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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU - USJT
Programa de Pós Graduação Stricto Sensu
Arquitetura e Urbanismo

O USO DA MADEIRA NA ARQUITETURA:
SÉCULOS XX e XXI

SIDNEI SÉRGIO ESPÓSITO

Orientador: Prof. Doutor ALEXANDRE EMÍLO LIPAI
Co-orientador: Profª. Doutora MARTA VIEIRA BOGÉA

SÃO PAULO
2007
 
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU - USJT
Programa de Pós Graduação Stricto Sensu
Arquitetura e Urbanismo

MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

Área de Concentração:
Percepção, Representação e Produção do Espaço Habitado

SÃO PAULO
2007
 
Espósito, Sidnei Sérgio
O uso da madeira na arquitetura dos séculos XX e XXI./ Sidnei Sérgio Espósito. - São Paulo,
2007. 172 f.: il.; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Arquitetura) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2007.
Orientador: Prof. Dr. Alexandre Emílio Lipai
Co-orientador: Profª. Dra. Marta Vieira Bogéa
1. Arquitetura - Séc. XX e XXI. 2. Arquitetura – Madeira. 3. Arquitetura Moderna. I. Título

 

CDD- 720
 
AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Prof.. Alexandre Emílio Lipai pelo interesse, incentivo, confiança e por
compartilhar seus conhecimentos que tanto contribuíram ao longo desse tempo para a
elaboração desse trabalho;
à Profª. Marta Bogéa, sempre presente com sábias palavras que tanto contribuíram para o
enriquecimento de desenvolvimento da presente pesquisa, com carinho e sabedoria;
Ao Prof. Yopanan Rebello no incentivo e a simplicidade em dividir seus conhecimentos e
pelo incentivo desde o tempo da graduação;
Também ao Prof.. Edison Eloy, pelo apoio e companheirismo durante a jornada de estudo e
pesquisas e que, além de professor, é um amigo ainda, a todos os professores que direta ou
indiretamente acompanham minha busca pelo conhecimento;
aos meus familiares que além do apoio e incentivo, abriram mão dos momentos de convívio
para que este trabalho fosse realizado;
aos meus pais, pela formação proporcionada, ajudando-me a acreditar que poderia chegar até
aqui.
Enfim, a todos que, embora aqui não mencionados, em algum momento participaram desta
caminhada.
 
A madeira vive sua primeira vida para si mesma, deixando-nos colher suas frutas,
que os passarinhos disputam conosco e com outros bichos. As florestas compõem
chuvas, rios, cachoeiras e se alimentam de si mesmas e dos raios de sol.
A segunda vida da madeira é gerada pela mão e pelo espírito humano. São objetos de
madeira que saem da nossa imaginação e ganham formas reais, passando a conviver
conosco e continuam assim durante gerações, transformando-se, impregnando-se de
vivência, servindo de testemunho e mantendo a utilidade; Ogum é o encontro entre a
ferramenta e a madeira. A luta da mão contra a tora bruta que não servirá à
humanidade, se não for vencida e se transformar.
Há muitos milhares de anos, a madeira revive em forma de objetos, desaparece no fogo
por vontade do homem ou apodrece ao ar livre por vontade dos deuses.
José Zanine Caldas (1919-2001)
 
SUMÁRIO
 
SUMÁRIO
RESUMO..........................................................................................................................................................15
ABSTRACT......................................................................................................................................................17
INTRODUÇÃO..............................................................................................................................................21
1. ASPECTOS HISTÓRICOS DA TRADIÇÃO, CULTURA
E TÉCNICA NAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS EM MADEIRA..............................................27
1.1. História: Experimentação e prática...............................................................................27
1.2. Autóctone e Tectônica....................................................................................................30
1.3. Tradição e Cultura...........................................................................................................50
1.4. Técnica..............................................................................................................................55
1.5. Tecnologia........................................................................................................................56
1.5.1. Madeira Compensada..................................................................................................60
1.5.2. Aglomerado...................................................................................................................60
1.5.3. MDF...............................................................................................................................61
1.5.4. MDP...............................................................................................................................61
1.5.5. OSB................................................................................................................................62
1.5.6. Madeira Laminada........................................................................................................63
1.5.7. A pesquisa no Brasil.....................................................................................................70
2. SEVERIANO MÁRIO PORTO............................................................................................................75
2.1. Restaurante Chapéu de Palha 1967...............................................................................79
2.2. Hotel e Pousada da Ilha de Silves 1980.......................................................................91
2.3. Centro de Proteção Ambiental da Usina Hidrelétrica de Balbina 1988................103
2.4. Aldeia SOS do Amazonas 1997..................................................................................113
3. TADAO ANDO........................................................................................................................................121
3.1. Pavilhão do Japão Expo’92 Sevilha 1992..................................................................131
3.2. Museu da Madeira 1994................................................................................................143
3.3. Templo Komyo-Ji Saijo 2000......................................................................................155
4. RENZO PIANO.......................................................................................................................................169
4.1. Prometeo – Espaço Musical 1984..............................................................................173
4.2. IBM – Pavilhão Itinerante 1988..................................................................................187
4.3. Escritório Renzo Piano (Building Workshop) 1991.....................................................197
4.4. Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou da Nova Caledônia1998...............................207
4.5. Palco da Música de Roma 2002...................................................................................225
5. MARCOS DE AZEVEDO ACAYABA..............................................................................................241
5.1. Quiosque na Fazenda Arlinda 1980...........................................................................247
5.2. Residência Hélio Olga 1990.........................................................................................253
5.3. Residência Andréa Calabi 1991...................................................................................265
5.4. Residência Ricardo Baeta 1991...................................................................................275
5.5. Residência Osmar Valentin 1995................................................................................287
5.6. Residência Marcos Acayaba 1997...............................................................................297
5.7. Sede do Parque Estadual de Ilha Bela 1998..............................................................307
CONCLUSÃO...............................................................................................................................................315
DOUMENTAÇÃO ICONOGRÁFICA.................................................................................................323
1. ASPECTOS HISTÓRICOS DA TRADIÇÃO, CULTURA
E TÉCNICA NAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS EM MADEIRA...................323
2. SEVERIANO MÁRIO PORTO..................................................................................324
3. TADAO ANDO..............................................................................................................326
4. RENZO PIANO.............................................................................................................328
5. MARCOS DE AZEVEDO ACAYABA.....................................................................330
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................................335
Livros......................................................................................................................................335
Teses e Dissertações.............................................................................................................338
Revistas...................................................................................................................................339
Revistas Eletrônicas..............................................................................................................341
RESUMO

A análise das obras selecionadas dos arquitetos Severiano Mario Porto, Tadao Ando,
Marcos Acayaba e Renzo Piano, nos leva a uma revisitação da arquitetura tradicional.
Esta dissertação busca detectar se a atual arquitetura em madeira significa ecos de
uma tradição em se trabalhar com esse material, ressonância de culturas que o homem
incorporou ao seu conhecimento do nascimento de novos tempos nas práticas
arquitetônicas no mundo, da recuperação de certos princípios nas obras em madeira.
O objetivo desta pesquisa é contribuir para investigar melhor o uso da madeira,
enfocado para soluções de projeto.

Palavras-chave: arquitetura, cultura, madeira, tradição, tecnologia.

15
 
ABSTRACT

From the analysis of some architects’ selected work Severiano Mario Porto, Tadao
Ando, Marcos Acayaba e Renzo Piano; it leads us to realize a kind of revisit to the
traditional architecture. This written essay aims to detect if the current wooden
architecture is an echo of the tradition in working with this material, a resonance of
cultures which man incorporated to his knowledge of the origin of a new era in the
architectonic practice in the world, a recovery of certain principles in the wooden
work. The objective of this research is to contribute to the investigate the use of the
wooden, focusing to the design project solutions.

Key-words: architecture, culture, wood, tradition, technology

17
 
INTRODUÇÃO

 
 
INTRODUÇÃO

A madeira é um material peculiar presente nas construções humanas desde os
primórdios. Esta pesquisa se iniciou com a investigação das influências culturais da tradição no uso
da madeira, tendo em vista as técnicas e sua reinvenção no correr dos anos. O norte que a instigou
foi a atenção à arquitetura vernacular japonesa e sua precisa competência técnica.
A avaliação do processo histórico-cultural da transformação do uso da madeira
permitiu conhecer e identificar relações, diferenças ou, ainda, convergências de técnicas, ou
recorrentes influências de tradição e cultura, através da produção de quatro arquitetos conceituados
que têm a madeira como matéria prima de seus projetos.
Quais reflexos daquele saber ainda se apresentam na arquitetura contemporânea?
Essa pergunta é feita naturalmente por pesquisador-arquiteto que está atento às possibilidades do ato
de projetar.
Esta pesquisa busca detalhar o trabalho fundamentado na tecnologia e métodos de
utilização da madeira em algumas culturas. Tem ainda, esta dissertação, como objetivo mostrar os
diferentes modos de utilização da madeira na produção arquitetônica em suas diferentes técnicas
construtivas na segunda metade do século XX.
O aporte no desenvolvimento tecnológico em relação ao uso da madeira como
material construtivo não só ocorre em pequenas construções como também para edificações de
grande porte, a partir de obras de alguns arquitetos contemporâneos, que apresentam domínio no
uso desse material.
Severiano Mário Porto, Tadao Ando, Renzo Piano e Marcos Acayaba são os
arquitetos estudados através da identificação, descrição do funcionamento e análise de desempenho
das soluções encontradas. Foram selecionados por critério de recorrência no uso da madeira como
material presente em projeto e pela evolução nas técnicas e tecnologias aplicadas. Também por
transformarem o material, objetivando o desempenho estético e estrutural, caracterizando em
algumas delas as peculiaridades da madeira, a simplicidade da mão-de-obra local ou exigências de
uma mão-de-obra especializada.
A partir da análise das obras, tendo em vista cultura, tradição e técnica, num primeiro
momento metodológico, apresentamos as peculiaridades que os distinguem. Atos contínuos

21
assinalaram-se valor e a coerência de materiais, técnicas construtivas e a disponibilidade do material e
da mão-de-obra.
O Capítulo 2, que trata das obras de Severiano Mario Porto, apresentou estudo
referente às peculiaridades no uso da madeira em uma arquitetura autóctone e regional.
Considerações com o clima e o lugar, material e a mão-de-obra local são as bases para sua arquitetura
em madeira, numa época em que o concreto armado se apresenta no Brasil como material mais
recorrente na construção civil.
O trabalho de Severiano Porto é reconhecido pelas soluções que apresenta no
encontro das tecnologias modernas e tradicionais, pelo respeito ao contexto físico e cultural e pela
coerência na adequação da arquitetura ao clima tropical. Soluções que sempre atraíram a admiração
da crítica, principalmente pelas obras que envolvem o uso da madeira, atenção ao clima, material e
local para a implantação da arquitetura. Com decisões justificadas pela racionalidade, seus projetos se
desenvolveram de acordo com a realidade da região, buscando adequações ao rigor do clima,
empregando os materiais disponíveis e respeitando as características do lugar. Em sua obra, talvez a
mais representativa tenha sido o Centro de Proteção Ambiental de Balbina, que será analisado em
detalhes no desenvolvimento desta dissertação.
O Capítulo 3 analisa-se as obras de Tadao Ando, que expressam sua profunda
proximidade com a cultura japonesa, buscando sempre fazer de seus projetos uma expressão do
lugar. O arquiteto, que realizou projetos a serem inseridos em contextos culturais e sociais diferentes
do seu, recebem uma influência contundente da arquitetura moderna em que predomina o uso do
concreto armado, tendo por referência Le Corbusier e, principalmente, Louis I. Kahn. Portanto, o
uso da madeira, como material em sua arquitetura, será restrito às obras de exceção, como o Pavilhão
Japonês na Expo’92, em Sevilha e o Museu da Madeira. Entretanto, cabe destacar nessa produção
significativa as fortes raízes que mantém na tradição. Tadao Ando busca referenciais nas antigas
construções do Japão, como os templos religiosos, na modulação, na espiritualidade do espaço e
principalmente no material, conforme mostra o projeto de reforma do Templo Komyo-ji Saijo. Os
exemplos de sua arquitetura em madeira trazem o enraizamento cultural e a tradição que
fundamentam a coexistência da arquitetura milenar com a tecnologia moderna, deixando presente o
simbolismo que o material traz.

22
No Capítulo 4, são estudadas as obras de Renzo Piano. Pode-se perceber que suas
obras têm aportes, principalmente, na tecnologia e nos conceitos aplicados diretamente na
competência e apropriação do material e suas descobertas na construção. Renzo Piano é um
arquiteto que não possui raízes na tradição da arquitetura em madeira, já que a Itália (seu local de
trabalho) se caracteriza por uma arquitetura em pedra e alvenaria. Entretanto, revela o rigor da
competência que desenvolveu através das obras selecionadas para este trabalho, como é o caso do
Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou em, Nouméa.
Na arquitetura de Renzo Piano, poderá ser notado ainda o uso de “sistemas
especializados”, na competência de um sistema construtivo aliado ao material que lhe permite uma
arquitetura arrojada.
Uma arquitetura que revela a preocupação tectônica

1

pela busca da expressão plástica

do edifício por meio de suas articulações construtivas. Uma síntese entre a paisagem e a construção,
através de rigoroso esquema tecnológico e construtivo.
A madeira nas obras de Renzo Piano tem se mostrado como um material que atende
às exigências do arquiteto, pela flexibilidade, que oferece condições à construção de elementos
estruturais de grande porte e que possibilitam uma produção em série, viabilizando construções préfabricadas ou até mesmo arquitetura itinerante. Em seus projetos, constata-se ser culturalmente
enriquecedor o diálogo com os valores, tradições e sensibilidades locais.
O Capítulo 5 analisa-se as obras de Marcos Acayaba, permitindo demonstrar que a
madeira, a partir de um determinado momento, passa a ser protagonista em seus projetos. Verificouse ainda que sua competência já havia sido demonstrada na elaboração de projetos em concreto
armado no início de sua carreira, como exemplo a residência Marcos e Marlene Milan Acayaba. O
arquiteto viabiliza um ideal, com a possível inserção de arquitetura sem danos ao ambiente natural,
permitindo a racionalidade e a flexibilidade não só do material, mas também da forma. A madeira
utilizada foi a de “manejo sustentado”. Feito o levantamento das espécies existentes, adota a solução
de usá-las em sua forma maciça, beneficiada e aparelhada em suas obras. Sua arquitetura é
desenvolvida a partir dos conceitos de obras modernas (escola e formação). Podemos perceber, ainda, a
busca por inovação no sistema construtivo e uma visão formal adequada e baseada em modular que
pode ter como uma hipótese possível de inspiração, a arquitetura japonesa.
                                                             
1 A palavra tectônica vem do radical grego tektoniké, que significa “arte de construir”. Entendendo como tectônica a arte de construir edifícios, enquanto
essência da forma arquitetônica. Um estudo da síntese da construção, de maneira que uma estrutura arquitetônica se organiza em um corpo único de
uma construção lógica.

23
O arquiteto utiliza muitas vezes os protótipos de suas buscas para chegar ao módulo
que se repete e constrói um padrão para um sistema construtivo. Peças de madeira, junções e
articulações metálicas podem ser manuseadas sem exigirem especialização de mão-de-obra. A
repetição dos módulos possibilita atender a vários programas e suas dimensões possibilitam variações
de volumes, formas e geometria estrutural.
Por essa razão, requerem-se soluções que permitam a introdução de melhorias no uso
da madeira na construção. Não obstante, a realidade indica que o domínio de técnicas, vindas das
influências culturais causadas pela ressonância do uso da madeira na arquitetura, não são ecos de uma
civilização universal ou transformações agregadas por valores culturais e de tradição ao homem dos
séculos XX e XXI. Embora, na maioria dos casos, sejam gerados pelas diferenças regionais que estão
próximas das culturais e dentro de um plano em que se detectam similaridades no manuseio do
material, técnicas aplicadas e produto desenvolvido.
Faz-se também a verificação das influências culturais causadas pela ressonância do
uso da madeira, mudando, perpetuando, ou ainda se agregando aos valores culturais do homem
contemporâneo. A possibilidade de relacionar o uso da madeira em culturas muitas vezes
consideradas primitivas hoje serve de exemplo para outras que não mantêm a tradição deste material,
muitas vezes pela escassez e pela dificuldade de obtenção. Atualmente, as condições de transporte e
técnica voltadas a este tipo de material para a construção facilitam o comércio do produto e aumento
da produção arquitetônica em madeira.
A madeira se revela material adequado e rico em possibilidades, aliada à condição de
sustentabilidade por ser renovável e de fácil reciclagem. Soma-se a isso a enorme facilidade de ser
trabalhada, não necessitando de processos industriais complicados e poluidores para o seu
processamento. Esses são fatores que colocam a madeira numa posição bastante interessante em
relação aos outros materiais. Há a necessidade, porém, de desenvolvimento de tradição em pesquisas
com o uso da madeira aplicada à Arquitetura em nosso país, fato que já vem acontecendo no âmbito
acadêmico em algumas Universidades brasileiras, ainda em escala reduzida. A investigação para
ampliar o conhecimento tecnológico adequado à nossa realidade, aliada a um planejamento
econômico estratégico, poderiam desvendar novos e diversificados caminhos para a utilização da
madeira de forma sustentável.

24
1. ASPECTOS HISTÓRICOS DA TRADIÇÃO, CULTURA
E TÉCNICA NAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS EM MADEIRA

 
1: Viollet-Le-Duc e o primeiro abrigo.

26
1. ASPECTOS HISTÓRICOS DA TRADIÇÃO, CULTURA
E TÉCNICA NAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS EM MADEIRA

1.1. História: Experimentação e prática

O uso da madeira não é novidade na arquitetura, visto ser um dos mais antigos
materiais de construção. Sua utilização como matéria-prima para as construções mais simples e a
técnica construtiva empregada nos edifícios é uma constante na historia da arquitetura.
As primeiras habitações construídas são datadas por estudiosos, arqueólogos e
historiadores, do período pré-histórico. Construções cuja estrutura era constituída empiricamente
com ramos e galhos cobertos por aglomerado de folhas, palhas, longas fibras vegetais e até peles.
A idéia do primeiro abrigo, arquétipo e origem, estão representados por alguns
significativos teóricos da arquitetura, como Viollet-Le-Duc (imagem 1).
A arquitetura mostra através de sua história como se transforma por meio do
surgimento ou influências de novas técnicas, associação de outras culturas e tradições. Nesse sentido
é importante observar os métodos e processos geradores dessa transformação a partir de soluções
autóctones para os materiais orgânicos, ou quando, estes materiais foram sendo superados por
outros.
A técnica aplicada à construção é uma atividade quase tão antiga quanto à
humanidade e seu desenvolvimento está relacionado com a observação da natureza e com o
aprendizado empírico durante a prática de construir. As primeiras técnicas construtivas surgem da
observação da natureza e da imitação de suas estruturas para responder às necessidades humanas de
abrigo, locomoção, entre outras.
Com o passar do tempo, a manipulação dos materiais naturais pelo homem vem
permitindo o acúmulo de conhecimento e habilidades num processo de aprendizagem empírico
durante seu trabalho. De forma prática a humanidade conseguiu grandes evoluções na arte de
construir propiciando edificação complexas e grandiosas.
Através da construção de casas, silos, estradas, pontes, teatros, templos e barragens
são alguns exemplos de como a humanidade desde a antigüidade vem moldando a natureza de forma
a desenvolver sua capacidade em edificar.
27
2: construção sendo realizada por mulheres da tribo de Gabra, África.

3: desenho esquemático da construção de Gabra, por Dominique Cazajus.
28
À primeira vista a arquitetura não parece relacionada com o relato acima exposto. Na
realidade, está e de maneira significativa.
Alguns exemplos próximos e similares às tipologias primitivas são vistos nos tempos
atuais nas construções de diversas tribos africanas ou latino-americanas, em geral, construídas por
uma estrutura circular formada por galhos finos, em forma de arco, presos por uma trama de fibras
ou galhos mais finos amarrados em seu perímetro que suporta uma cobertura de fibras vegetais
(imagens 2 e 3). Deste modo, as exigências de um abrigo para algumas tribos aborígines, ficavam

satisfeitas com uma simples armação de ramos ou pequenos troncos de árvores, que se cobriam com
folhas, fibras ou casca de árvores.
Os diversos procedimentos com que se realizavam as uniões de objetos e/ou
materiais diversos, são determinados pela qualidade das ferramentas, mais ou menos sofisticadas, que
os diversos povos desenvolveram. Em muitas partes do mundo a união das peças de madeira era
realizada apenas com o auxílio de cordas tecidas com as fibras de folhas e com lianas 2 . Estas uniões
eram muito resistentes e graças a sua grande flexibilidade, resistiam às forças da natureza como os
ventos fortes.
A grande variedade de casas construídas à base de peças de madeira unidas entre si
com fibras vegetais, fala por si mesmo da solidez da sua construção e da sua segurança estrutural,
constituindo assim o método mais eficaz e mais econômico de utilização de materiais naturais que se
encontram em toda a parte do mundo.
Algumas dessas estruturas alcançaram um nível tão grande de desenvolvimento que a
tecnologia moderna tem pouco a acrescentar. Estas construções chegaram até hoje, como
testemunho da sua extraordinária qualidade.
Em qualquer lugar que fosse possível encontrar facilmente materiais orgânicos (como
a madeira) aptos para a construção, estes eram aproveitados para serem utilizados em qualquer tipo
de estrutura de madeira. Troncos que serviam de apoio e suporte para simples cobertura, foram os
precursores das estruturas de madeira atuais cuja evolução técnica foi gradual e ao longo dos séculos
servindo às necessidades do homem.
A evolução das construções em madeira ocorreu em função das características do
material predominante e das técnicas construtivas em madeira em cada região. A diversidade cultural
dessas regiões traz modificações nas soluções arquitetônicas, evidenciadas pelo uso de diferentes
técnicas e materiais de construção. Acrescida de espaços e ornamentos peculiares às culturas que as
                                                             
2

Designação comum a diversas trepadeiras lenhosas, epífitas, de caule extenso (até 70m), que abundam nas florestas tropicais. HOLLANDA 2004.

