publicização da políticaaugustodefranco .
 
Projeto societario contra hegemonico educacao do campo
Projeto societario contra hegemonico educacao do  campo Projeto societario contra hegemonico educacao do  campo
Projeto societario contra hegemonico educacao do campo pibidsociais
 
União da juventude do campo e cidade
União da juventude do campo e  cidadeUnião da juventude do campo e  cidade
União da juventude do campo e cidadeAdilson P Motta Motta
 
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe Corrêa
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe CorrêaA Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe Corrêa
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe CorrêaBlackBlocRJ
 
FRANCO, Augusto - Fluzz e Partido
FRANCO, Augusto - Fluzz e PartidoFRANCO, Augusto - Fluzz e Partido
FRANCO, Augusto - Fluzz e PartidoFabio Pedrazzi
 
Michel foucault por uma vida nao facista
Michel foucault   por uma vida nao facistaMichel foucault   por uma vida nao facista
Michel foucault por uma vida nao facistafatimalaranjeira
 
Sociologia - O socialismo e o Homem em cuba
Sociologia - O socialismo e o Homem em cubaSociologia - O socialismo e o Homem em cuba
Sociologia - O socialismo e o Homem em cubaCarson Souza
 
Como combater e derrotar o totalitarismo moderno
Como combater e derrotar o totalitarismo modernoComo combater e derrotar o totalitarismo moderno
Como combater e derrotar o totalitarismo modernoFernando Alcoforado
 
Jose danton politica_aliancas
Jose danton politica_aliancasJose danton politica_aliancas
Jose danton politica_aliancasmoratonoise
 

Semelhante a Em torno da vigência do socialismo libertário & definições de um companheiro gerardo gatti (20)

Pierre kropotkine o princípio anarquista
Pierre kropotkine  o princípio anarquistaPierre kropotkine  o princípio anarquista
Pierre kropotkine o princípio anarquista
 
Malatesta e.-anarquismo-e-anarquia
Malatesta e.-anarquismo-e-anarquiaMalatesta e.-anarquismo-e-anarquia
Malatesta e.-anarquismo-e-anarquia
 
Malatesta anarquismo e anarquia
Malatesta anarquismo e anarquiaMalatesta anarquismo e anarquia
Malatesta anarquismo e anarquia
 
Fratelli Tutti V capítulo.pptx
Fratelli Tutti V capítulo.pptxFratelli Tutti V capítulo.pptx
Fratelli Tutti V capítulo.pptx
 
A Comuna de Paris e o Estado - Mikhail Bakunin
A Comuna de Paris e o Estado - Mikhail BakuninA Comuna de Paris e o Estado - Mikhail Bakunin
A Comuna de Paris e o Estado - Mikhail Bakunin
 
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associação
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associaçãoPierre joseph proudhon sobre o princípio da associação
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associação
 
O capitalismo mata: 4 olhares
O capitalismo mata: 4 olharesO capitalismo mata: 4 olhares
O capitalismo mata: 4 olhares
 
Luigi fabbri a organização anarquista
Luigi fabbri   a organização anarquistaLuigi fabbri   a organização anarquista
Luigi fabbri a organização anarquista
 
Atentado subversivo 01
Atentado subversivo 01Atentado subversivo 01
Atentado subversivo 01
 
A publicização da política
A publicização da políticaA publicização da política
A publicização da política
 
Projeto societario contra hegemonico educacao do campo
Projeto societario contra hegemonico educacao do  campo Projeto societario contra hegemonico educacao do  campo
Projeto societario contra hegemonico educacao do campo
 
União da juventude do campo e cidade
União da juventude do campo e  cidadeUnião da juventude do campo e  cidade
União da juventude do campo e cidade
 
Fluzz & Partido
Fluzz & PartidoFluzz & Partido
Fluzz & Partido
 
Imprimir
ImprimirImprimir
Imprimir
 
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe Corrêa
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe CorrêaA Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe Corrêa
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe Corrêa
 
FRANCO, Augusto - Fluzz e Partido
FRANCO, Augusto - Fluzz e PartidoFRANCO, Augusto - Fluzz e Partido
FRANCO, Augusto - Fluzz e Partido
 
Michel foucault por uma vida nao facista
Michel foucault   por uma vida nao facistaMichel foucault   por uma vida nao facista
Michel foucault por uma vida nao facista
 
