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O Boltosaurus português
Ana Raquel-7º
David Ferreira-7º
Hugo Marques-7º
João Martins-7º
Maria Beatriz-7º
Marta Ribeiro-7º
Miguel Silva-7º
Patrícia Marques-7º
Rafael Canas-7º
Vasco Santinho-7º
Inferir comportamentos para animais modernos é difícil; para
animais extintos é ainda mais complexo.
Quando visitamos exposições de
dinossáurios observamos ossos, mais
ossos, mais ossos, utilizados para a
reconstrução dessas criaturas antigas.
Mas mesmo nas suas poses mais ativas,
os esqueletos parecem inertes,
assemelhando-se mais a esculturas do
que aos animais vivos que os deixaram.
Felizmente, os dinossáurios deixaram-nos
muito mais do que apenas os seus ossos.
A velocidade de corrida de uma espécie pode
ser muito importante.
Para um predador rápido é mais fácil
surpreender e confundir a vítima, reduzindo até
a possibilidade de contra-ataque.
Para uma presa, a capacidade de fuga é um
factor vital.
Assim, não surpreende que a estimativa da
velocidade de deslocação de animais extintos
tenha tanto interesse para os paleontólogos.
Sendo as pegadas e pistas fósseis o reflexo direto dos
movimentos dos dinossáurios, o seu registo icnológico
constitui a base para inferências de comportamentos
deste tipo: como progrediam, a que velocidade, como
tocavam no solo, se saltavam,…
• Para estimar a velocidade de deslocação dos dinossáurios extintos, a fórmula mais
utilizada foi “inventada” por Alexander em 1976:
3,6hP0,25gV 1,171,670,5
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Admite-se que a força da gravidade (g) seria
também nos tempos Mesozóicos de 9,8 m/s².
O valor da passada (P) pode ser medido
directamente nas pistas.
Mas um dos maiores problemas é o cálculo da
altura da anca (h).
Entre os vários modelos apresentados, as
melhores estimativas para a altura de anca
são alcançadas com a fórmula simples:
h = comprimento da pegada (L) x 4
A altura da anca h - é um parâmetro que não pode ser determinado diretamente a
partir de uma pista fóssil. E têm sido vários os modelos para a sua estimativa.
Alexander propôs em 1976 que a altura da anca de um
dinossáurio seria cerca de 4x o comprimento da pegada.
Anderson (1939) propôs que h =passo /0,6.
Mas como o passo é muito variável, este
modelo foi abandonado.
Avnimelech (1966) propôs que o
comprimento do dígito III de uma pegada
tridáctila representaria 18% de h.
Thulborn, em vários trabalhos, propôs coeficientes e
expoentes para uma grande variedade de teropodes e de
ornitopodes, dependendo das dimensões das pegadas.
Henderson (2003), através de modelos computadorizados, concluiu que o melhor
resultado será “comprimento da pegada x 4”.
A excepção serão os teropodes de pequeno porte (comprimento da pegada inferior
a 30 cm), em que o factor proposto é 4,5.
Outro parâmetro importante é a passada relativa. Ou seja a
razão entre o valor da passada e altura da anca:
P / h < 2,0 – marchar
2,0 < P / h < 2,9 - trotar
P / h > 2,9 - correr
Temos no site do nosso Grupo uma aplicação web que permite o cálculo da
velocidade tendo em conta diferentes métodos para estimativa da altura da anca.
http://oficina.cienciaviva.pt/~pw011
Podemos exemplificar, assumindo sempre o mesmo L e P, variando
apenas o método de estimativa de h.
• Numa saída de campo à jazida dos Lagosteiros ( Cretácico inferior, Sesimbra),
observámos uma pista que aparentemente teria sido deixada por um dinossáurio
deslocando-se a grande velocidade.
A partir daqui surgiram algumas questões:
. Qual a velocidade máxima conhecida para
os dinossáurios do nosso país?
