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Direção Espiritual: A dificuldade de amar 
Somente por meio de Cristo o homem é capaz de amar 
Uma das queixas básicas das pessoas que se apresentam no confessionário ou na 
direção espiritual é a dificuldade de amar. Apesar de desejarem a santidade, não sabem 
como amar concretamente. Isso se dá por causa do amor desordenado que sentem por si 
mesmas e as impede de amar. 
O amor desordenado de si por si mesmo tem um nome: filáucia, e possui um mecanismo 
psicológico próprio. Não se trata de psicologismo, pois, é sabido que para amar é 
necessário a graça divina, ela é que torna o ser humano capaz de amar. E é justamente na 
natureza humana decaída que a graça de Deus deve agir. Por causa do pecado, o homem 
possui de si mesmo um conceito negativo que se reflete quando ele ama. Ele crê que a 
iniciativa de amar é sua, pensa que é o Número 1. Assim, toma a iniciativa e passa a 
realizar atos positivos porque deseja ser amável. 
Tais atos, no entanto, permanecem exteriores, não alcançam aquele que deseja ser 
amado (mesmo que haja manifestação de retribuição do amor), pois o que está sendo 
“amado” é apenas um personagem criado através dos atos positivos para ser amado e não 
a pessoa real, que deseja ser amada. 
Dessa mecânica nasce a chamada “carência”, pois aquele que rea liza os atos positivos 
com a intenção de ser amado de volta, espera que isso ocorra, espera a retribuição. 
Nosso Senhor Jesus Cristo lutou contra a filáucia, contra o amor desordenado ao 
combater o chamado farisaismo. O fariseu é aquele homem que quer ser amado pela sua 
obediência à lei. No fundo, o que deseja é comprar o amor obedecendo aos preceitos. 
Essa atitude se aplica também ao homem moderno em seu relacionamento com Deus. Ao 
empenhar-se em jejuns, terços, romarias, novenas, visa causar o amor Deus. 
É evidente que todos esses atos são necessários à vida cristã, no entanto, é preciso 
analisar a motivação em realizá-los, que é o que se pretende aqui. Quando a pessoa crê 
que é a Número 1 do relacionamento com Deus, sem sombra de dúvida, está doente, pois 
tomou o lugar que é Dele. ELE é o Número 1. 
A Sagrada Escritura é taxativa em afirmar que Deus é Amor. São João, em sua primeira 
carta, fala sobre o amor de Deus e explica como é o amor sadio. Ele diz:
Nisso consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e 
enviou seu Filho como oferenda de expiação pelos nossos pecados. (1Jo 4, 10) 
Portanto, a iniciativa de amar partiu de Deus. Ele amou por primeiro. O amor ordenado 
consiste no encontro do homem com o amor de Deus que é manifestado em Jesus Cristo 
na cruz. É por isso que Jesus manifesta uma rejeição total por aqueles homens 
aparentemente tão virtuosos, que somente desejavam obedecer à lei. Eles se esqueceram 
quem é o Número 1. 
Se o Número 1 é Deus, ou seja, se Ele amou por primeiro, quando o homem crê que a 
iniciativa de amar é sua, na verdade, está se colocando no lugar de Deus. Sob essa ótica, 
o que se tem é a idolatria. E assim, o “amor” que brota dela só pode ser desordenado. 
Nesse momento, alguns poderiam dizer: “Ah, então o homem é o Número 2!”. Não é 
verdade. Deus ama o homem e, porque é amado por Deus, o homem se ama. Este é o 
Número 2. A relação de causalidade existente entre o amor de Deus e o motivo pelo qual o 
homem deve se amar é também um ato de fé. 
Trata-se de um ato de fé, pois implica crer que Deus não erra, portanto, se ele criou o ser 
humano como criou, está correto. E se o fez assim, a pessoa só pode ser boa, só pode ser 
um presente para os outros. No entanto, o homem desordenado acredita que Deus errou 
ao criá-lo como criou, revolta-se contra Deus e quer corrigi-Lo. É evidente que diante 
disso, toda a afetividade e sexualidade se torna desregrada. 
Portanto, o primeiro passo é um ato de fé e de humildade, aceitando que Deus não erra, 
logo, se criou os homens como criou e os ama, os homens são bons, são amáveis. Ser 
bom e amável, portanto, é algo que está enraizado no ser do homem. Enquanto o amor 
desordenado está fixado no fazer. É preciso, pois, entender que Deus fez o homem, por 
isso, na raiz do ser existe algo de bom, assim, a pessoa deve se amar. 
