CRESCIMENTO E ACÚMULO DE ÍONS DO MELOEIRO SUBMETIDO À SALINIDADE EM AMBIENTE PROTEGIDO COM ALTA TEMPERATURA
1. 1
1
Doutoranda em Engenharia Agrícola, UFC, e-mail: laiseferreiradearaujo@gmail.com;
2
Graduada em Agronomia, UFC, e-mail: lucianaf.delima@yahoo.com.br;
3
Doutorando em Engenharia Agrícola, UFC, e-mail: reivany_eduardo@hotmail.com;
4
Pesquisador Doutor, Embrapa CNPAT, e-mail: marlos.bezerra@embrapa.br.
CRESCIMENTO E ACÚMULO DE ÍONS DO MELOEIRO SUBMETIDO À SALINIDADE1
EM AMBIENTE PROTEGIDO COM ALTA TEMPERATURA2
3
LAÍSE FERREIRA DE ARAÚJO 1
; LUCIANA FERREIRA DE LIMA FARIAS 2
; REIVANY4
EDUARDO MORAIS LIMA 3
; MARLOS ALVES BEZERRA 4
5
6
INTRODUÇÃO7
A produção de várias culturas é reduzida severamente sob condições de estresse térmico e8
salino. A salinidade pode causar danos no crescimento das plantas por efeito osmótico, em que a9
elevada concentração salina diminui o potencial osmótico do solo, disponibilizando água e10
nutrientes em menores quantidades para a planta (ALVES et al., 2011).11
Dias et al. (2011) trabalhando com salinidade no meloeiro, comprovaram que apesar de12
irrigação com água salina não poder proporcionar uma produção elevada da cultura, o valor13
nutricional e a qualidade do fruto foram melhorados.14
Dessa forma, objetiva-se estudar as respostas de plantas de meloeiro ao aumento da15
temperatura com a salinidade, visando a avaliar os impactos dessas variáveis sobre a cultura, como16
também elucidar mecanismos de tolerância.17
18
MATERIAL E MÉTODOS19
O experimento foi realizado na Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza – CE) em20
ambiente protegido dentro de um mini-telado com a cultura do meloeiro amarelo (cultivar Goldex)21
entre os meses de fevereiro e março de 2016.22
A temperatura máxima no ambiente estudado chegou a quase 50°C, com uma média de23
32,2°C. Já a umidade teve uma média de 69,3% com radiação média fotossinteticamente ativa de24
170,8 µ fótons m-2
s-1
(figura 1).25
Foi feito o plantio das sementes de meloeiro em bandejas de polietileno, com posterior26
transplantio das plântulas nos vasos (10 dias). A olerícola foi cultivada em vasos de cinco litros27
utilizando cinco diferentes condutividades elétricas da água (CEa) (0,5; 1,5; 3,0, 4,5 e 6,0 dS m-1
).28
O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado com quatro repetições, em que cada29
repetição equivaleu a uma parcela.30
2. 2
31
(A) (B) (C)32
Figura 1 – Dados médios de temperatura (A), umidade relativa (B) e radiação fotossinteticamente33
ativa (C) de todo o período experimental (fevereiro e março de 2016), Fortaleza – CE.34
35
A irrigação foi realizada de acordo com 100% da evapotranspiração da cultura e o36
monitoramento da salinidade aos 28 DAT foi feito com um medidor direto de CE do solo (WET37
sensor) (figura 2).38
39
(A) (B)40
Figura 2 – Lâminas utilizadas durante todo o experimento de acordo com 100% da41
evapotranspiração da cultura (A) e a relação entre a condutividade elétrica do solo (CE solo) aos 2842
DAT em relação à condutividade elétrica da água (CEa) (B).43
44
As mensurações das variáveis de crescimento (área foliar, massa seca das folhas e dos ramos)45
e do acúmulo de íons nas folhas e nos ramos (cloreto e sódio) foram realizadas no final do46
experimento, com 28 DAT. O integrador de área foliar (LI-3100C, LI-COR) foi utilizado para47
mensuração da área foliar, enquanto para mensuração da massa seca, as partes das plantas foram48
