SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 8
Baixar para ler offline
O PAPEL DAS HABILIDADES METALINGÜÍSTICAS NA ALFABETIZAÇÃO




                                                                                  Márcia Mota *
                                                                                Stella Mansur**
                                                                              Átila Calzavara**
                                                                               Luciana Aníbal**
                                                                   Simone Aparecida de Lima**
                                                                                   Junia Cotta**
                                                                                Daniela Mota**




RESUMO: Nos últimos 30 anos o desenvolvimento das habilidades metalingüísticas têm sido
identificado como importante fator para o sucesso alfabetização. Dentre as habilidades
metalingüísticas três são consideradas preditivas do sucesso na aquisição da leitura e escrita: a
consciência sintática, a fonológica e a morfológica. Das três a menos estuda é a consciência
morfológica Este artigo discute como estas três habilidades podem contribuir par a leitura e
escrita no português.
Palavras chave: linguagem, desenvolvimento metalingüístico, alfabetização


Abstract: In the last 30 years metalinguistic abilities development has been indentified asan
important factor for literacy achievement. Among the metalinguistic abilitiesstudied three are
considered as predictors of reading and writing acquisition: phonological awareness, syntactic
awareness and morphological awareness. This study discusses how these three abilities can
contribute to learn to read and spell in Portuguese.
Key-words: language, metalinguistic development, literacy.




* Professora do Departamento de Psicologia da UFJF
**Graduandas do Curso de Psicologia a UFJF
HABILIDADES METALINGÜÍSTICAS E ALFABETIZAÇÃO


        Tfouni (1988) distingue dois termos envolvidos no processo da aquisição a leitura e da
escrita: Alfabetização e Letramento:


                                       “Enquanto a alfabetização ocupa-se da aquisição da escrita
                                 por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza
                                 os aspectos sócio-históricos da aquisição de um sistema escrito
                                 por uma sociedade” (Tfouni, 1988 apud Soares, 2002, P.3).


        A alfabetização compreende a aprendizagem da leitura e escrita, e é um importante
objeto do conhecimento humano. A criança que não aprende a ler e escrever, desde cedo fica
excluída do sistema escolar e posteriormente tem suas possibilidades de entrada no mercado de
trabalho, limitadas. No entanto, tem se argumentado que a mera aprendizagem do código
escrito, ou alfabetização, sem que o aprendiz se torne letrado não permite que este indivíduo se
insira verdadeiramente em uma sociedade letrada como a nossa (Soares, 2002). Assim,
discussões que permearam o ensino da língua escrita na década de 80 e 90 tenderam a
desvalorizar o papel da alfabetização e dissociá-lo do processo de letramento.
        Nossa posição é que este tipo de abordagem pouco contribui para a melhoria do ensino
da língua escrita e precisa ser revista. Soares (1998, 2005) nos lembra que “o ideal seria
alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e
escrita, de forma que o indivíduo se torne ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado” (Soares
2005, P.47).
         O domínio da alfabetização acontece de forma gradual. O sistema de representações
fonológicas e ortográficas da língua é construída de forma dinâmica pelo aprendiz (Ferreiro,
1985; Read, 1986. Entender os processos de aquisição da alfabetização é importante para que
possamos pensar em práticas pedagógicas mais eficazes que possam prevenir os problemas
escolares, e em última análise possam alfabetizar letrando.
        Nas últimas três décadas a atenção dos pesquisadores interessados na alfabetização se
voltou para o papel das habilidades metalingüísticas na alfabetização. Consciência
metalingüística pode ser definida como a cognição sobre a linguagem e a auto-regulação das
atividades psicolingüísticas. Isso implica que o sujeito reflita sobre a linguagem como um
objeto independente do significado que veicula; e também que o sujeito manipule
intencionalmente as estrutura da linguagem (Correa, 2004).
        Gombert (2003) e Gombert e Demont (2004) defendem que algum grau de consciência
metalingüística é necessário para que se possa aprender a ler e a escrever, no entanto a
habilidade     verdadeiramente    metalingüística   dependeria     de   aprendizagens     explícitas,
principalmente da aprendizagem da leitura e da escrita, mais freqüentemente de natureza
escolar.
           Vários estudos mostraram que as capacidades metalingüísticas se instalam
paralelamente à aprendizagem da leitura e escrita. De fato, para que a criança aprenda tarefas
lingüísticas formais, é preciso que ela desenvolva uma consciência explícita das estruturas
lingüísticas, para que assim possam manipulá-las intencionalmente.
           Dentre as habilidades metalingüísticas três são identificadas como facilitadoras da
alfabetização: a consciência fonológica, a consciência sintática e a consciência morfológica.


           CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E ALFABETIZAÇÃO


           A consciência fonológica é a capacidade de refletir e manipular os sons que compõem
as palavras (Cardoso-Martins, 1995). Ela ajuda na alfabetização, pois facilita a aquisição das
correspondências letra-som, que são utilizadas na decodificação, e que assim são necessárias à
aquisição do princípio alfabético. A decodificação facilita o reconhecimento de palavras que por
sua vez facilita o processo de compreensão do texto (Tunmer, 1990; Rego, 1995).
           O papel facilitador da consciência fonológica na aprendizagem da leitura e da escrita
vem sendo confirmado por numerosas pesquisas realizadas com indivíduos de diversas idades,
diversos níveis de instrução e falantes de diferentes ortografias. (Goswami & Bryant, 1990, para
uma revisão).
           A consciência fonológica e a escrita se desenvolvem paralelamente, a consciência
fonológica contribuindo nos estágios iniciais do processo de alfabetização e por outro lado, a
alfabetização levando ao processamento de aspectos fonológicos mais complexos como a
análise fonêmica, que deriva do domínio da alfabetização.


