SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 7
Baixar para ler offline
23
verve
A filiação de Proudhon
a filiação de proudhon
daniel colson*
Como a maioria dos outros teóricos do anarquismo
(Godwin, Coeuderoy, Dejacque ou Bakunin, por exem-
plo), Proudhon não escapa do desprezo ligado à aparente
excentricidade de suas idéias — mas também a modos
de agir e de situar-se no mundo — despreocupadas com
as formas e convenções capazes de mascarar sua origi-
nalidade. No entanto, a esse descrédito comum, Prou-
dhon acrescenta uma má e estranha reputação (devida
sem dúvida à importância e ao caráter durante muito
tempo enigmático de sua obra) que não apenas reforça
as razões para não lê-lo, mas principalmente para dizer
ou repetir despropósitos a seu respeito. Por exemplo, e
para citar somente o lugar comum mais extravagante,
que ele seria “o pai do anti-semitismo moderno”.1
En-
tretanto, o interesse contraditório e, por um longo perí-
odo, inconcluso por seus escritos — de Elie Havély a
Georges Gurvitch, passando por Leon Brunschvicg ou o
* Professor de Sociologia na universidade de Saint-Étienne, membro da livra-
ria libertária La Gryffe de Lyon, autor de Petit lexique philosophique de l’anarchisme.
De Proudhon a Deleuze. Paris, ed. Le Livre de Poche, 2001 e Trois essais de
philosophie anarchiste, Islam, Histoire et Monadologie. Paris, ed. Léo Scheer, 2004.
verve, 9: 23-29, 2006
24
9
2006
durkeiniano Célestin Bouglé e o inclassificável Geor-
ges Sorel — basta para mostrar a força e a importância
de uma filosofia que apenas o ressurgimento libertário
destes últimos anos, e a aparição de um pensamento
contemporâneo dito “pós-moderno”, finalmente tornou
perceptíveis.
As ondas Proudhon
Embora seja certo que ele recusaria tal distinção, a
importância de Proudhon é de duas ordens. Ela é em pri-
meiro lugar histórica e política. De fato, é impossível com-
preender o que quer que seja sobre a natureza e signifi-
cação dos movimentos revolucionários ocorridos a partir
da segunda metade do século XIX sem conhecer a obra
de Proudhon. Uma obra que esteve em parte na origem
desses movimentos, mas que é, sobretudo, expressão e
fonte de inspiração para a riqueza, diversidade e origina-
lidade de sua realidade e significação emancipadoras.
Durante mais de setenta e cinco anos (quatro gerações
operárias), desde a fundação da 1ª Internacional, em Lon-
dres em 1865, até o fim da revolução espanhola em 1939,
o conjunto de países em vias de industrialização foi atra-
vessado por surpreendentes movimentos operários e re-
volucionários, mas freqüentemente ignorados, duplamen-
te massacrados, tanto em sua realidade quanto em sua
lembrança, pelas ulteriores configurações do comunis-
mo marxista. A influência de Proudhon passa por múlti-
plas ondas e histórias diferentes, que se recobrem e se
reforçam mesmo quando são muito diversas. Temos por
exemplo, os movimentos cooperativos — esse ramo du-
radouro, mas negligenciado do movimento operário in-
ternacional. Ou ainda a 1ª Internacional (AIT), uma pri-
meira vez, com as posições moderadas dos “proudhonia-
nos” de estrita observância (os “mutualistas”), e depois,
contra os primeiros, através da radicalidade revolucio-
25
verve
A filiação de Proudhon
nária dos partidários de Bakunin, que conviveu regu-
larmente com Proudhon (durante os anos 1840), e que o
lera com paixão, antes de se apropriar dele e de retomá-
lo de outra forma. Outro exemplo é a Espanha. Inicial-
mente o proudhonianismo aí se difunde não entre os
operários, mas na pequena burguesia dos meios repu-
blicanos e federalistas, em especial com as traduções e
os escritos de Pi y Margal, ministro da efêmera repúbli-
ca de 1871, mas também inspirador mais ou menos di-
reto dos levantes cantonalistas dos anos 1860. Esse pri-
meiro proudhonianismo encontra-se e é recoberto por
uma segunda onda, desta vez estrita e massivamente
operária, através do duplo acontecimento que foi o eco
da Comuna de Paris e a ligação duradoura das princi-
pais forças operárias com o anarquismo de Bakunin.
Um outro exemplo, mais tardio, é o sindicalismo revoluci-
onário que, a partir da França e depois um pouco em
todas as partes do mundo, acaba representando o proje-
to de Proudhon em oposição, mas também em estreita
afinidade, com o proudhonianismo extremo e insurre-
cional dos anarquistas, e com aquele aparentemente
tão diferente dos múltiplos e proliferantes movimentos
culturais e cooperativos. Essa capacidade de Proudhon
de inspirar realidades tão diferentes quanto os movi-
mentos messiânicos dos operários agrícolas andaluzes,
a rigorosa e complexa federação dos relojoeiros do Jura
suíço, as ações itinerantes dos Industrial Workers in the
World (IWW) americanos, ou os grupos anarquistas do
East End judeu de Londres, serviu por um longo período
para justificar o veredicto de incoerência e heteroge-
neidade que geralmente se atribui à sua obra, como tam-
bém às revoltas e realizações de caráter libertário dos
quais ela é a vertente teórica. Mas é justamente aqui
que uma releitura contemporânea de Proudhon e des-
ses movimentos, pode tentar esclarecer sua originali-
dade e o rigor de sua lógica interna.
26
9
2006
“A anarquia, essa estranha unidade que não se diz
senão do múltiplo”. Através dessa fórmula, Gilles Deleu-
ze e Félix Guattari descrevem com economia e precisão
a originalidade do projeto libertário, e do modo pelo qual
Proudhon o pensou, duplicando assim sua diversidade e
suas contradições aparentes. De fato, como Proudhon
conseguiu ao mesmo tempo, para nos atermos ao mais
conhecido, afirmar-se como reformista e como revoluci-
onário, celebrar e denunciar o trabalho, opor-se ao ro-
mantismo insurrecional e tornar-se o apologista do guer-
reiro, reclamar-se da emancipação e dar provas de uma
inverossímil misoginia, sustentar durante o conflito do
Sonderbund suíço (1847) os cantões católicos e reacioná-
