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CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA
Em geral a primeira pergunta que os
técnicos e agricultores convencionais fa-
zem em relação aos sistemas de produção
agroecológicos é “que produto vocês usam
para controlar as pragas e doenças?”. O
problema é que a própria pergunta já está
equivocada, pois ela parte do princípio que
é necessário usar algum tipo de veneno
para fazer o controle dos organismos inde-
sejados nos sistemas de produção. Uma das
primeiras coisas que precisamos quebrar no
processo de transição agroecológica é esta
lógica convencional de problema = insumo.
A pergunta correta na lógica agroecológica
é “como convivo com os organismos inde-
sejáveis?” ou no limite “como posso ma-
nejar esses organismos para que eles não
se tornem problemas?”. Para responder a
estas questões é necessário muito mais
conhecimento que simples receitas de pro-
dutos que matam determinados insetos ou
micro-organismos. É preciso conhecer mi-
nimamente a cadeia alimentar em que nos-
sas explorações estão envolvidas, conhecer
minimamente a dinâmica da população dos
organismos que nos incomodam e princi-
palmente minimamente sobre as interações
entre os diversos tipos de organismos.
Alberto Feiden | Aurélio Vinicius Borsato
Como controlar pragas e doenças
em sistemas agroecológicos?
isso os vegetais são chamados de produ-
tores primários e forma o primeiro elo da
cadeia alimentar. Toda a vida no planeta
depende da energia fixada pelas plantas.
Organismos que não conseguem fazer a fo-
tossíntese obtêm sua energia consumindo
matéria vegetal, por isso são chamados de
herbívoros ou fitófagos e constituem o se-
gundo elo da cadeia alimentar. Já outras es-
pécies se especializaram em comer os que
comem plantas e são chamados de carnívo-
ros (ou insetívoros ou entomófagos quando
comem insetos), e constituem o terceiro elo
na cadeia alimentar.
A partir daí há vários outros elos na ca-
deia alimentar em sequência. E é a partir do
primeiro elo da cadeia alimentar que nossa
exploração se encontra, que vamos enxer-
gar os outros elos da cadeia como inimigos
ou aliados: Se nossa exploração é vegetal
e portanto no primeiro elo da cadeia ali-
mentar, os herbívoros (segundo elo) vão ser
nossos inimigos (pragas) e os carnívoros
ou insetívoros (terceiro elo) serão nossos
aliados (inimigos naturais das pragas), en-
quanto o quarto elo volta ser inimigo, pois
elimina os inimigos naturais das pragas.
Mas quando a exploração for em nível de
animais (segundo elo), o terceiro elo passa
a ser o inimigo (pragas), enquanto o quarto
elo passa a ser aliado e assim por diante.
Estes conhecimentos nos ajudam a criar
estratégias de manejo das populações inde-
sejáveis e favorecer as que nós considera-
mos desejáveis.
Para que os organismos a partir do se-
gundo elo da cadeia alimentar (animais)
possam se multiplicar, são necessários ali-
mentação, abrigo e condições favoráveis à
procriação. Assim, temos duas estratégias
para interferir na multiplicação dos organis-
mos que temos em nosso agroecossistema:
promover as condições de alimentação,
abrigo e condições de procriação dos orga-
nismos desejáveis e inibir essas condições
para os indesejáveis. Estas estratégias estão
baseadas na diversificação das explorações,
criando barreiras entre as diferentes cultu-
ras para dificultar o deslocamento das espé-
cies indesejáveis, destruição de suas fontes
de alimento alternativas, seus refúgios e
procurando interferir nos seus processos de
reprodução. Por outro lado criamos condi-
ções favoráveis aos organismos benéficos,
introduzindo especies que possam servir
de alimento alternativo, criando refúgios e
estimulando sua reprodução.
Na natureza, para cada espécie vegetal
ou animal, existe um grupo de organismos
associados que mantém relações positivas
ou negativas com esta espécie. Como exem-
plo de relação positiva tem-se a que ocorre
entre leguminosas e rizóbios, onde a planta
alimenta as bactérias, e estas fixam o nitro-
gênio do ar e o disponibilizam às plantas.
