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 A
PARTICIPAÇÃO
NA SANTA
MISSA
 Aspectos Litúrgicos
e Teológicos
 Introdução
 A missa é o sacrifício de Ação de Graças por
excelência, o que nos permite unir a nossa ação de
graças à do Salvador, o Filho eterno do Pai; o fulcro
de toda a nossa vida cristã. A nossa vida espiritual
depende essencialmente da Eucaristia. Sem ela a fé
e a esperança esmorecem, a caridade esfria.
 Para uma análise mais substancial sobre a
Celebração Eucarística é indispensável voltarmos ao
Missal Romano, o livro oficial da Igreja para a
Eucaristia. Não há celebração correta da liturgia
sem o Missal, sem que o sacerdote e os demais
ministros se deixem guiar no exercício das funções
litúrgicas, pelos textos e normas nele contidas. A
estrutura da Celebração Eucarística está pré-fixada
e os textos são pré-definidos, embora pode haver
possibilidades de escolher entre um e outro,
conforme o caso, como é o caso dos prefácios.
 Observamos inicialmente que ao longo de toda a
Oração Eucarística e em todas as outras orações da
Missa o destinatário é sempre Deus. Na língua
portuguesa o pronome pelo qual nos dirigimos a
Deus em toda a Missa é o Vós, a quem dirigimos
através das palavras litúrgicas. A Santa Missa é a
celebração comunitária do banquete entre Deus e
cada pessoa. Mas quase todas as orações que o
sacerdote, “in persona Christi”, dirige a Deus são
feitas na primeira pessoa do plural “nós”, e
implicam assim os demais, a comunidade, todos os
fiéis (cf. J. RATZINGER, Obras Completas, Madrid, BAC, 2013, p. 8-9).
 Na Santa Missa a palavra é dirigida ao Pai, não
propriamente a Cristo, que, no seu lugar, está
representado simbolicamente pelo sacerdote e,
desse modo, está presente como porta-voz de todos
os fiéis e que utiliza o sacramento como seu
instrumento.
 A Eucaristia desde cedo estava
unida ao domingo, enquanto dia
da Ressurreição. A forma desta
celebração foi sendo concebida no
âmbito do domingo à medida que
ela ia se diferenciando da esfera da
páscoa judaica para ser inserida no
contexto da Ressurreição. A
Eucaristia constituía-se a Festa da
Ressurreição. Portanto, a Igreja,
desde o seu início compreendeu
que deveria celebrar a Eucaristia
no dia da Ressurreição. Assim
sendo, desde os primeiros tempos
da vida da Igreja, os cristãos se
reúnem para celebrar o Mistério
Pascal de Cristo, na Eucaristia.
 Cristo Jesus instituiu o sacramento da Eucaristia
no contexto de uma refeição, certamente no
contexto da refeição da páscoa judaica. Com o
passar do tempo buscou-se a combinação da
Fração do Pão com a Liturgia da Palavra, cujo
modelo se encontra na sinagoga, pois as Palavras
com que o Senhor instituiu a Eucaristia formam
a grande oração de Ação de Graças e de bênção
(berakha), proveniente das tradições sinagogais.
O essencial da história da Última Ceia não era
comer o cordeiro, nem comer os outros pratos
tradicionais, mas a grande oração de louvor, que
agora tinha como centro as palavras com que
Jesus instituiu a Eucaristia. Com aquelas
palavras, Ele transformou a sua morte no dom de
si mesmo. Por isso, reconheceu-se que o
essencial da Última Ceia era a eucaristia, o que
hoje chamamos de Oração Eucarística.
 Os paramentos litúrgicos do sacerdote
 Na Sacristia o celebrante usa os paramentos
próprios para a celebração. Como no
Sacramento do Batismo temos um "intercâmbio
de vestes", o que constitui uma nova comunhão
existencial com Cristo, assim também no
sacerdócio existe este intercâmbio: na
administração dos Sacramentos, o sacerdote age e
fala agora "in persona Christi". Nos sagrados
mistérios ele não representa a si mesmo e não fala
expressando-se a si mesmo, mas fala pelo Outro,
por Cristo. Por ocasião da ordenação sacerdotal,
cada sacerdote se coloca a disposição do Senhor.
Ele põe-se à disposição daquele que "morreu por
todos, para que, os que vivem, não vivam mais
para si mesmos...” (2Cor 5,15). O sacerdote coloca-
se à disposição de Cristo para estar
verdadeiramente para todos.
 Ao entrar na Igreja, os fiéis e a equipe
de celebração fazem a genuflexão ou a
inclinação. Entram com o porte
erguido na liberdade e consciência,
mas deparam, em seguida, com a
grandeza do mistério que vão celebrar.
Esta genuflexão ou inclinação é um
gesto de humildade. Dobram-se
diante de Deus, para mostrar a
pequenez interior de quem olha para
Deus. Inclinação ou genuflexão
reduzem a visibilidade do corpo,
traduzindo a diminuição interior. Faz
bem pensar que, ao inclinar-se, ou ao
ajoelhar-se, o corpo manifesta
visivelmente o que o espírito sente
diante de Deus: a atitude de adoração,
veneração, submissão.
 O celebrante chegando ao altar, beija-
o. O altar é um lugar elevado, feito de
madeira, de pedra ou de metal para
sobre ele apresentar-se a Deus Pai o
memorial do Corpo e Sangue de seu
Filho. Na tradição eucarística, o altar,
além de significar o lugar do sacrifício,
sinaliza a mesa da refeição, porque a
Eucaristia foi instituída sob essa forma.
Recorda também o túmulo de Jesus, por
isto, nele se incrustam, normalmente,
relíquias de mártires, associando ao
memorial da morte de Jesus e a morte
daqueles que deram a vida por ele. A
pedra do altar nos faz lembrar o próprio
Cristo; a pedra que os construtores
rejeitaram, mas tornou-se pedra
angular (cf. Sl 118,22; Mt 21,42).
 Início da celebração: o sinal da cruz.
 O sinal da cruz é um gesto que envolve as partes nobres do
corpo: cabeça, coração e ombros. É a haste vertical da cruz.
Une o céu com a terra. O céu é simbolizado pela pessoa do
Pai, a terra pela do Filho que viveu nela. Ligamos
fisicamente com a mão os dois reinos celeste e terrestre,
enquanto dizemos: “Em nome do Pai e do Filho”. O nome
do Pai é pronunciado quando a mão toca a testa, a cabeça,
simbolicamente centro do pensamento, das ideias, dos
planos, dos projetos. É do Pai que surgiu o maravilhoso
desígnio e plano salvífico para a humanidade. Ao ter a mão
na cabeça, vale a pena pensar, meditar o que nos ensina São
Paulo a respeito do Pai: “Ele nos abençoou com toda bênção
espiritual nos céus. Ele nos escolheu antes da fundação do
mundo para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu
olhar e no amor. Ele nos predestinou a sermos para ele
filhos adotivos. Ele nos encheu de graça...” (Ef 1,3-9).
 Ao tocar o coração, pronunciamos o
nome do Filho. Tudo o que pensamos
do Pai, realiza-se no e pelo Filho. Nele
fomos amados, predestinados,
chamados. O nosso coração deve estar
repleto de gratidão. Por isso a mão
detém-se um instante sobre o coração,
sede simbólica dos afetos, dos amores,
dos sonhos, dos desejos. Tudo
envolvido pelo amor maior do Filho.
Está plantada a haste vertical da cruz.
 O gesto continua, as palavras
prosseguem. Ao nomear o Espírito
Santo, a mão vai de ombro a ombro,
alargando e horizontalizando o
movimento, em um expressivo
simbolismo de abraçar a humanidade.
Arma-se o madeiro horizontal da cruz.
 Colocado no início da celebração,
tal gesto recebe um significado
especial. Não se trata diretamente
de uma saudação à Trindade. É
um gesto de abertura da ação
litúrgica. Com isto, o sacerdote
anuncia em nome de quem a
assembleia está reunida: Em
nome do Pai e do Filho e do
Espírito. Por isto a comunidade,
consciente disso, responde:
“Amém”. A partir desse instante,
está constituída a assembleia
litúrgica: quem nos reúne em
comunhão de fé e de amor para
ouvir a Palavra e celebrar a
Eucaristia é o Deus da comunhão:
O Pai, o Filho e o Espírito Santo.
 O celebrante ao saudar
a assembleia recorre às
palavras de São Paulo:
“A graça de nosso
Senhor Jesus Cristo, o
amor do Pai e a
comunhão do Espírito
Santo estejam
convosco” (2Cor 13,13).
E a assembleia
responde: “Bendito seja
Deus que nos reuniu no
amor de Cristo” (IGMR
50). Esta saudação e a
resposta do povo
exprimem o mistério da
Igreja reunida.
 O Apóstolo São Paulo menciona esta
suprema fonte trinitária, quando deseja
aos seus cristãos: "A graça do Senhor Jesus
Cristo, o amor de Deus e a comunhão do
Espírito Santo estejam com todos vós!"
(2Cor 13,13). Estas palavras evidenciam
como o dom gratuito do amor do Pai em
Jesus Cristo se concretizam e se exprimem
na comunhão realizada pelo Espírito
Santo. Temos então um estreito
paralelismo: "A graça do Senhor Jesus
Cristo... o amor de Deus... e a comunhão
do Espírito Santo". A "comunhão" é
apresentada como dom específico do
Espírito, fruto do amor doado por Deus Pai
e da graça oferecida pelo Senhor Jesus (cf.
BENTO PP XVI, Audiência Geral, 29 de março de 2006).
 Poder-se-ia afirmar que a graça, o amor e a comunhão,
referidos respectivamente a Cristo, ao Pai e ao Espírito
Santo, são aspectos diversos da única ação divina para a
nossa salvação, ação que cria a Igreja e faz a Igreja como
disse São Cipriano, no século III "um povo reunido pela
unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (S. CIPRIANO, De
Orat. Dom., 23: PL 4, 536).
 A comunhão como fruto do Espírito Santo é alimentada pelo
Pão eucarístico (cf. 1Cor 10,16-17) e exprime-se nas relações
fraternas, numa espécie de antecipação do mundo futuro.
Na Eucaristia, Jesus nos alimenta, nos une a Si, com o Pai, o
Espírito Santo e entre nós, e esta rede de unidade que abraça
o mundo é uma antecipação do mundo futuro neste nosso
tempo. Precisamente assim, sendo antecipação do mundo
futuro, a comunhão é um dom que nos faz sair da nossa
solidão, dos fechamento em nós mesmos, e nos torna
partícipes do amor que nos une a Deus e entre nós (cf. BENTO
PP XVI, Audiência Geral, 29 de março de 2006).
 O sacerdote é o portador da graça e da paz para os
outros. A palavra grega χαρις (charis), provém da
palavra alegria e significa ser feliz, mas também indica
beleza, satisfação, simpatia. É uma saudação e ao
mesmo tempo um convite para que possa crescer em
nós a alegria, que deve nos proporcionar a paz. Por traz
da palavra ‘paz’ a Igreja primitiva percebia o mistério
da Eucaristia, e por isso ‘paz’ passou muito cedo a
constituir um dos nomes do sacramento eucarístico.
Na verdade é neste sacramento que Deus vem a nós e
nos liberta, de tal modo que, mesmo quando somos
condenáveis a seus olhos, Ele nos toma nos braços e se
dá a nós. E ao mesmo tempo que nos conduz na
própria morada do seu amor, onde nos alimenta com o
mesmo pão e nos confia uns aos outros como irmãos. A
Eucaristia, é a paz que vem do Senhor (cf. J. RATZINGER,
Deus próximo de nós, Coimbra, Tenacitas, 2005, p. 135-136).
 O sacerdote pode ainda
escolher outras saudações,
conforme consta no Missal
Romano, tais como: “O Senhor
esteja convosco”. Ou ainda: “O
Senhor, que encaminha os
nossos corações para o amor
de Deus e a constância de
Cristo, esteja convosco”. E
também: “Irmãos eleitos
segundo a presciência de Deus
Pai, pela santificação do
Espírito para obedecer a Jesus
Cristo e participar da benção
da aspersão do seu sangue,
graça e paz vos sejam
concedidas abundantemente”
(IGMR n. 124).
 Ato Penitencial
 Quem somos nós que celebramos a
Eucaristia? Somos pecadores, necessitamos
do perdão de Deus. É um momento em que os
fiéis devem reconhecer que são pecadores e
necessitam da purificação (Lc 18,9-14) e, com
isto, são convidados a preparar-se para ouvir a
Palavra de Deus e celebrar dignamente a
Eucaristia.
 Quando o sacerdote diz: “Irmãos e irmãs,
reconheçamos as nossas culpas para
celebrarmos dignamente os santos mistérios”,
cada participante da Missa é convidado a fazer
um momento de recolhimento, preenchendo-
o com um ato interior de arrependimento, ou
seja, com uma tomada de consciência da
própria condição de pecador.
 Em seguida, diz:
 – O Confesso a Deus todo-poderoso e a
vós, irmãos e irmãs, que pequei muitas
vezes por pensamentos e palavras, atos
e omissões, por minha culpa, por
minha tão grande culpa. E peço à
Virgem Maria, aos anjos e santos e a
vós, irmãos e irmãs, que rogueis por
mim a Deus, nosso Senhor.
 Observemos que nesta fórmula todos,
inclusive o sacerdote, dentro de si,
cada um e todos juntos confessam
diante de Deus, e em presença dos
irmãos e das irmãs, ter pecado, ter
culpa, aliás, uma “grande culpa”. Nota-
se dois aspectos deste início da
Sagrada Liturgia.
 Por um lado fala-se no “eu”. “Eu” pequei; não confesso os
pecados dos outros, não confesso pecados anônimos de
uma coletividade, confesso com o meu “eu”; mas ao mesmo
tempo são todos os membros que com o seu “eu” dizem
“pequei”, isto é, toda a Igreja viva, nos seus membros vivos
diz isso: “Eu pequei”. Cada fiel confessa-se diante de Deus,
mas pede aos irmãos e às irmãs para que “rogueis por
mim”, isto é, procura, nesta confissão comum diante de
Deus, a reconciliação comum. O nosso pecado não afeta só
a nossa comunhão com Deus, mas com a Sua Igreja toda:
ele a fere, ele a macula, ele nos separa dela e especialmente
da mesa eucarística que ela realiza, o altar. Este aspecto da
comunhão é fortemente acentuado no Ato Penitencial.
Pede-se ainda a intercessão da Mãe de Deus e de todos os
santos. O que está em jogo não é só o perdão, mas a
comunhão restaurada com Deus, com aqueles que estão ao
meu redor, a quem posso olhar e dizer “e a vós, irmãos” (cf. J.
RATZINGER, Ser cristão na era neopagã, Campinas, Ecclesiae, 2015, p. 31).
 Mas este momento do Ato
Penitencial vem acompanhado de
um gesto, quando cada fiel diz:
“Por minha culpa, minha tão
grande culpa”, cujo fundamento
está em Lc 18,9-14, na Parábola
do fariseu e do publicano: bater
no peito. Um gesto onde nos
apontamos como pecadores, e
não os outros, permanece um
gesto significativo de oração.
Com este gesto nos recolhemos
para dentro de nós, para diante
de nossa porta, então,
justificadamente, pedirmos o
perdão de Deus, aos santos e
àqueles que nos rodeiam, para
com quem nos tornamos
culpados .
 Uma outra opção seria
os versículos
responsoriais,
conforme o Salmo 84,8:
 O Sacerdote diz:
“Tende compaixão de
nós, Senhor”.
 E os fiéis respondem:
“Porque somos
pecadores”.
 E o Sacerdote ainda diz:
“Manifestai, Senhor, a
vossa misericórdia”.
 E fiéis completam: “E
dai-nos a vossa
salvação”.
 O Ato Penitencial é concluído com a absolvição
geral dada pelo sacerdote: “Deus todo-
poderoso tenha compaixão de nós, perdoe os
nossos pecados e nos conduza à vida eterna”. É
uma oração que contém a certeza de que se a
nossa confissão foi sincera o Senhor nos aceita.
É a certeza do perdão que permite a franqueza
da confissão. E esta certeza de que Deus
perdoa, nos renova, faz parte essencial do
Evangelho.
 Essa conclusão, porém, “não possui a eficácia
do sacramento da penitência” (IGMR 52).
Precisamos sempre lembrar que a Eucaristia
não é destinada a perdoar pecados mortais.
Isso é próprio do sacramento da reconciliação.
É próprio da Eucaristia ser o sacramento
daqueles que estão na comunhão plena da
Igreja (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1395).
 É por isso que, desde os primórdios, a celebração
da Eucaristia é precedida de uma certa
capacidade de discernimento, conforme nos fala
o Apóstolo São Paulo: “Todo aquele que comer o
pão ou beber o cálice do Senhor indignamente,
sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a
sua própria condenação” (1Cor 1,27-29).
 Em seguida temos o Kyrie eleison (Senhor, tende
piedade de nós). É um canto em que os fiéis
aclamam o Senhor e imploram insistentemente
a sua misericórdia, deste modo: S. Senhor, tende
piedade de nós! R. Senhor, tende piedade de nós!
S. Cristo, tende piedade de nós! R. Cristo, tende
piedade de nós! S. Senhor, tende piedade de nós!
R. Senhor, tende piedade de nós! Pode-se
também usar a fórmula em grego que a liturgia
latina conservou: S. Kyrie, eleison. R. Kyrie,
eleison. S. Christe, eleison. R. Christe, eleison. S.
Kyrie, eleison. R. Kyrie, eleison.
 A expressão
Kyrios (Senhor), é
a tradução para o
grego da palavra
hebraica Adonai,
usada pelos
judeus para
referir-se a Deus,
em substituição
do nome santo
Iahweh. Mas este
mesmo título é,
posteriormente,
aplicado a Cristo
(cf. J. MACKENZIE,
Dicionário Bíblico, São
Paulo, Paulus, 1984, p.
862-864).
 Este momento conclusivo do Ato
Penitencial nos faz lembrar do
cego Bartimeu (cf. Mc 10,46-52).
Ele não é cego de nascença, mas
perdeu a vista: é o homem que
perdeu a luz e está ciente disso,
mas não perdeu a esperança, sabe
segurar a possibilidade deste
encontro com Jesus e confia-se a
Ele para ser curado. Na realidade,
ouvindo dizer que o Mestre passa
pela sua estrada, grita: “Jesus, filho
de Davi, tem piedade de mim!”
(Mc 10,47), e repete este pedido
vigorosamente (v. 48) E quando
Jesus o chama e lhe pergunta o que
quer, responde: “Mestre, que eu
veja!” (v. 51).
 Na liturgia o pedido de piedade a Deus,
vai além do simples pedido de perdão e
de ajuda, pois comporta o
reconhecimento prévio da grandeza e
do Senhorio de Deus, que é sempre
misericórdia e piedade. Isso abre
caminho para a íntima afinidade entre o
Kyrie e o Glória, que, como veremos,
também aclama Jesus com os títulos de
“Senhor”, e “Filho único de Deus Pai”.
Não foi um canto composto para a
liturgia eucarística. Fazia parte do
tesouro de hinos da Igreja primitiva
segundo o modelo dos hinos bíblicos, e
nele ressoa o entusiasmo religioso dos
primeiros séculos (cf. J. B. LIBÂNIO, Como
saborear a Celebração Eucarística, São Paulo, Paulus,
2005, p. 21).
 Hino de Louvor: Glória
 Trata-se de um hino antigo e venerável (cf. IGMR, n. 53). É
parte indispensável da liturgia da Missa. É recitado nas
Missas dominicais e em todas as festas e solenidades de
todos os tempos litúrgicos, deixando de ser cantado
originariamente apenas nos tempos do Advento e da
Quaresma:
 Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele
amados. Senhor Deus, Rei dos céus, Deus Pai todo-
poderoso: nós Vos louvamos, nós Vos bendizemos, nós Vos
adoramos, nós Vos glorificamos, nós Vos damos graças, por
vossa imensa glória. Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito,
Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai: Vós que
tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós; Vós que
tirais o pecado do mundo, acolhei a nossa súplica; Vós que
estais à direita do Pai, tende piedade de nós. Só Vós sois o
Santo; só Vós, o Senhor; só Vós, o Altíssimo, Jesus Cristo;
com o Espírito Santo na glória de Deus Pai. Amém.
 Este hino retoma, em suas primeiras palavras, o
canto dos anjos na noite de Natal: “Glória a
Deus nas alturas e paz na terra aos homens por
ele amados” (Lc 2,14). Em cada Eucaristia, o
Natal se faz presente.
 Às palavras dos anjos, desde o segundo século,
foram acrescentadas algumas aclamações: "Nós
te louvamos, te bendizemos, te adoramos, te
glorificamos, te damos graças pela tua imensa
glória"; e mais tarde, outras invocações:
"Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho do Pai,
que tiras o pecado do mundo...", até formular
um suave hino de louvor que foi cantado pela
primeira vez na Missa de Natal.
 O Glória ressalta a continuidade existente entre
o nascimento e a morte de Cristo, entre o Natal
e a Páscoa, aspectos inseparáveis do único e
mesmo mistério de salvação.
 São Lucas narra que a multidão angélica cantava: "Glória
a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele
amados" (Lc 2,14). Os anjos anunciam aos pastores que o
nascimento de Jesus é glória para Deus nas alturas; e paz
na terra aos homens. O Menino nascido em Belém é
glória e paz. A palavra glória, em grego δόξα (doxa),
indica o esplendor de Deus que suscita o louvor
agradecido das criaturas. São Paulo dirá: "o
conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face
de Cristo" (2Cor 4,6).
 A expressão "paz", em grego εἰρήνη (eirene), sintetiza a
plenitude dos dons messiânicos, isto é, a salvação que,
como anota sempre o Apóstolo São Paulo, se identifica
com o próprio Cristo: "Com efeito, Ele é a nossa paz" (Ef
2,14). Por fim, encontra-se a referência aos "homens por
Ele amados"; que também pode ser traduzida por "Seu
agrado", a expressão em grego Εὐδοκία (eudokia), esta
expressão originalmente significava "boa fama ou
julgamento" ou "aquele cuja fama ou julgamento é bom".
 O Evangelista São Lucas faz questão de frisar, na ocasião
do nascimento de Jesus que o Imperador César Augusto
havia ordenado um recenseamento: “Naqueles dias César
Augusto publicou um decreto ordenando o
recenseamento de todo o mundo” (cf. Lc 2,1). O
nascimento de Jesus, portanto, está ligado à grande
história universal, pois não é um acontecimento qualquer
perdido no tempo. Pela primeira vez, é registrada todo o
mundo conhecido. Mas, a partir do nascimento de Cristo
começa uma nova contagem do tempo: Antes de Cristo e
depois de Cristo. É significativo notar que no ano 27 a.C.,
o Senado romano havia conferido a César o título de
Augustus, em grego σεβαστός (sebastos) – o adorável,
sendo também chamado de salvador. Aplicado a Augusto,
tal título possui uma conotação divina: o imperador
suscitou uma mudança no mundo, introduziu um novo
tempo e caberia ao Imperador promover a paz (cf. R. A. DE
ASSUNÇÃO, O sacrifício da Palavra: A liturgia da Missa segundo Bento XVI. São
Paulo, Ecclesiae, 2016, p. 98-100).
 No Glória, em Jesus e por Jesus, louva-se o Pai a quem
o dirigimos primeiramente, com alguns de seus títulos:
Senhor Deus, Rei dos Céus, Deu Pai todo-poderoso. É
muito humano encher de títulos a quem respeitamos,
a quem estimamos, a quem julgamos importante.
