2. MANUELA RODRIGUES REIS
umZINE:
MACONHA TAMBÉM É REMÉDIO
Trabalho Final de Pós Graduação
apresentado à Universidade Anhembi
Morumbi, como requisito parcial à obtenção
do título de Pós Graduada em Ilustração,
Infografia e Motion Graphics.
ORIENTADOR: Fernando D. Barbosa
ORIENTADORA: Marly de M. Gonçalves
ORIENTADORA: Barbara D. S. Suzuki
3. resumo
A Cannabis sativa é o psicoativo mais antigo da história e a mais consumida
do mundo. Com as inúmeras substâncias presentes da planta, duas se
destacam pela finalidade terapêutica: o THC (tetrahidrocanabinol) com seus
efeitos psicoativos e o CDB (canabidiol) com os efeitos medicinais. O debate
do uso medicinal no Brasil cresceu muito quando surgiram na mídia casos de
pacientes com epilepsia e outras doenças fazendo tratamentos de forma ilegal
e clandestina com o uso de medicamentos produzidos pelo princípio ativo da
Cannabis sativa, o CDB. A divulgação de um tema, atual e pouco tratado em
outras mídias mais usuais como tvs, rádios, revistas e jornais, através de uma
linguagem urbana de zines apenas afirma a importância de uma boa
linguagem visual com artes claras e textos de rápida interpretação, o
suficiente para captar a atenção do leitor. Com inúmeros relatos positivos do
uso da planta, é possível estudar o avanço da legalização da maconha
medicinal no Brasil.
Palavras-chave: Cannabis sativa; maconha; uso medicinal; legalização; zine;
arte urbana.
4. abstract
Cannabis sativa is the oldest psychoactive in history and the most consumed
in the world. With the numerous substances present in the plant, two stand out
for the therapeutic purpose: THC (tetrahydrocannabinol) with its psychoactive
effects and CBD (cannabidiol) with medicinal effects. The debate on medical
use in Brazil has grown a lot when cases of patients with epilepsy and other
illnesses have been reported in the media doing illegal and clandestine
treatments with the use of drugs produced by the active principle of Cannabis
sativa, the CBD. The diffusion of a theme, current and untreated in other more
usual media such as TVs, radios, magazines and newspapers, through an
urban language of zines only affirms the importance of a good visual language
with clear arts and texts of fast interpretation, the enough to catch the reader's
attention. With numerous positive reports of the use of the plant, it is possible
to study the progress of the legalization of medical marijuana in Brazil.
Keywords: Cannabis sativa; marijuana; medicinal use; legalization; zine;
urban art.
5. sumário
1. a história de uma planta 5
1.1 o uso medicinal 6
1.2 resultados positivos 9
2. a estruturação do zine 15
2.1 público alvo e distribuição 16
2.2 estética, tipografia e moodboard 18
3. o processo criativo 20
4. umZINE 23
5. considerações finais 26
referências bibliográficas 27
6. 5
1. a história de uma planta
A Cannabis sativa é uma das plantas mais antigas que o homem tem
conhecimento, com relatos de 4 mil anos atrás, sendo mencionada na
Farmacopeia Chinesa e o botânico sueco Carolus Linnaeus cunhou o termo
para a maconha (como é popularmente conhecida no Brasil) em 1753
(SANTOS, 2017).
Estima-se que a história da Cannabis no Brasil está relacionada ao
próprio descobrimento do país com a chegada das caravelas portuguesas em
1500. As velas e os cordames1
do navio eram feitas de fibras de cânhamo2
. A
planta foi introduzida no país em 1549 pelos negros escravos que traziam as
sementes em bonecas de pano (CARLINI, 2006).
Em 1772 foi incentivado pela Coroa o plantio do cânhamo inicialmente
na região Sul, mas com as intempéries, a má qualidade das sementes e a
imprevisibilidade política na época impediram que cultura permeasse. No ano
seguinte, Dom Luis de Vasconcelos e Souza3
investiu na criação da Real
Feitoria do Linho Cânhamo, a maior e mais bem planejada introdução em
larga escala da produção da planta no período colonial, mas com a falta de
incentivo e abandono, duas décadas depois o espaço foi cedido para a
produção de outras culturas (FRANÇA, 2018).