           CONSCIÊNCIA SINTÁTICA E ALFABETIZAÇÃO


           A consciência sintática é a capacidade de refletir sobre os aspectos sintáticos das
sentenças, e envolve o controle deliberado da aplicação dos aspectos sintático-semântico da
língua, também chamada de informação contextual. Ajudaria na leitura e na escrita porque ao
reconhecer e controlar deliberadamente tais aspectos, a criança usa estas informações
contextuais como pistas, tanto na leitura para reconhecer as palavras no texto que não
conseguem decifrar ou compreender, como na escrita. No caso da escrita as pistas contextuais
parecem ajudar a criança a decidir sobre a grafia das palavras com ortografia ambígua ou com
mesma origem semântica. Um exemplo, seria a de palavras como “conserto” e “concerto”.
Estas palavras serão grafadas corretamente pela criança somente se esta usar as pistas
contextuais (Rego & Buarque, 1997; Mota, 1996; Correa, 2005; Rego, 1995).
Ao contrário do que acontece na consciência fonológica poucos estudos têm investigado
o desenvolvimento da consciência sintática e sua relação com a alfabetização.
        Rego & Bryant (1993) acharam uma relação causal entre a consciência sintática e a
leitura de crianças inglesas em processo de alfabetização. Plaza & Cohen (2003) investigaram a
contribuição da consciência fonológica, consciência sintática e velocidade de nomeação para a
alfabetização de crianças em processo de alfabetização falantes do francês. O resultado deste
estudo mostrou que as medidas de consciência sintática contribuíram de forma independente
para as medias de leitura e escrita, mesmo depois de controlarem o efeito da consciência
fonológica e velocidade e nomeação.
        No português o papel da consciência sintática na alfabetização precisa ser mais bem
explorado. Em um estudo com crianças brasileiras, Rego (1995) identificou a consciência
sintática como facilitador da leitura das crianças entrevistadas.
        Em um outro estudo, Guimarães (2003) investigou a relação entre consciência sintática
e consciência fonológica e o desenvolvimento da leitura e escrita em crianças com dificuldades
de aprendizagem cursando a terceira e quarta série do ensino fundamental. A autora não achou
diferença entre a performance de crianças com dificuldades de alfabetização e os controles de
mesma habilidade de escrita mas mais jovens em idade. No entanto, as crianças de terceira e
quarta série sem dificuldades de leitura tiveram performance superior à das crianças com
dificuldade e a das mais jovens. Estes resultados sugerem que embora não pareça haver um
déficit específico da leitura das crianças com dificuldades de aprendizagem no que diz respeito à
consciência sintática, a escolarização tem um papel no desenvolvimento desta habilidade.
        No entanto, Mota e cols. (em preparação) acharam correlações significativas e positivas
entre as tarefas de consciência sintática realizadas por crianças de primeira e segunda série do
ensino fundamental e medidas de leitura e escrita.
        Estes resultados apontam para importância de conhecermos melhor como a consciência
sintática contribui para a alfabetização numa língua regular como o português.




        CONSCIÊNCIA MORFOLÓGICA E ALFABETIZAÇÃO
        Além da consciência sintática e fonológica uma terceira habilidade que tem sido
investigada em relação a sua contribuição com a alfabetização é a consciência morfológica.
         A consciência morfológica diz respeito à reflexão e manipulação intencional da
estrutura morfológica da língua (Carlisle, 2000). Dessa forma, a consciência morfológica se
refere à reflexão sobre o processo de formação das palavras. A investigação sobre o
desenvolvimento da consciência morfológica tem incidido sobre a sensibilidade da criança aos
processos de derivação lexical (morfologia derivacional) ou aos processos de flexão das
palavras    (morfologia flexional) de forma separada. De fato Deacon & Bryant (2005)
mostraram que as crianças reagem de forma diferente a estes dois tipos de morfema.
        Na morfologia derivacional, investiga-se a habilidade para a manipulação do acréscimo
de prefixos e/ou sufixos na formação de palavras, ou ainda, na decomposição de palavras
derivadas em palavras primitivas. De particular importância aqui é a criança entender que apesar
de possíveis extensões de sentido (Laroca 2005), em geral, as palavras derivadas mantêm sua
relação semântica e a grafia das palavras que a originaram.
        A morfologia flexional investiga a sensibilidade às flexões de gênero e de número dos
substantivos e adjetivos e as flexões de modo-tempo e número-pessoa dos verbos. Neste caso,
informações semânticas e sintáticas interagem. Existem regras claras para grafar as flexões. Por
exemplo, no caso da palavra “cobrisse”, que é escrita com “ss” e não “c” pois se trata de um
morfema que indica o tempo condicional.
        Uma série de estudos que visavam explorar a relação entre a consciência morfológica e
a alfabetização demonstram que a consciência Morfológica está associada ao desempenho na
leitura de palavras isoladas e na compreensão de leitura (Carlisle, 1995, 2000; Carlisle &
Fleming, 2003; Deacon & Kirby, 2004; Nagy, Berninger & Abbot, 2006), e também ao
desempenho da escrita (Carlisle, 1988; 1996; Deacon & Bryant, 2005; Nunes, Bindman &
Bryant, 1997).
        Os estudos citados foram realizados em crianças de língua inglesa. A argumentação
principal para explicar a relação encontrada entre o processamento morfológico e a
alfabetização no inglês diz respeito à natureza da ortografia inglesa. O princípio alfabético é o
de que letras devem ser mapeadas perfeitamente aos sons das palavras, mas as línguas
alfabéticas variam quando ao grau de correspondência entre as letras e os sons da fala. No inglês
essas relações são mais opacas do que em ortografias como o português ou espanhol. Muitas das
irregularidades encontradas no inglês podem ser explicadas pela estrutura morfológica das
palavras. Por isso o processamento das palavras ao nível do morfema pode ajudar as crianças a
ler e escrever.
        No entanto, não é só no inglês que tem se observado um efeito facilitador da estrutura
morfológica no desenvolvimento da leitura. No francês, Colé, Marec-Breton, Royer e Gombert
(2003) investigaram o papel da consciência morfológica na leitura e encontraram resultados
semelhantes aos estudos de língua inglesa. Embora o francês seja uma língua mais regular que o
inglês ainda assim, em muitos casos, sobre tudo no caso das flexões, há muita ambigüidade. È
possível que em línguas com ortografias mais regulares como o português ou o espanhol o
mesmo fenômeno não ocorra.
        Alguma evidência de que o processamento morfológico influencia a escrita no
português foi encontrada por Mota (1996). Em um estudo com crianças de segunda a quarta
série, a autora mostrou que a partir da segunda série as crianças são capazes de utilizar regras
gramaticais para decidir a grafia de palavras flexionadas. Em um outro estudo, Mota & cols.
(2000) mostraram que adolescentes com baixa escolaridade demonstravam a capacidade de
processar os morfemas das palavras. Mota & cols (2002) também observaram que as crianças de
primeira série com os melhores escores nos testes de Consciência Morfológica eram as crianças
que escreviam melhor pseudo-palavras com ortografia ambígua (ex., “muge”-“mugidor”).
        Um problema metodológico que vem sendo levantado quando se estuda Consciência
Morfológica é até que ponto a consciência morfológica contribui de forma independente da
consciência fonológica para aquisição da leitura. Palavras morfologicamente semelhantes são
também fonologicamente semelhantes e portanto é possível que a contribuição encontrada em
estudos como de Carlisle (2000), que não controlou para o efeito da Consciência Fonológica,
seja parte de uma habilidade metalingüística geral e não específica.
        Para   investigar   se   a   Consciência    Morfológica        contribui   para   a   leitura
independentemente da Consciência Fonológica, Deacon & Kirby (2004) realizaram um estudo
longitudinal que durou quatro anos. Os autores investigando a morfologia flexional mostraram
que a Consciência Morfológica contribui para os escores de leitura em todas as tarefas
apresentadas (leitura de palavras simples, pseudo-palavras e compreensão da leitura)
independente da contribuição da Consciência Fonológica. Resultados semelhantes foram
encontrados por Naggy, Abbot & Berninger (2006).
        Em conclusão, como no caso a consciência sintática mais estudos precisam ser
realizados para investigar a relação da consciência morfológica e a leitura e escrita no
português. Sendo o português uma língua com correspondências letra e som transparentes é de
fundamental importância que essa relação seja estudada independentemente da contribuição a
consciência fonológica.


        CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS


        Este artigo descreve alguns estudos que mostram que tanto a consciência fonológica, a
consciência sintática e a consciência morfológica contribuem para o aprendizado da leitura e da
escrita em línguas alfabéticas. Ao contrário o que acontece no caso da consiência fonológica
que foi investigada no português por diversos autores (Cardoso-Martins, 1995; Capovilla &
Capovilla, 1997, Guimarães, 2003; Mota & Guaraldo, 2002), menos se sabe a respeito da
consciência sintática e morfológica. Estudos futuros devem retificar esse problema.
        O mesmo tipo de argumento é válido para os estudos sobre as implicações pedagógicas
do conhecimento gerado sobre a relação entre consciência metalingüística e alfabetização. Os
trabalhos de intervenção feitos sobre a     consciência fonológica mostram que este tipo de
intervenção ajuda crianças com dificuldade de aprendizagem a aprender a ler escrever (Bradley
& Bryant, 1985; Capovila & Capovilla, 1997 entre outros). No entanto, até onde pudemos
revisar, nenhum estudo de intervenção envolvendo a consciência sintática e morfológica foi
feito.


         BIBLIOGRAFIA:


BRADLEY, L. & BRYANT, P. (1985). Children´s reading problem. Oxford: Basil Blackwells.
CARDOSO-MARTINS, C. Consciência fonológica e alfabetização. Petrópolis: Vozes, 1995.
CAPOVILLA & CAPOVILLA (1997). O desenolvimento da consciência fonológica durante a
alfabetização. Temas sobre o Desenvolvimento, v. 35, n. 6, pp15-21.
CARLISLE, J. (1988). Knowledge of derivational morphology and spelling ability in fourth,
six, and eight graders. Applied Psycholinguistics, 9, pp. 247-266.
CARLISLE, J. (1995). Morphological awareness and early reading achievement. Em L.
Feldman (org.) Morphological aspects of language processing. Hillsdale: Lawrence Erlbaum
Associates.
CARLISLE, J. (1996). An exploratory study of morphological errors in children`s written
stories. Reading and Writing: An Interdisciplinary Journal, 8, pp.61-72.
CARLISLE, J. (2000). Awareness of the structure and meaning of morphologically complex
words: impact on reading. Reading and Writing: an Interdisciplinary Journal, 12,p.169-190.
CARLISLE, J. & FLEMING, J. (2003). Lexical processing of morphologically complex words
in the elementary years). Scientific Studies of Reading,7(3), pp. 239-253.
COLÉ, MAREC-BRETON, ROYER & GOMBERT (2003). Morphologie des mots et
apprentissage de la lecture. Reeducation Orthophonic, 213, p. 57-60.
CORREA, J. (2004). A avaliação da consciência sintática na criança: uma análise metodológica.
Psicologia: Teoria e Pesquisa, 20 (1), pp. 69-75.
DEACON, S. & BRYANT, P. (2005). What young children do and do not know about the
spelling of inflections and derivations. Developmental Science, 8(6), pp. 583-594.
DEACON, S. & KIRBY, J. (2004). Morphological Awareness: Just “more phonological”? the
roles of morphological and phonological awareness in reading development. Applied
Psycholinguistics, 25, p. 223-238.
FERREIRO, E. (1985). Reflexões sobre a alfabetização. 2. Ed. São Paulo: Cortez.
GOMBERT, J. (1992). Metalinguistic Development. Hertfordshire: Harverster Whesheaf.
GOMBERT, J. (2003). Atividades metalingüística e aquisição da leitura. Em Maluf (org).
Metalinguagem e Aquisição da escrita. São Paulo: Casa do Psicólogo.
GOSWAMI, U. & BRYANT, P. (1990). Phonological Skills and Learning to Read. London:
Lawrence Erlbaun Associates.
GUIMARÃES, S. R. (2003). Dificuldades no desenvolvimento da lecto-escrita: o papel das
habilidades metalingüísticas. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 19 (1), pp.33-45.
LAROCA, M. (2005). Manual de morfologia do português. Campinas: Pontes; Juiz de Fora:
Editora da UFJF.
MOTA, M. (1996). Children´s role of grammatical rules in spelling. Tese de doutorado não
publicada, departamento de Psicologia Experimental, Universidade de Oxford, Inglaterra.
MOTA, M, ANDRADE, C., HENRIQUE, D, MACEDO, S., ATALAIA, K., STEPHAN, F.,
FERREIRA, D. (2002). Conciência Sintática e desenvolvimento Ortográfico (trabalho
completo). Em: Encontros Psicopedagógicos, anais do IV Seminário de Psicopedagogia da
UERJ, v., pp.35 – 39. Rio de Janeiro: Curso de Especialização em Psicopedagogia da UERJ.
MOTA, M & GUARALDO, C. Consciência Fonológica e Alfabetização: Teoria, Investigação e
Implicações Pedagógicas. Encontros Psicopedagógicos - anais do IV seminário do Instituto de
psicologia da UERJ, pp 39-46, Rio de Janeiro, 2002.
NAGY, W., BERNINGER, V. & ABBOT, R. (2006). Contributions of morphology beyond
phonology to literacy outcome of upper elementary and middle-school students. Journal of
Educational Psychology, 98(1), pp.134-147.
NUNES, T,. BINDMAN, M. & BRYANT, P. (1997). Morphological strategies: developmental
stages and processes. Developmental Psychology, 33(4), p. 637-649.
READ, C. Children’s Creative Spelling. Londres: Routledge & Kegan Paul, 1986.
REGO, L. & BRYANT, P. (1993). The connections between phonological, syntactic and
semantic skills and children’s reading and spelling. European Journal of psychology, 3, pp 235-
246.
PLAZA, M. & COHEN, H. (2003). The interaction between phonological processing, syntactic
awareness, and naming speed in the reading and spelling performance of first-grade children.
Brain and Cognition, 53, pp. 257-292.
REGO, L. & BRYANT, P. (1993). The connections between phonological, syntactic and
semantic skills and children’s reading and spelling. European Journal of psychology, 3, pp 235-
246.
REGO, L. (1995). Diferenças individuais na aprendizagem inicial da leitura: papel
desempenhado por fatores metalingüísticos. Psicologia: teoria e pesquisa,11(1), pp. 51-60.
REGO, L. & BUARQUE, L. (1997). Consciência sintática, consciência fonológica e aquisição
de regras ortográficas. Psicologia: Reflexão e Crítica, 10(2), pp. 199-217.
SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. (Coleção
Linguagem e Educação).
SOARES, M. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educação e
Sociedade, 81, Campinas, Dezembro 2002.
TUNMER, W. The role of language prediction skills in beginning reading. New Zealand
Journal of Educational Studies, v. 25, n. 2, pp. 95-112, 1990.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Introdução à didáctica do português
Introdução à didáctica do portuguêsIntrodução à didáctica do português
Introdução à didáctica do portuguêsascotas
 