Assim fazemos com Deus. Como todo gesto humano
simbólico, padece de ambiguidade. No mundo
aristocrático, os nobres reivindicam e exigem
rigorosamente que lhes sejam dados os títulos: reis,
príncipes, condes, barões..., com os respectivos
pronomes de tratamento. Em certos espaços civis e
eclesiásticos, constatamos o mesmo: juízes, políticos,
professores, profissionais liberais, monsenhores,
bispos, cardeais. São eles saudados com os títulos de
meritíssimo, excelência, doutor, eminência, santidade.
Então, recordar no Glória esses títulos de Deus coloca-
nos na dimensão de nossa pequenez diante da
majestade divina. Ele é realmente o Senhor Deus, Ele é
o Rei dos céus e o Deus Pai todo-poderoso.
 Concluindo os ritos introdutórios,
o celebrante diz “oremos”. É um
momento em que ele convida a
assembleia fazer, no íntimo do
coração, uma breve oração a Deus.
Temos um momento de silêncio
para comunicarmos com Deus;
manifestar a Ele os nossos
sentimentos, os desejos, que nos
ocupam e até mesmo nos
preocupam; nosso agradecimento
ou as nossas expectativas. É um
momento para que os fiéis possam
formular interiormente seus
pedidos. E então o presidente da
celebração recolhe todos esses
nossos anseios e os oferece na
oração do dia.
 Esta Oração do dia, ou Coleta, consiste numa
súplica coletiva a Deus Pai, por Cristo, no Espírito
Santo; e tem sempre três elementos: a invocação
dirigida a Deus, um pedido que se faz e a
finalidade do pedido. A comunidade confirma o
pedido dizendo: “Amém”. Esse “Amém” explicita a
participação falada e sentida de todos. O
sacerdote se coloca como o porta-voz dos fiéis.
Mas a função que a Oração da coleta cumpre vai
um pouco além: ela recolhe e transforma numa só
prece as intenções particulares.
 Vejamos um exemplo de Oração do dia: “Ó Deus,
atendei como pai às preces do vosso povo; dai-nos
a compreensão dos nossos deveres e a força de
cumpri-los. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo” (Missal
Romano, I semana do Tempo Comum).
 Liturgia da Palavra
 A partir da Liturgia da Palavra, a Celebração se desloca
para o “ambão”, enquanto lugar litúrgico onde é
proclamada a Palavra de Deus. A palavra “ambão”
(ἄμβων), tem origem grega “anabáino” (ἀναβαίνω), ou
seja, lugar de se elevar, subir para discursar sobre algo;
algo como “elevação”.
 No livro do Profeta Neemias é narrado que, depois do
retorno do exílio, para proclamar a Lei “o escriba
Esdras estava sobre um estrado de madeira,
construído para a ocasião” (Ne 8,1-6). Provavelmente
as decorações presentes nas sinagogas judias para a
leitura da Bíblia estejam na origem dos ambões nas
igrejas paleocristãs e no alto período medieval,
espécies de tribunas de mármore, uma ou duas, com
um ou dois degraus de escada e, às vezes, um
baldaquino, normalmente delimitados em um espaço
dentro da sala, destinado a leitores e cantores.
 Desde o século IV, os cristãos
tinham por costume usar uma
plataforma elevada durante a
missa para cantar ou ler a
Epístola, em geral, era lida uma
das Cartas de São Paulo e o
Evangelho. Alguns
historiadores acreditam que
essa plataforma deriva da que
os rabinos usavam para ler as
escrituras diante do povo.
Espiritualmente, ela é
inspirada no fato de que Jesus
“subiu à montanha, sentou-se
e seus discípulos se
aproximaram dele. Então
tomou a palavra e começou a
ensiná-los” (Mt 5,1-2).
 À medida que o rito litúrgico se
desenvolvia, passaram a ser colocados dois
ambões para distinguir entre a Epístola e o
Evangelho: o ambão da Epístola era
colocado ao lado sul do sacrário, enquanto
que o ambão do Evangelho ficava ao norte.
No século XIV começou um declive no uso
dos ambões, que perderam espaço para os
púlpitos. A palavra “púlpito” deriva do
latim ‘pulpĭtum’, que, originalmente,
designava uma espécie de palco. Nas
igrejas medievais, o púlpito se tornou uma
plataforma usada principalmente para a
pregação. O púlpito era colocado no
centro da nave principal, o lugar onde
ficava o povo. Sua posição era elevada para
que a voz do sacerdote chegasse mais
facilmente até os fiéis.
 A Introdução Geral ao
Missal Romano nos diz: “A
dignidade da Palavra de
Deus requer um lugar
condigno de onde possa ser
anunciada e para onde se
volte a atenção dos fiéis, no
momento da liturgia da
Palavra” (IGMR, 309). A
Igreja orienta que seja “uma
estrutura estável e não uma
simples estante móvel. Seja
colocado no espaço de
forma que os leitores
possam ser vistos e ouvidos
com facilidade” (IGMR,
309).
 A ordem que seguimos na Liturgia da Palavra
é uma herança sinagogal. A tradição israelita
já contemplava para o sabbat (sábado) a
leitura da Lei (os livros históricos, desde o
Livro do Gênesis até o Livro dos Macabeus) e
dos Profetas (de Isaías até Malaquias). O
culto israelita manteve-se fiel a esta tradição e
podemos encontrar testemunhos disso no
próprio Novo Testamento, quando Jesus
proclama um trecho do Livro do Profeta
Isaías na sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4,16-30).
 Portanto, os primeiros cristãos adotaram a
ordem da Sinagoga, acrescentando somente o
Evangelho como terceira leitura, inicialmente
um relato oral que, posteriormente, foi fixado
por escrito (cf. T. SCHNITZLER, Missa, mensagem de vida,
São Paulo, Paulinas, 1978, p. 130-134).
 O ato de ler para a comunidade a
Palavra assume beleza e
grandiosidade, devido a importância
do texto a ser lido: É a Palavra de Deus.
O leitor se situa num lugar mais
elevado, voltado para os fiéis, não só
por razões funcionais acústicas e
visuais, mas também simbólicas. A
Palavra de Deus vem do Alto. Altura
teologal e não física. Reflete sua
sublimidade. O leitor anuncia o título
do livro bíblico a ser lido e começa em
seguida a leitura do texto, sem dirigir
nenhuma saudação à comunidade.
Esta é reservada para a proclamação do
Evangelho a fim de mostrar a diferença
de importância entre as duas leituras
(cf. J. B. LIBÂNIO, Como saborear a Celebração
Eucarística, São Paulo, Paulus, 2005, p. 32-33).
 O leitor conclui recordando aos fiéis de
quem são as palavras lidas, ao dizer:
Palavra do Senhor. Senhor é a versão
portuguesa para o termo grego κύριος
(Kyrios) e o latino Dominus. A versão
grega do Antigo Testamento, chamada
Septuaginta, traduziu o nome de Deus
para Senhor; enquanto o Novo
Testamento o aplica a Jesus. No entanto,
quando unido a Deus, refere-se ao Pai de
Jesus, a primeira pessoa da Santíssima
Trindade. O fiel precisa prestar um
pouco de atenção para distinguir
quando, ao usar o título Senhor, dirige-
se a Deus Pai, como no final da leitura –
Palavra do Senhor –, ou a seu Filho Jesus,
como no “Senhor, tende piedade de nós”
(cf. J. B. LIBÂNIO, Como saborear a Celebração
Eucarística, São Paulo, Paulus, 2005, p. 34).
 Salmo Responsorial
 Depois da Primeira Leitura, ou nas
Missas dominicais entre a Primeira e a
Segunda Leituras, temos o Salmo
Responsorial. Especialmente no Livro
dos Salmos, encontramos as palavras
com as quais podemos nos dirigir ao
Senhor, levar a nossa vida, como seus
altos e baixo, o que nos possibilita um
colóquio com Ele. Nestes cânticos,
compenetram-se palavra e resposta; por
um lado, são tirados da Palavra de Deus,
mas, por outro, e simultaneamente, são
já a resposta do homem à referida
Palavra, resposta na qual a própria
Palavra se comunica e entra na nossa
vida (cf. BENTO PP XVI, Homilia no encerramento do
ano sacerdotal, 11 de junho de 2010).
 Em grego a expressão salmos ψαλμοί, (psalmói); e
psalmus, em latim, vêm do verbo psallo¸ que equivale
a pulsar, fazer vibrar as cordas do Saltério, um
instrumento musical semelhante a uma harpa (cf. J.
ALDAZÁBAL, Dicionário elementar de liturgia, São Paulo, Paulinas, 2004, p.
457).
 Isto sugere que os salmos foram compostos para
serem cantados. Ao cantar um salmo, unimos aos
orantes da Antiga Aliança, que rezavam cantando. Na
Liturgia da Palavra o salmo figura entre a Primeira e a
Segunda Leituras ou mesmo entre a Leitura única,
mais frequente do Antigo Testamento, e o Evangelho.
Sendo Jesus o novo Davi e os salmos a sua oração, são
eles, ao mesmo tempo, a oração típica dos dois
Testamentos: oração de Israel e oração de Cristo e da
Igreja nascente. Isso dá aos salmos um caráter de
ligação entre ambos. Dentro do Antigo Testamento, o
saltério é a ponte entre a Lei e os Profetas.
 Aclamação ao Evangelho
 Precede à leitura do Evangelho, uma aclamação. Excluindo o
período da quaresma, envolve o versículo do salmo com o
canto do aleluia, que é um termo de origem hebraica
"Halleluyah", formado pela junção de “Hallelu”, que significa
Louvar, mais “Yah” que significa Deus, Javé. Portanto Aleluia
é um elogio ao Deus, Javé.
 O canto do aleluia tem um toque pascal que se enfatiza no
Tempo Pascal, repetindo-o mais vezes, e permanece ao
longo do ano como uma ressonância da Páscoa em toda
celebração, exceto na Quaresma ou em celebrações de toque
penitencial ou de tristeza. É na Ressurreição do Senhor que
temos o verdadeiro fundamento da alegria festiva. E é na
Ressurreição que todas as palavras de Jesus encontram a sua
confirmação, o seu cumprimento. Portanto, na liturgia a
Igreja vê chegando o Cristo vivo que irá falar, que nos traz e
nos doa mais uma modalidade de sua presença.
 Nesta acolhida, neste júbilo tão festivo, nessa resposta
antecipada à Palavra que vem, a Igreja expressa a alegria dos
redimidos. Pode-se dizer que o Aleluia é um canto sem
palavras, onde expressa uma alegria que não precisa mais de
palavras, porque o termo “Aleluia” está acima de todas elas.
É o coração que se alegra sem palavras (cf. Sl 32,3).
 Antes da Proclamação do Evangelho, temos o momento da
incensação. Desde o século IV, costumeiramente, aos
domingos e nas grandes solenidades (cf. IGMR 119), utiliza
o incenso na Santa Missa e noutras celebrações especiais. O
incenso é uma resina aromática que é queimada em brasas,
símbolo da oração da Igreja (cf. Ap 5,8 e 8,3-5) que sobe à
presença de Deus: “Suba minha oração como incenso na tua
presença; a elevação das minhas mãos, como sacrifício
vespertino” (Sl 141,2). Queimar incenso é ato de adoração e
equivale à oferta de um sacrifício. O perfume nele
acrescenta um elemento jubiloso, alegre, de satisfação e de
beleza (cf. S. ROSSO, Dicionário de Liturgia, São Paulo, Paulus, 1992, p. 340).
 O incenso foi um dos presentes que os
magos do Oriente ofereceram ao Menino
Jesus, quando foram ao seu encontro e,
de joelhos, se puseram a adorá-lo (cf. Mt
2,1-12). Na Sagrada Escritura, fala-se da
tradição da oferta do incenso durante os
sacrifícios antigos (cf. Ex 30,1; Pr 27,9; Is
1,13). O incenso fazia parte da
composição aromática sagrada destinada
unicamente a Deus (cf. Ex 30,34ss) e se
transformou em gesto de adoração. Em
linhas gerais, é símbolo de culto prestado
a Deus e de adoração. No último livro do
Novo Testamento, o Apocalipse, o
Evangelista São João vê sete anjos que
estavam diante de Deus, com trombetas e
um turíbulo de ouro cheio de incenso:
são as orações dos santos (cf. Ap 8,3-4).
 Proclamação do Evangelho
 A liturgia da Palavra é concluída com
a leitura de uma perícope tirada de
um dos quatro evangelhos. Eles são,
entre todos os escritos do Antigo e do
Novo Testamento, os mais
importantes. O seu nome já indica:
Boa nova! Boa Mensagem! Mensagem
de salvação por excelência. Assim
como uma procissão, esperamos o
último que vem como o mais
importante, assim também na
sequência das leituras o evangelho é a
última, a mais relevante, visibilizando
a afirmação do Evangelista São
Mateus: “Assim, os últimos serão os
primeiros, e os primeiros serão os
últimos” (Mt 20,16).
 O termo “Evangelho” tem a sua origem no grego
εὐαγγέλιον (evangélion), e que significa “boa nova”,
tem uma longa história. No texto do Profeta Isaías,
este termo aparece como a voz que anuncia a alegria
de Deus, como voz que faz compreender que Deus
não se esqueceu do seu povo, que Deus está
presente (cf. Is 40,9). O próprio Jesus retomou as
palavras do Profeta Isaías em Nazaré, “falando deste
Evangelho” (Lc 4,18-19). Mas para entender o
significado desse termo é importante retomar o uso
da palavra no Império Romano, começando pelo
imperador Augusto. Aqui a expressão “evangelium”
indica uma palavra, uma mensagem que vem do
Imperador. Por conseguinte, a mensagem do
Imperador como tal traz o bem: é renovação do
mundo, é salvação. A mensagem imperial era tida
como uma mensagem de força e de poder; é uma
mensagem de salvação, de renovação e de saúde.
 Assim, esta palavra “Evangelho” pertence à
linguagem do imperador romano, visto como o
senhor do mundo e como o redentor, o salvador. As
mensagens que vinham do imperador chamavam-se
“Evangelho”, independentemente do fato de o seu
conteúdo. O que vem do imperador, e esta era a
ideia, é uma mensagem redentora, não uma simples
notícia, mas uma mudança do mundo para a bem (cf.
R. A. DE ASSUNÇÃO, O sacrifício da Palavra: A liturgia da Missa
segundo Bento XVI. São Paulo, Ecclesiae, 2016, p. 98-100).
 Ocorre o “Evangelho”, quando Deus interrompe o
seu silêncio e nos fala através de seu filho Jesus. Este
fato enquanto tal é salvação: Deus nos conhece, nos
ama, entra na história. Jesus é a sua Palavra, o Deus
conosco e, por isto, entra na história. Jesus é a
Palavra de Deus entre nós. Ele é o próprio Evangelho
(cf. BENTO PP XVI, Meditação durante a Oração da Hora Tércia, 8 de
outubro de 2012).
 Deus, e não o imperador, é o Senhor do mundo, e
o verdadeiro Evangelho é o de Jesus Cristo. A “boa
nova” que Jesus proclama resume-se nestas
palavras: “O Reino de Deus está próximo” (Mc
1,15). A novidade da mensagem de Cristo é,
portanto, que Deus nele se fez próximo, já reina
entre nós, como demonstram os milagres e as
curas que realiza.
 São Mateus dizia que Jesus atravessou a Galileia
anunciando “o Evangelho do Reino de Deus” (Mt
4,23; cf. 9,35) e São Marcos escrevia que Jesus,
estando na Galileia depois do martírio de João
Batista, começa a sua pregação dizendo:
“Completou-se o tempo, o Reino de Deus está
próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc
1,14s). A palavra “Evangelho”, no próprio Novo
Testamento, acabou se tornando a designação da
pregação de Jesus.
 Se seguimos as primeiras leituras sentados, na
posição de escuta, de atenção e de assimilação, o
Evangelho se ouve na posição de pé, indicando a
prontidão, do soldado que vigia as portas da caserna
ou da cidade. Estamos prontos para ouvir a
mensagem maior da fé, levando-a ao mundo
inteiro, como nos diz o próprio Cristo: “Ide pelo
mundo inteiro, proclamais o Evangelho a todas as
criaturas” (Mc 16,15). Estamos prontos para vivê-la
no cotidiano. Estamos prontos, no limite da
exigência, a dar a vida por aquele que nos anunciou
a mensagem, como milhões de mártires ao longo
dos dois mil anos de cristianismo. Ouvimos de pé,
na posição de respeito e delicadeza, como nos
levantamos diante de uma pessoa respeitável pela
idade, pela dignidade, pela amizade. A leitura do
Evangelho merece atenção e acolhida. É um
presente em palavra e vida que Jesus nos deixou.
 A importância da leitura do
Evangelho manifesta-se também pelo
grau de ordem do leitor: diácono ou
sacerdote. Lembremo-nos de São
Francisco de Assis, que era irmão
leigo e se fez ordenar diácono para
poder cantar o Evangelho na festa de
Natal. Tal era sua devoção pela leitura
do evangelho e pelo nascimento do
Senhor. A Igreja reserva todo um
respeito para com a leitura do
Evangelho. O diácono, antes de
proclamá-lo pede a bênção ao
celebrante que lhe dirige essas
palavras: “O Senhor esteja no teu
coração e nos teus lábios para que
anuncies dignamente este santo
evangelho”.
 Também o sacerdote, antes de proclamar o
Evangelho, reza em silêncio “Ó Deus todo-
poderoso, purificai-me o coração e os lábios, para
que eu anuncie dignamente o vosso santo
Evangelho” (IGMR 132). Esta oração remete
claramente ao relato da vocação do Profeta Isaías:
o profeta, logo depois de ver o Senhor sentado
sobre o trono e os Serafins acima dele, que
entoavam o cântico do “Sanctus”, declara-se
“homem de lábios impuros” (Is 6,5); um dos
Serafins toma uma brasa do altar e toca os lábios
do profeta; e diz que a sua iniquidade está
removida e o seu pecado está perdoado. O relato
termina com o envio do Profeta Isaías (cf. Is 6,6-
10). Isto mostra que tanto o profeta de ontem
quando o pregador, o sacerdote de hoje, colocam-
se diante de Deus de forma individual, carregando
a dignidade que advém do sacramento, mas
também a fraqueza e a debilidade de sua natureza.
 Esta oração do sacerdote deveria ser realmente recitada
por ele em silêncio e devotamente, na consciência da
responsabilidade de anunciar corretamente o Evangelho.
Sabemos que precisamos purificar os lábios e o coração
para anunciar dignamente as palavras do Santo
Evangelho.
 Os acólitos caminham à frente com as velas acesas. A
vela, como toda luz, é imagem da iluminação espiritual
na escuridão da ignorância. É o símbolo de Cristo, da
Igreja, da fé e testemunho. Quando o celebrante ou
diácono entra na Igreja no Sábado Santo, com o círio
aceso, canta: Lumen Christi! (Luz de Cristo!). Antes, ao
acender o círio, diz: “A luz do Cristo que ressuscita
resplandecente dissipe as trevas de nosso coração e nossa
mente!” O hino do Exsultet que se canta logo após a
procissão do Círio, gira em torno da dualidade luz e
trevas: “O Círio que acendeu as nossas vidas possa esta
noite toda fulgurar; misture sua luz à das estrelas, cintile
quando o dia despontar”.
 O Círio Pascal é a grande vela acesa
que simboliza o Senhor
Ressuscitado. É o símbolo mais
destacado do Tempo Pascal, que
fica sobre uma elegante coluna ou
candelabro enfeitado. A palavra
“círio” vem do latim “cereus”, de
cera, o produto do labor das
abelhas. O uso do círio pascal é
anterior ao século VI. O rito de
acender o círio pascal nasceu de um
costume diário dos cristãos. Sem
eletricidade, o ato de acender a
luminária, ao cair da noite, se
tornara um rito familiar, que trazia
alegria e segurança. O círio pascal
representa Jesus que é a luz que
ilumina a noite da humanidade.
 Os acólitos que levam os
candelabros acesos na procissão
do Evangelho são crianças que já
receberam a primeira eucaristia.
Tal rito tem sua beleza própria. A
criança está bem próxima do
mistério, não pela inteligência
teórica, mas pela conaturalidade
da graça. O pecado não lhe fez
estragos. A proximidade com Deus
é mais transparente. E a vela acesa
manifesta essa luz a brilhar.
Aquele acólito reafirma a sua fé
pela vela acesa, manifestando a
vontade de permanecer fiel ao
Senhor, reafirmando a Graça
recebida no batismo e reafirmada
na Eucaristia.
 As velas acesas
simbolizam a fé de
toda a comunidade
que, em pé, escuta
o Evangelho. Ali
está a brilhar
diante dos olhos
de todos. A cera
consome,
desaparece para
brotar a luz.
Símbolo da vida de
quem crê na Boa
Nova do Senhor. O
cristão se entrega,
se gasta por ela.
 A comunidade, já em pé, acompanha jubilosa com o
canto o caminhar do Evangeliário até o ambão de
onde será proclamada a Palavra. Sempre ao lado, as
velas acesas: a luz, o fogo, o calor. São Jerônimo vê
nelas a expressão da alegria da comunidade em ouvir
a palavra de Deus. Quando nos oprime a escuridão,
calamo-nos abatidos. E se de repente, faz-se luz,
rompemos em alegria. Assim atravessam a escuridão
interior de nossa existência as duas velas, ao trazer-
nos a festa e alegria da claridade.
 O livro com a Palavra, as velas acesas, o ministro
ordenado, a comunidade de pé, consciente, livre em
atitude de escuta atenta e comprometida. O rito
preparatório da leitura do evangelho, bem diferente
da simplicidade e austeridade que procede às
primeiras leituras, mostra a relevância que a liturgia
lhe atribui, visando ressaltar ainda mais este
momento.
 As primeiras leituras começaram sem
nenhuma saudação à comunidade,
enquanto que no momento da
Proclamação do Evangelho, o
Sacerdote diz: “O Senhor esteja
convosco”. Os fiéis respondem: “Ele
está no meio de nós”. Resposta bem
significativa que faz a comunidade
consciente daquele em nome do qual
ela está reunida, de quem ela vai ouvir
a Palavra, com quem ela se
compromete ao escutá-la. É o Senhor
Jesus Cristo Ressuscitado que está no
centro da celebração e em torno do
qual todos se congregam na fé. Se ele
não estivesse conosco, nada
poderíamos fazer (cf. Jo 15,5). Estando
no nosso meio, tudo é possível.
 Na versão latina, a comunidade responde de outro
modo: Em latim, diz inicialmente o sacerdote:
“Dominus vobiscum” (O Senhor esteja convosco). A
resposta é: “Et cum spiritu tuo” (E com o teu
Espírito). Nisto temos também um símbolo
expressivo. A comunidade deseja que o Senhor, com
seu Espírito, que é o Espírito Santo, esteja com o
ministro que anunciará o evangelho. Há uma
intercomunicação do Espírito. Na comunidade para
acolher a Palavra; e no ministro para proclamar. A
troca de saudação exprime essa intercomunhão no
Espírito.
 Inicia-se com as palavras solenes: Proclamação do
Evangelho de Jesus Cristo, indicando o nome do
evangelista. Não é simples leitura. É pro-clamação. A
etimologia fala de “chamar diante”. Clamar e chamar
tem a mesma origem latina – clamare. É um chamar
clamando, é um clamar chamando. Grita e convoca.
 Após estas palavras pronunciadas pelo sacerdote,
os fiéis respondem: Glória a vós, Senhor. Mais uma
vez temos a expressão “glória”. A glória vem do que
dizemos de alguém. Podemos glorificar ou difamar
uma pessoa, quando lhe tecemos elogios ou
acusações. Na Sagrada Escritura e na tradição
teológica, a glória não vem de fora, de que se diz
mas do interior da pessoa. Quando dizemos
“Glória a vós, Senhor”, reconhecemos
externamente, percebemos por fora a grandeza
interna divina da realidade de Cristo. A sua
santidade manifesta-se nas palavras que vamos
ouvir. Esperamos ansiosos por elas e, por isso,
proclamamos a glória de quem as proferiu.