. De que tipo eram
estes dinossáurios? Herbívoros ou
carnívoros? Bípedes ou quadrúpedes?
. Quais as suas prováveis dimensões?
. As conclusões a que chegarmos estão de
acordo com o que o registo fóssil mundial
sugere?
• Em Portugal, apesar do registo icnológico ser abundante, comportamentos de
corrida (P/h>2,9) ou de velocidade rápida (P/h>2,0) são muitos escassos.
E este tipo de comportamento só é conhecido para dinossáurios bípedes carnívoros
(grupo dos teropodes).
Pista de ornitopode
da praia da Salema
- velocidade
estimada em 2,2
km/h (descoberta
por alunos do GP).
Duas pistas de sauropodes descobertas por alunos do GP –
Famalicão da Nazaré.
A aplicação da fórmula de Alexander permite inferir que os
quadrúpedes se deslocavam a cerca de 4km/h.
Para as pistas de sauropodes a situação mantem-se – a
velocidade mais elevada não ultrapassa os 5 km/h.
• Em 1997, colegas nossos descobriram no Jurássico final da praia dos Salgados uma
pista de teropode que se deslocava a velocidade rápida.
• A pista é formada por pegadas com comprimento médio de 33 cm para uma
passada média de 2,7m (a passada relativa P/h é de 1,9).
• Inferimos que o bípede se deslocava a cerca de 11km/h.
O teropode teria uma altura de anca rondando os
1,5 m para um peso total de cerca de 400kg.
Em 2007, alunos do GP descobriram uma nova jazida do Jurássico superior – Gentias
(Torres Vedras). A antiga comunidade é dominada por grandes dinossáurios carnívoros
(L >60 cm), mas inclui também uma componente herbívora diversificada.
Pegada de pé de grande sauropode e pegada tridáctila de grande
carnívoro.
Uma das pistas é formada por três pegadas consecutivas, com
comprimento de 65 cm (excluindo a longa impressão posterior ,
provavelmente correspondente a um esporão), com uma
passada de 5,02 m.
Aplicando a equação de Alexander, estimamos que o teropode
com 2,6 m de altura de anca e um peso superior a 3 toneladas,
se deslocava a cerca de 13,5 km/h.
Para o Jurássico superior da jazida da Pedra da Mua (Cabo Espichel), foi sugerido que
três pegadas tridáctilas de teropode, com comprimento médio de 42 cm, poderiam ter
sido deixadas por um carnívoro progredindo a cerca de 14 km/h.
O esquema publicado sugere que a passada se poderia aproximar dos 4 m. E sugere
ainda um passo relativamente curto (1,4 m) seguido de outro bastante mais longo (2,6
m). Se o bípede se deslocasse deste forma, coxeando, seria pouco provável que o
conseguisse fazer a 14 km/h. O mais natural é que, numa pista mal preservada, tenha
desaparecido uma pegada intermédia (provavelmente correspondendo ao pé esquerdo).
Neste caso, a passada real não ultrapassaria os 3,2 m e a velocidade de deslocação pode
ser estimada como rondando os 10 km/h.
Nas saídas que fizemos à jazida dos Lagosteiros verificámos que um teropode de dimensões
médias – pegada com comprimento de 32 cm, devia progredir a velocidade elevada. Esta
conclusão baseava-se apenas numa observação direta.
Os dados métricos que obtivemos permitiram reforçar esta
observação - para pegadas com 32 cm de comprimento, a
passada varia entre 3,3m e 4,2m.
A partir destes valores inferimos uma velocidade
de deslocação na ordem dos 15,5km/h.
Considerando que a pegada P1 pode eventualmente ter sido deslocada por
processos naturais para um ponto mais afastado, decidimos inferir a velocidade de
deslocação do carnívoro apenas com base nas passadas entre P2 e P6 = 3,30 m.