29
constroem, as edificações em madeira passaram a ser expressão arquitetônica de uma tradição
cultural.

1.2. Autóctone e Tectônica

Palavras como autóctone3, vernacular, tectônica, técnica e tecnologia, cultura e
tradição, estão presentes no vocabulário do arquiteto contemporâneo, em discussões de estudiosos e
pesquisadores, e, como palavras-chave para se pensar ou elaborar um projeto arquitetônico. Sendo
usado com mais freqüência que em outros momentos da história da arquitetura, esse vocabulário,
também faz parte de outras áreas circunvizinhas à arquitetura que, hoje formam uma
interdisciplinaridade mais explicita, em áreas como, antropologia, sociologia, psicologia, filosofia,
entre outras.
Pode-se verificar a relevância da análise das arquiteturas vernaculares através de
estudos realizados por alguns conceituados pesquisadores acadêmicos em várias partes do mundo.
Bernard Rudofsky, em Arquitectura sin Arquitectos de 1964, faz uma rápida, porem significativa
introdução a essa natureza de construção. O livro é um lembrete da legitimidade e imenso
conhecimento inerente em edifícios vernaculares, das cavernas de sal polonesas às rodas de água
gigantescas da Síria (imagens 4 e 5). Sua quase imutabilidade apontada por Rudofsky como dado de
uma perfeição indica uma recorrência que se apura ao longo do tempo.
A definição pode incluir uma variedade ampla de edifícios como casas, silos agrícolas,
edifícios industriais e estruturas. São formas geradas freqüentemente pelo empirismo desde os
tempos mais antigos.
As novas arquiteturas construídas a partir do conhecimento empírico manifestam-se
fisicamente, perpetuando então, normas culturais e acúmulo de conhecimento de como construir. O
edifício vernacular foi elogiado por muitos autores por sua adaptação sofisticada a seu ambiente e às
necessidades de seus usuários. Compuseram uma parcela grande do ambiente construído durante
toda a história da humanidade.
3

Autóctone, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (eletrônico, 2002), tudo que é próprio de um país, ou da região em que habita e
descende de raças que ali sempre viveram, ambas autonímias de “ádvena”: estrangeiro ou estranho vindo de fora por via culta. Já por acepção dos
termos pode-se aferir aspectos que caracterizam a arquitetura autóctone ou vernacular: uma relação direta com o sítio de implantação e a presença de
tradição.

30
4: estrutura das cavernas de sal, Polônia século XI.

5: roda d’água, Síria s/d.
31
“La arquitectura vernácula no sigue los ciclos de la moda. Es casi inmutable, inmejorable, dado que
sirve su propósito a la perfección. Por lo general, el origen de las formas de la edificación y los métodos
de construcción, se han perdido en el pasado”. 4 (RUDOFSKY 1973)
As análises de Rudofsky revelam a utilização de diversos tipos de materiais por este
homem que dominava as técnicas de seu tempo (hoje muitas delas esquecidas). Mostra também a
evolução dos sistemas construtivos, possível a partir da identificação das características dos materiais,
aplicando novas técnicas aos modelos existentes com o intuito de aperfeiçoá-los. Existe uma
correspondência entre o modelo tradicional e o processo de transformação, que procura sustentar a
hipótese de que os modelos formais presentes na transformação não constituem uma influência
cultural proveniente do mundo externo através de um processo de universalização ou aculturamento,
mas, sim, de elementos formais presentes na arquitetura tradicional, com a incorporação de novos
materiais e sistemas construtivos.
A palavra tectônica vem do radical grego tektoniké, que significa “arte de construir”
(HOLLANDA 2004) e para COLQUHOUN a definição estrita de tectônica é a arte de construir
edifícios. Mas, no discurso arquitetônico, o termo tem sido em geral ligado ao problema ideológico de
considerarmos se a estrutura que confere forma à construção deve ser revelada ou mascarada. 5
O pesquisador Kenneth Frampton 6 é a favor da “tectônica” enquanto essência da
forma arquitetônica. Um conceito de síntese construtiva, isto é, o modo como uma estrutura
arquitetônica se organiza em um único corpo de uma construção lógica. A arquitetura destes últimos
séculos (XX e XXI), tem sido caracterizada pelo conceito da “invenção” como um fim em si, tendo
como ponto alto um abstracionismo da forma obtida através de um exagero no exercício estrutural
amparado em um sofisticado suporte tecnológico. Sistemas construtivos avançados e novos materiais
aliam-se a pensamentos e manifestações que se expressam através de geometrias complexas e
instrumentais informatizados de projeto que visam uma ênfase no uso da unidade estrutural como a
essência da arquitetura contemporânea. Estes novos processos têm presença constante nas obras
contemporâneas dos arquitetos Santiago Calatrava, Frank Gehry e, entre outros, Renzo Piano, cuja
obra será apresentada em capítulo específico por tratar com profundidade o uso da madeira com um
olhar na tecnologia e outro na cultura e necessária contextualização de um projeto.
                                                             
RUDOFSKY, B. Arquitectura sin Arquitectos. Editoria Universitatia de Buenos Aires, 1973, p. 01.
Entrevista de Alan Colquhoun sobre usa obra Modernidade e tradição clássica", disponível em
http://www.vitruvius.com.br/entrevista/colquhoun/colquhoun_2.asp - 25/05/2006.
6 NESBITT. K. Uma nova agenda para a arquitetura. Cosacnaify. São Paulo, 2006. 
4
5

32
Entre os sistemas construtivos usuais que avançam em aprimoramentos pode-se
observar que em relação ao uso da madeira alguns sistemas de construção permanecem com suas
características mais antigas, como é o caso das construções do Japão e dos países nórdicos.
A arquitetura Nórdica que se caracteriza pela largura das paredes capazes de isolar o
frio, configura uma construção maciça bem diferente da Oriental, porém, também muito interessante
quanto à manutenção de processos construtivos de tecnologia simples embasada em conceitos
ancestrais.
Há civilizações nas quais o uso da madeira na arquitetura autóctone é expressiva,
destacando-se formas peculiares, significativas no estudo da arquitetura: o Extremo Oriente é uma
dessas civilizações, com uma arquitetura leve, porém resistente e feita para suportar os freqüentes
terremotos e, portanto, rica em conhecimento no uso de detalhes de encaixes que permitem absorver
movimentos violentos a que um edifício é solicitado quando submetido a um tremor do solo.
As civilizações orientais, diferentemente das ocidentais, levam consigo a aura de
“mistério”, de “desconhecido”, de crenças profundas, de uma cultura rica que até há pouco tempo
permanecia praticamente intacta. Em algumas delas ainda podemos ter a impressão de que a
globalização nunca teria lugar, pois a cultura enraizada é muito forte.
Entre as diversas culturas onde ainda encontramos manifestações contemporâneas
com lastro nos conceitos de autóctone e tectônico, destaca-se, com maior riqueza de exemplos, a
cultura japonesa e sua arquitetura singular. São maneiras distintas de se trabalhar a madeira, com o
caráter do artesão tradicional, ao lado da qualidade de um material natural, orgânico, que simbolize o
ressurgimento de um estágio pré-industrial e pré-tecnológico.
As edificações no Japão revelam que o uso da madeira na arquitetura é fruto de um
tratamento delicado e sensível do material e os conceitos aplicados vão desde o uso, do manuseio
técnico até conceitos espaciais tais como a mobilidade na produção dos espaços, a permeabilidade e a
transparência.
A arquitetura japonesa dispõe de um vasto repertório de exemplos de execução em
madeira, desde a arquitetura religiosa dos Santuários Xinto, os Templos Budistas, os Toriis, as
habitações antigas, os palácios, os castelos e as tradicionais Casas de Chá. De certo modo, todas essas
tipologias seguem um padrão recorrente em relação ao material, às técnicas de corte da madeira e à
construção. As variações ocorrem nos detalhes construtivos e ornamentos, conforme o uso da
edificação. Dentro desta diversidade de detalhes uma delas é a estrutura imbricada dos telhados e
beirais que, pela multiplicação de pequenas peças que são ligadas entre si, desempenham um papel
33
estrutural muito importante num sistema de vigamento caracterizado pela ausência de elementos de
estabilidade triangulares. Estes elementos da ossatura se desenvolveram com o tempo das mais
variadas formas (imagem 6).
Boa parte dessa condição se deve a uma cultura na qual a tradição tem um valor
inestimável. Conforme Noburo (1990:2) as primeiras construções com o piso elevado surgiram no
século III a.C. com telhado estruturado em duas águas. As construções eram realizadas pelos “Inabes”
(construtores de embarcações), configurando uma arquitetura que não ostenta grandiosidade e, sim,
uma maior riqueza em detalhes e técnicas de construção que foram aprimoradas em relação à China,
Coréia, Tailândia.

6: detalhes de encaixes, sistema construtivo japonês.

34
 

7: Torii tradicional - Yoyogi-koen Park, Tókio.

 
8: Templo Hôryû-ji (607 – século VII) – Nara.
Construído totalmente em madeira, considerado a construção em madeira mais antiga do mundo, é patrimônio da
humanidade desde 1993.

35
9: detalhe do beiral do telhado - Templo Todaiji Daibutsu, século VIII, Nara.

10: detalhe capitel, arquitetura japonesa.

36
O Santuário de Ise (imagem 11) é uma das mais antigas construções encontradas no
Japão, sua construção é toda em madeira de troncos roliços, com encaixes para a fixação das peças
umas nas outras e cobertura em palha. A construção é um exemplo de como se erguiam as
edificações com os pilares cravados diretamente no solo. Posteriormente, usaram-se pedras para
isolar a madeira da umidade, prolongando seu tempo de uso.

11: Santuário de Ise século VII, Ise.

Outro elemento que mostra a capacidade dos japoneses de construir em madeira é o
Pagode (imagem 12), talvez a mais forte expressão arquitetônica da cultura e tradição de um povo na
construção em madeira.
A estrutura do Pagode encontra equilíbrio no eixo central por meio de um pilar
cravado no solo que segue até o alto da edificação. Seus beirais vão se sobrepondo amparados pelo
equilíbrio interno. São construções muito antigas e possuem tipologias diferenciadas de acordo com
a data e segmento religioso.

37
12: pagode Templo Horyu-ji, século VII.
A coluna central funciona da parte inferior à parte superior com eixo do pagode. Todos os pagodes construídos no Japão
têm tal coluna, chamada de shinbashira. Poucas das torres em madeira similares existentes na China e na República da
Coréia têm esta coluna. É provavelmente uma característica distintiva dos pagodes em madeira do Japão.

Outro exemplo significativo da arquitetura japonesa é o Palácio de Katsura (imagens 13 e
14) que apresenta modulação precisa, divisão espacial coerente com essa modulação, e a sobriedade

típica desta cultura.
A singularidade dos ambientes surpreende pela nitidez e grandeza das formas, por
seus princípios de composição modular, pela diferenciação entre cheios e vazios; transparência e
continuidade do espaço. Outros aspectos a destacar são a planta livre – valor inspirador em muitas
obras dos arquitetos do Movimento Moderno - a supressão de ornamentos e a valorização do
detalhe, bem como o desenvolvimento tecnológico (como os painéis corrediços), o revestimento
com materiais fibrosos e o sistema construtivo, tão distante dos sistemas ocidentais de coluna, lintel e
arcos.

38
13: Palácio Imperial Katsura Rikyu, 1650.

 

14: Palácio Imperial Katsura Rikyu.

15: sala de chá tradicional.
39
Há questões que se apresentam como problemas intrínsecos da constituição físicoquímica do material, independentemente do contexto geográfico ou cultural onde se encontram.
Referem-se ao comportamento do material em si que por ser de natureza orgânica possui grande
vulnerabilidade ao ataque da umidade quando em contato direto com o solo, como ocorre no seu
uso aplicado a fundações de edifícios. Em diferentes culturas o problema procura resolver a essência
desta questão, porém, de modos diferentes de acordo com o conhecimento obtido da
experimentação e da técnica desenvolvida.

16: fundações, sistema construtivo japonês.

Nessas construções, pode-se verificar uma interessante estratégia adotada para
impedir que a umidade do solo atinja as peças de madeira, elevando toda a construção do solo. Os
pilares roliços de madeira de pequeno comprimento estão em contacto com uma base de pedra
enterradas poucos centímetros acima no solo, estas pedras ficam com uma parte exposta onde
dificulta a absorção da umidade que vem da terra (imagem 16).
É interessante verificar que, quando a tradição aparece como referência formal e
simbólica, sua identidade é inconfundível como na arquitetura em madeira do arquiteto Tadao Ando.
A comparação dos pilares do Templo Todaiji Daibutsu com os pilares da construção do Templo
Momyo-ji Saijo não deixam duvidas a esse respeito (ver capítulo que trata a Arquitetura de Tadao Ando).

40
Já a arquitetura dos países nórdicos (localizados na região norte e nordeste da Europa,
compreendem os territórios da Finlândia, Noruega, Suécia e Dinamarca), possui um repertório de arquitetura em

madeira tão grande quanto o Japão.
A abundância de bosques no norte e leste da Europa constituíam um elemento básico
para que a madeira fosse utilizada na construção. Apresentam uma arquitetura maciça e robusta, sem
transparência, apoiadas em fundações rasas de pedra ou pequenos muros tipo baldrame que
sustentam o peso dos troncos roliços empilhados paralelamente.
Os troncos horizontais são unidos entre si mediante diversos tipos de junções. Esta
disposição horizontal dos troncos teve maior aceitação do que a disposição vertical, devido á maior
estabilidade que conferiam à construção.

 
17: fundações, sistema construtivo nórdico.

O principal inconveniente da disposição horizontal dos troncos consistia na maior
dificuldade em conseguir que os espaços entre eles fossem vedados para evitar a infiltração de ventos
e águas. Esta estanqueidade era conseguida, calafetando as fendas com telas tecidas na cor da
madeira ou, nas casas mais humildes, com argila, musgo ou terra.
Outro inconveniente na disposição horizontal dos troncos consistia no fato dos topos
dos troncos ficarem a descoberto ficando facilmente á mercê do apodrecimento.

41
Na Escandinávia, a construção em madeira foi inicialmente executada á base de
estruturas em aduela 7 , mas a partir do século XV, este sistema foi substituído pela construção em
troncos. Porém, apresentam uma arquitetura maciça e robusta, sem transparência, apoiadas em
fundações rasas de pedra ou pequenos muros tipo baldrame que sustentam o peso dos troncos
roliços empilhados paralelamente (imagens 17 a 20).
A arquitetura nórdica é adaptada ao rigor climático do local. A abundância de matéria
prima também é um fator que possibilita esse tipo de construção, cuja origem vem desde a civilização
Viking (século VIII a XI).
A arquitetura religiosa também aparece como referencial importante na utilização da
madeira para estas construções maciças. A quantidade de edifícios religiosos, erguidos durante
séculos, e estes se encontram espalhados pela Escandinávia, Polônia e Hungria, havendo até alguns
exemplares na Rússia.
As igrejas de madeiras são caracterizadas por grandes pilares sobre longarinas de
madeiras apoiadas nas fundações de pedra. Além do vedo em madeira estas são recobertas por
pequenas pranchas de formatos e desenhos diferentes, já as residências possuem somente os troncos
sobrepostos cruzando nas extremidades num ângulo de 90º; nestas, longarinas aparecem em alguns
casos conforme a dimensão da edificação.

18: Igreja tradicional dos países nórdicos, Noruega s/d.

                                                             
Tábua encurvada com que se forma o corpo de tonéis, pipas, etc. Também é usada com pedra em forma de cunha secionada, que se emprega na
construção de arcos e abóbadas de cantaria. HOLLANDA 2004.

7

42
Quanto maior o edifício maior é sua base e, como as fundações são rasas, nesse caso,
o peso da madeira precisa ser distribuído por igual, obtendo-se um equilíbrio estrutural no qual a
dimensão da base corresponde à dimensão da peça de madeira apoiada.
Neste aspecto encontra-se semelhança com o sistema de apoio da arquitetura
japonesa; entretanto os nórdicos ao usarem desta solução adotam uma estrutura que não se apóia
sobre pedras isoladas como na arquitetura leve do Japão e, sim, sobre bases maciças feitas com
pedras.
Enquanto a arquitetura japonesa, tanto residencial quanto religiosa, faz o uso de um
processo de imbricamento de pequenas peças, a arquitetura residencial e religiosa nórdica traz como
peculiaridade um sistema de empilhamento de troncos, conhecido como “blockbau” (detalhe imagens
20 e 21). Esse sistema é tradicionalmente construído por uma mão de obra não especializada.

19: Vila Kaileia, Finlândia.
43
20: detalhes construtivos do sistema “blockbau”.

21: detalhe construtivo nórdico, parede, beiral e fundações.

Hoje estes países já dispõem de sistemas de pré-fabricação de residências neste estilo.
Pode-se concluir que, mesmo dentro das inovações contemporâneas, a cultura e a tradição da
construção em madeira nórdica não se diminuíram diante dos avanços tecnológicos, mas se
mantiveram com a mesma matriz construtiva (imagem 21).
Somente os países em que a madeira continuou sendo um recurso amplamente
disponível, a tradição construtiva permaneceu. Certamente, os países Escandinavos, Alemanha, Suíça
e outros do leste da Europa, Canadá e Estados Unidos mantiveram durante todos estes anos uma
44
produção constante de residências em madeira. Entretanto, mesmo nas regiões onde o uso de
madeira estava sendo substituída por outros materiais, a carpintaria tradicional não desapareceu
totalmente, embora limitada a casos singulares. Basicamente são os países em que historicamente
prevaleceram à tecnologia de se construir com madeira.
No Brasil não há, além da experiência indígena, uma cultura e uma tradição em
construções em madeira tão consolidada como nos países citados. Com exceção da região Sul, que
teve uma imigração de povos do Norte e Leste europeu como os alemães, poloneses, húngaros etc.,
poucas regiões mantêm essa tradição. Os sistemas e técnicas adotados são referências das
construções de seus países de origem, como o sistema mais usado: o enxaimel (no qual a ossatura do
edifício é constituída de madeira maciça, com seção retangular, e preenchida com alvenaria. Em
construções mais antigas, com esse sistema o preenchimento era feito em taipa (imagem 22).

 
22: casas em enxaimel na Alemanha (em Tecklenburg).

45
As construções no Norte do Brasil que utilizam madeira têm um caráter empírico,
uma arquitetura autóctone, indígena.
O uso da madeira disponível no local dá uma peculiaridade à arquitetura regional. Os
referenciais vernaculares desta região decorrem das arquiteturas indígenas e caboclas de populações
ribeirinhas. Tais usos mostram ao homem moderno soluções simples para lidar com o clima quente e
úmido da região (imagens 23 e 24).

 
23: casas sobre palafitas no Rio Negro, adequadas às cheias do rio.

 
24: maloca Makuna, região noroeste do Amazonas.

46
As soluções construtivas ainda são muito similares às das construções primitivas:
troncos com dimensões maiores e mais rígidos são usados para a estrutura principal, enquanto
outros, de menor porte e flexíveis, vão sendo dispostos de maneira que possam ser entrelaçados
entre si ou amarrados, dando condições para receber a cobertura final em palha. Este processo é
usado por várias tribos indígenas que habitam a região amazônica da América do Sul, não se
restringindo somente ao território brasileiro.
No Brasil, a produção arquitetônica predominante no período contemporâneo, é em
concreto e aço. Por não se ter referências de construções em madeira com uma tecnologia mais
avançada do que a indígena, a madeira durante muito tempo ficou impregnada por um preconceito,
de material secundário, só atenderia à construção civil como cimbramento, fôrmas para concreto
armado e outros usos menos importantes.
Por inúmeras circunstâncias, uma camada da população mais pobre se aproveita das
sobras da construção civil para erguer suas habitações. Caracterizam-se pela precariedade e condições
da implantação e pela ausência de recursos tecnológicos na utilização do material para a construção.
São as conhecidas “favelas”. Esta característica de precariedade contribuiu muito para que o restante
da população passasse a ver a madeira como um material não relacionado à possibilidade de se ter
uma habitação de qualidade. Isso não se tornou uma regra, mas contribuiu para um distanciamento
no uso deste material.
Por outro lado, em regiões de populações com mais recursos, de economia mais
estável, nos deparamos com construções luxuosas em madeira, como casas de campo e praia,
especialmente para lazer.
Na América Latina, em especial na arquitetura brasileira, nosso estudo percorre o uso
da madeira nas construções vernaculares tendo referências importantes na arquitetura de Zanine
Caldas (imagens 25 e 26) e, em especial, de Severiano Mário Porto (imagens 27 e 28) cujas principais obras
com estas características serão apresentadas em capítulo especial desta pesquisa.
A produção de ambos inclui como precedente outra forma de olhar para o material
como elemento principal numa obra arquitetônica. Esses arquitetos criaram um repertorio próprio,
incentivam as gerações posteriores na busca por elementos de culturas e técnicas tradicionais que
possam ser aplicadas às condições de nossa realidade.