armazenadas em sacos de papel e secas em estufa de circulação forçada de ar, a 70ºC, até atingir49
peso constante. Por sua vez, o teor de cloreto foi determinado por fotômetro de chama e o teor de50
sódio por espectrofotometria.51
20
25
30
35
40
45
50
1 4 7 10 13 16 19 22
Temperaturamédia(°C)
Hora do dia (h)
20
30
40
50
60
70
80
90
1 4 7 10 13 16 19 22
Umidademédia(%) Hora do dia (h)
0
100
200
300
400
500
600
700
800
1 4 7 10 13 16 19 22
PARmédia(µfótonsm-2s-1)
Hora do dia (h)
0
50
100
150
200
250
Lâminasutilizadas(mm)
Dias após o transplantio (DAT)
y = 1,8109x - 0,5486
R² = 0,9411
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
0 1,5 3 4,5 6
CEsolo(dSm-1)
CEa (dS m-1)
3. 3
A análise estatística foi feita com o aplicativo computacional ASSISTAT. Foi aplicado o teste52
F e o teste de regressão nos dados.53
54
RESULTADOS E DISCUSSÃO55
Em relação às variáveis de crescimento das plantas, foi visto efeito significativo com56
regressão linear para todas as variáveis estudadas aos 28 DAT (figura 3).57
58
59
Figura 3 – Área foliar (AF), massa seca dos ramos (MSRam) e das folhas (MSF) aos 28 DAT em60
plantas de meloeiro amarelo sob alta temperatura.61
62
Para cada incremento de 1,0 dS m-1
na CEa houve um decréscimo de 11,6%, 10,5% e63
11,7% para a AF, MSRam e MSF, respectivamente. Dias et al. (2011), trabalhando em ambiente64
protegido, em Mossoró (RN), com a concentração salina e fases de exposição à salinidade do65
meloeiro cultivado em substrato de fibra de coco, encontrou o valor de 6,9% de diminuição da66
massa seca total aos 30 DAT a cada incremento de 1,0 dS m-1
na CEa, valor abaixo do que foi visto67
neste experimento.68
Essa diminuição do crescimento das plantas com o aumento da salinidade pode ter sido69
atenuada pelo ambiente com altas temperaturas, chegando a máximas de aproximadamente 50°C, já70
que segundo Angelotti e Costa (2010), a faixa ótima ideal para um bom crescimento do meloeiro71
até a fase de floração é de 25°C a 35°C.72
AF = -141,54x + 1217,3
R² = 0,8926
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
0,0 1,5 3,0 4,5 6,0
AF(cm2)
CEa (dS m-1)
MSRam = -0,3293x + 3,1468
R² = 0,8915
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
0,0 1,5 3,0 4,5 6,0
MSRam(g)
CEa (dS m-1)
MSF = -0,4882x + 4,1734
R² = 0,8926
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
0,0 1,5 3,0 4,5 6,0
MSF(g)
CEa (dS m-1)
4. 4
Em relação aos íons nas folhas e nos ramos (figura 4), foi observado que houve uma queda73
de cloreto nas folhas no maior nível de salinidade. Já o cloreto nos ramos teve outro74
comportamento, aumentando seu acúmulo a medida que houve um incremento da CEa. O inverso75
aconteceu com o sódio. O acúmulo de cloreto nos órgãos foi maior que o de sódio, logo a toxidez76
desses íons reduziram o crescimento das plantas, em que foram observados sintomas de77
amarelecimento e queimas das pontas das folhas nos maiores níveis de salinidade, sinais bem78
específicos de toxidez desses íons nos órgãos fotossinteticamente ativos.79
80
81
82
Figura 4 – Teor de cloreto nas folhas (ClF), nos ramos (ClRam) e teor de sódio nas folhas (NaF) e83
nos ramos (NaRam) aos 28 DAT em plantas de meloeiro amarelo sob alta temperatura.84
85
Os efeitos do excesso de sais solúveis, como sódio e cloreto, se manifestam mediante86
pressão osmótica elevada e da ação tóxica de alguns elementos, que promovem distúrbios87
