Este documento discute a proposta do governo da Bahia de construir uma ponte entre Salvador e Itaparica. O autor argumenta que (1) a ponte foi proposta inicialmente para aliviar o tráfego em uma rodovia, mas seu propósito mudou para promover o desenvolvimento regional, sem apresentar evidências de sua viabilidade técnica ou econômica, e (2) o foco apenas nessa ponte, em vez de um plano de desenvolvimento regional abrangente, não levará ao desenvolvimento otimizado do estado como um todo.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
Debate sobre o desenvolvimento da Bahia
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O VERDADEIRO E O FALSO DESENVOLVIMENTO DA BAHIA
Fernando Alcoforado*
Este texto é uma resposta ao artigo Você é contra o desenvolvimento? do economista
José Sergio Gabrielli, secretário do Planejamento do governo do estado da Bahia,
publicado no jornal A Tarde em 17 de julho próximo passado. O artigo do economista
Gabrielli é uma réplica a nosso artigo A ponte Salvador- Itaparica é inviável
economicamente, publicado no jornal A Tarde em 11/07/2013. Cabe observar que
analisamos o projeto da ponte Salvador- Itaparica como uma das soluções para o
estrangulamento atual do tráfego na BR-324 ao compararmos com a alternativa de
duplicação desta rodovia. Nossos cálculos demonstram que a duplicação da BR-324 é
mais econômica tornando inviável a ponte Salvador- Itaparica.
A tese defendida pelo governo do estado da Bahia sempre foi a de que a ponte Salvador-
Itaparica deveria ser implantada para desafogar a BR-324. Esta tese foi mudada para a
ponte ser utilizada como instrumento de desenvolvimento regional porque o governo do
estado deve ter constatado sua inviabilidade como solução rodoviária que comprovamos
em nosso artigo e quer implantá-la a todo o custo. Para justificar a implantação da ponte
Salvador- Itaparica, o economista Gabrielli defende a tese de que ela poderia integrar
Salvador ao sul do Recôncavo, Baixo Sul e oeste do Portal do Sertão. Ninguém contesta
esta tese. No entanto, não está comprovada sua viabilidade técnica, econômica e
financeira com a apresentação de dados irrefutáveis sobre os benefícios econômicos,
sociais e ambientais que o projeto da ponte traria para o desenvolvimento do sul do
Recôncavo, Baixo Sul e oeste do Portal do Sertão e para o próprio estado da Bahia.
Ressalte-se que estes benefícios econômicos, sociais e ambientais que o projeto da
ponte traria para o desenvolvimento do sul do Recôncavo, Baixo Sul e oeste do Portal
do Sertão e para o próprio estado da Bahia têm que ser superiores aos custos de
implantação da ponte e de mitigação dos impactos urbanos e ambientais dela resultantes
em Salvador, Itaparica e na Baia de Todos os Santos para justificar sua implantação.
Reza a boa prática de planejamento regional que a decisão a ser tomada por um governo
sério que baseia sua ação na racionalidade administrativa deveria ser precedida de
estudos preliminares sobre a integração de Salvador ao sul do Recôncavo, Baixo Sul e
oeste do Portal do Sertão a fim de avaliar seus impactos sobre a economia, o território, a
sociedade e o meio ambiente. Indo contra toda racionalidade administrativa, a decisão
foi tomada pelo governo da Bahia de implantar a ponte Salvador- Itaparica sem que
esses estudos preliminares fossem realizados.
Esta forma de promover o desenvolvimento do estado da Bahia é contestável também
porque sua abordagem não é sistêmica e não é estratégica. De acordo com a Teoria dos
Sistemas, a otimização das partes (integração de Salvador ao sul do Recôncavo, Baixo
Sul e oeste do Portal do Sertão) não leva necessariamente à otimização do todo (estado
da Bahia). Para haver a otimização do estado da Bahia do ponto de vista do
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desenvolvimento regional, seria preciso haver um plano de desenvolvimento regional
sistêmico e estratégico. Lamentavelmente, o governo da Bahia não possui um plano de
desenvolvimento regional que abranja todo o estado da Bahia. O foco das ações do
governo do estado da Bahia é pontual como o defendido pelo economista Gabrielli para
a integração de Salvador ao sul do Recôncavo, Baixo Sul e oeste do Portal do Sertão.
Esta forma de planejamento do desenvolvimento do estado da Bahia é contestável
porque o estado da Bahia tem outras prioridades como, por exemplo, promover
investimentos para a mitigação dos problemas da seca, sobretudo no semiárido, a
melhoria da precária infraestrutura existente nas áreas de educação, saúde, saneamento
básico e transporte e o combate à pobreza com a promoção do desenvolvimento
econômico de todas as suas regiões e não simplesmente com o programa Bolsa Família
como ocorre atualmente. Investir na ponte e não nessas prioridades é sinônimo de
malversação dos recursos públicos.
*Fernando Alcoforado, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, é professor universitário e consultor.