47
25: estrutura da cobertura Residência Itaipava, RJ.

27: vista fachada Leste, residência do arquiteto em Manaus.

26: estrutura da cobertura Residência Brasília, DF.

28: Instituto de Arquitetos do Brasil, Manaus 1984.

Um exemplo contemporâneo da aplicação da madeira na arquitetura brasileira não
inspirada em características autóctones ou vernaculares, mas com outro olhar, são as obras do
arquiteto Marcos Acayaba que, em sua arquitetura, busca relações entre material, forma e processos
de produção industrial. O arquiteto, por outro lado, não mantém um vínculo com raízes culturais ou
tradição, como os europeus ou japoneses. Seu sistema de construção é constituído de encaixes,
baseado nos modelos praticados pela carpintaria tradicional (imagem 29), com o uso de acessórios e
ligações metálicas. Sua obra reflete um trabalho de busca por uma tecnologia sem mistérios, uma
industrialização prática e que, possibilite resultados além dos que já foram obtidos.
48
29: exemplos de sambladuras (fonte: Traité Pratique de Charpente – Barberot).

As experiências mostradas evidenciam um rico universo da arquitetura em madeira,
apenas esboçado, mas que revela uma diversidade de técnicas, manuseio e detalhes, tão distante da
impressão corriqueira de que arquitetura em madeira implica sempre em uma mesma configuração
tipológica. Há um “saber fazer” que se tornou universal ao incorporar: conhecimento de
propriedades físico-químicas e comportamento do material em si, experimentações que se tornaram
tradição, transformaram-se em técnica e foi objeto de troca entre diferentes culturas que por sua vez
tornaram-se práticas naturais encontradas em grande parte do mundo ocidental. A exceção se destaca
em culturas orientais com especial resultado na arquitetura japonesa. O conhecimento pelo contato
com a tradição e cultura que gerou uma determinada técnica é um importante meio de aprendizado
para o aprimoramento da pesquisa.

49
1.3. Tradição e Cultura

A tradição em arquitetura pode ser descrita como um conjunto de precedentes conhecidos e de uso
consagrado, parcialmente repetidos, parcialmente modificados, dos quais o arquiteto se utiliza quando
projeta um edifício. (...) que torna possível a quem projeta ir direto às prioridades, poupando-lhe o
trabalho de reinventar o que já foi inventado. 8 STROETER (1986)

Temos como definição de tradição o processo de transmissão de dados culturais de
geração em geração numa determinada sociedade. Fonte de conhecimento histórico e social.
A origem da palavra tradição tem um sentido de conhecimento singular, uma
memória preservada e transmitida de século para século, pela palavra, pelo exemplo, pela prática, pela
arte e ofício. Depois, no domínio do conhecimento, dos costumes e das artes, é uma maneira, ou um
conjunto de modos de pensar, de fazer ou de agir, que representa uma herança do passado.
A tradição é um produto do passado que tem uma atualidade. Podemos até definir
tradição como “o que, de um passado persiste no presente, onde é transmitido e continua a ser
atuante e aceita por aqueles que a recebem e que, por sua vez, com o passar das gerações, a
transmitem”, como ocorre na formação do conhecimento dos ofícios de artesão e carpinteiro.
Este capítulo procura compreender um processo e métodos que marcam, por um
lado, continuidade e, por outro, uma ruptura com o passado. Entende o resgate da tradição como
certo regionalismo que se posiciona num diálogo com continuidade do espírito da modernidade, como
sugere MONTANER 9 , em paralelo ao conceito de regionalismo crítico, nos termos sugeridos por
FRAMPTON 10 .
Conhecer a arquitetura de um lugar é importante, pois dessa forma é possível
compreender parte da história, identidade e cultura existentes.

                                                             
STROETER, J. R. Arquitetura e Teorias. Cap. 6 A tradição. São Paulo: Nobel, 1986, p.109.
MONTANER, J. M. Depois do movimento moderno: arquitetura da segunda metade do século XX. Barcelona: Gustavo Gili, 2001, p. 56, 138 e 190.
10 A definição do termo regional ou regionalismo baseia-se em conceitos como lugar, tradição, identidade local, elementos e tipos arquitetônicos
regionais. Severiano Porto estaria dentro de um regionalismo, ou estaria começando a desenvolver uma outra modernidade? Podemos nos remeter ao
Regionalismo Crítico de Kenneth Frampton, quando ele propõe que a arquitetura mescle influências culturais locais com tendências internacionais,
preocupando-se com a composição arquitetônica da região onde se construirá um novo edifício, sem desconsiderar as inovações tecnológicas. Mas o
que nos perguntamos é: em que ponto a utilização deste ou daquele material neste ou naquele projeto caracteriza uma arquitetura
regional?FRAMPTON, K. Historia critica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 381-397.
8
9

50
Os estabelecimentos de regras da arquitetura ilustram um padrão tradicional cada vez
mais em um estado de erosão e de transições causadas pela globalização das idéias, dos novos
materiais e da internacionalização da arquitetura. Embora atualmente, sob a pressão das influências
internacionais, alguns arquitetos se valem dos saberes tradicionais como base de projeto.
Este momento de universalização de culturas e tradições não elimina, portanto, as
tradições locais ou regionais, entendidas aqui como o acervo no qual sucessivas gerações se inspiram e
recriam sua imagem de lugar à imagem de si mesmos 11 .
Nesse sentido, a tradição é uma memória coletiva, um forte e indispensável suporte à
sobrevivência da(s) sociedade(s). A análise de obras de Severiano Mário Porto, como o Centro de
Proteção Ambiental de Balbina, permite verificar que o uso da experiência histórica não implica
necessariamente na idealização, nem na uniformização da arquitetura. Com o uso eficiente de
recursos locais e valores culturais, a arquitetura do passado adiciona informação à contemporânea.
Arquitetos se detêm numa tradição genuína, sedimentada ao longo da prática
vernacular, mas sujeita à transformação ao longo da história.
O desenvolvimento acelerado das novas técnicas causou profundo impacto nas
culturas do homem, alterou hábitos e comportamentos, modificou valores, com tal rapidez que nos
coloca numa permanente e necessária readaptação cultural.
As novas culturas já não são a cultura de um povo, sedimentada, acúmulo de
experiências, vividas e compartilhadas numa sociedade, e transmitidas sabiamente de geração para
geração. Se a cultura se transformava lentamente ao longo dos séculos, hoje, devido à dinâmica do
mundo moderno, sofre mutações bruscas e rápidas, não totalmente assimiladas e acompanhadas pelo
homem.
COLQUHOUN (2004) discute sobre a tradição em que a arquitetura contemporânea
está imersa, constituindo um quadro de referências que ajuda a perceber a configuração de suas
vertentes atuais, como conceitos filosóficos e históricos complexos, constitutivos da modernidade a
partir do século XV, e relaciona-os com a prática e a crítica da arquitetura dos últimos duzentos anos.
Segundo COLQUHOUN (2004) a questão se apresenta nas diferenças de atitude no que
diz respeito à relação entre tecnologia e “arquitetura”, onde a tecnologia é considerada uma força
externa que age sobre um conceito cultural 12 .
                                                             
11
12

TUAN, Y. F. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: DIFEL, 1983, p. 193.
COLQUHOUN, A. Modernidade e Tradição Clássica - ensaios sobre arquitetura. 1980-87. São Paulo: Cosacnaify, 2004, p. 197-200.

51
Essas novas culturas cumprem um ciclo de vida muito curto, extinguindo-se
rapidamente, sendo substituídas nos seus valores e ações conjugadas dos fenômenos culturais,
definindo uma cultura comum, cujo conteúdo parece ser estimulado à competitividade, registrando a
impressão de ser nova e não a impressão de um senso de cultura conduzida por uma tradição.
Considerando a distinção feita por vários autores na contemporaneidade, relativa à
existência de uma cultura popular ou local, ou mesmo um processo de massificação pela indústria da
cultura, podemos considerar que a arquitetura projetada por um arquiteto crítico, que o faz
conscientemente, remete-nos ao estudo de construções primitivas, vernaculares ou autônomas e
tradicionais, e procura estabelecer um discurso que propõe a presença da uma cultura regional,
cumprindo papel de resistência às solicitações da internacionalização que não leva em conta estes
fatores.
Segundo STROETER (1986), (...) A tradição não tem regras. É orgânica e está em lenta e
eterna mudança, tal como a linguagem. Não impõe restrições ao trabalho de criação, por isso nenhum
grande artista deixou a tradição no mesmo estado em que a encontrou. No entanto, aquele que a
quebra violentamente arrisca-se a ser incompreendido, pois ao seu trabalho podem faltar pontos de
referência... 13
É interessante observar que a cultura pode representar, como ocorre em algumas
obras, o “solo” criativo necessário para a configuração de um projeto. Além disso, podemos
entender a tradição como sugere Kenzo Tange, para quem:
A tradição, de per si, não pode ser uma força criadora. Há sempre uma tendência decadente a
promover a formalização e a repetição. Para dirigi-la a canais criativos é necessária uma energia nova
que repudie as formas mortas e as impeçam de tornarem-se estáticas. Ao mesmo tempo, a destruição,
em si, não pode criar novas formas culturais. Deve haver alguma outra força que restrinja a energia
destrutiva e a impeça de reduzir tudo a escombros. A síntese dialética de tradição e antitradição é a
estrutura da verdadeira criatividade. 14
Verificar-se que na relação tradição-invenção podem nascer significativas obras,
amparadas no conceito cultural (como indica Stroeter), mas também com a liberdade transformadora
necessária, indicada por Kenzo Tange.

                                                             
13
14

STROETER, J. R. Op. Cit. p.113.
Iden, nota 10, p. 50.

52
O estudo dos assuntos sobre cultura e tradição mantém, em paralelo, questões sobre
o conceito de regionalismo através dos teóricos Alexander Tzonis e Liane Lefaivre.
Tzonis começa por estabelecer uma diferenciação entre regional e regionalista
afirmando que: regional é aquele que utiliza os materiais, elementos e formas arquitetônicas de
forma automática, estabelecida pela tradição, já o regionalista seria aquele que desfamiliariza a
arquitetura de sua vida cotidiana para conseguir assim com que o observador tome consciência, de
forma diferente, das formas arquitetônicas cotidianas e dê a elas significados diversos. 15
É um paradoxo presente na raiz da cultura e da tradição que necessita ser
compreendido para oferecer suporte conceitual e permitir uma análise mais complexa de expressões
contemporâneas da arquitetura que é realizada em todo o mundo atual.
Em 1985, Kenneth Frampton apresentou o conceito de Regionalismo Crítico como
uma postura de conciliação entre a universalização proposta pela modernidade e as especificidades
locais.
Frampton diz que a arquitetura enquanto se opõe à simulação sentimental do vernáculo local, em
certos momentos o Regionalismo Crítico vai inserir elementos vernáculos reinterpretados como
episódios disjuntivos dentro do todo. Além do mais irá às vezes buscar tais elementos em fontes
estrangeiras. Em outras palavras, vai empenhar-se em cultivar uma cultura contemporânea voltada
para o lugar sem tornar-se, por isso, excessivamente hermética, tanto no nível da referencia formal
quanto no da tecnologia. 16
Na década de 60, o modernismo na Europa Estado, já se encontrava em fase de
esgotamento, porém ainda em franca atuação na América Latina, em especial no Brasil (Brasília é
concluída e inaugurada nesta época). Os princípios da arquitetura modernista impuseram regras rígidas aos

novos paradigmas formais e impediram reflexões mais profundas sobre as formas tradicionais que
poderiam caracterizar nossa arquitetura. Alguns arquitetos brasileiros neste período já possuíam a
consciência e postura de projetar com os princípios modernistas sem, contudo, desconsiderar o
contexto e a cultura onde atuavam. O exemplo mais presente que aprofunda a questão de projetar
com a cultura foi, sem dúvida, o arquiteto Lúcio Costa.

                                                             
COELHO, R. A. Regionalismo Crítico. Disponível em:
http://www.saplei.eesc.usp.br/sap612/alunos/PaginaPessoal/Rodrigo%20Alexandre%20Coelho/PgRegionalismo.htm. 10/09/2006.
16 FRAMPTON, K. Historia critica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 381-397.
15

53
A palavra cultura tem muitas definições: Cultura é o todo complexo que inclui conhecimentos,
crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro
de uma sociedade. (Edward Tylor)

17

, como os hábitos, idéias, técnicas, compondo um conjunto, no

qual os diferentes membros de uma sociedade convivem e se relacionam.
Todos os povos, mesmo os mais primitivos, tiveram e têm uma cultura, transmitida
no tempo, de geração a geração. Mitos, lendas, costumes, crenças religiosas, sistemas jurídicos e
valores éticos refletem formas de agir, sentir e pensar de um povo e compõem seu patrimônio
cultural.
Também é descrita como a parte do ambiente feita pelo homem como a herança
cultural, como o conjunto da tradição social “modo particular como as pessoas se adaptam a seu
ambiente”. Nesse sentido, cultura é o modo de vida de um povo, o ambiente que um grupo de seres
humanos, ocupando um território comum, criado na forma de idéias, instituições, linguagem,
instrumentos, serviços e sentimentos.
Esses elementos, que compõem o conceito de cultura, permitem mostrar que ela está
ligada à vida do homem, de um lado, e, de outro, se encontra em estado dinâmico, não sendo fixa sua
permanência dentro de um determinado grupo.
A cultura se aperfeiçoa, se desenvolve, se modifica, continuamente, nem sempre de
maneira perceptível pelos membros do próprio grupo. É justamente isso que contribui para seu
enriquecimento constante, por meio de novas criações da própria sociedade e ainda do que é
adquirido de outros grupos.
Quando um grupo social sofre o processo definido pela antropologia por
18

aculturação a cultura se amplia e se diversifica em face às influências dessa expansão, cujas relações
condicionam o surgimento de novos valores culturais ou o desaparecimento de outros.
É um processo ou fenômeno de transformação que ocorre quando há o contato entre
duas ou mais culturas diferentes, bem como as transformações decorrentes em cada uma delas, por
força desse contato. Na adaptação, uma cultura se altera para incorporar componentes culturais
tomados de empréstimo a outro, ou outros povos, e de presença constante, inevitável. Um exemplo

                                                             
Op. Cit. CAMPOS, R. Apontamentos para a história de uma antropologia cultural Mestre em Filosofia – FAFICH UFMG. Professor de
Modernidade Brasileira e Antropologia e História – UNIBH.
18 Em antropologia, aculturação é o processo decorrente do contato mais ou menos direto e contínuo entre dois ou mais grupos sociais, pelo qual cada
um desses grupos assimila, adota ou rejeita elementos da cultura do outro, seja de modo recíproco ou unilateral, e podendo implicar, eventualmente,
subordinação política. Em psicologia e sociologia aculturação é a adaptação de um indivíduo a uma nova cultura com que estabelece contato, seja em
seu local de origem, seja em outro local para que se tenha mudado. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (eletrônico, 2002).
17

54
recente na história contemporânea do Japão, que permanecera isolado durante séculos, foi a abrupta
ocidentalização na metade do século XIX.
As culturas de características próprias já estão por si mesmas em contínua
transformação e, se duas ou mais se aproximam, surgem estímulos tanto para maiores mudanças
internas de cada uma como para a outra, recíprocas, no conjunto que se formou.
Analisando um texto de Paul Ricoeur, a Civilização Universal e Culturas Nacionais,
original de 1955, e que, segundo FRAMPTON (2003) a obra propõe a tese de que uma cultura
mundial hibrida só chegará a existir através de uma fecundação entre a cultura enraizada, por um
lado, e a civilização universal por outro. O paradoxo, em arquitetura, era desmontar a tendência
contemporânea para a internacionalização, a aculturação no seu sentido mais desestruturado
recriando a memória dos elementos arquitetônicos locais, sem abandonar, contudo, o mesmo caráter
progressista do movimento moderno.
Quando não enraizados dentro de grupo, todos esses fatores e elementos levam o
homem ao processo de “aculturação” onde todos pode ocorrer o fenômeno chamado de
“antropofagismo”. Este fenômeno, se exacerbado com essas novas informações perde, muitas
vezes, as referencias de sua própria cultura. A partir do Movimento Moderno acentuaram-se os
sintomas do fenômeno de globalização disseminando o processo de aculturação em larga escala para
adaptar-se ao modelo norte-americano com perda de referencias próprias em várias culturas.
As obras de Severiano Mário Porto, Tadao Ando e Renzo Piano se apresentam,
contemporaneamente, como exceções ocorridas em diferentes geografias no mundo, distintas
culturas com resultados de projeto que conduzem a uma necessidade de reflexão quando procuram,
cada um a seu modo, enfrentar o desejo de aproximar tradição, cultura e invenção.

1.4. Técnica

A palavra técnica, do vocabulário grego technikós – o que é relativo à arte
(HOLLANDA 2004) e pode também ser definida como o conjunto de processos de uma
determinada arte, maneira e jeito especial de fazer algo ou, ainda, pode-se entender “técnica” por um
conjunto de regras práticas para fazer coisas determinadas, envolvendo a habilidade do executor, e transmitidas,
verbalmente, pelo exemplo, no uso das mãos, dos instrumentos e ferramentas e das máquinas (GAMA, 1986).
55
As regras práticas, as habilidades e a transmissão dos conhecimentos incluídos na
definição de técnica representam uma capacidade humana importante que está associada à
interpretação e reinterpretação da natureza e das coisas.
É fato que, as técnicas não são simples procedimentos derivados do desenvolvimento
cultural, elas também são sujeitos que evoluem e configuram processos intelectuais e manuais que
permitiram moldar conscientemente o mundo natural.
Na técnica, o planejamento é associado à experiência prática, o pensar e o fazer são
exercidos pelos indivíduos de forma empírica e fazem parte de uma mesma essência - trata-se de um
saber que tem origem e se expressa através do fazer ou, como diz Carvalho Jr. (1994), trata-se de um
saber fazer apreendido na prática e transmitido no cotidiano.
Na construção de edifícios a transmissão das técnicas construtivas através do ensino
do ofício pelos mestres aos aprendizes, é uma prática milenar que perdura até os dias de hoje na
formação informal da maioria dos artífices.
Técnica construtiva é definida como “um conjunto de operações empregadas por um
particular ofício para produzir parte de uma construção”. “Um conjunto sistematizado de
conhecimentos científicos e empíricos, pertinentes a um modo específico de se construir um edifício
(ou uma parte) e empregados na criação, produção e difusão deste modo de construir constitui o que
podemos definir por tecnologia.

1.5 Tecnologia

A palavra tecnologia resulta palavra grega technología – tratado sobre a arte, conjunto de
princípios, métodos, instrumentos e processos cientificamente determinados que se aplique a qualquer atividade
(HOLLANDA 2004). Pode-se definir também como o estudo e conhecimento científico das operações técnicas
ou aplicação da técnica. Compreende o estudo sistemático dos instrumentos, das ferramentas e das máquinas
empregadas nos diversos ramos da técnica, dos gestos e dos tempos de trabalho e dos custos, dos materiais e da energia
empregada (GAMA, 1986).
O avanço da tecnologia trouxe inúmeros benefícios para o homem, dos quais o
principal foi tornar o trabalho mais fácil e mais produtivo. Interpretadas como motores do
progresso, as inovações tecnológicas foram implantadas sem cuidado com seus possíveis efeitos
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colaterais. Nos últimos anos do século XX, o lado negativo do progresso tecnológico tornou-se
objeto de reflexão nas sociedades industrializadas, que se volta para a busca de técnicas alternativas
menos agressivas ao meio ambiente.
É possível que novas técnicas sejam criadas, inclusive geradas a partir de
conhecimentos autóctones, pois foi assim que as tecnologias surgiram no mundo. Porque então não
tomar como paradigmas as soluções construtivas ligadas à técnica existente nas tipologias
autóctones?
O caminho para a geração de novas tecnologias visto sobre uma ótica histórica e
seqüenciada, de acordo com a evolução do mundo, inicia com a produção artesanal, passando pelo
semi-industrial até o industrial; os seres humanos herdaram os conhecimentos passados e
aprimoraram-no com novas descobertas, para transformá-los em conhecimentos mais profundos.
Com relação à evolução da tecnologia do uso da madeira, podemos perceber, ao
longo da história avanços consideráveis para problemas que apresentaram grandes dificuldades de
solução como, por exemplo:
- preservação de ataques de insetos e fungos;
- obtenção de matéria prima para produção em larga escala;
- adequação a um aumento de usos, antes limitados pelo conhecimento técnico (quanto a
vãos, aproveitamento rentável, questões de desperdício, técnicas rudimentares de
tratamento para obtenção de melhor padrão de qualidade e durabilidade);
- novas técnicas de plantio e manejo de árvores.
A Arquitetura em madeira, partindo destes princípios, atravessou por uma fase de
construção popular, alcançando níveis surpreendentes e de grande realização à medida que o
desenvolvimento tecnológico foi evoluindo.
O surgimento de novos materiais (ferro, aço, concreto armado, protendido, etc.) ao
lado das “tecnologias novas” e o desenvolvimento da indústria, marcam o começo de um rápido
declínio no uso da madeira, justamente quando se diversificava o desenvolvimento tecnológico no
mundo. Somente os países em que a madeira continuou sendo um recurso disponível, as tradições
construtivas continuam a existir parcialmente e com pequenos progressos. Certamente, os países
Escandinavos, os Países Baixos, Alemanha, Suíça e outros do leste de Europa ou, ainda, nos Estados
Unidos e Canadá, mantidos durante todos estes anos uma produção constante de edifícios em
57
madeira. Entretanto, a carpintaria tradicional não desapareceu absolutamente, embora reduzida a
casos singulares. Nos nossos tempos, podemos admirar extraordinários exemplos de arquitetura em
madeira, em diversas áreas do planeta. A Ásia, África, Polinésia e América do Sul oferecem-nos
alguns bons exemplos.
Posteriormente, a industrialização da madeira permitiu a recuperação de seu uso nos
assentamentos das fundações com as paredes de madeira tratadas por meio dos procedimentos
químicos para evitar sua degradação. A mudança fundamental consistiu na substituição da madeira
por outros materiais que vêm da transformação desta para melhorar suas propriedades mecânicas e
equipara-las a dos materiais estruturais mais qualificados.
O avanço das técnicas trouxe inúmeros benefícios para o homem, dos quais o
principal foi tornar o trabalho mais fácil e mais produtivo. Interpretadas como motores do
progresso, as inovações tecnológicas, entretanto, foram implantadas sem cuidado com seus possíveis
efeitos colaterais. Nos últimos anos do século XX, o lado negativo do progresso tecnológico tornouse objeto de reflexão nas sociedades industrializadas, que se volta para a busca de técnicas
alternativas menos agressivas ao meio ambiente. Entre estas as “culturas de manejo” que visam
atenuar impactos ambientais para o caso do uso da madeira em escala industrial.
Trabalhar com a madeira significa trabalhar com detalhes, com uma construção mais
artesanal. Como material de construção, apresenta uma série de vantagens dificilmente reunidas em
outro material, como:
- obtenção em grandes quantidades por ser fonte renovável se explorada racionalmente;
- produção em peças de grandes dimensões que podem ser rapidamente desdobradas em
peças pequenas e de delicadeza excepcional;
- trabalhabilidade com ferramentas simples e ser reempregada várias vezes;
- é leve em peso e tem grande resistência mecânica. Foi o primeiro material empregado,
capaz de resistir tanto a esforços de compressão como de tração;
- facilidade de obtenção de formas de encaixes e conexões de peças entre si;
- sua resistência permite absorver choques que romperiam ou fendilhariam outro material;
- apresenta boas condições naturais de isolamento térmico e absorção acústica;
- no seu aspecto natural apresenta grande variedade de padrões, texturas e cores.