Síntese dos conceitos básicos da didáctica do português cátia e inês
Síntese dos conceitos básicos da didáctica do português cátia e inêsSíntese dos conceitos básicos da didáctica do português cátia e inês
Síntese dos conceitos básicos da didáctica do português cátia e inês'Ines Tavares
 
O processo de construção da escrita no 1º ano do ensino
O processo de construção da escrita no 1º ano do ensinoO processo de construção da escrita no 1º ano do ensino
O processo de construção da escrita no 1º ano do ensinoGeisa Vieira
 
Alfabetização e letramento repensando a prática de ensino da língua
Alfabetização e letramento repensando a prática de ensino da línguaAlfabetização e letramento repensando a prática de ensino da língua
Alfabetização e letramento repensando a prática de ensino da línguaGraça Barros
 
Gêneros do discurso o que os pcns dizem e o que a prática escolar revela
Gêneros do discurso o que os pcns dizem e o que a prática escolar revelaGêneros do discurso o que os pcns dizem e o que a prática escolar revela
Gêneros do discurso o que os pcns dizem e o que a prática escolar revelaFrancimeire Cesario
 
Leitura e producao textual fmb
Leitura e producao textual fmbLeitura e producao textual fmb
Leitura e producao textual fmbWellington Alves
 
Fundamentos teoricos e metodologicos da alfabetização e do letramento
Fundamentos teoricos e metodologicos da alfabetização e do letramentoFundamentos teoricos e metodologicos da alfabetização e do letramento
Fundamentos teoricos e metodologicos da alfabetização e do letramentoSusanne Messias
 
Rojo como alfabetizar letrando
Rojo   como alfabetizar letrandoRojo   como alfabetizar letrando
Rojo como alfabetizar letrandoadridaleffi121212
 
LIBRAS AULA 5: Tradutor Intérprete de Libras
LIBRAS AULA 5: Tradutor Intérprete de LibrasLIBRAS AULA 5: Tradutor Intérprete de Libras
LIBRAS AULA 5: Tradutor Intérprete de Librasprofamiriamnavarro
 
Os papeis-do-interprete-na-sala-de-aula-inclusiva
Os papeis-do-interprete-na-sala-de-aula-inclusivaOs papeis-do-interprete-na-sala-de-aula-inclusiva
Os papeis-do-interprete-na-sala-de-aula-inclusivaThemeni Caroline
 
A importancia do letramento
A importancia do letramentoA importancia do letramento
A importancia do letramentoSimone Everton
 
A importância do letramento
A importância do letramentoA importância do letramento
A importância do letramentoCristina Rigolo
 
Entrevista com silvana serrani
Entrevista com silvana serraniEntrevista com silvana serrani
Entrevista com silvana serraniKelly Cris
 
O ensino da língua portuguesa 1ª aula 04
O ensino da língua portuguesa 1ª aula 04O ensino da língua portuguesa 1ª aula 04
O ensino da língua portuguesa 1ª aula 04Lygia Souza
 
Fundamentos metodologia língua portuguesa
Fundamentos metodologia língua portuguesaFundamentos metodologia língua portuguesa
Fundamentos metodologia língua portuguesaGlacemi Loch
 
PCNs de Língua Portuguesa
PCNs de Língua PortuguesaPCNs de Língua Portuguesa
PCNs de Língua PortuguesaEvaí Oliveira
 

Mais procurados (20)

Introdução à didáctica do português
Introdução à didáctica do portuguêsIntrodução à didáctica do português
Introdução à didáctica do português
 
Expressao e compreensao oral
Expressao e compreensao oralExpressao e compreensao oral
Expressao e compreensao oral
 
Síntese dos conceitos básicos da didáctica do português cátia e inês
Síntese dos conceitos básicos da didáctica do português cátia e inêsSíntese dos conceitos básicos da didáctica do português cátia e inês
Síntese dos conceitos básicos da didáctica do português cátia e inês
 
O processo de construção da escrita no 1º ano do ensino
O processo de construção da escrita no 1º ano do ensinoO processo de construção da escrita no 1º ano do ensino
O processo de construção da escrita no 1º ano do ensino
 
Alfabetizacao livro
Alfabetizacao livroAlfabetizacao livro
Alfabetizacao livro
 
Alfabetização e letramento repensando a prática de ensino da língua
Alfabetização e letramento repensando a prática de ensino da línguaAlfabetização e letramento repensando a prática de ensino da língua
Alfabetização e letramento repensando a prática de ensino da língua
 
Gêneros do discurso o que os pcns dizem e o que a prática escolar revela
Gêneros do discurso o que os pcns dizem e o que a prática escolar revelaGêneros do discurso o que os pcns dizem e o que a prática escolar revela
Gêneros do discurso o que os pcns dizem e o que a prática escolar revela
 
Apresentação intérprete educacional
Apresentação intérprete educacionalApresentação intérprete educacional
Apresentação intérprete educacional
 
Leitura e producao textual fmb
Leitura e producao textual fmbLeitura e producao textual fmb
Leitura e producao textual fmb
 
Fundamentos teoricos e metodologicos da alfabetização e do letramento
Fundamentos teoricos e metodologicos da alfabetização e do letramentoFundamentos teoricos e metodologicos da alfabetização e do letramento
Fundamentos teoricos e metodologicos da alfabetização e do letramento
 
Rojo como alfabetizar letrando
Rojo   como alfabetizar letrandoRojo   como alfabetizar letrando
Rojo como alfabetizar letrando
 
LIBRAS AULA 5: Tradutor Intérprete de Libras
LIBRAS AULA 5: Tradutor Intérprete de LibrasLIBRAS AULA 5: Tradutor Intérprete de Libras
LIBRAS AULA 5: Tradutor Intérprete de Libras
 
Os papeis-do-interprete-na-sala-de-aula-inclusiva
Os papeis-do-interprete-na-sala-de-aula-inclusivaOs papeis-do-interprete-na-sala-de-aula-inclusiva
Os papeis-do-interprete-na-sala-de-aula-inclusiva
 
A importancia do letramento
A importancia do letramentoA importancia do letramento
A importancia do letramento
 
A importância do letramento
A importância do letramentoA importância do letramento
A importância do letramento
 
Entrevista com silvana serrani
Entrevista com silvana serraniEntrevista com silvana serrani
Entrevista com silvana serrani
 
O ensino da língua portuguesa 1ª aula 04
O ensino da língua portuguesa 1ª aula 04O ensino da língua portuguesa 1ª aula 04
O ensino da língua portuguesa 1ª aula 04
 
Fundamentos metodologia língua portuguesa
Fundamentos metodologia língua portuguesaFundamentos metodologia língua portuguesa
Fundamentos metodologia língua portuguesa
 
