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2009
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dois escritos da imprensa anarquista
em são paulo1
florentino de carvalho
florentino de carvalho
Os escritos de Primitivo Raymundo Soares (1883-
1947), impressos com o pseudônimo de Florentino de
Carvalho, no jornal anarquista Germinal! fundado por
ele e Rodoplho Felipe, em 1913, registram a força e a
coragem dos libertários que atuavam nos meios operá-
rios no início do século XX no Brasil. Seu autor — que
se desligou da Força Pública do estado de São Paulo
para tornar-se um combativo agitador anarquista, em
1901, após ler A Conquista do Pão de Piotr Kropotikin
— viveu como professor e escritor, editando os jornais
libertários A Plebe e O Libertário e a revista A Obra.
É autor de Da escravidão à liberdade (Porto Alegre,
Editora Renascença, 1927) e A guerra civil de 1932
em São Paulo (São Paulo, Editora Ariel, 1932). Es-
teve envolvido ativamente com as greves, comissões e
congressos que convulsionaram o meio operário; como
divulgador das idéias racionalistas de Francesc Ferrer
i Guàrdia no Brasil, atuou nas Escolas Modernas 1 e 2
de Adelino de Pinho e João Penteado. Passou por pri-
sões e uma tentativa de deportação, das quais fugiu
com o apoio de amigos. Editar, quase cem anos depois,
esses escritos é uma maneira de colocar novamente o
problema é preciso escandalizar!, para uma época mo-
derada em que a palavra escândalo está esvaziada da
atitude desafiadora impressa nas páginas de Germinal!.
Leia mais em Rogério H. Z. Nascimento. Florentino de
Carvalho. Pensamento social de um anarquista. Rio de
Janeiro, Achiamé, 2000 (N. E.)
verve, 15: 222-228, 2009
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Dois escritos da imprensa anarquista em São Paulo
é preciso escandalizar
Todas as seitas, sociedades ou partidos, todos os ho-
mens, classes ou coletividades que não tiveram o atre-
vimento de escandalizar o mundo com as suas idéias,
os seus métodos e os seus atos, feneceram sem que os
seus ideais tivessem chegado a ocupar o seu posto de
predomínio, mais ou menos duradouro, no curso das
idades.
Quando dizemos escândalo queremos precisamente
exprimir admiração ou espanto que causam os princípios
ou práticas hostis ao ambiente estabelecido.
Se os cristãos não tivessem escandalizado o mundo
com as loucuras do Nazareno — seu símbolo — com o
terror da Providência, com a infinita bondade, justiça e
sabedoria do Pai Eterno, com as indescritíveis delícias dos
céus e os espantosos martírios do limbo, do purgatório
e do inferno, ninguém lhes teria feito caso, como assim
mesmo não o teria feito se não tivessem impressionado os
povos com a sua audácia, abnegação e heroísmo, e se os
seus mais dedicados defensores não se tivessem, como o
“seu chefe”, coroado com a auréola do martírio.
As concepções e a audácia de Sócrates, e a cicuta que
foi obrigado a beber, revolucionaram a mentalidade hu-
mana da sua época.
Galileu destruiu rapidamente o sofisma da teoria
da imobilidade da terra com a famosa frase: “eppur si
muove!”2
Se o luteranismo e o calvinismo produziram a refor-
ma e facilitaram o surgimento do positivismo, foi porque
escandalizaram o mundo cristão, levando a dúvida aos
cérebros, submetendo a Bíblia ao escalpelo da crítica.
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Por sua vez o positivismo triunfou espantando todos
os crentes com a sua filosofia e as suas arrojadas concep-
ções eminentemente materialistas.
O atrevimento de homens como Babeuf, Hebert e
Octavio Mirabeau, e a valentia de um povo heróico
proclamaram a liberdade, igualdade e fraternidade.
Pensemos um momento sobre a audácia dos traba-
lhadores de Paris que, apesar de estarem as energias po-
pulares esgotadas pela guerra franco-prussiana, tiveram
a coragem de implantar a Comuna [1871] numa época
em que apenas despontavam as idéias socialistas e anar-
quistas; pensemos no seu sacrifício realizado na semana
trágica contra as tropas de Thiers, e teremos uma idéia
da razão da universalização rápida dos novos princípios
de regeneração social.