58
Mas como qualquer outro material, a madeira também apresenta as desvantagens que
devem ser cuidadosamente levadas em consideração no seu emprego como material de construção:
- é um material heterogêneo, não uniforme. Essa variação ocorre de trechos em trechos
onde é cortada;
- é bastante vulnerável aos agentes externos e, sua durabilidade, quando desprotegida, é
limitada;
- é combustível;
- facilmente apresenta falhas e defeitos, o que comprometem sua resistência ou estética;
- a umidade causa grandes variações volumétricas, e favorece o ataque de fungos.
Estes inconvenientes fizeram com que a madeira fosse, em determinada época,
suplantada pelo aço e pelo concreto armado e, relegada a execução de estruturas provisórias.
Na moderna técnica de seu emprego em estruturas, suas características negativas são
atenuadas por processos de beneficiamento pelo tipo de reflorestamento, secagem artificial,
tratamentos de preservação em autoclaves que tem assegurado proteção por longo tempo contra o
ataque de fungos responsáveis pelo apodrecimento e destruição por insetos (brocas e cupins).
Enquanto trabalhada sob a forma de peças serradas, a madeira apresenta excelentes
propriedades, mas também alta heterogeneidade e anisotropia das quais derivam uma boa parte das
falhas de comportamento. Visando minimizar estes defeitos, foram desenvolvidos processos capazes
de reestruturar a madeira como material e torná-la mais homogênea. Esta á a base do conceito de
madeira transformada. Reduzindo a madeira a fragmentos cada vez menores e reagrupando-os com
adesivos, uniformiza-se grande parte das características do produto.
A estrutura da madeira uma vez processada e reorganizada apresenta várias
características satisfatórias: maior homogeneidade no comportamento físico e mecânico e melhoria
das propriedades tecnológicas; maior possibilidade de receber tratamentos com resultados mais
satisfatórios (secagem, preservação, etc.) durante de fragmentação que antecede a aglomeração ou
colagem; possibilidade de se confeccionar peças de grandes dimensões requisitadas pela indústria e,
por fim, o aproveitamento da quase totalidade do material lenhoso de uma árvore.
Muitos produtos de madeira transformada são empregados atualmente pela indústria
seja da construção, seja de mobiliário, que utilizam os compensados, laminados, painéis de fibra,
MDF (Médium Density Fiberboard), MDP (Médium Density Particle), OSB (Oriented Strand Board)
59
entre outros, ampliando o universo de possibilidades aprimoradas tecnologicamente para aplicações
no uso da madeira.

1.5.1. Madeira Compensada

O compensado é um painel composto de várias camadas delgadas de lâminas de
madeira, normalmente em número ímpar de lâminas, coladas entre si, com um adesivo. Cada camada
é colada de forma que a direção dos veios estejam em ângulos retos em relação à camada adjacente, o
que se denomina laminação cruzada. O compensado é considerado um produto maduro, com
restrições de natureza ambiental: a baixa disponibilidade de toras de grande diâmetro e de qualidade
para laminação e seus custos elevados tendem a reduzir a oferta de madeira compensada em todo o
mundo.
Como a tendência nas últimas décadas está se resumindo à utilização de toras de
pequeno diâmetro, minimização da geração de resíduos e redução de custos, o compensado está
perdendo competitividade e participação no mercado; durante a década de 1980, o aglomerado
passou a ser, em termos de volume, o painel mais importante em nível mundial.

1.5.2. Aglomerado

As chapas de madeira aglomerada são fabricadas com partículas de madeira ou outros
materiais, aglutinados por meio de uma resina e, em seguida, prensados. Durante o processo de
produção, são adicionados diversos produtos químicos para evitar o mofo, a umidade, o ataque de
insetos e aumentar a resistência ao fogo. As principais fontes de matérias-primas utilizadas pelas
fábricas de madeira aglomerada são resíduos industriais, resíduos da exploração florestal, madeiras de
qualidade inferior, não industrializáveis de outra forma, madeira proveniente de trato cultural de
florestas plantadas e reciclagem de madeira sem serventia. No Brasil, a madeira de florestas plantadas,
especialmente de eucalipto e pinus, constituem a fonte mais importante de matérias-primas.

60
A madeira aglomerada possui múltiplas aplicações, dentre as quais se destacam a
fabricação de móveis, tampos de mesas, laterais de portas e de armários, divisórias, laterais de
estantes e, de forma secundária, a indústria de construção civil.

1.5.3. MDF

O MDF (Médium Density Fiberboard), que significa Painel de fibras de média
densidade. É uma chapa fabricada a partir da aglutinação de fibras de madeira com resinas sintéticas
e ação conjunta de temperatura e pressão. Para a obtenção das fibras, a madeira é cortada em
pequenos cavacos que, em seguida, são triturados por equipamentos denominados desfibradores.
Produto relativamente novo foi fabricado pela primeira vez no início dos anos 60 nos Estados
Unidos. Em meados da década de 70, chegou à Europa, quando passou a ser produzido na antiga
República Democrática Alemã e, posteriormente (1977), foi introduzido na Europa Ocidental através
da Espanha. No Brasil, a primeira indústria iniciou sua produção no segundo semestre de 1997.
O MDF possui consistência e algumas características mecânicas que se aproximam às
da madeira maciça. A maioria de seus parâmetros físicos de resistência são superiores aos da madeira
aglomerada, caracterizando-se, também, por possuir boa estabilidade dimensional e grande
capacidade de usinagem.
A homogeneidade proporcionada pela distribuição uniforme das fibras possibilita ao
MDF acabamentos do tipo envernizado, pinturas em geral ou revestimentos com papéis decorativos,
lâminas de madeira ou PVC. Podem ser executadas junções com vantagens em relação à madeira
natural, já que não possuem nós, veios reversos e imperfeições típicas do produto natural.

1.5.4. MDP

O MDP (Medium Density Particleboard), que significa Painel de Partículas de Média
Densidade, chega como resultado do uso intensivo da tecnologia das prensas contínuas, modernos

61
classificadores de partículas e softwares de controle de processo, aliados à utilização de resinas de
última geração e madeira de florestas replantadas.
O produto representa uma evolução tecnológica do aglomerado convencional. Uma
das suas principais características é a qualidade superior que apresenta em relação aos antigos painéis
de madeira aglomerada. O MDP é produzido com a aglutinação de partículas de madeira com resinas
especiais, através da aplicação simultânea de temperatura e pressão, resultando em um painel
homogêneo e de grande estabilidade dimensional.
Com relação aos painéis de MDF, apesar de ambos serem classificados como painéis
de madeira de média densidade, na produção do MDP, as partículas de madeira são colocadas em
camadas, permitindo que as mais finas fiquem na superfície e as mais delgadas no miolo, já no MDF,
aglutinam-se fibras de madeira.

1.5.5. OSB

O OSB (Oriented Strand Board) é um painel estrutural, considerado como uma
segunda geração dos painéis WAFERBOARD (painel de uso estrutural, produzido com partículas
maiores de formatos quadrado ou ligeiramente retangular, coladas com resina), produzido a partir de
partículas (strands) de madeira, sendo que a camada interna pode estar disposta aleatoriamente ou
perpendicular as camadas externas. A diferenciação em relação aos aglomerados tradicionais se refere
à impossibilidade de utilização de resíduos de serraria na sua fabricação. Além disso, possuem um
baixo custo, e as suas propriedades, e as suas propriedades mecânicas assemelham-se às da madeira
sólida, podendo substituir plenamente os compensados estruturais. Consiste num segmento de
destacado crescimento no rol de produtos transformados de madeira.
Os painéis OSB são produtos utilizados para aplicações estruturais, como paredes,
forros, pisos, componentes de vigas estruturais, embalagens, etc., tendo em vista suas características
de resistência mecânica e boa estabilidade dimensional, competindo diretamente com o mercado de
compensados.

62
1.5.6. Madeira Laminada

A madeira laminada é um produto estrutural, formado por associação de lâminas de
madeira selecionadas e coladas.
A aplicação da madeira segundo o processo do laminado-colado reúne duas técnicas
bastante antigas. Como o próprio nome indica, a madeira laminada e colada foi concebida a partir da
técnica da colagem aliada à técnica da laminação, ou seja, da reconstituição da madeira a partir de
lâminas (tábuas).
O processo de laminar a madeira tem seu arcabouço teórico, possivelmente no
primeiro tratado de construção, que foi escrito sobre e para a carpintaria na França, em 1561, por
Philibert De L’Orme (1743-1829) Traité théorique et pratique de l’art de bâtir – (Tratado e Prática da Arte de
Construir). Dedicado à construção dos telhados e de abobadas de madeira que seguem a tradição

européia. Seu conhecimento na arte de dividir e cortar com rigor os materiais de construção deriva
possivelmente dos problemas construtivos de abobadas e das técnicas pertencentes à sua época.
Philibert De L’Orme planejou uma armação que possibilitasse a obtenção de grandes
armações em madeira e amplas esquadrias utilizando apenas pequenos pedaços, procurando, com
isso, enfrentar a falta material (imagens 30 e 31).
Esta invenção tem sua importância porque podemos considerá-la como precursora
das armações de madeira laminada que apareceriam no século XX. Entretanto, não deixa de ser
paradoxal que o primeiro texto específico relativo à carpintaria utilizada para armar não oferecesse
dado algum da execução dos sistemas tradicionais. Mas com exceção deste caso singular, é necessário
enfatizar o papel que realizaram os tratados de prática e de construção, de modo que as técnicas e a
sabedoria da carpintaria evoluíram a partir de então.
Os tratados escritos para a carpintaria, não valorizavam as inovações de seus autores,
mas tinham o intuito de transmitir o conhecimento do processo de execução de tipologias de
armações. Embora supõe-se que para dar um salto de quatro séculos, é necessário considerar
também um outro sistema estudado em continuidade ao de De L’Orme, que é devido ao coronel
francês Armand Rose Emy (1771-1851).
O coronel Emy, em 1841, também se dedicou à edição de um tratado referente ao
processo de construção de madeira laminada e colada e, outro em 1842.

63
De maneira inesperada a madeira reaparece nas tecnologias de ponta. A reavaliação
dos métodos do coronel Emy e os primeiros arcabouços utilizados para seccionar a madeira criando
um arco de curvatura desenvolvido por De L’Orme, chegam à madeira laminada colada 19 por volta
de 1905-1910 e passam os méritos ao carpinteiro suíço de Weimar, Karl Friedrich Otto Hetzer (18461911) que teve a idéia de substituir as ligações metálicas de braçadeiras e parafusos, utilizadas pelo

coronel Emy, pela cola de caseína (derivada do leite), obtendo assim uma seção mais homogênea entre
as laminas.

30: invenções em madeira de Philibert de L’Orme 1561.

31: detalhe estrutural desenhado por Philbert de L’Orme.

                                                             
O protagonismo da madeira só é recuperado a partir dos trabalhos de Otto Hetzer, em 1906, que constituem o gérmen de todo o desenvolvimento
posterior de um novo material: a madeira laminada.

19

64
Os estudos do coronel Emy abriram precedentes, no início do século XIX, para
Gustavo Adolfo Breymann (1807-1859), que escreveu, em 1851, tratados para a construção, sendo um
deles especifico para construções em madeira (imagem 32). Esse tratado além da descrição teórica
exibe desenhos explicativos quanto à elaboração do processo desenvolvido pelo coronel Emy.

32: detalhe de construção em madeira por Gustavo Augusto Breymann, 1851.

65
As estruturas de madeira laminada e colada da maneira como se usa hoje em dia
foram concebidas na Alemanha, em 1905, pelo Engenheiro Otto Hetzer, de Weimar, e se tornaram
conhecidas na Europa como “estruturas Hetzer” ou simplesmente por “Sistema Hetzer”. São elas
vigas, arcos e pórticos, de secção retangular ou em duplo T, constituída, em princípio, de tábuas
justapostas e coladas entre si. Tais estruturas foram largamente aceitas nos meios técnicos e tiveram
aplicação prática já antes da primeira Grande Guerra. As primeiras construções do sistema Hetzer
fora da Alemanha datam de 1909, na Suíça, 1913, na Dinamarca, 1918, na Noruega e em 1919, na
Suécia. Nos Estados Unidos, a primeira estrutura laminada colada data de 1925 e no Brasil ocorre em
1922.

No entanto, foi em 1940, com o aparecimento das colas sintéticas que o sistema
laminado-colado conheceu o seu grande progresso. Hetzer, após o aprimoramento da técnica de
laminar e colar patenteou o sistema, que hoje carregam o seu nome como o sistema de vigas Hetzer
(imagem 33).

A obra de Renzo Piano é, sem dúvida, um referencial no uso desse sistema, seus
projetos demonstram a potencialidade da madeira laminada e colada. Atualmente, esse processo de
fabricação e construção, são muito estudados e usados, pela possibilidade de uma pré-fabricação,
mesmo que, o projeto almeje uma escala diferenciada.

33: construções em madeira laminada por Otto Hetzer, 1910.

66
1
2
34: fabricação de vigas laminadas (data aproximada 1950).
Após a colocação na “cama” de aperto, as laminas destes arcos são forçadas com uma braçadeira pneumática de
parafuso.

35: fabricação de viga laminada, tempos atuais.
67
A madeira laminada ganhou força após seu aprimoramento pelo Engenheiro Otto
Hetzer, se evidenciou passando a ser um dos sistemas construtivos mais utilizados do início até a
metade do século XX.
Conforme FERREIRA (2002) as estruturas lamelares de madeira foram introduzidas na
Europa em 1908, no Brasil em 1922 e nos Estados Unidos em 1925. Foram muito empregadas
entre as décadas de 20 e 60 para cobrirem ambientes que abrangessem grandes áreas como galpões
industriais, ginásios, auditórios, pavilhões de exposição, garagens, depósitos, igrejas, salões de clube e
outros. O período compreendido entre o final dos anos vinte e meados dos anos cinqüenta do século
XX é denominado por GRANDI (1985) como sendo o terceiro período da indústria da construção
civil no Brasil, no qual o subsetor de edificações apresentou uma intensa produção, a qual pode ser
considerada ímpar na história da construção civil brasileira. Este fenômeno se deu em função da
mudança na economia brasileira que antes era agro-exportadora, passando para uma economia
industrial, o que ocasionou o crescimento acelerado principalmente das grandes cidades da região
centro-sul do país. 20
Algumas empresas no Brasil foram pioneiras na construção em madeira lamina e
colada. Segundo ZANGIÁCOMO 21 (2003), a primeira foi ESMARA Estruturas de Madeira Ltda.,
fundada em 1934, em Curitiba-PR, com tecnologia trazida por alemães. Posteriormente, outra
empresa de mesmo nome foi fundada em Viamão-RS. Têm-se obras marcantes destas duas empresas
na Região Sul, com vastos arquivos de projetos. Merecem citações outras indústrias também da
Região Sul, como a PRÉ-MONTAL Estruturas de Madeira Ltda. (PREMON), fundada em CuritibaPR, em 1977, Emprego de Espécies Tropicais Alternativas na Produção de Elementos Estruturais de
Madeira Laminada Colada Zangiácomo A.L. executando a maioria de seus projetos nas décadas de
70/80; a EMADEL Estruturas de Madeira Ltda., fundada em Araucária-PR, em 1981; e a
BATTISTELLA Indústria e Comércio Ltda., situada em Lages-SC, atuando no setor madeireiro há
mais de 40 anos e que, atualmente, possui uma linha de produção de casas e estruturas préfabricadas, com largo uso de elementos estruturais de MLC.

                                                             
  FERREIRA, Núbia dos Santos Saad. Estruturas lamelares de madeira para coberturas. São Carlos. Dissertação de mestrado. EESC-USP. 1999.
Disponível em: http://www.set.eesc.usp.br/public/teses/detalhe.php?id=205 
21 ZANGIÁCOMO. A. l. Emprego de espécies tropicais alternativas na produção de elementos estruturais de madeira laminada colada. São Carlos.
Dissertação de Mestrado. EESC – USP, 2003.
Disponível em: http://www.set.eesc.usp.br/public/teses/detalhe.php?id=78 
20

68
A LAMINARCO Madeira Industrial Ltda., fundada na década de 60 e localizada em
São Paulo-SP, segundo BONO 22 (1996), foi a primeira empresa produtora de MLC na Região
Sudeste. Foi montada e gerenciada pelo engenheiro Vinício Walter Callia, pesquisador do Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), pioneiro nos estudos e publicações sobre o
assunto. A empresa tem uma continuidade pela família, mas não com a produção de arquitetura em
madeira laminada, os projetos são executados com madeiras beneficiadas (http://www.callia.com.br/).
Em FERREIRA (1999), CESAR (1991) relata que, no início deste período de expansão da
construção civil verificou-se uma grande mudança na arte de projetar e executar estruturas de madeira. Isto decorreu da
vinda de muitos engenheiros europeus, que foram responsáveis pela introdução de novos sistemas construtivos no Brasil,
os quais foram possíveis de serem executados graças a uma mão-de-obra também imigrante que transferiu este novo
processo de construir em madeira a carpinteiros brasileiros. Neste período, a partir do exemplo da HAUFF, foram
surgindo várias empresas que adotaram o sistema estrutural lamelar de madeira na construção de edificações que
abrangessem grandes áreas. Como exemplo, podem ser citadas as empresas: SOCIEDADE TEKNO LTDA.,
CALLIA & CALLIA, A.SPILBORGHS & CIA LTDA., dentre outras, CALLIA (1951). 23
No Brasil, até os anos 50 e 60, com essas empresas pioneiras se teve uma considerável
produção arquitetônica de grandes galpões de armazenagem para diversos fins, mas com a inovação
na construção civil oferecida pelo concreto armado o processo de laminar passou para um segundo
plano onde se utilizava a madeira para pequenas obras e principalmente para a construção de formas
para o concreto.
Atualmente, esse processo de fabricação e construção, é muito estudado e usado em
outros países, não somente pela possibilidade de uma pré-fabricação que aprimora o rigor de
qualidade, mas pelo potencial de inovações tecnológicas ainda existentes em um campo aberto para a
pesquisa em diferentes níveis de investigação.

                                                             
 BONO, C. T. Madeira Laminada Colada na arquitetura: sistematização de obras executadas no Brasil. São Carlos. Dissertação de Mestrado. – EESC/
USP, 1996. 
23 Iden, nota 20, p. 68. 
22

69
1.5.7. A pesquisa no Brasil

No final do século XX e inicio do século XXI, as pesquisas no Brasil que envolvem o
uso da madeira na arquitetura e em estruturas tem um volume significativo. Instituições
governamentais e privadas desenvolvem estudo e pesquisas na busca de novas tecnologias que
envolvem uma construção adequada a preservação do meio ambiente de maneira sustentável.
Algumas universidades brasileiras a exemplo das européias, americanas e canadenses,
possuem em suas faculdades de engenharia ou arquitetura, departamentos que pesquisam sobre a
arquitetura em madeira e sobre as alternativas tecnológicas a serem aplicadas no uso da madeira
como:

- O CANTOAR da UnB, junto com a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, desenvolvem
pesquisas aplicadas sobre materiais de origem orgânica, incluindo estudos e pesquisas
combinando bambu e madeira;
- A Universidade de Marília desenvolve pesquisas sobre projetos em estruturas de madeiras
nos diversos sistemas construtivos. As pesquisas enfocam o resgate de sistemas
construtivos comuns em outros países os quais já foram executados no Brasil, mas
que, todavia, não são difundidos;
- A Universidade de São Carlos possui o LaMEM – Laboratório de Madeiras e Estruturas
de Madeiras, que desenvolve pesquisas em nível de pós-graduação em estruturas de
madeiras, a qual prevê a utilização de materiais alternativos;
- A Universidade Federal de Santa Catarina, junto com o Departamento de Engenharia,
desenvolvem pesquisas sobre estruturas combinadas de madeira e concreto;
- O IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas, desenvolve estudos sobre sistemas
construtivos em habitações e diversos temas técnicos sobre o tratamento da madeira
relacionado às suas propriedades físicas, resistência e preservação.