 Nas celebrações mais solenes, temos em seguida a
incensação do Evangelho, o que indica a presença
de Jesus entre nós por meio da palavra. E ao
incensá-lo, incensamos o próprio Cristo feito
Palavra por e para nós.
 Segue-se a leitura a ser feita com calma, clareza de
voz, respeito e dignidade. É o núcleo por excelência
da fé cristã que se desvela diante dos olhos dos fiéis. É
o próprio Cristo que fala. Por isso a expressão “Jesus
disse a seus discípulos”, indica, em outras palavras
que Jesus continua dizendo aos discípulos hoje.
 No momento em que se anuncia o Evangelho todos
fazem um sinal da cruz na testa, na boca e no peito.
Este tríplice sinal da cruz tem por finalidade pedir o
auxílio de Deus para que as palavras que vamos ouvir
se tornem uma fonte de bênçãos. Fazemos o sinal da
cruz na testa para pedir que os nossos pensamentos
sejam renovados, e se tornem os pensamentos de
Cristo. Na boca para que jamais nos envergonhemos
do Evangelho e possamos anunciá-lo a todos. No
peito, para conservar sempre no coração as palavras
de Jesus, e assim vencer todas as sugestões diabólicas
que tentam nos afastar de Deus.
 O momento da proclamação guarda uma solenidade e
gravidade. Só a voz do leitor rompe o silêncio da Igreja, fazendo
chegar a todos os participantes da comunidade a Palavra de Deus.
Por isso, é importante que a leitura seja feita clara e distintamente,
procurando sem exageros teatrais que se perceba não só o sentido
isolado das palavras, mas o gênero e a forma literária do texto e
deve lembrar a fala do próprio Mestre, do Filho de Deus, que
ensina com autoridade.
 Ao terminar a leitura, o ministro exclama: “Palavra da salvação”. E
os fiéis respondem: “Glória a vós, Senhor!” No fim da proclamação
do Evangelho a Igreja aclama o Cristo, dizendo no singular:
“Palavra da Salvação”, com o complemento da assembleia “Glória a
vós, Senhor”. Não falamos “Palavras do Senhor” após as leituras,
mas dizemos também no singular: “Palavra do Senhor”, pois ela é
uma só: a Palavra eterna encarnada. Esta aclamação após as
leituras tem como destinatário o próprio Cristo, porque esta
Palavra é o próprio Deus, porque todas as palavras se referem à
Palavra (cf. J. RATZINGER, A caminho de Jesus Cristo, Coimbra, Tenacitas, 2006, p. 84).
 No fim, confirmamos com mais convicção
ainda, porque ouvimos o texto do Evangelho.
Assim, no final da leitura do Evangelho,
dizemos que nós cremos porque ouvimos e
sabemos da beleza da sua palavra e não
somente porque o ministro anunciou no inicio.
 Em voz baixa ou alta, conforme o costume, o
ministro relembra a força purificadora da
Palavra de Deus, dizendo: “Pelas palavras do
Santo Evangelho sejam perdoados os nossos
pecados”. Na tradição litúrgica se distingue o
ato de perdão dos pecados pela via do
Sacramento da Reconciliação e por outros atos
chamados de “sacramentais” que agem por sua
vinculação direta ao sacramento. A leitura da
palavra de Deus é um sacramental que também
perdoa os pecados numa continuidade e
referência ao sacramento da penitência.
 Ao concluir a Proclamação do
Evangelho, o sacerdote ou o
diácono que fez a leitura, beija o
Evangelho em sinal de veneração.
Com isto demonstra a certeza de
que foi o próprio Cristo quem
acabou de falar. Este gesto é
repetido várias vezes na liturgia:
altar, livro... Os homens nas rodas
sociais sofisticadas beijavam as
mãos das mulheres em sinal de
cortesia. Em círculos religiosos,
beijavam-se as mãos dos
sacerdotes ou anel do bispo. Os
escravos o faziam nos pés de seu
senhor. Era antes um gesto de
deferência e de submissão do que
de amor.
 Homilia
 Após a proclamação do Evangelho temos a
homilia, que é o prolongamento da Palavra
Escrita para dentro do momento de hoje e para
a comunidade presente em ressonância com o
tempo litúrgico e em conexão com a celebração
litúrgica. O termo grego ὁμιλία (homilia),
reflete uma experiência de estar em
companhia, de ajuntar-se a, de conversar, de
ter e estar num relacionamento profundo. A
transposição desse termo para dentro da
celebração indica o espírito que deve ter a
homilia: criar entre pregador e a assembleia
um relacionamento de proximidade, de
companhia, de presença. A função da homilia,
atribuída pelo missal, é aquela de nutrir a vida
cristã (cf. IGMR 65), ou seja, alimentar
abundantemente os fiéis com a Palavra.
 Credo
 O Credo, colocado logo depois da homilia,
sinaliza a referência para quem prega e para
quem ouve. É uma manifestação da fé, que nos
impede de crer em um Deus diferente daquele
que foi anunciado e revelado em Jesus Cristo; o
pregador pode se sentir tentado a anunciar no
ambão uma visão particularista de Deus, de
Cristo ou da Igreja, pois a homilia não tem
como objetivo comunicar algo de novo, mas
visa apenas consolidar a todos na fé, por isto,
aquele que prega deve estar em plena
comunhão com a fé da Igreja da qual é
emissário e servidor. Assim sendo, pode-se
lembrar daquela palavra pronunciada pelo
próprio Cristo: “A minha doutrina não é minha,
mas daquele que me enviou” (Jo 7,16).
 O Credo está dividido em três partes: A parte cristológica
é muito mais desenvolvida. O Pai e o Espírito Santo
aparecem relacionados com suas obras. Tal estrutura
revela o caminho da fé cristã já que conhecemos o Pai e o
Espírito por meio de Jesus Cristo.
 Na língua latina o verbo credere aparece com duas
regências diferentes. E começa dizendo: “Credo in unum
Deum”. A preposição “in” tem um significativo sentido
teológico. O próprio verbo credere, que faz pensar em
cor+dare - dar o coração a alguém - levanta a pergunta:
em quem podemos realmente crer? Resposta: Em Deus.
E para traduzir essa exclusividade do ato de fé, o latim
usa a preposição in: “Credo in Deum, in Iesum et in
Spiritum Sanctum”. Creio em Deus, em Jesus e no
Espírito Santo. Depois da confissão de fé no Espírito
Santo, o credo continua dizendo: creio na Santa Igreja
Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos
pecados, na ressurreição da carne e na Vida eterna.
 Quando afirmamos: “Creio em Deus”, nós dizemos como
Abraão: “Confio em ti; confio-me a ti, ó Senhor!”, mas
não como a alguém ao qual recorrer apenas nos
momentos de dificuldade, ou a quem dedicar alguns
momentos do dia ou da semana. Dizer “Creio em Deus”
significa fundar sobre Ele a minha própria vida, deixar
que a sua Palavra a oriente todos os dias, nas escolhas
concretas, sem medo de perder algo de mim mesmo.
Quando, no Rito do Batismo, por três vezes somos
interrogados: “Credes?” em Deus, em Jesus Cristo, no
Espírito Santo, na santa Igreja católica e nas outras
verdades de fé, a tríplice resposta é no singular: “Creio”,
porque é a minha existência pessoal que deve passar por
uma transformação mediante o dom da fé; é a minha
existência que deve mudar, converter-se. Cada vez que
participamos de um batizado, deveríamos perguntar-nos
como vivemos diariamente o grande dom da fé recebido
neste sacramento.
 Oração dos fiéis
 Como conclusão da Liturgia da Palavra está a Oração dos fiéis,
onde, de certo modo, pede-se pelas necessidades da Igreja
universal e da comunidade local, pela salvação do mundo, pelos
que se encontram em qualquer necessidade e por grupos
determinados de pessoas.
 A Instrução Geral do Missal Romano assinala: “Na oração
universal ou oração dos fiéis, o povo responde de certo modo à
Palavra de Deus acolhida na fé e, exercendo a sua função
sacerdotal, eleva preces a Deus pela salvação de todos” (IGMR 69).
Essa oração nasce como como uma resposta à Palavra proclamada.
E a assembleia, movida pela fé e pela confiança no seu Senhor,
dirige-se a Ele com os seus pedidos em forma de prece.
 Essa oração não tem como objetivo as petições particulares, mas
todos rezam juntos, dentro do nós da Igreja, por necessidades
comuns. A assembleia litúrgica vai além das próprias necessidades
e clama aos céus, dirige-se a Deus rogando por toda a Igreja.
 Ofertório: Apresentação das oferendas
 As liturgias atuais conhecem duas formas
de procissão das oferendas. Mais
comumente, enquanto se faz a coleta
entre os fiéis, os acólitos trazem ao altar as
oferendas. Em dias mais festivos,
organiza-se uma procissão desde a
entrada da Igreja até o altar com as
oferendas. Escolhem-se pessoas
significativas da comunidade. Não raro,
além dos vasos sagrados, do pão e do
vinho, trazem-se outras ofertas
expressivas. Além disso, associaram-se a
esse momento as ofertas da comunidade
para a manutenção material da Igreja e
para o cuidado dos necessitados, dando
um colorido litúrgico de oferenda a Deus e
de sacrifício aos dons trazidos pelos fiéis.
 A oferenda do pão e do vinho de
uva tem a sua importância por
serem elementos fundamentais
da celebração e por serem eles
sinais da presença real de Jesus
glorificado. Na procissão do
ofertório se canta, como se fez na
procissão de entrada. O canto
exprimia a alegria com que os
fiéis ofereciam os dons, segundo
São Paulo: “Deus ama a quem dá
com alegria” (2Cor 9,7).
 No pão e no vinho que levamos ao
altar, toda a criação é assumida
por Cristo Redentor para ser
transformada e apresentada ao
Pai (cf. SC 47).
 Simbolismo do pão
 O pão feito de trigo é o símbolo
universal de alimento, por ser ele de
fundamental importância para a
vida de muitos povos. Serve para
designar os bens da criação. E
amplia-se para a ideia de sustento:
ganhar o pão de cada dia com seu
trabalho para manter a família. A
oração do Pai-nosso, na sua
intelecção imediata e comum dos
fiéis, pede os meios de subsistência,
de alimentação para cada dia. Pão e
água resumem o mínimo vital e, por
isso, expressam também uma vida
de austeridade, de jejum: “Jejuar a
pão e água” ou “passar a pão e água”.
 O Evangelista São João nos narra
que em certa ocasião disse Jesus:
“Em verdade, em verdade vos
digo: se o grão de trigo não cai na
terra e morre, fica só; mas se
morre, dá muito fruto” (Jo 12,24).
No pão, feito de grãos moídos,
esconde-se o mistério da Paixão.
A farinha, o grão moído,
pressupõe o morrer e o
ressuscitar do grão. O ser moído
e cozido manifesta uma vez mais
o mesmo mistério da Paixão. Só
através do morrer chega o
ressurgir, chega o fruto e a nova
vida. O Cristo que morre nos leva
à vida. Ele se converteu em pão
para todos nós.
 O pão, feito de muitos grãos de trigo, encerra também um
acontecimento de união: o converter-se em pão de grãos
moídos é um processo de unificação. Nós mesmos, dos
muitos que somos, temos que converter-nos em um só pão,
em seu Corpo, nos diz São Paulo (cf. 1Cor 10,17). O pão
também nos recorda a peregrinação de Israel durante os
quarenta anos no deserto. A Hóstia é o maná com o qual o
Senhor nos alimenta, é verdadeiramente o pão do céu, com
o qual Ele faz a entrega de si mesmo: “Quem come a Minha
carne e bebe Meu sangue tem a vida eterna e Eu ressuscitá-
lo-ei no último dia” (Jo 6,54). De fato, aquele que come este
Corpo eucarístico do Senhor e bebe na Eucaristia o Sangue
por Ele derramado para a redenção do mundo, chega àquela
comunhão com Cristo, da qual o Senhor mesmo disse:
“Permanece em Mim e Eu nele” (Jo 15,4). E o homem,
permanecendo em Cristo, no filho que vive no Pai, vive
mediante Ele, daquela vida que forma a união do Filho com
o Pai no Espírito Santo: vive a vida divina.
 Na ação litúrgica, o sentido mais importante de
pão é, naturalmente, ser o sinal visível do Corpo
de Cristo, isto é, da sua presença real. Como a
Eucaristia é interpretada como o sacrifício
expiatório de Cristo, o pão assumiu o termo de
hóstia, que, em latim, significa vítima, fazendo
parte fundamental do vocabulário sacrifical.
Primitivamente, a palavra hóstia se usava para
um ser vivo, para o animal que devia ser abatido.
Hóstia vem do verbo hostire, que significa ferir.
Devia-se entender primeiramente de Cristo, que
se fez hóstia por nós (cf. Ef 5,2), o cordeiro do
sacrifício. É mais antigo o uso de “oblata” para
designar o pão levado para a oferta. Hóstia foi
usado numa época unicamente para o “pão
consagrado” e só mais tarde, como hoje, designa
todo pão destinado à missa (cf. J. B. LIBÂNIO, Como
saborear a Celebração Eucarística, São Paulo, Paulus, 2005, p. p.82).
 Simbolismo do vinho
 A outra substância que constitui a
matéria sacramental da Eucaristia é o
vinho de uva. Também ele carrega uma
história de símbolos. É fruto da videira.
Ela é símbolo da fecundidade no
Oriente Próximo. Como se regenera
com facilidade de maneira que o cepo
verdeja e dá novos ramos, simboliza a
vida, a regeneração espiritual no
mundo pagão e cristão. A vida depois
do dilúvio começa com a plantação da
vinha por Noé (cf. Gn 9,20). O cacho
de uva gigantesco, que os doze
exploradores da terra de Canaã,
enviados por Moisés, trazem, anuncia
a fertilidade da Terra Prometida (cf.
Nm 13,23).
 Na Eucaristia, o vinho exprime também
esse lado festivo. Mas a razão principal é
muito mais profunda. Assemelha-se ao
sangue pela cor e por ser o sangue (suco)
da uva. É símbolo da transformação,
porque o suco da uva esmagada possui
poder de transformar-se em algo mais
potente, modificando quem o toma.
Tomar o vinho significa beber o Sangue
de Cristo, unir-se a Ele e possuir sua
força, que é a vida eterna. As palavras do
sermão de Cafarnaum, lidas à luz da
instituição da Ceia e do simbolismo do
vinho, se iluminam: “Quem bebe meu
sangue tem a vida eterna e eu o
ressuscitarei no último dia. Porque meu
sangue é verdadeiramente bebida e
quem bebe meu sangue permanece em
mim, e Eu nele” (Jo 6,54-56).
 Voltando ao tema da Eucaristia,
podemos ainda dizer que o vinho
remete à imagem do lagar, onde a uva
era exprimida, em tempos antigos, sob o
calcar dos pés ou sob o peso de prensas
fazendo correr o suco vermelho de que o
vinho é feito. Doloroso símbolo da
paixão, sofrimento e esmagamento de
Jesus. Pinturas medievais o representam
de pé ou de joelhos numa prensa do
lagar. A cruz toma a forma da prensa. O
milagre de Caná apresenta-nos o vinho
noutra perspectiva. A quantidade de
vinho e o fato contrário ao costume de
que um vinho bom seja deixado para o
fim mostram a intenção de João. É a
vida nova, em abundância, que Jesus
trouxe (cf. Jo 2,1-11).
 Outro pequeno rito consiste em misturar
ao vinho uma gota de água. Esse rito,
desde o século II, foi posto em evidência.
São Cipriano, no século III, insiste no
sentido simbólico. Como o vinho absorve a
água, assim Cristo tomou sobre si a nós e
os nossos pecados. A água, ao misturar-se
com o vinho, simboliza a comunidade
intimamente em comunhão com o Senhor,
a quem ela se uniu na fé. É uma união tão
estável que ninguém pode dissolvê-la
assim como a água já não pode ser
separada do vinho. “Se alguém oferece só o
vinho, o sangue de Cristo se encontra sem
nós; se só é a água, é o povo que se
encontra sem o Cristo” (A. BECKHÄUSER,
Liturgia da missa: Teologia e espiritualidade da Eucaristia,
Petrópolis, Vozes, 2012, p. 57).
 A desproporção da quantidade de
vinho em relação a uma gotinha de
água sugere a pequenez da
humanidade (água) e a grandeza
da divindade (vinho). A oração,
que o sacerdote recita em silêncio,
traduz bem o significado da nossa
participação da divindade de
Cristo (vinho), como ele se dignou
assumir a nossa humanidade
(água). Ideia que o prefácio do
Natal III recorda: “o maravilhoso
encontro que nos faz renascer,
pois, enquanto o vosso Filho
assume a nossa fraqueza, a
natureza humana recebe uma
incomparável dignidade” (Missal
Romano, São Paulo, Paulus, 2006, p. 412).
 A água pertence a um tipo de grandes símbolos
permanentes que atravessam as diferentes tradições
culturais e religiosas, devido à proximidade com a
vida. A vida nasce da água, não persiste sem a água
e morre com sua falta. A água gera vida e a elimina
como no dilúvio, nas grandes tempestades. A água
cura, purifica e regenera. Todas essas valências
ressoam no mundo simbólico religioso.
 As orações, que acompanham a apresentação do
pão e do vinho, traduzem-lhe a dimensão imanente
e transcendente. São fruto da terra, da videira e do
trabalho humano. É a natureza e a atividade
humana, o conjunto da criação e da história que se
unem na expressão dessas duas substâncias. Por
detrás, está a bondade de Deus que nos concede
esses dons e a quem os apresentamos na certeza de
que se tornem para nós pão da vida e vinho da
salvação pela força da ação litúrgica.
 A oferta do cálice reforça a ideia de pedido de
salvação. Em vez de usar a primeira pessoa do
singular, aplicada no oferecimento do pão,
passa-se para o plural: “para nós se vai tornar
vinho da salvação”. O gesto de apresentação
perde um pouco da teatralidade do ofertório,
para assumir a simplicidade de quem
apresenta a Deus os dons recebidos na
esperança de que eles serão vida e salvação
para nós. A oração assume a forma de bênção
de louvor a Deus pelos dons apresentados.
 No pão e no vinho que levamos ao altar, toda
criação é assumida por Cristo Redentor para
ser transformada e apresentada a Deus Pai.
Nesta perspectiva, levamos ao altar também
todo o sofrimento e tribulação do mundo, na
certeza de que tudo é precioso aos olhos de
Deus (cf. SC 47).
 Terminada a dupla apresentação do pão
e do vinho, o sacerdote se inclina numa
súplica de humildade, onde o sacerdote
pede explicitamente a Deus que acolha
benigno e que lhe seja agradável desse
sacrifício: “De coração contrito e
humildade, sejamos, Senhor, acolhidos
por vós; e seja o nosso sacrifício de tal
modo oferecido que vos agrade, Senhor,
nosso Deus”. É um gesto de beleza
simbólica em contraste com a anterior
de elevação do pão e do vinho. Agora ele
se abaixa. Na elevação se mostram os
dons que serão os sinais da presença real
de Jesus. Na inclinação, o sacerdote
mostra sua pequenez de pecador diante
da sublimidade das oblatas.
 Nas celebrações festivas, após a
apresentação das oferendas, ocorre uma
solene incensação no ofertório das oblatas,
do altar, do sacrário, do crucifixo, do
celebrante, de toda equipe de celebração e
do povo. Antes era o rito que concluía o
ofertório, e hoje se faz antes do lavabo.
Considera-se o incenso algo consagrado a
Deus, a quem nos unimos por uma espécie
de comunhão, pedindo o dom do “fogo do
amor divino” em resposta a nossa oferta.
Na liturgia antiga, quando o sacerdote
devolvia o turíbulo ao diácono (acólito)
rezava uma oração, onde mostrava o
verdadeiro sentido da incensação das
pessoas: “Que o Senhor acenda em nós o
fogo de seu amor e a chama da caridade
eterna” (cf. J. B. LIBÂNIO, Como saborear a Celebração
Eucarística, São Paulo, Paulus, 2005, p. 90-91).
 Lavabo
 Em seguida, o sacerdote lava
as mãos, como sinal de
purificação interior (cf.
IGMR, 76), enquanto reza em
voz baixa, pedindo a graça da
pureza: “Lavai-me, Senhor,
das minhas faltas e purificai-
me do meu pecado”. O
símbolo do lavabo é
imediato. Antes de iniciar o
momento principal da ação
litúrgica, cabe um gesto de
purificação. As realidades
sagradas não podem ser
tocadas com mãos e corações
impuros.
 Conclusão do ofertório
 O sacerdote termina a
preparação das oferendas, num
gesto de braços abertos,
convidando os fiéis para
rezarem a fim de que o
sacrifício seja aceito por Deus:
“Orai irmãos, para o nosso
sacrifício seja aceito por Deus
Pai todo-poderoso”. E os fiéis
na assembleia une-se ao
sacerdote respondendo:
“Receba o Senhor por tuas
mãos este sacrifício, para
glória do Seu Nome, para
nosso bem e de toda a santa
Igreja”.
 Em seguida à resposta dos
fiéis, o sacerdote recita a
oração sobre as oferendas, que
outrora se fazia em silêncio.
Ela faz parte de uma
arquitetura bem expressiva.
Para concluir os ritos iniciais, o
sacerdote recitou a oração da
coleta. Ao terminar a
celebração ele faz a oração
“depois da comunhão”. E agora,
concluindo a preparação das
oblatas, recita também uma
oração. Desta maneira, a
oração do celebrante serve
como chave de clausura em
cada uma das partes
fundamentais da ação
litúrgica.
 Oração Eucarística
Antecedendo a Oração Eucarística que
começa depois do “Sanctus”; temos o
Prefácio. A palavra “Prefácio”,
etimologicamente, indica aquilo que se
fala antes, no sentido temporal.
Três saudações à comunidade antecedem o
início da proclamação. O sacerdote inicia o
Prefácio convidando os fiéis a unir-se, a
associar-se à oração que ele vai realizar,
por meio do seguinte diálogo:
S. O Senhor esteja convosco.
R. Ele está no meio de nós.
S. Corações ao alto.
R. O nosso coração está em Deus.
S. Demos graças ao Senhor, nosso Deus.
R. É nosso dever e nossa salvação.
 Três aspectos significativos do
prefácio: sua orientação a
Deus Pai, ornado com vários
títulos, a mediação de Jesus
Cristo e a invocação dos anjos.
Entre esses três elementos
fundamentais tecem-se os
aspectos próprios de cada
festa. No prefácio temos uma
Ação de Graças pelos dons de
Deus, em particular pelo
envio de seu Filho Jesus Cristo
como o nosso Salvador. Os
louvores a Deus terminam
fundindo-se no hino de
louvor dos coros angélicos e,
de certo modo, ocupamos o
lugar dos anjos decaídos.
 Um texto do Livro do Profeta Daniel
também é recordado: “Eu continuava
olhando; de súbito foram colocados tronos,
e um ancião tomou lugar. Sua veste era
branca como neve e os cabelos da cabeça
puros como lã. Seu trono era chamas de
fogo e suas rodas, fogo ardente; um rio de
fogo brotava dele aos borbotões. Dezenas de
milhares o serviam e centenas de milhares
se mantinham de pé diante dele” (Dn 7,9-
10). Este texto tem um traço
neotestamentário que alude a Jesus Cristo:
“Bendito aquele que vem em nome do
Senhor”. Esta passagem do salmo 118,26 é
aplicada a Jesus pela multidão na sua
entrada em Jerusalém cf. (Mt 21,9) e Ele
mesmo se aplica a si, quando lamenta a
respeito de Jerusalém (cf. Mt 23,39).