Porém, as interações mais conhecidas são
as negativas, como a predação e o parasitis-
mo, mais conhecidos como ataque de pra-
gas ou causadores de doenças.
Em sistemas agroecológicos se procura
fortalecer as interações positivas e diminuir
as interações negativas através do aumento
da biodiversidade funcional e do equilíbrio
ambiental, fazendo com que os mecanismos
Canteiros diversificados com barreira repelente. Consórcio de milho leguminosas.
Este planejamento não pode ser rígido, deve
ser dinâmico, estando aberto a ajustes se as
condições mudarem. Mas deve ser como um
farol que mostra qual é a direção a seguir,
mesmo que ás vezes seja preciso fazer vol-
tas par alcançar o objetivo. Neste processo
de transição, a direção deverá sempre pre-
valecer em relação a velocidade da mudan-
ça. Repensar alguns valores, alterar alguns
costumes/hábitos, tomar as decisões no mo-
mento apropriado e assumir alguns riscos,
entre outros, serão os principais desafios
para quem busca a transformação de uma
propriedade convencional em agroecológica.
A medida em que vai se compreendendo os
processos inerentes aos agroecossistemas,
tais desafios tornar-se-ão motivação para
que o agricultor-experimentador continue
interagindo com a natureza de forma dinâ-
mica e sustentável, possibilitando qualidade
de vida, inclusive para as gerações futuras.
Mais informações:
Cartilha “Como eu começo a mudar para siste-
mas agroecológicos?”, disponível em:
www.cpap.embrapa.br/publicacoes/online/
CAR04.pdf
FEIDEN, A. ; ALMEIDA, D. L. ; VITOI, V. ; AS-
SIS, R. L. Processo de Conversão de sistemas
de produção convencionais para sistemas
de produção orgânicos. Cadernos de Ciência
e Tecnologia (EMBRAPA), Brasília, v. 19, n.2, p.
179-204, 2002.
ASSIS, R. L. ; ALMEIDA, D. L. ; SILVA, V. V. ;
FEIDEN, A. A Conversão de Sistemas Con-
vencionais para Sistemas Orgânicos de Pro-
dução no Brasil. In: PADOVAN. M. P.; URCHEI,
M. A.; MERCANTE, F. M.; CARDOSO, S.. (Org.).
Agroecologia em Mato Grosso do Sul: Princí-
pios, Fundamentos e Experiencias. 1ed. Campo
Grande: IDATERRA/EMBRAPA Agropecuária
Oeste, 2002, v. 1, p. 113-120.
Na natureza toda a energia útil que
move a vida vem do sol. A vida como co-
nhecemos hoje só é possível porque as
plantas (e algas), através da fotossíntese,
conseguem capturar a energia do sol e ar-
mazená-la em compostos de carbono. Por
24 25
CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA
naturais de controle das diferentes popula-
ções sejam atuantes.
É possível aumentar a diversidade
funcional através do uso de consórcios e
rotações de culturas, adubações verdes,
culturas de cobertura, blocos com plantas
bioativas (medicinais, condimentares, aro-
máticas entre outras), barreiras arbóreas,
cercas vivas nos limites das áreas ou faixas
divisórias entre os talhões. De maneira ge-
ral, para cada espécie que se coloca no sis-
tema, pelo menos duas espécies associadas
são atraídas, aumentando a disponibilidade
de alimentos para os predadores não espe-
cíficos e aumentando a pressão de controle
sobre as diferentes populações.
Uma outra forma de proteção das cul-
turas é o aumento da resistência das plan-
tas contra pragas e doenças, o que pode
ser conseguido por uma boa nutrição,
com adubação equilibrada, tanto mineral
como orgânica. As adubações de solo po-
dem ser complementadas com uma grande
quantidade de adubos foliares que também
funcionam como bio-protetores, tais como
urina de vaca fermentada e biofertilizantes
líquidos de diferentes tipos (Supermagro,
Vairo, Agrobio, Biogel, etc.).