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Mestrado madeira - Sidnei Sposito

  • 1. UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU - USJT Programa de Pós Graduação Stricto Sensu Arquitetura e Urbanismo O USO DA MADEIRA NA ARQUITETURA: SÉCULOS XX e XXI SIDNEI SÉRGIO ESPÓSITO Orientador: Prof. Doutor ALEXANDRE EMÍLO LIPAI Co-orientador: Profª. Doutora MARTA VIEIRA BOGÉA SÃO PAULO 2007
  • 2.  
  • 3. UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU - USJT Programa de Pós Graduação Stricto Sensu Arquitetura e Urbanismo MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO Área de Concentração: Percepção, Representação e Produção do Espaço Habitado SÃO PAULO 2007
  • 4.  
  • 5. Espósito, Sidnei Sérgio O uso da madeira na arquitetura dos séculos XX e XXI./ Sidnei Sérgio Espósito. - São Paulo, 2007. 172 f.: il.; 30 cm Dissertação (Mestrado em Arquitetura) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2007. Orientador: Prof. Dr. Alexandre Emílio Lipai Co-orientador: Profª. Dra. Marta Vieira Bogéa 1. Arquitetura - Séc. XX e XXI. 2. Arquitetura – Madeira. 3. Arquitetura Moderna. I. Título   CDD- 720
  • 6.  
  • 7. AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Prof.. Alexandre Emílio Lipai pelo interesse, incentivo, confiança e por compartilhar seus conhecimentos que tanto contribuíram ao longo desse tempo para a elaboração desse trabalho; à Profª. Marta Bogéa, sempre presente com sábias palavras que tanto contribuíram para o enriquecimento de desenvolvimento da presente pesquisa, com carinho e sabedoria; Ao Prof. Yopanan Rebello no incentivo e a simplicidade em dividir seus conhecimentos e pelo incentivo desde o tempo da graduação; Também ao Prof.. Edison Eloy, pelo apoio e companheirismo durante a jornada de estudo e pesquisas e que, além de professor, é um amigo ainda, a todos os professores que direta ou indiretamente acompanham minha busca pelo conhecimento; aos meus familiares que além do apoio e incentivo, abriram mão dos momentos de convívio para que este trabalho fosse realizado; aos meus pais, pela formação proporcionada, ajudando-me a acreditar que poderia chegar até aqui. Enfim, a todos que, embora aqui não mencionados, em algum momento participaram desta caminhada.
  • 8.  
  • 9. A madeira vive sua primeira vida para si mesma, deixando-nos colher suas frutas, que os passarinhos disputam conosco e com outros bichos. As florestas compõem chuvas, rios, cachoeiras e se alimentam de si mesmas e dos raios de sol. A segunda vida da madeira é gerada pela mão e pelo espírito humano. São objetos de madeira que saem da nossa imaginação e ganham formas reais, passando a conviver conosco e continuam assim durante gerações, transformando-se, impregnando-se de vivência, servindo de testemunho e mantendo a utilidade; Ogum é o encontro entre a ferramenta e a madeira. A luta da mão contra a tora bruta que não servirá à humanidade, se não for vencida e se transformar. Há muitos milhares de anos, a madeira revive em forma de objetos, desaparece no fogo por vontade do homem ou apodrece ao ar livre por vontade dos deuses. José Zanine Caldas (1919-2001)
  • 10.  
  • 12.  
  • 13. SUMÁRIO RESUMO..........................................................................................................................................................15 ABSTRACT......................................................................................................................................................17 INTRODUÇÃO..............................................................................................................................................21 1. ASPECTOS HISTÓRICOS DA TRADIÇÃO, CULTURA E TÉCNICA NAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS EM MADEIRA..............................................27 1.1. História: Experimentação e prática...............................................................................27 1.2. Autóctone e Tectônica....................................................................................................30 1.3. Tradição e Cultura...........................................................................................................50 1.4. Técnica..............................................................................................................................55 1.5. Tecnologia........................................................................................................................56 1.5.1. Madeira Compensada..................................................................................................60 1.5.2. Aglomerado...................................................................................................................60 1.5.3. MDF...............................................................................................................................61 1.5.4. MDP...............................................................................................................................61 1.5.5. OSB................................................................................................................................62 1.5.6. Madeira Laminada........................................................................................................63 1.5.7. A pesquisa no Brasil.....................................................................................................70 2. SEVERIANO MÁRIO PORTO............................................................................................................75 2.1. Restaurante Chapéu de Palha 1967...............................................................................79 2.2. Hotel e Pousada da Ilha de Silves 1980.......................................................................91 2.3. Centro de Proteção Ambiental da Usina Hidrelétrica de Balbina 1988................103 2.4. Aldeia SOS do Amazonas 1997..................................................................................113 3. TADAO ANDO........................................................................................................................................121 3.1. Pavilhão do Japão Expo’92 Sevilha 1992..................................................................131 3.2. Museu da Madeira 1994................................................................................................143 3.3. Templo Komyo-Ji Saijo 2000......................................................................................155 4. RENZO PIANO.......................................................................................................................................169 4.1. Prometeo – Espaço Musical 1984..............................................................................173 4.2. IBM – Pavilhão Itinerante 1988..................................................................................187 4.3. Escritório Renzo Piano (Building Workshop) 1991.....................................................197 4.4. Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou da Nova Caledônia1998...............................207 4.5. Palco da Música de Roma 2002...................................................................................225
  • 14. 5. MARCOS DE AZEVEDO ACAYABA..............................................................................................241 5.1. Quiosque na Fazenda Arlinda 1980...........................................................................247 5.2. Residência Hélio Olga 1990.........................................................................................253 5.3. Residência Andréa Calabi 1991...................................................................................265 5.4. Residência Ricardo Baeta 1991...................................................................................275 5.5. Residência Osmar Valentin 1995................................................................................287 5.6. Residência Marcos Acayaba 1997...............................................................................297 5.7. Sede do Parque Estadual de Ilha Bela 1998..............................................................307 CONCLUSÃO...............................................................................................................................................315 DOUMENTAÇÃO ICONOGRÁFICA.................................................................................................323 1. ASPECTOS HISTÓRICOS DA TRADIÇÃO, CULTURA E TÉCNICA NAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS EM MADEIRA...................323 2. SEVERIANO MÁRIO PORTO..................................................................................324 3. TADAO ANDO..............................................................................................................326 4. RENZO PIANO.............................................................................................................328 5. MARCOS DE AZEVEDO ACAYABA.....................................................................330 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................................335 Livros......................................................................................................................................335 Teses e Dissertações.............................................................................................................338 Revistas...................................................................................................................................339 Revistas Eletrônicas..............................................................................................................341
  • 15. RESUMO A análise das obras selecionadas dos arquitetos Severiano Mario Porto, Tadao Ando, Marcos Acayaba e Renzo Piano, nos leva a uma revisitação da arquitetura tradicional. Esta dissertação busca detectar se a atual arquitetura em madeira significa ecos de uma tradição em se trabalhar com esse material, ressonância de culturas que o homem incorporou ao seu conhecimento do nascimento de novos tempos nas práticas arquitetônicas no mundo, da recuperação de certos princípios nas obras em madeira. O objetivo desta pesquisa é contribuir para investigar melhor o uso da madeira, enfocado para soluções de projeto. Palavras-chave: arquitetura, cultura, madeira, tradição, tecnologia. 15
  • 16.  
  • 17. ABSTRACT From the analysis of some architects’ selected work Severiano Mario Porto, Tadao Ando, Marcos Acayaba e Renzo Piano; it leads us to realize a kind of revisit to the traditional architecture. This written essay aims to detect if the current wooden architecture is an echo of the tradition in working with this material, a resonance of cultures which man incorporated to his knowledge of the origin of a new era in the architectonic practice in the world, a recovery of certain principles in the wooden work. The objective of this research is to contribute to the investigate the use of the wooden, focusing to the design project solutions. Key-words: architecture, culture, wood, tradition, technology 17
  • 18.  
  • 20.  
  • 21. INTRODUÇÃO A madeira é um material peculiar presente nas construções humanas desde os primórdios. Esta pesquisa se iniciou com a investigação das influências culturais da tradição no uso da madeira, tendo em vista as técnicas e sua reinvenção no correr dos anos. O norte que a instigou foi a atenção à arquitetura vernacular japonesa e sua precisa competência técnica. A avaliação do processo histórico-cultural da transformação do uso da madeira permitiu conhecer e identificar relações, diferenças ou, ainda, convergências de técnicas, ou recorrentes influências de tradição e cultura, através da produção de quatro arquitetos conceituados que têm a madeira como matéria prima de seus projetos. Quais reflexos daquele saber ainda se apresentam na arquitetura contemporânea? Essa pergunta é feita naturalmente por pesquisador-arquiteto que está atento às possibilidades do ato de projetar. Esta pesquisa busca detalhar o trabalho fundamentado na tecnologia e métodos de utilização da madeira em algumas culturas. Tem ainda, esta dissertação, como objetivo mostrar os diferentes modos de utilização da madeira na produção arquitetônica em suas diferentes técnicas construtivas na segunda metade do século XX. O aporte no desenvolvimento tecnológico em relação ao uso da madeira como material construtivo não só ocorre em pequenas construções como também para edificações de grande porte, a partir de obras de alguns arquitetos contemporâneos, que apresentam domínio no uso desse material. Severiano Mário Porto, Tadao Ando, Renzo Piano e Marcos Acayaba são os arquitetos estudados através da identificação, descrição do funcionamento e análise de desempenho das soluções encontradas. Foram selecionados por critério de recorrência no uso da madeira como material presente em projeto e pela evolução nas técnicas e tecnologias aplicadas. Também por transformarem o material, objetivando o desempenho estético e estrutural, caracterizando em algumas delas as peculiaridades da madeira, a simplicidade da mão-de-obra local ou exigências de uma mão-de-obra especializada. A partir da análise das obras, tendo em vista cultura, tradição e técnica, num primeiro momento metodológico, apresentamos as peculiaridades que os distinguem. Atos contínuos 21
  • 22. assinalaram-se valor e a coerência de materiais, técnicas construtivas e a disponibilidade do material e da mão-de-obra. O Capítulo 2, que trata das obras de Severiano Mario Porto, apresentou estudo referente às peculiaridades no uso da madeira em uma arquitetura autóctone e regional. Considerações com o clima e o lugar, material e a mão-de-obra local são as bases para sua arquitetura em madeira, numa época em que o concreto armado se apresenta no Brasil como material mais recorrente na construção civil. O trabalho de Severiano Porto é reconhecido pelas soluções que apresenta no encontro das tecnologias modernas e tradicionais, pelo respeito ao contexto físico e cultural e pela coerência na adequação da arquitetura ao clima tropical. Soluções que sempre atraíram a admiração da crítica, principalmente pelas obras que envolvem o uso da madeira, atenção ao clima, material e local para a implantação da arquitetura. Com decisões justificadas pela racionalidade, seus projetos se desenvolveram de acordo com a realidade da região, buscando adequações ao rigor do clima, empregando os materiais disponíveis e respeitando as características do lugar. Em sua obra, talvez a mais representativa tenha sido o Centro de Proteção Ambiental de Balbina, que será analisado em detalhes no desenvolvimento desta dissertação. O Capítulo 3 analisa-se as obras de Tadao Ando, que expressam sua profunda proximidade com a cultura japonesa, buscando sempre fazer de seus projetos uma expressão do lugar. O arquiteto, que realizou projetos a serem inseridos em contextos culturais e sociais diferentes do seu, recebem uma influência contundente da arquitetura moderna em que predomina o uso do concreto armado, tendo por referência Le Corbusier e, principalmente, Louis I. Kahn. Portanto, o uso da madeira, como material em sua arquitetura, será restrito às obras de exceção, como o Pavilhão Japonês na Expo’92, em Sevilha e o Museu da Madeira. Entretanto, cabe destacar nessa produção significativa as fortes raízes que mantém na tradição. Tadao Ando busca referenciais nas antigas construções do Japão, como os templos religiosos, na modulação, na espiritualidade do espaço e principalmente no material, conforme mostra o projeto de reforma do Templo Komyo-ji Saijo. Os exemplos de sua arquitetura em madeira trazem o enraizamento cultural e a tradição que fundamentam a coexistência da arquitetura milenar com a tecnologia moderna, deixando presente o simbolismo que o material traz. 22
  • 23. No Capítulo 4, são estudadas as obras de Renzo Piano. Pode-se perceber que suas obras têm aportes, principalmente, na tecnologia e nos conceitos aplicados diretamente na competência e apropriação do material e suas descobertas na construção. Renzo Piano é um arquiteto que não possui raízes na tradição da arquitetura em madeira, já que a Itália (seu local de trabalho) se caracteriza por uma arquitetura em pedra e alvenaria. Entretanto, revela o rigor da competência que desenvolveu através das obras selecionadas para este trabalho, como é o caso do Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou em, Nouméa. Na arquitetura de Renzo Piano, poderá ser notado ainda o uso de “sistemas especializados”, na competência de um sistema construtivo aliado ao material que lhe permite uma arquitetura arrojada. Uma arquitetura que revela a preocupação tectônica 1 pela busca da expressão plástica do edifício por meio de suas articulações construtivas. Uma síntese entre a paisagem e a construção, através de rigoroso esquema tecnológico e construtivo. A madeira nas obras de Renzo Piano tem se mostrado como um material que atende às exigências do arquiteto, pela flexibilidade, que oferece condições à construção de elementos estruturais de grande porte e que possibilitam uma produção em série, viabilizando construções préfabricadas ou até mesmo arquitetura itinerante. Em seus projetos, constata-se ser culturalmente enriquecedor o diálogo com os valores, tradições e sensibilidades locais. O Capítulo 5 analisa-se as obras de Marcos Acayaba, permitindo demonstrar que a madeira, a partir de um determinado momento, passa a ser protagonista em seus projetos. Verificouse ainda que sua competência já havia sido demonstrada na elaboração de projetos em concreto armado no início de sua carreira, como exemplo a residência Marcos e Marlene Milan Acayaba. O arquiteto viabiliza um ideal, com a possível inserção de arquitetura sem danos ao ambiente natural, permitindo a racionalidade e a flexibilidade não só do material, mas também da forma. A madeira utilizada foi a de “manejo sustentado”. Feito o levantamento das espécies existentes, adota a solução de usá-las em sua forma maciça, beneficiada e aparelhada em suas obras. Sua arquitetura é desenvolvida a partir dos conceitos de obras modernas (escola e formação). Podemos perceber, ainda, a busca por inovação no sistema construtivo e uma visão formal adequada e baseada em modular que pode ter como uma hipótese possível de inspiração, a arquitetura japonesa.                                                               1 A palavra tectônica vem do radical grego tektoniké, que significa “arte de construir”. Entendendo como tectônica a arte de construir edifícios, enquanto essência da forma arquitetônica. Um estudo da síntese da construção, de maneira que uma estrutura arquitetônica se organiza em um corpo único de uma construção lógica. 23
  • 24. O arquiteto utiliza muitas vezes os protótipos de suas buscas para chegar ao módulo que se repete e constrói um padrão para um sistema construtivo. Peças de madeira, junções e articulações metálicas podem ser manuseadas sem exigirem especialização de mão-de-obra. A repetição dos módulos possibilita atender a vários programas e suas dimensões possibilitam variações de volumes, formas e geometria estrutural. Por essa razão, requerem-se soluções que permitam a introdução de melhorias no uso da madeira na construção. Não obstante, a realidade indica que o domínio de técnicas, vindas das influências culturais causadas pela ressonância do uso da madeira na arquitetura, não são ecos de uma civilização universal ou transformações agregadas por valores culturais e de tradição ao homem dos séculos XX e XXI. Embora, na maioria dos casos, sejam gerados pelas diferenças regionais que estão próximas das culturais e dentro de um plano em que se detectam similaridades no manuseio do material, técnicas aplicadas e produto desenvolvido. Faz-se também a verificação das influências culturais causadas pela ressonância do uso da madeira, mudando, perpetuando, ou ainda se agregando aos valores culturais do homem contemporâneo. A possibilidade de relacionar o uso da madeira em culturas muitas vezes consideradas primitivas hoje serve de exemplo para outras que não mantêm a tradição deste material, muitas vezes pela escassez e pela dificuldade de obtenção. Atualmente, as condições de transporte e técnica voltadas a este tipo de material para a construção facilitam o comércio do produto e aumento da produção arquitetônica em madeira. A madeira se revela material adequado e rico em possibilidades, aliada à condição de sustentabilidade por ser renovável e de fácil reciclagem. Soma-se a isso a enorme facilidade de ser trabalhada, não necessitando de processos industriais complicados e poluidores para o seu processamento. Esses são fatores que colocam a madeira numa posição bastante interessante em relação aos outros materiais. Há a necessidade, porém, de desenvolvimento de tradição em pesquisas com o uso da madeira aplicada à Arquitetura em nosso país, fato que já vem acontecendo no âmbito acadêmico em algumas Universidades brasileiras, ainda em escala reduzida. A investigação para ampliar o conhecimento tecnológico adequado à nossa realidade, aliada a um planejamento econômico estratégico, poderiam desvendar novos e diversificados caminhos para a utilização da madeira de forma sustentável. 24
  • 25. 1. ASPECTOS HISTÓRICOS DA TRADIÇÃO, CULTURA E TÉCNICA NAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS EM MADEIRA  
  • 26. 1: Viollet-Le-Duc e o primeiro abrigo. 26
  • 27. 1. ASPECTOS HISTÓRICOS DA TRADIÇÃO, CULTURA E TÉCNICA NAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS EM MADEIRA 1.1. História: Experimentação e prática O uso da madeira não é novidade na arquitetura, visto ser um dos mais antigos materiais de construção. Sua utilização como matéria-prima para as construções mais simples e a técnica construtiva empregada nos edifícios é uma constante na historia da arquitetura. As primeiras habitações construídas são datadas por estudiosos, arqueólogos e historiadores, do período pré-histórico. Construções cuja estrutura era constituída empiricamente com ramos e galhos cobertos por aglomerado de folhas, palhas, longas fibras vegetais e até peles. A idéia do primeiro abrigo, arquétipo e origem, estão representados por alguns significativos teóricos da arquitetura, como Viollet-Le-Duc (imagem 1). A arquitetura mostra através de sua história como se transforma por meio do surgimento ou influências de novas técnicas, associação de outras culturas e tradições. Nesse sentido é importante observar os métodos e processos geradores dessa transformação a partir de soluções autóctones para os materiais orgânicos, ou quando, estes materiais foram sendo superados por outros. A técnica aplicada à construção é uma atividade quase tão antiga quanto à humanidade e seu desenvolvimento está relacionado com a observação da natureza e com o aprendizado empírico durante a prática de construir. As primeiras técnicas construtivas surgem da observação da natureza e da imitação de suas estruturas para responder às necessidades humanas de abrigo, locomoção, entre outras. Com o passar do tempo, a manipulação dos materiais naturais pelo homem vem permitindo o acúmulo de conhecimento e habilidades num processo de aprendizagem empírico durante seu trabalho. De forma prática a humanidade conseguiu grandes evoluções na arte de construir propiciando edificação complexas e grandiosas. Através da construção de casas, silos, estradas, pontes, teatros, templos e barragens são alguns exemplos de como a humanidade desde a antigüidade vem moldando a natureza de forma a desenvolver sua capacidade em edificar. 27