 Esse versículo cantado no
“Sanctus” assume a dimensão
do Cristo glorioso sempre a
vir, sempre presente: “Santo,
Santo, Santo, Senhor Deus do
universo. O céu e a terra
proclamam a vossa glória.
Hosana nas alturas. Bendito O
que vem em nome do Senhor.
Hosana nas alturas”. Mas os
que aclamam o Senhor agora
não são somente os serafins,
mas todo o exército celeste, a
cuja aclamação, graças a
Cristo que une o céu e a terra,
pode se unir toda a Igreja, a
humanidade salva.
 Também aparece no texto o
termo “hosana”, que é a forma
grega ὡσαννά de uma
expressão hebraica ‫ָא‬‫נ‬ ‫ה‬ָ‫יע‬ ִׁ
‫הֹוש‬
(hoshi'ah na') de ‫ע‬ ַׁ
‫ָש‬‫י‬ (Yasha’)
e ‫ָא‬‫נ‬ (Na') que significa "salva,
te rogamos", "Salva, agora" ou
"ajuda, te pedimos, liberta”. A
partícula na’ significa
“suplicamos” ou “rogamos”.
Por isso a exclamação
“Hosana” pode ser entendido
como “salva agora”, “ajuda
agora” ou “salva, por favor” (cf.
D. A. FLORES, Dicionário Bíblico -
Concordância Analítica do Grego do Novo
Testamento, in
<www.dicionariobiblico.blogspot.com>.
Acesso aos 23 de abril de 2022).
 Ao concluir o prefácio chegamos ao âmago da
Oração Eucarística, que é o coração da Santa Missa,
especialmente com as palavras da Consagração, ela
forma um hino, uma peça literária única. São quatro
as principais Orações Eucarísticas da edição típica do
Missal Romano. Em primeiro lugar temos o Cânon
Romano, conhecida também como Oração
Eucarística I, de origem autoral desconhecida. Ela foi
desenvolvida a partir do Haggada pascal, uma oração
judaica de ação de graças, de louvor, onde Jesus
deixou impressas as palavras de sua Última Ceia,
tornando o núcleo central da Eucaristia. Temos
também a Oração Eucarística II, uma versão
adaptada da anáfora de Hipólito de Roma (176-236);
a Oração Eucarística III, sem autor determinado; e
por fim, a Oração Eucarística IV, composta pelo
monge e teólogo Cipriano Vagaggini (1909-1999).
 Pela fé acreditamos que em cada Celebração
Eucarística Jesus se faz presente. É o “mistério da
fé”, como dizemos depois da consagração. O
sacerdote diz: “Eis o mistério da fé” e
respondemos com uma aclamação. Celebrando o
memorial da morte e ressurreição do Senhor, na
expetativa da sua vinda gloriosa, a Igreja oferece
ao Pai o sacrifício que reconcilia céu e terra:
oferece o sacrifício pascal de Cristo oferecendo-se
com Ele e pedindo, em virtude do Espírito Santo,
para se tornar “em Cristo um só corpo e um só
espírito” (IGMR, 79f). A Igreja deseja unir-nos a
Cristo e tornar-se com o Senhor um só corpo e um
só espírito. É esta a graça e o fruto da Comunhão
sacramental: nutrimo-nos do Corpo de Cristo
para nos tornarmos, nós que o comemos, o seu
Corpo vivo hoje no mundo (cf. FRANCISCO PP,
Audiência Geral, Quarta-feira, 7 de março de 2018).
 A Oração Eucarística pede a Deus que
receba todos os seus filhos na
perfeição do amor, em união com o
Papa e o Bispo, mencionados pelo
nome, sinal de que celebramos em
comunhão com a Igreja universal e
com a Igreja particular. A súplica,
como oferenda, é apresentada a Deus
por todos os membros da Igreja, vivos
e defuntos, na expetativa da bem-
aventurada esperança de partilhar a
herança eterna do céu, com a Virgem
Maria (cf. CIgC 1369-1371). Ninguém fica
esquecido na Oração Eucarística e
tudo é reconduzido a Deus, como
recorda a doxologia que a conclui (cf.
FRANCISCO PP, Audiência Geral, Quarta-feira, 7
de março de 2018).
 A Liturgia Eucarística
contém duas “epicleses”, que
é uma expressão que vem do
grego epi-kaleo, que
significar chamar sobre, em
latim “invocare”, que quer
dizer “invocar”. Neste caso,
refere-se à invocação do
Espírito Santo (cf. J.
ALDAZÁBAL, Dicionário elementar de
Liturgia, São Paulo, Paulinas, 2007, p.
105-106). Ou seja, duas vezes
na Oração Eucarística, o
sacerdote invoca o Espírito
Santo: a primeira vez sobre
as oblatas e a segunda sobre
a comunidade dos fiéis.
 Logo no início da Oração Eucarística II, diz o
celebrante: “Na verdade, ó Pai, vós sois santo e
fonte de toda santidade. Santificai, pois, estas
oferendas, derramando sobre elas o vosso Espírito,
a fim de que se tornem para nós o Corpo e o
Sangue de Jesus Cristo, o vosso Filho e Senhor
nosso”. E na Oração Eucarística III, invoca o
Sacerdote: “Por isso, nós vos suplicamos: santificai
pelo Espírito Santo as oferendas que vos
apresentamos para serem consagradas, a fim que
se tornem o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo,
vosso Filho e Senhor nosso, que nos mandou
celebrar este mistério”. E na Oração Eucarística IV:
“Por isso, nós vos pedimos que o mesmo Espírito
Santo santifique estas oferendas, a fim de que se
tornem o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, vosso
Filho e Senhor nosso, para celebrarmos este
grande mistério que ele nos deixou em sinal da
eterna aliança”.
 Neste horizonte, compreende-se a
função decisiva que tem o Espírito
Santo na celebração eucarística e, de
modo particular, no que se refere à
Transubstanciação; quando, na
Consagração, ocorre, o pão e o vinho
conservam todos os seus acidentes
(cor, quantidade, sabor…), mas se
transformam, em suas substâncias
de pão e de vinho, na substância do
corpo humano e no sangue de Jesus
Cristo. É um mistério de fé e exige
uma intervenção de Deus que tudo
pode a fim de ser realizado esse
grande ato de amor, pois antes de
sua morte e ressurreição, o Senhor
Jesus quis dar-se em comida e
bebida para nos salvar.
 Terminada a consagração, o
sacerdote diz: “Eis o mistério da
fé!”. E o povo aclama:
“Anunciamos, Senhor, a vossa
morte e proclamamos a vossa
ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”.
Com esta exclamação pronunciada
logo a seguir às palavras da
consagração, o sacerdote proclama
o mistério celebrado e manifesta o
seu enlevo diante da conversão
substancial do pão e do vinho no
Corpo e no Sangue do Senhor
Jesus, realidade esta que ultrapassa
toda a compreensão humana. Com
efeito, a Eucaristia é por excelência
mistério da fé: É o resumo e a
súmula da nossa fé (cf. SC n. 11).
 A expressão “Vem, Senhor Jesus” (Ap 22,20), é a tradução do aramaico
“Maranatha”. A tradução desta palavra pode ser: “Vem, Senhor Jesus”;
ou: “O Senhor veio”. Ao olhar para as espécies eucarísticas todos
podem ver realizada a vinda de Jesus no presente, aquela vinda
quotidiana, permanente, garantida à Igreja por meio do ministério
sacerdotal e que a cria e recria até o fim dos tempos. Mas ao dizer
“Maranatha” fitando a hóstia e o vinho consagrados, já retirados de
sua condição natural e elevados à condição de presença sacramental e
verdadeira de Cristo, a Igreja professa a sua fé na segunda vinda do
Filho de Deus, que se realizará no dia e na hora que o Pai desejar; por
isso, com o termo “Maranatha” proclamamos: “Vem, Senhor Jesus”
(Ap 22,20); em outras palavras, significa que a Eucaristia é também
Jesus Cristo futuro, Jesus Cristo que virá. Quando contemplamos a
Hóstia sagrada, o seu Corpo de glória transfigurado e ressuscitado,
contemplamos aquilo que contemplaremos na eternidade,
descobrindo aí o mundo inteiro sustentado pelo seu Criador em cada
instante da sua história. Cada vez que O comemos, mas também cada
vez que O contemplamos, anunciamo-Lo até que Ele regresse (cf. J.
RATZINGER, Obras completas XI, Madrid, BAC, 2012, p. 496).
 O sacerdote conclui a Oração Eucarística tomando a
patena e o cálice, elevando-os um pouco sobre o altar, diz:
“Por Cristo, com Cristo, em Cristo, a Vós, Deus Pai todo-
poderoso na unidade do Espírito Santo, toda a honra e
toda a glória agora e para sempre”. O povo aclama:
“Amém”. A insistência na mediação de Cristo volta aqui, a
título de conclusão; ou seja, o nosso sacrifício de louvor
passa por Cristo. É Ele quem roga por nós e coloca nos
nossos lábios a Sua oração, pois só Ele pode dizer: “Isto é o
meu Corpo; isto é o meu sangue”. É Ele, pois, quem nos
introduz na Sua vida, naquele ato de amor eterno em que
Se entrega ao Pai. É por Seu intermédio que nós passamos
a ser também, com o próprio Cristo, oferenda ao Pai. Eis
de que modo a Eucaristia se constitui como sacrifício: é
entrega a Deus em Jesus Cristo e, nesse mesmo ato, torna-
se também oferenda que acompanha o dom do Seu amor.
Na verdade Cristo é simultaneamente oferente e oferta,
por Ele, com Ele e Nele é que nós celebramos a Eucaristia
(cf. J. RATZINGER, Deus próximo de nós, Coimbra, Tenacitas, 2005, p. 139).
 O povo responde, seguindo longa
tradição, a doxologia com o Amém. É
o assentimento, a assinatura do povo.
Para valorizar o amém, em muitas
celebrações, ele é cantado, repetidas
vezes, pelos fiéis. A celebração não é
do sacerdote, mas de toda
comunidade. E se ela apenas
interveio com aclamações durante a
oração eucarística, no final explode
em alegre aceitação e ratificação de
tudo o que vem sendo celebrado: o
memorial da páscoa de Jesus. Se a
comunidade negasse o amém, não
invalidaria a presença real de Jesus
como oferta, mas o seu sentido maior
que é criar a comunidade de fé.
 Rito da Comunhão
 A última parte da Liturgia Eucarística é formada pelo
Rito da Comunhão. O termo comunhão, na sua
etimologia, vem equivocadamente interpretado,
como comum + união. Quanto ao sentido, seria
bonito. Mas o termo esconde outra raiz, não menos
significativa. Comunhão vem de cum + munus,
muneris, que quer dizer: oficio, missão, encargo. A
comunhão põe-nos numa mesma missão. E na
celebração eucarística, pela comunhão acontecem as
duas realidades. Entramos em íntima união com o
mistério pascal da morte e ressurreição de Jesus e
assim somos inseridos no coração do desígnio
salvífico de Deus Pai pela ação do Espírito Santo. Não
o fazemos na pura singularidade, mas enquanto
comunidade, Igreja, em comum união entre nós. Ao
mesmo tempo, assumimos a missão de viver em
comunidade tal realidade salvadora.
 Embora o sacrifício não
implique necessariamente
um convite à mesa,
conheceram-se na
antiguidade pagã sacrifícios
de que as pessoas
participavam, comendo e
bebendo. No rito judaico, o
cordeiro pascal, sacrificado
no templo, era comido em
ceia ritual com outros
alimentos. O sacrifício de
Cristo, realizado na cruz, foi
instituído como memorial
numa ceia e foi perpetuado
sob a forma de refeição,
onde se comunga do corpo
e do sangue do Senhor.
 A oração do Pai-nosso
 O rito da Comunhão tem início com a oração do Pai-
nosso. Esta oração é introduzida pelas palavras do
sacerdote: “Obedientes à palavra do Salvador e formados
por seu divino ensinamento ousamos dizer”, ao que todos
rezam: “Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o
vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa
vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de
cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas ofensas, assim
como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; e não
nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”. A
Igreja reza essa oração todos os dias na Missa, pois é a
oração primordial ensinada pelo próprio Jesus aos seus
discípulos (cf. Mt 6,7-13; Lc 11,2-4). São Gregório Magno
comentou uma vez numa carta que o Pai-nosso é tão
importante na missa porque foi uma oração composta
por Cristo (cf. R. A. DE ASSUNÇÃO, O sacrifício da Palavra: A liturgia da
Missa segundo Bento XVI. São Paulo, Ecclesiae, 2016, p. 274).
 A oração do Pai-nosso é superior a
qualquer oração composta pelo homem,
incluindo as orações eucarísticas. Ou
seja, a origem nos próprios lábios de
Cristo seria suficiente para tê-la na
Missa. Mas o que justifica, ou melhor, o
que explica a sua localização
precisamente no rito da comunhão? O
lugar ocupado pela oração do Senhor na
Missa também remonta ao Papa São
Gregório Magno. Além do fato de que,
para ele, a primeira parte do Pai-nosso
sintetizaria as partes do Cânon Romano
(Oração Eucarística I), o Papa Gregório
defendia que se se devia fazer uma
oração junto às oferendas já consagradas,
devia ser a oração composta pelo próprio
Senhor (cf. J. A. JUNGMANN, Missarum sollemnia,
São Paulo, Paulus, 2009, p. 728-732).
 Mas a razão pela qual o Pai-
nosso se tornou, na Missa,
uma oração de preparação
para a comunhão, está no
quarto pedido, dos sete que
a compõem, e o sentido
sacramental identificado
nele e que os Padres da
Igreja compreenderam
também como um pedido
eucarístico; neste sentido,
o Pai-Nosso está na liturgia
da Santa Missa como uma
oração da mesa eucarística
(cf. BENTO PP XVI, Jesus de Nazaré.
Do Batismo no Jordão à
Transfiguração, São Paulo, Planeta,
2017, p. 141).
 A oração do Pai-nosso é a oração dos simples, dos humildes; a
oração daqueles que amam a pobreza no Espírito Santo e a vivem.
Mas a prece vai ainda mais fundo, pois a palavra que traduzimos por
“de cada dia” ἐπιούσιος (epiousios), antes não era conhecida na
língua grega. É um termo usado da oração do Pai-nosso. E, por mais
que os especialistas possam discutir sobre o seu sentido, é muito
provável que o termo epiousios também signifique: “dá-nos a pão de
amanhã, a saber, o pão do mundo que há de vir”. De fato, só a
Eucaristia é a resposta para aquilo que o misterioso termo epiousios
significa: o pão do mundo que há de vir, pão que já nos é dado hoje,
de modo que o mundo vindouro já se inicie hoje no meio de nós.
Alguns Padres da Igreja viram aqui uma referência à Eucaristia, o
pão da vida eterna do mundo novo, que nos é dado já hoje na Santa
Missa, para que desde agora o mundo futuro tenha início em nós.
Portanto, com a Eucaristia o céu vem à terra; é o banquete do Reino
antecipado na Eucaristia; o amanhã de Deus desce ao presente e o
tempo é como que abraçado pela eternidade divina (cf. S. CIPRIANO DE
CARTAGO, A oração do Pai-nosso, São Paulo, Quadrante, 1989, p. 29)
 Assim sendo, observa-se que
essa oração nos prepara para a
comunhão. A catequese
insistiu com razão na
necessidade da devida
preparação para participar da
comunhão, fazendo eco à
advertência de São Paulo:
“Quem come o pão ou bebe o
cálice do Senhor indignamente
será réu do corpo e do sangue
do Senhor. Examine-se, pois, o
homem a si mesmo e então
coma do pão e beba do cálice;
pois aquele que, sem discernir
o corpo do Senhor, come e
bebe, come e bebe sua própria
condenação” (1Cor 11,27-29).
 Quando esta oração do Pai-nosso é
rezada na Missa, o Cerimonial dos
Bispos, orienta: “Terminada a Oração
eucarística, o Bispo junte as mãos e
proclame o convite à oração
dominical, a qual todos, a seguir,
cantam ou recitam. Enquanto isso, o
Bispo e os concelebrantes mantêm as
mãos estendidas”. O rito prescreve
apenas o gesto do Bispo e Sacerdotes
concelebrantes. A interpretação da
legislação litúrgica nos faz entender
que os diáconos e os demais
ministros, como também os fiéis em
geral, devem permanecer em pé e de
mãos unidas (cf. L. TRIMELONI,
Compendio di Liturgia Pratica, III
ed., Casa Editrice Marietti, Genova-
Milano, 2010, p. 375).
 Algumas pessoas perguntam sobre a ausência do “Amém”,
quando a Oração do Pai-nosso é recitada na missa. A
resposta é simples: A palavra “Amém” (hebraico ‫ן‬ ֵ
‫מ‬ ָ‫א‬
, grego
ἀμήν), um dos vocábulos mais utilizados pelos cristãos, é
dificilmente traduzível em seu sentido mais profundo, por
isso, a palavra é mantida em hebraico, no seu idioma
original; e utilizada sempre em relação a Deus. Pronunciar
esta palavra é proclamar que se tem por verdadeiro o que se
acaba de dizer e tem como objetivo confirmar uma
afirmação; significa “estar de acordo” com o que foi dito. O
termo “Amém” é utilizado também para concluir as orações,
no entanto, a oração do Pai-nosso, quando rezada dentro da
missa, não é acompanhada pelo “Amém” no final porque a
oração ainda não terminou, o sacerdote continua a oração
sozinho. A liturgia chama isso de “embolismo”, ou seja, uma
oração que recolhe e desenvolve a oração precedente, pois
logo após a recitação do Pai-nosso temos uma ampliação da
última petição: “Livrai-nos do mal”.
 A saudação de paz
 A saudação de paz entre os fiéis, colocado
desde a antiguidade antes da Comunhão,
visa a Comunhão eucarística. Segundo a
admoestação de São Paulo, não é possível
comungar o único Pão que nos torna um
só Corpo em Cristo, sem nos
reconhecermos pacificados pelo amor
fraterno (cf. 1Cor 10, 16-17; 11,29). A paz de
Cristo não pode enraizar-se num coração
incapaz de viver a fraternidade e de a
reparar depois de a ter ferido. É o Senhor
quem concede a paz: Ele nos dá a graça de
perdoar a quem nos tem ofendido.
Compreendemos bem que estas são
exigências muito adequadas para nos
prepararmos para a Sagrada Comunhão
(cf. IGMR 81).
 A distribuição da comunhão
 Terminado o momento da paz,
o sacerdote parte a hóstia, ao
mesmo tempo em que a
assembleia reza o Cordeiro de
Deus. Antes tal gesto estava
vinculado à paz. Agora ao
Cordeiro de Deus. Além do
gesto necessário de partir para
distribuir, como se disse na
narrativa da Instituição, é fácil
perceber a relação entre a
hóstia quebrada, rompida e o
cordeiro imolado. Há um gesto
sacrifical nos dois
simbolismos, entre si
articulados.
 O ministro com a hóstia
diz ao fiel antes de dar-
lhe a comunhão: “O
Corpo de Cristo”. Não se
trata de um mo mento de
adoração, mas de
distribuição, de partilha
do Corpo do Senhor. Essa
indicação é um último
chamado à liberdade, à
interioridade do fiel. E
ele confirma-o com:
“Amém”. Assim seja. É
isso mesmo que eu quero:
participar do Corpo do
Senhor (cf. S. AGOSTINHO,
Sermo 272, in PL 38, 1247).
 Vale lembrar uma frase do Papa
Bento XVI sobre este
momento, onde diz: “Sempre
me comovo quando, ao
distribuir a comunhão, posso e
devo dizer: ‘O corpo de Cristo’
quando dou aos fiéis,
depositando na palma das suas
mãos, algo que é infinitamente
mais do que tudo o que eu sou
e tenho; quando lhes dou
muito mais do que seria capaz
de lhes dar apenas como ser
humano; quando posso pôr o
próprio Deus vivo nas suas
mãos e nos seus corações” (J.
RATZINGER, Homilias sobre os santos, São
Paulo, Quadrante, 2007, p. 32).
 Ritos finais
 Após a comunhão o sacerdote diz: “Oremus”. Um breve
momento de silêncio para recolher o que vivemos nessa
celebração e especialmente a participação na comunhão.
Apresentemos no silêncio do coração essa experiência de amor.
E o sacerdote, ao recolher todas elas, oferece ao Pai com a
oração depois da comunhão. Costuma ser um último pedido de
que vivamos no cotidiano e de que sejamos conduzidos à
plenitude da vida pela força do que celebramos.
 Em seguida temos a Bênção Final, quando o sacerdote abre os
braços e saúda os fiéis com estas Palavras: “O Senhor esteja
convosco”; e o povo responde: “Ele está no meio de nós”. Em
seguida o sacerdote abençoa o povo, dizendo: “Abençoe-vos
Deus todo-poderoso, Pai e Filho e Espírito Santo”, tendo como
resposta o Amém, como no início da Missa. O Missal indica
por meio de uma cruz colocada depois da palavra “Filho”, que é
o momento em que o sacerdote deve traçar a Cruz sobre os
fiéis. Cruz e bênção estão intimamente relacionadas: toda
bênção procede da Cruz onde o Filho de Deus foi imolado.
 O sinal da Cruz é o gesto fundamental da nossa oração,
da prece do cristão. Fazer o Sinal da Cruz significa
pronunciar um sim visível e público Àquele que morreu
por nós e ressuscitou. A cruz, que é o seu sinal no Céu e
na Terra, tornou-se o verdadeiro gesto de bênção para
os cristãos e se converteu em bênção, fonte de todas as
bênçãos, de todas as transformações e de toda a
fecundidade.
 A bênção nos mostra que a celebração da Eucaristia
termina exatamente como começou: marcando-nos
com a Cruz de Cristo. Mas a bênção feita com a Cruz
nos recorda não somente o Calvário, e o nosso Batismo
na Morte e Ressurreição de Jesus, mas também outro
monte, o Monte das Oliveiras, onde Ele regressou ao
Pai, dando a sua última bênção terrena aos seus
discípulos e a nós (cf. Lc 24,50-52). As mãos de Cristo
tornam-se a cobertura que nos protege, e ao mesmo
tempo a força que abre as portas do mundo para o alto.
 Despedida
 Antes de beijar o altar, como fez no início e de se retirar
do presbitério com os ministros, o diácono ou mesmo o
sacerdote despede a assembleia dizendo: “Ite, missa
est”, que numa tradução literal significa “Ide, é a
despedida”. E os fiéis respondem: “Deo gratias”, isto é:
“Demos graças a Deus”. No Missa Romano, traduzido
para o português, a sobriedade de tais palavras no fim
da celebração, deu ocasião para o desenvolvimento de
uma compreensão mais profunda da relação entre
Eucaristia, Igreja e Missão. O encontro com o Senhor
tocou os nossos corações e nos dá uma vida nova.
Depois da bênção, o diácono ou o sacerdote despede o
povo com as palavras: “Ide em paz e o Senhor vos
acompanhe”, uma tradução aproximada da fórmula
latina: “Ite, missa est”. Nesta saudação, podemos
identificar a relação entre a Missa celebrada e a missão
cristã no mundo.
 Na antiguidade, o termo “missa”
significava simplesmente “despedida”;
mas, no uso cristão, o termo foi
ganhando um sentido cada vez mais
profundo, tendo o sentido de “despedir”
evoluído para “expedir em missão”. Deste
modo, a referida saudação exprime
sinteticamente a natureza missionária da
Igreja. Esta missão recorda a tarefa para
quem participou na celebração de levar a
todos a Boa Nova recebida e de animar
com ela a sociedade. Ou seja, a saudação
no final da Celebração Eucarística
convida todos a ser testemunhas daquela
caridade que transforma a vida do
homem e assim insere na sociedade o
germe da civilização do amor (cf. BENTO PP
XVI, Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Sacramentum
caritatis”, n. 51).