Em casos que as práticas culturais não
forem suficientes para reduzir as popula-
ções desequilibradas a níveis que não cau-
sem dano econômico, podem ser usados
a) Policultivo
	 A diversificação da produção, além de
reduzir as populações dos insetos pra-
gas, possibilita aos agentes de controle
biológico maior disponibilidade de es-
pécies de insetos que lhes sirvam como
presas ou hospedeiras, aumentando
assim sua permanência na área. É im-
portante que, na diversificação de cul-
tivos, se leve em consideração, além da
diversidade de espécies, a diversificação
de extratos, ou seja, intercalar plantas de
porte maior com plantas de porte baixo,
criando assim um microclima favorável
aos inimigos naturais.
b) Épocas de floração
	 Muitos predadores e parasitoides adul-
tos, quando há ausência de presas ou
hospedeiros, alimentam-se de pólen
e néctar. Assim, portanto, um manejo
visando a diferentes épocas de flora-
ção contribui para a permanência e a
multiplicação dos inimigos naturais.
Importante também é a manutenção de
flores na propriedade, nas bordaduras
dos cultivos ou em locais intercalados a
Insetos em desequilibrio.
produtos que têm como objetivo fazer um
controle pontual da população de organis-
mos, para reduzir as perdas de produção,
principalmente no período em que se está
mudando do sistema convencional para o
agroecológico. No entanto, o objetivo princi-
pal a ser atingido é conseguir um ambiente
onde exista equilíbrio entre as populações
para que os controles artificiais se tornem
cada vez menos necessários. Pois, quando
o sistema de produção agrícola está em
equilíbrio, torna-se viável o convivo com os
organismos indesejáveis, os mantendo em
níveis populacionais não problemáticos, de
forma similar ao que ocorre nos sistemas
naturais complexos.
Para os controles pontuais (emergen-
ciais) podem ser utilizados produtos de
fabricação caseira que atuam como repe-
lentes ou como inseticidas e fungicidas de
baixo impacto ambiental, como as caldas
à base de pimenta vermelha, pimenta do
reino, cebola, cebolinha verde, alho, fumo;
sal e vinagre, leite cru, cinzas de madeira ou
extratos de plantas bioativas (medicinais,
condimentares, aromáticas entre outras).
Também podem ser utilizados produtos
homeopáticos, fitoterápicos, agentes bioló-
gicos ou mesmo produtos comerciais regis-
trados para produção orgânica.
Mais informações:
“Métodos alternativos para biocontrole”, dis-
ponível em: <www.embrapa.br/pantanal/busca-
de-publicacoes/-/publicacao/787274/metodos-
-alternativos-para-biocontrole-na-agricultura.>
FEIDEN, A., Agroecologia: Introdução e Con-
ceitos. In: Adriana Maria de Aquino; Renato
Linhares de Assis. (Org.). Agroecologia: Princí-
pios e técnicas para uma agricultura orgânica
sustentável. 1ed.Brasília: Embrapa Informação
Tecnológica, 2005, v. 1, p. 49-69.
A adoção de práticas agronômicas e de
manejo da propriedade que favoreçam os
agentes de controle biológico de pragas são
de fundamental importância para a redução
do impacto dos insetos pragas e para uma
maior eficiência do controle biológico, seja
ele natural ou aplicado. Podem-se destacar
como importantes para a conservação e a
manutenção dos organismos benéficos o
policultivo, as épocas de floração, as áre-
as de refúgio e a seletividade de produtos.
Vanda Pietrowski
Controle biológico de pragas
esses. Plantas como girassol, flor-do-sol
e mamona são exemplos de espécies
importantes, que servem como banco
de inimigos naturais.
c) Áreas de refúgio
	 A manutenção de áreas de refúgio para
que os inimigos naturais das pragas
se protejam em momentos com condi-
ções adversas, principalmente em altas
temperaturas, tem demonstrado ser im-
portante para ampliar a ação desses ini-
migos naturais sobre os insetos pragas.