Neste caso, a estimativa de velocidade permanece elevada - cerca de 14 km/h. E
o bípede estava a progredir rapidamente, tendo em consideração o valor da
passada relativa – 2,2.
A nível mundial
3 pistas do Cretácico “médio” do Texas mostram
teropodes correndo entre 30 e 43 km/h.
O animal que progredia mais rapidamente tem um
comprimento médio da pegada de 29 cm e uma
passada média de 5,65 m (só ficaram registadas 5
pegadas consecutivas).
Pista de teropode do Cretácico inferior
do Texas, formada por 3 pegadas com
comprimento de 35 cm, para uma
passada de 6,3m. A velocidade é
estimada em cerca de 36 km/h.
Pista de teropode, com comprimento
médio das pegadas de 27,7 cm e passada
média de 4,92 m (pista formada por 4
pegadas consecutivas). O carnívoro
deslocar-se-ia a cerca de 30 km /h.
Numa jazida de Igea (Cretácico inferior de
Espanha), uma pista de teropode (formada
por 3 pegadas semi-digitígradas, que
completas, teriam um comprimento de 30 –
32 cm), com passada média de 5,6 m, revela
um carnívoro progredindo a cerca de 38km/h.
Uma pista de teropode
de dimensões médias
do Cretácico inferior
da Mongólia, ainda
não descrita,
apresenta passadas
na ordem dos 8 m.
Podemos inferir uma
velocidade da ordem
dos 50 km /h !
A passada média é de 2,70m.
O animal altera depois o comprimento da passada
para um máximo de 5,65 m.
Na jazida de Ardley do Jurássico médio de Inglaterra, uma pista de teropode ficou
famosa.
Um enorme dinossáurio carnívoro terá acelerado o passo e começado a correr a
uma velocidade elevada.
Assim, surgiu o valor de uma velocidade de 29,2 km /h.
A altura da anca do teropode foi estimada a partir apenas do comprimento do dígito III.
Ou seja, para pegadas com cerca de 72 cm de comprimento, foi utilizado apenas o
comprimento do dígito III – 39 cm -, de onde resultou uma estimativa de altura de anca
inferior a 2 m.
Empregando o comprimento médio da
pegada – 72 cm – e o factor 4, a
velocidade de deslocação do teropode,
quando acelerou, seria de 14,7 km/h, uma
velocidade ainda assim elevada (passada
relativa aproximando-se muito de 2,0).
Embora em Portugal não exista (ainda…) evidência de dinossáurios progredindo a grande
velocidade, o registo icnológico está de acordo com o observado em muitas outras jazidas:
. As maiores velocidades foram deixadas por teropodes de dimensões pequenas a médias
(comprimento das pegadas até 35 cm e peso até 800kg).
. Teropodes de dimensões gigantescas (pegadas com comprimento superior a 60 cm e peso
estimado em mais de 2 toneladas) deixaram registo escasso de velocidade elevada. Mas as
únicas pistas deixadas por teropodes destas dimensões progredindo a velocidade elevada
(mas não a correr) são as de Ardley e da praia das Gentias.
. Ornitopodes deslocavam-se bastante mais lentamente, não existindo evidência destes
bípedes terem corrido.
. Os quadrúpedes, especialmente os sauropodes, não deixaram evidências de progressão
superior a 5 km /h.
Mas isto é apenas evidência negativa, embora
este tipo de evidência se torne cada vez mais
difícil de ser ignorada.
Por quanto tempo conseguiam os teropodes correr?
Nas jazidas referidas as pistas são formadas apenas por 3 até 7
pegadas consecutivas.
Portanto a resposta a este problema está ainda em aberto,
embora a evidência disponível sugira um pequeno intervalo de
tempo. O Obikwelusaurus da
praia das Gentias
Mas não nos podemos esquecer que os animais
raramente alcançam as velocidades de topo, o que
torna a existência de pistas fossilizadas de
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muito improváveis.