A partir da constatação de que eu amo porque sou bom, pois Deus assim me criou, é que 
surge o Número 3: eu amo o próximo por Deus. Fecha-se, então, o ciclo: eu me amo, amo 
o próximo e amo a Deus no próximo. Essa é a dinâmica ordenada, conforme diz São João: 
“Se alguém disse: ‘Amo a Deus’, mas odeia o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a 
Deus, a quem não vê. E este é o mandamento que dele recebemos: quem ama a Deus, 
ame também seu irmão.” (1Jo 4, 20)
Deste modo é preciso derrubar o muro existente entre a vida Igreja e a vida fora dela. Da 
mesma forma com que nos aproximamos do sacrário para amar Jesus Eucarístico 
devemos nos aproximar do nosso irmão, para amar Jesus nele. 
Para tanto é preciso olhar para dentro do próprio coração e observar o que existe nele que 
possibilite a vazão desse amor. Ora, se Deus amou a humanidade através da Cruz, que é 
a manifestação eterna de Deus pelos homens, o que nasce e brota do coração só pode 
ser a gratidão. 
Para amar o outro, o pobre, é preciso que haja a configuração a Cristo, uma mortificação 
de si mesmo em favor do outro, que só se dá como consequência da ação da graça. São 
João continua dizendo que foi assim que o amor de Deus se manifestou: “Deus enviou seu 
Filho único para que tenhamos a vida por meio dele”(9). Somente por meio Dele é que o 
homem é capaz de amar. 
Para algumas pessoas pode parecer muito teórico, mas a explicação é fundamental para 
dar passos na vida espiritual, pois muitas desordens de natureza sexual e também afetiva 
acontecem por causa de um amor que deveria ser ordenado, mas que na verdade é 
desordenado. São Paulo explica por que ocorre a desordem, na Carta aos Romanos: 
De fato, desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, tais como o seu 
poder eterno e sua divindade, podem ser contempladas, através da inteligência, nas obras 
que ele realizou. Os homens, portanto, não têm desculpa. Porque, embora conhecendo a 
Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças. Pelo contrário, perderam-se 
em raciocínios vazios, e sua mente ficou obscurecida. Pretendendo ser sábios, tornaram-se 
tolos, trocando a glória do Deus imortal por estátuas de homem mortal, de pássaros, 
animais e répteis. Foi por isso que Deus os entregou, conforme os desejos do coração 
deles, à impureza com que desonram seus próprios corpos. Eles trocaram a verdade de 
Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura em lugar do Criador, que é bem dito 
para sempre. Amém. Por isso, Deus entregou os homens a paixões vergonhosas: suas 
mulheres mudaram a relação natural em relação contra a natureza. Os homens fizeram o 
mesmo: deixaram a relação natural com a mulher e arderam de paixão uns com os outr os, 
cometendo atos torpes entre si, recebendo dessa maneira em si próprios a paga pela sua 
aberração.Os homens desprezaram o conhecimento de Deus; por isso, Deus os 
abandonou ao sabor de uma mente incapaz de julgar. Desse modo, eles fazem o que não 
deveriam fazer;estão cheios de todo tipo de injustiça, perversidade, avidez e malícia; 
cheios de inveja, homicídio, rixas, fraudes e malvadezas; são difamadores, caluniadores, 
inimigos de Deus, insolentes, soberbos, fanfarrões, engenhosos no mal, rebeldes para 
com os pais, insensatos, desleais, gente sem coração e sem misericórdia. E apesar de 
conhecerem o julgamento de Deus, que considera digno de morte quem pratica tais
coisas, eles não só as cometem, mas também aprovam quem se comporta assim. (Rm 1, 
20-31) 
A capacidade de amar do homem é doente porque cada um que não se ama entra na 
dinâmica de criar um personagem sexual amável, capaz de grandes performances, o que 
leva sempre a autodestruição. O relacionamento sexual se transforma em algo vazio, 
destruidor psíquica e físicamente, por consequência, destrói também a sociedade. 
Infelizmente, Deus abandona o homem à miséria de seu coração quando Ele é retirado de 
seu lugar. 
Santo Tomás de Aquino afirma que a caridade sempre tem um objeto formal que é Deus: 
eu amo Deus por causa de Deus, amor a mim mesmo por causa de Deus e amo o próximo 
por causa de Deus. Esta é a dinâmica correta do amor. 