Essas áreas podem ser mantidas asso-
ciadas ao item anterior de disponibili-
dade de floração. Geralmente o plantio
consorciado, principalmente com feijão
de porco, é um ótimo exemplo de área
de refúgio para os insetos benéficos
que ajudam a controlar as pragas da
propriedades
d) Seletividade de produtos
	 Mesmo na agricultura de base ecológi-
ca são utilizados produtos que têm ação
de largo espectro, ou seja, eliminam
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  • 1. 22 23 CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA Em geral a primeira pergunta que os técnicos e agricultores convencionais fa- zem em relação aos sistemas de produção agroecológicos é “que produto vocês usam para controlar as pragas e doenças?”. O problema é que a própria pergunta já está equivocada, pois ela parte do princípio que é necessário usar algum tipo de veneno para fazer o controle dos organismos inde- sejados nos sistemas de produção. Uma das primeiras coisas que precisamos quebrar no processo de transição agroecológica é esta lógica convencional de problema = insumo. A pergunta correta na lógica agroecológica é “como convivo com os organismos inde- sejáveis?” ou no limite “como posso ma- nejar esses organismos para que eles não se tornem problemas?”. Para responder a estas questões é necessário muito mais conhecimento que simples receitas de pro- dutos que matam determinados insetos ou micro-organismos. É preciso conhecer mi- nimamente a cadeia alimentar em que nos- sas explorações estão envolvidas, conhecer minimamente a dinâmica da população dos organismos que nos incomodam e princi- palmente minimamente sobre as interações entre os diversos tipos de organismos. Alberto Feiden | Aurélio Vinicius Borsato Como controlar pragas e doenças em sistemas agroecológicos? isso os vegetais são chamados de produ- tores primários e forma o primeiro elo da cadeia alimentar. Toda a vida no planeta depende da energia fixada pelas plantas. Organismos que não conseguem fazer a fo- tossíntese obtêm sua energia consumindo matéria vegetal, por isso são chamados de herbívoros ou fitófagos e constituem o se- gundo elo da cadeia alimentar. Já outras es- pécies se especializaram em comer os que comem plantas e são chamados de carnívo- ros (ou insetívoros ou entomófagos quando comem insetos), e constituem o terceiro elo na cadeia alimentar. A partir daí há vários outros elos na ca- deia alimentar em sequência. E é a partir do primeiro elo da cadeia alimentar que nossa exploração se encontra, que vamos enxer- gar os outros elos da cadeia como inimigos ou aliados: Se nossa exploração é vegetal e portanto no primeiro elo da cadeia ali- mentar, os herbívoros (segundo elo) vão ser nossos inimigos (pragas) e os carnívoros ou insetívoros (terceiro elo) serão nossos aliados (inimigos naturais das pragas), en- quanto o quarto elo volta ser inimigo, pois elimina os inimigos naturais das pragas. Mas quando a exploração for em nível de animais (segundo elo), o terceiro elo passa a ser o inimigo (pragas), enquanto o quarto elo passa a ser aliado e assim por diante. Estes conhecimentos nos ajudam a criar estratégias de manejo das populações inde- sejáveis e favorecer as que nós considera- mos desejáveis. Para que os organismos a partir do se- gundo elo da cadeia alimentar (animais) possam se multiplicar, são necessários ali- mentação, abrigo e condições favoráveis à procriação. Assim, temos duas estratégias para interferir na multiplicação dos organis- mos que temos em nosso agroecossistema: promover as condições de alimentação, abrigo e condições de procriação dos orga- nismos desejáveis e inibir essas condições para os indesejáveis. Estas estratégias estão baseadas na diversificação das explorações, criando barreiras entre as diferentes cultu- ras para dificultar o deslocamento das espé- cies indesejáveis, destruição de suas fontes de alimento alternativas, seus refúgios e procurando interferir nos seus processos de reprodução. Por outro lado criamos condi- ções favoráveis aos organismos benéficos, introduzindo especies que possam servir