E aqui está o Boltosaurus português !!!

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  • 1. O Boltosaurus português Ana Raquel-7º David Ferreira-7º Hugo Marques-7º João Martins-7º Maria Beatriz-7º Marta Ribeiro-7º Miguel Silva-7º Patrícia Marques-7º Rafael Canas-7º Vasco Santinho-7º
  • 2. Inferir comportamentos para animais modernos é difícil; para animais extintos é ainda mais complexo. Quando visitamos exposições de dinossáurios observamos ossos, mais ossos, mais ossos, utilizados para a reconstrução dessas criaturas antigas. Mas mesmo nas suas poses mais ativas, os esqueletos parecem inertes, assemelhando-se mais a esculturas do que aos animais vivos que os deixaram. Felizmente, os dinossáurios deixaram-nos muito mais do que apenas os seus ossos. A velocidade de corrida de uma espécie pode ser muito importante. Para um predador rápido é mais fácil surpreender e confundir a vítima, reduzindo até a possibilidade de contra-ataque. Para uma presa, a capacidade de fuga é um factor vital. Assim, não surpreende que a estimativa da velocidade de deslocação de animais extintos tenha tanto interesse para os paleontólogos.
  • 3. Sendo as pegadas e pistas fósseis o reflexo direto dos movimentos dos dinossáurios, o seu registo icnológico constitui a base para inferências de comportamentos deste tipo: como progrediam, a que velocidade, como tocavam no solo, se saltavam,…
  • 4. • Para estimar a velocidade de deslocação dos dinossáurios extintos, a fórmula mais utilizada foi “inventada” por Alexander em 1976: 3,6hP0,25gV 1,171,670,5 (Km/h) Admite-se que a força da gravidade (g) seria também nos tempos Mesozóicos de 9,8 m/s². O valor da passada (P) pode ser medido directamente nas pistas. Mas um dos maiores problemas é o cálculo da altura da anca (h). Entre os vários modelos apresentados, as melhores estimativas para a altura de anca são alcançadas com a fórmula simples: h = comprimento da pegada (L) x 4
  • 5. A altura da anca h - é um parâmetro que não pode ser determinado diretamente a partir de uma pista fóssil. E têm sido vários os modelos para a sua estimativa. Alexander propôs em 1976 que a altura da anca de um dinossáurio seria cerca de 4x o comprimento da pegada. Anderson (1939) propôs que h =passo /0,6. Mas como o passo é muito variável, este modelo foi abandonado. Avnimelech (1966) propôs que o comprimento do dígito III de uma pegada tridáctila representaria 18% de h. Thulborn, em vários trabalhos, propôs coeficientes e expoentes para uma grande variedade de teropodes e de ornitopodes, dependendo das dimensões das pegadas.
  • 6. Henderson (2003), através de modelos computadorizados, concluiu que o melhor resultado será “comprimento da pegada x 4”. A excepção serão os teropodes de pequeno porte (comprimento da pegada inferior a 30 cm), em que o factor proposto é 4,5. Outro parâmetro importante é a passada relativa. Ou seja a razão entre o valor da passada e altura da anca: P / h < 2,0 – marchar 2,0 < P / h < 2,9 - trotar P / h > 2,9 - correr
  • 7. Temos no site do nosso Grupo uma aplicação web que permite o cálculo da velocidade tendo em conta diferentes métodos para estimativa da altura da anca. http://oficina.cienciaviva.pt/~pw011 Podemos exemplificar, assumindo sempre o mesmo L e P, variando apenas o método de estimativa de h.
  • 8.
  • 9.
  • 10. • Numa saída de campo à jazida dos Lagosteiros ( Cretácico inferior, Sesimbra), observámos uma pista que aparentemente teria sido deixada por um dinossáurio deslocando-se a grande velocidade. A partir daqui surgiram algumas questões: . Qual a velocidade máxima conhecida para os dinossáurios do nosso país? . De que tipo eram estes dinossáurios? Herbívoros ou carnívoros? Bípedes ou quadrúpedes? . Quais as suas prováveis dimensões? . As conclusões a que chegarmos estão de acordo com o que o registo fóssil mundial sugere?
