SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 5
Baixar para ler offline
BPI – Biblioteca Pública Independente
www.bpi.socialismolibertario.com.br
MAL-BH – Movimento Anarquista Libertário
www.socialismolibertario.com.br
O SISTEMA DAS CONTRADIÇÕES ECONÔMICAS
Joseph Pierre Proudhon
Escritos extraídos de A Propriedade é um Roubo; e outros escritos
anarquistas.
Nota:
O escrito, que tem o mesmo título do livro “Filosofia da Miséria”,
não tem nada com o livro, mas sim, poderia ser sua breve
introdução. É também o estudo da frase “A propriedade é um
roubo!” dita por Proudhon.
Extraído de: Confessions d’um Révolutionnaire..., op. cit.
(...) Compreendi que, para adquirir o entendimento das revoluções
sociais, a primeira coisa a fazer era constituir a série inteira de suas
antinomias, o sistema de suas contradições.
Seria difícil da àqueles que não a leram uma idéia desta obra ¹. No
entanto eu o tentarei, servindo-me da linguagem dos guarda-livros,
hoje compreendida por toda gente; porque, se eu conseguia, em
algumas linhas, dar uma idéia clara do que considero como o
verdadeiro método econômico, é difícil que ela não tenha
imediatamente contrariado todas as convicções.
Em meus primeiros relatórios, atacando de frente a ordem
estabelecida, eu dizia, por exemplo, a propriedade é um roubo!
Tratava-se de protestar, de, por assim dizer, colocar em relevo a
fragilidade de nossas instituições. Eu não tinha então outra coisa a
me ocupar. Também, no relatório em que eu demonstrava, por a +
b, esta surpreendente proposição, tive o cuidado de protestar contra
qualquer conclusão comunista.
No Sistema de Contradições Econômicas, após ter restabelecido e
confirmado minha primeira definição, acrescento a ela outra ordem,
que não podia nem destruir a primeira argumentação nem ser
destruída por ela: a prosperidade é uma liberdade. A propriedade é
um roubo; a prosperidade é uma liberdade: estas duas proposições
são igualmente demonstradas e subsistem uma ao lado da outra no
Sistema de Contradições.
Faço a mesma operação sobre cada uma das categorias econômicas,
a divisão do trabalho, a concorrência, o Estado, o crédito, a
comunidade etc., mostrando alternativamente como cada uma
destas idéias e, por conseguinte, como as instituições que elas
engendram têm um lado positivo e um lado negativo; como elas dão
lugar a uma dupla série de resultados diametralmente opostos: e
sempre concluo pela necessidade de um acordo, conciliação ou
síntese. A propriedade aparecia então aí, com as outras categorias
econômicas, com sua razão de ser e sua razão de não ser, isto é,
como elemento de duas faces do sistema econômico social.
Assim exposto, aquilo pareceu sofístico, contraditório, acusado de
equívoco e de má-fé. Vou esforçar-me por torná-la mais inteligível,
retomando por exemplo a propriedade.
A propriedade, considerada no conjunto das instituições sociais, tem
por assim dizer duas contas abertas: uma é a dos bens que ela
obtém, e que decorrem diretamente de sua essência; a outra é a dos
inconvenientes que ela produz, dos gastos que ela ocasiona e que se
seguem, como os bens, também diretamente de sua natureza. O
mesmo acontece com a concorrência, o monopólio, o Estado etc.
Na propriedade, como em todos os elementos econômicos, o mal
ou abuso é inseparável do bem, exatamente como na contabilidade
por partidas dobradas o dever é inseparável do haver. Um engendra
necessariamente o outro. Querer suprimir o abuso da propriedade é
destruí-la; da mesma maneira que suprimir um artigo do débito de
uma conta é destruí-lo no crédito. Tudo o que é possível fazer
contra os abusos ou inconvenientes da propriedade é fundi-la,
sintetizar, organizar ou equilibrar com um elemento contrário que
seja frente a ela o que o credor é frente ao devedor, o acionista
frente ao comanditado etc. (tal será, por exemplo, a comunidade); de