fisiológicos à planta, podendo ocasionar a sua morte (BLISS; PLATT-ALLOIA; THOMSON,88
1984). Uma vez absorvidos, os íons são transportados às folhas onde se acumulam em função do89
processo de transpiração. A magnitude dos danos depende do tempo, da concentração, da tolerância90
da cultura e do volume de água transpirado (CHAVES; FLEXAS; PINHEIRO, 2009).91
A maioria dos experimentos feitos com meloeiro foram conduzidos em temperaturas92
médias inferiores à 32°C, valor observado nesse experimento. Segundo Araújo et al. (2015),93
ClF = -5,3925x3 + 52,893x2 - 110,21x + 85,396
R² = 0,9592
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
0,0 1,5 3,0 4,5 6,0
ClF(mgg-1MS)
CEa (dS m-1)
ClRam = 2,3713x2 - 0,3873x + 81,222
R² = 0,9567
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
0,0 1,5 3,0 4,5 6,0
ClRam(mgg-1MS)
CEa (dS m-1)
NaF = 1,9116x2 + 4,8844x - 2,9478
R² = 0,8578
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0,0 1,5 3,0 4,5 6,0
NaF(mgg-1MS)
CEa (dS m-1)
NaRam = -2,2766x3 + 23,35x2 - 49,086x + 59,554
R² = 0,9862
0
20
40
60
80
100
120
140
0,0 1,5 3,0 4,5 6,0
NaRam(mgg-1MS)
CEa (dS m-1)
5. 5
trabalhando com uma média de temperatura do ar de 37°C e 40°C (temperaturas altas) no cultivo do94
meloeiro aos 30 DAT, para a área foliar e a massa fresca da parte aérea, houve um decréscimo de95
23,4% e 10,3%, respectivamente entre as temperaturas estudadas. Essa redução no crescimento das96
plantas sob temperatura mais elevada pode ser devido ao aumento na fotorrespiração das plantas97
C3. Isso mostra a importância do aumento da temperatura no crescimento do meloeiro, já que ela98
apresenta esse metabolismo C3.99
No cenário futuro de mudanças climáticas no semiárido a elevação da temperatura exigirá100
que o manejo da salinidade seja mais aperfeiçoado, já que são estresses que reduzem a101
produtividade do melão, variável de maior interesse para o produtor.102
103
CONCLUSÕES104
A salinidade afetou o crescimento das plantas de forma negativa, podendo ter sido atenuado105
pela alta temperatura do ambiente protegido. Houve um maior acúmulo de cloreto nas folhas nos106
maiores níveis salinos.107
108
REFERÊNCIAS109
ALVES, F.A.L.; FERREIRA-SILVA, S. L.; SILVEIRA, J.A.G.; PEREIRA, V.L.A. Efeito do Ca2+
110
externo no conteúdo de Na+
e K+
em cajueiros expostos a salinidade. Revista Agrária, v. 6, p. 602-111
608, 2011.112
ANGELOTTI, F.; COSTA, N. D. Sistema de produção do melão. Petrolina: Embrapa Semiárido113
(Documentos, 5), 2010.114
ARAÚJO, L.F.; BARROS, J. R. A.; BARROS, J. R.; BEZERRA, M. A.; ANGELOTTI, F.115
Desenvolvimento Inicial e Trocas Gasosas do Meloeiro sob Temperatura Elevada. In: IV Simpósio116
de Mudanças Climáticas e Desertificação no Semiárido Brasileiro, 2015, Petrolina -PE.117
Experiências e oportunidades para o desenvolvimento, 2015.118
BLISS E.D.; PLATT-ALLOIA, K.A.; THOMSON, W.W. Effects of salt on cell membranes of119
germinating seeds. California agriculture, v. 38, n. 10, p. 22, 1984.120
CHAVES, M.M.; FLEXAS, J.; PINHEIRO, C. Photosynthesis under drought and salt stress:121
regulation mechanisms from whole plant to cell. Annals of Botany, v. 103, p. 551-560, 2009.122
DIAS, N. da S.; OLIVEIRA, A. M. de; SOUSA NETO, O. N. de; BLANCO, F. F.; REBOUÇAS, J.123
R. L. Concentração salina e fases de exposição à salinidade do meloeiro cultivado em substrato de124
fibra de coco. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 33, n. 3, p. 915-921, 2011.125