  • 11. • Em Portugal, apesar do registo icnológico ser abundante, comportamentos de corrida (P/h>2,9) ou de velocidade rápida (P/h>2,0) são muitos escassos. E este tipo de comportamento só é conhecido para dinossáurios bípedes carnívoros (grupo dos teropodes). Pista de ornitopode da praia da Salema - velocidade estimada em 2,2 km/h (descoberta por alunos do GP).
  • 12. Duas pistas de sauropodes descobertas por alunos do GP – Famalicão da Nazaré. A aplicação da fórmula de Alexander permite inferir que os quadrúpedes se deslocavam a cerca de 4km/h. Para as pistas de sauropodes a situação mantem-se – a velocidade mais elevada não ultrapassa os 5 km/h.
  • 13. • Em 1997, colegas nossos descobriram no Jurássico final da praia dos Salgados uma pista de teropode que se deslocava a velocidade rápida.
  • 14. • A pista é formada por pegadas com comprimento médio de 33 cm para uma passada média de 2,7m (a passada relativa P/h é de 1,9). • Inferimos que o bípede se deslocava a cerca de 11km/h. O teropode teria uma altura de anca rondando os 1,5 m para um peso total de cerca de 400kg.
  • 15. Em 2007, alunos do GP descobriram uma nova jazida do Jurássico superior – Gentias (Torres Vedras). A antiga comunidade é dominada por grandes dinossáurios carnívoros (L >60 cm), mas inclui também uma componente herbívora diversificada. Pegada de pé de grande sauropode e pegada tridáctila de grande carnívoro.
  • 16. Uma das pistas é formada por três pegadas consecutivas, com comprimento de 65 cm (excluindo a longa impressão posterior , provavelmente correspondente a um esporão), com uma passada de 5,02 m. Aplicando a equação de Alexander, estimamos que o teropode com 2,6 m de altura de anca e um peso superior a 3 toneladas, se deslocava a cerca de 13,5 km/h.
  • 17. Para o Jurássico superior da jazida da Pedra da Mua (Cabo Espichel), foi sugerido que três pegadas tridáctilas de teropode, com comprimento médio de 42 cm, poderiam ter sido deixadas por um carnívoro progredindo a cerca de 14 km/h. O esquema publicado sugere que a passada se poderia aproximar dos 4 m. E sugere ainda um passo relativamente curto (1,4 m) seguido de outro bastante mais longo (2,6 m). Se o bípede se deslocasse deste forma, coxeando, seria pouco provável que o conseguisse fazer a 14 km/h. O mais natural é que, numa pista mal preservada, tenha desaparecido uma pegada intermédia (provavelmente correspondendo ao pé esquerdo). Neste caso, a passada real não ultrapassaria os 3,2 m e a velocidade de deslocação pode ser estimada como rondando os 10 km/h.
  • 18. Nas saídas que fizemos à jazida dos Lagosteiros verificámos que um teropode de dimensões médias – pegada com comprimento de 32 cm, devia progredir a velocidade elevada. Esta conclusão baseava-se apenas numa observação direta.
  • 19. Os dados métricos que obtivemos permitiram reforçar esta observação - para pegadas com 32 cm de comprimento, a passada varia entre 3,3m e 4,2m. A partir destes valores inferimos uma velocidade de deslocação na ordem dos 15,5km/h.
  • 20. Considerando que a pegada P1 pode eventualmente ter sido deslocada por processos naturais para um ponto mais afastado, decidimos inferir a velocidade de deslocação do carnívoro apenas com base nas passadas entre P2 e P6 = 3,30 m. Neste caso, a estimativa de velocidade permanece elevada - cerca de 14 km/h. E o bípede estava a progredir rapidamente, tendo em consideração o valor da passada relativa – 2,2.