  • 28. 2: construção sendo realizada por mulheres da tribo de Gabra, África. 3: desenho esquemático da construção de Gabra, por Dominique Cazajus. 28
  • 29. À primeira vista a arquitetura não parece relacionada com o relato acima exposto. Na realidade, está e de maneira significativa. Alguns exemplos próximos e similares às tipologias primitivas são vistos nos tempos atuais nas construções de diversas tribos africanas ou latino-americanas, em geral, construídas por uma estrutura circular formada por galhos finos, em forma de arco, presos por uma trama de fibras ou galhos mais finos amarrados em seu perímetro que suporta uma cobertura de fibras vegetais (imagens 2 e 3). Deste modo, as exigências de um abrigo para algumas tribos aborígines, ficavam satisfeitas com uma simples armação de ramos ou pequenos troncos de árvores, que se cobriam com folhas, fibras ou casca de árvores. Os diversos procedimentos com que se realizavam as uniões de objetos e/ou materiais diversos, são determinados pela qualidade das ferramentas, mais ou menos sofisticadas, que os diversos povos desenvolveram. Em muitas partes do mundo a união das peças de madeira era realizada apenas com o auxílio de cordas tecidas com as fibras de folhas e com lianas 2 . Estas uniões eram muito resistentes e graças a sua grande flexibilidade, resistiam às forças da natureza como os ventos fortes. A grande variedade de casas construídas à base de peças de madeira unidas entre si com fibras vegetais, fala por si mesmo da solidez da sua construção e da sua segurança estrutural, constituindo assim o método mais eficaz e mais econômico de utilização de materiais naturais que se encontram em toda a parte do mundo. Algumas dessas estruturas alcançaram um nível tão grande de desenvolvimento que a tecnologia moderna tem pouco a acrescentar. Estas construções chegaram até hoje, como testemunho da sua extraordinária qualidade. Em qualquer lugar que fosse possível encontrar facilmente materiais orgânicos (como a madeira) aptos para a construção, estes eram aproveitados para serem utilizados em qualquer tipo de estrutura de madeira. Troncos que serviam de apoio e suporte para simples cobertura, foram os precursores das estruturas de madeira atuais cuja evolução técnica foi gradual e ao longo dos séculos servindo às necessidades do homem. A evolução das construções em madeira ocorreu em função das características do material predominante e das técnicas construtivas em madeira em cada região. A diversidade cultural dessas regiões traz modificações nas soluções arquitetônicas, evidenciadas pelo uso de diferentes técnicas e materiais de construção. Acrescida de espaços e ornamentos peculiares às culturas que as                                                               2 Designação comum a diversas trepadeiras lenhosas, epífitas, de caule extenso (até 70m), que abundam nas florestas tropicais. HOLLANDA 2004. 29
  • 30. constroem, as edificações em madeira passaram a ser expressão arquitetônica de uma tradição cultural. 1.2. Autóctone e Tectônica Palavras como autóctone3, vernacular, tectônica, técnica e tecnologia, cultura e tradição, estão presentes no vocabulário do arquiteto contemporâneo, em discussões de estudiosos e pesquisadores, e, como palavras-chave para se pensar ou elaborar um projeto arquitetônico. Sendo usado com mais freqüência que em outros momentos da história da arquitetura, esse vocabulário, também faz parte de outras áreas circunvizinhas à arquitetura que, hoje formam uma interdisciplinaridade mais explicita, em áreas como, antropologia, sociologia, psicologia, filosofia, entre outras. Pode-se verificar a relevância da análise das arquiteturas vernaculares através de estudos realizados por alguns conceituados pesquisadores acadêmicos em várias partes do mundo. Bernard Rudofsky, em Arquitectura sin Arquitectos de 1964, faz uma rápida, porem significativa introdução a essa natureza de construção. O livro é um lembrete da legitimidade e imenso conhecimento inerente em edifícios vernaculares, das cavernas de sal polonesas às rodas de água gigantescas da Síria (imagens 4 e 5). Sua quase imutabilidade apontada por Rudofsky como dado de uma perfeição indica uma recorrência que se apura ao longo do tempo. A definição pode incluir uma variedade ampla de edifícios como casas, silos agrícolas, edifícios industriais e estruturas. São formas geradas freqüentemente pelo empirismo desde os tempos mais antigos. As novas arquiteturas construídas a partir do conhecimento empírico manifestam-se fisicamente, perpetuando então, normas culturais e acúmulo de conhecimento de como construir. O edifício vernacular foi elogiado por muitos autores por sua adaptação sofisticada a seu ambiente e às necessidades de seus usuários. Compuseram uma parcela grande do ambiente construído durante toda a história da humanidade. 3 Autóctone, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (eletrônico, 2002), tudo que é próprio de um país, ou da região em que habita e descende de raças que ali sempre viveram, ambas autonímias de “ádvena”: estrangeiro ou estranho vindo de fora por via culta. Já por acepção dos termos pode-se aferir aspectos que caracterizam a arquitetura autóctone ou vernacular: uma relação direta com o sítio de implantação e a presença de tradição. 30
  • 31. 4: estrutura das cavernas de sal, Polônia século XI. 5: roda d’água, Síria s/d. 31
  • 32. “La arquitectura vernácula no sigue los ciclos de la moda. Es casi inmutable, inmejorable, dado que sirve su propósito a la perfección. Por lo general, el origen de las formas de la edificación y los métodos de construcción, se han perdido en el pasado”. 4 (RUDOFSKY 1973) As análises de Rudofsky revelam a utilização de diversos tipos de materiais por este homem que dominava as técnicas de seu tempo (hoje muitas delas esquecidas). Mostra também a evolução dos sistemas construtivos, possível a partir da identificação das características dos materiais, aplicando novas técnicas aos modelos existentes com o intuito de aperfeiçoá-los. Existe uma correspondência entre o modelo tradicional e o processo de transformação, que procura sustentar a hipótese de que os modelos formais presentes na transformação não constituem uma influência cultural proveniente do mundo externo através de um processo de universalização ou aculturamento, mas, sim, de elementos formais presentes na arquitetura tradicional, com a incorporação de novos materiais e sistemas construtivos. A palavra tectônica vem do radical grego tektoniké, que significa “arte de construir” (HOLLANDA 2004) e para COLQUHOUN a definição estrita de tectônica é a arte de construir edifícios. Mas, no discurso arquitetônico, o termo tem sido em geral ligado ao problema ideológico de considerarmos se a estrutura que confere forma à construção deve ser revelada ou mascarada. 5 O pesquisador Kenneth Frampton 6 é a favor da “tectônica” enquanto essência da forma arquitetônica. Um conceito de síntese construtiva, isto é, o modo como uma estrutura arquitetônica se organiza em um único corpo de uma construção lógica. A arquitetura destes últimos séculos (XX e XXI), tem sido caracterizada pelo conceito da “invenção” como um fim em si, tendo como ponto alto um abstracionismo da forma obtida através de um exagero no exercício estrutural amparado em um sofisticado suporte tecnológico. Sistemas construtivos avançados e novos materiais aliam-se a pensamentos e manifestações que se expressam através de geometrias complexas e instrumentais informatizados de projeto que visam uma ênfase no uso da unidade estrutural como a essência da arquitetura contemporânea. Estes novos processos têm presença constante nas obras contemporâneas dos arquitetos Santiago Calatrava, Frank Gehry e, entre outros, Renzo Piano, cuja obra será apresentada em capítulo específico por tratar com profundidade o uso da madeira com um olhar na tecnologia e outro na cultura e necessária contextualização de um projeto.                                                               RUDOFSKY, B. Arquitectura sin Arquitectos. Editoria Universitatia de Buenos Aires, 1973, p. 01. Entrevista de Alan Colquhoun sobre usa obra Modernidade e tradição clássica", disponível em http://www.vitruvius.com.br/entrevista/colquhoun/colquhoun_2.asp - 25/05/2006. 6 NESBITT. K. Uma nova agenda para a arquitetura. Cosacnaify. São Paulo, 2006.  4 5 32
  • 33. Entre os sistemas construtivos usuais que avançam em aprimoramentos pode-se observar que em relação ao uso da madeira alguns sistemas de construção permanecem com suas características mais antigas, como é o caso das construções do Japão e dos países nórdicos. A arquitetura Nórdica que se caracteriza pela largura das paredes capazes de isolar o frio, configura uma construção maciça bem diferente da Oriental, porém, também muito interessante quanto à manutenção de processos construtivos de tecnologia simples embasada em conceitos ancestrais. Há civilizações nas quais o uso da madeira na arquitetura autóctone é expressiva, destacando-se formas peculiares, significativas no estudo da arquitetura: o Extremo Oriente é uma dessas civilizações, com uma arquitetura leve, porém resistente e feita para suportar os freqüentes terremotos e, portanto, rica em conhecimento no uso de detalhes de encaixes que permitem absorver movimentos violentos a que um edifício é solicitado quando submetido a um tremor do solo. As civilizações orientais, diferentemente das ocidentais, levam consigo a aura de “mistério”, de “desconhecido”, de crenças profundas, de uma cultura rica que até há pouco tempo permanecia praticamente intacta. Em algumas delas ainda podemos ter a impressão de que a globalização nunca teria lugar, pois a cultura enraizada é muito forte. Entre as diversas culturas onde ainda encontramos manifestações contemporâneas com lastro nos conceitos de autóctone e tectônico, destaca-se, com maior riqueza de exemplos, a cultura japonesa e sua arquitetura singular. São maneiras distintas de se trabalhar a madeira, com o caráter do artesão tradicional, ao lado da qualidade de um material natural, orgânico, que simbolize o ressurgimento de um estágio pré-industrial e pré-tecnológico. As edificações no Japão revelam que o uso da madeira na arquitetura é fruto de um tratamento delicado e sensível do material e os conceitos aplicados vão desde o uso, do manuseio técnico até conceitos espaciais tais como a mobilidade na produção dos espaços, a permeabilidade e a transparência. A arquitetura japonesa dispõe de um vasto repertório de exemplos de execução em madeira, desde a arquitetura religiosa dos Santuários Xinto, os Templos Budistas, os Toriis, as habitações antigas, os palácios, os castelos e as tradicionais Casas de Chá. De certo modo, todas essas tipologias seguem um padrão recorrente em relação ao material, às técnicas de corte da madeira e à construção. As variações ocorrem nos detalhes construtivos e ornamentos, conforme o uso da edificação. Dentro desta diversidade de detalhes uma delas é a estrutura imbricada dos telhados e beirais que, pela multiplicação de pequenas peças que são ligadas entre si, desempenham um papel 33
  • 34. estrutural muito importante num sistema de vigamento caracterizado pela ausência de elementos de estabilidade triangulares. Estes elementos da ossatura se desenvolveram com o tempo das mais variadas formas (imagem 6). Boa parte dessa condição se deve a uma cultura na qual a tradição tem um valor inestimável. Conforme Noburo (1990:2) as primeiras construções com o piso elevado surgiram no século III a.C. com telhado estruturado em duas águas. As construções eram realizadas pelos “Inabes” (construtores de embarcações), configurando uma arquitetura que não ostenta grandiosidade e, sim, uma maior riqueza em detalhes e técnicas de construção que foram aprimoradas em relação à China, Coréia, Tailândia. 6: detalhes de encaixes, sistema construtivo japonês. 34
  • 35.   7: Torii tradicional - Yoyogi-koen Park, Tókio.   8: Templo Hôryû-ji (607 – século VII) – Nara. Construído totalmente em madeira, considerado a construção em madeira mais antiga do mundo, é patrimônio da humanidade desde 1993. 35
  • 36. 9: detalhe do beiral do telhado - Templo Todaiji Daibutsu, século VIII, Nara. 10: detalhe capitel, arquitetura japonesa. 36
  • 37. O Santuário de Ise (imagem 11) é uma das mais antigas construções encontradas no Japão, sua construção é toda em madeira de troncos roliços, com encaixes para a fixação das peças umas nas outras e cobertura em palha. A construção é um exemplo de como se erguiam as edificações com os pilares cravados diretamente no solo. Posteriormente, usaram-se pedras para isolar a madeira da umidade, prolongando seu tempo de uso. 11: Santuário de Ise século VII, Ise. Outro elemento que mostra a capacidade dos japoneses de construir em madeira é o Pagode (imagem 12), talvez a mais forte expressão arquitetônica da cultura e tradição de um povo na construção em madeira. A estrutura do Pagode encontra equilíbrio no eixo central por meio de um pilar cravado no solo que segue até o alto da edificação. Seus beirais vão se sobrepondo amparados pelo equilíbrio interno. São construções muito antigas e possuem tipologias diferenciadas de acordo com a data e segmento religioso. 37
  • 38. 12: pagode Templo Horyu-ji, século VII. A coluna central funciona da parte inferior à parte superior com eixo do pagode. Todos os pagodes construídos no Japão têm tal coluna, chamada de shinbashira. Poucas das torres em madeira similares existentes na China e na República da Coréia têm esta coluna. É provavelmente uma característica distintiva dos pagodes em madeira do Japão. Outro exemplo significativo da arquitetura japonesa é o Palácio de Katsura (imagens 13 e 14) que apresenta modulação precisa, divisão espacial coerente com essa modulação, e a sobriedade típica desta cultura. A singularidade dos ambientes surpreende pela nitidez e grandeza das formas, por seus princípios de composição modular, pela diferenciação entre cheios e vazios; transparência e continuidade do espaço. Outros aspectos a destacar são a planta livre – valor inspirador em muitas obras dos arquitetos do Movimento Moderno - a supressão de ornamentos e a valorização do detalhe, bem como o desenvolvimento tecnológico (como os painéis corrediços), o revestimento com materiais fibrosos e o sistema construtivo, tão distante dos sistemas ocidentais de coluna, lintel e arcos. 38
  • 39. 13: Palácio Imperial Katsura Rikyu, 1650.   14: Palácio Imperial Katsura Rikyu. 15: sala de chá tradicional. 39
  • 40. Há questões que se apresentam como problemas intrínsecos da constituição físicoquímica do material, independentemente do contexto geográfico ou cultural onde se encontram. Referem-se ao comportamento do material em si que por ser de natureza orgânica possui grande vulnerabilidade ao ataque da umidade quando em contato direto com o solo, como ocorre no seu uso aplicado a fundações de edifícios. Em diferentes culturas o problema procura resolver a essência desta questão, porém, de modos diferentes de acordo com o conhecimento obtido da experimentação e da técnica desenvolvida. 16: fundações, sistema construtivo japonês. Nessas construções, pode-se verificar uma interessante estratégia adotada para impedir que a umidade do solo atinja as peças de madeira, elevando toda a construção do solo. Os pilares roliços de madeira de pequeno comprimento estão em contacto com uma base de pedra enterradas poucos centímetros acima no solo, estas pedras ficam com uma parte exposta onde dificulta a absorção da umidade que vem da terra (imagem 16). É interessante verificar que, quando a tradição aparece como referência formal e simbólica, sua identidade é inconfundível como na arquitetura em madeira do arquiteto Tadao Ando. A comparação dos pilares do Templo Todaiji Daibutsu com os pilares da construção do Templo Momyo-ji Saijo não deixam duvidas a esse respeito (ver capítulo que trata a Arquitetura de Tadao Ando). 40
  • 41. Já a arquitetura dos países nórdicos (localizados na região norte e nordeste da Europa, compreendem os territórios da Finlândia, Noruega, Suécia e Dinamarca), possui um repertório de arquitetura em madeira tão grande quanto o Japão. A abundância de bosques no norte e leste da Europa constituíam um elemento básico para que a madeira fosse utilizada na construção. Apresentam uma arquitetura maciça e robusta, sem transparência, apoiadas em fundações rasas de pedra ou pequenos muros tipo baldrame que sustentam o peso dos troncos roliços empilhados paralelamente. Os troncos horizontais são unidos entre si mediante diversos tipos de junções. Esta disposição horizontal dos troncos teve maior aceitação do que a disposição vertical, devido á maior estabilidade que conferiam à construção.   17: fundações, sistema construtivo nórdico. O principal inconveniente da disposição horizontal dos troncos consistia na maior dificuldade em conseguir que os espaços entre eles fossem vedados para evitar a infiltração de ventos e águas. Esta estanqueidade era conseguida, calafetando as fendas com telas tecidas na cor da madeira ou, nas casas mais humildes, com argila, musgo ou terra. Outro inconveniente na disposição horizontal dos troncos consistia no fato dos topos dos troncos ficarem a descoberto ficando facilmente á mercê do apodrecimento. 41
  • 42. Na Escandinávia, a construção em madeira foi inicialmente executada á base de estruturas em aduela 7 , mas a partir do século XV, este sistema foi substituído pela construção em troncos. Porém, apresentam uma arquitetura maciça e robusta, sem transparência, apoiadas em fundações rasas de pedra ou pequenos muros tipo baldrame que sustentam o peso dos troncos roliços empilhados paralelamente (imagens 17 a 20). A arquitetura nórdica é adaptada ao rigor climático do local. A abundância de matéria prima também é um fator que possibilita esse tipo de construção, cuja origem vem desde a civilização Viking (século VIII a XI). A arquitetura religiosa também aparece como referencial importante na utilização da madeira para estas construções maciças. A quantidade de edifícios religiosos, erguidos durante séculos, e estes se encontram espalhados pela Escandinávia, Polônia e Hungria, havendo até alguns exemplares na Rússia. As igrejas de madeiras são caracterizadas por grandes pilares sobre longarinas de madeiras apoiadas nas fundações de pedra. Além do vedo em madeira estas são recobertas por pequenas pranchas de formatos e desenhos diferentes, já as residências possuem somente os troncos sobrepostos cruzando nas extremidades num ângulo de 90º; nestas, longarinas aparecem em alguns casos conforme a dimensão da edificação. 18: Igreja tradicional dos países nórdicos, Noruega s/d.                                                               Tábua encurvada com que se forma o corpo de tonéis, pipas, etc. Também é usada com pedra em forma de cunha secionada, que se emprega na construção de arcos e abóbadas de cantaria. HOLLANDA 2004. 7 42
  • 43. Quanto maior o edifício maior é sua base e, como as fundações são rasas, nesse caso, o peso da madeira precisa ser distribuído por igual, obtendo-se um equilíbrio estrutural no qual a dimensão da base corresponde à dimensão da peça de madeira apoiada. Neste aspecto encontra-se semelhança com o sistema de apoio da arquitetura japonesa; entretanto os nórdicos ao usarem desta solução adotam uma estrutura que não se apóia sobre pedras isoladas como na arquitetura leve do Japão e, sim, sobre bases maciças feitas com pedras. Enquanto a arquitetura japonesa, tanto residencial quanto religiosa, faz o uso de um processo de imbricamento de pequenas peças, a arquitetura residencial e religiosa nórdica traz como peculiaridade um sistema de empilhamento de troncos, conhecido como “blockbau” (detalhe imagens 20 e 21). Esse sistema é tradicionalmente construído por uma mão de obra não especializada. 19: Vila Kaileia, Finlândia. 43
  • 44. 20: detalhes construtivos do sistema “blockbau”. 21: detalhe construtivo nórdico, parede, beiral e fundações. Hoje estes países já dispõem de sistemas de pré-fabricação de residências neste estilo. Pode-se concluir que, mesmo dentro das inovações contemporâneas, a cultura e a tradição da construção em madeira nórdica não se diminuíram diante dos avanços tecnológicos, mas se mantiveram com a mesma matriz construtiva (imagem 21). Somente os países em que a madeira continuou sendo um recurso amplamente disponível, a tradição construtiva permaneceu. Certamente, os países Escandinavos, Alemanha, Suíça e outros do leste da Europa, Canadá e Estados Unidos mantiveram durante todos estes anos uma 44
  • 45. produção constante de residências em madeira. Entretanto, mesmo nas regiões onde o uso de madeira estava sendo substituída por outros materiais, a carpintaria tradicional não desapareceu totalmente, embora limitada a casos singulares. Basicamente são os países em que historicamente prevaleceram à tecnologia de se construir com madeira. No Brasil não há, além da experiência indígena, uma cultura e uma tradição em construções em madeira tão consolidada como nos países citados. Com exceção da região Sul, que teve uma imigração de povos do Norte e Leste europeu como os alemães, poloneses, húngaros etc., poucas regiões mantêm essa tradição. Os sistemas e técnicas adotados são referências das construções de seus países de origem, como o sistema mais usado: o enxaimel (no qual a ossatura do edifício é constituída de madeira maciça, com seção retangular, e preenchida com alvenaria. Em construções mais antigas, com esse sistema o preenchimento era feito em taipa (imagem 22).   22: casas em enxaimel na Alemanha (em Tecklenburg). 45
  • 46. As construções no Norte do Brasil que utilizam madeira têm um caráter empírico, uma arquitetura autóctone, indígena. O uso da madeira disponível no local dá uma peculiaridade à arquitetura regional. Os referenciais vernaculares desta região decorrem das arquiteturas indígenas e caboclas de populações ribeirinhas. Tais usos mostram ao homem moderno soluções simples para lidar com o clima quente e úmido da região (imagens 23 e 24).   23: casas sobre palafitas no Rio Negro, adequadas às cheias do rio.   24: maloca Makuna, região noroeste do Amazonas. 46