tal sorte que, sem que os dois princípios se alterem ou se destruam
mutuamente, o bem de um cubra o mal do outro, como num
balanço, as partes, após estarem reciprocamente liquidadas,
conduzem a um resultado final, que é ou perda total ou benefício
total.
A solução do problema da miséria consiste então em elevar a uma
expressão mais alta a ciência do contável, em preparar as escrituras
da sociedade, em estabelecer o ativo e o passivo de cada instituição,
tomando por contas gerais ou divisões do grande livro social não
mais os termos da contabilidade ordinária, capital, caixa,
mercadorias gerais, extratos e remessas, etc.; mas os da filosofia da
legislação e da política: concorrência e monopólio, propriedade e
comunidade, cidadão e Estado, homem e Deus etc. Enfim, e para
complementar minha comparação, é preciso manter as escrituras em
dia, isto é, determinar em exatidão os direitos e os deveres, de
maneira a poder, em cada momento, constatar a ordem ou a
desordem e apresentar o balanço.
Dediquei-me em dois volumes a explicar os princípios desta
contabilidade que chamarei, se deseja, transcendente; voltei cem
vezes, desde Fevereiro ², a estas idéias elementares, comuns à
escrituração comercial e à metafísica. Os economistas rotineiros
riram-me na cara; os ideológicos políticos convidaram-me
polidamente a escrever para o povo. Quanto àqueles de que tomei
tão a sério os interesses, trataram-me ainda pior.
Os comunistas não me perdoam por ter feito a crítica da
comunidade, como se uma nação fosse um grande polipeiro e como
se ao lado do direito social não houvesse o direito individual.
Os proprietários me desejam mal de morte por haver dito que a
propriedade, sozinha e por si mesma, é um roubo; como se a
propriedade não tirasse todo seu valor (sua renda) da circulação dos
produtos e, por conseguinte, não revelasse de um fato superior a ela,
a forca coletiva, a solidariedade do trabalho.
Os políticos, finalmente, qualquer que seja sua bandeira, opõem-se a
todo custo à anarquia, que eles tomam pela desordem; como se a
democracia pudesse se realizar de outro modo que não pela
distribuição da autoridade, e que o verdadeiro sentido da palavra
democracia não posse destituição do governo.
(...) Na sociedade, a teoria das antinomias é ao mesmo tempo a
representação e a base de todo movimento, os costumes e as
instituições podem variar de povo para povo, como o oficio e as
mecânicas variam de século para século, de cidade para cidade: as
leis que regem suas evoluções são inflexíveis como a álgebra. Por
toda a parte onde existem homens agrupados pelo trabalho, por
toda a parte onde a idéia de valor mercantil criou raiz, onde pela
separação das industrias fez-se uma circulação de valores e de
produtos, aí, sob pena de perturbação, de déficit, de bancarrota da
sociedade para com ela mesma, sob pena de miséria e de
proletarização, as forças antinômicas da sociedade, inerentes a todo
desenvolvimento da atividade coletiva como em toda razão
individual, devem ser mantidas num equilíbrio constante; e o
antagonismo, perpetuamente reproduzido pela oposição
fundamental da sociedade e da individualidade, deve ser
perpetuamente reconduzido à síntese.
Notas:
¹ Trata-se do livro Sistema das Contradições Econômicas ou
Filosofia da Miséria (Système dês Contradictions Économiques ou
Philosophie de La Misère), dois volumes, 1846.
² A revolução parisiense de Fevereiro de 1848.
¹ Trata-se do livro Sistema das Contradições Econômicas ou
Filosofia da Miséria (Système dês Contradictions Économiques ou
Philosophie de La Misère), dois volumes, 1846.
² A revolução parisiense de Fevereiro de 1848.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Liberalismo 2° Fase (Eja)
Liberalismo 2° Fase (Eja)Liberalismo 2° Fase (Eja)
Liberalismo 2° Fase (Eja)guest147da1
 