 Na frase original em latim: “Ite, missa est” a primeira
palavra da despedida é “ite”, um termo que está
biblicamente enraizada no mandato de Jesus
Ressuscitado aos Apóstolos: “Ide...” (Mt 28,19). Todos
aqueles que encontraram o Senhor ressuscitado
sentiram a necessidade de O anunciar aos outros,
como fizeram os dois discípulos de Emaús. Eles,
depois de ter reconhecido o Senhor ao partir o pão,
partiram imediatamente, voltaram para Jerusalém e
encontraram reunidos os onze apóstolos e contaram
o que lhes tinha acontecido pelo caminho (cf. Lc
24,33-35); por isto, ao final da missa a frase “Ite,
missa est”, também pode ser traduzida como “Ide, é
missão”. E não sem razão estas palavras finais, na
tradição, deram o nome de missa a todo o
acontecimento em seu conjunto, porque, em sua
totalidade, todo o desenrolar ocorrido ao longo da
celebração é missão, porque todas as ações de Deus
vão dirigidas sempre aos outros.
 A tradução para o português
da frase “Ite, missa est” ficou
como: “Ide em paz e o
Senhor vos acompanhe”, ao
que respondem os fiéis:
“Graças a Deus”. Estas
últimas palavras nos faz
pensar queesta paz de Cristo
não é uma paz estática,
somente uma espécie de
repouso, mas é uma paz
dinâmica que quer
transformar o mundo para
que seja um mundo de paz
animado pela presença do
Criador e Redentor.
 São Paulo frisa: “Todas as vezes que comerdes
este pão e beberdes este cálice, anunciais a
morte do Senhor até que Ele venha” (1Cor
11,26). Com isto, o Apóstolo nos exorta a fazer
constante memória deste mistério. Ao mesmo
tempo, nos convida a viver cada dia a nossa
missão de testemunhas e anunciadores do
amor do Crucificado, à espera do seu retorno
glorioso.
 Assim sendo, sempre que participamos de
uma Celebração Eucarística voltamos
espiritualmente ao Cenáculo! Reunimo-nos
com fé em torno do Altar do Senhor, fazendo o
memorial da Última Ceia. Repetindo os gestos
de Cristo, proclamamos que a sua morte
redimiu a humanidade do pecado, e continua
a dar esperança de um futuro de salvação para
os homens e as mulheres de todas as épocas.
Fim

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A participação na Santa Missa: aspectos litúrgicos e teológicos

  • 1.  A PARTICIPAÇÃO NA SANTA MISSA  Aspectos Litúrgicos e Teológicos
  • 2.  Introdução  A missa é o sacrifício de Ação de Graças por excelência, o que nos permite unir a nossa ação de graças à do Salvador, o Filho eterno do Pai; o fulcro de toda a nossa vida cristã. A nossa vida espiritual depende essencialmente da Eucaristia. Sem ela a fé e a esperança esmorecem, a caridade esfria.  Para uma análise mais substancial sobre a Celebração Eucarística é indispensável voltarmos ao Missal Romano, o livro oficial da Igreja para a Eucaristia. Não há celebração correta da liturgia sem o Missal, sem que o sacerdote e os demais ministros se deixem guiar no exercício das funções litúrgicas, pelos textos e normas nele contidas. A estrutura da Celebração Eucarística está pré-fixada e os textos são pré-definidos, embora pode haver possibilidades de escolher entre um e outro, conforme o caso, como é o caso dos prefácios.
  • 3.  Observamos inicialmente que ao longo de toda a Oração Eucarística e em todas as outras orações da Missa o destinatário é sempre Deus. Na língua portuguesa o pronome pelo qual nos dirigimos a Deus em toda a Missa é o Vós, a quem dirigimos através das palavras litúrgicas. A Santa Missa é a celebração comunitária do banquete entre Deus e cada pessoa. Mas quase todas as orações que o sacerdote, “in persona Christi”, dirige a Deus são feitas na primeira pessoa do plural “nós”, e implicam assim os demais, a comunidade, todos os fiéis (cf. J. RATZINGER, Obras Completas, Madrid, BAC, 2013, p. 8-9).  Na Santa Missa a palavra é dirigida ao Pai, não propriamente a Cristo, que, no seu lugar, está representado simbolicamente pelo sacerdote e, desse modo, está presente como porta-voz de todos os fiéis e que utiliza o sacramento como seu instrumento.
  • 4.  A Eucaristia desde cedo estava unida ao domingo, enquanto dia da Ressurreição. A forma desta celebração foi sendo concebida no âmbito do domingo à medida que ela ia se diferenciando da esfera da páscoa judaica para ser inserida no contexto da Ressurreição. A Eucaristia constituía-se a Festa da Ressurreição. Portanto, a Igreja, desde o seu início compreendeu que deveria celebrar a Eucaristia no dia da Ressurreição. Assim sendo, desde os primeiros tempos da vida da Igreja, os cristãos se reúnem para celebrar o Mistério Pascal de Cristo, na Eucaristia.
  • 5.  Cristo Jesus instituiu o sacramento da Eucaristia no contexto de uma refeição, certamente no contexto da refeição da páscoa judaica. Com o passar do tempo buscou-se a combinação da Fração do Pão com a Liturgia da Palavra, cujo modelo se encontra na sinagoga, pois as Palavras com que o Senhor instituiu a Eucaristia formam a grande oração de Ação de Graças e de bênção (berakha), proveniente das tradições sinagogais. O essencial da história da Última Ceia não era comer o cordeiro, nem comer os outros pratos tradicionais, mas a grande oração de louvor, que agora tinha como centro as palavras com que Jesus instituiu a Eucaristia. Com aquelas palavras, Ele transformou a sua morte no dom de si mesmo. Por isso, reconheceu-se que o essencial da Última Ceia era a eucaristia, o que hoje chamamos de Oração Eucarística.
  • 6.  Os paramentos litúrgicos do sacerdote  Na Sacristia o celebrante usa os paramentos próprios para a celebração. Como no Sacramento do Batismo temos um "intercâmbio de vestes", o que constitui uma nova comunhão existencial com Cristo, assim também no sacerdócio existe este intercâmbio: na administração dos Sacramentos, o sacerdote age e fala agora "in persona Christi". Nos sagrados mistérios ele não representa a si mesmo e não fala expressando-se a si mesmo, mas fala pelo Outro, por Cristo. Por ocasião da ordenação sacerdotal, cada sacerdote se coloca a disposição do Senhor. Ele põe-se à disposição daquele que "morreu por todos, para que, os que vivem, não vivam mais para si mesmos...” (2Cor 5,15). O sacerdote coloca- se à disposição de Cristo para estar verdadeiramente para todos.
  • 7.  Ao entrar na Igreja, os fiéis e a equipe de celebração fazem a genuflexão ou a inclinação. Entram com o porte erguido na liberdade e consciência, mas deparam, em seguida, com a grandeza do mistério que vão celebrar. Esta genuflexão ou inclinação é um gesto de humildade. Dobram-se diante de Deus, para mostrar a pequenez interior de quem olha para Deus. Inclinação ou genuflexão reduzem a visibilidade do corpo, traduzindo a diminuição interior. Faz bem pensar que, ao inclinar-se, ou ao ajoelhar-se, o corpo manifesta visivelmente o que o espírito sente diante de Deus: a atitude de adoração, veneração, submissão.
  • 8.  O celebrante chegando ao altar, beija- o. O altar é um lugar elevado, feito de madeira, de pedra ou de metal para sobre ele apresentar-se a Deus Pai o memorial do Corpo e Sangue de seu Filho. Na tradição eucarística, o altar, além de significar o lugar do sacrifício, sinaliza a mesa da refeição, porque a Eucaristia foi instituída sob essa forma. Recorda também o túmulo de Jesus, por isto, nele se incrustam, normalmente, relíquias de mártires, associando ao memorial da morte de Jesus e a morte daqueles que deram a vida por ele. A pedra do altar nos faz lembrar o próprio Cristo; a pedra que os construtores rejeitaram, mas tornou-se pedra angular (cf. Sl 118,22; Mt 21,42).
  • 9.  Início da celebração: o sinal da cruz.  O sinal da cruz é um gesto que envolve as partes nobres do corpo: cabeça, coração e ombros. É a haste vertical da cruz. Une o céu com a terra. O céu é simbolizado pela pessoa do Pai, a terra pela do Filho que viveu nela. Ligamos fisicamente com a mão os dois reinos celeste e terrestre, enquanto dizemos: “Em nome do Pai e do Filho”. O nome do Pai é pronunciado quando a mão toca a testa, a cabeça, simbolicamente centro do pensamento, das ideias, dos planos, dos projetos. É do Pai que surgiu o maravilhoso desígnio e plano salvífico para a humanidade. Ao ter a mão na cabeça, vale a pena pensar, meditar o que nos ensina São Paulo a respeito do Pai: “Ele nos abençoou com toda bênção espiritual nos céus. Ele nos escolheu antes da fundação do mundo para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar e no amor. Ele nos predestinou a sermos para ele filhos adotivos. Ele nos encheu de graça...” (Ef 1,3-9).
  • 10.  Ao tocar o coração, pronunciamos o nome do Filho. Tudo o que pensamos do Pai, realiza-se no e pelo Filho. Nele fomos amados, predestinados, chamados. O nosso coração deve estar repleto de gratidão. Por isso a mão detém-se um instante sobre o coração, sede simbólica dos afetos, dos amores, dos sonhos, dos desejos. Tudo envolvido pelo amor maior do Filho. Está plantada a haste vertical da cruz.  O gesto continua, as palavras prosseguem. Ao nomear o Espírito Santo, a mão vai de ombro a ombro, alargando e horizontalizando o movimento, em um expressivo simbolismo de abraçar a humanidade. Arma-se o madeiro horizontal da cruz.
  • 11.  Colocado no início da celebração, tal gesto recebe um significado especial. Não se trata diretamente de uma saudação à Trindade. É um gesto de abertura da ação litúrgica. Com isto, o sacerdote anuncia em nome de quem a assembleia está reunida: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito. Por isto a comunidade, consciente disso, responde: “Amém”. A partir desse instante, está constituída a assembleia litúrgica: quem nos reúne em comunhão de fé e de amor para ouvir a Palavra e celebrar a Eucaristia é o Deus da comunhão: O Pai, o Filho e o Espírito Santo.
  • 12.  O celebrante ao saudar a assembleia recorre às palavras de São Paulo: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco” (2Cor 13,13). E a assembleia responde: “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo” (IGMR 50). Esta saudação e a resposta do povo exprimem o mistério da Igreja reunida.
  • 13.  O Apóstolo São Paulo menciona esta suprema fonte trinitária, quando deseja aos seus cristãos: "A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!" (2Cor 13,13). Estas palavras evidenciam como o dom gratuito do amor do Pai em Jesus Cristo se concretizam e se exprimem na comunhão realizada pelo Espírito Santo. Temos então um estreito paralelismo: "A graça do Senhor Jesus Cristo... o amor de Deus... e a comunhão do Espírito Santo". A "comunhão" é apresentada como dom específico do Espírito, fruto do amor doado por Deus Pai e da graça oferecida pelo Senhor Jesus (cf. BENTO PP XVI, Audiência Geral, 29 de março de 2006).
  • 14.  Poder-se-ia afirmar que a graça, o amor e a comunhão, referidos respectivamente a Cristo, ao Pai e ao Espírito Santo, são aspectos diversos da única ação divina para a nossa salvação, ação que cria a Igreja e faz a Igreja como disse São Cipriano, no século III "um povo reunido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (S. CIPRIANO, De Orat. Dom., 23: PL 4, 536).  A comunhão como fruto do Espírito Santo é alimentada pelo Pão eucarístico (cf. 1Cor 10,16-17) e exprime-se nas relações fraternas, numa espécie de antecipação do mundo futuro. Na Eucaristia, Jesus nos alimenta, nos une a Si, com o Pai, o Espírito Santo e entre nós, e esta rede de unidade que abraça o mundo é uma antecipação do mundo futuro neste nosso tempo. Precisamente assim, sendo antecipação do mundo futuro, a comunhão é um dom que nos faz sair da nossa solidão, dos fechamento em nós mesmos, e nos torna partícipes do amor que nos une a Deus e entre nós (cf. BENTO PP XVI, Audiência Geral, 29 de março de 2006).
  • 15.  O sacerdote é o portador da graça e da paz para os outros. A palavra grega χαρις (charis), provém da palavra alegria e significa ser feliz, mas também indica beleza, satisfação, simpatia. É uma saudação e ao mesmo tempo um convite para que possa crescer em nós a alegria, que deve nos proporcionar a paz. Por traz da palavra ‘paz’ a Igreja primitiva percebia o mistério da Eucaristia, e por isso ‘paz’ passou muito cedo a constituir um dos nomes do sacramento eucarístico. Na verdade é neste sacramento que Deus vem a nós e nos liberta, de tal modo que, mesmo quando somos condenáveis a seus olhos, Ele nos toma nos braços e se dá a nós. E ao mesmo tempo que nos conduz na própria morada do seu amor, onde nos alimenta com o mesmo pão e nos confia uns aos outros como irmãos. A Eucaristia, é a paz que vem do Senhor (cf. J. RATZINGER, Deus próximo de nós, Coimbra, Tenacitas, 2005, p. 135-136).
  • 16.  O sacerdote pode ainda escolher outras saudações, conforme consta no Missal Romano, tais como: “O Senhor esteja convosco”. Ou ainda: “O Senhor, que encaminha os nossos corações para o amor de Deus e a constância de Cristo, esteja convosco”. E também: “Irmãos eleitos segundo a presciência de Deus Pai, pela santificação do Espírito para obedecer a Jesus Cristo e participar da benção da aspersão do seu sangue, graça e paz vos sejam concedidas abundantemente” (IGMR n. 124).
  • 17.  Ato Penitencial  Quem somos nós que celebramos a Eucaristia? Somos pecadores, necessitamos do perdão de Deus. É um momento em que os fiéis devem reconhecer que são pecadores e necessitam da purificação (Lc 18,9-14) e, com isto, são convidados a preparar-se para ouvir a Palavra de Deus e celebrar dignamente a Eucaristia.  Quando o sacerdote diz: “Irmãos e irmãs, reconheçamos as nossas culpas para celebrarmos dignamente os santos mistérios”, cada participante da Missa é convidado a fazer um momento de recolhimento, preenchendo- o com um ato interior de arrependimento, ou seja, com uma tomada de consciência da própria condição de pecador.
  • 18.  Em seguida, diz:  – O Confesso a Deus todo-poderoso e a vós, irmãos e irmãs, que pequei muitas vezes por pensamentos e palavras, atos e omissões, por minha culpa, por minha tão grande culpa. E peço à Virgem Maria, aos anjos e santos e a vós, irmãos e irmãs, que rogueis por mim a Deus, nosso Senhor.  Observemos que nesta fórmula todos, inclusive o sacerdote, dentro de si, cada um e todos juntos confessam diante de Deus, e em presença dos irmãos e das irmãs, ter pecado, ter culpa, aliás, uma “grande culpa”. Nota- se dois aspectos deste início da Sagrada Liturgia.
  • 19.  Por um lado fala-se no “eu”. “Eu” pequei; não confesso os pecados dos outros, não confesso pecados anônimos de uma coletividade, confesso com o meu “eu”; mas ao mesmo tempo são todos os membros que com o seu “eu” dizem “pequei”, isto é, toda a Igreja viva, nos seus membros vivos diz isso: “Eu pequei”. Cada fiel confessa-se diante de Deus, mas pede aos irmãos e às irmãs para que “rogueis por mim”, isto é, procura, nesta confissão comum diante de Deus, a reconciliação comum. O nosso pecado não afeta só a nossa comunhão com Deus, mas com a Sua Igreja toda: ele a fere, ele a macula, ele nos separa dela e especialmente da mesa eucarística que ela realiza, o altar. Este aspecto da comunhão é fortemente acentuado no Ato Penitencial. Pede-se ainda a intercessão da Mãe de Deus e de todos os santos. O que está em jogo não é só o perdão, mas a comunhão restaurada com Deus, com aqueles que estão ao meu redor, a quem posso olhar e dizer “e a vós, irmãos” (cf. J. RATZINGER, Ser cristão na era neopagã, Campinas, Ecclesiae, 2015, p. 31).
  • 20.  Mas este momento do Ato Penitencial vem acompanhado de um gesto, quando cada fiel diz: “Por minha culpa, minha tão grande culpa”, cujo fundamento está em Lc 18,9-14, na Parábola do fariseu e do publicano: bater no peito. Um gesto onde nos apontamos como pecadores, e não os outros, permanece um gesto significativo de oração. Com este gesto nos recolhemos para dentro de nós, para diante de nossa porta, então, justificadamente, pedirmos o perdão de Deus, aos santos e àqueles que nos rodeiam, para com quem nos tornamos culpados .
  • 21.  Uma outra opção seria os versículos responsoriais, conforme o Salmo 84,8:  O Sacerdote diz: “Tende compaixão de nós, Senhor”.  E os fiéis respondem: “Porque somos pecadores”.  E o Sacerdote ainda diz: “Manifestai, Senhor, a vossa misericórdia”.  E fiéis completam: “E dai-nos a vossa salvação”.
  • 22.  O Ato Penitencial é concluído com a absolvição geral dada pelo sacerdote: “Deus todo- poderoso tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna”. É uma oração que contém a certeza de que se a nossa confissão foi sincera o Senhor nos aceita. É a certeza do perdão que permite a franqueza da confissão. E esta certeza de que Deus perdoa, nos renova, faz parte essencial do Evangelho.  Essa conclusão, porém, “não possui a eficácia do sacramento da penitência” (IGMR 52). Precisamos sempre lembrar que a Eucaristia não é destinada a perdoar pecados mortais. Isso é próprio do sacramento da reconciliação. É próprio da Eucaristia ser o sacramento daqueles que estão na comunhão plena da Igreja (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1395).
  • 23.  É por isso que, desde os primórdios, a celebração da Eucaristia é precedida de uma certa capacidade de discernimento, conforme nos fala o Apóstolo São Paulo: “Todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação” (1Cor 1,27-29).  Em seguida temos o Kyrie eleison (Senhor, tende piedade de nós). É um canto em que os fiéis aclamam o Senhor e imploram insistentemente a sua misericórdia, deste modo: S. Senhor, tende piedade de nós! R. Senhor, tende piedade de nós! S. Cristo, tende piedade de nós! R. Cristo, tende piedade de nós! S. Senhor, tende piedade de nós! R. Senhor, tende piedade de nós! Pode-se também usar a fórmula em grego que a liturgia latina conservou: S. Kyrie, eleison. R. Kyrie, eleison. S. Christe, eleison. R. Christe, eleison. S. Kyrie, eleison. R. Kyrie, eleison.
  • 24.  A expressão Kyrios (Senhor), é a tradução para o grego da palavra hebraica Adonai, usada pelos judeus para referir-se a Deus, em substituição do nome santo Iahweh. Mas este mesmo título é, posteriormente, aplicado a Cristo (cf. J. MACKENZIE, Dicionário Bíblico, São Paulo, Paulus, 1984, p. 862-864).
  • 25.  Este momento conclusivo do Ato Penitencial nos faz lembrar do cego Bartimeu (cf. Mc 10,46-52). Ele não é cego de nascença, mas perdeu a vista: é o homem que perdeu a luz e está ciente disso, mas não perdeu a esperança, sabe segurar a possibilidade deste encontro com Jesus e confia-se a Ele para ser curado. Na realidade, ouvindo dizer que o Mestre passa pela sua estrada, grita: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” (Mc 10,47), e repete este pedido vigorosamente (v. 48) E quando Jesus o chama e lhe pergunta o que quer, responde: “Mestre, que eu veja!” (v. 51).
  • 26.  Na liturgia o pedido de piedade a Deus, vai além do simples pedido de perdão e de ajuda, pois comporta o reconhecimento prévio da grandeza e do Senhorio de Deus, que é sempre misericórdia e piedade. Isso abre caminho para a íntima afinidade entre o Kyrie e o Glória, que, como veremos, também aclama Jesus com os títulos de “Senhor”, e “Filho único de Deus Pai”. Não foi um canto composto para a liturgia eucarística. Fazia parte do tesouro de hinos da Igreja primitiva segundo o modelo dos hinos bíblicos, e nele ressoa o entusiasmo religioso dos primeiros séculos (cf. J. B. LIBÂNIO, Como saborear a Celebração Eucarística, São Paulo, Paulus, 2005, p. 21).
  • 27.  Hino de Louvor: Glória  Trata-se de um hino antigo e venerável (cf. IGMR, n. 53). É parte indispensável da liturgia da Missa. É recitado nas Missas dominicais e em todas as festas e solenidades de todos os tempos litúrgicos, deixando de ser cantado originariamente apenas nos tempos do Advento e da Quaresma:  Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados. Senhor Deus, Rei dos céus, Deus Pai todo- poderoso: nós Vos louvamos, nós Vos bendizemos, nós Vos adoramos, nós Vos glorificamos, nós Vos damos graças, por vossa imensa glória. Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito, Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai: Vós que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós; Vós que tirais o pecado do mundo, acolhei a nossa súplica; Vós que estais à direita do Pai, tende piedade de nós. Só Vós sois o Santo; só Vós, o Senhor; só Vós, o Altíssimo, Jesus Cristo; com o Espírito Santo na glória de Deus Pai. Amém.
  • 28.  Este hino retoma, em suas primeiras palavras, o canto dos anjos na noite de Natal: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por ele amados” (Lc 2,14). Em cada Eucaristia, o Natal se faz presente.  Às palavras dos anjos, desde o segundo século, foram acrescentadas algumas aclamações: "Nós te louvamos, te bendizemos, te adoramos, te glorificamos, te damos graças pela tua imensa glória"; e mais tarde, outras invocações: "Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho do Pai, que tiras o pecado do mundo...", até formular um suave hino de louvor que foi cantado pela primeira vez na Missa de Natal.  O Glória ressalta a continuidade existente entre o nascimento e a morte de Cristo, entre o Natal e a Páscoa, aspectos inseparáveis do único e mesmo mistério de salvação.
  • 29.  São Lucas narra que a multidão angélica cantava: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados" (Lc 2,14). Os anjos anunciam aos pastores que o nascimento de Jesus é glória para Deus nas alturas; e paz na terra aos homens. O Menino nascido em Belém é glória e paz. A palavra glória, em grego δόξα (doxa), indica o esplendor de Deus que suscita o louvor agradecido das criaturas. São Paulo dirá: "o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo" (2Cor 4,6).  A expressão "paz", em grego εἰρήνη (eirene), sintetiza a plenitude dos dons messiânicos, isto é, a salvação que, como anota sempre o Apóstolo São Paulo, se identifica com o próprio Cristo: "Com efeito, Ele é a nossa paz" (Ef 2,14). Por fim, encontra-se a referência aos "homens por Ele amados"; que também pode ser traduzida por "Seu agrado", a expressão em grego Εὐδοκία (eudokia), esta expressão originalmente significava "boa fama ou julgamento" ou "aquele cuja fama ou julgamento é bom".