rios contra a maioria radical da Confederação, ou ainda
adversário das greves e dos primeiros sindicatos trans-
formar-se no primeiro inspirador do sindicalismo revolu-
cionário? Graças a trabalhos como os de Pierre Ansart
(especialmente Naissance de l´anarchisme2
), mas também,
mais recentemente, o trabalho da jurista Sophie Cham-
bost,3
ou ainda o livro coletivo Lyon et l´esprit proudhoni-
en,4
percebe-se melhor a coerência de um pensamento e
de um projeto fundados sobre a anarquia do real e que
rompem com o conjunto das representações da moderni-
dade. Lembremos rapidamente os traços mais marcan-
tes dessa coerência e dessa ruptura.
Uma anarquia positiva
Contra a uniformidade e as simplificações opressivas
da ordem e da representação, contra as ilusões das for-
mas, das molduras, das aparências e das classificações,
o anarquismo proudhoniano opõe o múltiplo e o diferen-
te, uma avaliação interior e singular dos seres e das si-
tuações, onde, segundo o princípio da homologia, os ami-
gos e os associados desejáveis em tal ou tal movimento
(opressivo ou emancipador) raramente estão onde se
27
verve
A filiação de Proudhon
pensa encontrá-los. À objetividade ordenada e mutilan-
te de um mundo submetido a Deus, ao Estado, ao capi-
tal, e à Ciência, o anarquismo de Proudhon — antes de
Nietszche e segundo um Leibniz liberado de Deus — opõe
o subjetivismo absoluto de um mundo anárquico que deve
ser ordenado a partir do interior, por experimentação e
pelo senso prático, por associações e des-associações
(federalismo), um mundo que convém escolher e cons-
truir dentre todos os mundos possíveis, transformando
a anarquia do real em anarquia positiva. O anarquismo
de Proudhon substitui a articulação mecânica, exterior
e utilitarista dos seres, por sua afinidade interior, para
o bom ou para o mau, a partir do jogo infinito dos encon-
tros e das associações, e como mostra qualquer história
de amor, a posse de um quepe, de um volante ou de uma
casa no subúrbio. À concepção restritiva e republicana
de uma liberdade que “pára onde começa a liberdade
dos outros” (Rousseau), o anarquismo de Proudhon opõe
uma liberdade transdutora, capaz de se estender “ao
infinito” (Bakunin). À igualdade exterior e formal das
casernas, “a igual nulidade e a escravidão igual de to-
dos diante de um mestre supremo” (Bakunin), o anar-
quismo de Proudhon opõe a igualdade interior de um eu
absoluto, inviolável em sua dignidade, ali onde, como afir-
ma Deleuze, “o menor torna-se o igual do maior desde
que não seja separado daquilo que ele pode.” Ao dualis-
mo da alma e do corpo, o anarquismo opõe o monismo de
um pensamento onde tudo é potência, desejo e vontade,
forças a cada vez singulares e dotadas da possibilidade
de avaliar incessantemente a qualidade emancipadora
ou opressiva daquilo que as constitui. A falsas oposi-
ções que fixam e justificam a prisão em que vivemos —
indivíduo/sociedade, natureza/cultura, bem/mal, ho-
mem/mulher, objetividade/subjetividade, humano/
não-humano — são substituídas pelo anarquismo por
uma composição e uma transformação permanentes dos
28
9
2006
seres e das situações. Todo indivíduo é um grupo, um
“composto de potências”, e todo grupo, toda entidade co-
letiva, não importando seu tamanho ou duração, é um
“indivíduo”, dotado de vontade e força, de sua própria sub-
jetividade. À liberdade abstrata e vazia do cidadão, do
consumidor e desempregado “livremente” em busca de
dinheiro, de trabalho e de felicidade, o anarquismo opõe
a necessidade interior dos seres, segundo a natureza
mais ou menos fugidia de sua composição, de seus en-
contros e de suas associações. Necessidade e liberdade
se confundem, pois para o anarquismo, e como em Spi-
noza, é dita livre a coisa que existe apenas pela neces-
sidade de sua natureza” e “obrigada, a coisa que é de-
terminada por uma outra a existir e a agir segundo uma
lei particular e determinada.”5
Em suma, é preciso ler e reler Proudhon à luz das
experiências das quais ele é ao mesmo tempo a expres-
são e o inspirador, mas também à luz de um pensamen-
to dito pós-moderno que ele esclarece e que o esclarece,
contribuindo assim a dar sentido e força a todos aqueles
que, seja à escala do mundo, seja à de sua vida mais
imediata, recusam o absurdo e os pesadelos previsíveis
deste século XXI que se inicia.
Tradução do francês por Martha Gambini.
Notas
1
Pierre Birnbaum, Le Monde, de 18 de janeiro de 1987; Roger Pol-Droit, Le Monde
de 12 de setembro de 2003, etc.
2
Piere Ansart. Naissance de l’anarchisme. Paris, ed. PUF, 1970.
3
Sophie Chambost. Proudhon et la norme. Pensée juridique d´un anarchiste. Rennes, ed.
Presses universitaires de Rennes, 2004.
4
Vários autores. Lyon et l´esprit proudhonien. Lyon, Atelier de création libertaires,
2003.
5
Spinoza. Éthique, livro I, def. 7.
29
verve
A filiação de Proudhon
RESUMO
O artigo apresenta o pensamento de Proudhon como multiplicador
de práticas distintas e diversas entre si ao longo da história do
socialismo, da Comuna de Paris ao sindicalismo revolucionário,
do anti-romântico insurrecional ao apologista guerreiro. Pensamento
do múltiplo e da diferença evita os falsos dualismos indivíduo/
sociedade, natureza/cultura, bem/mal...
Palavras-chave: Proudhon, anarquismo, história.
ABSTRACT
The article presents Proudhon’s thought as multiplier of distinct
and diverse practices throughout the history of socialism, from
the Paris Commune to the revolutionary syndicalism, from the in-
surrectional anti-romantic to the apologist warrior. Thought of the
multiple and of the difference avoids false dualisms person/soci-
ety, nature/culture, good/evil…
Keywords: Proudhon, anarchism, history.
Indicado para publicação em 25 de junho de 2005.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Joseph dejacque abaixo_os_chefes
Joseph dejacque  abaixo_os_chefesJoseph dejacque  abaixo_os_chefes
Joseph dejacque abaixo_os_chefesmoratonoise
 