As forças de Chicago descrevem sobre as gerações no-
vas a famosa frase de Spies: “Saúde oh! Tempos em que o
nosso silêncio será mais poderoso do que as nossas vozes
hoje sufocadas com a morte!”
Quem não foi tomado de assombro pela temerária
revolta dos heróicos marujos do couraçado russo
Kinazpotkine? Que de estímulos não criou o arrojo desses
valentes?
Hoje, todas as bocas limpas repetem a memorável ex-
clamação de Ferrer — Viva la Escuela Moderna!
As transformações sociais, políticas, econômicas, mo-
rais e filosóficas, as revoluções, as ascensões dos plebeus,
dos escravos, produzem-se pelo escândalo.
O mundo marcha à força de escândalos, e a huma-
nidade só concebe uma idéia ou um ato depois de ter se
escandalizado, depois de ter sido a sua atenção atraída
para estas idéias e atos com a admiração e a impressão.
Quando se propaga, seja o que for, com reticências,
com desvios ou roupagens, mais ou menos enigmáticas,
quando se emprega uma fraseologia escolhida para não
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Dois escritos da imprensa anarquista em São Paulo
assustar ou para não escandalizar, o auditório ouve as
filípicas como quem ouve chover.
E nós, se não queremos gastar a cachola nem os pul-
mões inutilmente, temos que propagar as nossas idéias
sem prudência alguma, sem palavras com sentido figu-
rado.
É preciso ter a sinceridade do camponês: pão é pão e
vinho é vinho.
Tratemos, por todos os meios, de escandalizar a todo o
mundo, em todo o momento e lugar.
Gritemos bem alto, com toda a força, os nossos princí-
pios, as nossas doutrinas; e se alguém fugir de nós deve-
mos correr atrás dele até alcançá-lo, e continuar a gritar,
certos de que não perderemos o tempo, porque, quem foge
é porque fez caso das nossas arengas e foi impressionado
por elas. Os irredentos, os que não podem assimilar os
nossos sentimentos, ficam muito tranquilos, porque não
compreendem patavina, ou estão pensando em coisas
que não tem nada com o que nos esforçamos em fazer-lhe
sentir.
Escandalizemos a todo transe.
Quando tivermos escandalizado o mundo ele será
nosso.
Quando o Anarquismo for espalhado por toda a terra a
Anarquia terá triunfado.
Lisboa, 1913.
a imprensa anarquista
Inimigos de todas as leis, de todos os regulamentos,
de todos os programas; mente aberta a todas as idéias ou
pensamentos elevados, irradiados pela luz do livre exame,
não podemos circunscrever-nos a uma estrita concepção
Verve 15 - 2009.indd 225Verve 15 - 2009.indd 225 8/5/2009 21:58:348/5/2009 21:58:34
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encerrada nos moldes de determinada escola filosófica ou
sociológica.
Podemos, sim, ter mais simpatia por esta ou aquela
tendência, este ou aquele método de luta, mas, tratan-
do-se de investigação e de propaganda, é um disparate
seguir o método unilateral. Todos os meios que não es-
tiverem em conflito com os nossos princípios devem ser
empregados na luta pela nossa causa.
Entre estes meios alguns há que, à primeira vista
parecem contrários ao Ideal.
A revolução armada, o atentado, o incêndio, a sabo-
tagem, a greve, a manifestação pública, a organização
operária, são meios mais ou menos violentos, antepostos
à nossa idéia de paz e de harmonia.
Muitas revoluções e todos os atentados tiveram por
fim reprimir monstruosidades praticadas pelo Estado e
pelo capitalismo, quando não puderam ir mais longe. O
movimento de julho de 1909, em Catalunha foi pelos so-
cialistas, sindicalistas e anarquistas, posto nas mãos dos
republicanos, para evitar-se a reação governamental. Os
camaradas de Portugal foram os que mais se distinguiram
na revolução que proclamou a República, para livrarem de
serem os primeiros a pagarem o crime de alteração da or-
dem monárquica. Os atentados que justiçaram Umberto,
Carnot, Carlos, Falcão e tantos outros, foram as conse-
quências de massacres, de torturas e outras medidas do
terrorismo do Estado, ou da excessiva extorsão capitalista
— como os trustes nos Estados Unidos — que agravaram
profundamente a situação do povo. Em resumo: tiveram
por fim conquistar a maior liberdade e bem estar das clas-
ses oprimidas e impulsionar o avanço do Ideal.