  • 30.  O Evangelista São Lucas faz questão de frisar, na ocasião do nascimento de Jesus que o Imperador César Augusto havia ordenado um recenseamento: “Naqueles dias César Augusto publicou um decreto ordenando o recenseamento de todo o mundo” (cf. Lc 2,1). O nascimento de Jesus, portanto, está ligado à grande história universal, pois não é um acontecimento qualquer perdido no tempo. Pela primeira vez, é registrada todo o mundo conhecido. Mas, a partir do nascimento de Cristo começa uma nova contagem do tempo: Antes de Cristo e depois de Cristo. É significativo notar que no ano 27 a.C., o Senado romano havia conferido a César o título de Augustus, em grego σεβαστός (sebastos) – o adorável, sendo também chamado de salvador. Aplicado a Augusto, tal título possui uma conotação divina: o imperador suscitou uma mudança no mundo, introduziu um novo tempo e caberia ao Imperador promover a paz (cf. R. A. DE ASSUNÇÃO, O sacrifício da Palavra: A liturgia da Missa segundo Bento XVI. São Paulo, Ecclesiae, 2016, p. 98-100).
  • 31.  No Glória, em Jesus e por Jesus, louva-se o Pai a quem o dirigimos primeiramente, com alguns de seus títulos: Senhor Deus, Rei dos Céus, Deu Pai todo-poderoso. É muito humano encher de títulos a quem respeitamos, a quem estimamos, a quem julgamos importante. Assim fazemos com Deus. Como todo gesto humano simbólico, padece de ambiguidade. No mundo aristocrático, os nobres reivindicam e exigem rigorosamente que lhes sejam dados os títulos: reis, príncipes, condes, barões..., com os respectivos pronomes de tratamento. Em certos espaços civis e eclesiásticos, constatamos o mesmo: juízes, políticos, professores, profissionais liberais, monsenhores, bispos, cardeais. São eles saudados com os títulos de meritíssimo, excelência, doutor, eminência, santidade. Então, recordar no Glória esses títulos de Deus coloca- nos na dimensão de nossa pequenez diante da majestade divina. Ele é realmente o Senhor Deus, Ele é o Rei dos céus e o Deus Pai todo-poderoso.
  • 32.  Concluindo os ritos introdutórios, o celebrante diz “oremos”. É um momento em que ele convida a assembleia fazer, no íntimo do coração, uma breve oração a Deus. Temos um momento de silêncio para comunicarmos com Deus; manifestar a Ele os nossos sentimentos, os desejos, que nos ocupam e até mesmo nos preocupam; nosso agradecimento ou as nossas expectativas. É um momento para que os fiéis possam formular interiormente seus pedidos. E então o presidente da celebração recolhe todos esses nossos anseios e os oferece na oração do dia.
  • 33.  Esta Oração do dia, ou Coleta, consiste numa súplica coletiva a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo; e tem sempre três elementos: a invocação dirigida a Deus, um pedido que se faz e a finalidade do pedido. A comunidade confirma o pedido dizendo: “Amém”. Esse “Amém” explicita a participação falada e sentida de todos. O sacerdote se coloca como o porta-voz dos fiéis. Mas a função que a Oração da coleta cumpre vai um pouco além: ela recolhe e transforma numa só prece as intenções particulares.  Vejamos um exemplo de Oração do dia: “Ó Deus, atendei como pai às preces do vosso povo; dai-nos a compreensão dos nossos deveres e a força de cumpri-los. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo” (Missal Romano, I semana do Tempo Comum).
  • 34.  Liturgia da Palavra  A partir da Liturgia da Palavra, a Celebração se desloca para o “ambão”, enquanto lugar litúrgico onde é proclamada a Palavra de Deus. A palavra “ambão” (ἄμβων), tem origem grega “anabáino” (ἀναβαίνω), ou seja, lugar de se elevar, subir para discursar sobre algo; algo como “elevação”.  No livro do Profeta Neemias é narrado que, depois do retorno do exílio, para proclamar a Lei “o escriba Esdras estava sobre um estrado de madeira, construído para a ocasião” (Ne 8,1-6). Provavelmente as decorações presentes nas sinagogas judias para a leitura da Bíblia estejam na origem dos ambões nas igrejas paleocristãs e no alto período medieval, espécies de tribunas de mármore, uma ou duas, com um ou dois degraus de escada e, às vezes, um baldaquino, normalmente delimitados em um espaço dentro da sala, destinado a leitores e cantores.
  • 35.  Desde o século IV, os cristãos tinham por costume usar uma plataforma elevada durante a missa para cantar ou ler a Epístola, em geral, era lida uma das Cartas de São Paulo e o Evangelho. Alguns historiadores acreditam que essa plataforma deriva da que os rabinos usavam para ler as escrituras diante do povo. Espiritualmente, ela é inspirada no fato de que Jesus “subiu à montanha, sentou-se e seus discípulos se aproximaram dele. Então tomou a palavra e começou a ensiná-los” (Mt 5,1-2).
  • 36.  À medida que o rito litúrgico se desenvolvia, passaram a ser colocados dois ambões para distinguir entre a Epístola e o Evangelho: o ambão da Epístola era colocado ao lado sul do sacrário, enquanto que o ambão do Evangelho ficava ao norte. No século XIV começou um declive no uso dos ambões, que perderam espaço para os púlpitos. A palavra “púlpito” deriva do latim ‘pulpĭtum’, que, originalmente, designava uma espécie de palco. Nas igrejas medievais, o púlpito se tornou uma plataforma usada principalmente para a pregação. O púlpito era colocado no centro da nave principal, o lugar onde ficava o povo. Sua posição era elevada para que a voz do sacerdote chegasse mais facilmente até os fiéis.
  • 37.  A Introdução Geral ao Missal Romano nos diz: “A dignidade da Palavra de Deus requer um lugar condigno de onde possa ser anunciada e para onde se volte a atenção dos fiéis, no momento da liturgia da Palavra” (IGMR, 309). A Igreja orienta que seja “uma estrutura estável e não uma simples estante móvel. Seja colocado no espaço de forma que os leitores possam ser vistos e ouvidos com facilidade” (IGMR, 309).
  • 38.  A ordem que seguimos na Liturgia da Palavra é uma herança sinagogal. A tradição israelita já contemplava para o sabbat (sábado) a leitura da Lei (os livros históricos, desde o Livro do Gênesis até o Livro dos Macabeus) e dos Profetas (de Isaías até Malaquias). O culto israelita manteve-se fiel a esta tradição e podemos encontrar testemunhos disso no próprio Novo Testamento, quando Jesus proclama um trecho do Livro do Profeta Isaías na sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4,16-30).  Portanto, os primeiros cristãos adotaram a ordem da Sinagoga, acrescentando somente o Evangelho como terceira leitura, inicialmente um relato oral que, posteriormente, foi fixado por escrito (cf. T. SCHNITZLER, Missa, mensagem de vida, São Paulo, Paulinas, 1978, p. 130-134).
  • 39.  O ato de ler para a comunidade a Palavra assume beleza e grandiosidade, devido a importância do texto a ser lido: É a Palavra de Deus. O leitor se situa num lugar mais elevado, voltado para os fiéis, não só por razões funcionais acústicas e visuais, mas também simbólicas. A Palavra de Deus vem do Alto. Altura teologal e não física. Reflete sua sublimidade. O leitor anuncia o título do livro bíblico a ser lido e começa em seguida a leitura do texto, sem dirigir nenhuma saudação à comunidade. Esta é reservada para a proclamação do Evangelho a fim de mostrar a diferença de importância entre as duas leituras (cf. J. B. LIBÂNIO, Como saborear a Celebração Eucarística, São Paulo, Paulus, 2005, p. 32-33).
  • 40.  O leitor conclui recordando aos fiéis de quem são as palavras lidas, ao dizer: Palavra do Senhor. Senhor é a versão portuguesa para o termo grego κύριος (Kyrios) e o latino Dominus. A versão grega do Antigo Testamento, chamada Septuaginta, traduziu o nome de Deus para Senhor; enquanto o Novo Testamento o aplica a Jesus. No entanto, quando unido a Deus, refere-se ao Pai de Jesus, a primeira pessoa da Santíssima Trindade. O fiel precisa prestar um pouco de atenção para distinguir quando, ao usar o título Senhor, dirige- se a Deus Pai, como no final da leitura – Palavra do Senhor –, ou a seu Filho Jesus, como no “Senhor, tende piedade de nós” (cf. J. B. LIBÂNIO, Como saborear a Celebração Eucarística, São Paulo, Paulus, 2005, p. 34).
  • 41.  Salmo Responsorial  Depois da Primeira Leitura, ou nas Missas dominicais entre a Primeira e a Segunda Leituras, temos o Salmo Responsorial. Especialmente no Livro dos Salmos, encontramos as palavras com as quais podemos nos dirigir ao Senhor, levar a nossa vida, como seus altos e baixo, o que nos possibilita um colóquio com Ele. Nestes cânticos, compenetram-se palavra e resposta; por um lado, são tirados da Palavra de Deus, mas, por outro, e simultaneamente, são já a resposta do homem à referida Palavra, resposta na qual a própria Palavra se comunica e entra na nossa vida (cf. BENTO PP XVI, Homilia no encerramento do ano sacerdotal, 11 de junho de 2010).
  • 42.  Em grego a expressão salmos ψαλμοί, (psalmói); e psalmus, em latim, vêm do verbo psallo¸ que equivale a pulsar, fazer vibrar as cordas do Saltério, um instrumento musical semelhante a uma harpa (cf. J. ALDAZÁBAL, Dicionário elementar de liturgia, São Paulo, Paulinas, 2004, p. 457).  Isto sugere que os salmos foram compostos para serem cantados. Ao cantar um salmo, unimos aos orantes da Antiga Aliança, que rezavam cantando. Na Liturgia da Palavra o salmo figura entre a Primeira e a Segunda Leituras ou mesmo entre a Leitura única, mais frequente do Antigo Testamento, e o Evangelho. Sendo Jesus o novo Davi e os salmos a sua oração, são eles, ao mesmo tempo, a oração típica dos dois Testamentos: oração de Israel e oração de Cristo e da Igreja nascente. Isso dá aos salmos um caráter de ligação entre ambos. Dentro do Antigo Testamento, o saltério é a ponte entre a Lei e os Profetas.
  • 43.  Aclamação ao Evangelho  Precede à leitura do Evangelho, uma aclamação. Excluindo o período da quaresma, envolve o versículo do salmo com o canto do aleluia, que é um termo de origem hebraica "Halleluyah", formado pela junção de “Hallelu”, que significa Louvar, mais “Yah” que significa Deus, Javé. Portanto Aleluia é um elogio ao Deus, Javé.  O canto do aleluia tem um toque pascal que se enfatiza no Tempo Pascal, repetindo-o mais vezes, e permanece ao longo do ano como uma ressonância da Páscoa em toda celebração, exceto na Quaresma ou em celebrações de toque penitencial ou de tristeza. É na Ressurreição do Senhor que temos o verdadeiro fundamento da alegria festiva. E é na Ressurreição que todas as palavras de Jesus encontram a sua confirmação, o seu cumprimento. Portanto, na liturgia a Igreja vê chegando o Cristo vivo que irá falar, que nos traz e nos doa mais uma modalidade de sua presença.
  • 44.  Nesta acolhida, neste júbilo tão festivo, nessa resposta antecipada à Palavra que vem, a Igreja expressa a alegria dos redimidos. Pode-se dizer que o Aleluia é um canto sem palavras, onde expressa uma alegria que não precisa mais de palavras, porque o termo “Aleluia” está acima de todas elas. É o coração que se alegra sem palavras (cf. Sl 32,3).  Antes da Proclamação do Evangelho, temos o momento da incensação. Desde o século IV, costumeiramente, aos domingos e nas grandes solenidades (cf. IGMR 119), utiliza o incenso na Santa Missa e noutras celebrações especiais. O incenso é uma resina aromática que é queimada em brasas, símbolo da oração da Igreja (cf. Ap 5,8 e 8,3-5) que sobe à presença de Deus: “Suba minha oração como incenso na tua presença; a elevação das minhas mãos, como sacrifício vespertino” (Sl 141,2). Queimar incenso é ato de adoração e equivale à oferta de um sacrifício. O perfume nele acrescenta um elemento jubiloso, alegre, de satisfação e de beleza (cf. S. ROSSO, Dicionário de Liturgia, São Paulo, Paulus, 1992, p. 340).
  • 45.  O incenso foi um dos presentes que os magos do Oriente ofereceram ao Menino Jesus, quando foram ao seu encontro e, de joelhos, se puseram a adorá-lo (cf. Mt 2,1-12). Na Sagrada Escritura, fala-se da tradição da oferta do incenso durante os sacrifícios antigos (cf. Ex 30,1; Pr 27,9; Is 1,13). O incenso fazia parte da composição aromática sagrada destinada unicamente a Deus (cf. Ex 30,34ss) e se transformou em gesto de adoração. Em linhas gerais, é símbolo de culto prestado a Deus e de adoração. No último livro do Novo Testamento, o Apocalipse, o Evangelista São João vê sete anjos que estavam diante de Deus, com trombetas e um turíbulo de ouro cheio de incenso: são as orações dos santos (cf. Ap 8,3-4).
  • 46.  Proclamação do Evangelho  A liturgia da Palavra é concluída com a leitura de uma perícope tirada de um dos quatro evangelhos. Eles são, entre todos os escritos do Antigo e do Novo Testamento, os mais importantes. O seu nome já indica: Boa nova! Boa Mensagem! Mensagem de salvação por excelência. Assim como uma procissão, esperamos o último que vem como o mais importante, assim também na sequência das leituras o evangelho é a última, a mais relevante, visibilizando a afirmação do Evangelista São Mateus: “Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos” (Mt 20,16).
  • 47.  O termo “Evangelho” tem a sua origem no grego εὐαγγέλιον (evangélion), e que significa “boa nova”, tem uma longa história. No texto do Profeta Isaías, este termo aparece como a voz que anuncia a alegria de Deus, como voz que faz compreender que Deus não se esqueceu do seu povo, que Deus está presente (cf. Is 40,9). O próprio Jesus retomou as palavras do Profeta Isaías em Nazaré, “falando deste Evangelho” (Lc 4,18-19). Mas para entender o significado desse termo é importante retomar o uso da palavra no Império Romano, começando pelo imperador Augusto. Aqui a expressão “evangelium” indica uma palavra, uma mensagem que vem do Imperador. Por conseguinte, a mensagem do Imperador como tal traz o bem: é renovação do mundo, é salvação. A mensagem imperial era tida como uma mensagem de força e de poder; é uma mensagem de salvação, de renovação e de saúde.
  • 48.  Assim, esta palavra “Evangelho” pertence à linguagem do imperador romano, visto como o senhor do mundo e como o redentor, o salvador. As mensagens que vinham do imperador chamavam-se “Evangelho”, independentemente do fato de o seu conteúdo. O que vem do imperador, e esta era a ideia, é uma mensagem redentora, não uma simples notícia, mas uma mudança do mundo para a bem (cf. R. A. DE ASSUNÇÃO, O sacrifício da Palavra: A liturgia da Missa segundo Bento XVI. São Paulo, Ecclesiae, 2016, p. 98-100).  Ocorre o “Evangelho”, quando Deus interrompe o seu silêncio e nos fala através de seu filho Jesus. Este fato enquanto tal é salvação: Deus nos conhece, nos ama, entra na história. Jesus é a sua Palavra, o Deus conosco e, por isto, entra na história. Jesus é a Palavra de Deus entre nós. Ele é o próprio Evangelho (cf. BENTO PP XVI, Meditação durante a Oração da Hora Tércia, 8 de outubro de 2012).
  • 49.  Deus, e não o imperador, é o Senhor do mundo, e o verdadeiro Evangelho é o de Jesus Cristo. A “boa nova” que Jesus proclama resume-se nestas palavras: “O Reino de Deus está próximo” (Mc 1,15). A novidade da mensagem de Cristo é, portanto, que Deus nele se fez próximo, já reina entre nós, como demonstram os milagres e as curas que realiza.  São Mateus dizia que Jesus atravessou a Galileia anunciando “o Evangelho do Reino de Deus” (Mt 4,23; cf. 9,35) e São Marcos escrevia que Jesus, estando na Galileia depois do martírio de João Batista, começa a sua pregação dizendo: “Completou-se o tempo, o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,14s). A palavra “Evangelho”, no próprio Novo Testamento, acabou se tornando a designação da pregação de Jesus.
  • 50.  Se seguimos as primeiras leituras sentados, na posição de escuta, de atenção e de assimilação, o Evangelho se ouve na posição de pé, indicando a prontidão, do soldado que vigia as portas da caserna ou da cidade. Estamos prontos para ouvir a mensagem maior da fé, levando-a ao mundo inteiro, como nos diz o próprio Cristo: “Ide pelo mundo inteiro, proclamais o Evangelho a todas as criaturas” (Mc 16,15). Estamos prontos para vivê-la no cotidiano. Estamos prontos, no limite da exigência, a dar a vida por aquele que nos anunciou a mensagem, como milhões de mártires ao longo dos dois mil anos de cristianismo. Ouvimos de pé, na posição de respeito e delicadeza, como nos levantamos diante de uma pessoa respeitável pela idade, pela dignidade, pela amizade. A leitura do Evangelho merece atenção e acolhida. É um presente em palavra e vida que Jesus nos deixou.
  • 51.  A importância da leitura do Evangelho manifesta-se também pelo grau de ordem do leitor: diácono ou sacerdote. Lembremo-nos de São Francisco de Assis, que era irmão leigo e se fez ordenar diácono para poder cantar o Evangelho na festa de Natal. Tal era sua devoção pela leitura do evangelho e pelo nascimento do Senhor. A Igreja reserva todo um respeito para com a leitura do Evangelho. O diácono, antes de proclamá-lo pede a bênção ao celebrante que lhe dirige essas palavras: “O Senhor esteja no teu coração e nos teus lábios para que anuncies dignamente este santo evangelho”.
  • 52.  Também o sacerdote, antes de proclamar o Evangelho, reza em silêncio “Ó Deus todo- poderoso, purificai-me o coração e os lábios, para que eu anuncie dignamente o vosso santo Evangelho” (IGMR 132). Esta oração remete claramente ao relato da vocação do Profeta Isaías: o profeta, logo depois de ver o Senhor sentado sobre o trono e os Serafins acima dele, que entoavam o cântico do “Sanctus”, declara-se “homem de lábios impuros” (Is 6,5); um dos Serafins toma uma brasa do altar e toca os lábios do profeta; e diz que a sua iniquidade está removida e o seu pecado está perdoado. O relato termina com o envio do Profeta Isaías (cf. Is 6,6- 10). Isto mostra que tanto o profeta de ontem quando o pregador, o sacerdote de hoje, colocam- se diante de Deus de forma individual, carregando a dignidade que advém do sacramento, mas também a fraqueza e a debilidade de sua natureza.
  • 53.  Esta oração do sacerdote deveria ser realmente recitada por ele em silêncio e devotamente, na consciência da responsabilidade de anunciar corretamente o Evangelho. Sabemos que precisamos purificar os lábios e o coração para anunciar dignamente as palavras do Santo Evangelho.  Os acólitos caminham à frente com as velas acesas. A vela, como toda luz, é imagem da iluminação espiritual na escuridão da ignorância. É o símbolo de Cristo, da Igreja, da fé e testemunho. Quando o celebrante ou diácono entra na Igreja no Sábado Santo, com o círio aceso, canta: Lumen Christi! (Luz de Cristo!). Antes, ao acender o círio, diz: “A luz do Cristo que ressuscita resplandecente dissipe as trevas de nosso coração e nossa mente!” O hino do Exsultet que se canta logo após a procissão do Círio, gira em torno da dualidade luz e trevas: “O Círio que acendeu as nossas vidas possa esta noite toda fulgurar; misture sua luz à das estrelas, cintile quando o dia despontar”.
  • 54.  O Círio Pascal é a grande vela acesa que simboliza o Senhor Ressuscitado. É o símbolo mais destacado do Tempo Pascal, que fica sobre uma elegante coluna ou candelabro enfeitado. A palavra “círio” vem do latim “cereus”, de cera, o produto do labor das abelhas. O uso do círio pascal é anterior ao século VI. O rito de acender o círio pascal nasceu de um costume diário dos cristãos. Sem eletricidade, o ato de acender a luminária, ao cair da noite, se tornara um rito familiar, que trazia alegria e segurança. O círio pascal representa Jesus que é a luz que ilumina a noite da humanidade.
  • 55.  Os acólitos que levam os candelabros acesos na procissão do Evangelho são crianças que já receberam a primeira eucaristia. Tal rito tem sua beleza própria. A criança está bem próxima do mistério, não pela inteligência teórica, mas pela conaturalidade da graça. O pecado não lhe fez estragos. A proximidade com Deus é mais transparente. E a vela acesa manifesta essa luz a brilhar. Aquele acólito reafirma a sua fé pela vela acesa, manifestando a vontade de permanecer fiel ao Senhor, reafirmando a Graça recebida no batismo e reafirmada na Eucaristia.
  • 56.  As velas acesas simbolizam a fé de toda a comunidade que, em pé, escuta o Evangelho. Ali está a brilhar diante dos olhos de todos. A cera consome, desaparece para brotar a luz. Símbolo da vida de quem crê na Boa Nova do Senhor. O cristão se entrega, se gasta por ela.
  • 57.  A comunidade, já em pé, acompanha jubilosa com o canto o caminhar do Evangeliário até o ambão de onde será proclamada a Palavra. Sempre ao lado, as velas acesas: a luz, o fogo, o calor. São Jerônimo vê nelas a expressão da alegria da comunidade em ouvir a palavra de Deus. Quando nos oprime a escuridão, calamo-nos abatidos. E se de repente, faz-se luz, rompemos em alegria. Assim atravessam a escuridão interior de nossa existência as duas velas, ao trazer- nos a festa e alegria da claridade.  O livro com a Palavra, as velas acesas, o ministro ordenado, a comunidade de pé, consciente, livre em atitude de escuta atenta e comprometida. O rito preparatório da leitura do evangelho, bem diferente da simplicidade e austeridade que procede às primeiras leituras, mostra a relevância que a liturgia lhe atribui, visando ressaltar ainda mais este momento.
  • 58.  As primeiras leituras começaram sem nenhuma saudação à comunidade, enquanto que no momento da Proclamação do Evangelho, o Sacerdote diz: “O Senhor esteja convosco”. Os fiéis respondem: “Ele está no meio de nós”. Resposta bem significativa que faz a comunidade consciente daquele em nome do qual ela está reunida, de quem ela vai ouvir a Palavra, com quem ela se compromete ao escutá-la. É o Senhor Jesus Cristo Ressuscitado que está no centro da celebração e em torno do qual todos se congregam na fé. Se ele não estivesse conosco, nada poderíamos fazer (cf. Jo 15,5). Estando no nosso meio, tudo é possível.
  • 59.  Na versão latina, a comunidade responde de outro modo: Em latim, diz inicialmente o sacerdote: “Dominus vobiscum” (O Senhor esteja convosco). A resposta é: “Et cum spiritu tuo” (E com o teu Espírito). Nisto temos também um símbolo expressivo. A comunidade deseja que o Senhor, com seu Espírito, que é o Espírito Santo, esteja com o ministro que anunciará o evangelho. Há uma intercomunicação do Espírito. Na comunidade para acolher a Palavra; e no ministro para proclamar. A troca de saudação exprime essa intercomunhão no Espírito.  Inicia-se com as palavras solenes: Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, indicando o nome do evangelista. Não é simples leitura. É pro-clamação. A etimologia fala de “chamar diante”. Clamar e chamar tem a mesma origem latina – clamare. É um chamar clamando, é um clamar chamando. Grita e convoca.