Errico Malatesta, Revolta e Ética anarquista - Nildo Avelino
Errico Malatesta, Revolta e Ética anarquista - Nildo AvelinoErrico Malatesta, Revolta e Ética anarquista - Nildo Avelino
Errico Malatesta, Revolta e Ética anarquista - Nildo AvelinoBlackBlocRJ
 
Dois anos na Rússia - Emma Goldman
Dois anos na Rússia - Emma GoldmanDois anos na Rússia - Emma Goldman
Dois anos na Rússia - Emma GoldmanBlackBlocRJ
 
Heterotopias anarquistas - Edson Passetti
Heterotopias anarquistas - Edson PassettiHeterotopias anarquistas - Edson Passetti
Heterotopias anarquistas - Edson PassettiBlackBlocRJ
 
Margareth rago o anarquismo e a história
Margareth rago o anarquismo e a históriaMargareth rago o anarquismo e a história
Margareth rago o anarquismo e a históriamoratonoise
 
Marcuse - A ideologia da sociedade industrial - O homem unidimensional
Marcuse - A ideologia da sociedade industrial - O homem unidimensionalMarcuse - A ideologia da sociedade industrial - O homem unidimensional
Marcuse - A ideologia da sociedade industrial - O homem unidimensionalJacqueline Viegas Estevam
 
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe Corrêa
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe CorrêaA Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe Corrêa
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe CorrêaBlackBlocRJ
 
Da Periferia para o Centro - Felipe Corrêa
Da Periferia para o Centro - Felipe CorrêaDa Periferia para o Centro - Felipe Corrêa
Da Periferia para o Centro - Felipe CorrêaBlackBlocRJ
 
Uma breve historia da AIT ou apenas Internacional
Uma breve historia da AIT ou apenas InternacionalUma breve historia da AIT ou apenas Internacional
Uma breve historia da AIT ou apenas InternacionalCarlo Romani
 
Mulheres Anarquistas, O Resgate de uma História Pouco Contada
Mulheres Anarquistas, O Resgate de uma História Pouco ContadaMulheres Anarquistas, O Resgate de uma História Pouco Contada
Mulheres Anarquistas, O Resgate de uma História Pouco ContadaBlackBlocRJ
 
Revolucionário ou reformista? Prós e contra do sindicato segundo Errico Malat...
Revolucionário ou reformista? Prós e contra do sindicato segundo Errico Malat...Revolucionário ou reformista? Prós e contra do sindicato segundo Errico Malat...
Revolucionário ou reformista? Prós e contra do sindicato segundo Errico Malat...Thiago Lemos
 
Poder e Anarquia - Edson Passetti
Poder e Anarquia - Edson PassettiPoder e Anarquia - Edson Passetti
Poder e Anarquia - Edson PassettiBlackBlocRJ
 
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz Reis
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz ReisERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz Reis
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz ReisBlackBlocRJ
 
Teorias dos Estados Anarquista e Marxista - Felipe Corrêa
Teorias dos Estados Anarquista e Marxista - Felipe CorrêaTeorias dos Estados Anarquista e Marxista - Felipe Corrêa
Teorias dos Estados Anarquista e Marxista - Felipe CorrêaBlackBlocRJ
 
Realismo e Naturalismo Brasil e Portugal
Realismo e Naturalismo Brasil e PortugalRealismo e Naturalismo Brasil e Portugal
Realismo e Naturalismo Brasil e PortugalClaudia Ribeiro
 
Rosa luxemburgo versao-web
Rosa luxemburgo versao-webRosa luxemburgo versao-web
Rosa luxemburgo versao-webCláudio Rennó
 
Um Parresiasta no Socialismo Libertário - Edson Passetti
Um Parresiasta no Socialismo Libertário - Edson PassettiUm Parresiasta no Socialismo Libertário - Edson Passetti
Um Parresiasta no Socialismo Libertário - Edson PassettiBlackBlocRJ
 
EDGARD LEUENROTH. Anarquismo - Roteiro de Libertação Social
EDGARD LEUENROTH. Anarquismo - Roteiro de Libertação SocialEDGARD LEUENROTH. Anarquismo - Roteiro de Libertação Social
EDGARD LEUENROTH. Anarquismo - Roteiro de Libertação SocialWesley Guedes
 

Mais procurados (20)

Joseph dejacque abaixo_os_chefes
Joseph dejacque  abaixo_os_chefesJoseph dejacque  abaixo_os_chefes
Joseph dejacque abaixo_os_chefes
 
Errico Malatesta, Revolta e Ética anarquista - Nildo Avelino
Errico Malatesta, Revolta e Ética anarquista - Nildo AvelinoErrico Malatesta, Revolta e Ética anarquista - Nildo Avelino
Errico Malatesta, Revolta e Ética anarquista - Nildo Avelino
 