de alimento alternativo, criando refúgios e estimulando sua reprodução. Na natureza, para cada espécie vegetal ou animal, existe um grupo de organismos associados que mantém relações positivas ou negativas com esta espécie. Como exem- plo de relação positiva tem-se a que ocorre entre leguminosas e rizóbios, onde a planta alimenta as bactérias, e estas fixam o nitro- gênio do ar e o disponibilizam às plantas. Porém, as interações mais conhecidas são as negativas, como a predação e o parasitis- mo, mais conhecidos como ataque de pra- gas ou causadores de doenças. Em sistemas agroecológicos se procura fortalecer as interações positivas e diminuir as interações negativas através do aumento da biodiversidade funcional e do equilíbrio ambiental, fazendo com que os mecanismos Canteiros diversificados com barreira repelente. Consórcio de milho leguminosas. Este planejamento não pode ser rígido, deve ser dinâmico, estando aberto a ajustes se as condições mudarem. Mas deve ser como um farol que mostra qual é a direção a seguir, mesmo que ás vezes seja preciso fazer vol- tas par alcançar o objetivo. Neste processo de transição, a direção deverá sempre pre- valecer em relação a velocidade da mudan- ça. Repensar alguns valores, alterar alguns costumes/hábitos, tomar as decisões no mo- mento apropriado e assumir alguns riscos, entre outros, serão os principais desafios para quem busca a transformação de uma propriedade convencional em agroecológica. A medida em que vai se compreendendo os processos inerentes aos agroecossistemas, tais desafios tornar-se-ão motivação para que o agricultor-experimentador continue interagindo com a natureza de forma dinâ- mica e sustentável, possibilitando qualidade de vida, inclusive para as gerações futuras. Mais informações: Cartilha “Como eu começo a mudar para siste- mas agroecológicos?”, disponível em: www.cpap.embrapa.br/publicacoes/online/ CAR04.pdf FEIDEN, A. ; ALMEIDA, D. L. ; VITOI, V. ; AS- SIS, R. L. Processo de Conversão de sistemas de produção convencionais para sistemas de produção orgânicos. Cadernos de Ciência e Tecnologia (EMBRAPA), Brasília, v. 19, n.2, p. 179-204, 2002. ASSIS, R. L. ; ALMEIDA, D. L. ; SILVA, V. V. ; FEIDEN, A. A Conversão de Sistemas Con- vencionais para Sistemas Orgânicos de Pro- dução no Brasil. In: PADOVAN. M. P.; URCHEI, M. A.; MERCANTE, F. M.; CARDOSO, S.. (Org.). Agroecologia em Mato Grosso do Sul: Princí- pios, Fundamentos e Experiencias. 1ed. Campo Grande: IDATERRA/EMBRAPA Agropecuária Oeste, 2002, v. 1, p. 113-120. Na natureza toda a energia útil que move a vida vem do sol. A vida como co- nhecemos hoje só é possível porque as plantas (e algas), através da fotossíntese, conseguem capturar a energia do sol e ar- mazená-la em compostos de carbono. Por
  • 2. 24 25 CARTILHA DE AGROECOLOGIA CARTILHA DE AGROECOLOGIA naturais de controle das diferentes popula- ções sejam atuantes. É possível aumentar a diversidade funcional através do uso de consórcios e rotações de culturas, adubações verdes, culturas de cobertura, blocos com plantas bioativas (medicinais, condimentares, aro- máticas entre outras), barreiras arbóreas, cercas vivas nos limites das áreas ou faixas divisórias entre os talhões. De maneira ge- ral, para cada espécie que se coloca no sis- tema, pelo menos duas espécies associadas são atraídas, aumentando a disponibilidade de alimentos para os predadores não espe- cíficos e aumentando a pressão de controle sobre as diferentes populações. Uma outra forma de proteção das cul- turas é o aumento da resistência das plan- tas contra pragas e doenças, o que pode ser conseguido por uma boa nutrição, com adubação equilibrada, tanto mineral como orgânica. As adubações de solo po- dem ser complementadas com uma grande quantidade de adubos foliares que também funcionam como bio-protetores, tais como urina de vaca fermentada e biofertilizantes líquidos de diferentes tipos (Supermagro, Vairo, Agrobio, Biogel, etc.). Em casos que as práticas culturais não forem suficientes para reduzir as popula- ções desequilibradas a níveis que não cau- sem dano