Com o passar dos anos, o uso recreativo da planta começou a se
disseminar entre os negros escravos e os índios brasileiros, que inclusive
cultivavam para uso próprio, mas foi após a divulgação dos trabalhos do
Professor Jean Jacques Moreau, da faculdade de medicina na França, que
esse panorama começou a se modificar, pois no Brasil chegaram notícias dos
efeitos de prazer imediato, porém ainda restrito as camadas socioeconômicas
menos favorecidas (CARLINI, 2006).
1
Conjunto de cordas.
2
A palavra maconha em português é um anagrama da palavra cânhamo, como também é conhecida
a planta.
3
Vice do Rei do Brasil e Governados do Rio de Janeiro de 1778 a 1790.
7. 6
1.1 o uso medicinal
Os primeiros registros de uso da Cannabis sativa para fins
medicinais são aplicados ao imperador ShenNong4
da China em 2737 A.C.,
onde ele prescrevia chá da folha para tratamento de gota, reumatismo,
malária e memória fraca. Essa popularidade se espalhou pela Ásia, Oriente
Médio e a costa da África onde utilizavam para alívio do estresse, dores de
ouvido e dores no parto. Em 1464 D.C. teve o primeiro relato do uso do
haxixe5
para tratamento da epilepsia em Bagdá. Em 1839 a maconha
medicinal cresceu no continente europeu após a publicação do médico
William O’Shaughnessy em um jornal dizendo que era o remédio
anticonvulsionante de maior valor, após utilizar algumas gotas em uma
criança com crises convulsivas constantes. Em 1905, começou a circular a
propaganda das Cigarrilhas Grimault (imagem 01) anunciando os cigarros
Indios, feitos de maconha, onde tratariam asmas, catarros, roncaduras, flatos
e insônia (AMAME, 2019).
Imagem 01: Propaganda do cigarros Indios, produzido pela Cigarrilha Grimault.
Fonte: https://amame.org.br/
4
Pai da agricultura e medicina oriental. Seu nome significa “Divino Agricultor”.
5
Extrato resinado das flores femininas do cânhamo (Cannabis sativa).
8. 7
Em 1924, o médico brasileiro Pernambuco Filho, associou o uso da
maconha ao uso danoso do ópio6
em uma conferência em Genebra e a
repressão do seu uso no Brasil ganhou força. A intensificação policial nos
usuários surgiu, a legislação penal referente aos contraventores foi referida e
a partir da convenção, a venda da maconha estava proibida e em 1933 foram
registradas as primeiras prisões em consequência do comércio ilegal da
maconha (CARLINI, 2006). A proibição total do plantio, cultura e exploração
da maconha em todo o território brasileiro ocorreu em 25/11/1938 com a
criação do Decreto-Lei 891 do Governo Federal onde fiscaliza o uso de
entorpecentes incluindo a Cannabis sativa e sua variação indica.
Esse cenário começou a mudar a partir de 1961 quando ocorreram
convenções internacionais sobre controle de drogas e o objetivo principal era
regularizar o uso medicinal e científico da Cannabis, porém mantendo a
repressão do uso recreativo. E no mesmo ano o Prof. Dr. Raphael Mechoulan7
isolou os principais componentes da Cannabis sativa e identificou suas
respectivas estruturas químicas principais, o canabidiol (CBD8
) e o
tetrahidrocanabinol (THC9
) da Cannabis (MATOS, 2017).
Israel foi o primeiro país a legalizar o uso medicinal da maconha em
1993 onde mais de 12 mil pacientes já estão registrados com as mais
diversas doenças e desde 2007 o governo possui um programa de
distribuição gratuita (BARRETO, 2014). Em 1996, 23 estados dos EUA mais a
capital, legalizaram o uso medicinal. O Canadá teve a sua legalização em
2001 e mais de 37 mil pacientes já fazem o uso medicinal regular com uma
enorme disponibilidade de medicamentos. Na Europa, alguns países como
Itália, Bélgica, Holanda, Suíça. Eslovênia, Inglaterra e Finlândia adotaram a
legalização de determinados remédios e apenas para tratamentos específicos
e autorizados. Na América do Sul, o Uruguai foi o primeiro país a legalizar o
6
O ópio era o maior problema de saúde pública na época.
7
Professor do Departamento de Química Medicinal e Produtos Naturais da Escola de Medicina da
Universidade Hebraica de Jerusalém.