A relativa liberdade que hoje gozamos deve-se a essas
revoluções, a esses atentados. A sabotagem, e as greves
parciais ou gerais, são também fatores que refreiam o
galope burguês, disputando, para o operariado, as me-
lhores condições possíveis de existência, tanto política
como economicamente.
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Dois escritos da imprensa anarquista em São Paulo
Para promover as greves e as revoluções, melhor seria
que, em vez das sociedades de classe, se constituíssem
numerosos grupos de ação e de propaganda em cada clas-
se; mas, para isso não existe a suficiente preparação re-
volucionária entre o operariado. E a organização de socie-
dades operárias produz se fatalmente, determinada pelo
próprio sistema capitalista. O que se torna necessário,
portanto, é orientar as sociedades de forma que prepa-
rem os trabalhadores para a formação desses grupos,
que são o esboço da sociedade futura.
A manifestação pública, que para muitos representa
um ajuntamento de barulhentos, é antes do que o livro,
o panfleto e o jornal, o melhor meio de transformação da
opinião pública, porque traz ao mesmo tempo a divulga-
ção da idéia e a afirmação prática, embora relativa, do
sentimento que a torna vivaz e respeitável. E nestas ma-
nifestações surgem, com frequência, grandes movimen-
tos de revolta, que fazem tremer os dirigentes do regime
burguês.
A liberdade e o bem estar, na sociedade presente,
enervam as energias, e as pequenas transformações são
reformas fictícias que dão mais longa vida à classe que
impera; mas também é certo que o excesso de miséria
e de despotismo inutiliza os indivíduos completamente,
preparando-os somente para a bestialidade ou para a
morte.
Como os nossos princípios não preconizam a não re-
sistência ao mal pela violência, somos consequentes com
eles, mesmo empregando meios violentos.
Voltando à questão da organização operária, direi que
se nós não a inspirarmos nas nossas tendências, ela to-
mará outro rumo, constituindo-se no mais poderoso
obstáculo às nossas aspirações, como acontece na
Alemanha, na Bélgica e outros países.
Se popularizarmos o nosso ideal e não o praticarmos
destruindo moral e materialmente a sociedade presente,
ele será sempre uma bela utopia.
Verve 15 - 2009.indd 227Verve 15 - 2009.indd 227 8/5/2009 21:58:348/5/2009 21:58:34
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2009
228
Todos esses meios estão concordes com o fim que se
persegue, e, em vez de seguirmos exclusivamente a es-
cola de Stirner, Proudhon, de Kropotkin, etc., temos que
propagar, com as reservas da própria opinião, as diversas
escolas, propagando e afirmando a Anarquia, abreviando
a hora da Revolução.
Esta é a orientação que, entendo, deve seguir a im-
prensa que, sem outros adjetivos, se intitule anarquista.
Notas
1
Textos selecionados por Acácio Augusto, e extraídos respectivamente de Germi-
nal, São Paulo, Editorial, 29/06/1913; Germinal, São Paulo, n° 15, 29/06/1913.
2
“Mas ela se move!” (N. E.)
RESUMO
Dois textos do anarquista Florentino de Carvalho. O primeiro
aborda a relevância do escândalo nas atividades subversivas
e anarquistas, o outro trata da insignificância de se eleger
uma tendência anarquista enquanto verdadeira, na imprensa
revolucionária.
Palavras-chave: Florentino de Carvalho, jornal Germinal, lutas
anarquistas.
ABSTRACT
Two texts of the anarchist Florentino de Carvalho. The first one
treats the relevance of the scandal in anarchist and subversive
activities. The other points the unimportance of electing an
anarchist tendency as the true one in the revolutinary press.
Keywords: Florentino de Carvalho, Germinal newspaper,
anarchists fights.
Indicado para publicação em 9 de junho de 2008.