Dois anos na Rússia - Emma Goldman
Dois anos na Rússia - Emma GoldmanDois anos na Rússia - Emma Goldman
Dois anos na Rússia - Emma Goldman
 
Heterotopias anarquistas - Edson Passetti
Heterotopias anarquistas - Edson PassettiHeterotopias anarquistas - Edson Passetti
Heterotopias anarquistas - Edson Passetti
 
Margareth rago o anarquismo e a história
Margareth rago o anarquismo e a históriaMargareth rago o anarquismo e a história
Margareth rago o anarquismo e a história
 
Marcuse - A ideologia da sociedade industrial - O homem unidimensional
Marcuse - A ideologia da sociedade industrial - O homem unidimensionalMarcuse - A ideologia da sociedade industrial - O homem unidimensional
Marcuse - A ideologia da sociedade industrial - O homem unidimensional
 
Pensadores anarquistas
Pensadores anarquistasPensadores anarquistas
Pensadores anarquistas
 
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe Corrêa
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe CorrêaA Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe Corrêa
A Estratégia de Transformação Social em Malatesta - Felipe Corrêa
 
Da Periferia para o Centro - Felipe Corrêa
Da Periferia para o Centro - Felipe CorrêaDa Periferia para o Centro - Felipe Corrêa
Da Periferia para o Centro - Felipe Corrêa
 
Uma breve historia da AIT ou apenas Internacional
Uma breve historia da AIT ou apenas InternacionalUma breve historia da AIT ou apenas Internacional
Uma breve historia da AIT ou apenas Internacional
 
Mulheres Anarquistas, O Resgate de uma História Pouco Contada
Mulheres Anarquistas, O Resgate de uma História Pouco ContadaMulheres Anarquistas, O Resgate de uma História Pouco Contada
Mulheres Anarquistas, O Resgate de uma História Pouco Contada
 
Revolucionário ou reformista? Prós e contra do sindicato segundo Errico Malat...
Revolucionário ou reformista? Prós e contra do sindicato segundo Errico Malat...Revolucionário ou reformista? Prós e contra do sindicato segundo Errico Malat...
Revolucionário ou reformista? Prós e contra do sindicato segundo Errico Malat...
 
Poder e Anarquia - Edson Passetti
Poder e Anarquia - Edson PassettiPoder e Anarquia - Edson Passetti
Poder e Anarquia - Edson Passetti
 
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz Reis
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz ReisERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz Reis
ERRICO MALATESTA e O ANARQUISMO - Bruno Muniz Reis
 
Teorias dos Estados Anarquista e Marxista - Felipe Corrêa
Teorias dos Estados Anarquista e Marxista - Felipe CorrêaTeorias dos Estados Anarquista e Marxista - Felipe Corrêa
Teorias dos Estados Anarquista e Marxista - Felipe Corrêa
 
Realismo e Naturalismo Brasil e Portugal
Realismo e Naturalismo Brasil e PortugalRealismo e Naturalismo Brasil e Portugal
Realismo e Naturalismo Brasil e Portugal
 
Rosa luxemburgo versao-web
Rosa luxemburgo versao-webRosa luxemburgo versao-web
Rosa luxemburgo versao-web
 
Um Parresiasta no Socialismo Libertário - Edson Passetti
Um Parresiasta no Socialismo Libertário - Edson PassettiUm Parresiasta no Socialismo Libertário - Edson Passetti
Um Parresiasta no Socialismo Libertário - Edson Passetti
 
EDGARD LEUENROTH. Anarquismo - Roteiro de Libertação Social
EDGARD LEUENROTH. Anarquismo - Roteiro de Libertação SocialEDGARD LEUENROTH. Anarquismo - Roteiro de Libertação Social
EDGARD LEUENROTH. Anarquismo - Roteiro de Libertação Social
 
978 613-9-60525-5
978 613-9-60525-5978 613-9-60525-5
978 613-9-60525-5
 

Semelhante a As ondas Proudhon e a coerência do pensamento anarquista

Há uma concepção utópica no pensamento marxista (revisado maio 2012)
Há uma concepção utópica no pensamento marxista (revisado maio 2012)Há uma concepção utópica no pensamento marxista (revisado maio 2012)
Há uma concepção utópica no pensamento marxista (revisado maio 2012)GabrielaMansur
 
Realismo e naturalismo brasil e portugal [salvo automaticamente]
Realismo e naturalismo brasil e portugal [salvo automaticamente]Realismo e naturalismo brasil e portugal [salvo automaticamente]
Realismo e naturalismo brasil e portugal [salvo automaticamente]Claudia Ribeiro
 
Viana, nildo foucault, os intelectuais e o poder
Viana, nildo   foucault, os intelectuais e o poderViana, nildo   foucault, os intelectuais e o poder
Viana, nildo foucault, os intelectuais e o poderRenatoGomesVieira1
 
Realismo e naturalismo Brasil e Portugal [salvo automaticamente]
Realismo e naturalismo Brasil e Portugal [salvo automaticamente]Realismo e naturalismo Brasil e Portugal [salvo automaticamente]
Realismo e naturalismo Brasil e Portugal [salvo automaticamente]Claudia Ribeiro
 
Anarquismo e Socialismo Utópico
Anarquismo e Socialismo UtópicoAnarquismo e Socialismo Utópico
Anarquismo e Socialismo UtópicoCarla Brígida
 
Guérin d.-marxismo-e-anarquismo
Guérin d.-marxismo-e-anarquismoGuérin d.-marxismo-e-anarquismo
Guérin d.-marxismo-e-anarquismomoratonoise
 
A teoria da Historia e o romance historico em Lukacs
A teoria da Historia e o romance historico em LukacsA teoria da Historia e o romance historico em Lukacs
A teoria da Historia e o romance historico em LukacsCarlo Romani
 