PCNs de Língua Portuguesa
PCNs de Língua PortuguesaPCNs de Língua Portuguesa
PCNs de Língua Portuguesa
 
Vygotsky peb 1
Vygotsky peb 1Vygotsky peb 1
Vygotsky peb 1
 

Semelhante a O papel-das-habilidades-metalinguisticas-na-alfabetização

Aprendizagem da leitura e da escrita
Aprendizagem da leitura e da escrita  Aprendizagem da leitura e da escrita
Aprendizagem da leitura e da escrita angelafreire
 
Dificuldade de aprendizagem na escrita em crianças de escola pública oriundos...
Dificuldade de aprendizagem na escrita em crianças de escola pública oriundos...Dificuldade de aprendizagem na escrita em crianças de escola pública oriundos...
Dificuldade de aprendizagem na escrita em crianças de escola pública oriundos...oficinadeaprendizagemace
 
Alfabetização e letramento
Alfabetização e letramentoAlfabetização e letramento
Alfabetização e letramentoHelena Zanotto
 
Letramento e alfabetização
Letramento e alfabetizaçãoLetramento e alfabetização
Letramento e alfabetizaçãoSamaramara88
 
PNAIC - Conceitos importantes UNIDADE 7
PNAIC - Conceitos importantes UNIDADE 7PNAIC - Conceitos importantes UNIDADE 7
PNAIC - Conceitos importantes UNIDADE 7ElieneDias
 
Aquino consciência fonológica na educação infantil
Aquino   consciência fonológica na educação infantilAquino   consciência fonológica na educação infantil
Aquino consciência fonológica na educação infantiladridaleffi121212
 
Programa de Treino Da Consciencia Fonologica.pdf
Programa de Treino Da Consciencia Fonologica.pdfPrograma de Treino Da Consciencia Fonologica.pdf
Programa de Treino Da Consciencia Fonologica.pdfCoordenaoFundamental13
 
Programa de Treino da Consciência Fonológica .pdf
Programa de Treino da Consciência Fonológica .pdfPrograma de Treino da Consciência Fonológica .pdf
Programa de Treino da Consciência Fonológica .pdfRaul Gonçalves
 
Promover a-literacia-vol-i-4-a-6-anos
Promover a-literacia-vol-i-4-a-6-anosPromover a-literacia-vol-i-4-a-6-anos
Promover a-literacia-vol-i-4-a-6-anosCarla Ganço
 
Letramentos na educação bilingue para surdos
Letramentos na educação bilingue para surdosLetramentos na educação bilingue para surdos
Letramentos na educação bilingue para surdosNilda de Oliveira Campos
 
TRABALHANDO A SINTAXE A PARTIR DA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO: “DIÁLOGO LINGUA ...
TRABALHANDO A SINTAXE A PARTIR DA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO: “DIÁLOGO LINGUA ...TRABALHANDO A SINTAXE A PARTIR DA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO: “DIÁLOGO LINGUA ...
TRABALHANDO A SINTAXE A PARTIR DA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO: “DIÁLOGO LINGUA ...ivanil39
 
Letramento e competência comunicativa a aprendizagem da escrita
Letramento e competência comunicativa a aprendizagem da escritaLetramento e competência comunicativa a aprendizagem da escrita
Letramento e competência comunicativa a aprendizagem da escritaDouglas Marcos
 
Portal.mec.gov.br seb arquivos_pdf_ensfund_alfbsem
Portal.mec.gov.br seb arquivos_pdf_ensfund_alfbsemPortal.mec.gov.br seb arquivos_pdf_ensfund_alfbsem
Portal.mec.gov.br seb arquivos_pdf_ensfund_alfbsemfco judecy alves
 
Psicologia cognitiva
Psicologia cognitivaPsicologia cognitiva
Psicologia cognitivaangelafreire
 
Se e 13avaliarleitura
Se e 13avaliarleituraSe e 13avaliarleitura
Se e 13avaliarleituraJoana Peixoto
 

Semelhante a O papel-das-habilidades-metalinguisticas-na-alfabetização (20)

Aprendizagem da leitura e da escrita
Aprendizagem da leitura e da escrita  Aprendizagem da leitura e da escrita
Aprendizagem da leitura e da escrita
 
Ufpb lm
Ufpb lmUfpb lm
Ufpb lm
 
Dificuldade de aprendizagem na escrita em crianças de escola pública oriundos...
Dificuldade de aprendizagem na escrita em crianças de escola pública oriundos...Dificuldade de aprendizagem na escrita em crianças de escola pública oriundos...
Dificuldade de aprendizagem na escrita em crianças de escola pública oriundos...
 
Alfabetização e letramento
Alfabetização e letramentoAlfabetização e letramento
Alfabetização e letramento
 
Letramento e alfabetização
Letramento e alfabetizaçãoLetramento e alfabetização
Letramento e alfabetização
 
PNAIC - Conceitos importantes UNIDADE 7
PNAIC - Conceitos importantes UNIDADE 7PNAIC - Conceitos importantes UNIDADE 7
PNAIC - Conceitos importantes UNIDADE 7
 
Aquino consciência fonológica na educação infantil
Aquino   consciência fonológica na educação infantilAquino   consciência fonológica na educação infantil
Aquino consciência fonológica na educação infantil
 
Programa de Treino Da Consciencia Fonologica.pdf
Programa de Treino Da Consciencia Fonologica.pdfPrograma de Treino Da Consciencia Fonologica.pdf
Programa de Treino Da Consciencia Fonologica.pdf
 
Programa de Treino da Consciência Fonológica .pdf
Programa de Treino da Consciência Fonológica .pdfPrograma de Treino da Consciência Fonológica .pdf
Programa de Treino da Consciência Fonológica .pdf
 
Monografia Mª Clara Pedagogia 2012
Monografia Mª Clara Pedagogia 2012Monografia Mª Clara Pedagogia 2012
Monografia Mª Clara Pedagogia 2012
 
Promover a-literacia-vol-i-4-a-6-anos
Promover a-literacia-vol-i-4-a-6-anosPromover a-literacia-vol-i-4-a-6-anos
Promover a-literacia-vol-i-4-a-6-anos
 
Prevenção iliteracia
Prevenção iliteraciaPrevenção iliteracia
Prevenção iliteracia
 
promover-a-literacia-
promover-a-literacia-promover-a-literacia-
promover-a-literacia-
 
O alfabeto em movimento
O alfabeto em movimentoO alfabeto em movimento
O alfabeto em movimento
 
Letramentos na educação bilingue para surdos
Letramentos na educação bilingue para surdosLetramentos na educação bilingue para surdos
Letramentos na educação bilingue para surdos
 
TRABALHANDO A SINTAXE A PARTIR DA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO: “DIÁLOGO LINGUA ...
TRABALHANDO A SINTAXE A PARTIR DA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO: “DIÁLOGO LINGUA ...TRABALHANDO A SINTAXE A PARTIR DA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO: “DIÁLOGO LINGUA ...
TRABALHANDO A SINTAXE A PARTIR DA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO: “DIÁLOGO LINGUA ...
 