econômico, podem ser usados a) Policultivo A diversificação da produção, além de reduzir as populações dos insetos pra- gas, possibilita aos agentes de controle biológico maior disponibilidade de es- pécies de insetos que lhes sirvam como presas ou hospedeiras, aumentando assim sua permanência na área. É im- portante que, na diversificação de cul- tivos, se leve em consideração, além da diversidade de espécies, a diversificação de extratos, ou seja, intercalar plantas de porte maior com plantas de porte baixo, criando assim um microclima favorável aos inimigos naturais. b) Épocas de floração Muitos predadores e parasitoides adul- tos, quando há ausência de presas ou hospedeiros, alimentam-se de pólen e néctar. Assim, portanto, um manejo visando a diferentes épocas de flora- ção contribui para a permanência e a multiplicação dos inimigos naturais. Importante também é a manutenção de flores na propriedade, nas bordaduras dos cultivos ou em locais intercalados a Insetos em desequilibrio. produtos que têm como objetivo fazer um controle pontual da população de organis- mos, para reduzir as perdas de produção, principalmente no período em que se está mudando do sistema convencional para o agroecológico. No entanto, o objetivo princi- pal a ser atingido é conseguir um ambiente onde exista equilíbrio entre as populações para que os controles artificiais se tornem cada vez menos necessários. Pois, quando o sistema de produção agrícola está em equilíbrio, torna-se viável o convivo com os organismos indesejáveis, os mantendo em níveis populacionais não problemáticos, de forma similar ao que ocorre nos sistemas naturais complexos. Para os controles pontuais (emergen- ciais) podem ser utilizados produtos de fabricação caseira que atuam como repe- lentes ou como inseticidas e fungicidas de baixo impacto ambiental, como as caldas à base de pimenta vermelha, pimenta do reino, cebola, cebolinha verde, alho, fumo; sal e vinagre, leite cru, cinzas de madeira ou extratos de plantas bioativas (medicinais, condimentares, aromáticas entre outras). Também podem ser utilizados produtos homeopáticos, fitoterápicos, agentes bioló- gicos ou mesmo produtos comerciais regis- trados para produção orgânica. Mais informações: “Métodos alternativos para biocontrole”, dis- ponível em: <www.embrapa.br/pantanal/busca- de-publicacoes/-/publicacao/787274/metodos- -alternativos-para-biocontrole-na-agricultura.> FEIDEN, A., Agroecologia: Introdução e Con- ceitos. In: Adriana Maria de Aquino; Renato Linhares de Assis. (Org.). Agroecologia: Princí- pios e técnicas para uma agricultura orgânica sustentável. 1ed.Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2005, v. 1, p. 49-69. A adoção de práticas agronômicas e de manejo da propriedade que favoreçam os agentes de controle biológico de pragas são de fundamental importância para a redução do impacto dos insetos pragas e para uma maior eficiência do controle biológico, seja ele natural ou aplicado. Podem-se destacar como importantes para a conservação e a manutenção dos organismos benéficos o policultivo, as épocas de floração, as áre- as de refúgio e a seletividade de produtos. Vanda Pietrowski Controle biológico de pragas esses. Plantas como girassol, flor-do-sol e mamona são exemplos de espécies importantes, que servem como banco de inimigos naturais. c) Áreas de refúgio A manutenção de áreas de refúgio para que os inimigos naturais das pragas se protejam em momentos com condi- ções adversas, principalmente em altas temperaturas, tem demonstrado ser im- portante para ampliar a ação desses ini- migos naturais sobre os insetos pragas. Essas áreas podem ser mantidas asso- ciadas ao item anterior de disponibili- dade de floração. Geralmente o plantio consorciado, principalmente com feijão de porco, é um ótimo exemplo de área de refúgio para os insetos benéficos que ajudam a controlar as pragas da propriedades d) Seletividade de produtos Mesmo na agricultura de base ecológi- ca são utilizados produtos que têm ação de largo espectro, ou seja, eliminam também os inimigos naturais. O uso de