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz Reis
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz ReisERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz Reis
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz ReisBlackBlocRJ
 
Poder e Anarquia - Edson Passetti
Poder e Anarquia - Edson PassettiPoder e Anarquia - Edson Passetti
Poder e Anarquia - Edson PassettiBlackBlocRJ
 
Sociologia - Pensamentos sobre o estado
Sociologia - Pensamentos sobre o estadoSociologia - Pensamentos sobre o estado
Sociologia - Pensamentos sobre o estadoFilllipe
 
Estado, dominação e poder
Estado, dominação e poderEstado, dominação e poder
Estado, dominação e poderwbluerain
 
Sociologia e filosofia
Sociologia e filosofiaSociologia e filosofia
Sociologia e filosofiaSilvana
 
Ideologia althusser poulantzas
Ideologia althusser poulantzasIdeologia althusser poulantzas
Ideologia althusser poulantzasItamar Silva
 
I seminário da disciplina estado e política educacional
I seminário da disciplina estado e política educacionalI seminário da disciplina estado e política educacional
I seminário da disciplina estado e política educacionalRosyane Dutra
 
Alexis de tocqueville
Alexis de tocquevilleAlexis de tocqueville
Alexis de tocquevilleAlex Sousa
 
Ou apostila teoria-geral_processo
Ou apostila teoria-geral_processoOu apostila teoria-geral_processo
Ou apostila teoria-geral_processoHELIVAN oliveira
 

Mais procurados (20)

Liberalismo 2° Fase (Eja)
Liberalismo 2° Fase (Eja)Liberalismo 2° Fase (Eja)
Liberalismo 2° Fase (Eja)
 
Disciplina iii unb (texto 5)
Disciplina  iii unb (texto 5)Disciplina  iii unb (texto 5)
Disciplina iii unb (texto 5)
 
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz Reis
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz ReisERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz Reis
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz Reis
 
Poder e Anarquia - Edson Passetti
Poder e Anarquia - Edson PassettiPoder e Anarquia - Edson Passetti
Poder e Anarquia - Edson Passetti
 
Anarquismo
AnarquismoAnarquismo
Anarquismo
 
Estado e direito em poulantzas
Estado e direito em poulantzasEstado e direito em poulantzas
Estado e direito em poulantzas
 
Sociologia - Pensamentos sobre o estado
Sociologia - Pensamentos sobre o estadoSociologia - Pensamentos sobre o estado
Sociologia - Pensamentos sobre o estado
 
Teoria das formas de governo e de estado
Teoria das formas de governo e de estadoTeoria das formas de governo e de estado
Teoria das formas de governo e de estado
 
Estado, dominação e poder
Estado, dominação e poderEstado, dominação e poder
Estado, dominação e poder
 
Estado liberal
Estado liberalEstado liberal
Estado liberal
 
Nicolau Maquiavel
Nicolau MaquiavelNicolau Maquiavel
Nicolau Maquiavel
 
Seminário Rousseau
Seminário RousseauSeminário Rousseau
Seminário Rousseau
 
Sociologia e filosofia
Sociologia e filosofiaSociologia e filosofia
Sociologia e filosofia
 
Ideologia althusser poulantzas
Ideologia althusser poulantzasIdeologia althusser poulantzas
Ideologia althusser poulantzas
 
Airtóteteles visão política
Airtóteteles visão políticaAirtóteteles visão política
Airtóteteles visão política
 
I seminário da disciplina estado e política educacional
I seminário da disciplina estado e política educacionalI seminário da disciplina estado e política educacional
I seminário da disciplina estado e política educacional
 
As manifestções em São Paulo
As manifestções em São PauloAs manifestções em São Paulo
As manifestções em São Paulo
 
Alexis de tocqueville
Alexis de tocquevilleAlexis de tocqueville
Alexis de tocqueville
 
Fluzz pilulas 51
Fluzz pilulas 51Fluzz pilulas 51
Fluzz pilulas 51
 
Ou apostila teoria-geral_processo
Ou apostila teoria-geral_processoOu apostila teoria-geral_processo
Ou apostila teoria-geral_processo
 

Destaque

Matricula Postgrado 2008 (Proceso Sies 2008)Vd
Matricula Postgrado 2008 (Proceso Sies 2008)VdMatricula Postgrado 2008 (Proceso Sies 2008)Vd
Matricula Postgrado 2008 (Proceso Sies 2008)VdSIES DIVESUP
 
C:\Fakepath\Trabajo De Martí
C:\Fakepath\Trabajo De MartíC:\Fakepath\Trabajo De Martí
C:\Fakepath\Trabajo De MartíExcilgas
 
Tasca Biocombustibles
Tasca BiocombustiblesTasca Biocombustibles
Tasca BiocombustiblesSandraaa3
 
Article HandiCapZero
Article HandiCapZeroArticle HandiCapZero
Article HandiCapZeromadeinth
 
Principais artilheiros 1ª rodada 19º camp. de futsal edição 2013-6ª rodada
Principais artilheiros 1ª rodada 19º camp. de futsal edição 2013-6ª rodadaPrincipais artilheiros 1ª rodada 19º camp. de futsal edição 2013-6ª rodada
Principais artilheiros 1ª rodada 19º camp. de futsal edição 2013-6ª rodadacairo
 
The Future of Chapada dos Guimaraes in Mato Grosso
The Future of Chapada dos Guimaraes in Mato GrossoThe Future of Chapada dos Guimaraes in Mato Grosso
The Future of Chapada dos Guimaraes in Mato GrossoVOLUNTÁRIA CAUSA SOCIAL
 
Semana santa en ronda
Semana santa en rondaSemana santa en ronda
Semana santa en rondaanagc23
 
História e novos projetos WJ Brands
História e novos projetos WJ BrandsHistória e novos projetos WJ Brands
História e novos projetos WJ BrandsJordana Ricci
 
