Rodrigues Alves Revolta Da Vacina Danilo, Tatiana,Cristiane , Virginia,Ja...
Tiago Melo. 1cv1
1. Aluno: Tiago Melo Gonçalves.
Série: 1º ano.
Turma: Comunicação Visual.
Sobrevoando a maravilhosa cidade cheia de praias, árvores e pessoas.
Como é bom estar de volta à Salvador. Agora sim, me considero uma pessoa
com uma boa vida, sem sofrimento e humilhação. Nunca pensei em pousar no
heliporto da minha casa com o meu helicóptero. Mariana, minha esposa, com
minha filha no colo me pergunta se eu me lembro do começo.
Ah, como eu poderia esquecer? Como dizia minha falecida avó: nunca
esquecemos do que sofremos. Não, eu não estou querendo me fazer de coitado,
mas eu sempre tive uma vida muito sofrida, o meu passado mesmo... Nasci
numa família em que as panelas criavam teia de aranha, difícil era ter comida
nelas. Vivia fazendo favor aos vizinhos em troca de um pão duro. Morava perto
de uma estrada esburacada e um dia ouvi uma grande zoada perto do meu
barraco, foi no dia 12, não sei que mês, tinha 16 anos, uma carreta que
transportava um doce de caramelo estava caída, virada, cheia de doce no chão
molhado da chuva. Corri, a fome batia, queria os caramelos. Mal sabia que
minha vida iria mudar a partir daquele dia.
Disputei quase a tapas os caramelos, segurava umas cinco caixas, e vários
na minha camisa furada e suja. Levei-os a minha casa, joguei no chão de terra
batida, não tinha mesa. Voltei correndo pra pegar mais, escondido e com medo
da polícia que já estava no local, catava algumas sobras do doce. No dia
seguinte minha mãe me obrigou a vender aqueles caramelos nos ônibus da
cidade. Quase retruquei, não queria vender, queria me deliciar com os doces,
mas obedeci. Logo vendia com frase pronta: “Um é vinte, dois é quarenta, e três
é cinqüenta”. Com o dinheiro do caramelo comecei a comprar mais doces e
vender mais e mais.
Sempre estudei, meu sonho era sair daquele sofrimento, estudava muito,
pela noite, pois pela manhã e a tarde vendia meus doces, minha escola era feia
e quase não tinha aula, mas sempre pegava os livros para ler e me deliciar com
a literatura, como é bom estudar! Foi na minha escola que conheci a Mariana,
morena alta e muito bonita. Eu com 18 anos na oitava série e ela com 17 na
mesma sala. Começamos a namorar, morávamos perto um do outro. Me
apaixonei, aquela era a mulher da minha vida!
Ela foi para a Capital do estado. Minha Mariana tinha que ir pra casa da tia
em Salvador e com minhas economias dos doces, eu fui também, junto com ela
e contra meus pais. Mas fui muito feliz, não estava acostumado com aquela
cidade, tantos carros e prédios grandes, tanta gente... Foi lá, que fiquei sabendo
de um vestibular para uma escola técnica, que hoje se chama IFBA, e fiz o
vestibular, tirei dez na redação. Já no primeiro ano na escola técnica, comecei a
estagiar numa fábrica, e ganhei meu primeiro salário certo. Até que fim, não
dependia mais da família da Mariana.
Formei-me e fui contratado pela empresa, trabalhava muito, sem descanso,
para mim não existia folga. Chegava cansado em casa. Fui promovido várias
vezes, mudei minha vida, e hoje sou sócio da fábrica de pneus que é uma
indústria famosa. Estava na Espanha numa reunião, aproveitei e levei a Mariana
para fazer uns exames lá, morrendo de saudades da minha filha, minha linda
Maria recém nascida que estava com minha mãe na nova casa que dei pra ela
em Salvador.
2. Agora pousando no heliporto, ansioso para ver minha filha e minha mãe.
Emociono-me e digo a Mariana:
- Como poderia esquecer do meu passado?