O Que é Sociologia
O Que é SociologiaO Que é Sociologia
O Que é SociologiaJorge Miklos
 
LÖWY, Michael. Por um marxismo crítico. Lutas Sociais, São Paulo, n. 3, 1997,...
LÖWY, Michael. Por um marxismo crítico. Lutas Sociais, São Paulo, n. 3, 1997,...LÖWY, Michael. Por um marxismo crítico. Lutas Sociais, São Paulo, n. 3, 1997,...
LÖWY, Michael. Por um marxismo crítico. Lutas Sociais, São Paulo, n. 3, 1997,...André Santos Luigi
 
10457 texto do artigo-44460-1-10-20211105
10457 texto do artigo-44460-1-10-2021110510457 texto do artigo-44460-1-10-20211105
10457 texto do artigo-44460-1-10-20211105AnaRibeiro968038
 
Aula 02 formação da sociedade brasileira o homem moderno
Aula 02   formação da sociedade brasileira o homem modernoAula 02   formação da sociedade brasileira o homem moderno
Aula 02 formação da sociedade brasileira o homem modernoElizeu Nascimento Silva
 
Daniel AarãO 150 Anos Manifesto Comunista
Daniel AarãO   150 Anos Manifesto ComunistaDaniel AarãO   150 Anos Manifesto Comunista
Daniel AarãO 150 Anos Manifesto Comunistacarloslyr
 
Cartas aos meus amigos
Cartas aos meus amigosCartas aos meus amigos
Cartas aos meus amigosIvan Andrade
 
Mario bunge o socialismo existiu alguma vez e tem futuro
Mario bunge   o socialismo existiu alguma vez e tem futuroMario bunge   o socialismo existiu alguma vez e tem futuro
Mario bunge o socialismo existiu alguma vez e tem futurorochamendess82
 

Semelhante a As ondas Proudhon e a coerência do pensamento anarquista (20)

20080624 soberania popular
20080624 soberania popular20080624 soberania popular
20080624 soberania popular
 
Há uma concepção utópica no pensamento marxista (revisado maio 2012)
Há uma concepção utópica no pensamento marxista (revisado maio 2012)Há uma concepção utópica no pensamento marxista (revisado maio 2012)
Há uma concepção utópica no pensamento marxista (revisado maio 2012)
 
Realismo e naturalismo brasil e portugal [salvo automaticamente]
Realismo e naturalismo brasil e portugal [salvo automaticamente]Realismo e naturalismo brasil e portugal [salvo automaticamente]
Realismo e naturalismo brasil e portugal [salvo automaticamente]
 
Viana, nildo foucault, os intelectuais e o poder
Viana, nildo   foucault, os intelectuais e o poderViana, nildo   foucault, os intelectuais e o poder
Viana, nildo foucault, os intelectuais e o poder
 
Realismo e naturalismo Brasil e Portugal [salvo automaticamente]
Realismo e naturalismo Brasil e Portugal [salvo automaticamente]Realismo e naturalismo Brasil e Portugal [salvo automaticamente]
Realismo e naturalismo Brasil e Portugal [salvo automaticamente]
 
Anarquismo e Socialismo Utópico
Anarquismo e Socialismo UtópicoAnarquismo e Socialismo Utópico
Anarquismo e Socialismo Utópico
 
Guérin d.-marxismo-e-anarquismo
Guérin d.-marxismo-e-anarquismoGuérin d.-marxismo-e-anarquismo
Guérin d.-marxismo-e-anarquismo
 
A teoria da Historia e o romance historico em Lukacs
A teoria da Historia e o romance historico em LukacsA teoria da Historia e o romance historico em Lukacs
A teoria da Historia e o romance historico em Lukacs
 
O Que é Sociologia
O Que é SociologiaO Que é Sociologia
O Que é Sociologia
 
LÖWY, Michael. Por um marxismo crítico. Lutas Sociais, São Paulo, n. 3, 1997,...
LÖWY, Michael. Por um marxismo crítico. Lutas Sociais, São Paulo, n. 3, 1997,...LÖWY, Michael. Por um marxismo crítico. Lutas Sociais, São Paulo, n. 3, 1997,...
LÖWY, Michael. Por um marxismo crítico. Lutas Sociais, São Paulo, n. 3, 1997,...
 
Cpj ff
Cpj ffCpj ff
Cpj ff
 
10457 texto do artigo-44460-1-10-20211105
10457 texto do artigo-44460-1-10-2021110510457 texto do artigo-44460-1-10-20211105
10457 texto do artigo-44460-1-10-20211105
 
História
HistóriaHistória
História
 
Aula 02 formação da sociedade brasileira o homem moderno
Aula 02   formação da sociedade brasileira o homem modernoAula 02   formação da sociedade brasileira o homem moderno
Aula 02 formação da sociedade brasileira o homem moderno
 
Daniel AarãO 150 Anos Manifesto Comunista
Daniel AarãO   150 Anos Manifesto ComunistaDaniel AarãO   150 Anos Manifesto Comunista
Daniel AarãO 150 Anos Manifesto Comunista
 
Cartas aos meus amigos
Cartas aos meus amigosCartas aos meus amigos
Cartas aos meus amigos
 
Mario bunge o socialismo existiu alguma vez e tem futuro
Mario bunge   o socialismo existiu alguma vez e tem futuroMario bunge   o socialismo existiu alguma vez e tem futuro
Mario bunge o socialismo existiu alguma vez e tem futuro
 
Gomes, álvaro cardoso. o simbolismo
Gomes, álvaro cardoso. o simbolismoGomes, álvaro cardoso. o simbolismo
Gomes, álvaro cardoso. o simbolismo
 
