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  Esta era a segunda tentativa que fazia para assistir à peça “Os Maias”, no Centro
Cultural Olga Cadaval, em Sintra… A minha primeira tentativa tinha esbarrado numa
inconveniente greve de transportes públicos, que se sobrepusera a qualquer vontade e
qualquer outro meio de deslocação.
  Diz o saber popular que “não há mal que sempre dure” e, no passado dia onze de
Maio, assim aconteceu. Galgadas as horas das rotinas diárias de acordar cedo, fazer
algumas dezenas de quilómetros em vários transportes públicos, ir até à escola, às aulas
de Projecto, finalmente desenhou-se a ida até Sintra num horizonte próximo.
  O ambiente era até bastante propício: parte da intriga de Os Maias passa-se naquela
bela vila, Património Mundial da UNESCO. Uma ida a Sintra, mesmo que a pretexto do
teatro, conduz inevitavelmente a um belo passeio, e nunca me canso de dar umas
voltinhas por lá, mesmo não apreciando as afamadas queijadas.
  O teatro foi uma surpresa; como uma “caixinha mágica”, nem sempre sai de lá algo
agradável. A interacção com um Afonso irreal, quando nutro pela personagem tão grande
simpatia, pareceu-me uma escolha pouco feliz, e aquela Maria Eduarda, de quem se
esperava tanto glamour, deixou muito a desejar! Pelo contrário, as figuras de Dâmaso e
da condessa Gouvarinho surpreenderam-me muito positivamente. Embora não as tivesse
imaginado assim, foram convincentes e a condessa, ao contrário de Maria Eduarda,
apresentava-se formosa e muito agradável. Em Maria Eduarda, no entanto, há que
reconhecer a excelente voz, que se sobrepunha a todas as outras. O mais lamentável é
reconhecer que a audiência ainda tem de fazer um longo caminho para aprender a
respeitar o trabalho dos artistas: há públicos que, de bom, só têm o aspecto exterior… e
os outros que lhes suportem as faltas de educação! Decididamente, um aspecto a rever!
  De regresso a Lisboa, eis que, sem esperar, sou surpreendido pela passagem de uma
comitiva, com um senhor de vestes brancas acenando à multidão. Não podia crer! Afinal,
não há coincidências, pois não?! E se havia coisa de que não estava à espera, era de me
cruzar com o Papa ali, numa rua de Lisboa, eu que nem me revejo em crenças católicas,
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  • 1. João Belchior 11M Esta era a segunda tentativa que fazia para assistir à peça “Os Maias”, no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra… A minha primeira tentativa tinha esbarrado numa inconveniente greve de transportes públicos, que se sobrepusera a qualquer vontade e qualquer outro meio de deslocação. Diz o saber popular que “não há mal que sempre dure” e, no passado dia onze de Maio, assim aconteceu. Galgadas as horas das rotinas diárias de acordar cedo, fazer algumas dezenas de quilómetros em vários transportes públicos, ir até à escola, às aulas de Projecto, finalmente desenhou-se a ida até Sintra num horizonte próximo. O ambiente era até bastante propício: parte da intriga de Os Maias passa-se naquela bela vila, Património Mundial da UNESCO. Uma ida a Sintra, mesmo que a pretexto do teatro, conduz inevitavelmente a um belo passeio, e nunca me canso de dar umas voltinhas por lá, mesmo não apreciando as afamadas queijadas. O teatro foi uma surpresa; como uma “caixinha mágica”, nem sempre sai de lá algo agradável. A interacção com um Afonso irreal, quando nutro pela personagem tão grande simpatia, pareceu-me uma escolha pouco feliz, e aquela Maria Eduarda, de quem se esperava tanto glamour, deixou muito a desejar! Pelo contrário, as figuras de Dâmaso e da condessa Gouvarinho surpreenderam-me muito positivamente. Embora não as tivesse imaginado assim, foram convincentes e a condessa, ao contrário de Maria Eduarda, apresentava-se formosa e muito agradável. Em Maria Eduarda, no entanto, há que reconhecer a excelente voz, que se sobrepunha a todas as outras. O mais lamentável é reconhecer que a audiência ainda tem de fazer um longo caminho para aprender a respeitar o trabalho dos artistas: há públicos que, de bom, só têm o aspecto exterior… e os outros que lhes suportem as faltas de educação! Decididamente, um aspecto a rever! De regresso a Lisboa, eis que, sem esperar, sou surpreendido pela passagem de uma comitiva, com um senhor de vestes brancas acenando à multidão. Não podia crer! Afinal, não há coincidências, pois não?! E se havia coisa de que não estava à espera, era de me cruzar com o Papa ali, numa rua de Lisboa, eu que nem me revejo em crenças católicas, nem sou admirador fervoroso de ninguém. Não há dúvida: Portugal é um cantinho onde os três “Fs” continuam a reinar; “Fado, Fátima e Futebol” enchem o coração do lusitano. E mesmo um semi-céptico como eu não deixou de apreciar as estranhas circunstâncias de se cruzar com Sua Santidade algures na cidade, que vibrava de mil emoções, braços no ar, lenços ao vento (um euro cada
  • 2. unidade; não se pode deixar de tentar vencer a malvada crise!) e um sorriso maravilhado e meio apatetado nos rostos à minha volta. É verdade: até vi o Papa! Chique a valer!