La gastronomia de Asturias Isabel
La gastronomia de Asturias IsabelLa gastronomia de Asturias Isabel
La gastronomia de Asturias Isabelcpapolinar
 
Marketing , Identidad Corporativa , Diseño Gráfico , Publicidad en Trujillo -...
Marketing , Identidad Corporativa , Diseño Gráfico , Publicidad en Trujillo -...Marketing , Identidad Corporativa , Diseño Gráfico , Publicidad en Trujillo -...
Marketing , Identidad Corporativa , Diseño Gráfico , Publicidad en Trujillo -...POSICIONAMIENTO SEO
 
Presentación sareb nuevo-plan-negocio
Presentación sareb nuevo-plan-negocioPresentación sareb nuevo-plan-negocio
Presentación sareb nuevo-plan-negocioidealista/news
 
Aprendizaje Basado En Proyecto
Aprendizaje Basado En ProyectoAprendizaje Basado En Proyecto
Aprendizaje Basado En Proyectoguest58b8ec
 

Destaque (20)

Matricula Postgrado 2008 (Proceso Sies 2008)Vd
Matricula Postgrado 2008 (Proceso Sies 2008)VdMatricula Postgrado 2008 (Proceso Sies 2008)Vd
Matricula Postgrado 2008 (Proceso Sies 2008)Vd
 
Practica 2
Practica 2Practica 2
Practica 2
 
Consultar el catalogo
Consultar el catalogoConsultar el catalogo
Consultar el catalogo
 
C:\Fakepath\Trabajo De Martí
C:\Fakepath\Trabajo De MartíC:\Fakepath\Trabajo De Martí
C:\Fakepath\Trabajo De Martí
 
VíA CRUCIS 2010
VíA CRUCIS 2010VíA CRUCIS 2010
VíA CRUCIS 2010
 
Tasca Biocombustibles
Tasca BiocombustiblesTasca Biocombustibles
Tasca Biocombustibles
 
Cuarenta Principales Final
Cuarenta Principales FinalCuarenta Principales Final
Cuarenta Principales Final
 
Trabajo final 2013 cepasantander
Trabajo final 2013 cepasantanderTrabajo final 2013 cepasantander
Trabajo final 2013 cepasantander
 
Article HandiCapZero
Article HandiCapZeroArticle HandiCapZero
Article HandiCapZero
 
Trabalho elaine la
Trabalho elaine laTrabalho elaine la
Trabalho elaine la
 
Principais artilheiros 1ª rodada 19º camp. de futsal edição 2013-6ª rodada
Principais artilheiros 1ª rodada 19º camp. de futsal edição 2013-6ª rodadaPrincipais artilheiros 1ª rodada 19º camp. de futsal edição 2013-6ª rodada
Principais artilheiros 1ª rodada 19º camp. de futsal edição 2013-6ª rodada
 
The Future of Chapada dos Guimaraes in Mato Grosso
The Future of Chapada dos Guimaraes in Mato GrossoThe Future of Chapada dos Guimaraes in Mato Grosso
The Future of Chapada dos Guimaraes in Mato Grosso
 
Semana santa en ronda
Semana santa en rondaSemana santa en ronda
Semana santa en ronda
 
Hause b1
Hause b1Hause b1
Hause b1
 
História e novos projetos WJ Brands
História e novos projetos WJ BrandsHistória e novos projetos WJ Brands
História e novos projetos WJ Brands
 
La gastronomia de Asturias Isabel
La gastronomia de Asturias IsabelLa gastronomia de Asturias Isabel
La gastronomia de Asturias Isabel
 
Marketing , Identidad Corporativa , Diseño Gráfico , Publicidad en Trujillo -...
Marketing , Identidad Corporativa , Diseño Gráfico , Publicidad en Trujillo -...Marketing , Identidad Corporativa , Diseño Gráfico , Publicidad en Trujillo -...
Marketing , Identidad Corporativa , Diseño Gráfico , Publicidad en Trujillo -...
 