De modo prático, todos devem meditar constantemente sobre o amor de Cristo 
manifestado da cruz. a partir disso, a aproximação com os irmãos, com o próximo por 
causa de Jesus, por gratidão ao seu sacrifício na cruz.

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  • 1. Direção Espiritual: A dificuldade de amar Somente por meio de Cristo o homem é capaz de amar Uma das queixas básicas das pessoas que se apresentam no confessionário ou na direção espiritual é a dificuldade de amar. Apesar de desejarem a santidade, não sabem como amar concretamente. Isso se dá por causa do amor desordenado que sentem por si mesmas e as impede de amar. O amor desordenado de si por si mesmo tem um nome: filáucia, e possui um mecanismo psicológico próprio. Não se trata de psicologismo, pois, é sabido que para amar é necessário a graça divina, ela é que torna o ser humano capaz de amar. E é justamente na natureza humana decaída que a graça de Deus deve agir. Por causa do pecado, o homem possui de si mesmo um conceito negativo que se reflete quando ele ama. Ele crê que a iniciativa de amar é sua, pensa que é o Número 1. Assim, toma a iniciativa e passa a realizar atos positivos porque deseja ser amável. Tais atos, no entanto, permanecem exteriores, não alcançam aquele que deseja ser amado (mesmo que haja manifestação de retribuição do amor), pois o que está sendo “amado” é apenas um personagem criado através dos atos positivos para ser amado e não a pessoa real, que deseja ser amada. Dessa mecânica nasce a chamada “carência”, pois aquele que rea liza os atos positivos com a intenção de ser amado de volta, espera que isso ocorra, espera a retribuição. Nosso Senhor Jesus Cristo lutou contra a filáucia, contra o amor desordenado ao combater o chamado farisaismo. O fariseu é aquele homem que quer ser amado pela sua obediência à lei. No fundo, o que deseja é comprar o amor obedecendo aos preceitos. Essa atitude se aplica também ao homem moderno em seu relacionamento com Deus. Ao empenhar-se em jejuns, terços, romarias, novenas, visa causar o amor Deus. É evidente que todos esses atos são necessários à vida cristã, no entanto, é preciso analisar a motivação em realizá-los, que é o que se pretende aqui. Quando a pessoa crê que é a Número 1 do relacionamento com Deus, sem sombra de dúvida, está doente, pois tomou o lugar que é Dele. ELE é o Número 1. A Sagrada Escritura é taxativa em afirmar que Deus é Amor. São João, em sua primeira carta, fala sobre o amor de Deus e explica como é o amor sadio. Ele diz:
  • 2. Nisso consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou seu Filho como oferenda de expiação pelos nossos pecados. (1Jo 4, 10) Portanto, a iniciativa de amar partiu de Deus. Ele amou por primeiro. O amor ordenado consiste no encontro do homem com o amor de Deus que é manifestado em Jesus Cristo na cruz. É por isso que Jesus manifesta uma rejeição total por aqueles homens aparentemente tão virtuosos, que somente desejavam obedecer à lei. Eles se esqueceram quem é o Número 1. Se o Número 1 é Deus, ou seja, se Ele amou por primeiro, quando o homem crê que a iniciativa de amar é sua, na verdade, está se colocando no lugar de Deus. Sob essa ótica, o que se tem é a idolatria. E assim, o “amor” que brota dela só pode ser desordenado. Nesse momento, alguns poderiam dizer: “Ah, então o homem é o Número 2!”. Não é verdade. Deus ama o homem e, porque é amado por Deus, o homem se ama. Este é o Número 2. A relação de causalidade existente entre o amor de Deus e o motivo pelo qual o homem deve se amar é também um ato de fé. Trata-se de um ato de fé, pois implica crer que Deus não erra, portanto, se ele criou o ser humano como criou, está correto. E se o fez assim, a pessoa só pode ser boa, só pode ser um presente para os outros. No entanto, o homem desordenado acredita que Deus errou ao criá-lo como criou, revolta-se contra Deus e quer corrigi-Lo. É evidente que diante disso, toda a afetividade e sexualidade se torna desregrada. Portanto, o primeiro passo é um ato de fé e de humildade, aceitando que Deus não erra, logo, se criou os homens como criou e os ama, os homens são bons, são amáveis. Ser bom e amável, portanto, é algo que está enraizado no ser do homem. Enquanto o amor desordenado está fixado no fazer. É preciso, pois, entender que Deus fez o homem, por isso, na raiz do ser existe algo de bom, assim, a pessoa deve se amar. A partir da constatação de que eu amo porque sou bom, pois Deus assim me criou, é que surge o Número 3: eu amo o próximo por Deus. Fecha-se, então, o ciclo: eu me amo, amo o próximo e amo a Deus no próximo. Essa é a dinâmica ordenada, conforme diz São João: “Se alguém disse: ‘Amo a Deus’, mas odeia o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. E este é o mandamento que dele recebemos: quem ama a Deus, ame também seu irmão.” (1Jo 4, 20)