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Neno vasco concepção anarquista do sindicalismo
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Florentino de carvalho dois escritos da imprensa anarquista de são paulo

  • 1. 15 2009 222 dois escritos da imprensa anarquista em são paulo1 florentino de carvalho florentino de carvalho Os escritos de Primitivo Raymundo Soares (1883- 1947), impressos com o pseudônimo de Florentino de Carvalho, no jornal anarquista Germinal! fundado por ele e Rodoplho Felipe, em 1913, registram a força e a coragem dos libertários que atuavam nos meios operá- rios no início do século XX no Brasil. Seu autor — que se desligou da Força Pública do estado de São Paulo para tornar-se um combativo agitador anarquista, em 1901, após ler A Conquista do Pão de Piotr Kropotikin — viveu como professor e escritor, editando os jornais libertários A Plebe e O Libertário e a revista A Obra. É autor de Da escravidão à liberdade (Porto Alegre, Editora Renascença, 1927) e A guerra civil de 1932 em São Paulo (São Paulo, Editora Ariel, 1932). Es- teve envolvido ativamente com as greves, comissões e congressos que convulsionaram o meio operário; como divulgador das idéias racionalistas de Francesc Ferrer i Guàrdia no Brasil, atuou nas Escolas Modernas 1 e 2 de Adelino de Pinho e João Penteado. Passou por pri- sões e uma tentativa de deportação, das quais fugiu com o apoio de amigos. Editar, quase cem anos depois, esses escritos é uma maneira de colocar novamente o problema é preciso escandalizar!, para uma época mo- derada em que a palavra escândalo está esvaziada da atitude desafiadora impressa nas páginas de Germinal!. Leia mais em Rogério H. Z. Nascimento. Florentino de Carvalho. Pensamento social de um anarquista. Rio de Janeiro, Achiamé, 2000 (N. E.) verve, 15: 222-228, 2009 Verve 15 - 2009.indd 222Verve 15 - 2009.indd 222 8/5/2009 21:58:348/5/2009 21:58:34
  • 2. verve 223 Dois escritos da imprensa anarquista em São Paulo é preciso escandalizar Todas as seitas, sociedades ou partidos, todos os ho- mens, classes ou coletividades que não tiveram o atre- vimento de escandalizar o mundo com as suas idéias, os seus métodos e os seus atos, feneceram sem que os seus ideais tivessem chegado a ocupar o seu posto de predomínio, mais ou menos duradouro, no curso das idades. Quando dizemos escândalo queremos precisamente exprimir admiração ou espanto que causam os princípios ou práticas hostis ao ambiente estabelecido. Se os cristãos não tivessem escandalizado o mundo com as loucuras do Nazareno — seu símbolo — com o terror da Providência, com a infinita bondade, justiça e sabedoria do Pai Eterno, com as indescritíveis delícias dos céus e os espantosos martírios do limbo, do purgatório e do inferno, ninguém lhes teria feito caso, como assim mesmo não o teria feito se não tivessem impressionado os povos com a sua audácia, abnegação e heroísmo, e se os seus mais dedicados defensores não se tivessem, como o “seu chefe”, coroado com a auréola do martírio. As concepções e a audácia de Sócrates, e a cicuta que foi obrigado a beber, revolucionaram a mentalidade hu- mana da sua época. Galileu destruiu rapidamente o sofisma da teoria da imobilidade da terra com a famosa frase: “eppur si muove!”2 Se o luteranismo e o calvinismo produziram a refor- ma e facilitaram o surgimento do positivismo, foi porque escandalizaram o mundo cristão, levando a dúvida aos cérebros, submetendo a Bíblia ao escalpelo da crítica. Verve 15 - 2009.indd 223Verve 15 - 2009.indd 223 8/5/2009 21:58:348/5/2009 21:58:34