Projeto ambientação 2014
Projeto ambientação 2014Projeto ambientação 2014
Projeto ambientação 2014
 
Presentación sareb nuevo-plan-negocio
Presentación sareb nuevo-plan-negocioPresentación sareb nuevo-plan-negocio
Presentación sareb nuevo-plan-negocio
 
Aprendizaje Basado En Proyecto
Aprendizaje Basado En ProyectoAprendizaje Basado En Proyecto
Aprendizaje Basado En Proyecto
 

Semelhante a O sistema das_contradicoes_economicas

Teoria do caos - Robert P. Murphy
Teoria do caos - Robert P. MurphyTeoria do caos - Robert P. Murphy
Teoria do caos - Robert P. MurphyJuliana R
 
Políticas públicas educacionais aula 1
Políticas públicas educacionais   aula   1Políticas públicas educacionais   aula   1
Políticas públicas educacionais aula 1Darlan Campos
 
Sociedade contemporanea e alienação
Sociedade contemporanea e alienaçãoSociedade contemporanea e alienação
Sociedade contemporanea e alienaçãoErica Frau
 
Conceituando pol ticas_educacionais
Conceituando pol ticas_educacionaisConceituando pol ticas_educacionais
Conceituando pol ticas_educacionaisSyl Vidal
 
PREFÁCIO DE CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA - KARL MARX
PREFÁCIO DE CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA - KARL MARXPREFÁCIO DE CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA - KARL MARX
PREFÁCIO DE CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA - KARL MARXCristiane Vitório
 
Realismo/Naturalismo
Realismo/NaturalismoRealismo/Naturalismo
Realismo/Naturalismoprofconrad
 
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associação
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associaçãoPierre joseph proudhon sobre o princípio da associação
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associaçãomoratonoise
 
Brasil, turquia... rumo ao convivialismo? (portugués)
 Brasil, turquia... rumo ao convivialismo? (portugués) Brasil, turquia... rumo ao convivialismo? (portugués)
Brasil, turquia... rumo ao convivialismo? (portugués)educacionsinescuela
 
Catorze cartas às esquerdas (Boaventura de S. Santos).pdf
Catorze cartas às esquerdas (Boaventura de S. Santos).pdfCatorze cartas às esquerdas (Boaventura de S. Santos).pdf
Catorze cartas às esquerdas (Boaventura de S. Santos).pdfPamela931154
 
Socialismo científico
Socialismo científicoSocialismo científico
Socialismo científicobrendagersanti
 
As filosofias políticas
As filosofias políticasAs filosofias políticas
As filosofias políticaslorrane2300
 
Anarquismo e pedagogia_libertaria
Anarquismo e pedagogia_libertariaAnarquismo e pedagogia_libertaria
Anarquismo e pedagogia_libertariaFabíola Leão
 
4ufkfdqg(2)
4ufkfdqg(2)4ufkfdqg(2)
4ufkfdqg(2)mauxa
 
A questão do estado luciano gruppi (italia)
A questão do estado   luciano gruppi (italia)A questão do estado   luciano gruppi (italia)
A questão do estado luciano gruppi (italia)Maressah Cunha
 
FRANCO, Augusto - Você é o Inimigo
FRANCO, Augusto - Você é o InimigoFRANCO, Augusto - Você é o Inimigo
FRANCO, Augusto - Você é o InimigoFabio Pedrazzi
 
Sociologia - O socialismo e o Homem em cuba
Sociologia - O socialismo e o Homem em cubaSociologia - O socialismo e o Homem em cuba
Sociologia - O socialismo e o Homem em cubaCarson Souza
 

Semelhante a O sistema das_contradicoes_economicas (20)

Teoria do caos - Robert P. Murphy
Teoria do caos - Robert P. MurphyTeoria do caos - Robert P. Murphy
Teoria do caos - Robert P. Murphy
 
Políticas públicas educacionais aula 1
Políticas públicas educacionais   aula   1Políticas públicas educacionais   aula   1
Políticas públicas educacionais aula 1
 
Sociedade contemporanea e alienação
Sociedade contemporanea e alienaçãoSociedade contemporanea e alienação
Sociedade contemporanea e alienação
 
Conceituando pol ticas_educacionais
Conceituando pol ticas_educacionaisConceituando pol ticas_educacionais
Conceituando pol ticas_educacionais
 
PREFÁCIO DE CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA - KARL MARX
PREFÁCIO DE CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA - KARL MARXPREFÁCIO DE CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA - KARL MARX
PREFÁCIO DE CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA - KARL MARX
 
O direito em Kant.pptx
O direito em Kant.pptxO direito em Kant.pptx
O direito em Kant.pptx
 
Realismo/Naturalismo
Realismo/NaturalismoRealismo/Naturalismo
Realismo/Naturalismo
 
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associação
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associaçãoPierre joseph proudhon sobre o princípio da associação
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associação
 
Brasil, turquia... rumo ao convivialismo? (portugués)
 Brasil, turquia... rumo ao convivialismo? (portugués) Brasil, turquia... rumo ao convivialismo? (portugués)
Brasil, turquia... rumo ao convivialismo? (portugués)
 
