Dois carros estão presos por corrente há 12 anos na frente de uma casa para evitar roubo. Um Ford Escort espera há 3 anos para ser consertado quando o filho criar juízo, mas o pai planeja vendê-lo. Os carros também são usados para reservar vagas na rua.
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CLASSIFICADOSVEÍCULOS 3
MATÉRIA DE CAPA
Opala e Buggy estão amarrados para evitar ação de ladrões e reservar vaga na rua.
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Escort espera herdeiro criar juízo para ser consertado, mas dono planeja vendê-lo m
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FOTOS ENIO GRECO/EM k
Opala puxava
Buggy até Cabo
Frio (RJ) na
década de 80,
mas, há 12 anos,
os carros estão
presos por
corrente e
cadeado
Correntes,
PRETO
espíritas e promessas
AMARELO
MAGENTA
DANIEL CAMARGOS trocava de namorada mudava de carro, e xo espaço para a entrada da garagem”, ex-
que em 1979 comprou o Opala, com apenas plica. “Assim, fico com vaga permanente
Fim de tarde de sexta-feira, na esquina mil quilômetros rodados. Logo depois, ali”, completa o advogado.
das ruas Chopim e Coronel Pedro Jorge, no comprou também o Buggy, que ele chama Além dos dois carros que compõem a
Prado. Um garoto com uniforme escolar de Bugre, em referência a uma fábrica de paisagem da rua, o ex-juiz de futebol tem
passa soltando bombinhas e assustando as buggys fluminense. A curtição dele era pas- um Kadett de 1990 e um Opala de 1980
poucas pessoas que se arriscam sob o Sol sar a temporada de férias em Cabo Frio, on- modificado, ambos parados. Tem tam-
CYAN
abrasador do meio da tarde. O menino se de alugava um apartamento. Ia com o Opa- bém um carro que usa no cotidiano, mas
empolga e pára em frente ao número 21: la puxando o Buggy com o cambão. “Ficava esses três ficam na garagem. Porém, a in-
“Que Buggy velho doido”, diz enquanto bis- em um apartamento que tinha uma varan- tenção dele é reformar o Buggy e levá-lo
bilhota o interior do veículo. É sempre as- da e um poste em frente. Quando chegava para a cidade de Congonhas, na Região
sim. Pelo menos há 12 anos, tempo que o lá, amarrava os dois carros com corrente no Central, onde se sente seguro para andar
Buggy está parado na porta da casa de José poste. O Opala ficava preso quase o mês to- com um carro sem capota.
Alberto Teixeira, em frente a um Chevrolet do, pois eu andava mesmo era com o Bu- O mato que cresce por dentro da caixa
Opala. “Muita gente quer comprar. Ofere- gre”, recorda. de roda do Ford Escort Ghia dá idéia de
cem R$ 600 ou qualquer mixaria. Não pre- Advogado e ex-juiz de futebol, José Al- abandono. Mas, com um olhar complacen- Carros são usados para guardar vaga na Rua Chopim, no Prado
ciso do dinheiro e prefiro deixá-lo parado”, berto atualmente é comentarista esportivo te, percebe-se o cuidado na lona que prote-
explica José Alberto. e dono de dois dos cinco carros parados nas ge o interior, no lugar do vidro lateral que
Na década de 1980, o que unia o Opala ao ruas do Prado. Cuidadoso, explica que, mes- não existe mais. A história do Escort para-
Buggy com chassi de Volkswagen Brasília era mo com as baterias arriadas, não abre mão do na esquina das ruas Pedra Bonita e Tur-
um cambão. O dispositivo usado para rebo- da corrente. “Se desamarrar eles (os ladrões) quesa há mais de três anos remete a um ca-
car o Buggy nas viagens que José Alberto fa- levam embora. O índice de assaltos aqui no so de família.
zia anualmente entre Belo Horizonte e Cabo bairro é muito alto”, explica. Quando o carro estragou, o pai prome-
Frio, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, Mas o que irrita mesmo José é o centro teu ao filho que consertaria assim que ele
pega o nome emprestado do utilizado nos espírita na frente de sua casa, que atrai os criasse juízo. Os anos se passaram, o mato
carros de bois. O artefato foi substituído e o fiéis e vários carros. Por isso, o Buggy e o cresceu, os faróis foram quebrados, a placa
que prende um veículo ao outro, agora na Opala funcionam também como escudos arrancada, o bocal de abastecimento tam-
ordem inversa, com o Buggy na frente do contra o movimento dos que querem esta- bém, os pneus esvaziaram e a idéia do pai é
Opala, são uma corrente e um cadeado. cionar no local. “Tem dia que chego no fim vender o carro para o ferro-velho. “A pre-
A tradição das correntes vem de longa da tarde e custo a entrar na garagem. Então, sença do carro traz ansiedade para o rapaz
data. José Alberto lembra que sempre que estacionei os dois carros de forma que dei- e devo tirá-lo da rua”, explica.
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Após vários anos, pai ainda não confia no filho e quer vender Escort para ferro-velho
CYAN MAGENTA AMARELO PRETO pg.03