1. quase tudo
Desde a infância no Espírito Santo, passando pela intimidade com o poder no tempo em
que seu marido Samuel Wainer era das pessoas mais chegadas a Getulio Vargas, no
começo dos anos 50, até os dias de hoje. Danuza conta tudo, ou melhor, Quase tudo,
que é o título do livro, com abertura e franqueza. Isto é, com alguma abertura e
franqueza. Ela dá a entender namoros, mas conta pouco sobre eles. Fala com bastante
carinho dos três ex-maridos, com quase queixa nenhuma deles, o que surpreende dado
que foram três pessoas de personalidade forte.
O segundo marido foi Antonio Maria, grande cronista da época. O terceiro foi Renato
Machado, jornalista hoje em dia na TV Globo. Danuza não fez a típica carreira de
mulher bonita. Foi manequim transitoriamente, não era sua meta fazer carreira nessa
profissão. Não buscou sucesso no society, não quis ser atriz. Foi deixando a vida correr,
aproveitando as oportunidades à medida que elas surgiam.
Ela conta a morte do filho Samuel Filho, Samuca, jornalista que perdeu a vida num
acidente de carro viajando para Macaé para cobrir para a TV Globo um acidente de
avião. A narração da dor que, mesmo passados 21 anos nunca foi embora, transforma
este no grande momento do livro.
Num momento mais leve ela descreve com muito humor os três tipos de esquerda que
existiam no Rio durante o governo militar: … a festiva, que era muito alienada; a heavy
metal, perto da qual não se podia fumar cigarro americano nem tomar uísque escocês,
nem dar esmola aos pobres, para não atrasar o processo, e a que eu freqüentava, que
fazia tudo para levar à loucura os militares, debochava, gargalhava, se divertia.
Ao terminar a leitura fica uma certa frustração com o que ela deixou de contar. Por
exemplo, a briga com Ricardo Amaral, que era seu patrão no Hippopotamus, quando ela
saiu. Na época foi fato sabido por muita gente e é uma pena que Danuza tenha optado
por omitir essa e talvez outras brigas.
Mas é um ótimo livro, bem escrito, contando de um ponto-de-vista bastante original 50
anos da história do Rio e do Brasil.