Catorze cartas às esquerdas (Boaventura de S. Santos).pdf
Catorze cartas às esquerdas (Boaventura de S. Santos).pdfCatorze cartas às esquerdas (Boaventura de S. Santos).pdf
Catorze cartas às esquerdas (Boaventura de S. Santos).pdf
 
Socialismo científico
Socialismo científicoSocialismo científico
Socialismo científico
 
As filosofias políticas
As filosofias políticasAs filosofias políticas
As filosofias políticas
 
Anarquismo e pedagogia_libertaria
Anarquismo e pedagogia_libertariaAnarquismo e pedagogia_libertaria
Anarquismo e pedagogia_libertaria
 
4ufkfdqg(2)
4ufkfdqg(2)4ufkfdqg(2)
4ufkfdqg(2)
 
4ufkfdqg
4ufkfdqg4ufkfdqg
4ufkfdqg
 
4ufkfdqg(2)
4ufkfdqg(2)4ufkfdqg(2)
4ufkfdqg(2)
 
A questão do estado luciano gruppi (italia)
A questão do estado   luciano gruppi (italia)A questão do estado   luciano gruppi (italia)
A questão do estado luciano gruppi (italia)
 
FRANCO, Augusto - Você é o Inimigo
FRANCO, Augusto - Você é o InimigoFRANCO, Augusto - Você é o Inimigo
FRANCO, Augusto - Você é o Inimigo
 
Sociologia - O socialismo e o Homem em cuba
Sociologia - O socialismo e o Homem em cubaSociologia - O socialismo e o Homem em cuba
Sociologia - O socialismo e o Homem em cuba
 
Texto7 P7
Texto7 P7Texto7 P7
Texto7 P7
 

Mais de moratonoise

Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionario
Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionarioPlataforma internacional do_anarquismo_revolucionario
Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionariomoratonoise
 
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...moratonoise
 
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulo
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-pauloRodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulo
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulomoratonoise
 
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridade
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridadeProudhon p-j.-sociedade-sem-autoridade
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridademoratonoise
 
Proudhon filosofia-da-miseria
Proudhon filosofia-da-miseriaProudhon filosofia-da-miseria
Proudhon filosofia-da-miseriamoratonoise
 
Principio da autoridade
Principio da autoridadePrincipio da autoridade
Principio da autoridademoratonoise
 
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunas
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunasRepublica francesa federacao_revolucionaria_das_comunas
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunasmoratonoise
 
Os grandes escritos anarquistas
Os grandes escritos anarquistasOs grandes escritos anarquistas
Os grandes escritos anarquistasmoratonoise
 
Os arquitetos da ordem anárquica
Os arquitetos da ordem anárquicaOs arquitetos da ordem anárquica
Os arquitetos da ordem anárquicamoratonoise
 
O pensamento-político-de-bakunin
O pensamento-político-de-bakuninO pensamento-político-de-bakunin
O pensamento-político-de-bakuninmoratonoise
 
O sistema capitalista
O sistema capitalistaO sistema capitalista
O sistema capitalistamoratonoise
 
O que e_ideologia
O que e_ideologiaO que e_ideologia
O que e_ideologiamoratonoise
 
O que e_a_propriedade
O que e_a_propriedadeO que e_a_propriedade
O que e_a_propriedademoratonoise
 
O principio anarquista_e_outros_ensaios
O principio anarquista_e_outros_ensaiosO principio anarquista_e_outros_ensaios
O principio anarquista_e_outros_ensaiosmoratonoise
 
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...moratonoise
 
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passos
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passosO 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passos
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passosmoratonoise
 
Nestor makhno a revolução anarquista
Nestor makhno a revolução anarquistaNestor makhno a revolução anarquista
Nestor makhno a revolução anarquistamoratonoise
 
Neno vasco concepção anarquista do sindicalismo
Neno vasco concepção anarquista do sindicalismoNeno vasco concepção anarquista do sindicalismo
Neno vasco concepção anarquista do sindicalismomoratonoise
 
Nem patria nem patrão
Nem patria nem patrãoNem patria nem patrão
Nem patria nem patrãomoratonoise
 

Mais de moratonoise (20)

Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionario
Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionarioPlataforma internacional do_anarquismo_revolucionario
Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionario
 
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...
 