8
Composto não psicotrópico da Cannabis sativa (40% dos extratos da planta) e com propriedades
terapêuticas.
9
Composto responsável pelos efeitos psicoativos da planta.
9. 8
uso terapêutico e medicinal em 2013 e, o Chile em 2015 com um projeto-
piloto do governo onde os pacientes poderão receber os remédios
gratuitamente (MATOS, 2017).
O Brasil se apresenta como um dos países que permanecem com a
repressão total, evidenciada pela Lei antidrogas10
criada em 2006 proibindo o
plantio, a cultura, a colheita e a exploração de substratos que possam ser
extraídos ou produzidos através da droga e apesar dessa proibição, há
pesquisas científicas que apontam descobertas feitas a respeito do potencial
terapêutico do uso medicinal da Cannabis sativa para uma infinidade de
sintomas e doenças tais como:
Efeito analgésico para alívio de dores em pós-operatórios ou
quadros clínicos de dores crônicas;
Controle de náuseas e vômitos em pacientes que fazem tratamento
de quimioterapia;
Estímulo de apetite em pacientes desnutridos e anêmicos;
Controle de espasmos musculares em quadros de esclerosa
múltipla e epiléticos;
Diminuição da pressão intraocular em pacientes com glaucoma;
Inibição de espasmos musculares em pacientes com Parkinson;
Diabetes;
Asma;
Ansiedade e depressão;
Distúrbios do sono;
Melhoras significativas em pacientes em tratamento de
esquizofrenia e Alzheimer;
Tratamento da síndrome de Tourette;
Embora a Cannabis não tenha propriedade para curar essas
doenças, seus componentes têm se mostrado efetivos na melhora de
qualidade de vida dos pacientes e usuários, dessa maneira, o uso terapêutico
10
Lei número 11.343 de 2006.
10. 9
tem gerado grandes debates entre comunidades médicas, científicas e
jurídicas e mesmo com inúmeros estudos a favor do uso medicinal não existe
uma comprovação fática que haja danos ou dependência química em
pacientes e usuários.
1.2 resultados positivos
Em 2007 é lançado o livro Maconha, Cérebro e Saúde, dos
neurocientistas Renato Malcher- Lopes e Sidarta Ribeiro, onde foi divulgado
para o público o entendimento do sistema endocanabinoide e seu potencial
medicinal. O lançamento do livro teve grande impacto na comunidade
científica e no público, servindo também como embasamento para o roteiro do
documentário Cortina de Fumaça, lançado em 2009 de Rodrigo Mac Niven
(AMAME, 2019)
Em 2011, a Marcha da Maconha foi liberada pelo Superior Tribunal
Federal e vem sendo desde então um movimento vanguardista de grande
impacto na discussão sobre as políticas que regem o uso da maconha no
país. Trata-se de um evento anual no mundo inteiro que aborda
manifestações favoráveis na descriminalização do uso medicinal e recreativo
da maconha e celebra os estudos científicos do uso da cannabis.
Em 2013 por virtude do impacto causado com o documentário
Cortina de Fumaça, lançado em 2009, uma rede de acadêmicos e ativistas
realizaram o primeiro Congresso Internacional de Drogas, Lei, Saúde e
Sociedade (imagem 02) em parceria com a UnB, Conselho Federal de
Psicologia, Associação Brasileira de Estudos Psicoativos entre outros. Esse
congresso reuniu 40 oradores vindos da Argentina, Canadá, Colômbia,
Espanha, Portugal e Uruguai e além de profissionais, reuniram-se também
usuários e pacientes e foi considerado o maior congresso de inovação da
política de drogas realizado na América Latina (AMAME, 2019).
11. 10
Imagem 02: Cartaz de divulgação do Congresso em 2013. Fonte:
https://amame.org.br/
Em 2014 várias histórias de sucesso do uso terapêutico da
maconha em pacientes se tornaram públicas e grupos interessados na
importação legal da planta se juntaram e conseguiram, junto ao Ministério
Público Federal, a primeira liminar favorável para isso. O Brasil começou a
conviver com esses relatos e o uso medicinal da Cannabis estava frequente
na imprensa nacional.