Letramento e competência comunicativa a aprendizagem da escrita
Letramento e competência comunicativa a aprendizagem da escritaLetramento e competência comunicativa a aprendizagem da escrita
Letramento e competência comunicativa a aprendizagem da escrita
 
Portal.mec.gov.br seb arquivos_pdf_ensfund_alfbsem
Portal.mec.gov.br seb arquivos_pdf_ensfund_alfbsemPortal.mec.gov.br seb arquivos_pdf_ensfund_alfbsem
Portal.mec.gov.br seb arquivos_pdf_ensfund_alfbsem
 
Psicologia cognitiva
Psicologia cognitivaPsicologia cognitiva
Psicologia cognitiva
 
Se e 13avaliarleitura
Se e 13avaliarleituraSe e 13avaliarleitura
Se e 13avaliarleitura
 

O papel-das-habilidades-metalinguisticas-na-alfabetização

  • 1. O PAPEL DAS HABILIDADES METALINGÜÍSTICAS NA ALFABETIZAÇÃO Márcia Mota * Stella Mansur** Átila Calzavara** Luciana Aníbal** Simone Aparecida de Lima** Junia Cotta** Daniela Mota** RESUMO: Nos últimos 30 anos o desenvolvimento das habilidades metalingüísticas têm sido identificado como importante fator para o sucesso alfabetização. Dentre as habilidades metalingüísticas três são consideradas preditivas do sucesso na aquisição da leitura e escrita: a consciência sintática, a fonológica e a morfológica. Das três a menos estuda é a consciência morfológica Este artigo discute como estas três habilidades podem contribuir par a leitura e escrita no português. Palavras chave: linguagem, desenvolvimento metalingüístico, alfabetização Abstract: In the last 30 years metalinguistic abilities development has been indentified asan important factor for literacy achievement. Among the metalinguistic abilitiesstudied three are considered as predictors of reading and writing acquisition: phonological awareness, syntactic awareness and morphological awareness. This study discusses how these three abilities can contribute to learn to read and spell in Portuguese. Key-words: language, metalinguistic development, literacy. * Professora do Departamento de Psicologia da UFJF **Graduandas do Curso de Psicologia a UFJF
  • 2. HABILIDADES METALINGÜÍSTICAS E ALFABETIZAÇÃO Tfouni (1988) distingue dois termos envolvidos no processo da aquisição a leitura e da escrita: Alfabetização e Letramento: “Enquanto a alfabetização ocupa-se da aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de um sistema escrito por uma sociedade” (Tfouni, 1988 apud Soares, 2002, P.3). A alfabetização compreende a aprendizagem da leitura e escrita, e é um importante objeto do conhecimento humano. A criança que não aprende a ler e escrever, desde cedo fica excluída do sistema escolar e posteriormente tem suas possibilidades de entrada no mercado de trabalho, limitadas. No entanto, tem se argumentado que a mera aprendizagem do código escrito, ou alfabetização, sem que o aprendiz se torne letrado não permite que este indivíduo se insira verdadeiramente em uma sociedade letrada como a nossa (Soares, 2002). Assim, discussões que permearam o ensino da língua escrita na década de 80 e 90 tenderam a desvalorizar o papel da alfabetização e dissociá-lo do processo de letramento. Nossa posição é que este tipo de abordagem pouco contribui para a melhoria do ensino da língua escrita e precisa ser revista. Soares (1998, 2005) nos lembra que “o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e escrita, de forma que o indivíduo se torne ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado” (Soares 2005, P.47). O domínio da alfabetização acontece de forma gradual. O sistema de representações fonológicas e ortográficas da língua é construída de forma dinâmica pelo aprendiz (Ferreiro, 1985; Read, 1986. Entender os processos de aquisição da alfabetização é importante para que possamos pensar em práticas pedagógicas mais eficazes que possam prevenir os problemas escolares, e em última análise possam alfabetizar letrando. Nas últimas três décadas a atenção dos pesquisadores interessados na alfabetização se voltou para o papel das habilidades metalingüísticas na alfabetização. Consciência metalingüística pode ser definida como a cognição sobre a linguagem e a auto-regulação das atividades psicolingüísticas. Isso implica que o sujeito reflita sobre a linguagem como um objeto independente do significado que veicula; e também que o sujeito manipule intencionalmente as estrutura da linguagem (Correa, 2004). Gombert (2003) e Gombert e Demont (2004) defendem que algum grau de consciência metalingüística é necessário para que se possa aprender a ler e a escrever, no entanto a habilidade verdadeiramente metalingüística dependeria de aprendizagens explícitas,
  • 3. principalmente da aprendizagem da leitura e da escrita, mais freqüentemente de natureza escolar. Vários estudos mostraram que as capacidades metalingüísticas se instalam paralelamente à aprendizagem da leitura e escrita. De fato, para que a criança aprenda tarefas lingüísticas formais, é preciso que ela desenvolva uma consciência explícita das estruturas lingüísticas, para que assim possam manipulá-las intencionalmente. Dentre as habilidades metalingüísticas três são identificadas como facilitadoras da alfabetização: a consciência fonológica, a consciência sintática e a consciência morfológica. CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E ALFABETIZAÇÃO A consciência fonológica é a capacidade de refletir e manipular os sons que compõem as palavras (Cardoso-Martins, 1995). Ela ajuda na alfabetização, pois facilita a aquisição das correspondências letra-som, que são utilizadas na decodificação, e que assim são necessárias à aquisição do princípio alfabético. A decodificação facilita o reconhecimento de palavras que por sua vez facilita o processo de compreensão do texto (Tunmer, 1990; Rego, 1995). O papel facilitador da consciência fonológica na aprendizagem da leitura e da escrita vem sendo confirmado por numerosas pesquisas realizadas com indivíduos de diversas idades, diversos níveis de instrução e falantes de diferentes ortografias. (Goswami & Bryant, 1990, para uma revisão). A consciência fonológica e a escrita se desenvolvem paralelamente, a consciência fonológica contribuindo nos estágios iniciais do processo de alfabetização e por outro lado, a alfabetização levando ao processamento de aspectos fonológicos mais complexos como a análise fonêmica, que deriva do domínio da alfabetização. CONSCIÊNCIA SINTÁTICA E ALFABETIZAÇÃO A consciência sintática é a capacidade de refletir sobre os aspectos sintáticos das sentenças, e envolve o controle deliberado da aplicação dos aspectos sintático-semântico da língua, também chamada de informação contextual. Ajudaria na leitura e na escrita porque ao reconhecer e controlar deliberadamente tais aspectos, a criança usa estas informações contextuais como pistas, tanto na leitura para reconhecer as palavras no texto que não conseguem decifrar ou compreender, como na escrita. No caso da escrita as pistas contextuais parecem ajudar a criança a decidir sobre a grafia das palavras com ortografia ambígua ou com mesma origem semântica. Um exemplo, seria a de palavras como “conserto” e “concerto”. Estas palavras serão grafadas corretamente pela criança somente se esta usar as pistas contextuais (Rego & Buarque, 1997; Mota, 1996; Correa, 2005; Rego, 1995).