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulo
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-pauloRodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulo
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulo
 
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridade
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridadeProudhon p-j.-sociedade-sem-autoridade
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridade
 
Proudhon filosofia-da-miseria
Proudhon filosofia-da-miseriaProudhon filosofia-da-miseria
Proudhon filosofia-da-miseria
 
Principio da autoridade
Principio da autoridadePrincipio da autoridade
Principio da autoridade
 
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunas
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunasRepublica francesa federacao_revolucionaria_das_comunas
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunas
 
Os grandes escritos anarquistas
Os grandes escritos anarquistasOs grandes escritos anarquistas
Os grandes escritos anarquistas
 
Os arquitetos da ordem anárquica
Os arquitetos da ordem anárquicaOs arquitetos da ordem anárquica
Os arquitetos da ordem anárquica
 
O pensamento-político-de-bakunin
O pensamento-político-de-bakuninO pensamento-político-de-bakunin
O pensamento-político-de-bakunin
 
O sistema capitalista
O sistema capitalistaO sistema capitalista
O sistema capitalista
 
O que e_ideologia
O que e_ideologiaO que e_ideologia
O que e_ideologia
 
O que e_a_propriedade
O que e_a_propriedadeO que e_a_propriedade
O que e_a_propriedade
 
O principio anarquista_e_outros_ensaios
O principio anarquista_e_outros_ensaiosO principio anarquista_e_outros_ensaios
O principio anarquista_e_outros_ensaios
 
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...
 
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passos
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passosO 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passos
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passos
 
O principe
O principeO principe
O principe
 
Nestor makhno a revolução anarquista
Nestor makhno a revolução anarquistaNestor makhno a revolução anarquista
Nestor makhno a revolução anarquista
 
Neno vasco concepção anarquista do sindicalismo
Neno vasco concepção anarquista do sindicalismoNeno vasco concepção anarquista do sindicalismo
Neno vasco concepção anarquista do sindicalismo
 
Nem patria nem patrão
Nem patria nem patrãoNem patria nem patrão
Nem patria nem patrão
 