Em maio do mesmo ano foi organizado um encontro de
neurocientistas e médicos com a SENAD (Secretaria Nacional de Políticas
Sobre Drogas) e o corpo técnico da Anvisa trazendo a necessidade de
reclassificação do canabidiol e a regulamentação do uso medicinal da
maconha e também em São Paulo aconteceu o IV Simpósio Internacional da
Cannabis Medicinal (imagem 03) promovida pela CEBRID (Centro Brasileiro
de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) e pelo Departamento de
Medicina Preventiva da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
12. 11
Imagem 03: Cartaz de divulgação do IV Simpósio em 2014. Fonte:
https://amame.org.br/
O uso medicinal da Cannabis sativa já é realidade ativa no Brasil e
quase 78 mil unidades de produtos terapêuticos já foram importados desde
que a Anvisa autorizou o seu uso em 2015. Com o desenvolvimento de
pesquisas sobre o seu uso para tratamentos de diversas doenças, foi
reconhecido seu potencial e o canabidiol foi colocado na lista de substâncias
controladas e a partir disso, os produtos derivados da maconha foram
prescritos por mais de 800 médicos brasileiros e mais de 4.500 pacientes já
têm autorização para uso próprio. (SOUZA, 2017).
Em janeiro de 2018, o site da Marie Clarie publicou uma reportagem
com relatos de mães que lutam pela legalização e contam como o óleo
extraído da maconha amenizou os sintomas de doenças neurológicas dos
filhos e ajudou no desenvolvimento motor e cognitivos deles:
Patricia, mãe da Deborah:
“(...) a engenheira Patricia estava abraçada à filha, Deborah, de 8
meses, quando o bebê começou a se remexer em frenesi.
Inconsciente, agitava os bracinhos e revirava os olhos
ininterruptamente, enquanto perdia o comando da respiração. “O
rosto se contorcia para os lados, ela tremia no meu colo. Até que
13. 12
ficou desacordada, com o lábio roxo”, relembra a mãe. (...) No
pronto-socorro, apesar de os exames apontarem normalidade (...)
Deborah teve crises diárias pelos anos seguintes. Muitas de seis
horas de duração, outras de 12 horas e algumas de até 24 horas. (...)
Patricia chegou a pagar cerca de R$ 40 mil por ano no tratamento da
filha. (...) A filha hoje com 23 anos e adepta ao uso recorrente do
óleo de Cannabis, reduziu as 40 convulsões mensais para apenas
oito (...).”
Patricia atualmente cultiva seus próprios pés de maconha,
controlando iluminação e umidade após conseguir habeas corpus e extraindo
o óleo que serve de remédio para a filha, que toma o equivalente a 1ml por
dia.
Margarete, mãe da Sofia:
“A filha de Margarete, de apenas 8 anos, sofre com uma mutação
que atinge o gene CDKL5 (doença homônima com pouco mais de
1.200 casos diagnosticados no mundo), onde compromete o
desenvolvimento neurológico e desencadeia uma série sem fim de
convulsões, e a primeira foi quando ela tinha 35 dias de vida. (...) Em
2013 a família importava ilegalmente o remédio e as convulsões de
Sofia diminuíram para 15 ao mês (...) e em 2015, após a
regulamentação da Anvisa, Margarete foi a primeira mãe do Brasil a
ter autorização judicial para plantar maconha em casa.”
A luta de Margarete e de outras mães foi documentada no longa
Ilegal, lançado em 2014 e dirigido por Tarso Araújo e Raphael Erichsen.
Jeane, mãe do Caique:
“(...) Caique brincava no escorregador quando caiu sem ferimentos e
mesmo assim Jeane o levou para o hospital público perto de onde
moravam, na Favela da Rocinha, para se certificar que tudo corria
bem. (...) Na manhã seguinte, Caique perdeu os sentidos e começou
a convulsionar e tornou-se rotina, (...) onde desaprendeu a falar e a
andar enquanto os remédios se acumulavam: 300 gotas de cinco
rótulos diferentes a cada 24 horas, aparentemente, sem efeito. (...)
Após 6 anos da primeira crise, Caique somava 60 convulsões por dia
e sua vida se resumia em dois estados: dopado de remédios ou
convulsionando. (...) Após o uso regular do CDB, Caique recuperou a
fala e os movimentos e já somou três meses inteiros sem nenhuma
crise, graças ao remédio.”
