A harmonia é descrita como uma sensação sutil de equilíbrio e bem-estar profundo, onde nos sentimos conectados ao mundo de forma descontraída e satisfeita. Ela traz uma tranquilidade no peito e uma confiança que preenche a existência, fazendo com que o tempo seja vivido plenamente sem esperas. A harmonia proporciona um fascínio pela vida através da própria companhia e do amor, não do delírio do amor.
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 131 - O Mundo e a Crença
São delicados e sutis os fios da harmonia
1. São delicados e sutis os fios da harmonia. Ao contrário da alegria, do entusiasmo, ela
é uma das sensações mais discretas. Sua voz é quase imperceptível, feito outra
qualidade de silêncio. Ela não é uma gargalhada, é aquele sorriso por dentro, uma
sensação gostosa de estar no lugar certo, na hora adequada. Feito um arco-íris depois
da tempestade, sua beleza é adornada pelo equilíbrio dentro do derramamento. É um
adestramento dos fantasmas internos. A possibilidade de aprimorar os pensamentos.
É quase como não pensar. Simplesmente, sentimos uma ligação profunda com tudo,
um denso bem-estar. Como se tivéssemos uma secreta intimidade com o mundo,
certa cumplicidade com o tempo. É como se observássemos descompromissados, ela
é uma descontração. Como se o coração batesse pelo corpo todo, mas sem
extremada euforia. Uma tranquilidade dilatada no peito, o olhar satisfeito, a mente
entendendo que já nem precisa entender o que é prosa ou poesia. E o mundo inteiro
cabendo num abraço. E uma firmeza na carícia, a maturidade que perdeu o cansaço,
uma confiança que preenche a existência. A harmonia é um contato profundo com a
experiência. E o tempo do dia não é mais composto por esperas, ele é vivido. E já não
se fala, palavras passeiam pela boca. E já não se escreve, as frases coreografam as
paisagens. E já não se ama, o amor vigora em nós. A harmonia tem fios muito
delicados e sua trama faz a ligação mais suave entre todas as urgências já sentidas. E
o chão do sonho é macio, e tudo parece estar alinhavado, numa ligação sem
sufocamentos. E a poesia não deseja mais ser nada, vira o afago de um momento. E
nas letras a textura de um veludo, como se ao correr pela página, os olhos pudessem
ser acariciados. E você tem todas as coisas sem precisar tomar posse delas. Você
ama o amor, não o delírio de estar apaixonado. Sinto a harmonia como uma espécie
de fascínio pela vida. É quase uma perda de outros apetites, porque se está tão
nutrido pela própria companhia. E a gente tem aquela vontade súbita de andar pela
noite: não apenas para olhar as estrelas, mas também para por elas sermos vistos.
Harmonia é como se fôssemos inundados pelo mar onde antes só havia um precipício.
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Marla de Queiroz