7. Era uma vez uma menina como outra menina qualquer. Só que tinha os cabelos loiros, loiros, loiros… tão loiros que até pareciam de ouro.
8. Pareciam… até ao dia em que o padrinho a levou a uma ourivesaria para lhe comprar uns brincos. O ourives ao apalpar os cabelos da menina, pediu licença, foi buscar a pedra-de-toque, raspou-a numa madeixa… Escancarou a boca e disse: - esta menina tem cabelo de ouro!
9. O padrinho já não lhe comprou os brincos. Para quê, se ela tinha tanto ouro… Os pais, os irmãos, os vizinhos resolveram festejar a novidade com um grande banquete de lagostas
15. Quando o pai, no fim do banquete, foi abrir a carteira, o dinheiro não chegava. Pagou-se o jantar com umas farripas da franja da menina. No dia seguinte compraram uma casa nova com um palmo de trança.
16. Dois dias depois, carros, mobílias, fatos com um palmo de outra trança. Felizmente que as tranças quase chegavam até ao chão.
17. Os pobres passaram a correr em fila, à sua porta, pedinchando um cabelinho para comprarem comida ou roupa para os proteger do frio. As colegas da escola não a largavam, pedindo-lhe uma onda ou um caracol do seu cabelo para comprarem uma pulseira ou um anel. E ela ia dando. Se a avozinha adoecia, os carros avariavam, a roupa já não servia, acertavam-lhe as pontas. Quando chegavam as férias, já era certo e sabido que levava uma tesourada para pagarem as viagens, os hotéis …
18. Um dia estava ela a pentear-se com o seu pente de plástico à janela, passou um príncipe. Gostou dela e dos seus cabelos de ouro. Ficou logo aprazado o casamento, com agrado geral. Só os pais ficaram tristes porque viam fugir-lhe a menina juntamente com o ouro.
19. O príncipe não se cansava de lhe adorar os cabelos. E de comprar cavalos construir palácios…
20. Como os cofres do estado estavam vazios… O príncipe mandava chamar o cabeleireiro com a navalha de prata para aparar os caracóis à menina, dizendo-lhe: - Agora a moda é o cabelo curto.
21. E um reino… já pensaram o que gasta um reino? - Faz-nos falta uma ponte! – reclamava uma cidade. - Uma estrada! – exigia uma vila. - Uma escola! – requeria uma aldeia. - Um estádio! - Um circo!
22. A navalha voltava, zás, zás, zás. Os médicos receitavam-lhe remédios, as bruxas, ervas para fazerem crescer e engrossar o cabelo. A navalha voltava, zás, zás, zás. Até que um dia, diante do espelho, a menina viu que estava careca. Então o príncipe deixou de a amar, os amigos deixaram de a procurar e o povo troçava.
23. Com um cabelo que encontrou caído na gola do casaco, a menina comprou uma cabeleira postiça e saiu, porta fora, sem que ninguém a reconhecesse.
24. Onde é que ela está? O que faz agora? Isso é outra história que vocês vão inventar.