  • 3. Deste modo é preciso derrubar o muro existente entre a vida Igreja e a vida fora dela. Da mesma forma com que nos aproximamos do sacrário para amar Jesus Eucarístico devemos nos aproximar do nosso irmão, para amar Jesus nele. Para tanto é preciso olhar para dentro do próprio coração e observar o que existe nele que possibilite a vazão desse amor. Ora, se Deus amou a humanidade através da Cruz, que é a manifestação eterna de Deus pelos homens, o que nasce e brota do coração só pode ser a gratidão. Para amar o outro, o pobre, é preciso que haja a configuração a Cristo, uma mortificação de si mesmo em favor do outro, que só se dá como consequência da ação da graça. São João continua dizendo que foi assim que o amor de Deus se manifestou: “Deus enviou seu Filho único para que tenhamos a vida por meio dele”(9). Somente por meio Dele é que o homem é capaz de amar. Para algumas pessoas pode parecer muito teórico, mas a explicação é fundamental para dar passos na vida espiritual, pois muitas desordens de natureza sexual e também afetiva acontecem por causa de um amor que deveria ser ordenado, mas que na verdade é desordenado. São Paulo explica por que ocorre a desordem, na Carta aos Romanos: De fato, desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, tais como o seu poder eterno e sua divindade, podem ser contempladas, através da inteligência, nas obras que ele realizou. Os homens, portanto, não têm desculpa. Porque, embora conhecendo a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças. Pelo contrário, perderam-se em raciocínios vazios, e sua mente ficou obscurecida. Pretendendo ser sábios, tornaram-se tolos, trocando a glória do Deus imortal por estátuas de homem mortal, de pássaros, animais e répteis. Foi por isso que Deus os entregou, conforme os desejos do coração deles, à impureza com que desonram seus próprios corpos. Eles trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura em lugar do Criador, que é bem dito para sempre. Amém. Por isso, Deus entregou os homens a paixões vergonhosas: suas mulheres mudaram a relação natural em relação contra a natureza. Os homens fizeram o mesmo: deixaram a relação natural com a mulher e arderam de paixão uns com os outr os, cometendo atos torpes entre si, recebendo dessa maneira em si próprios a paga pela sua aberração.Os homens desprezaram o conhecimento de Deus; por isso, Deus os abandonou ao sabor de uma mente incapaz de julgar. Desse modo, eles fazem o que não deveriam fazer;estão cheios de todo tipo de injustiça, perversidade, avidez e malícia; cheios de inveja, homicídio, rixas, fraudes e malvadezas; são difamadores, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, soberbos, fanfarrões, engenhosos no mal, rebeldes para com os pais, insensatos, desleais, gente sem coração e sem misericórdia. E apesar de conhecerem o julgamento de Deus, que considera digno de morte quem pratica tais
  • 4. coisas, eles não só as cometem, mas também aprovam quem se comporta assim. (Rm 1, 20-31) A capacidade de amar do homem é doente porque cada um que não se ama entra na dinâmica de criar um personagem sexual amável, capaz de grandes performances, o que leva sempre a autodestruição. O relacionamento sexual se transforma em algo vazio, destruidor psíquica e físicamente, por consequência, destrói também a sociedade. Infelizmente, Deus abandona o homem à miséria de seu coração quando Ele é retirado de seu lugar. Santo Tomás de Aquino afirma que a caridade sempre tem um objeto formal que é Deus: eu amo Deus por causa de Deus, amor a mim mesmo por causa de Deus e amo o próximo por causa de Deus. Esta é a dinâmica correta do amor. De modo prático, todos devem meditar constantemente sobre o amor de Cristo manifestado da cruz. a partir disso, a aproximação com os irmãos, com o próximo por causa de Jesus, por gratidão ao seu sacrifício na cruz.