  • 3. 15 2009 224 Por sua vez o positivismo triunfou espantando todos os crentes com a sua filosofia e as suas arrojadas concep- ções eminentemente materialistas. O atrevimento de homens como Babeuf, Hebert e Octavio Mirabeau, e a valentia de um povo heróico proclamaram a liberdade, igualdade e fraternidade. Pensemos um momento sobre a audácia dos traba- lhadores de Paris que, apesar de estarem as energias po- pulares esgotadas pela guerra franco-prussiana, tiveram a coragem de implantar a Comuna [1871] numa época em que apenas despontavam as idéias socialistas e anar- quistas; pensemos no seu sacrifício realizado na semana trágica contra as tropas de Thiers, e teremos uma idéia da razão da universalização rápida dos novos princípios de regeneração social. As forças de Chicago descrevem sobre as gerações no- vas a famosa frase de Spies: “Saúde oh! Tempos em que o nosso silêncio será mais poderoso do que as nossas vozes hoje sufocadas com a morte!” Quem não foi tomado de assombro pela temerária revolta dos heróicos marujos do couraçado russo Kinazpotkine? Que de estímulos não criou o arrojo desses valentes? Hoje, todas as bocas limpas repetem a memorável ex- clamação de Ferrer — Viva la Escuela Moderna! As transformações sociais, políticas, econômicas, mo- rais e filosóficas, as revoluções, as ascensões dos plebeus, dos escravos, produzem-se pelo escândalo. O mundo marcha à força de escândalos, e a huma- nidade só concebe uma idéia ou um ato depois de ter se escandalizado, depois de ter sido a sua atenção atraída para estas idéias e atos com a admiração e a impressão. Quando se propaga, seja o que for, com reticências, com desvios ou roupagens, mais ou menos enigmáticas, quando se emprega uma fraseologia escolhida para não Verve 15 - 2009.indd 224Verve 15 - 2009.indd 224 8/5/2009 21:58:348/5/2009 21:58:34
  • 4. verve 225 Dois escritos da imprensa anarquista em São Paulo assustar ou para não escandalizar, o auditório ouve as filípicas como quem ouve chover. E nós, se não queremos gastar a cachola nem os pul- mões inutilmente, temos que propagar as nossas idéias sem prudência alguma, sem palavras com sentido figu- rado. É preciso ter a sinceridade do camponês: pão é pão e vinho é vinho. Tratemos, por todos os meios, de escandalizar a todo o mundo, em todo o momento e lugar. Gritemos bem alto, com toda a força, os nossos princí- pios, as nossas doutrinas; e se alguém fugir de nós deve- mos correr atrás dele até alcançá-lo, e continuar a gritar, certos de que não perderemos o tempo, porque, quem foge é porque fez caso das nossas arengas e foi impressionado por elas. Os irredentos, os que não podem assimilar os nossos sentimentos, ficam muito tranquilos, porque não compreendem patavina, ou estão pensando em coisas que não tem nada com o que nos esforçamos em fazer-lhe sentir. Escandalizemos a todo transe. Quando tivermos escandalizado o mundo ele será nosso. Quando o Anarquismo for espalhado por toda a terra a Anarquia terá triunfado. Lisboa, 1913. a imprensa anarquista Inimigos de todas as leis, de todos os regulamentos, de todos os programas; mente aberta a todas as idéias ou pensamentos elevados, irradiados pela luz do livre exame, não podemos circunscrever-nos a uma estrita concepção Verve 15 - 2009.indd 225Verve 15 - 2009.indd 225 8/5/2009 21:58:348/5/2009 21:58:34
  • 5. 15 2009 226 encerrada nos moldes de determinada escola filosófica ou sociológica. Podemos, sim, ter mais simpatia por esta ou aquela tendência, este ou aquele método de luta, mas, tratan- do-se de investigação e de propaganda, é um disparate seguir o método unilateral. Todos os meios que não es- tiverem em conflito com os nossos princípios devem ser empregados na luta pela nossa causa. Entre estes meios alguns há que, à primeira vista parecem contrários ao Ideal. A revolução armada, o atentado, o incêndio, a sabo- tagem, a greve, a manifestação pública, a organização operária, são meios mais ou menos violentos, antepostos à nossa idéia de paz e de harmonia. Muitas revoluções e todos os atentados tiveram por fim reprimir monstruosidades praticadas pelo Estado e pelo capitalismo, quando não puderam ir mais longe. O movimento de julho de 1909, em Catalunha foi pelos so- cialistas, sindicalistas e anarquistas, posto nas mãos dos republicanos, para evitar-se a reação governamental. Os camaradas de Portugal foram os que mais se distinguiram na revolução que proclamou a República, para livrarem de serem os primeiros a pagarem o crime de alteração da or- dem monárquica. Os atentados que justiçaram Umberto, Carnot, Carlos, Falcão e tantos outros, foram as conse- quências de massacres, de