O documentário “Estação de Proibição”, produzido pela plataforma
brasileira de política de drogas, rede de ONGs e pesquisadores que
14. 13
defendem a legalização, mostra de perto como é a vida de mães que lidam,
diariamente, com o modelo proibicionista do uso da maconha no Brasil.
Rosineide, mãe da Silvia:
“(...) quando completou 04 anos, Silvia foi diagnosticada com
autismo. Sem saber nada sobre a doença e sem tem com quem
dividir os cuidados, Rosineide largou o emprego de copeira no
hospital para cuidar da filha. A menina passou a usar antipsicóticos e
tranquilizantes e ela não melhorou e os remédios desencadearam
crises epiléticas. (...) Após ver um anuncio de extrato de maconha
em um grupo para mães de crianças especiais (...) passou a dar o
remédio para a filha sem prescrição médica e os benefícios foram
imediatos. (...) Sem convulsões, ela come e dorme bem, aprendeu a
ler e escrever. (...) Mas hoje, mesmo com o aval médico e os
documentos necessários para a importação, Rosineide não
consegue comprar o extrato por causa do preço caríssimo (...) e hoje
recorre a um fabricante artesanal (boca de fumo) para produzir o óleo
em casa e não aconselha: Eu não recomendo a nenhuma mãe nas
minhas condições fazer o que eu faço (...), o pobre quando vai a
boca de fumo, tem risco de morrer. A perseguição é com os pobres e
periféricos, conta Rosineide, no documentário “Estado de Proibição.”
Em outubro de 2018, uma paciente em tratamento de uso contínuo
de Rivotril para depressão, conseguiu os primeiros frascos de extrato de
Cannabis, mas o valor alto (quase 7 mil por mês) a fez dar continuidade no
tratamento através de uma autorização na justiça para o cultivo e o juiz
federal Mário Jambo, do Rio Grande do Norte, concedeu a liberação e ela é a
primeira brasileira em tratamento autorizado para depressão no país
(GONÇALVES, 2019).
Desde então, abriu-se novas perspectivas para a maconha
medicinal no Brasil e a Comissão de Assuntos Sociais do Senado aprovou em
novembro de 2017 o projeto de lei 514/2017, modificando o trecho de
legislação de drogas e liberando o cultivo para uso pessoal terapêutico. Esse
projeto segue agora para a Comissão de Constituição e Justiça e depois para
a Câmara dos Deputados.
Em junho desse ano, a diretoria da Anvisa aprovou a realização de
duas consultas públicas relacionadas à regulamentação do cultivo controlado
15. 14
da Cannabis sativa para uso medicinal e de pesquisas científicas e o registro
de medicamentos produzidos com os princípios ativos da planta.
Uma dessas consultas irá tratar os requisitos técnicos e
administrativos para o cultivo por empresas farmacêuticas e a outra consulta
abordará os procedimentos para o registro e o monitoramento dos
medicamentos e seus derivados. Essas consultas serão abertas a empresas,
universidades, órgãos do governo, profissionais da saúde e a população em
geral (BHAZ, 2019).
Se aprovado, a regulação será rigorosa quanto à cadeia de
produção e distribuição e previsto o monitoramento e a rastreabilidade dos
medicamentos, desde o produtor, até o transportador, as drogarias até chegar
nas mãos dos pacientes previamente cadastrados e autorizados ao uso.
16. 15
2. a estruturação do zine
Zine11
é uma publicação não profissional e não oficial, de formato
curto e de pequena escala, onde o tema abordado é exposto de forma sucinta
e com todas as informações necessárias para uma leitura rápida e de fácil
entendimento, distribuídos de forma independente e tradicionalmente gratuitos
ou será cobrado apenas o custo da postagem ou produção. Ficou popular no
Brasil nos anos 70, com a onda punk e o lema Do it yourself (faça você
mesmo). Nesse tempo, o zine era a principal forma de divulgar shows e
discos além de distribuir poesias, discussões, fotos e quadrinhos. Sua
vantagem é a ausência de restrições editoriais e a difusão de artistas
independentes/underground, que tem total responsabilidade e participação na
produção: pesquisam, desenham, tratam, montam, imprimem e muitas vezes
também o distribuem (CAVALCANTE, 2014).
Pela produção de baixo custo, os movimentos de contracultura
como o punk, nos fim dos anos 70, utilizaram os zines como ferramenta de
comunicação e resistência adotando como forma de expressão.