  • 60.  Após estas palavras pronunciadas pelo sacerdote, os fiéis respondem: Glória a vós, Senhor. Mais uma vez temos a expressão “glória”. A glória vem do que dizemos de alguém. Podemos glorificar ou difamar uma pessoa, quando lhe tecemos elogios ou acusações. Na Sagrada Escritura e na tradição teológica, a glória não vem de fora, de que se diz mas do interior da pessoa. Quando dizemos “Glória a vós, Senhor”, reconhecemos externamente, percebemos por fora a grandeza interna divina da realidade de Cristo. A sua santidade manifesta-se nas palavras que vamos ouvir. Esperamos ansiosos por elas e, por isso, proclamamos a glória de quem as proferiu.  Nas celebrações mais solenes, temos em seguida a incensação do Evangelho, o que indica a presença de Jesus entre nós por meio da palavra. E ao incensá-lo, incensamos o próprio Cristo feito Palavra por e para nós.
  • 61.  Segue-se a leitura a ser feita com calma, clareza de voz, respeito e dignidade. É o núcleo por excelência da fé cristã que se desvela diante dos olhos dos fiéis. É o próprio Cristo que fala. Por isso a expressão “Jesus disse a seus discípulos”, indica, em outras palavras que Jesus continua dizendo aos discípulos hoje.  No momento em que se anuncia o Evangelho todos fazem um sinal da cruz na testa, na boca e no peito. Este tríplice sinal da cruz tem por finalidade pedir o auxílio de Deus para que as palavras que vamos ouvir se tornem uma fonte de bênçãos. Fazemos o sinal da cruz na testa para pedir que os nossos pensamentos sejam renovados, e se tornem os pensamentos de Cristo. Na boca para que jamais nos envergonhemos do Evangelho e possamos anunciá-lo a todos. No peito, para conservar sempre no coração as palavras de Jesus, e assim vencer todas as sugestões diabólicas que tentam nos afastar de Deus.
  • 62.  O momento da proclamação guarda uma solenidade e gravidade. Só a voz do leitor rompe o silêncio da Igreja, fazendo chegar a todos os participantes da comunidade a Palavra de Deus. Por isso, é importante que a leitura seja feita clara e distintamente, procurando sem exageros teatrais que se perceba não só o sentido isolado das palavras, mas o gênero e a forma literária do texto e deve lembrar a fala do próprio Mestre, do Filho de Deus, que ensina com autoridade.  Ao terminar a leitura, o ministro exclama: “Palavra da salvação”. E os fiéis respondem: “Glória a vós, Senhor!” No fim da proclamação do Evangelho a Igreja aclama o Cristo, dizendo no singular: “Palavra da Salvação”, com o complemento da assembleia “Glória a vós, Senhor”. Não falamos “Palavras do Senhor” após as leituras, mas dizemos também no singular: “Palavra do Senhor”, pois ela é uma só: a Palavra eterna encarnada. Esta aclamação após as leituras tem como destinatário o próprio Cristo, porque esta Palavra é o próprio Deus, porque todas as palavras se referem à Palavra (cf. J. RATZINGER, A caminho de Jesus Cristo, Coimbra, Tenacitas, 2006, p. 84).
  • 63.  No fim, confirmamos com mais convicção ainda, porque ouvimos o texto do Evangelho. Assim, no final da leitura do Evangelho, dizemos que nós cremos porque ouvimos e sabemos da beleza da sua palavra e não somente porque o ministro anunciou no inicio.  Em voz baixa ou alta, conforme o costume, o ministro relembra a força purificadora da Palavra de Deus, dizendo: “Pelas palavras do Santo Evangelho sejam perdoados os nossos pecados”. Na tradição litúrgica se distingue o ato de perdão dos pecados pela via do Sacramento da Reconciliação e por outros atos chamados de “sacramentais” que agem por sua vinculação direta ao sacramento. A leitura da palavra de Deus é um sacramental que também perdoa os pecados numa continuidade e referência ao sacramento da penitência.
  • 64.  Ao concluir a Proclamação do Evangelho, o sacerdote ou o diácono que fez a leitura, beija o Evangelho em sinal de veneração. Com isto demonstra a certeza de que foi o próprio Cristo quem acabou de falar. Este gesto é repetido várias vezes na liturgia: altar, livro... Os homens nas rodas sociais sofisticadas beijavam as mãos das mulheres em sinal de cortesia. Em círculos religiosos, beijavam-se as mãos dos sacerdotes ou anel do bispo. Os escravos o faziam nos pés de seu senhor. Era antes um gesto de deferência e de submissão do que de amor.
  • 65.  Homilia  Após a proclamação do Evangelho temos a homilia, que é o prolongamento da Palavra Escrita para dentro do momento de hoje e para a comunidade presente em ressonância com o tempo litúrgico e em conexão com a celebração litúrgica. O termo grego ὁμιλία (homilia), reflete uma experiência de estar em companhia, de ajuntar-se a, de conversar, de ter e estar num relacionamento profundo. A transposição desse termo para dentro da celebração indica o espírito que deve ter a homilia: criar entre pregador e a assembleia um relacionamento de proximidade, de companhia, de presença. A função da homilia, atribuída pelo missal, é aquela de nutrir a vida cristã (cf. IGMR 65), ou seja, alimentar abundantemente os fiéis com a Palavra.
  • 66.  Credo  O Credo, colocado logo depois da homilia, sinaliza a referência para quem prega e para quem ouve. É uma manifestação da fé, que nos impede de crer em um Deus diferente daquele que foi anunciado e revelado em Jesus Cristo; o pregador pode se sentir tentado a anunciar no ambão uma visão particularista de Deus, de Cristo ou da Igreja, pois a homilia não tem como objetivo comunicar algo de novo, mas visa apenas consolidar a todos na fé, por isto, aquele que prega deve estar em plena comunhão com a fé da Igreja da qual é emissário e servidor. Assim sendo, pode-se lembrar daquela palavra pronunciada pelo próprio Cristo: “A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou” (Jo 7,16).
  • 67.  O Credo está dividido em três partes: A parte cristológica é muito mais desenvolvida. O Pai e o Espírito Santo aparecem relacionados com suas obras. Tal estrutura revela o caminho da fé cristã já que conhecemos o Pai e o Espírito por meio de Jesus Cristo.  Na língua latina o verbo credere aparece com duas regências diferentes. E começa dizendo: “Credo in unum Deum”. A preposição “in” tem um significativo sentido teológico. O próprio verbo credere, que faz pensar em cor+dare - dar o coração a alguém - levanta a pergunta: em quem podemos realmente crer? Resposta: Em Deus. E para traduzir essa exclusividade do ato de fé, o latim usa a preposição in: “Credo in Deum, in Iesum et in Spiritum Sanctum”. Creio em Deus, em Jesus e no Espírito Santo. Depois da confissão de fé no Espírito Santo, o credo continua dizendo: creio na Santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na Vida eterna.
  • 68.  Quando afirmamos: “Creio em Deus”, nós dizemos como Abraão: “Confio em ti; confio-me a ti, ó Senhor!”, mas não como a alguém ao qual recorrer apenas nos momentos de dificuldade, ou a quem dedicar alguns momentos do dia ou da semana. Dizer “Creio em Deus” significa fundar sobre Ele a minha própria vida, deixar que a sua Palavra a oriente todos os dias, nas escolhas concretas, sem medo de perder algo de mim mesmo. Quando, no Rito do Batismo, por três vezes somos interrogados: “Credes?” em Deus, em Jesus Cristo, no Espírito Santo, na santa Igreja católica e nas outras verdades de fé, a tríplice resposta é no singular: “Creio”, porque é a minha existência pessoal que deve passar por uma transformação mediante o dom da fé; é a minha existência que deve mudar, converter-se. Cada vez que participamos de um batizado, deveríamos perguntar-nos como vivemos diariamente o grande dom da fé recebido neste sacramento.
  • 69.  Oração dos fiéis  Como conclusão da Liturgia da Palavra está a Oração dos fiéis, onde, de certo modo, pede-se pelas necessidades da Igreja universal e da comunidade local, pela salvação do mundo, pelos que se encontram em qualquer necessidade e por grupos determinados de pessoas.  A Instrução Geral do Missal Romano assinala: “Na oração universal ou oração dos fiéis, o povo responde de certo modo à Palavra de Deus acolhida na fé e, exercendo a sua função sacerdotal, eleva preces a Deus pela salvação de todos” (IGMR 69). Essa oração nasce como como uma resposta à Palavra proclamada. E a assembleia, movida pela fé e pela confiança no seu Senhor, dirige-se a Ele com os seus pedidos em forma de prece.  Essa oração não tem como objetivo as petições particulares, mas todos rezam juntos, dentro do nós da Igreja, por necessidades comuns. A assembleia litúrgica vai além das próprias necessidades e clama aos céus, dirige-se a Deus rogando por toda a Igreja.
  • 70.  Ofertório: Apresentação das oferendas  As liturgias atuais conhecem duas formas de procissão das oferendas. Mais comumente, enquanto se faz a coleta entre os fiéis, os acólitos trazem ao altar as oferendas. Em dias mais festivos, organiza-se uma procissão desde a entrada da Igreja até o altar com as oferendas. Escolhem-se pessoas significativas da comunidade. Não raro, além dos vasos sagrados, do pão e do vinho, trazem-se outras ofertas expressivas. Além disso, associaram-se a esse momento as ofertas da comunidade para a manutenção material da Igreja e para o cuidado dos necessitados, dando um colorido litúrgico de oferenda a Deus e de sacrifício aos dons trazidos pelos fiéis.
  • 71.  A oferenda do pão e do vinho de uva tem a sua importância por serem elementos fundamentais da celebração e por serem eles sinais da presença real de Jesus glorificado. Na procissão do ofertório se canta, como se fez na procissão de entrada. O canto exprimia a alegria com que os fiéis ofereciam os dons, segundo São Paulo: “Deus ama a quem dá com alegria” (2Cor 9,7).  No pão e no vinho que levamos ao altar, toda a criação é assumida por Cristo Redentor para ser transformada e apresentada ao Pai (cf. SC 47).
  • 72.  Simbolismo do pão  O pão feito de trigo é o símbolo universal de alimento, por ser ele de fundamental importância para a vida de muitos povos. Serve para designar os bens da criação. E amplia-se para a ideia de sustento: ganhar o pão de cada dia com seu trabalho para manter a família. A oração do Pai-nosso, na sua intelecção imediata e comum dos fiéis, pede os meios de subsistência, de alimentação para cada dia. Pão e água resumem o mínimo vital e, por isso, expressam também uma vida de austeridade, de jejum: “Jejuar a pão e água” ou “passar a pão e água”.
  • 73.  O Evangelista São João nos narra que em certa ocasião disse Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo não cai na terra e morre, fica só; mas se morre, dá muito fruto” (Jo 12,24). No pão, feito de grãos moídos, esconde-se o mistério da Paixão. A farinha, o grão moído, pressupõe o morrer e o ressuscitar do grão. O ser moído e cozido manifesta uma vez mais o mesmo mistério da Paixão. Só através do morrer chega o ressurgir, chega o fruto e a nova vida. O Cristo que morre nos leva à vida. Ele se converteu em pão para todos nós.
  • 74.  O pão, feito de muitos grãos de trigo, encerra também um acontecimento de união: o converter-se em pão de grãos moídos é um processo de unificação. Nós mesmos, dos muitos que somos, temos que converter-nos em um só pão, em seu Corpo, nos diz São Paulo (cf. 1Cor 10,17). O pão também nos recorda a peregrinação de Israel durante os quarenta anos no deserto. A Hóstia é o maná com o qual o Senhor nos alimenta, é verdadeiramente o pão do céu, com o qual Ele faz a entrega de si mesmo: “Quem come a Minha carne e bebe Meu sangue tem a vida eterna e Eu ressuscitá- lo-ei no último dia” (Jo 6,54). De fato, aquele que come este Corpo eucarístico do Senhor e bebe na Eucaristia o Sangue por Ele derramado para a redenção do mundo, chega àquela comunhão com Cristo, da qual o Senhor mesmo disse: “Permanece em Mim e Eu nele” (Jo 15,4). E o homem, permanecendo em Cristo, no filho que vive no Pai, vive mediante Ele, daquela vida que forma a união do Filho com o Pai no Espírito Santo: vive a vida divina.
  • 75.  Na ação litúrgica, o sentido mais importante de pão é, naturalmente, ser o sinal visível do Corpo de Cristo, isto é, da sua presença real. Como a Eucaristia é interpretada como o sacrifício expiatório de Cristo, o pão assumiu o termo de hóstia, que, em latim, significa vítima, fazendo parte fundamental do vocabulário sacrifical. Primitivamente, a palavra hóstia se usava para um ser vivo, para o animal que devia ser abatido. Hóstia vem do verbo hostire, que significa ferir. Devia-se entender primeiramente de Cristo, que se fez hóstia por nós (cf. Ef 5,2), o cordeiro do sacrifício. É mais antigo o uso de “oblata” para designar o pão levado para a oferta. Hóstia foi usado numa época unicamente para o “pão consagrado” e só mais tarde, como hoje, designa todo pão destinado à missa (cf. J. B. LIBÂNIO, Como saborear a Celebração Eucarística, São Paulo, Paulus, 2005, p. p.82).
  • 76.  Simbolismo do vinho  A outra substância que constitui a matéria sacramental da Eucaristia é o vinho de uva. Também ele carrega uma história de símbolos. É fruto da videira. Ela é símbolo da fecundidade no Oriente Próximo. Como se regenera com facilidade de maneira que o cepo verdeja e dá novos ramos, simboliza a vida, a regeneração espiritual no mundo pagão e cristão. A vida depois do dilúvio começa com a plantação da vinha por Noé (cf. Gn 9,20). O cacho de uva gigantesco, que os doze exploradores da terra de Canaã, enviados por Moisés, trazem, anuncia a fertilidade da Terra Prometida (cf. Nm 13,23).
  • 77.  Na Eucaristia, o vinho exprime também esse lado festivo. Mas a razão principal é muito mais profunda. Assemelha-se ao sangue pela cor e por ser o sangue (suco) da uva. É símbolo da transformação, porque o suco da uva esmagada possui poder de transformar-se em algo mais potente, modificando quem o toma. Tomar o vinho significa beber o Sangue de Cristo, unir-se a Ele e possuir sua força, que é a vida eterna. As palavras do sermão de Cafarnaum, lidas à luz da instituição da Ceia e do simbolismo do vinho, se iluminam: “Quem bebe meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia. Porque meu sangue é verdadeiramente bebida e quem bebe meu sangue permanece em mim, e Eu nele” (Jo 6,54-56).
  • 78.  Voltando ao tema da Eucaristia, podemos ainda dizer que o vinho remete à imagem do lagar, onde a uva era exprimida, em tempos antigos, sob o calcar dos pés ou sob o peso de prensas fazendo correr o suco vermelho de que o vinho é feito. Doloroso símbolo da paixão, sofrimento e esmagamento de Jesus. Pinturas medievais o representam de pé ou de joelhos numa prensa do lagar. A cruz toma a forma da prensa. O milagre de Caná apresenta-nos o vinho noutra perspectiva. A quantidade de vinho e o fato contrário ao costume de que um vinho bom seja deixado para o fim mostram a intenção de João. É a vida nova, em abundância, que Jesus trouxe (cf. Jo 2,1-11).
  • 79.  Outro pequeno rito consiste em misturar ao vinho uma gota de água. Esse rito, desde o século II, foi posto em evidência. São Cipriano, no século III, insiste no sentido simbólico. Como o vinho absorve a água, assim Cristo tomou sobre si a nós e os nossos pecados. A água, ao misturar-se com o vinho, simboliza a comunidade intimamente em comunhão com o Senhor, a quem ela se uniu na fé. É uma união tão estável que ninguém pode dissolvê-la assim como a água já não pode ser separada do vinho. “Se alguém oferece só o vinho, o sangue de Cristo se encontra sem nós; se só é a água, é o povo que se encontra sem o Cristo” (A. BECKHÄUSER, Liturgia da missa: Teologia e espiritualidade da Eucaristia, Petrópolis, Vozes, 2012, p. 57).
  • 80.  A desproporção da quantidade de vinho em relação a uma gotinha de água sugere a pequenez da humanidade (água) e a grandeza da divindade (vinho). A oração, que o sacerdote recita em silêncio, traduz bem o significado da nossa participação da divindade de Cristo (vinho), como ele se dignou assumir a nossa humanidade (água). Ideia que o prefácio do Natal III recorda: “o maravilhoso encontro que nos faz renascer, pois, enquanto o vosso Filho assume a nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade” (Missal Romano, São Paulo, Paulus, 2006, p. 412).
  • 81.  A água pertence a um tipo de grandes símbolos permanentes que atravessam as diferentes tradições culturais e religiosas, devido à proximidade com a vida. A vida nasce da água, não persiste sem a água e morre com sua falta. A água gera vida e a elimina como no dilúvio, nas grandes tempestades. A água cura, purifica e regenera. Todas essas valências ressoam no mundo simbólico religioso.  As orações, que acompanham a apresentação do pão e do vinho, traduzem-lhe a dimensão imanente e transcendente. São fruto da terra, da videira e do trabalho humano. É a natureza e a atividade humana, o conjunto da criação e da história que se unem na expressão dessas duas substâncias. Por detrás, está a bondade de Deus que nos concede esses dons e a quem os apresentamos na certeza de que se tornem para nós pão da vida e vinho da salvação pela força da ação litúrgica.
  • 82.  A oferta do cálice reforça a ideia de pedido de salvação. Em vez de usar a primeira pessoa do singular, aplicada no oferecimento do pão, passa-se para o plural: “para nós se vai tornar vinho da salvação”. O gesto de apresentação perde um pouco da teatralidade do ofertório, para assumir a simplicidade de quem apresenta a Deus os dons recebidos na esperança de que eles serão vida e salvação para nós. A oração assume a forma de bênção de louvor a Deus pelos dons apresentados.  No pão e no vinho que levamos ao altar, toda criação é assumida por Cristo Redentor para ser transformada e apresentada a Deus Pai. Nesta perspectiva, levamos ao altar também todo o sofrimento e tribulação do mundo, na certeza de que tudo é precioso aos olhos de Deus (cf. SC 47).
  • 83.  Terminada a dupla apresentação do pão e do vinho, o sacerdote se inclina numa súplica de humildade, onde o sacerdote pede explicitamente a Deus que acolha benigno e que lhe seja agradável desse sacrifício: “De coração contrito e humildade, sejamos, Senhor, acolhidos por vós; e seja o nosso sacrifício de tal modo oferecido que vos agrade, Senhor, nosso Deus”. É um gesto de beleza simbólica em contraste com a anterior de elevação do pão e do vinho. Agora ele se abaixa. Na elevação se mostram os dons que serão os sinais da presença real de Jesus. Na inclinação, o sacerdote mostra sua pequenez de pecador diante da sublimidade das oblatas.
  • 84.  Nas celebrações festivas, após a apresentação das oferendas, ocorre uma solene incensação no ofertório das oblatas, do altar, do sacrário, do crucifixo, do celebrante, de toda equipe de celebração e do povo. Antes era o rito que concluía o ofertório, e hoje se faz antes do lavabo. Considera-se o incenso algo consagrado a Deus, a quem nos unimos por uma espécie de comunhão, pedindo o dom do “fogo do amor divino” em resposta a nossa oferta. Na liturgia antiga, quando o sacerdote devolvia o turíbulo ao diácono (acólito) rezava uma oração, onde mostrava o verdadeiro sentido da incensação das pessoas: “Que o Senhor acenda em nós o fogo de seu amor e a chama da caridade eterna” (cf. J. B. LIBÂNIO, Como saborear a Celebração Eucarística, São Paulo, Paulus, 2005, p. 90-91).
  • 85.  Lavabo  Em seguida, o sacerdote lava as mãos, como sinal de purificação interior (cf. IGMR, 76), enquanto reza em voz baixa, pedindo a graça da pureza: “Lavai-me, Senhor, das minhas faltas e purificai- me do meu pecado”. O símbolo do lavabo é imediato. Antes de iniciar o momento principal da ação litúrgica, cabe um gesto de purificação. As realidades sagradas não podem ser tocadas com mãos e corações impuros.
  • 86.  Conclusão do ofertório  O sacerdote termina a preparação das oferendas, num gesto de braços abertos, convidando os fiéis para rezarem a fim de que o sacrifício seja aceito por Deus: “Orai irmãos, para o nosso sacrifício seja aceito por Deus Pai todo-poderoso”. E os fiéis na assembleia une-se ao sacerdote respondendo: “Receba o Senhor por tuas mãos este sacrifício, para glória do Seu Nome, para nosso bem e de toda a santa Igreja”.
  • 87.  Em seguida à resposta dos fiéis, o sacerdote recita a oração sobre as oferendas, que outrora se fazia em silêncio. Ela faz parte de uma arquitetura bem expressiva. Para concluir os ritos iniciais, o sacerdote recitou a oração da coleta. Ao terminar a celebração ele faz a oração “depois da comunhão”. E agora, concluindo a preparação das oblatas, recita também uma oração. Desta maneira, a oração do celebrante serve como chave de clausura em cada uma das partes fundamentais da ação litúrgica.
  • 88.  Oração Eucarística Antecedendo a Oração Eucarística que começa depois do “Sanctus”; temos o Prefácio. A palavra “Prefácio”, etimologicamente, indica aquilo que se fala antes, no sentido temporal. Três saudações à comunidade antecedem o início da proclamação. O sacerdote inicia o Prefácio convidando os fiéis a unir-se, a associar-se à oração que ele vai realizar, por meio do seguinte diálogo: S. O Senhor esteja convosco. R. Ele está no meio de nós. S. Corações ao alto. R. O nosso coração está em Deus. S. Demos graças ao Senhor, nosso Deus. R. É nosso dever e nossa salvação.
  • 89.  Três aspectos significativos do prefácio: sua orientação a Deus Pai, ornado com vários títulos, a mediação de Jesus Cristo e a invocação dos anjos. Entre esses três elementos fundamentais tecem-se os aspectos próprios de cada festa. No prefácio temos uma Ação de Graças pelos dons de Deus, em particular pelo envio de seu Filho Jesus Cristo como o nosso Salvador. Os louvores a Deus terminam fundindo-se no hino de louvor dos coros angélicos e, de certo modo, ocupamos o lugar dos anjos decaídos.
  • 90.  Um texto do Livro do Profeta Daniel também é recordado: “Eu continuava olhando; de súbito foram colocados tronos, e um ancião tomou lugar. Sua veste era branca como neve e os cabelos da cabeça puros como lã. Seu trono era chamas de fogo e suas rodas, fogo ardente; um rio de fogo brotava dele aos borbotões. Dezenas de milhares o serviam e centenas de milhares se mantinham de pé diante dele” (Dn 7,9- 10). Este texto tem um traço neotestamentário que alude a Jesus Cristo: “Bendito aquele que vem em nome do Senhor”. Esta passagem do salmo 118,26 é aplicada a Jesus pela multidão na sua entrada em Jerusalém cf. (Mt 21,9) e Ele mesmo se aplica a si, quando lamenta a respeito de Jerusalém (cf. Mt 23,39).
  • 91.  Esse versículo cantado no “Sanctus” assume a dimensão do Cristo glorioso sempre a vir, sempre presente: “Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do universo. O céu e a terra proclamam a vossa glória. Hosana nas alturas. Bendito O que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas”. Mas os que aclamam o Senhor agora não são somente os serafins, mas todo o exército celeste, a cuja aclamação, graças a Cristo que une o céu e a terra, pode se unir toda a Igreja, a humanidade salva.