  • 4. Ao contrário do que acontece na consciência fonológica poucos estudos têm investigado o desenvolvimento da consciência sintática e sua relação com a alfabetização. Rego & Bryant (1993) acharam uma relação causal entre a consciência sintática e a leitura de crianças inglesas em processo de alfabetização. Plaza & Cohen (2003) investigaram a contribuição da consciência fonológica, consciência sintática e velocidade de nomeação para a alfabetização de crianças em processo de alfabetização falantes do francês. O resultado deste estudo mostrou que as medidas de consciência sintática contribuíram de forma independente para as medias de leitura e escrita, mesmo depois de controlarem o efeito da consciência fonológica e velocidade e nomeação. No português o papel da consciência sintática na alfabetização precisa ser mais bem explorado. Em um estudo com crianças brasileiras, Rego (1995) identificou a consciência sintática como facilitador da leitura das crianças entrevistadas. Em um outro estudo, Guimarães (2003) investigou a relação entre consciência sintática e consciência fonológica e o desenvolvimento da leitura e escrita em crianças com dificuldades de aprendizagem cursando a terceira e quarta série do ensino fundamental. A autora não achou diferença entre a performance de crianças com dificuldades de alfabetização e os controles de mesma habilidade de escrita mas mais jovens em idade. No entanto, as crianças de terceira e quarta série sem dificuldades de leitura tiveram performance superior à das crianças com dificuldade e a das mais jovens. Estes resultados sugerem que embora não pareça haver um déficit específico da leitura das crianças com dificuldades de aprendizagem no que diz respeito à consciência sintática, a escolarização tem um papel no desenvolvimento desta habilidade. No entanto, Mota e cols. (em preparação) acharam correlações significativas e positivas entre as tarefas de consciência sintática realizadas por crianças de primeira e segunda série do ensino fundamental e medidas de leitura e escrita. Estes resultados apontam para importância de conhecermos melhor como a consciência sintática contribui para a alfabetização numa língua regular como o português. CONSCIÊNCIA MORFOLÓGICA E ALFABETIZAÇÃO Além da consciência sintática e fonológica uma terceira habilidade que tem sido investigada em relação a sua contribuição com a alfabetização é a consciência morfológica. A consciência morfológica diz respeito à reflexão e manipulação intencional da estrutura morfológica da língua (Carlisle, 2000). Dessa forma, a consciência morfológica se refere à reflexão sobre o processo de formação das palavras. A investigação sobre o desenvolvimento da consciência morfológica tem incidido sobre a sensibilidade da criança aos processos de derivação lexical (morfologia derivacional) ou aos processos de flexão das
  • 5. palavras (morfologia flexional) de forma separada. De fato Deacon & Bryant (2005) mostraram que as crianças reagem de forma diferente a estes dois tipos de morfema. Na morfologia derivacional, investiga-se a habilidade para a manipulação do acréscimo de prefixos e/ou sufixos na formação de palavras, ou ainda, na decomposição de palavras derivadas em palavras primitivas. De particular importância aqui é a criança entender que apesar de possíveis extensões de sentido (Laroca 2005), em geral, as palavras derivadas mantêm sua relação semântica e a grafia das palavras que a originaram. A morfologia flexional investiga a sensibilidade às flexões de gênero e de número dos substantivos e adjetivos e as flexões de modo-tempo e número-pessoa dos verbos. Neste caso, informações semânticas e sintáticas interagem. Existem regras claras para grafar as flexões. Por exemplo, no caso da palavra “cobrisse”, que é escrita com “ss” e não “c” pois se trata de um morfema que indica o tempo condicional. Uma série de estudos que visavam explorar a relação entre a consciência morfológica e a alfabetização demonstram que a consciência Morfológica está associada ao desempenho na leitura de palavras isoladas e na compreensão de leitura (Carlisle, 1995, 2000; Carlisle & Fleming, 2003; Deacon & Kirby, 2004; Nagy, Berninger & Abbot, 2006), e também ao desempenho da escrita (Carlisle, 1988; 1996; Deacon & Bryant, 2005; Nunes, Bindman & Bryant, 1997). Os estudos citados foram realizados em crianças de língua inglesa. A argumentação principal para explicar a relação encontrada entre o processamento morfológico e a alfabetização no inglês diz respeito à natureza da ortografia inglesa. O princípio alfabético é o de que letras devem ser mapeadas perfeitamente aos sons das palavras, mas as línguas alfabéticas variam quando ao grau de correspondência entre as letras e os sons da fala. No inglês essas relações são mais opacas do que em ortografias como o português ou espanhol. Muitas das irregularidades encontradas no inglês podem ser explicadas pela estrutura morfológica das palavras. Por isso o processamento das palavras ao nível do morfema pode ajudar as crianças a ler e escrever. No entanto, não é só no inglês que tem se observado um efeito facilitador da estrutura morfológica no desenvolvimento da leitura. No francês, Colé, Marec-Breton, Royer e Gombert (2003) investigaram o papel da consciência morfológica na leitura e encontraram resultados semelhantes aos estudos de língua inglesa. Embora o francês seja uma língua mais regular que o inglês ainda assim, em muitos casos, sobre tudo no caso das flexões, há muita ambigüidade. È possível que em línguas com ortografias mais regulares como o português ou o espanhol o mesmo fenômeno não ocorra. Alguma evidência de que o processamento morfológico influencia a escrita no português foi encontrada por Mota (1996). Em um estudo com crianças de segunda a quarta série, a autora mostrou que a partir da segunda série as crianças são capazes de utilizar regras