Imagem 04: Moodboard zine. Fonte: Autor
11
Ou fanzine, é uma junção de fã com magazine.
17. 16
O idealizador tem a liberdade de adaptá-lo às suas próprias
condições e intenções: número de páginas, conteúdo, formato, diagramação e
periodicidade, trazendo uma característica única para cada um. É uma
maneira rápida de disseminar as informações coletadas. Nesse trabalho, será
abordado um resumo da história da maconha, pesquisas com resultados
positivos sobre o uso medicinal, as doenças mais abordadas, alguns dados
sobre a Anvisa e o Ministério Público Federal e como o Brasil está envolvido
na campanha de legalização do uso medicinal.
O objetivo dessa referência é permanecer acesa e viva a divulgação
nas grandes metrópoles, fazendo se destacarem em espaços cinza e
competindo com a evolução das tecnologias e a constante dos moradores. A
arte urbana, ou street art, não está conectada a nenhum padrão estético, ela é
a expressão máxima da sociedade e do cidadão e é a forma que os artistas
têm de mostrar o que sente em relação a tudo a sua volta. Grande parte
dessa arte vem como protesto, mas também visa estimular a criatividade e a
consciência nos assuntos cotidianos. Seu objetivo é atrair a atenção do
público para alguma mensagem ou ação e as redes sociais podem se
encarregar de espalhar o marketing viral (BELLANI, 2017).
2.1 público alvo e divulgação
Tendo em vista a necessidade de uma ampla divulgação sobre o
tema, que ainda é pouco divulgado no Brasil, mostrando a luta de pacientes
que necessitam do uso terapêutico para tratar de alguma patologia e que
ainda não é totalmente reconhecido o acesso no país, esse zine terá como
principal foco associações e instituições que desenvolvem ações para
favorecer o acesso de informações para pacientes, médicos e familiares e
estimular a pesquisa de resultados positivos.
Muitas dessas instituições e associações possuem canal aberto
para que qualquer pessoa interessada no assunto, ativistas, entusiastas,
usuários, pacientes e profissionais da área da saúde ajudem na divulgação,
18. 17
sejam por participações ativas em eventos, congressos, palestras, workshops,
reuniões auxiliando assim a disseminação da informação.
Além desse público, que já é efetivamente envolvido no tema, a
proposta do zine abre uma segunda vertente de divulgação por meio das
mídias sociais, onde os usuários ativos são jovens Millenials.
Chamada de geração Y, é um público que nasceu entre nos anos de
1980 e quase 2005 e cresceram em uma época de grandes avanços
tecnológicos, em ambientes altamente urbanizados e com grande integração
social e midiática. Essa geração que hoje tem entre 15 e 35 anos é a que
mais consome conteúdo online e pode-se chegar a outras gerações
consumidoras de arte. Em 2012, 20% da população global era representada
pela geração Millenial, que cresceram em um mundo digital e estão
familiarizadas com comunicação em tempo real e onde a informação e o
entretenimento estão em qualquer lugar, eles mesmos controlam o ambiente
que é inserido e buscam obter informações de forma fácil e rápida (VIANA,
2019).
A divulgação de um tema sério, atual e pouco tratado em outras
mídias mais usuais como tvs, rádios, revistas e jornais, através de uma
linguagem urbana de zines apenas afirma a importância de uma boa
linguagem visual com artes claras e textos de rápida interpretação, o
suficiente para captar a atenção do leitor e fazê-lo buscar novas informações
sobre o tema descrito através de um QR Code12
inserido no zine. O QR Code
é um gráfico 2D que pode ser lido através de câmeras de aparelhos celulares
e quando ativado, direcionam o usuário a sites para um conteúdo
aprofundado relacionado ao tema dispensando a necessidade de digitar
endereços de web ou pesquisas pela internet.
Essa proposta de levar o conteúdo final ao público em meios
diferentes vem do conceito de crossmedia. O assunto discutido (ou
mensagem) é distribuído através de diversas mídias (meio) para atingir o
12
QR Code, sigla do inglês Quick Response, ou no português, resposta rápida. É um código de barras
bidimensional que pode ser escaneado usando a câmera de telefones celulares.