  • 92.  Também aparece no texto o termo “hosana”, que é a forma grega ὡσαννά de uma expressão hebraica ‫ָא‬‫נ‬ ‫ה‬ָ‫יע‬ ִׁ ‫הֹוש‬ (hoshi'ah na') de ‫ע‬ ַׁ ‫ָש‬‫י‬ (Yasha’) e ‫ָא‬‫נ‬ (Na') que significa "salva, te rogamos", "Salva, agora" ou "ajuda, te pedimos, liberta”. A partícula na’ significa “suplicamos” ou “rogamos”. Por isso a exclamação “Hosana” pode ser entendido como “salva agora”, “ajuda agora” ou “salva, por favor” (cf. D. A. FLORES, Dicionário Bíblico - Concordância Analítica do Grego do Novo Testamento, in <www.dicionariobiblico.blogspot.com>. Acesso aos 23 de abril de 2022).
  • 93.  Ao concluir o prefácio chegamos ao âmago da Oração Eucarística, que é o coração da Santa Missa, especialmente com as palavras da Consagração, ela forma um hino, uma peça literária única. São quatro as principais Orações Eucarísticas da edição típica do Missal Romano. Em primeiro lugar temos o Cânon Romano, conhecida também como Oração Eucarística I, de origem autoral desconhecida. Ela foi desenvolvida a partir do Haggada pascal, uma oração judaica de ação de graças, de louvor, onde Jesus deixou impressas as palavras de sua Última Ceia, tornando o núcleo central da Eucaristia. Temos também a Oração Eucarística II, uma versão adaptada da anáfora de Hipólito de Roma (176-236); a Oração Eucarística III, sem autor determinado; e por fim, a Oração Eucarística IV, composta pelo monge e teólogo Cipriano Vagaggini (1909-1999).
  • 94.  Pela fé acreditamos que em cada Celebração Eucarística Jesus se faz presente. É o “mistério da fé”, como dizemos depois da consagração. O sacerdote diz: “Eis o mistério da fé” e respondemos com uma aclamação. Celebrando o memorial da morte e ressurreição do Senhor, na expetativa da sua vinda gloriosa, a Igreja oferece ao Pai o sacrifício que reconcilia céu e terra: oferece o sacrifício pascal de Cristo oferecendo-se com Ele e pedindo, em virtude do Espírito Santo, para se tornar “em Cristo um só corpo e um só espírito” (IGMR, 79f). A Igreja deseja unir-nos a Cristo e tornar-se com o Senhor um só corpo e um só espírito. É esta a graça e o fruto da Comunhão sacramental: nutrimo-nos do Corpo de Cristo para nos tornarmos, nós que o comemos, o seu Corpo vivo hoje no mundo (cf. FRANCISCO PP, Audiência Geral, Quarta-feira, 7 de março de 2018).
  • 95.  A Oração Eucarística pede a Deus que receba todos os seus filhos na perfeição do amor, em união com o Papa e o Bispo, mencionados pelo nome, sinal de que celebramos em comunhão com a Igreja universal e com a Igreja particular. A súplica, como oferenda, é apresentada a Deus por todos os membros da Igreja, vivos e defuntos, na expetativa da bem- aventurada esperança de partilhar a herança eterna do céu, com a Virgem Maria (cf. CIgC 1369-1371). Ninguém fica esquecido na Oração Eucarística e tudo é reconduzido a Deus, como recorda a doxologia que a conclui (cf. FRANCISCO PP, Audiência Geral, Quarta-feira, 7 de março de 2018).
  • 96.  A Liturgia Eucarística contém duas “epicleses”, que é uma expressão que vem do grego epi-kaleo, que significar chamar sobre, em latim “invocare”, que quer dizer “invocar”. Neste caso, refere-se à invocação do Espírito Santo (cf. J. ALDAZÁBAL, Dicionário elementar de Liturgia, São Paulo, Paulinas, 2007, p. 105-106). Ou seja, duas vezes na Oração Eucarística, o sacerdote invoca o Espírito Santo: a primeira vez sobre as oblatas e a segunda sobre a comunidade dos fiéis.
  • 97.  Logo no início da Oração Eucarística II, diz o celebrante: “Na verdade, ó Pai, vós sois santo e fonte de toda santidade. Santificai, pois, estas oferendas, derramando sobre elas o vosso Espírito, a fim de que se tornem para nós o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, o vosso Filho e Senhor nosso”. E na Oração Eucarística III, invoca o Sacerdote: “Por isso, nós vos suplicamos: santificai pelo Espírito Santo as oferendas que vos apresentamos para serem consagradas, a fim que se tornem o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso, que nos mandou celebrar este mistério”. E na Oração Eucarística IV: “Por isso, nós vos pedimos que o mesmo Espírito Santo santifique estas oferendas, a fim de que se tornem o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso, para celebrarmos este grande mistério que ele nos deixou em sinal da eterna aliança”.
  • 98.  Neste horizonte, compreende-se a função decisiva que tem o Espírito Santo na celebração eucarística e, de modo particular, no que se refere à Transubstanciação; quando, na Consagração, ocorre, o pão e o vinho conservam todos os seus acidentes (cor, quantidade, sabor…), mas se transformam, em suas substâncias de pão e de vinho, na substância do corpo humano e no sangue de Jesus Cristo. É um mistério de fé e exige uma intervenção de Deus que tudo pode a fim de ser realizado esse grande ato de amor, pois antes de sua morte e ressurreição, o Senhor Jesus quis dar-se em comida e bebida para nos salvar.
  • 99.  Terminada a consagração, o sacerdote diz: “Eis o mistério da fé!”. E o povo aclama: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”. Com esta exclamação pronunciada logo a seguir às palavras da consagração, o sacerdote proclama o mistério celebrado e manifesta o seu enlevo diante da conversão substancial do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do Senhor Jesus, realidade esta que ultrapassa toda a compreensão humana. Com efeito, a Eucaristia é por excelência mistério da fé: É o resumo e a súmula da nossa fé (cf. SC n. 11).
  • 100.  A expressão “Vem, Senhor Jesus” (Ap 22,20), é a tradução do aramaico “Maranatha”. A tradução desta palavra pode ser: “Vem, Senhor Jesus”; ou: “O Senhor veio”. Ao olhar para as espécies eucarísticas todos podem ver realizada a vinda de Jesus no presente, aquela vinda quotidiana, permanente, garantida à Igreja por meio do ministério sacerdotal e que a cria e recria até o fim dos tempos. Mas ao dizer “Maranatha” fitando a hóstia e o vinho consagrados, já retirados de sua condição natural e elevados à condição de presença sacramental e verdadeira de Cristo, a Igreja professa a sua fé na segunda vinda do Filho de Deus, que se realizará no dia e na hora que o Pai desejar; por isso, com o termo “Maranatha” proclamamos: “Vem, Senhor Jesus” (Ap 22,20); em outras palavras, significa que a Eucaristia é também Jesus Cristo futuro, Jesus Cristo que virá. Quando contemplamos a Hóstia sagrada, o seu Corpo de glória transfigurado e ressuscitado, contemplamos aquilo que contemplaremos na eternidade, descobrindo aí o mundo inteiro sustentado pelo seu Criador em cada instante da sua história. Cada vez que O comemos, mas também cada vez que O contemplamos, anunciamo-Lo até que Ele regresse (cf. J. RATZINGER, Obras completas XI, Madrid, BAC, 2012, p. 496).
  • 101.  O sacerdote conclui a Oração Eucarística tomando a patena e o cálice, elevando-os um pouco sobre o altar, diz: “Por Cristo, com Cristo, em Cristo, a Vós, Deus Pai todo- poderoso na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda a glória agora e para sempre”. O povo aclama: “Amém”. A insistência na mediação de Cristo volta aqui, a título de conclusão; ou seja, o nosso sacrifício de louvor passa por Cristo. É Ele quem roga por nós e coloca nos nossos lábios a Sua oração, pois só Ele pode dizer: “Isto é o meu Corpo; isto é o meu sangue”. É Ele, pois, quem nos introduz na Sua vida, naquele ato de amor eterno em que Se entrega ao Pai. É por Seu intermédio que nós passamos a ser também, com o próprio Cristo, oferenda ao Pai. Eis de que modo a Eucaristia se constitui como sacrifício: é entrega a Deus em Jesus Cristo e, nesse mesmo ato, torna- se também oferenda que acompanha o dom do Seu amor. Na verdade Cristo é simultaneamente oferente e oferta, por Ele, com Ele e Nele é que nós celebramos a Eucaristia (cf. J. RATZINGER, Deus próximo de nós, Coimbra, Tenacitas, 2005, p. 139).
  • 102.  O povo responde, seguindo longa tradição, a doxologia com o Amém. É o assentimento, a assinatura do povo. Para valorizar o amém, em muitas celebrações, ele é cantado, repetidas vezes, pelos fiéis. A celebração não é do sacerdote, mas de toda comunidade. E se ela apenas interveio com aclamações durante a oração eucarística, no final explode em alegre aceitação e ratificação de tudo o que vem sendo celebrado: o memorial da páscoa de Jesus. Se a comunidade negasse o amém, não invalidaria a presença real de Jesus como oferta, mas o seu sentido maior que é criar a comunidade de fé.
  • 103.  Rito da Comunhão  A última parte da Liturgia Eucarística é formada pelo Rito da Comunhão. O termo comunhão, na sua etimologia, vem equivocadamente interpretado, como comum + união. Quanto ao sentido, seria bonito. Mas o termo esconde outra raiz, não menos significativa. Comunhão vem de cum + munus, muneris, que quer dizer: oficio, missão, encargo. A comunhão põe-nos numa mesma missão. E na celebração eucarística, pela comunhão acontecem as duas realidades. Entramos em íntima união com o mistério pascal da morte e ressurreição de Jesus e assim somos inseridos no coração do desígnio salvífico de Deus Pai pela ação do Espírito Santo. Não o fazemos na pura singularidade, mas enquanto comunidade, Igreja, em comum união entre nós. Ao mesmo tempo, assumimos a missão de viver em comunidade tal realidade salvadora.
  • 104.  Embora o sacrifício não implique necessariamente um convite à mesa, conheceram-se na antiguidade pagã sacrifícios de que as pessoas participavam, comendo e bebendo. No rito judaico, o cordeiro pascal, sacrificado no templo, era comido em ceia ritual com outros alimentos. O sacrifício de Cristo, realizado na cruz, foi instituído como memorial numa ceia e foi perpetuado sob a forma de refeição, onde se comunga do corpo e do sangue do Senhor.
  • 105.  A oração do Pai-nosso  O rito da Comunhão tem início com a oração do Pai- nosso. Esta oração é introduzida pelas palavras do sacerdote: “Obedientes à palavra do Salvador e formados por seu divino ensinamento ousamos dizer”, ao que todos rezam: “Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”. A Igreja reza essa oração todos os dias na Missa, pois é a oração primordial ensinada pelo próprio Jesus aos seus discípulos (cf. Mt 6,7-13; Lc 11,2-4). São Gregório Magno comentou uma vez numa carta que o Pai-nosso é tão importante na missa porque foi uma oração composta por Cristo (cf. R. A. DE ASSUNÇÃO, O sacrifício da Palavra: A liturgia da Missa segundo Bento XVI. São Paulo, Ecclesiae, 2016, p. 274).
  • 106.  A oração do Pai-nosso é superior a qualquer oração composta pelo homem, incluindo as orações eucarísticas. Ou seja, a origem nos próprios lábios de Cristo seria suficiente para tê-la na Missa. Mas o que justifica, ou melhor, o que explica a sua localização precisamente no rito da comunhão? O lugar ocupado pela oração do Senhor na Missa também remonta ao Papa São Gregório Magno. Além do fato de que, para ele, a primeira parte do Pai-nosso sintetizaria as partes do Cânon Romano (Oração Eucarística I), o Papa Gregório defendia que se se devia fazer uma oração junto às oferendas já consagradas, devia ser a oração composta pelo próprio Senhor (cf. J. A. JUNGMANN, Missarum sollemnia, São Paulo, Paulus, 2009, p. 728-732).
  • 107.  Mas a razão pela qual o Pai- nosso se tornou, na Missa, uma oração de preparação para a comunhão, está no quarto pedido, dos sete que a compõem, e o sentido sacramental identificado nele e que os Padres da Igreja compreenderam também como um pedido eucarístico; neste sentido, o Pai-Nosso está na liturgia da Santa Missa como uma oração da mesa eucarística (cf. BENTO PP XVI, Jesus de Nazaré. Do Batismo no Jordão à Transfiguração, São Paulo, Planeta, 2017, p. 141).
  • 108.  A oração do Pai-nosso é a oração dos simples, dos humildes; a oração daqueles que amam a pobreza no Espírito Santo e a vivem. Mas a prece vai ainda mais fundo, pois a palavra que traduzimos por “de cada dia” ἐπιούσιος (epiousios), antes não era conhecida na língua grega. É um termo usado da oração do Pai-nosso. E, por mais que os especialistas possam discutir sobre o seu sentido, é muito provável que o termo epiousios também signifique: “dá-nos a pão de amanhã, a saber, o pão do mundo que há de vir”. De fato, só a Eucaristia é a resposta para aquilo que o misterioso termo epiousios significa: o pão do mundo que há de vir, pão que já nos é dado hoje, de modo que o mundo vindouro já se inicie hoje no meio de nós. Alguns Padres da Igreja viram aqui uma referência à Eucaristia, o pão da vida eterna do mundo novo, que nos é dado já hoje na Santa Missa, para que desde agora o mundo futuro tenha início em nós. Portanto, com a Eucaristia o céu vem à terra; é o banquete do Reino antecipado na Eucaristia; o amanhã de Deus desce ao presente e o tempo é como que abraçado pela eternidade divina (cf. S. CIPRIANO DE CARTAGO, A oração do Pai-nosso, São Paulo, Quadrante, 1989, p. 29)
  • 109.  Assim sendo, observa-se que essa oração nos prepara para a comunhão. A catequese insistiu com razão na necessidade da devida preparação para participar da comunhão, fazendo eco à advertência de São Paulo: “Quem come o pão ou bebe o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo e então coma do pão e beba do cálice; pois aquele que, sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe, come e bebe sua própria condenação” (1Cor 11,27-29).
  • 110.  Quando esta oração do Pai-nosso é rezada na Missa, o Cerimonial dos Bispos, orienta: “Terminada a Oração eucarística, o Bispo junte as mãos e proclame o convite à oração dominical, a qual todos, a seguir, cantam ou recitam. Enquanto isso, o Bispo e os concelebrantes mantêm as mãos estendidas”. O rito prescreve apenas o gesto do Bispo e Sacerdotes concelebrantes. A interpretação da legislação litúrgica nos faz entender que os diáconos e os demais ministros, como também os fiéis em geral, devem permanecer em pé e de mãos unidas (cf. L. TRIMELONI, Compendio di Liturgia Pratica, III ed., Casa Editrice Marietti, Genova- Milano, 2010, p. 375).
  • 111.  Algumas pessoas perguntam sobre a ausência do “Amém”, quando a Oração do Pai-nosso é recitada na missa. A resposta é simples: A palavra “Amém” (hebraico ‫ן‬ ֵ ‫מ‬ ָ‫א‬ , grego ἀμήν), um dos vocábulos mais utilizados pelos cristãos, é dificilmente traduzível em seu sentido mais profundo, por isso, a palavra é mantida em hebraico, no seu idioma original; e utilizada sempre em relação a Deus. Pronunciar esta palavra é proclamar que se tem por verdadeiro o que se acaba de dizer e tem como objetivo confirmar uma afirmação; significa “estar de acordo” com o que foi dito. O termo “Amém” é utilizado também para concluir as orações, no entanto, a oração do Pai-nosso, quando rezada dentro da missa, não é acompanhada pelo “Amém” no final porque a oração ainda não terminou, o sacerdote continua a oração sozinho. A liturgia chama isso de “embolismo”, ou seja, uma oração que recolhe e desenvolve a oração precedente, pois logo após a recitação do Pai-nosso temos uma ampliação da última petição: “Livrai-nos do mal”.
  • 112.  A saudação de paz  A saudação de paz entre os fiéis, colocado desde a antiguidade antes da Comunhão, visa a Comunhão eucarística. Segundo a admoestação de São Paulo, não é possível comungar o único Pão que nos torna um só Corpo em Cristo, sem nos reconhecermos pacificados pelo amor fraterno (cf. 1Cor 10, 16-17; 11,29). A paz de Cristo não pode enraizar-se num coração incapaz de viver a fraternidade e de a reparar depois de a ter ferido. É o Senhor quem concede a paz: Ele nos dá a graça de perdoar a quem nos tem ofendido. Compreendemos bem que estas são exigências muito adequadas para nos prepararmos para a Sagrada Comunhão (cf. IGMR 81).
  • 113.  A distribuição da comunhão  Terminado o momento da paz, o sacerdote parte a hóstia, ao mesmo tempo em que a assembleia reza o Cordeiro de Deus. Antes tal gesto estava vinculado à paz. Agora ao Cordeiro de Deus. Além do gesto necessário de partir para distribuir, como se disse na narrativa da Instituição, é fácil perceber a relação entre a hóstia quebrada, rompida e o cordeiro imolado. Há um gesto sacrifical nos dois simbolismos, entre si articulados.
  • 114.  O ministro com a hóstia diz ao fiel antes de dar- lhe a comunhão: “O Corpo de Cristo”. Não se trata de um mo mento de adoração, mas de distribuição, de partilha do Corpo do Senhor. Essa indicação é um último chamado à liberdade, à interioridade do fiel. E ele confirma-o com: “Amém”. Assim seja. É isso mesmo que eu quero: participar do Corpo do Senhor (cf. S. AGOSTINHO, Sermo 272, in PL 38, 1247).
  • 115.  Vale lembrar uma frase do Papa Bento XVI sobre este momento, onde diz: “Sempre me comovo quando, ao distribuir a comunhão, posso e devo dizer: ‘O corpo de Cristo’ quando dou aos fiéis, depositando na palma das suas mãos, algo que é infinitamente mais do que tudo o que eu sou e tenho; quando lhes dou muito mais do que seria capaz de lhes dar apenas como ser humano; quando posso pôr o próprio Deus vivo nas suas mãos e nos seus corações” (J. RATZINGER, Homilias sobre os santos, São Paulo, Quadrante, 2007, p. 32).
  • 116.  Ritos finais  Após a comunhão o sacerdote diz: “Oremus”. Um breve momento de silêncio para recolher o que vivemos nessa celebração e especialmente a participação na comunhão. Apresentemos no silêncio do coração essa experiência de amor. E o sacerdote, ao recolher todas elas, oferece ao Pai com a oração depois da comunhão. Costuma ser um último pedido de que vivamos no cotidiano e de que sejamos conduzidos à plenitude da vida pela força do que celebramos.  Em seguida temos a Bênção Final, quando o sacerdote abre os braços e saúda os fiéis com estas Palavras: “O Senhor esteja convosco”; e o povo responde: “Ele está no meio de nós”. Em seguida o sacerdote abençoa o povo, dizendo: “Abençoe-vos Deus todo-poderoso, Pai e Filho e Espírito Santo”, tendo como resposta o Amém, como no início da Missa. O Missal indica por meio de uma cruz colocada depois da palavra “Filho”, que é o momento em que o sacerdote deve traçar a Cruz sobre os fiéis. Cruz e bênção estão intimamente relacionadas: toda bênção procede da Cruz onde o Filho de Deus foi imolado.
  • 117.  O sinal da Cruz é o gesto fundamental da nossa oração, da prece do cristão. Fazer o Sinal da Cruz significa pronunciar um sim visível e público Àquele que morreu por nós e ressuscitou. A cruz, que é o seu sinal no Céu e na Terra, tornou-se o verdadeiro gesto de bênção para os cristãos e se converteu em bênção, fonte de todas as bênçãos, de todas as transformações e de toda a fecundidade.  A bênção nos mostra que a celebração da Eucaristia termina exatamente como começou: marcando-nos com a Cruz de Cristo. Mas a bênção feita com a Cruz nos recorda não somente o Calvário, e o nosso Batismo na Morte e Ressurreição de Jesus, mas também outro monte, o Monte das Oliveiras, onde Ele regressou ao Pai, dando a sua última bênção terrena aos seus discípulos e a nós (cf. Lc 24,50-52). As mãos de Cristo tornam-se a cobertura que nos protege, e ao mesmo tempo a força que abre as portas do mundo para o alto.
  • 118.  Despedida  Antes de beijar o altar, como fez no início e de se retirar do presbitério com os ministros, o diácono ou mesmo o sacerdote despede a assembleia dizendo: “Ite, missa est”, que numa tradução literal significa “Ide, é a despedida”. E os fiéis respondem: “Deo gratias”, isto é: “Demos graças a Deus”. No Missa Romano, traduzido para o português, a sobriedade de tais palavras no fim da celebração, deu ocasião para o desenvolvimento de uma compreensão mais profunda da relação entre Eucaristia, Igreja e Missão. O encontro com o Senhor tocou os nossos corações e nos dá uma vida nova. Depois da bênção, o diácono ou o sacerdote despede o povo com as palavras: “Ide em paz e o Senhor vos acompanhe”, uma tradução aproximada da fórmula latina: “Ite, missa est”. Nesta saudação, podemos identificar a relação entre a Missa celebrada e a missão cristã no mundo.
  • 119.  Na antiguidade, o termo “missa” significava simplesmente “despedida”; mas, no uso cristão, o termo foi ganhando um sentido cada vez mais profundo, tendo o sentido de “despedir” evoluído para “expedir em missão”. Deste modo, a referida saudação exprime sinteticamente a natureza missionária da Igreja. Esta missão recorda a tarefa para quem participou na celebração de levar a todos a Boa Nova recebida e de animar com ela a sociedade. Ou seja, a saudação no final da Celebração Eucarística convida todos a ser testemunhas daquela caridade que transforma a vida do homem e assim insere na sociedade o germe da civilização do amor (cf. BENTO PP XVI, Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Sacramentum caritatis”, n. 51).
  • 120.  Na frase original em latim: “Ite, missa est” a primeira palavra da despedida é “ite”, um termo que está biblicamente enraizada no mandato de Jesus Ressuscitado aos Apóstolos: “Ide...” (Mt 28,19). Todos aqueles que encontraram o Senhor ressuscitado sentiram a necessidade de O anunciar aos outros, como fizeram os dois discípulos de Emaús. Eles, depois de ter reconhecido o Senhor ao partir o pão, partiram imediatamente, voltaram para Jerusalém e encontraram reunidos os onze apóstolos e contaram o que lhes tinha acontecido pelo caminho (cf. Lc 24,33-35); por isto, ao final da missa a frase “Ite, missa est”, também pode ser traduzida como “Ide, é missão”. E não sem razão estas palavras finais, na tradição, deram o nome de missa a todo o acontecimento em seu conjunto, porque, em sua totalidade, todo o desenrolar ocorrido ao longo da celebração é missão, porque todas as ações de Deus vão dirigidas sempre aos outros.
  • 121.  A tradução para o português da frase “Ite, missa est” ficou como: “Ide em paz e o Senhor vos acompanhe”, ao que respondem os fiéis: “Graças a Deus”. Estas últimas palavras nos faz pensar queesta paz de Cristo não é uma paz estática, somente uma espécie de repouso, mas é uma paz dinâmica que quer transformar o mundo para que seja um mundo de paz animado pela presença do Criador e Redentor.
  • 122.  São Paulo frisa: “Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor até que Ele venha” (1Cor 11,26). Com isto, o Apóstolo nos exorta a fazer constante memória deste mistério. Ao mesmo tempo, nos convida a viver cada dia a nossa missão de testemunhas e anunciadores do amor do Crucificado, à espera do seu retorno glorioso.  Assim sendo, sempre que participamos de uma Celebração Eucarística voltamos espiritualmente ao Cenáculo! Reunimo-nos com fé em torno do Altar do Senhor, fazendo o memorial da Última Ceia. Repetindo os gestos de Cristo, proclamamos que a sua morte redimiu a humanidade do pecado, e continua a dar esperança de um futuro de salvação para os homens e as mulheres de todas as épocas.
  • 123. Fim