1 o-marxismo-e-a-sociologia-da-educac3a7c3a3o
1   o-marxismo-e-a-sociologia-da-educac3a7c3a3o1   o-marxismo-e-a-sociologia-da-educac3a7c3a3o
1 o-marxismo-e-a-sociologia-da-educac3a7c3a3o
 
Marx e a questao judaica
Marx e a questao judaicaMarx e a questao judaica
Marx e a questao judaica
 

Mais de moratonoise

Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionario
Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionarioPlataforma internacional do_anarquismo_revolucionario
Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionariomoratonoise
 
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...moratonoise
 
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associação
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associaçãoPierre joseph proudhon sobre o princípio da associação
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associaçãomoratonoise
 
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulo
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-pauloRodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulo
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulomoratonoise
 
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridade
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridadeProudhon p-j.-sociedade-sem-autoridade
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridademoratonoise
 
Proudhon filosofia-da-miseria
Proudhon filosofia-da-miseriaProudhon filosofia-da-miseria
Proudhon filosofia-da-miseriamoratonoise
 
Principio da autoridade
Principio da autoridadePrincipio da autoridade
Principio da autoridademoratonoise
 
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunas
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunasRepublica francesa federacao_revolucionaria_das_comunas
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunasmoratonoise
 
Os grandes escritos anarquistas
Os grandes escritos anarquistasOs grandes escritos anarquistas
Os grandes escritos anarquistasmoratonoise
 
Os arquitetos da ordem anárquica
Os arquitetos da ordem anárquicaOs arquitetos da ordem anárquica
Os arquitetos da ordem anárquicamoratonoise
 
O pensamento-político-de-bakunin
O pensamento-político-de-bakuninO pensamento-político-de-bakunin
O pensamento-político-de-bakuninmoratonoise
 
O sistema das_contradicoes_economicas
O sistema das_contradicoes_economicasO sistema das_contradicoes_economicas
O sistema das_contradicoes_economicasmoratonoise
 
O sistema capitalista
O sistema capitalistaO sistema capitalista
O sistema capitalistamoratonoise
 
O que e_ideologia
O que e_ideologiaO que e_ideologia
O que e_ideologiamoratonoise
 
O que e_a_propriedade
O que e_a_propriedadeO que e_a_propriedade
O que e_a_propriedademoratonoise
 
O principio anarquista_e_outros_ensaios
O principio anarquista_e_outros_ensaiosO principio anarquista_e_outros_ensaios
O principio anarquista_e_outros_ensaiosmoratonoise
 
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...moratonoise
 
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passos
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passosO 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passos
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passosmoratonoise
 
Nestor makhno a revolução anarquista
Nestor makhno a revolução anarquistaNestor makhno a revolução anarquista
Nestor makhno a revolução anarquistamoratonoise
 

Mais de moratonoise (20)

Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionario
Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionarioPlataforma internacional do_anarquismo_revolucionario
Plataforma internacional do_anarquismo_revolucionario
 
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...
Pietro ferrua a breve existência da seção brasileira do centro internacional ...
 
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associação
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associaçãoPierre joseph proudhon sobre o princípio da associação
Pierre joseph proudhon sobre o princípio da associação
 
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulo
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-pauloRodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulo
Rodrigo rosa-da-silva-a-federac3a7c3a3o-operaria-de-sc3a3o-paulo
 
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridade
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridadeProudhon p-j.-sociedade-sem-autoridade
Proudhon p-j.-sociedade-sem-autoridade
 
Proudhon filosofia-da-miseria
Proudhon filosofia-da-miseriaProudhon filosofia-da-miseria
Proudhon filosofia-da-miseria
 
Principio da autoridade
Principio da autoridadePrincipio da autoridade
Principio da autoridade
 
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunas
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunasRepublica francesa federacao_revolucionaria_das_comunas
Republica francesa federacao_revolucionaria_das_comunas
 
Os grandes escritos anarquistas
Os grandes escritos anarquistasOs grandes escritos anarquistas
Os grandes escritos anarquistas
 
Os arquitetos da ordem anárquica
Os arquitetos da ordem anárquicaOs arquitetos da ordem anárquica
Os arquitetos da ordem anárquica
 
O pensamento-político-de-bakunin
O pensamento-político-de-bakuninO pensamento-político-de-bakunin
O pensamento-político-de-bakunin
 
O sistema das_contradicoes_economicas
O sistema das_contradicoes_economicasO sistema das_contradicoes_economicas
O sistema das_contradicoes_economicas
 
O sistema capitalista
O sistema capitalistaO sistema capitalista
O sistema capitalista
 
O que e_ideologia
O que e_ideologiaO que e_ideologia
O que e_ideologia
 
O que e_a_propriedade
O que e_a_propriedadeO que e_a_propriedade
O que e_a_propriedade
 
O principio anarquista_e_outros_ensaios
O principio anarquista_e_outros_ensaiosO principio anarquista_e_outros_ensaios
O principio anarquista_e_outros_ensaios
 
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...
O organismo economico_da_revolucao-revolucao_e_autogestao_na_guerra_civil_esp...
 