O sistema das_contradicoes_economicas

  • 1. BPI – Biblioteca Pública Independente www.bpi.socialismolibertario.com.br MAL-BH – Movimento Anarquista Libertário www.socialismolibertario.com.br O SISTEMA DAS CONTRADIÇÕES ECONÔMICAS Joseph Pierre Proudhon Escritos extraídos de A Propriedade é um Roubo; e outros escritos anarquistas. Nota: O escrito, que tem o mesmo título do livro “Filosofia da Miséria”, não tem nada com o livro, mas sim, poderia ser sua breve introdução. É também o estudo da frase “A propriedade é um roubo!” dita por Proudhon. Extraído de: Confessions d’um Révolutionnaire..., op. cit. (...) Compreendi que, para adquirir o entendimento das revoluções sociais, a primeira coisa a fazer era constituir a série inteira de suas antinomias, o sistema de suas contradições. Seria difícil da àqueles que não a leram uma idéia desta obra ¹. No entanto eu o tentarei, servindo-me da linguagem dos guarda-livros, hoje compreendida por toda gente; porque, se eu conseguia, em algumas linhas, dar uma idéia clara do que considero como o verdadeiro método econômico, é difícil que ela não tenha imediatamente contrariado todas as convicções.
  • 2. Em meus primeiros relatórios, atacando de frente a ordem estabelecida, eu dizia, por exemplo, a propriedade é um roubo! Tratava-se de protestar, de, por assim dizer, colocar em relevo a fragilidade de nossas instituições. Eu não tinha então outra coisa a me ocupar. Também, no relatório em que eu demonstrava, por a + b, esta surpreendente proposição, tive o cuidado de protestar contra qualquer conclusão comunista. No Sistema de Contradições Econômicas, após ter restabelecido e confirmado minha primeira definição, acrescento a ela outra ordem, que não podia nem destruir a primeira argumentação nem ser destruída por ela: a prosperidade é uma liberdade. A propriedade é um roubo; a prosperidade é uma liberdade: estas duas proposições são igualmente demonstradas e subsistem uma ao lado da outra no Sistema de Contradições. Faço a mesma operação sobre cada uma das categorias econômicas, a divisão do trabalho, a concorrência, o Estado, o crédito, a comunidade etc., mostrando alternativamente como cada uma destas idéias e, por conseguinte, como as instituições que elas engendram têm um lado positivo e um lado negativo; como elas dão lugar a uma dupla série de resultados diametralmente opostos: e sempre concluo pela necessidade de um acordo, conciliação ou síntese. A propriedade aparecia então aí, com as outras categorias econômicas, com sua razão de ser e sua razão de não ser, isto é, como elemento de duas faces do sistema econômico social. Assim exposto, aquilo pareceu sofístico, contraditório, acusado de equívoco e de má-fé. Vou esforçar-me por torná-la mais inteligível, retomando por exemplo a propriedade. A propriedade, considerada no conjunto das instituições sociais, tem por assim dizer duas contas abertas: uma é a dos bens que ela obtém, e que decorrem diretamente de sua essência; a outra é a dos inconvenientes que ela produz, dos gastos que ela ocasiona e que se seguem, como os bens, também diretamente de sua natureza. O mesmo acontece com a concorrência, o monopólio, o Estado etc.
  • 3. Na propriedade, como em todos os elementos econômicos, o mal ou abuso é inseparável do bem, exatamente como na contabilidade por partidas dobradas o dever é inseparável do haver. Um engendra necessariamente o outro. Querer suprimir o abuso da propriedade é destruí-la; da mesma maneira que suprimir um artigo do débito de uma conta é destruí-lo no crédito. Tudo o que é possível fazer contra os abusos ou inconvenientes da propriedade é fundi-la, sintetizar, organizar ou equilibrar com um elemento contrário que seja frente a ela o que o credor é frente ao devedor, o acionista frente ao comanditado etc. (tal será, por exemplo, a comunidade); de tal sorte que, sem que os dois princípios se alterem ou se destruam mutuamente, o bem de um cubra o mal do outro, como num balanço, as partes, após estarem reciprocamente liquidadas, conduzem a um resultado final, que é ou perda total ou benefício total. A solução do problema da miséria consiste então em elevar a uma expressão mais alta a ciência do contável, em preparar as escrituras da sociedade, em estabelecer o ativo e o passivo de cada instituição, tomando por contas gerais ou divisões do grande livro social não mais os termos da contabilidade ordinária, capital, caixa, mercadorias gerais, extratos e remessas, etc.; mas os da filosofia da legislação e da política: concorrência e monopólio, propriedade e comunidade, cidadão e Estado, homem e Deus etc. Enfim, e para complementar minha comparação, é preciso manter as escrituras em dia, isto é, determinar em exatidão os direitos e os deveres, de maneira a poder, em cada momento, constatar a ordem ou a desordem e apresentar o balanço. Dediquei-me em dois volumes a explicar os princípios desta contabilidade que chamarei, se deseja, transcendente; voltei cem vezes, desde Fevereiro ², a estas idéias elementares, comuns à escrituração comercial e à metafísica. Os economistas rotineiros riram-me na cara; os ideológicos políticos convidaram-me polidamente a escrever para o povo. Quanto àqueles de que tomei tão a sério os interesses, trataram-me ainda pior.
  • 4. Os comunistas não me perdoam por ter feito a crítica da comunidade, como se uma nação fosse um grande polipeiro e como se ao lado do direito social não houvesse o direito individual. Os proprietários me desejam mal de morte por haver dito que a propriedade, sozinha e por si mesma, é um roubo; como se a propriedade não tirasse todo seu valor (sua renda) da circulação dos produtos e, por conseguinte, não revelasse de um fato superior a ela, a forca coletiva, a solidariedade do trabalho. Os políticos, finalmente, qualquer que seja sua bandeira, opõem-se a todo custo à anarquia, que eles tomam pela desordem; como se a democracia pudesse se realizar de outro modo que não pela distribuição da autoridade, e que o verdadeiro sentido da palavra democracia não posse destituição do governo. (...) Na sociedade, a teoria das antinomias é ao mesmo tempo a representação e a base de todo movimento, os costumes e as instituições podem variar de povo para povo, como o oficio e as mecânicas variam de século para século, de cidade para cidade: as leis que regem suas evoluções são inflexíveis como a álgebra. Por toda a parte onde existem homens agrupados pelo trabalho, por toda a parte onde a idéia de valor mercantil criou raiz, onde pela separação das industrias fez-se uma circulação de valores e de produtos, aí, sob pena de perturbação, de déficit, de bancarrota da sociedade para com ela mesma, sob pena de miséria e de proletarização, as forças antinômicas da sociedade, inerentes a todo desenvolvimento da atividade coletiva como em toda razão individual, devem ser mantidas num equilíbrio constante; e o antagonismo, perpetuamente reproduzido pela oposição fundamental da sociedade e da individualidade, deve ser perpetuamente reconduzido à síntese. Notas:
  • 5. ¹ Trata-se do livro Sistema das Contradições Econômicas ou Filosofia da Miséria (Système dês Contradictions Économiques ou Philosophie de La Misère), dois volumes, 1846. ² A revolução parisiense de Fevereiro de 1848. ¹ Trata-se do livro Sistema das Contradições Econômicas ou Filosofia da Miséria (Système dês Contradictions Économiques ou Philosophie de La Misère), dois volumes, 1846. ² A revolução parisiense de Fevereiro de 1848.