Sociologia - O socialismo e o Homem em cuba
Sociologia - O socialismo e o Homem em cubaSociologia - O socialismo e o Homem em cuba
Sociologia - O socialismo e o Homem em cuba
 
Como combater e derrotar o totalitarismo moderno
Como combater e derrotar o totalitarismo modernoComo combater e derrotar o totalitarismo moderno
Como combater e derrotar o totalitarismo moderno
 
Jose danton politica_aliancas
Jose danton politica_aliancasJose danton politica_aliancas
Jose danton politica_aliancas
 

Mais de moratonoise

Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionario
Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionarioPlataforma internacional do_anarquismo_revolucionario
Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionariomoratonoise
 
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...moratonoise
 
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulo
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-pauloRodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulo
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulomoratonoise
 
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridade
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridadeProudhon p-j.-sociedade-sem-autoridade
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridademoratonoise
 
Proudhon filosofia-da-miseria
Proudhon filosofia-da-miseriaProudhon filosofia-da-miseria
Proudhon filosofia-da-miseriamoratonoise
 
Principio da autoridade
Principio da autoridadePrincipio da autoridade
Principio da autoridademoratonoise
 
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunas
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunasRepublica francesa federacao_revolucionaria_das_comunas
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunasmoratonoise
 
Os grandes escritos anarquistas
Os grandes escritos anarquistasOs grandes escritos anarquistas
Os grandes escritos anarquistasmoratonoise
 
Os arquitetos da ordem anárquica
Os arquitetos da ordem anárquicaOs arquitetos da ordem anárquica
Os arquitetos da ordem anárquicamoratonoise
 
O pensamento-político-de-bakunin
O pensamento-político-de-bakuninO pensamento-político-de-bakunin
O pensamento-político-de-bakuninmoratonoise
 
O sistema das_contradicoes_economicas
O sistema das_contradicoes_economicasO sistema das_contradicoes_economicas
O sistema das_contradicoes_economicasmoratonoise
 
O sistema capitalista
O sistema capitalistaO sistema capitalista
O sistema capitalistamoratonoise
 
O que e_ideologia
O que e_ideologiaO que e_ideologia
O que e_ideologiamoratonoise
 
O que e_a_propriedade
O que e_a_propriedadeO que e_a_propriedade
O que e_a_propriedademoratonoise
 
O principio anarquista_e_outros_ensaios
O principio anarquista_e_outros_ensaiosO principio anarquista_e_outros_ensaios
O principio anarquista_e_outros_ensaiosmoratonoise
 
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...moratonoise
 
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passos
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passosO 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passos
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passosmoratonoise
 
Nestor makhno a revolução anarquista
Nestor makhno a revolução anarquistaNestor makhno a revolução anarquista
Nestor makhno a revolução anarquistamoratonoise
 
Neno vasco concepção anarquista do sindicalismo
Neno vasco concepção anarquista do sindicalismoNeno vasco concepção anarquista do sindicalismo
Neno vasco concepção anarquista do sindicalismomoratonoise
 

Mais de moratonoise (20)

Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionario
Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionarioPlataforma internacional do_anarquismo_revolucionario
Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionario
 
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...
 
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulo
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-pauloRodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulo
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulo
 
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridade
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridadeProudhon p-j.-sociedade-sem-autoridade
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridade
 
Proudhon filosofia-da-miseria
Proudhon filosofia-da-miseriaProudhon filosofia-da-miseria
Proudhon filosofia-da-miseria
 
Principio da autoridade
Principio da autoridadePrincipio da autoridade
Principio da autoridade
 
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunas
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunasRepublica francesa federacao_revolucionaria_das_comunas
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunas
 
Os grandes escritos anarquistas
Os grandes escritos anarquistasOs grandes escritos anarquistas
Os grandes escritos anarquistas
 
Os arquitetos da ordem anárquica
Os arquitetos da ordem anárquicaOs arquitetos da ordem anárquica
Os arquitetos da ordem anárquica
 
O pensamento-político-de-bakunin
O pensamento-político-de-bakuninO pensamento-político-de-bakunin
O pensamento-político-de-bakunin
 
O sistema das_contradicoes_economicas
O sistema das_contradicoes_economicasO sistema das_contradicoes_economicas
O sistema das_contradicoes_economicas
 
O sistema capitalista
O sistema capitalistaO sistema capitalista
O sistema capitalista
 
O que e_ideologia
O que e_ideologiaO que e_ideologia
O que e_ideologia
 
O que e_a_propriedade
O que e_a_propriedadeO que e_a_propriedade
O que e_a_propriedade
 
O principio anarquista_e_outros_ensaios
O principio anarquista_e_outros_ensaiosO principio anarquista_e_outros_ensaios
O principio anarquista_e_outros_ensaios
 
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...
 