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passos
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passosO 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passos
O 4o congresso_do_rio_grande_do_sul_visto_por_domingos_passos
 
O principe
O principeO principe
O principe
 
Nestor makhno a revolução anarquista
Nestor makhno a revolução anarquistaNestor makhno a revolução anarquista
Nestor makhno a revolução anarquista
 

As ondas Proudhon e a coerência do pensamento anarquista

  • 1. 23 verve A filiação de Proudhon a filiação de proudhon daniel colson* Como a maioria dos outros teóricos do anarquismo (Godwin, Coeuderoy, Dejacque ou Bakunin, por exem- plo), Proudhon não escapa do desprezo ligado à aparente excentricidade de suas idéias — mas também a modos de agir e de situar-se no mundo — despreocupadas com as formas e convenções capazes de mascarar sua origi- nalidade. No entanto, a esse descrédito comum, Prou- dhon acrescenta uma má e estranha reputação (devida sem dúvida à importância e ao caráter durante muito tempo enigmático de sua obra) que não apenas reforça as razões para não lê-lo, mas principalmente para dizer ou repetir despropósitos a seu respeito. Por exemplo, e para citar somente o lugar comum mais extravagante, que ele seria “o pai do anti-semitismo moderno”.1 En- tretanto, o interesse contraditório e, por um longo perí- odo, inconcluso por seus escritos — de Elie Havély a Georges Gurvitch, passando por Leon Brunschvicg ou o * Professor de Sociologia na universidade de Saint-Étienne, membro da livra- ria libertária La Gryffe de Lyon, autor de Petit lexique philosophique de l’anarchisme. De Proudhon a Deleuze. Paris, ed. Le Livre de Poche, 2001 e Trois essais de philosophie anarchiste, Islam, Histoire et Monadologie. Paris, ed. Léo Scheer, 2004. verve, 9: 23-29, 2006
  • 2. 24 9 2006 durkeiniano Célestin Bouglé e o inclassificável Geor- ges Sorel — basta para mostrar a força e a importância de uma filosofia que apenas o ressurgimento libertário destes últimos anos, e a aparição de um pensamento contemporâneo dito “pós-moderno”, finalmente tornou perceptíveis. As ondas Proudhon Embora seja certo que ele recusaria tal distinção, a importância de Proudhon é de duas ordens. Ela é em pri- meiro lugar histórica e política. De fato, é impossível com- preender o que quer que seja sobre a natureza e signifi- cação dos movimentos revolucionários ocorridos a partir da segunda metade do século XIX sem conhecer a obra de Proudhon. Uma obra que esteve em parte na origem desses movimentos, mas que é, sobretudo, expressão e fonte de inspiração para a riqueza, diversidade e origina- lidade de sua realidade e significação emancipadoras. Durante mais de setenta e cinco anos (quatro gerações operárias), desde a fundação da 1ª Internacional, em Lon- dres em 1865, até o fim da revolução espanhola em 1939, o conjunto de países em vias de industrialização foi atra- vessado por surpreendentes movimentos operários e re- volucionários, mas freqüentemente ignorados, duplamen- te massacrados, tanto em sua realidade quanto em sua lembrança, pelas ulteriores configurações do comunis- mo marxista. A influência de Proudhon passa por múlti- plas ondas e histórias diferentes, que se recobrem e se reforçam mesmo quando são muito diversas. Temos por exemplo, os movimentos cooperativos — esse ramo du- radouro, mas negligenciado do movimento operário in- ternacional. Ou ainda a 1ª Internacional (AIT), uma pri- meira vez, com as posições moderadas dos “proudhonia- nos” de estrita observância (os “mutualistas”), e depois, contra os primeiros, através da radicalidade revolucio-
  • 3. 25 verve A filiação de Proudhon nária dos partidários de Bakunin, que conviveu regu- larmente com Proudhon (durante os anos 1840), e que o lera com paixão, antes de se apropriar dele e de retomá- lo de outra forma. Outro exemplo é a Espanha. Inicial- mente o proudhonianismo aí se difunde não entre os operários, mas na pequena burguesia dos meios repu- blicanos e federalistas, em especial com as traduções e os escritos de Pi y Margal, ministro da efêmera repúbli- ca de 1871, mas também inspirador mais ou menos di- reto dos levantes cantonalistas dos anos 1860. Esse pri- meiro proudhonianismo encontra-se e é recoberto por uma segunda onda, desta vez estrita e massivamente operária, através do duplo acontecimento que foi o eco da Comuna de Paris e a ligação duradoura das princi- pais forças operárias com o anarquismo de Bakunin. Um outro exemplo, mais tardio, é o sindicalismo revoluci- onário que, a partir da França e depois um pouco em todas as partes do mundo, acaba representando o proje- to de Proudhon em oposição, mas também em estreita afinidade, com o proudhonianismo extremo e insurre- cional dos anarquistas, e com aquele aparentemente tão diferente dos múltiplos e proliferantes movimentos culturais e cooperativos. Essa capacidade de Proudhon de inspirar realidades tão diferentes quanto os movi- mentos messiânicos dos operários agrícolas andaluzes, a rigorosa e complexa federação dos relojoeiros do Jura suíço, as ações itinerantes dos Industrial Workers in the World (IWW) americanos, ou os grupos anarquistas do East End judeu de Londres, serviu por um longo período para justificar o veredicto de incoerência e heteroge- neidade que geralmente se atribui à sua obra, como tam- bém às revoltas e realizações de caráter libertário dos quais ela é a vertente teórica. Mas é justamente aqui que uma releitura contemporânea de Proudhon e des- ses movimentos, pode tentar esclarecer sua originali- dade e o rigor de sua lógica interna.