19. 18
público (receptor) sem que a mensagem sofra qualquer alteração. Na
proposta do trabalho, o zine seria uma prévia ou resumo estético das
informações coletadas sobre o uso da maconha medicinal e o QR Code
levará o público para um site onde mostrará informações mais detalhadas e
aprofundadas sobre o assunto, como pesquisas, fontes, dados coletados e
entrevistas.
2.2 estética, tipografia e moodboard
A estética adotada é um misto entre arte urbana e o design do
movimento punk. Utilizando contrastes de cores alinhados com o padrão
anarquista do movimento, a ideia é reconstruir os valores sociais através de
uma linguagem “faça você mesmo”, deixando de lado a técnica e priorizando
o que realmente precisa ser dito: a mensagem, conquistando assim a atenção
do público.
Serão utilizados também colagens e fusões fotográficas aliadas com
a estética urbana do grafite como referência tipográfica e de ilustrações como
complemento na composição, remetendo assim à street art. Divisões
assimétricas, recortes imprecisos, texturas, cores vibrantes e a disposição
irregular do texto serão predominantes e dados coletados no decorrer do
trabalho trará a espontaneidade necessária para inserir o zine no contexto
urbano reforçando seu conteúdo midiático e atemporal.
21. 20
3. o processo criativo
Inicialmente foi feito um rafe com a capa e contracapa (imagem 06)
e diagramação interna do zine, setorizando os principais assuntos abordados:
uma breve história sobre a planta, desenvolvido em uma linha do tempo
(imagem 07); um resumo sobre a Cannabis no Brasil e seus resultados
positivos e sobre a Marcha da Maconha (imagem 08); um infográfico sobre os
principais tratamentos (imagem 09) e por fim, uma listagem de associações e
instituições que trabalham no intuito de disseminar a cultura canábica e sua
importância.
Imagem 06: Rafe de capa e contracapa. Fonte: Autor
Imagem 07: História sobre a planta. Fonte: Autor
22. 21
Imagem 08: Resumo sobre a Cannabis no Brasil. Fonte: Autor
Imagem 09: Infográfico sobre os principais tratamentos. Fonte: Autor
23. 22
Após esse rafe, foram iniciados os primeiros estudos digitais. Em
formato de 420x420mm, os tópicos foram diagramados e as imagens para a
colagem foram selecionadas e recortadas (imagem 10).
Imagem 10: Primeiro rafe digital. Fonte: Autor
Analisando um maior aproveitamento e economia de folha na hora
da impressão, foi alterada a diagramação para uma folha A5 (210x148mm),
as imagens todas em preto e branco para facilitar na hora de fazer cópias e os
detalhes em azul e vermelho para destacar trechos importantes (imagem 11).
Imagem 11: Diagramação em folha A5. Fonte: Autor
27. 26
5. considerações finais
Os principais objetivos de elaborar um zine que abranja um tema
ainda pouco falado e que gera controvérsias sobre seu real objetivo, a
regulamentação do uso medicinal da maconha, mostra que ainda temos que
divulgar o apoio à pesquisa, os seus benefícios e principalmente a quebra do
preconceito que circunda esse assunto, dando o suporte necessário aos
pacientes e seus familiares e aos médicos que dentro de sua especialidade, já
essão aptos a prescreverem.
No Brasil existem associações que fomenta a mobilização da
sociedade em prol da regulamentação do uso medicinal da maconha,
garantindo o direito à informação e acesso ao tratamento, entre elas:
APEPI – Apoio à Pesquisa e à Pacientes de Cannabis Medicinal –
(http://apepi.org);
AME+ME – Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis
Medicinal - (http://ameme.org.br);
ACUCA – Associação Cultural Cannábica de São Paulo -
(http://acucasp.org.br);
ABRACE ESPERANÇA – Associação Brasileira de Apoio Cannabis
Esperança - (http://abranceesperanca.org.br);
DR. CANNABIS – Uma plataforma digital que informa e conectam
pacientes a médicos que prescrevem e profissionais que produzem e
revendem canabinoides de forma legal, responsável e comprometida –
(http://drcanabis.com.br).
Sabendo que a Cannabis é uma planta de cultivo fácil e de baixo
custo, a luta pela sua legalização de forma medicinal e terapêutica garante
que pacientes e familiares tenham acesso ao tratamento de forma segura e
econômica e legal.
Floresça!