  • 6. gramaticais para decidir a grafia de palavras flexionadas. Em um outro estudo, Mota & cols. (2000) mostraram que adolescentes com baixa escolaridade demonstravam a capacidade de processar os morfemas das palavras. Mota & cols (2002) também observaram que as crianças de primeira série com os melhores escores nos testes de Consciência Morfológica eram as crianças que escreviam melhor pseudo-palavras com ortografia ambígua (ex., “muge”-“mugidor”). Um problema metodológico que vem sendo levantado quando se estuda Consciência Morfológica é até que ponto a consciência morfológica contribui de forma independente da consciência fonológica para aquisição da leitura. Palavras morfologicamente semelhantes são também fonologicamente semelhantes e portanto é possível que a contribuição encontrada em estudos como de Carlisle (2000), que não controlou para o efeito da Consciência Fonológica, seja parte de uma habilidade metalingüística geral e não específica. Para investigar se a Consciência Morfológica contribui para a leitura independentemente da Consciência Fonológica, Deacon & Kirby (2004) realizaram um estudo longitudinal que durou quatro anos. Os autores investigando a morfologia flexional mostraram que a Consciência Morfológica contribui para os escores de leitura em todas as tarefas apresentadas (leitura de palavras simples, pseudo-palavras e compreensão da leitura) independente da contribuição da Consciência Fonológica. Resultados semelhantes foram encontrados por Naggy, Abbot & Berninger (2006). Em conclusão, como no caso a consciência sintática mais estudos precisam ser realizados para investigar a relação da consciência morfológica e a leitura e escrita no português. Sendo o português uma língua com correspondências letra e som transparentes é de fundamental importância que essa relação seja estudada independentemente da contribuição a consciência fonológica. CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS Este artigo descreve alguns estudos que mostram que tanto a consciência fonológica, a consciência sintática e a consciência morfológica contribuem para o aprendizado da leitura e da escrita em línguas alfabéticas. Ao contrário o que acontece no caso da consiência fonológica que foi investigada no português por diversos autores (Cardoso-Martins, 1995; Capovilla & Capovilla, 1997, Guimarães, 2003; Mota & Guaraldo, 2002), menos se sabe a respeito da consciência sintática e morfológica. Estudos futuros devem retificar esse problema. O mesmo tipo de argumento é válido para os estudos sobre as implicações pedagógicas do conhecimento gerado sobre a relação entre consciência metalingüística e alfabetização. Os trabalhos de intervenção feitos sobre a consciência fonológica mostram que este tipo de intervenção ajuda crianças com dificuldade de aprendizagem a aprender a ler escrever (Bradley & Bryant, 1985; Capovila & Capovilla, 1997 entre outros). No entanto, até onde pudemos
  • 7. revisar, nenhum estudo de intervenção envolvendo a consciência sintática e morfológica foi feito. BIBLIOGRAFIA: BRADLEY, L. & BRYANT, P. (1985). Children´s reading problem. Oxford: Basil Blackwells. CARDOSO-MARTINS, C. Consciência fonológica e alfabetização. Petrópolis: Vozes, 1995. CAPOVILLA & CAPOVILLA (1997). O desenolvimento da consciência fonológica durante a alfabetização. Temas sobre o Desenvolvimento, v. 35, n. 6, pp15-21. CARLISLE, J. (1988). Knowledge of derivational morphology and spelling ability in fourth, six, and eight graders. Applied Psycholinguistics, 9, pp. 247-266. CARLISLE, J. (1995). Morphological awareness and early reading achievement. Em L. Feldman (org.) Morphological aspects of language processing. Hillsdale: Lawrence Erlbaum Associates. CARLISLE, J. (1996). An exploratory study of morphological errors in children`s written stories. Reading and Writing: An Interdisciplinary Journal, 8, pp.61-72. CARLISLE, J. (2000). Awareness of the structure and meaning of morphologically complex words: impact on reading. Reading and Writing: an Interdisciplinary Journal, 12,p.169-190. CARLISLE, J. & FLEMING, J. (2003). Lexical processing of morphologically complex words in the elementary years). Scientific Studies of Reading,7(3), pp. 239-253. COLÉ, MAREC-BRETON, ROYER & GOMBERT (2003). Morphologie des mots et apprentissage de la lecture. Reeducation Orthophonic, 213, p. 57-60. CORREA, J. (2004). A avaliação da consciência sintática na criança: uma análise metodológica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 20 (1), pp. 69-75. DEACON, S. & BRYANT, P. (2005). What young children do and do not know about the spelling of inflections and derivations. Developmental Science, 8(6), pp. 583-594. DEACON, S. & KIRBY, J. (2004). Morphological Awareness: Just “more phonological”? the roles of morphological and phonological awareness in reading development. Applied Psycholinguistics, 25, p. 223-238. FERREIRO, E. (1985). Reflexões sobre a alfabetização. 2. Ed. São Paulo: Cortez. GOMBERT, J. (1992). Metalinguistic Development. Hertfordshire: Harverster Whesheaf. GOMBERT, J. (2003). Atividades metalingüística e aquisição da leitura. Em Maluf (org). Metalinguagem e Aquisição da escrita. São Paulo: Casa do Psicólogo. GOSWAMI, U. & BRYANT, P. (1990). Phonological Skills and Learning to Read. London: Lawrence Erlbaun Associates. GUIMARÃES, S. R. (2003). Dificuldades no desenvolvimento da lecto-escrita: o papel das habilidades metalingüísticas. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 19 (1), pp.33-45.
  • 8. LAROCA, M. (2005). Manual de morfologia do português. Campinas: Pontes; Juiz de Fora: Editora da UFJF. MOTA, M. (1996). Children´s role of grammatical rules in spelling. Tese de doutorado não publicada, departamento de Psicologia Experimental, Universidade de Oxford, Inglaterra. MOTA, M, ANDRADE, C., HENRIQUE, D, MACEDO, S., ATALAIA, K., STEPHAN, F., FERREIRA, D. (2002). Conciência Sintática e desenvolvimento Ortográfico (trabalho completo). Em: Encontros Psicopedagógicos, anais do IV Seminário de Psicopedagogia da UERJ, v., pp.35 – 39. Rio de Janeiro: Curso de Especialização em Psicopedagogia da UERJ. MOTA, M & GUARALDO, C. Consciência Fonológica e Alfabetização: Teoria, Investigação e Implicações Pedagógicas. Encontros Psicopedagógicos - anais do IV seminário do Instituto de psicologia da UERJ, pp 39-46, Rio de Janeiro, 2002. NAGY, W., BERNINGER, V. & ABBOT, R. (2006). Contributions of morphology beyond phonology to literacy outcome of upper elementary and middle-school students. Journal of Educational Psychology, 98(1), pp.134-147. NUNES, T,. BINDMAN, M. & BRYANT, P. (1997). Morphological strategies: developmental stages and processes. Developmental Psychology, 33(4), p. 637-649. READ, C. Children’s Creative Spelling. Londres: Routledge & Kegan Paul, 1986. REGO, L. & BRYANT, P. (1993). The connections between phonological, syntactic and semantic skills and children’s reading and spelling. European Journal of psychology, 3, pp 235- 246. PLAZA, M. & COHEN, H. (2003). The interaction between phonological processing, syntactic awareness, and naming speed in the reading and spelling performance of first-grade children. Brain and Cognition, 53, pp. 257-292. REGO, L. & BRYANT, P. (1993). The connections between phonological, syntactic and semantic skills and children’s reading and spelling. European Journal of psychology, 3, pp 235- 246. REGO, L. (1995). Diferenças individuais na aprendizagem inicial da leitura: papel desempenhado por fatores metalingüísticos. Psicologia: teoria e pesquisa,11(1), pp. 51-60. REGO, L. & BUARQUE, L. (1997). Consciência sintática, consciência fonológica e aquisição de regras ortográficas. Psicologia: Reflexão e Crítica, 10(2), pp. 199-217. SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. (Coleção Linguagem e Educação). SOARES, M. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educação e Sociedade, 81, Campinas, Dezembro 2002. TUNMER, W. The role of language prediction skills in beginning reading. New Zealand Journal of Educational Studies, v. 25, n. 2, pp. 95-112, 1990.