1. opinião
Está na hora da
disrupção no Brasil
F
iquei muito feliz quando estive em um workshop para website da rede social “Facebook” começa a oferecer a possibilidade
presidentes de grandes empresas no mês passado e de fazer transferências de dinheiro diretamente entre os membros,
ouvi um presidente falar que “no Brasil, faltam estraté- esta pode ser uma inovação disruptiva. Mas isto não melhora o de-
gias de inovação disruptiva”. sempenho das dimensões atuais (acesso ao capital, reputação, abran-
Eu vivo uma frustração muito grande com gência de acesso) em comparação com as soluções atuais (agência,
este assunto... bank-line etc.). Ao contrário, cria uma dimensão de performance (a
Neste ano se marca o 15º aniversario da publicação do livro possibilidade de transferir dinheiro sem intermediário).
mais importante sobre negócios – O dilema A segunda importante característica de
de inovação, de Clayton Christensen. Este li- uma inovação disruptiva é que ela utiliza
vro é fundamental para entender a inovação assimetrias de motivações para conseguir
e também a evolução de negócios de forma conquistar mercados novos. Se o Facebook
geral. O livro comprova, por meio de dados oferecer a possibilidade de transferência de
e pesquisas profundas, que a evolução de dinheiro entre os membros, inicialmen-
negócios acontece de uma forma muito dife- te os bancos não terão muito interesse em
rente que a intuitivamente entendida. atacar a oferta por duas razões:
Vamos associar a evolução de negócios 1. Mercado: Os tipos de clientes aproveitando
com o aumento de desempenho. Cada tipo este oferta provavelmente não são o mercado
Foto: Ricardo Benichio
de negócio tem suas dimensões de perfor- alvo para um banco (por falta de CPF limpo,
mance. Por exemplo, a de um banco pode emprego formal ou custo alto do banco);
ser: acesso ao capital, reputação, abrangência 2. Lucratividade: A alta estrutura de custo
de acesso etc. O livro comprovou que exis- do banco (que Facebook não terá) não faria
tem três maneiras de inovar, e que a tercei- Kip Garland é o fundador da o banco muito interessado em uma oferta
ra – inovação “disruptiva” (a qual é menos innovationsEEd - "learning to com valores tão baixos.
conhecida e mal-compreendida) é que cria a innovate" e escreve mensalmente Esta “assimetria” facilita inovação dis-
possibilidade de sobrevivência e crescimen- em Crn Brasil. ruptiva, pois competidores atuais não têm
to ao longo prazo. Estes três são:
kgarland@iseed.com.br motivação de atacar quando os piores clientes
1. Aumentar a performance por meio de me- (e não-clientes) estão com uma proposta fun-
lhorias incrementais (chamada, às vezes, de “inovação incremental”) damentalmente diferente que tem baixa lucratividade pelo ponto de
2. Aumentar a performance via “um grande salto”(chamada, às ve- vista do incumbente (no caso, o banco). Eles têm motivação de ataque
zes, de inovação “breakthrough ou radical”) quando seus melhores clientes têm ofertas que aumentam a perfor-
3. Mudar as dimensões de performance (o tipo de inovação que mance nas dimensões existentes e também aumentam a lucratividade.
Christensen chamou de inovação “disruptiva”) Os problemas do Brasil são amplamente entendendo por todo o
Existe uma enorme confusão entre a segunda e a terceira. Em mundo. O Brasil tem um custo alto e ainda falta infraestrutura, edu-
nosso exemplo do banco, o aumento de números de agências será cação, saúde e segurança. Se as estratégias de inovação disruptiva
uma inovação incremental, pois ajuda a dimensão de “abrangência foram empregadas teremos condições de ter um solto de progresso
de acesso” em uma forma incremental. Fazer transações financeiras em estes fatores importantes. Por ter uma confusão entre inovação
pela internet (o chamado “banking online”) é uma inovação “break- “radical o breakthrough” (que aumenta a performance atual) e ino-
through” ou “radical”, pois ele melhora a dimensão de performance vação disruptiva (que muda as dimensões) existe a falta de estraté-
de “abrangência de acesso” em uma forma não-incremental. Porem gias adequados para disrupção. Sem uma formatação deliberada e
a inovação “disuptiva” fundamentalmente muda a dimensão de especifica para disrupção o curso natural e de sustentar as dimen-
competição e não aumenta a performance atual. Se, por exemplo, a sões de performance atuais. Esta na hora para disrupção no Brasil.
48 fevereiro 2011 n www.crn.com.br