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passos
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passosO 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passos
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passos
 
O principe
O principeO principe
O principe
 
Nestor makhno a revolução anarquista
Nestor makhno a revolução anarquistaNestor makhno a revolução anarquista
Nestor makhno a revolução anarquista
 
Neno vasco concepção anarquista do sindicalismo
Neno vasco concepção anarquista do sindicalismoNeno vasco concepção anarquista do sindicalismo
Neno vasco concepção anarquista do sindicalismo
 

Em torno da vigência do socialismo libertário & definições de um companheiro gerardo gatti

  • 1.
  • 2. Em Torno da Vigência do Socialismo Libertário Definições de um Companheiro Gerardo Gatti Tradução: Martin Russo e Daniel Augusto A. Alves
  • 3. 2009 Projeto de capa: Luiz Carioca Diagramação: Farrer Revisão: Felipe Corrêa (C) Copyleft - É livre, e inclusive incentivada, a reprodução deste livro, para fins estritamente não comerciais, desde que a fonte seja citada e esta nota incluída. Faísca Publicações Libertárias www.editorafaisca.net faisca@riseup.net vendasfaisca@riseup.net
  • 4. Sumário Em Torno da Vigência do Socialismo Libertário . . . . . . . . . . . . . . 4 Definições de um Companheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
  • 5. Em Torno da Vigência do Socialismo Libertário Acreditamos ser fundamental, desde já, a afirmação categórica e sem dogmatis- mos, ampla e sem malabarismos oportunistas, de uma clara ideologia, de uma ideologia socialista e libertária. Que incorpore com audácia os ensinamentos da contribuição de cada feito popular; que se manifeste em programas, métodos e plataforma, em função das condições do local e do tempo em que devemos agir; aqui e agora. Reafirmamos tudo aquilo que é válido e vigente do pensamento socialista e libertário, e da ação do anarquismo revolucionário. A ação direta popular como método para o combate anticapitalista e a construção socialista. O protagonismo dos homens e dos povos como fator da história (...), a concepção do socialismo e da liberdade como duas fases inseparáveis de um único processo de libertação humana. (...) A experiência histórica dos últimos tempos dá razão aos questionamen- tos anarquistas que, desde o século passado, alertam (...) que a liberdade não é um mero subproduto da abundância material, nem um prescindível preconceito burguês, que o problema do poder é um problema real e não uma preocupação de utopistas, que a vasta experiência revolucionária acumulada não pode ser jogada fora. Essa experiência deve ser assimilada com um sentido criador. Um movimento político não pode ser uma seita dedicada à guarda de livros santos onde estão contidas todas as verdades possíveis, ditas de uma só vez e para sempre. A experiência prática, a história, não se compadece quase nunca com os textos sagrados. (...) Não se trata agora, portanto, de trocar um rótulo por outro. Nem de tirar uma ideologia, como um mágico que tira um coelho da cartola vazia. As ideolo- gias não surgem de genialidades. Elas se dão em um processo, amadurecem na história e no tempo, são repensadas, são adequadas às novas realidades (...). Sim, desenvolvimento criador do muito que está vigente na ampla bagagem do socialismo, de tudo aquilo que é útil no sentido socialista e libertário, sem o sectarismo rotineiro que nos cega. Sim, estudo e compreensão da realidade atual, mundial, latino-americana, nacional, sobretudo. Para, no meio da luta, fecundar os esquemas doutrinários. Para adequá-los, para que sirvam na ação (...). O estudo desta realidade propõe a vigência do federalismo como tendência progressiva da organização econômica e política socialista. Para garantir uma participação que seja o mais ampla possível, desde o início, e cada vez mais ampla do povo na organização e na gestão da vida econômica.