  • 4. 26 9 2006 “A anarquia, essa estranha unidade que não se diz senão do múltiplo”. Através dessa fórmula, Gilles Deleu- ze e Félix Guattari descrevem com economia e precisão a originalidade do projeto libertário, e do modo pelo qual Proudhon o pensou, duplicando assim sua diversidade e suas contradições aparentes. De fato, como Proudhon conseguiu ao mesmo tempo, para nos atermos ao mais conhecido, afirmar-se como reformista e como revoluci- onário, celebrar e denunciar o trabalho, opor-se ao ro- mantismo insurrecional e tornar-se o apologista do guer- reiro, reclamar-se da emancipação e dar provas de uma inverossímil misoginia, sustentar durante o conflito do Sonderbund suíço (1847) os cantões católicos e reacioná- rios contra a maioria radical da Confederação, ou ainda adversário das greves e dos primeiros sindicatos trans- formar-se no primeiro inspirador do sindicalismo revolu- cionário? Graças a trabalhos como os de Pierre Ansart (especialmente Naissance de l´anarchisme2 ), mas também, mais recentemente, o trabalho da jurista Sophie Cham- bost,3 ou ainda o livro coletivo Lyon et l´esprit proudhoni- en,4 percebe-se melhor a coerência de um pensamento e de um projeto fundados sobre a anarquia do real e que rompem com o conjunto das representações da moderni- dade. Lembremos rapidamente os traços mais marcan- tes dessa coerência e dessa ruptura. Uma anarquia positiva Contra a uniformidade e as simplificações opressivas da ordem e da representação, contra as ilusões das for- mas, das molduras, das aparências e das classificações, o anarquismo proudhoniano opõe o múltiplo e o diferen- te, uma avaliação interior e singular dos seres e das si- tuações, onde, segundo o princípio da homologia, os ami- gos e os associados desejáveis em tal ou tal movimento (opressivo ou emancipador) raramente estão onde se
  • 5. 27 verve A filiação de Proudhon pensa encontrá-los. À objetividade ordenada e mutilan- te de um mundo submetido a Deus, ao Estado, ao capi- tal, e à Ciência, o anarquismo de Proudhon — antes de Nietszche e segundo um Leibniz liberado de Deus — opõe o subjetivismo absoluto de um mundo anárquico que deve ser ordenado a partir do interior, por experimentação e pelo senso prático, por associações e des-associações (federalismo), um mundo que convém escolher e cons- truir dentre todos os mundos possíveis, transformando a anarquia do real em anarquia positiva. O anarquismo de Proudhon substitui a articulação mecânica, exterior e utilitarista dos seres, por sua afinidade interior, para o bom ou para o mau, a partir do jogo infinito dos encon- tros e das associações, e como mostra qualquer história de amor, a posse de um quepe, de um volante ou de uma casa no subúrbio. À concepção restritiva e republicana de uma liberdade que “pára onde começa a liberdade dos outros” (Rousseau), o anarquismo de Proudhon opõe uma liberdade transdutora, capaz de se estender “ao infinito” (Bakunin). À igualdade exterior e formal das casernas, “a igual nulidade e a escravidão igual de to- dos diante de um mestre supremo” (Bakunin), o anar- quismo de Proudhon opõe a igualdade interior de um eu absoluto, inviolável em sua dignidade, ali onde, como afir- ma Deleuze, “o menor torna-se o igual do maior desde que não seja separado daquilo que ele pode.” Ao dualis- mo da alma e do corpo, o anarquismo opõe o monismo de um pensamento onde tudo é potência, desejo e vontade, forças a cada vez singulares e dotadas da possibilidade de avaliar incessantemente a qualidade emancipadora ou opressiva daquilo que as constitui. A falsas oposi- ções que fixam e justificam a prisão em que vivemos — indivíduo/sociedade, natureza/cultura, bem/mal, ho- mem/mulher, objetividade/subjetividade, humano/ não-humano — são substituídas pelo anarquismo por uma composição e uma transformação permanentes dos
  • 6. 28 9 2006 seres e das situações. Todo indivíduo é um grupo, um “composto de potências”, e todo grupo, toda entidade co- letiva, não importando seu tamanho ou duração, é um “indivíduo”, dotado de vontade e força, de sua própria sub- jetividade. À liberdade abstrata e vazia do cidadão, do consumidor e desempregado “livremente” em busca de dinheiro, de trabalho e de felicidade, o anarquismo opõe a necessidade interior dos seres, segundo a natureza mais ou menos fugidia de sua composição, de seus en- contros e de suas associações. Necessidade e liberdade se confundem, pois para o anarquismo, e como em Spi- noza, é dita livre a coisa que existe apenas pela neces- sidade de sua natureza” e “obrigada, a coisa que é de- terminada por uma outra a existir e a agir segundo uma lei particular e determinada.”5 Em suma, é preciso ler e reler Proudhon à luz das experiências das quais ele é ao mesmo tempo a expres- são e o inspirador, mas também à luz de um pensamen- to dito pós-moderno que ele esclarece e que o esclarece, contribuindo assim a dar sentido e força a todos aqueles que, seja à escala do mundo, seja à de sua vida mais imediata, recusam o absurdo e os pesadelos previsíveis deste século XXI que se inicia. Tradução do francês por Martha Gambini. Notas 1 Pierre Birnbaum, Le Monde, de 18 de janeiro de 1987; Roger Pol-Droit, Le Monde de 12 de setembro de 2003, etc. 2 Piere Ansart. Naissance de l’anarchisme. Paris, ed. PUF, 1970. 3 Sophie Chambost. Proudhon et la norme. Pensée juridique d´un anarchiste. Rennes, ed. Presses universitaires de Rennes, 2004. 4 Vários autores. Lyon et l´esprit proudhonien. Lyon, Atelier de création libertaires, 2003. 5 Spinoza. Éthique, livro I, def. 7.
  • 7. 29 verve A filiação de Proudhon RESUMO O artigo apresenta o pensamento de Proudhon como multiplicador de práticas distintas e diversas entre si ao longo da história do socialismo, da Comuna de Paris ao sindicalismo revolucionário, do anti-romântico insurrecional ao apologista guerreiro. Pensamento do múltiplo e da diferença evita os falsos dualismos indivíduo/ sociedade, natureza/cultura, bem/mal... Palavras-chave: Proudhon, anarquismo, história. ABSTRACT The article presents Proudhon’s thought as multiplier of distinct and diverse practices throughout the history of socialism, from the Paris Commune to the revolutionary syndicalism, from the in- surrectional anti-romantic to the apologist warrior. Thought of the multiple and of the difference avoids false dualisms person/soci- ety, nature/culture, good/evil… Keywords: Proudhon, anarchism, history. Indicado para publicação em 25 de junho de 2005.