  • 21. A nível mundial 3 pistas do Cretácico “médio” do Texas mostram teropodes correndo entre 30 e 43 km/h. O animal que progredia mais rapidamente tem um comprimento médio da pegada de 29 cm e uma passada média de 5,65 m (só ficaram registadas 5 pegadas consecutivas).
  • 22. Pista de teropode do Cretácico inferior do Texas, formada por 3 pegadas com comprimento de 35 cm, para uma passada de 6,3m. A velocidade é estimada em cerca de 36 km/h. Pista de teropode, com comprimento médio das pegadas de 27,7 cm e passada média de 4,92 m (pista formada por 4 pegadas consecutivas). O carnívoro deslocar-se-ia a cerca de 30 km /h. Numa jazida de Igea (Cretácico inferior de Espanha), uma pista de teropode (formada por 3 pegadas semi-digitígradas, que completas, teriam um comprimento de 30 – 32 cm), com passada média de 5,6 m, revela um carnívoro progredindo a cerca de 38km/h. Uma pista de teropode de dimensões médias do Cretácico inferior da Mongólia, ainda não descrita, apresenta passadas na ordem dos 8 m. Podemos inferir uma velocidade da ordem dos 50 km /h !
  • 23. A passada média é de 2,70m. O animal altera depois o comprimento da passada para um máximo de 5,65 m. Na jazida de Ardley do Jurássico médio de Inglaterra, uma pista de teropode ficou famosa. Um enorme dinossáurio carnívoro terá acelerado o passo e começado a correr a uma velocidade elevada.
  • 24. Assim, surgiu o valor de uma velocidade de 29,2 km /h. A altura da anca do teropode foi estimada a partir apenas do comprimento do dígito III. Ou seja, para pegadas com cerca de 72 cm de comprimento, foi utilizado apenas o comprimento do dígito III – 39 cm -, de onde resultou uma estimativa de altura de anca inferior a 2 m. Empregando o comprimento médio da pegada – 72 cm – e o factor 4, a velocidade de deslocação do teropode, quando acelerou, seria de 14,7 km/h, uma velocidade ainda assim elevada (passada relativa aproximando-se muito de 2,0).
  • 25. Embora em Portugal não exista (ainda…) evidência de dinossáurios progredindo a grande velocidade, o registo icnológico está de acordo com o observado em muitas outras jazidas: . As maiores velocidades foram deixadas por teropodes de dimensões pequenas a médias (comprimento das pegadas até 35 cm e peso até 800kg). . Teropodes de dimensões gigantescas (pegadas com comprimento superior a 60 cm e peso estimado em mais de 2 toneladas) deixaram registo escasso de velocidade elevada. Mas as únicas pistas deixadas por teropodes destas dimensões progredindo a velocidade elevada (mas não a correr) são as de Ardley e da praia das Gentias. . Ornitopodes deslocavam-se bastante mais lentamente, não existindo evidência destes bípedes terem corrido. . Os quadrúpedes, especialmente os sauropodes, não deixaram evidências de progressão superior a 5 km /h. Mas isto é apenas evidência negativa, embora este tipo de evidência se torne cada vez mais difícil de ser ignorada. Por quanto tempo conseguiam os teropodes correr? Nas jazidas referidas as pistas são formadas apenas por 3 até 7 pegadas consecutivas. Portanto a resposta a este problema está ainda em aberto, embora a evidência disponível sugira um pequeno intervalo de tempo. O Obikwelusaurus da praia das Gentias
  • 26. Mas não nos podemos esquecer que os animais raramente alcançam as velocidades de topo, o que torna a existência de pistas fossilizadas de dinossáurios correndo na sua máxima velocidade muito improváveis.
  • 27. E aqui está o Boltosaurus português !!!