  • 47. As soluções construtivas ainda são muito similares às das construções primitivas: troncos com dimensões maiores e mais rígidos são usados para a estrutura principal, enquanto outros, de menor porte e flexíveis, vão sendo dispostos de maneira que possam ser entrelaçados entre si ou amarrados, dando condições para receber a cobertura final em palha. Este processo é usado por várias tribos indígenas que habitam a região amazônica da América do Sul, não se restringindo somente ao território brasileiro. No Brasil, a produção arquitetônica predominante no período contemporâneo, é em concreto e aço. Por não se ter referências de construções em madeira com uma tecnologia mais avançada do que a indígena, a madeira durante muito tempo ficou impregnada por um preconceito, de material secundário, só atenderia à construção civil como cimbramento, fôrmas para concreto armado e outros usos menos importantes. Por inúmeras circunstâncias, uma camada da população mais pobre se aproveita das sobras da construção civil para erguer suas habitações. Caracterizam-se pela precariedade e condições da implantação e pela ausência de recursos tecnológicos na utilização do material para a construção. São as conhecidas “favelas”. Esta característica de precariedade contribuiu muito para que o restante da população passasse a ver a madeira como um material não relacionado à possibilidade de se ter uma habitação de qualidade. Isso não se tornou uma regra, mas contribuiu para um distanciamento no uso deste material. Por outro lado, em regiões de populações com mais recursos, de economia mais estável, nos deparamos com construções luxuosas em madeira, como casas de campo e praia, especialmente para lazer. Na América Latina, em especial na arquitetura brasileira, nosso estudo percorre o uso da madeira nas construções vernaculares tendo referências importantes na arquitetura de Zanine Caldas (imagens 25 e 26) e, em especial, de Severiano Mário Porto (imagens 27 e 28) cujas principais obras com estas características serão apresentadas em capítulo especial desta pesquisa. A produção de ambos inclui como precedente outra forma de olhar para o material como elemento principal numa obra arquitetônica. Esses arquitetos criaram um repertorio próprio, incentivam as gerações posteriores na busca por elementos de culturas e técnicas tradicionais que possam ser aplicadas às condições de nossa realidade. 47
  • 48. 25: estrutura da cobertura Residência Itaipava, RJ. 27: vista fachada Leste, residência do arquiteto em Manaus. 26: estrutura da cobertura Residência Brasília, DF. 28: Instituto de Arquitetos do Brasil, Manaus 1984. Um exemplo contemporâneo da aplicação da madeira na arquitetura brasileira não inspirada em características autóctones ou vernaculares, mas com outro olhar, são as obras do arquiteto Marcos Acayaba que, em sua arquitetura, busca relações entre material, forma e processos de produção industrial. O arquiteto, por outro lado, não mantém um vínculo com raízes culturais ou tradição, como os europeus ou japoneses. Seu sistema de construção é constituído de encaixes, baseado nos modelos praticados pela carpintaria tradicional (imagem 29), com o uso de acessórios e ligações metálicas. Sua obra reflete um trabalho de busca por uma tecnologia sem mistérios, uma industrialização prática e que, possibilite resultados além dos que já foram obtidos. 48
  • 49. 29: exemplos de sambladuras (fonte: Traité Pratique de Charpente – Barberot). As experiências mostradas evidenciam um rico universo da arquitetura em madeira, apenas esboçado, mas que revela uma diversidade de técnicas, manuseio e detalhes, tão distante da impressão corriqueira de que arquitetura em madeira implica sempre em uma mesma configuração tipológica. Há um “saber fazer” que se tornou universal ao incorporar: conhecimento de propriedades físico-químicas e comportamento do material em si, experimentações que se tornaram tradição, transformaram-se em técnica e foi objeto de troca entre diferentes culturas que por sua vez tornaram-se práticas naturais encontradas em grande parte do mundo ocidental. A exceção se destaca em culturas orientais com especial resultado na arquitetura japonesa. O conhecimento pelo contato com a tradição e cultura que gerou uma determinada técnica é um importante meio de aprendizado para o aprimoramento da pesquisa. 49
  • 50. 1.3. Tradição e Cultura A tradição em arquitetura pode ser descrita como um conjunto de precedentes conhecidos e de uso consagrado, parcialmente repetidos, parcialmente modificados, dos quais o arquiteto se utiliza quando projeta um edifício. (...) que torna possível a quem projeta ir direto às prioridades, poupando-lhe o trabalho de reinventar o que já foi inventado. 8 STROETER (1986) Temos como definição de tradição o processo de transmissão de dados culturais de geração em geração numa determinada sociedade. Fonte de conhecimento histórico e social. A origem da palavra tradição tem um sentido de conhecimento singular, uma memória preservada e transmitida de século para século, pela palavra, pelo exemplo, pela prática, pela arte e ofício. Depois, no domínio do conhecimento, dos costumes e das artes, é uma maneira, ou um conjunto de modos de pensar, de fazer ou de agir, que representa uma herança do passado. A tradição é um produto do passado que tem uma atualidade. Podemos até definir tradição como “o que, de um passado persiste no presente, onde é transmitido e continua a ser atuante e aceita por aqueles que a recebem e que, por sua vez, com o passar das gerações, a transmitem”, como ocorre na formação do conhecimento dos ofícios de artesão e carpinteiro. Este capítulo procura compreender um processo e métodos que marcam, por um lado, continuidade e, por outro, uma ruptura com o passado. Entende o resgate da tradição como certo regionalismo que se posiciona num diálogo com continuidade do espírito da modernidade, como sugere MONTANER 9 , em paralelo ao conceito de regionalismo crítico, nos termos sugeridos por FRAMPTON 10 . Conhecer a arquitetura de um lugar é importante, pois dessa forma é possível compreender parte da história, identidade e cultura existentes.                                                               STROETER, J. R. Arquitetura e Teorias. Cap. 6 A tradição. São Paulo: Nobel, 1986, p.109. MONTANER, J. M. Depois do movimento moderno: arquitetura da segunda metade do século XX. Barcelona: Gustavo Gili, 2001, p. 56, 138 e 190. 10 A definição do termo regional ou regionalismo baseia-se em conceitos como lugar, tradição, identidade local, elementos e tipos arquitetônicos regionais. Severiano Porto estaria dentro de um regionalismo, ou estaria começando a desenvolver uma outra modernidade? Podemos nos remeter ao Regionalismo Crítico de Kenneth Frampton, quando ele propõe que a arquitetura mescle influências culturais locais com tendências internacionais, preocupando-se com a composição arquitetônica da região onde se construirá um novo edifício, sem desconsiderar as inovações tecnológicas. Mas o que nos perguntamos é: em que ponto a utilização deste ou daquele material neste ou naquele projeto caracteriza uma arquitetura regional?FRAMPTON, K. Historia critica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 381-397. 8 9 50
  • 51. Os estabelecimentos de regras da arquitetura ilustram um padrão tradicional cada vez mais em um estado de erosão e de transições causadas pela globalização das idéias, dos novos materiais e da internacionalização da arquitetura. Embora atualmente, sob a pressão das influências internacionais, alguns arquitetos se valem dos saberes tradicionais como base de projeto. Este momento de universalização de culturas e tradições não elimina, portanto, as tradições locais ou regionais, entendidas aqui como o acervo no qual sucessivas gerações se inspiram e recriam sua imagem de lugar à imagem de si mesmos 11 . Nesse sentido, a tradição é uma memória coletiva, um forte e indispensável suporte à sobrevivência da(s) sociedade(s). A análise de obras de Severiano Mário Porto, como o Centro de Proteção Ambiental de Balbina, permite verificar que o uso da experiência histórica não implica necessariamente na idealização, nem na uniformização da arquitetura. Com o uso eficiente de recursos locais e valores culturais, a arquitetura do passado adiciona informação à contemporânea. Arquitetos se detêm numa tradição genuína, sedimentada ao longo da prática vernacular, mas sujeita à transformação ao longo da história. O desenvolvimento acelerado das novas técnicas causou profundo impacto nas culturas do homem, alterou hábitos e comportamentos, modificou valores, com tal rapidez que nos coloca numa permanente e necessária readaptação cultural. As novas culturas já não são a cultura de um povo, sedimentada, acúmulo de experiências, vividas e compartilhadas numa sociedade, e transmitidas sabiamente de geração para geração. Se a cultura se transformava lentamente ao longo dos séculos, hoje, devido à dinâmica do mundo moderno, sofre mutações bruscas e rápidas, não totalmente assimiladas e acompanhadas pelo homem. COLQUHOUN (2004) discute sobre a tradição em que a arquitetura contemporânea está imersa, constituindo um quadro de referências que ajuda a perceber a configuração de suas vertentes atuais, como conceitos filosóficos e históricos complexos, constitutivos da modernidade a partir do século XV, e relaciona-os com a prática e a crítica da arquitetura dos últimos duzentos anos. Segundo COLQUHOUN (2004) a questão se apresenta nas diferenças de atitude no que diz respeito à relação entre tecnologia e “arquitetura”, onde a tecnologia é considerada uma força externa que age sobre um conceito cultural 12 .                                                               11 12 TUAN, Y. F. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: DIFEL, 1983, p. 193. COLQUHOUN, A. Modernidade e Tradição Clássica - ensaios sobre arquitetura. 1980-87. São Paulo: Cosacnaify, 2004, p. 197-200. 51
  • 52. Essas novas culturas cumprem um ciclo de vida muito curto, extinguindo-se rapidamente, sendo substituídas nos seus valores e ações conjugadas dos fenômenos culturais, definindo uma cultura comum, cujo conteúdo parece ser estimulado à competitividade, registrando a impressão de ser nova e não a impressão de um senso de cultura conduzida por uma tradição. Considerando a distinção feita por vários autores na contemporaneidade, relativa à existência de uma cultura popular ou local, ou mesmo um processo de massificação pela indústria da cultura, podemos considerar que a arquitetura projetada por um arquiteto crítico, que o faz conscientemente, remete-nos ao estudo de construções primitivas, vernaculares ou autônomas e tradicionais, e procura estabelecer um discurso que propõe a presença da uma cultura regional, cumprindo papel de resistência às solicitações da internacionalização que não leva em conta estes fatores. Segundo STROETER (1986), (...) A tradição não tem regras. É orgânica e está em lenta e eterna mudança, tal como a linguagem. Não impõe restrições ao trabalho de criação, por isso nenhum grande artista deixou a tradição no mesmo estado em que a encontrou. No entanto, aquele que a quebra violentamente arrisca-se a ser incompreendido, pois ao seu trabalho podem faltar pontos de referência... 13 É interessante observar que a cultura pode representar, como ocorre em algumas obras, o “solo” criativo necessário para a configuração de um projeto. Além disso, podemos entender a tradição como sugere Kenzo Tange, para quem: A tradição, de per si, não pode ser uma força criadora. Há sempre uma tendência decadente a promover a formalização e a repetição. Para dirigi-la a canais criativos é necessária uma energia nova que repudie as formas mortas e as impeçam de tornarem-se estáticas. Ao mesmo tempo, a destruição, em si, não pode criar novas formas culturais. Deve haver alguma outra força que restrinja a energia destrutiva e a impeça de reduzir tudo a escombros. A síntese dialética de tradição e antitradição é a estrutura da verdadeira criatividade. 14 Verificar-se que na relação tradição-invenção podem nascer significativas obras, amparadas no conceito cultural (como indica Stroeter), mas também com a liberdade transformadora necessária, indicada por Kenzo Tange.                                                               13 14 STROETER, J. R. Op. Cit. p.113. Iden, nota 10, p. 50. 52
  • 53. O estudo dos assuntos sobre cultura e tradição mantém, em paralelo, questões sobre o conceito de regionalismo através dos teóricos Alexander Tzonis e Liane Lefaivre. Tzonis começa por estabelecer uma diferenciação entre regional e regionalista afirmando que: regional é aquele que utiliza os materiais, elementos e formas arquitetônicas de forma automática, estabelecida pela tradição, já o regionalista seria aquele que desfamiliariza a arquitetura de sua vida cotidiana para conseguir assim com que o observador tome consciência, de forma diferente, das formas arquitetônicas cotidianas e dê a elas significados diversos. 15 É um paradoxo presente na raiz da cultura e da tradição que necessita ser compreendido para oferecer suporte conceitual e permitir uma análise mais complexa de expressões contemporâneas da arquitetura que é realizada em todo o mundo atual. Em 1985, Kenneth Frampton apresentou o conceito de Regionalismo Crítico como uma postura de conciliação entre a universalização proposta pela modernidade e as especificidades locais. Frampton diz que a arquitetura enquanto se opõe à simulação sentimental do vernáculo local, em certos momentos o Regionalismo Crítico vai inserir elementos vernáculos reinterpretados como episódios disjuntivos dentro do todo. Além do mais irá às vezes buscar tais elementos em fontes estrangeiras. Em outras palavras, vai empenhar-se em cultivar uma cultura contemporânea voltada para o lugar sem tornar-se, por isso, excessivamente hermética, tanto no nível da referencia formal quanto no da tecnologia. 16 Na década de 60, o modernismo na Europa Estado, já se encontrava em fase de esgotamento, porém ainda em franca atuação na América Latina, em especial no Brasil (Brasília é concluída e inaugurada nesta época). Os princípios da arquitetura modernista impuseram regras rígidas aos novos paradigmas formais e impediram reflexões mais profundas sobre as formas tradicionais que poderiam caracterizar nossa arquitetura. Alguns arquitetos brasileiros neste período já possuíam a consciência e postura de projetar com os princípios modernistas sem, contudo, desconsiderar o contexto e a cultura onde atuavam. O exemplo mais presente que aprofunda a questão de projetar com a cultura foi, sem dúvida, o arquiteto Lúcio Costa.                                                               COELHO, R. A. Regionalismo Crítico. Disponível em: http://www.saplei.eesc.usp.br/sap612/alunos/PaginaPessoal/Rodrigo%20Alexandre%20Coelho/PgRegionalismo.htm. 10/09/2006. 16 FRAMPTON, K. Historia critica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 381-397. 15 53
  • 54. A palavra cultura tem muitas definições: Cultura é o todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade. (Edward Tylor) 17 , como os hábitos, idéias, técnicas, compondo um conjunto, no qual os diferentes membros de uma sociedade convivem e se relacionam. Todos os povos, mesmo os mais primitivos, tiveram e têm uma cultura, transmitida no tempo, de geração a geração. Mitos, lendas, costumes, crenças religiosas, sistemas jurídicos e valores éticos refletem formas de agir, sentir e pensar de um povo e compõem seu patrimônio cultural. Também é descrita como a parte do ambiente feita pelo homem como a herança cultural, como o conjunto da tradição social “modo particular como as pessoas se adaptam a seu ambiente”. Nesse sentido, cultura é o modo de vida de um povo, o ambiente que um grupo de seres humanos, ocupando um território comum, criado na forma de idéias, instituições, linguagem, instrumentos, serviços e sentimentos. Esses elementos, que compõem o conceito de cultura, permitem mostrar que ela está ligada à vida do homem, de um lado, e, de outro, se encontra em estado dinâmico, não sendo fixa sua permanência dentro de um determinado grupo. A cultura se aperfeiçoa, se desenvolve, se modifica, continuamente, nem sempre de maneira perceptível pelos membros do próprio grupo. É justamente isso que contribui para seu enriquecimento constante, por meio de novas criações da própria sociedade e ainda do que é adquirido de outros grupos. Quando um grupo social sofre o processo definido pela antropologia por 18 aculturação a cultura se amplia e se diversifica em face às influências dessa expansão, cujas relações condicionam o surgimento de novos valores culturais ou o desaparecimento de outros. É um processo ou fenômeno de transformação que ocorre quando há o contato entre duas ou mais culturas diferentes, bem como as transformações decorrentes em cada uma delas, por força desse contato. Na adaptação, uma cultura se altera para incorporar componentes culturais tomados de empréstimo a outro, ou outros povos, e de presença constante, inevitável. Um exemplo                                                               Op. Cit. CAMPOS, R. Apontamentos para a história de uma antropologia cultural Mestre em Filosofia – FAFICH UFMG. Professor de Modernidade Brasileira e Antropologia e História – UNIBH. 18 Em antropologia, aculturação é o processo decorrente do contato mais ou menos direto e contínuo entre dois ou mais grupos sociais, pelo qual cada um desses grupos assimila, adota ou rejeita elementos da cultura do outro, seja de modo recíproco ou unilateral, e podendo implicar, eventualmente, subordinação política. Em psicologia e sociologia aculturação é a adaptação de um indivíduo a uma nova cultura com que estabelece contato, seja em seu local de origem, seja em outro local para que se tenha mudado. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (eletrônico, 2002). 17 54
  • 55. recente na história contemporânea do Japão, que permanecera isolado durante séculos, foi a abrupta ocidentalização na metade do século XIX. As culturas de características próprias já estão por si mesmas em contínua transformação e, se duas ou mais se aproximam, surgem estímulos tanto para maiores mudanças internas de cada uma como para a outra, recíprocas, no conjunto que se formou. Analisando um texto de Paul Ricoeur, a Civilização Universal e Culturas Nacionais, original de 1955, e que, segundo FRAMPTON (2003) a obra propõe a tese de que uma cultura mundial hibrida só chegará a existir através de uma fecundação entre a cultura enraizada, por um lado, e a civilização universal por outro. O paradoxo, em arquitetura, era desmontar a tendência contemporânea para a internacionalização, a aculturação no seu sentido mais desestruturado recriando a memória dos elementos arquitetônicos locais, sem abandonar, contudo, o mesmo caráter progressista do movimento moderno. Quando não enraizados dentro de grupo, todos esses fatores e elementos levam o homem ao processo de “aculturação” onde todos pode ocorrer o fenômeno chamado de “antropofagismo”. Este fenômeno, se exacerbado com essas novas informações perde, muitas vezes, as referencias de sua própria cultura. A partir do Movimento Moderno acentuaram-se os sintomas do fenômeno de globalização disseminando o processo de aculturação em larga escala para adaptar-se ao modelo norte-americano com perda de referencias próprias em várias culturas. As obras de Severiano Mário Porto, Tadao Ando e Renzo Piano se apresentam, contemporaneamente, como exceções ocorridas em diferentes geografias no mundo, distintas culturas com resultados de projeto que conduzem a uma necessidade de reflexão quando procuram, cada um a seu modo, enfrentar o desejo de aproximar tradição, cultura e invenção. 1.4. Técnica A palavra técnica, do vocabulário grego technikós – o que é relativo à arte (HOLLANDA 2004) e pode também ser definida como o conjunto de processos de uma determinada arte, maneira e jeito especial de fazer algo ou, ainda, pode-se entender “técnica” por um conjunto de regras práticas para fazer coisas determinadas, envolvendo a habilidade do executor, e transmitidas, verbalmente, pelo exemplo, no uso das mãos, dos instrumentos e ferramentas e das máquinas (GAMA, 1986). 55
  • 56. As regras práticas, as habilidades e a transmissão dos conhecimentos incluídos na definição de técnica representam uma capacidade humana importante que está associada à interpretação e reinterpretação da natureza e das coisas. É fato que, as técnicas não são simples procedimentos derivados do desenvolvimento cultural, elas também são sujeitos que evoluem e configuram processos intelectuais e manuais que permitiram moldar conscientemente o mundo natural. Na técnica, o planejamento é associado à experiência prática, o pensar e o fazer são exercidos pelos indivíduos de forma empírica e fazem parte de uma mesma essência - trata-se de um saber que tem origem e se expressa através do fazer ou, como diz Carvalho Jr. (1994), trata-se de um saber fazer apreendido na prática e transmitido no cotidiano. Na construção de edifícios a transmissão das técnicas construtivas através do ensino do ofício pelos mestres aos aprendizes, é uma prática milenar que perdura até os dias de hoje na formação informal da maioria dos artífices. Técnica construtiva é definida como “um conjunto de operações empregadas por um particular ofício para produzir parte de uma construção”. “Um conjunto sistematizado de conhecimentos científicos e empíricos, pertinentes a um modo específico de se construir um edifício (ou uma parte) e empregados na criação, produção e difusão deste modo de construir constitui o que podemos definir por tecnologia. 1.5 Tecnologia A palavra tecnologia resulta palavra grega technología – tratado sobre a arte, conjunto de princípios, métodos, instrumentos e processos cientificamente determinados que se aplique a qualquer atividade (HOLLANDA 2004). Pode-se definir também como o estudo e conhecimento científico das operações técnicas ou aplicação da técnica. Compreende o estudo sistemático dos instrumentos, das ferramentas e das máquinas empregadas nos diversos ramos da técnica, dos gestos e dos tempos de trabalho e dos custos, dos materiais e da energia empregada (GAMA, 1986). O avanço da tecnologia trouxe inúmeros benefícios para o homem, dos quais o principal foi tornar o trabalho mais fácil e mais produtivo. Interpretadas como motores do progresso, as inovações tecnológicas foram implantadas sem cuidado com seus possíveis efeitos 56
  • 57. colaterais. Nos últimos anos do século XX, o lado negativo do progresso tecnológico tornou-se objeto de reflexão nas sociedades industrializadas, que se volta para a busca de técnicas alternativas menos agressivas ao meio ambiente. É possível que novas técnicas sejam criadas, inclusive geradas a partir de conhecimentos autóctones, pois foi assim que as tecnologias surgiram no mundo. Porque então não tomar como paradigmas as soluções construtivas ligadas à técnica existente nas tipologias autóctones? O caminho para a geração de novas tecnologias visto sobre uma ótica histórica e seqüenciada, de acordo com a evolução do mundo, inicia com a produção artesanal, passando pelo semi-industrial até o industrial; os seres humanos herdaram os conhecimentos passados e aprimoraram-no com novas descobertas, para transformá-los em conhecimentos mais profundos. Com relação à evolução da tecnologia do uso da madeira, podemos perceber, ao longo da história avanços consideráveis para problemas que apresentaram grandes dificuldades de solução como, por exemplo: - preservação de ataques de insetos e fungos; - obtenção de matéria prima para produção em larga escala; - adequação a um aumento de usos, antes limitados pelo conhecimento técnico (quanto a vãos, aproveitamento rentável, questões de desperdício, técnicas rudimentares de tratamento para obtenção de melhor padrão de qualidade e durabilidade); - novas técnicas de plantio e manejo de árvores. A Arquitetura em madeira, partindo destes princípios, atravessou por uma fase de construção popular, alcançando níveis surpreendentes e de grande realização à medida que o desenvolvimento tecnológico foi evoluindo. O surgimento de novos materiais (ferro, aço, concreto armado, protendido, etc.) ao lado das “tecnologias novas” e o desenvolvimento da indústria, marcam o começo de um rápido declínio no uso da madeira, justamente quando se diversificava o desenvolvimento tecnológico no mundo. Somente os países em que a madeira continuou sendo um recurso disponível, as tradições construtivas continuam a existir parcialmente e com pequenos progressos. Certamente, os países Escandinavos, os Países Baixos, Alemanha, Suíça e outros do leste de Europa ou, ainda, nos Estados Unidos e Canadá, mantidos durante todos estes anos uma produção constante de edifícios em 57