  • 6. 5 Em Torno da Vigência do Socialismo Libertário Para garantir a mesma participação na direção política local, regional e naci- onal. Para que a velha promessa igualitária da democracia deixe de ser uma pa- ródia, um mero slogan manchado pela demagogia mistificadora daqueles que, em nome da democracia, exercem a exploração e a tirania. Reafirmamos nesse repensar o sentido humanista, a reivindicação e o exercí- cio pleno da liberdade que significa o autêntico socialismo. A experiência histórica acumulou materiais que permitem uma elaboração mais real e atual dos problemas da Revolução Socialista, elaboração imprescindí- vel para superar os erros e lacunas de certos esquemas doutrinários que expõem a atividade revolucionária à esterilidade asséptica ou ao fracasso. Artigo retirado da publicação En La Calle (OSL Argentina).
  • 7. Definições de um Companheiro O poder da burguesia sintetiza-se e funde-se no Estado. Não há possibilidade de transformar a sociedade sem destruir esse Estado burguês, e como lutamos por uma sociedade sem classes sociais, queremos que se elimine todo aparato burocrático do Estado, toda separação entre governantes e governados. Os pri- vilegiados de todos os tempos e de todos os tipos, horrorizados diante da possi- bilidade de perder seus privilégios, sempre afirmaram que isto é impossível. Da mesma forma que antes se afirmava que o mundo era plano ou quadrado. Nós acreditamos que também no que se refere à administração política da sociedade, deve-se acabar com a propriedade privada e terminar com esta or- dem em que uns mandam e outros obedecem. Conselhos e federações de comi- tês operários, de vizinhos de bairro, comunas ou conselhos rurais de campone- ses são distintas formas através das quais os trabalhadores vêm se organizando para defender os processos revolucionários contra a contrarevolução interna ou a agressão externa, e para administrar, ordenar e conduzir o conjunto da vida so- cial. A partir destas bases, entendemos que devem estruturar-se os organismos sociais. Efetivo poder dos trabalhadores, maior gestão direta, menor representa- ção indireta, nenhum tipo de diferenciação salarial, nenhum tipo de vantagem ou privilégio. Isso é o que entendemos por poder popular. Nada disso é algo novo. É por estes ideais que em várias partes do mundo os trabalhadores fizeram revoluções, celebraram vitórias e sofreram derrotas. E há mais de um século, homens provenientes da classe operária e outros que, sem ter esta origem, colocaram-se realmente a seu serviço, organizaram conspira- ções, redigiram manifestos, juntaram fundos para a causa operária, desenvolve- ram a solidariedade. Foi-se sintetizando a experiência e os trabalhadores foram encontrando explicações para suas desgraças. Sem conhecer esta história, sem ter lido estes livros, ainda sem conhecer es- tas explicações, em todo o mundo, todos os dias, milhões e milhões de seres humanos que sofrem a prepotência, querem a igualdade; aqueles que têm fome desejam comer; os que passam frio e não têm teto querem ter uma casa e um abrigo; aqueles que sofrem a humilhação buscam fraternidade; aqueles que se reconhecem ignorantes aspiram a uma escola, pelo menos para seus filhos. De forma muitas vezes vaga, dando muitas vezes denominações distintas, a maioria das pessoas que conhece sofrimentos, ditaduras, infelicidades, despo- tismo, pobreza, aspira ao bem estar, à solidariedade e ao entendimento entre os humanos. A origem primeira e a razão de nossa luta não estão em qualquer razão de
  • 8. 7 Definições de um Companheiro alta política de Estado, ou de governo, de partido ou de organização, de grupo ou de movimento. Essa origem está na dor e no desejo desta grande humani- dade, da qual nosso povo é uma parte. Porque sabemos que o homem é um ser social, queremos que desenvolva sua capacidade e a coloque a serviço da sociedade; porque queremos que todas as decisões que digam respeito à sociedade sejam assumidas e resolvidas de forma social; porque queremos que a riqueza não seja individual ou de alguns poucos, mas social, de todos, e por isso nos chamamos socialistas. Porque confiamos mais no acordo que na imposição, mais no conhecimento que na coerção, mais na liberdade que na autoridade. Por isto somos libertários. Mas já aprendemos que, às vezes, as denominações são enganosas. Por isso não nos dedicamos a pregar etiquetas na luta dos oprimidos. Pode haver gente que, denominando-se de maneira parecida, não saiba bem o que quer, e há tam- bém quem, com outro nome, ou às vezes até sem saber dar um nome, busca o mesmo. A todos os que lutam por estes ideais, sem mesquinharias, à sua maneira e em sua medida, chamamos companheiros. Buenos Aires, junho/julho de 1975