torturas e outras medidas do terrorismo do Estado, ou da excessiva extorsão capitalista — como os trustes nos Estados Unidos — que agravaram profundamente a situação do povo. Em resumo: tiveram por fim conquistar a maior liberdade e bem estar das clas- ses oprimidas e impulsionar o avanço do Ideal. A relativa liberdade que hoje gozamos deve-se a essas revoluções, a esses atentados. A sabotagem, e as greves parciais ou gerais, são também fatores que refreiam o galope burguês, disputando, para o operariado, as me- lhores condições possíveis de existência, tanto política como economicamente. Verve 15 - 2009.indd 226Verve 15 - 2009.indd 226 8/5/2009 21:58:348/5/2009 21:58:34
  • 6. verve 227 Dois escritos da imprensa anarquista em São Paulo Para promover as greves e as revoluções, melhor seria que, em vez das sociedades de classe, se constituíssem numerosos grupos de ação e de propaganda em cada clas- se; mas, para isso não existe a suficiente preparação re- volucionária entre o operariado. E a organização de socie- dades operárias produz se fatalmente, determinada pelo próprio sistema capitalista. O que se torna necessário, portanto, é orientar as sociedades de forma que prepa- rem os trabalhadores para a formação desses grupos, que são o esboço da sociedade futura. A manifestação pública, que para muitos representa um ajuntamento de barulhentos, é antes do que o livro, o panfleto e o jornal, o melhor meio de transformação da opinião pública, porque traz ao mesmo tempo a divulga- ção da idéia e a afirmação prática, embora relativa, do sentimento que a torna vivaz e respeitável. E nestas ma- nifestações surgem, com frequência, grandes movimen- tos de revolta, que fazem tremer os dirigentes do regime burguês. A liberdade e o bem estar, na sociedade presente, enervam as energias, e as pequenas transformações são reformas fictícias que dão mais longa vida à classe que impera; mas também é certo que o excesso de miséria e de despotismo inutiliza os indivíduos completamente, preparando-os somente para a bestialidade ou para a morte. Como os nossos princípios não preconizam a não re- sistência ao mal pela violência, somos consequentes com eles, mesmo empregando meios violentos. Voltando à questão da organização operária, direi que se nós não a inspirarmos nas nossas tendências, ela to- mará outro rumo, constituindo-se no mais poderoso obstáculo às nossas aspirações, como acontece na Alemanha, na Bélgica e outros países. Se popularizarmos o nosso ideal e não o praticarmos destruindo moral e materialmente a sociedade presente, ele será sempre uma bela utopia. Verve 15 - 2009.indd 227Verve 15 - 2009.indd 227 8/5/2009 21:58:348/5/2009 21:58:34
  • 7. 15 2009 228 Todos esses meios estão concordes com o fim que se persegue, e, em vez de seguirmos exclusivamente a es- cola de Stirner, Proudhon, de Kropotkin, etc., temos que propagar, com as reservas da própria opinião, as diversas escolas, propagando e afirmando a Anarquia, abreviando a hora da Revolução. Esta é a orientação que, entendo, deve seguir a im- prensa que, sem outros adjetivos, se intitule anarquista. Notas 1 Textos selecionados por Acácio Augusto, e extraídos respectivamente de Germi- nal, São Paulo, Editorial, 29/06/1913; Germinal, São Paulo, n° 15, 29/06/1913. 2 “Mas ela se move!” (N. E.) RESUMO Dois textos do anarquista Florentino de Carvalho. O primeiro aborda a relevância do escândalo nas atividades subversivas e anarquistas, o outro trata da insignificância de se eleger uma tendência anarquista enquanto verdadeira, na imprensa revolucionária. Palavras-chave: Florentino de Carvalho, jornal Germinal, lutas anarquistas. ABSTRACT Two texts of the anarchist Florentino de Carvalho. The first one treats the relevance of the scandal in anarchist and subversive activities. The other points the unimportance of electing an anarchist tendency as the true one in the revolutinary press. Keywords: Florentino de Carvalho, Germinal newspaper, anarchists fights. Indicado para publicação em 9 de junho de 2008. Verve 15 - 2009.indd 228Verve 15 - 2009.indd 228 8/5/2009 21:58:348/5/2009 21:58:34