  • 58. madeira. Entretanto, a carpintaria tradicional não desapareceu absolutamente, embora reduzida a casos singulares. Nos nossos tempos, podemos admirar extraordinários exemplos de arquitetura em madeira, em diversas áreas do planeta. A Ásia, África, Polinésia e América do Sul oferecem-nos alguns bons exemplos. Posteriormente, a industrialização da madeira permitiu a recuperação de seu uso nos assentamentos das fundações com as paredes de madeira tratadas por meio dos procedimentos químicos para evitar sua degradação. A mudança fundamental consistiu na substituição da madeira por outros materiais que vêm da transformação desta para melhorar suas propriedades mecânicas e equipara-las a dos materiais estruturais mais qualificados. O avanço das técnicas trouxe inúmeros benefícios para o homem, dos quais o principal foi tornar o trabalho mais fácil e mais produtivo. Interpretadas como motores do progresso, as inovações tecnológicas, entretanto, foram implantadas sem cuidado com seus possíveis efeitos colaterais. Nos últimos anos do século XX, o lado negativo do progresso tecnológico tornouse objeto de reflexão nas sociedades industrializadas, que se volta para a busca de técnicas alternativas menos agressivas ao meio ambiente. Entre estas as “culturas de manejo” que visam atenuar impactos ambientais para o caso do uso da madeira em escala industrial. Trabalhar com a madeira significa trabalhar com detalhes, com uma construção mais artesanal. Como material de construção, apresenta uma série de vantagens dificilmente reunidas em outro material, como: - obtenção em grandes quantidades por ser fonte renovável se explorada racionalmente; - produção em peças de grandes dimensões que podem ser rapidamente desdobradas em peças pequenas e de delicadeza excepcional; - trabalhabilidade com ferramentas simples e ser reempregada várias vezes; - é leve em peso e tem grande resistência mecânica. Foi o primeiro material empregado, capaz de resistir tanto a esforços de compressão como de tração; - facilidade de obtenção de formas de encaixes e conexões de peças entre si; - sua resistência permite absorver choques que romperiam ou fendilhariam outro material; - apresenta boas condições naturais de isolamento térmico e absorção acústica; - no seu aspecto natural apresenta grande variedade de padrões, texturas e cores. 58
  • 59. Mas como qualquer outro material, a madeira também apresenta as desvantagens que devem ser cuidadosamente levadas em consideração no seu emprego como material de construção: - é um material heterogêneo, não uniforme. Essa variação ocorre de trechos em trechos onde é cortada; - é bastante vulnerável aos agentes externos e, sua durabilidade, quando desprotegida, é limitada; - é combustível; - facilmente apresenta falhas e defeitos, o que comprometem sua resistência ou estética; - a umidade causa grandes variações volumétricas, e favorece o ataque de fungos. Estes inconvenientes fizeram com que a madeira fosse, em determinada época, suplantada pelo aço e pelo concreto armado e, relegada a execução de estruturas provisórias. Na moderna técnica de seu emprego em estruturas, suas características negativas são atenuadas por processos de beneficiamento pelo tipo de reflorestamento, secagem artificial, tratamentos de preservação em autoclaves que tem assegurado proteção por longo tempo contra o ataque de fungos responsáveis pelo apodrecimento e destruição por insetos (brocas e cupins). Enquanto trabalhada sob a forma de peças serradas, a madeira apresenta excelentes propriedades, mas também alta heterogeneidade e anisotropia das quais derivam uma boa parte das falhas de comportamento. Visando minimizar estes defeitos, foram desenvolvidos processos capazes de reestruturar a madeira como material e torná-la mais homogênea. Esta á a base do conceito de madeira transformada. Reduzindo a madeira a fragmentos cada vez menores e reagrupando-os com adesivos, uniformiza-se grande parte das características do produto. A estrutura da madeira uma vez processada e reorganizada apresenta várias características satisfatórias: maior homogeneidade no comportamento físico e mecânico e melhoria das propriedades tecnológicas; maior possibilidade de receber tratamentos com resultados mais satisfatórios (secagem, preservação, etc.) durante de fragmentação que antecede a aglomeração ou colagem; possibilidade de se confeccionar peças de grandes dimensões requisitadas pela indústria e, por fim, o aproveitamento da quase totalidade do material lenhoso de uma árvore. Muitos produtos de madeira transformada são empregados atualmente pela indústria seja da construção, seja de mobiliário, que utilizam os compensados, laminados, painéis de fibra, MDF (Médium Density Fiberboard), MDP (Médium Density Particle), OSB (Oriented Strand Board) 59
  • 60. entre outros, ampliando o universo de possibilidades aprimoradas tecnologicamente para aplicações no uso da madeira. 1.5.1. Madeira Compensada O compensado é um painel composto de várias camadas delgadas de lâminas de madeira, normalmente em número ímpar de lâminas, coladas entre si, com um adesivo. Cada camada é colada de forma que a direção dos veios estejam em ângulos retos em relação à camada adjacente, o que se denomina laminação cruzada. O compensado é considerado um produto maduro, com restrições de natureza ambiental: a baixa disponibilidade de toras de grande diâmetro e de qualidade para laminação e seus custos elevados tendem a reduzir a oferta de madeira compensada em todo o mundo. Como a tendência nas últimas décadas está se resumindo à utilização de toras de pequeno diâmetro, minimização da geração de resíduos e redução de custos, o compensado está perdendo competitividade e participação no mercado; durante a década de 1980, o aglomerado passou a ser, em termos de volume, o painel mais importante em nível mundial. 1.5.2. Aglomerado As chapas de madeira aglomerada são fabricadas com partículas de madeira ou outros materiais, aglutinados por meio de uma resina e, em seguida, prensados. Durante o processo de produção, são adicionados diversos produtos químicos para evitar o mofo, a umidade, o ataque de insetos e aumentar a resistência ao fogo. As principais fontes de matérias-primas utilizadas pelas fábricas de madeira aglomerada são resíduos industriais, resíduos da exploração florestal, madeiras de qualidade inferior, não industrializáveis de outra forma, madeira proveniente de trato cultural de florestas plantadas e reciclagem de madeira sem serventia. No Brasil, a madeira de florestas plantadas, especialmente de eucalipto e pinus, constituem a fonte mais importante de matérias-primas. 60
  • 61. A madeira aglomerada possui múltiplas aplicações, dentre as quais se destacam a fabricação de móveis, tampos de mesas, laterais de portas e de armários, divisórias, laterais de estantes e, de forma secundária, a indústria de construção civil. 1.5.3. MDF O MDF (Médium Density Fiberboard), que significa Painel de fibras de média densidade. É uma chapa fabricada a partir da aglutinação de fibras de madeira com resinas sintéticas e ação conjunta de temperatura e pressão. Para a obtenção das fibras, a madeira é cortada em pequenos cavacos que, em seguida, são triturados por equipamentos denominados desfibradores. Produto relativamente novo foi fabricado pela primeira vez no início dos anos 60 nos Estados Unidos. Em meados da década de 70, chegou à Europa, quando passou a ser produzido na antiga República Democrática Alemã e, posteriormente (1977), foi introduzido na Europa Ocidental através da Espanha. No Brasil, a primeira indústria iniciou sua produção no segundo semestre de 1997. O MDF possui consistência e algumas características mecânicas que se aproximam às da madeira maciça. A maioria de seus parâmetros físicos de resistência são superiores aos da madeira aglomerada, caracterizando-se, também, por possuir boa estabilidade dimensional e grande capacidade de usinagem. A homogeneidade proporcionada pela distribuição uniforme das fibras possibilita ao MDF acabamentos do tipo envernizado, pinturas em geral ou revestimentos com papéis decorativos, lâminas de madeira ou PVC. Podem ser executadas junções com vantagens em relação à madeira natural, já que não possuem nós, veios reversos e imperfeições típicas do produto natural. 1.5.4. MDP O MDP (Medium Density Particleboard), que significa Painel de Partículas de Média Densidade, chega como resultado do uso intensivo da tecnologia das prensas contínuas, modernos 61
  • 62. classificadores de partículas e softwares de controle de processo, aliados à utilização de resinas de última geração e madeira de florestas replantadas. O produto representa uma evolução tecnológica do aglomerado convencional. Uma das suas principais características é a qualidade superior que apresenta em relação aos antigos painéis de madeira aglomerada. O MDP é produzido com a aglutinação de partículas de madeira com resinas especiais, através da aplicação simultânea de temperatura e pressão, resultando em um painel homogêneo e de grande estabilidade dimensional. Com relação aos painéis de MDF, apesar de ambos serem classificados como painéis de madeira de média densidade, na produção do MDP, as partículas de madeira são colocadas em camadas, permitindo que as mais finas fiquem na superfície e as mais delgadas no miolo, já no MDF, aglutinam-se fibras de madeira. 1.5.5. OSB O OSB (Oriented Strand Board) é um painel estrutural, considerado como uma segunda geração dos painéis WAFERBOARD (painel de uso estrutural, produzido com partículas maiores de formatos quadrado ou ligeiramente retangular, coladas com resina), produzido a partir de partículas (strands) de madeira, sendo que a camada interna pode estar disposta aleatoriamente ou perpendicular as camadas externas. A diferenciação em relação aos aglomerados tradicionais se refere à impossibilidade de utilização de resíduos de serraria na sua fabricação. Além disso, possuem um baixo custo, e as suas propriedades, e as suas propriedades mecânicas assemelham-se às da madeira sólida, podendo substituir plenamente os compensados estruturais. Consiste num segmento de destacado crescimento no rol de produtos transformados de madeira. Os painéis OSB são produtos utilizados para aplicações estruturais, como paredes, forros, pisos, componentes de vigas estruturais, embalagens, etc., tendo em vista suas características de resistência mecânica e boa estabilidade dimensional, competindo diretamente com o mercado de compensados. 62
  • 63. 1.5.6. Madeira Laminada A madeira laminada é um produto estrutural, formado por associação de lâminas de madeira selecionadas e coladas. A aplicação da madeira segundo o processo do laminado-colado reúne duas técnicas bastante antigas. Como o próprio nome indica, a madeira laminada e colada foi concebida a partir da técnica da colagem aliada à técnica da laminação, ou seja, da reconstituição da madeira a partir de lâminas (tábuas). O processo de laminar a madeira tem seu arcabouço teórico, possivelmente no primeiro tratado de construção, que foi escrito sobre e para a carpintaria na França, em 1561, por Philibert De L’Orme (1743-1829) Traité théorique et pratique de l’art de bâtir – (Tratado e Prática da Arte de Construir). Dedicado à construção dos telhados e de abobadas de madeira que seguem a tradição européia. Seu conhecimento na arte de dividir e cortar com rigor os materiais de construção deriva possivelmente dos problemas construtivos de abobadas e das técnicas pertencentes à sua época. Philibert De L’Orme planejou uma armação que possibilitasse a obtenção de grandes armações em madeira e amplas esquadrias utilizando apenas pequenos pedaços, procurando, com isso, enfrentar a falta material (imagens 30 e 31). Esta invenção tem sua importância porque podemos considerá-la como precursora das armações de madeira laminada que apareceriam no século XX. Entretanto, não deixa de ser paradoxal que o primeiro texto específico relativo à carpintaria utilizada para armar não oferecesse dado algum da execução dos sistemas tradicionais. Mas com exceção deste caso singular, é necessário enfatizar o papel que realizaram os tratados de prática e de construção, de modo que as técnicas e a sabedoria da carpintaria evoluíram a partir de então. Os tratados escritos para a carpintaria, não valorizavam as inovações de seus autores, mas tinham o intuito de transmitir o conhecimento do processo de execução de tipologias de armações. Embora supõe-se que para dar um salto de quatro séculos, é necessário considerar também um outro sistema estudado em continuidade ao de De L’Orme, que é devido ao coronel francês Armand Rose Emy (1771-1851). O coronel Emy, em 1841, também se dedicou à edição de um tratado referente ao processo de construção de madeira laminada e colada e, outro em 1842. 63
  • 64. De maneira inesperada a madeira reaparece nas tecnologias de ponta. A reavaliação dos métodos do coronel Emy e os primeiros arcabouços utilizados para seccionar a madeira criando um arco de curvatura desenvolvido por De L’Orme, chegam à madeira laminada colada 19 por volta de 1905-1910 e passam os méritos ao carpinteiro suíço de Weimar, Karl Friedrich Otto Hetzer (18461911) que teve a idéia de substituir as ligações metálicas de braçadeiras e parafusos, utilizadas pelo coronel Emy, pela cola de caseína (derivada do leite), obtendo assim uma seção mais homogênea entre as laminas. 30: invenções em madeira de Philibert de L’Orme 1561. 31: detalhe estrutural desenhado por Philbert de L’Orme.                                                               O protagonismo da madeira só é recuperado a partir dos trabalhos de Otto Hetzer, em 1906, que constituem o gérmen de todo o desenvolvimento posterior de um novo material: a madeira laminada. 19 64
  • 65. Os estudos do coronel Emy abriram precedentes, no início do século XIX, para Gustavo Adolfo Breymann (1807-1859), que escreveu, em 1851, tratados para a construção, sendo um deles especifico para construções em madeira (imagem 32). Esse tratado além da descrição teórica exibe desenhos explicativos quanto à elaboração do processo desenvolvido pelo coronel Emy. 32: detalhe de construção em madeira por Gustavo Augusto Breymann, 1851. 65
  • 66. As estruturas de madeira laminada e colada da maneira como se usa hoje em dia foram concebidas na Alemanha, em 1905, pelo Engenheiro Otto Hetzer, de Weimar, e se tornaram conhecidas na Europa como “estruturas Hetzer” ou simplesmente por “Sistema Hetzer”. São elas vigas, arcos e pórticos, de secção retangular ou em duplo T, constituída, em princípio, de tábuas justapostas e coladas entre si. Tais estruturas foram largamente aceitas nos meios técnicos e tiveram aplicação prática já antes da primeira Grande Guerra. As primeiras construções do sistema Hetzer fora da Alemanha datam de 1909, na Suíça, 1913, na Dinamarca, 1918, na Noruega e em 1919, na Suécia. Nos Estados Unidos, a primeira estrutura laminada colada data de 1925 e no Brasil ocorre em 1922. No entanto, foi em 1940, com o aparecimento das colas sintéticas que o sistema laminado-colado conheceu o seu grande progresso. Hetzer, após o aprimoramento da técnica de laminar e colar patenteou o sistema, que hoje carregam o seu nome como o sistema de vigas Hetzer (imagem 33). A obra de Renzo Piano é, sem dúvida, um referencial no uso desse sistema, seus projetos demonstram a potencialidade da madeira laminada e colada. Atualmente, esse processo de fabricação e construção, são muito estudados e usados, pela possibilidade de uma pré-fabricação, mesmo que, o projeto almeje uma escala diferenciada. 33: construções em madeira laminada por Otto Hetzer, 1910. 66
  • 67. 1 2 34: fabricação de vigas laminadas (data aproximada 1950). Após a colocação na “cama” de aperto, as laminas destes arcos são forçadas com uma braçadeira pneumática de parafuso. 35: fabricação de viga laminada, tempos atuais. 67
  • 68. A madeira laminada ganhou força após seu aprimoramento pelo Engenheiro Otto Hetzer, se evidenciou passando a ser um dos sistemas construtivos mais utilizados do início até a metade do século XX. Conforme FERREIRA (2002) as estruturas lamelares de madeira foram introduzidas na Europa em 1908, no Brasil em 1922 e nos Estados Unidos em 1925. Foram muito empregadas entre as décadas de 20 e 60 para cobrirem ambientes que abrangessem grandes áreas como galpões industriais, ginásios, auditórios, pavilhões de exposição, garagens, depósitos, igrejas, salões de clube e outros. O período compreendido entre o final dos anos vinte e meados dos anos cinqüenta do século XX é denominado por GRANDI (1985) como sendo o terceiro período da indústria da construção civil no Brasil, no qual o subsetor de edificações apresentou uma intensa produção, a qual pode ser considerada ímpar na história da construção civil brasileira. Este fenômeno se deu em função da mudança na economia brasileira que antes era agro-exportadora, passando para uma economia industrial, o que ocasionou o crescimento acelerado principalmente das grandes cidades da região centro-sul do país. 20 Algumas empresas no Brasil foram pioneiras na construção em madeira lamina e colada. Segundo ZANGIÁCOMO 21 (2003), a primeira foi ESMARA Estruturas de Madeira Ltda., fundada em 1934, em Curitiba-PR, com tecnologia trazida por alemães. Posteriormente, outra empresa de mesmo nome foi fundada em Viamão-RS. Têm-se obras marcantes destas duas empresas na Região Sul, com vastos arquivos de projetos. Merecem citações outras indústrias também da Região Sul, como a PRÉ-MONTAL Estruturas de Madeira Ltda. (PREMON), fundada em CuritibaPR, em 1977, Emprego de Espécies Tropicais Alternativas na Produção de Elementos Estruturais de Madeira Laminada Colada Zangiácomo A.L. executando a maioria de seus projetos nas décadas de 70/80; a EMADEL Estruturas de Madeira Ltda., fundada em Araucária-PR, em 1981; e a BATTISTELLA Indústria e Comércio Ltda., situada em Lages-SC, atuando no setor madeireiro há mais de 40 anos e que, atualmente, possui uma linha de produção de casas e estruturas préfabricadas, com largo uso de elementos estruturais de MLC.                                                                 FERREIRA, Núbia dos Santos Saad. Estruturas lamelares de madeira para coberturas. São Carlos. Dissertação de mestrado. EESC-USP. 1999. Disponível em: http://www.set.eesc.usp.br/public/teses/detalhe.php?id=205  21 ZANGIÁCOMO. A. l. Emprego de espécies tropicais alternativas na produção de elementos estruturais de madeira laminada colada. São Carlos. Dissertação de Mestrado. EESC – USP, 2003. Disponível em: http://www.set.eesc.usp.br/public/teses/detalhe.php?id=78  20 68
  • 69. A LAMINARCO Madeira Industrial Ltda., fundada na década de 60 e localizada em São Paulo-SP, segundo BONO 22 (1996), foi a primeira empresa produtora de MLC na Região Sudeste. Foi montada e gerenciada pelo engenheiro Vinício Walter Callia, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), pioneiro nos estudos e publicações sobre o assunto. A empresa tem uma continuidade pela família, mas não com a produção de arquitetura em madeira laminada, os projetos são executados com madeiras beneficiadas (http://www.callia.com.br/). Em FERREIRA (1999), CESAR (1991) relata que, no início deste período de expansão da construção civil verificou-se uma grande mudança na arte de projetar e executar estruturas de madeira. Isto decorreu da vinda de muitos engenheiros europeus, que foram responsáveis pela introdução de novos sistemas construtivos no Brasil, os quais foram possíveis de serem executados graças a uma mão-de-obra também imigrante que transferiu este novo processo de construir em madeira a carpinteiros brasileiros. Neste período, a partir do exemplo da HAUFF, foram surgindo várias empresas que adotaram o sistema estrutural lamelar de madeira na construção de edificações que abrangessem grandes áreas. Como exemplo, podem ser citadas as empresas: SOCIEDADE TEKNO LTDA., CALLIA & CALLIA, A.SPILBORGHS & CIA LTDA., dentre outras, CALLIA (1951). 23 No Brasil, até os anos 50 e 60, com essas empresas pioneiras se teve uma considerável produção arquitetônica de grandes galpões de armazenagem para diversos fins, mas com a inovação na construção civil oferecida pelo concreto armado o processo de laminar passou para um segundo plano onde se utilizava a madeira para pequenas obras e principalmente para a construção de formas para o concreto. Atualmente, esse processo de fabricação e construção, é muito estudado e usado em outros países, não somente pela possibilidade de uma pré-fabricação que aprimora o rigor de qualidade, mas pelo potencial de inovações tecnológicas ainda existentes em um campo aberto para a pesquisa em diferentes níveis de investigação.                                                                BONO, C. T. Madeira Laminada Colada na arquitetura: sistematização de obras executadas no Brasil. São Carlos. Dissertação de Mestrado. – EESC/ USP, 1996.  23 Iden, nota 20, p. 68.  22 69
  • 70. 1.5.7. A pesquisa no Brasil No final do século XX e inicio do século XXI, as pesquisas no Brasil que envolvem o uso da madeira na arquitetura e em estruturas tem um volume significativo. Instituições governamentais e privadas desenvolvem estudo e pesquisas na busca de novas tecnologias que envolvem uma construção adequada a preservação do meio ambiente de maneira sustentável. Algumas universidades brasileiras a exemplo das européias, americanas e canadenses, possuem em suas faculdades de engenharia ou arquitetura, departamentos que pesquisam sobre a arquitetura em madeira e sobre as alternativas tecnológicas a serem aplicadas no uso da madeira como: - O CANTOAR da UnB, junto com a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, desenvolvem pesquisas aplicadas sobre materiais de origem orgânica, incluindo estudos e pesquisas combinando bambu e madeira; - A Universidade de Marília desenvolve pesquisas sobre projetos em estruturas de madeiras nos diversos sistemas construtivos. As pesquisas enfocam o resgate de sistemas construtivos comuns em outros países os quais já foram executados no Brasil, mas que, todavia, não são difundidos; - A Universidade de São Carlos possui o LaMEM – Laboratório de Madeiras e Estruturas de Madeiras, que desenvolve pesquisas em nível de pós-graduação em estruturas de madeiras, a qual prevê a utilização de materiais alternativos; - A Universidade Federal de Santa Catarina, junto com o Departamento de Engenharia, desenvolvem pesquisas sobre estruturas combinadas de madeira e concreto; - O IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas, desenvolve estudos sobre sistemas construtivos em habitações e diversos temas técnicos sobre o tratamento da madeira relacionado às suas propriedades físicas, resistência e preservação. 70