28. 27
referências bibliográficas
AMAME. Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal.
2019. Disponível em <https://amame.org.br/> Acessado em 29 mar. 2019.
Decreto-Lei nº 891 de 25 de Novembro de 1938. Lei de fiscalização de
entorpecentes. Rio de Janeiro, 1938. Disponível em <http://www.planalto.g
ov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del0891.htm> Acessado em 29 mar.
2019.
COSTA, T. G. S. A questão legal do uso medicinal da Cannabis Sativa no
Brasil. João Pessoa, 2017.
MATOS, R. L. A. O uso do Canabidiol no tratamento da epilepsia. Revista
Virtual de Quimica, 2017. Volume 9, número 02, 2017. Disponível em
<http://rvq.sbq.org.br/imagebank/pdf/MatosNoPrelo.pdf> Acessado em 01 de
abr. 2019.
SOUZA, A. R. G. Legalização da maconha para fins medicinais. Revista do
Curso de Direito da Universidade Braz Cubas, 2017. Volume 01, número 01,
2017.
BARRETO, F.R.C. O uso medicinal da maconha: um direito fundamental
à saúde do indivíduo. 2014. Disponível em <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=verista_artigos_leitura&artigo_id=19811&revista_c
aderno=9< Acessado em 01 abr. 2019.
FRANÇA, J. M. C. História da Maconha no Brasil. 1ª ed, São Paulo: Três
Estrelas, 2018.
29. 28
CARLINI, E. A. A história da maconha no Brasil. Revisão de literatura.
Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 2006. Volume 55, número 04, 2006.
Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0047-
2085200600040000> Acessado em 28 mar. 2019.
SANTOS, Q. A. O uso da Cannabis Sativa para fins medicinais. Revista
Saúde em Foco, 2017. Edição n.9, 2017. Disponível em <http://unifia.edu.br/re
vista_eletronica/veristas/saude_foco/artigos/ano2017/038_uso.pdf> Acessado
em 28 mar. 2019.
BARRETO, F.R.C. O uso medicinal da maconha: um direito fundamental
à saúde do indivíduo. 2014. Disponível em <http://www.ambito-juridico.com.
br/site/?n_link=verista_artigos_leitura&artigo_id=19811&revista_caderno=9>
Acessado em 01 abr. 2019.
IMBROISI, M. Arte de rua – Street Art. 2017 Disponível em <https://www.hist
oriadasartes.com/sala-dos-professores/arte-de-rua-street-art/> Acessado em
09 abr. 2019.
VIANA, A. Geração dos Millenials: Onde vivem, como pensam, como
compram e como vendem. 2019. <https://outboundmarketing.com.br/gera
cao-dos-millennials/> Acessado em 17 abr. 2019
CAVALCANTE, M. Fanzines: um jeito de se comunicar. 2014. Disponível
em < https://revistapolen.com/zines/> Acessado em 20 mai. 2019.
BELLANI, B. O que são zines? 2017. Disponível em <https://sobrelivrosetrad
ucoes.com.br/o-que-sao-zines/> Acessado em 20 mai. 2019.
30. 29
KARAM, L. Mães que lutam pela legalização contam como maconha
melhorou a saúde dos filhos. 2018. Disponível em <https://revistamariecla
ire.globo.com/Noticias/noticia/2018/01/maes-que-lutam-pela-legalizacao-conta
m-como-maconha-melhorou-saude-dos-filhos.html> Acessado em 29 mai.
2019.
SMOKE BUDDIES. As mães que vivem sob efeito da guerra às drogas.
2019. Disponível em <http://www.smokebuddies.com.br/eu-sou-crista-mas-
minha-filha-precisa-da-maconha-as-maes-que-vivem-sob-efeito-da-guerra-as-
drogas/> Acessado em 29 mai. 2019.
GONÇALVES, J. Os remédios não faziam mais efeito. Ela trocou pela
maconha e controlou a depressão. 2019. Disponível em <https://theintercep
t.com/2019/02/07/contra-depressao-maconha/> Acessado em 29 mai. 2019.
BHAZ. Anvisa fará consultas públicas sobre regulamentar a Cannabis
medicinal 2019. Disponível em <https://bhaz.co m.br/2019/06/12/anvisa-
consulta-publica-regulamentar/> Acessado em 13 jun. 2019.